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DEDICATÓRIA

À minha querida filha Ana Vitória, que jamais deixará de habitar dentro do
“meu eu”. Ana Vitória... os filhos não precisam de pais gigantes, mas de seres
humanos que falem a sua linguagem e sejam capazes de penetrar-lhes o
coração.
A ti minha Aninha, este trabalho e o meu eterno amor.

À todos os joaquimpirenses que assim como eu, saiu de sua cidade natal em
busca de seus ideais, e que no dia-a-dia vive a enfrentar as duras
consequências das desigualdades sociais que castigam a nossa sociedade.
Esperança sempre.
AGRADECIMENTOS
Ao poder supremo e sobrenatural, que alguns chamam Deus, Inteligência
Divina, Consciência Cósmica, Sabedoria Universal, Grande Arquiteto do
Universo ou como queiram chamar;
À Lourival Ferreira da Cunha (meu pai)... o tempo pode passar e nos distanciar,
mas jamais se esqueça de que ninguém morre quando se vive no coração de
alguém;
À Maria Dorotéa Ramos (minha mãe)... você deixou seus sonhos para que eu
sonhasse. Derramou lágrimas para que eu fosse feliz. Perdeu noites de sono
para que eu dormisse tranqüilo. Acreditou em mim, apesar dos meus erros. Por
favor, perdoe-me pelas minhas falhas;
À Janayna Tobler, que ao me encontrar eu estava “morto”, e mesmo assim viu
em minha pessoa o potencial que ninguém mais (nem eu) conseguiu ver, e isso
deu-me força para voltar a viver;
Ao Professor Doutor Roberto Kennedy Gomes Franco. Se por ventura
encontrares alguém que não o valorize na proporção de sua grandeza, tenha a
certeza de que sem você a sociedade não tem horizonte. Te agradeço pela
sabedoria e incentivo, dentro e fora da sala de aula. Saiba que este trabalho
também é seu;
À Antônio Miroca (meu avô – in memorian). Se o tempo envelhecer o seu
corpo, mas não envelhecer a sua emoção, você será sempre feliz. Sem você
eu não seria o que hoje sou;
Às minhas avós Maria e Santa e a todos os meus tios (as) e primos (as)
paternos e maternos;
In Memorian aos meus avós Alfredo, Benvindo, Miroca e Binoca...saudades;
Não poderia deixar de agradecer a Édios da Silva Ramos (tio), com quem tive
as primeiras lições sobre a vida sem romantismo, vivendo a realidade que ela
é, quando juntos habitávamos sob o mesmo teto na cidade de Recife, em 1994.
Tio, eu continuo a cavalgada;
Não posso deixar de agradecer a Adão da Silva Ramos (tio), que nos
momentos difíceis foi um ponto de apoio para nossa família;
À Cíntia Costa (Fortaleza/CE), que pelas sementes plantadas, a distância hoje
é nossa companheira;
À João N. Maciel (Fortaleza/CE), pelo exemplo de humildade que lhe abrilhanta
a alma;
À Gideão Santes Machado (amigo e irmão)... Obrigado por estar sempre
disposto a segurar na minha mão nas horas em que não vejo mais ninguém ao
meu lado;
Aos meus irmãos Marcelo e Cíntia, que me acolhendo deram-me um teto para
que eu pudesse concluir este trabalho;
Àqueles que se dispuseram a ceder entrevistas contribuindo assim para o
enriquecimento desta pesquisa;
Enfim... a todos que contribuíram com a realização deste trabalho, seja através
de incentivo, ou através de críticas construtivas ou destrutivas.

PAZ PROFUNDA
MEMÓRIA
Amar o perdido
Deixa confundido
Este coração.

Nada pode o olvido


Contra o sem sentido
Apelo do Não.

As coisas tangíveis
Tornam-se insensíveis
À palma da mão.

Mas as coisas findas


Muito mais que lindas,
Essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade, CLARO ENIGMA, 2001)


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................06

NOTA DO AUTOR (1ª Edição)..................................................................................... 08

NOTA DO AUTOR (2ª Edição)..................................................................................... 09

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 10

1 REFLEXÕES ACERCA DAS OLIGARQUIAS....................................................... 15

2 REVISITANDO AS ORIGENS DE JOAQUIM PIRES............................................ 21

3 PRECURSORES NA FORMAÇÃO DAS OLIGARQUIAS JOAQUIMPIRENSES... 27

4 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA OLIGÁRQUICA JOAQUIMPIRENSE............ 35

5 AFLORANDO AS REMINICÊNCIAS...................................................................... 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 62

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................ 66

APÊNDICE................................................................................................................... 69

QUESTÕES DE CONCURSOS................................................................................... 77
APRESENTAÇÃO
A MEMÓRIA POLÍTICA DA CIDADE DE JOAQUIM PIRES-PI
O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir.
Mário de Andrade

O livro Revisitando o Cotidiano da Cidade de Joaquim Pires-PI (décadas de


60 e 70) apresenta ao mundo as possibilidades sugeridas pela memória política.
Na obra, o professor de História Chagas Ramos, rememora as contradições de
sua terra natal. Sua pesquisa em história esforça-se para sintetizar a memória
política de uma cidade, de um povo, de um tempo. Sua metodologia tem como
fonte histórica a vida de chefes políticos da época.
O interesse especial pela fonte oral se justifica na medida em que as
entrevistas permitem obter e desenvolver conhecimentos novos e fundamentar
análises com base no trabalho de criação de fontes inéditas sobre um
determinado tema. O intuito do autor, portanto, por intermédio dessas
lembranças políticas é testemunhar a ideologia dos grupos que têm ao longo dos
tempos, governado a cidade de Joaquim Pires.
Inspirado pelas possibilidades e não pelos determinismos do fazer
historiográfico, o autor deseja com o aprendizado histórico do livro, conscientizar,
politizar crítica e reflexivamente uma quantidade sem fim de joaquimpirenses,
especialmente aqueles mais excluídos pela lógica da política capitalista.
Historicamente, as dimensões sociais do coronelismo, do clientelismo e do
paternalismo na região ordeste têm relação direta com a lógica desigual e
combinada de alienação da maioria da população. Isto porque, o mandonismo
de uma “elite” política corrupta, vem tornando ainda mais miseráveis as
condições materiais de existência do povo nordestino, entre eles, os de Joaquim
Pires.
É importante destacar ainda, o entendimento de que todo esse processo
histórico é característico de uma estrutura social fundamentada na desigualdade
social, camuflada por uma sociedade pseudodemocrática, que ilusoriamente
mascara e oprime a maioria da população nordestina na masmorra da miséria
do Estado Capitalista e que, a conta-gotas, permite alguma melhoria ou
ascensão social. Os esquemas de compra de votos, fraudes eleitorais,
perseguição aos adversários políticos, denunciados pelo autor em Joaquim Pires
atestam isso.
Toda esta análise sobre a memória política de Joaquim Pires é relevante,
por ser fruto de uma historiografia regional que tem a capacidade de apresentar
a dialeticidade, ou seja, as contradições de seres humanos historicamente
determinados, de fazer a ponte entre o individual e o social, das partes com o
todo.
Esteado nessas reflexões, as experiências dos políticos locais são
enfocadas regionalmente como um campo de conflitos e tensões culturais,
entendendo que a cultura se faz no modo de organização corporal de sujeitos
historicamente situados e socioeconomicamente estruturados.
As trajetórias políticas dos “coronéis", investigadas pelo autor por meio das
entrevistas, bem retratam isso e, ainda, levam-nos a considerar que ela está
incluída na história política do tempo presente. A análise do livro permite
destacar a necessidade constante de uma profunda reflexão, uma vez que tem
sido exatamente esta estrutura de poder político que ao mercantilizar a vida, tem
de forma cada vez mais voraz, se alimentado da exploração do homem pelo
homem.
Nestes termos, o Livro Revisitando o cotidiano da cidade de Joaquim Pires-
PI (décadas de 60 e 70), do professor de História Chagas Ramos
pedagogicamente exercita a memória-política como se fosse igual à Liberdade.

Desejamos a todos um bom aprendizado com a leitura...

Roberto Kennedy Gomes Franco


Professor Doutor do Curso de História da Universidade Estadual do Piauí
– UESPI.
NOTA DO AUTOR (1ª Edição)
As peripécias da vida vêm de um dinamismo sem tamanho. Uma hora
estamos aqui, outrora estamos acolá, e por muitas vezes simplesmente não
entendemos as razões dos acontecimentos de nossas vidas. Saí da cidade de
Joaquim Pires aos 10 anos de idade em 1986, rumo à capital piauiense Teresina,
objetivando a qualificação secular. Retornei em 2003, onde permaneci até
meados de 2005, tendo que sair da cidade meio que desolado diante de uma
derrota política depois de uma campanha onde me candidatei a prefeito. Apesar
de viver a maior parte da minha vivência longe da minha cidade natal, pude viver
a política de perto, mesmo dentro de minha casa. Desde criança pude ver, ouvir,
presenciar fatos muito íntimos da politicagem da cidade de Joaquim Pires, e
minha candidatura a prefeito em 2004 foi um “laboratório”, onde pude estudar
com um olhar mais aguçado o comportamento dos que fazem parte do processo
político, desde o “chefe” até àquele eleitor lá do interior do mato. Com certeza
toda a experiência adquirida neste período muito contribuiu para a realização
desta pesquisa.
Mas, que ajuda essa experiência de 2004 me deu, visto que esta pesquisa
discorre sobre a década de 60 e 70? Eu justificaria explicando sobre as
permanências que perseguem o processo eleitoral na cidade. Apesar de
algumas mudanças particulares ocorridas em meio a esse processo, através de
um ponto de vista crítico, pude me sentir envolvido num processo eleitoral de 40
anos atrás, em pleno ano de 2004. Pude ver o quanto se precisa evoluir. Diante
da minha derrota nas Eleições 2004, não havia mais o que fazer em Joaquim
Pires naquele momento. Voltei para Teresina em busca de novas conquistas,
com um sentimento de uma pessoa que foi exilada. Sim, ainda me sinto um
exilado, assim como aqueles que foram expurgados da cidade em decorrência
da política ali empregada. Negar a existência desse exílio é hipocrisia. Quem
sabe um dia eu volte, pois, a vida é cheia de peripécias que vem de um
dinamismo sem tamanho.

Francisco das Chagas Ramos da Cunha


Autor
NOTA DO AUTOR (2ª Edição)
Depois de alguns anos sem acessar essa pesquisa, laço agora a versão
em PDF, para que o acesso se torne melhor, visto que, a versão impressa se
esgotou ainda na época em que concluí a 1ª edição.
Que esse arquivo chegue àqueles que tenham interesse no assunto, e que
possam acrescentar algo a ele, visto que o teor de um trabalho como esse, por
mais que se escreva, é inesgotável.
Aceito elogios e sugestões para próximas edições (se houverem), e para
isso disponibilizo meu e-mail, e vai ser uma grande satisfação saber o que você
achou desse trabalho – chagasramos@live.com.
Trago nessa edição, apêndices que acrescentam fatos recentes, e que dão
continuidade à saga da politicagem da minha querida cidade natal, Joaquim
Pires – PI.

Francisco das Chagas Ramos da Cunha


Autor
Julho/2022
INTRODUÇÃO
Joaquim Pires está localizado a 229 quilômetros da capital Teresina
e a 110 quilômetros do litoral piauiense, possui uma superfície de 739,570 Km2
(VIEIRA, 2003). A zona eleitoral a qual faz parte é a 85ª zona, e possui
aproximadamente 7.853 eleitores, numa população de cerca de 13.169
habitantes, onde praticamente 70% dessa população reside na zona rural e
predomina o sexo masculino.
Objetiva-se através desta pesquisa levar o leitor a uma reflexão
acerca das ações dos grupos que têm governado esta cidade, que
indubitavelmente usam suas retóricas para envolver os eleitores dentro do que
parece ser um jogo de interesses pelo poder, que é a política de Joaquim Pires.
A história sempre andou lado a lado com o poder. É difícil escrever
história sem que o poder esteja ali presente. Francisco Falcon (1997, p.61), diz
que história e poder “são como irmãos siameses – separá-los é difícil; olhar para
um sem perceber a presença do outro é quase impossível”.
Entende-se aqui como história, os registros dos acontecimentos.
Como poder entende-se domínio, força, como também, autoridade constituída.
A concepção de história tem seu berço na Grécia, onde trazia uma
narrativa de ações heróicas ou humanas e, futuramente passaria a chamar-se
história política tradicional que, ligada ao poder pretendia ser também memória
(FALCON, 1997, p.62, 63).
Segundo LE GOFF (1996, p.423),

A memória, como propriedade de conservar


certas informações, remete-nos em primeiro
lugar a um conjunto de funções psíquicas,
graças as quais o homem pode atualizar
impressões ou informações passadas, ou que
ele representa como passadas.

Pode-se observar entre os joaquimpirenses, que grande parte deles


demonstram pouco interesse em relação ao passado histórico da cidade, e
durante esta produção científica nos deparamos com determinadas situações
em que pessoas que testemunharam fatos importantes da política local, se
omitiram a compartilhar informações, contribuindo dessa forma com a amnésia
coletiva da população da cidade. Num ponto de vista metafórico, a amnésia vem
a ser não só uma perturbação do indivíduo, mas também a falta ou perda
voluntária ou involuntária da memória coletiva nos povos e nações que pode
determinar perturbações graves da identidade coletiva, causando
consequentemente o perecimento da memória, até então desvalorizada pela
população de Joaquim Pires.
Queremos assim chamar a atenção da importância de buscar o
passado, relembrar fatos, buscar conhecimento das origens, sejam nas fontes
escritas ou orais, tudo isso para que se possa modificar o presente, e essa
modificação do presente é ao meu ver um dos principais motivos de se manter
viva a memória, e isso é história.
Márcia Mansor D’Aléssio (2001, p.60), reflete:

Os estudiosos da memória são praticamente


unânimes em afirmar que o atual prestígio da
memória se deve à aceleração do tempo na
contemporaneidade e ao medo do
desaparecimento das lembranças. Povos
desprovidos de lembranças correm o risco de
não saberem quem são.

Não se pode fazer história, sem que se ouça as testemunhas e se


faça uso da memória. Atualmente, a maioria dos autores concorda que quando
trabalhamos a memória, estamos tratando de construir referenciais sobre o
passado, daí a ligação fortíssima entre memória e história.
Falando a respeito de memória, Franco (2004, p.09), escreve que:

Nossas raízes é que nos prendem à vida, dão-


nos sustentação, irrigam nossos
comportamentos e ações, que são nossos
frutos. Como as plantas, que se prendem a
terra pelas raízes, assim o somos, ou seja,
presos à vida pelas nossas raízes, que são
adubadas pelas ricas lembranças que a
memória possibilita, sem memória, seríamos
como plantas desenraizadas, portanto soltas e
à mercê das intempéries do tempo.

A metodologia aplicada neste trabalho é norteado através do recurso


da oralidade como fonte, onde vale a pena ressaltar que tal metodologia são
referendadas por autores como Paul Thompson (1998), Ecléa Bosi (1994),
Antônio Torres Montenegro (1992), que fazem da técnica oral um recurso
essencial no desenvolvimento da narrativa dos fatos.
Segundo Bosi (1995, p.88,89,90):

A narração é uma forma artesanal de


comunicação [...] O passado revela desse
modo não é o antecedente do presente, é sua
fonte [...] A história deve reproduzir-se de
geração em geração.

O historiador grego Heródoto (Séc. V a.C.) já dizia: "Desejoso de


saber, interrogo". Dessa forma nota-se que não é de agora que as fontes orais
são utilizadas para o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa, como
metodologia para se escrever História.
Para THOMPSON (1998, P.25):

A fronteira do mundo acadêmico já não são


mais os volumes tão manuseados do velho
catálogo bibliográfico. Os historiadores orais
podem pensar agora como se eles próprios
fosse editores: imaginar qual a evidência de
que precisam, ir procurá-la e obtê-la.

A oralidade pode alterar tanto o conteúdo quanto a finalidade da


história, além de poder mostrar ao historiador novos campos de investigação.
Ela não faz distinção de classe, religião, cor ou raça. Ela não pode ser parcial.
As testemunhas das “classes dos derrotados” agora podem fazer parte da
história.
A metodologia da oralidade, nos pode dar uma oportunidade de
reconstruir os fatos de forma imparcial e realista.
Paul Thompson (p.44), ainda comenta que:

Ela lança a vida para dentro da própria história,


e isso alarga seu campo de ação. Admite
heróis vindos não só dentre os líderes, mas
dentre a maioria desconhecida do povo (...) Em
suma, contribui para formar seres mais
completos (...) e oferece os meios para uma
transformação radical do sentido social da
história.

Procuraremos embutir esses conceitos no desenvolvimento de tal


pesquisa, que também usaremos como fonte matérias de revistas, livros
didáticos, registros públicos, artigos que se encontram na Internet e,
equipararemos a leitura didática com os fatos e informações adquiridas através
de entrevistas com atores que testemunharam o cotidiano político de Joaquim
Pires nas décadas de 60 e 70.
Jeanne Marie Gagnebin (2001, P.15), diz que:

Testemunha não seria somente aquele que viu


com seus próprios olhos, o "histor" de
Heródoto, o testemunha direto. Testemunha
também seria aquele que não vai embora, que
consegue ouvir a narração insuportável do
outro e que aceita que suas
palavras revezam a história do outro: não por
culpabilidade ou por compaixão, mas porque
somente a transmissão simbólica, assumida
apesar e por causa do sofrimento indizível,
somente esta retomada reflexiva do passado
pode nos ajudar a não repeti-lo infinitamente,
mas a ousar esboçar uma outra história, a
inventar o presente.

O contato com estes atores foi feito de uma forma muito simples,
lembrando que tivemos alguns encontros dias antes da gravação de seus
depoimentos, o que os deixou muito à vontade na hora da entrevista, as quais
traz alguns termos e expressões típicas do “homem do interior”, com uma
linguagem que aparece com um tom coloquial, mas que deixa transparecer a
emoção daquele entrevistado (a), de estar voltando ao passado e sentindo como
se estivesse vivendo aquilo novamente. Isso nos faz refletir ainda mais sobre a
importância e a riqueza que tem a oralidade, que transforma em “gênios” do
passado e do presente, o entrevistado e o entrevistador, respectivamente.
Márcia Mansor D’Aléssio (2001, p.69), comentando a respeito da
exposição oral e a participação do entrevistador, fala que:

A exposição oral de um tema retira o autor do


isolamento da escrita. A presença do
interlocutor passa a fazer parte da composição
do texto. Ainda que em silêncio, o outro é uma
escuta. Finalmente, é importante perceber o
papel do entrevistador; este coadjuvante do
processo de produção do saber durante uma
entrevista não quer ler um texto, quer ouvir,
não quer a letra, quer a fala.

A cidade de Joaquim Pires tem sido para nós um laboratório aberto,


nos propiciando um melhor entendimento a esse respeito, o que veio a despertar
em nós, o interesse por sabermos de que forma surgiram esses grupos que num
espírito de rivalidade, lutam entre si em busca do poder do município.
É em meio essa questão, que desenvolvemos o estudo da formação
de grupos políticos a partir da história de três latifundiários joaquimpirenses, que
em suas contemporaneidades, dois deles recebiam o título de coronel.
Usaremos como recorte do tempo as décadas de 1960 e 1970. A
década de 60, por que foi o marco inicial das disputas eleitorais a nível municipal
com a formação de um segundo grupo político-partidário (visto que existia
apenas um antes da emancipação), e a década de 70, por que foi nesta década
que ocorreu o surgimento de um terceiro grupo, que ainda hoje permanece no
poder na cidade. Foi nesse recorte que tiveram destaque na liderança política do
município, Agripino Costa, Francisco Leôncio e Antônio Miroca, os latifundiários
acima citados, que foram os precursores das oligarquias joaquimpirenses.
E assim faremos, recorrendo à análise de trabalhos e opiniões de
autores que já escreveram sobre as ações de oligarquias em contextos gerais,
como Antônio José Medeiros (1996) e Victor Nunes Leal (1997), e faremos um
entrelaçado entre a teoria vista nos livros didáticos e a prática já vista na cidade
de objeto de estudo.
Com o espírito curioso de pesquisador, faremos um levantamento das
seguintes questões:
1º - Que interesses essas pessoas tinham para adquirir o poder?;
2º - Qual a personalidade desses homens que lideravam esses
grupos?;
3º - Que tipo de relações existia entre o coronel e o povo?;
4º - De que forma esses homens eram vistos pelos olhos populares?;
5º - Que estratégias usaram para chegar ao poder político?;
6º - Como permaneceram por tanto tempo no poder?;
7º - O que aconteceu para alguns deles perderem o poder?;
É dessa forma que buscaremos mostrar como se deu o processo de
formação dos grupos oligárquicos de Joaquim Pires.
No primeiro capítulo, refletiremos sobre as origens oligárquicas na
cidade de Joaquim Pires através da prática do mandonismo local. A importância
que teve o fato de ser proprietário de terra na hora de influenciar a ocupação do
cargo de chefe político da cidade. A existência do coronel na política
joaquimpirenses foi marcante nas raízes da tradição política local. Falaremos
sobre o convívio que existiam entre os coronéis e moradores de suas terras em
relação ao voto de cabresto.
No segundo capítulo, revisitaremos as épocas da origem e
emancipação da cidade de Joaquim Pires, contando com a ajuda de registros
públicos, e a fala daqueles que viveram a época. Daremos destaque sobre a
forma que ocorreu a emancipação da cidade, as circunstâncias que a levaram a
acontecer, onde só foi consumada depois de ter sido feito um acordo político do
PSD e da UDN, partidos de grande influência na época. Na fala de que esteve
lá, saberemos como foi aquele dia. Analisaremos os motivos que levaram a
cidade a chamar-se Joaquim Pires, o qual foi um senador piauiense que fazia
parte da família Pires Ferreira. Comentário sobre a trajetória política na cidade
de Joaquim Pires por parte de membros desta família, uma das maiores quando
se fala em oligarquia na região norte do Piauí.
No terceiro capítulo, falaremos especificamente sobre os “Coronéis”
da política de Joaquim Pires, sendo eles: Agripino Costa, Francisco Leôncio e
Antônio Miroca, os quais afirmamos serem eles os precursores na formação das
oligarquias joaquimpirenses. Buscamos os vários aspectos de suas vidas,
principalmente o político, o social e o econômico. Amados por alguns e odiados
por outros, é através desse capítulo que entenderemos de como esses atores
entraram na política e influenciaram na formação das oligarquias na cidade.
No quarto capítulo, faremos uma reflexão sobre quais as ações que
caracterizaria as oligarquias joaquimpirense. Falaremos de sucessão no
executivo e veremos quais membros das famílias oligárquicas ocuparam ou
ocupam cadeiras no legislativo municipal. Faremos análises da conivência dos
vereadores com as ilicitudes do gestor público, assim como esmiuçaremos as
fraudes eleitorais, e isso tudo pra mostrar as artimanhas que as oligarquias
joaquimpirenses fazem uso para manter-se no poder. Refletiremos acerca da
Perseguição aos adversários políticos e o “Fechamento” do subsistema político
na cidade. E como não poderíamos deixar de citar, falaremos também sobre o
uso do clientelismo, compra de votos e o uso da “máquina pública” como cabide
de emprego alimentando dessa forma a rede clientelista que parasita a
administração pública municipal.
No quinto capítulos, faremos uso da narrativa resgatando a memória
dos nossos entrevistados que, através das nossas indagações, revisitam o
passado e relatam suas reminiscências.
Refletindo sobre quais critérios deveríamos adotar no ato da escolha
dos entrevistados, achamos por bem buscar aqueles que lidaram diretamente
com as oligarquias joaquimpirenses, sendo eles próprio, parentes próximos,
políticos da época e/ou populares que participavam do dia-a-dia político destes
homens.
1. REFLEXÕES ACERCA DAS OLIGARQUIAS
A cidade de Joaquim Pires sempre foi um município que sofreu fortes
influências de grupos oligárquicos regionais e, no cenário político da cidade as
oligarquias joaquimpirenses sempre lutou para que a figura do “chefe político”
local sempre se mantivesse viva. Na década de 60 e 70, três nomes se
destacaram como “chefes político”, sendo eles: Agripino Costa, Francisco
Leôncio e Antônio Miroca. Para LEAL (1997, P.76):
O agrupamento dos fazendeiros (...) em torno
de um deles (...) explicam-se por diversas
razões: por motivo de ordem pessoal (maior
vocação, capacidade ou habilidade); pela
tradição (permanência da chefia na mesma
família); pela situação econômica
(propriedades mais ricas, com maior número
de eleitores, ou maiores disponibilidades para
gastos eleitorais) etc.

As atividades profissionais exercidas por esses “chefes políticos” muito


contribuíram para que os mesmos conseguissem a liderança desses grupos
oligárquicos. Essas atividades profissionais estão fortemente ligadas ao fato de
os mesmos serem grandes proprietários de terras. Com as mudanças ocorridas
na economia piauiense da época (como aumento no preço de determinados
produtos), esses proprietários de terras que eram fazendeiros, passaram
também a comerciantes bem-sucedidos e, foi em decorrência do sucesso nas
negociações comerciais que conseguiram destaque na sociedade a ponto de
adentrar nas veredas da política buscando defender nela os seus interesses
interpretados como interesse público.
Não podemos deixar de lembrar que em nosso Estado, a economia foi
quem norteou a formação histórico-social, e que foi na pecuário que o Estado
veio a se destacar vivendo a “civilização do couro” entre o século XVII e XIX. Foi
nesse cenário regional, isolados das autoridades da época, que surgiu a figura
do fazendeiro como chefe autoritário, que nada mais era do que o coronel. Eis
as raízes do mandonismo local, que como diz Antônio José Medeiros (p.21,
1996) “funde e confunde dominação social e poder político”. Observamos a partir
de então o surgimento de características secundárias do coronelismo, sendo
elas o filhotismo, o falseamento do voto, como também a desorganização do
serviço público local, dentre outros. Segundo LEAL (p.40) : o “coronelismo” é
uma “forma de incursão do poder privado no domínio público”.
A figura do “coronel” não possuía nenhuma ligação em relação a carreira
militar. Essa era uma patente adquirida pelo poder aquisitivo dos grandes
fazendeiros ou latifundiários.
Pedro Leôncio (2006), explicando de que forma seu pai se tornou um
coronel, explica que:
Quem deu a mão para o papai abaixo de Deus
foi o Almirante Gervásio. O Almirante comprou
as terras e o papai pagou em pó e em
cera. Depois o papai foi para o Ceará e
trouxe uns homens pra tirar o carnaubal e aí a
coisa melhorou. Depois o papai falou
novamente com o Almirante Gervásio pedindo
um dinheiro para comprar 200 gados, bode,
ovelha... aí o Almirante disse assim: “Leôncio,
tu tá enriquecendo. Daqui a pouco tu tá meu
patrão”. Aí o papai falou: “Não Almirante, é que
quero que você me ajude porque eu tenho
vontade de comprar essa outra propriedade
que já vem com gado, tem ovelha, tem tudo”.
Aí o Almirante deu a ordem para o Rolando
Jacó de Parnaíba, para o Rolando fornecer o
dinheiro. Aí o papai pagou com cera. Ele trouxe
mais homens do Ceará, aí todos nós fomos
trabalhar. Nesse tempo o preço da cera
subiu... foi lá pra cima, e aí o papai pagou logo
o dinheiro. Isso tudo foi mais ou menos de 30
a 36 por que em 40 o papai já estava folgadão.
Já chamavam ele de Coronel. Ele resolveu ir
para o Baixão...chamavam o Baixão de
Mitamba. Lá Nesse tempo tinha uns sítios do
finado Luís Carvalho. Tinha um engenho de
pau, tinha tudo, aí o papai queria levantar. Era
perto. O papai mudou-se pra lá. Lá começou a
trabalhar e melhorou mais ainda de condição.
Nesse tempo ele fez um empréstimo com o
Presidente da República Getúlio Vargas para
poder fazer um açude. Nessa época o papai já
era um homem “apulumado”, já tinha o nome
de coronel, já tinha muito gado... muito boi. O
próprio povo daqui o chamavam de coronel,
como também os de fora. Os coronéis não
tinham era curso e nem diploma, mas davam a
patente pra eles.

A partir do momento em que passamos a estudar o coronelismo, passamos


a observar que cada “coronel” tem seu grupo onde sempre vivem em disputa
com grupos de outros coronéis. Dificilmente haverão dois ou mais “chefes”
políticos na mesma facção política, a não ser nas eventuais coligações. Os
motivos das disputas são a ganância pelo poder, gerado na maioria das vezes
pela natureza instável do “status” desses “coronéis”, gerando consequentemente
competições e conflitos.
Para a sociologia, a diferença entre competição e conflito, está no fato de
que a primeira é um processo inconsciente, enquanto que a segunda é
consciente. Simplificando melhor essa diferença, basta dizer que quando a
competição é consciente, ela deixa de ser competição e passa a ser
conflito. (PIERSON, p.220, 1981)
Para Donald Pierson (1981):
A qualidade principal do conflito é a luta pelo
“status”, isto é, a luta por uma posição no
grupo, por parte do indivíduo, ou numa série de
grupos, por parte do grupo, por uma posição
que corresponda à concepção que o indivíduo
ou grupo tem do seu próprio papel.

Antes da emancipação da cidade, atuava somente um grupo político na


cidade. Tal grupo era liderado por Agripino Costa, que já ocupava o cargo de
vereador em Buriti dos Lopes. Com a emancipação política de Joaquim Pires,
originou-se mais um grupo: o grupo liderado por Francisco Leôncio de Sales.
Incentivado por alguns amigos, Francisco Leôncio decidiu entrar na política,
disputando as eleições de 1962 contra Agripino Costa. Nesta época Antônio
Miroca era aliado do grupo dos Leôncios, porém, não tinha nenhum respaldo
político, o que veio adquirir somente no decorrer da década de 70.
Esse processo de competição e conflito entre grupos, sempre almejava a
ocupação de cargos públicos como o de Prefeito, Vice-Prefeito, Vereador, além
de secretarias e outros cargos de confiança. Com a emancipação do município
a função de “Cacique” na política ainda continuava a cargo de Agripino Costa, o
qual era visto como um “imbatível” líder político da cidade.
Embora esses homens não fossem ricos, eram visto como pessoas de boa
condição econômica, sendo que na época, Antônio Miroca era o menos
favorecido dentre os três. Vale observar que a propriedade de terra configura-se
como grande fonte de poder e riqueza, sendo a fonte maior da formação
oligárquica.
Victor Nunes Leal (1997, p43), explica que:
Como costumam “passar bem de boca” –
bebendo leite e comendo ovos, galinha, carne
de porco e sobremesa – e têm na sede da
fazenda um conforto primário, mas inacessível
ao trabalhador do eito, o roceiro vê sempre no
“coronel” um homem rico, ainda que não seja;
rico, em comparação com sua pobreza sem
remédio.

A partir da formação desses grupos políticos locais compostos por essas


famílias foi que, sempre recebendo o apoio dos governantes a nível estadual
buscavam o direito de exercerem o poder local. Para isso, pactos eram firmados
no intuito de garantir o exercício do poder pelas oligarquias e assim, num
encadeamento autoritário, as decisões deveriam ser acatadas em todos os
níveis para que as reivindicações fossem atendidas.
Aos trabalhadores rurais, que residiam dentro das fazendas cabia aceitar o
"voto de cabresto" elegendo os candidatos apoiados pelo patrão. Para fiscalizar
se o eleitor realmente tinha votado em seus candidatos, o “chefe político”
designava pessoas para investigar, e através da cumplicidade com presidentes
de seção a comprovação era feita. Era de costume esses presidentes fazer
alguma marca que identificasse a cédula do eleitor do qual se duvidava para que
na hora da apuração fosse descoberto se ele realmente havia votado nos
candidatos do “chefe político”.
O voto fazia com que o eleitor demonstrasse sua lealdade ao patrão e a
desobediência podia resultar em punições. Portanto, os trabalhadores rurais (os
mais fracos deste “esquema” na política), nunca podiam expor o seu real
pensamento político.
Victor Nunes Leal (1997, p.44), explicando a existência do voto de cabresto,
diz que:
Completamente analfabeto, ou quase, sem
assistência médica, não lendo jornais, nem
revistas, nas quais se limita a ver as figuras, o
trabalhador rural, a não ser em casos
esporádicos, tem o patrão na conta de
benfeitor. E é dele, na verdade, que recebe os
únicos favores que sua obscura existência
conhece.

Pedro Leôncio (2006), filho do coronel Francisco Leôncio, faz um relato


mais completo de como funcionava a relação eleitor- coronel e vice-versa:
O papai era bom demais para os eleitores ele
servia muito as pessoas. As pessoas iam
procurar ele por uma necessidade e ele estava
pronto pra atender, como por exemplo, a
pessoas chegava lá e diziam: “Coronel Leôncio
eu matei fulano de tal...” ou “Eu quero que você
mande deixar minha mulher... eu quero isso...
eu preciso daquilo...” (...) Naquele tempo já
existia a compra de voto, mas o papai quando
era vivo não dava dinheiro para os moradores
dele não. Ele dava o que eles precisassem.
Quando chegavam lá por casa o papai dizia:
“Fulano, tu vai me dar um voto, o que tu
precisar me diz”. Aí a pessoa ia e falava. Mas,
chegar e dizer: “aqui fulano, dez cruzeiro... dez
“miréis” pra tu votar em mim”, não tinha isso
não. Eles votavam em quem o papai dizia, por
que a luz que iluminava o andor era ele papai.
Toda necessidade de polícia, de política, de
perseguição, eles corriam lá em casa, e
ninguém ia atrás.
Francisca Nogueira da Silva (2006), que nasceu quando seus pais eram
moradores de Agripino Costa, comenta que “nessa época Agripino tinha muitos
moradores, mais ou menos uns sessenta nas terra que ficam ali pelo Brejinho,
Orelha D’onça, Canto de Cima e Canto de Baixo.” Ela ainda acrescenta que:
Quando alguém adoecia o vaqueiro vinha a
cavalo atrás de um carro, aí seu Agripino
mandava um carro ir buscar para transportar o
doente. Tudo lá a gente contava com o
Agripino Costa. Os moradores se sentiam à
vontade na hora de votar e não se sentia
obrigados. Ouvi algumas pessoas falando que
se não votasse, podia o seu Agripino botar pra
fora das terras. Eles tinham medo de sair, mais
nunca ouvi falar que seu Agripino ameaçasse
alguém pra poder votar nele.

Santino Santos (2005), ex-prefeito de Joaquim Pires e que chegou no


município em 1967 vindo de Buriti dos Lopes, nos confessou não acreditar na
existência do voto de cabresto nas décadas de 60 e 70:
Falam em voto de cabresto naquela época,
mas eu não acho que aquilo seja não. Que
existe uma coisa, não tem esse negócio de
voto de cabresto não, por que, lembro bem
uma coisa, que seu Antônio foi um cidadão que
se elegeu aqui muitas vezes e ele não era nem
apoiado pelo pessoal que tinha muitos
moradores. Ele se elegia, então não tinha voto
de cabresto, né! Se tivesse, quem se elegia ali
era aquele pessoal que tinha os cidadãos que
eram dono de propriedade, que mandava no
morador, que fazia isso, então, considero isso
diferente. Agora, eu acho hoje muito melhor
por que no tempo de coronel, machucava
muito as pessoas que não podiam se encostar
em ninguém. Aonde ele estava ele tinha que
ficar.

Chico Calú (2006), cidadão joaquimpirense e que já foi eleitor de Agripino


Costa e depois de Antônio Miroca, relata-nos que quando precisava de Antônio
Miroca sempre era amparado pelo mesmo, fato que narra demonstrando muita
gratidão.
Quando eu ocupava seu Antônio, eu nunca vim
com a mão “abanando” de lá. Ou que fosse do
tanto que eu falasse, ou mais pouco, mas ele
me arranjava, né. Quando ele não tinha, mas
ele marcava o dia de eu ir. Aí eu ia, e aí ele me
arranjava. E assim acontecia com os outros
eleitores. Foi assim com todos.
A maioria das famílias que nos municípios piauienses conseguiram lugar
de destaque na liderança política de suas cidades são grandes proprietárias de
terras, fato que as coloca numa situação diferenciada daqueles que não são
latifundiários. A divisão de classes nas terras piauienses se deu em decorrência
dessa diferenciação. Explicando sobre a divisão dos blocos sociais no Estado do
Piauí, Martins (2002, p.83) reflete que:
O fulcro balizador das diferenciações sociais é
fundamentalmente a condição dos diversos
setores sociais no acesso à posse da terra.
Com efeito, em função da propriedade da terra
ficaram estabelecidos historicamente, no
Piauí, dois blocos sociais nitidamente
diferenciados: Os grandes proprietários e a
massa de trabalhadores, ligados diretamente
ou indiretamente à produção agrícola.

A propriedade rural muito influenciava na definição do estrato superior,


vemos que esse processo teve suas origens através das ações do governo que,
utilizando a política sesmarial, onde o mesmo elegia o grupo de proprietários
rurais, legando a estes a condição de senhor de terra. Através dessa política os
proprietários locais, identificado na distribuição indiscriminada dos imóveis rurais
entre os herdeiros legítimos, eram qualificados como “homens de bem”, o que
criava uma distinção social, habilitando-os a ocupar cargos e funções públicas.
(BRANDÃO, 1995, p.312)
2. REVISITANDO AS ORIGENS DE JOAQUIM
PIRES
A cidade de Joaquim Pires se originou a partir da povoação de pessoas
vindas do Ceará, Maranhão e de outras localidades do Piauí. Por causa de sua
localização geográfica, essas terras funcionavam como um corredor de acesso
aos dois Estados acima citados. Os fatores naturais da região foram de
fundamental importância para o seu povoamento, sendo que a lagoa do cajueiro
teve grande influência para a fixação de quem passava pela região. Um dos
primeiros moradores foi José Pereira de Souza, que construiu sua casa nas
proximidades da lagoa.
Segundo Araújo Costa (arquivo particular da família Costa), por volta de
1880 chegou à Fazenda Cajueiro o Coronel Cândido Rodrigues de Carvalho que
posteriormente adquiriu outra fazenda conhecida por Casa Velha, propriedade
dos herdeiros do Coronel Simplício Dias da Silva.
Antes mesmo da chegada de Rodrigues de Carvalho na localidade, a
Fazenda Cajueiro já existia e estava dentro dos limites de Parnaíba, Freguesia
que segundo o senso provincial de 1831, possuía três distritos: Buriti dos Lopes
com 3.154 pessoas, Freicheiras com 1.986 pessoas e Distrito da Vila com 4.324
pessoas (ALENCASTRE, 1981, p.3). A fazenda cajueiro provavelmente seria um
dos 477 fogos¹ que pertenciam ao distrito de Buriti dos Lopes, onde a soma de
todos esses fogos contavam com 2.894 pessoas livres, sem a existência de
escravos.
Com a chegada de algumas famílias que foram se domiciliando nas
proximidades da Fazenda Cajueiro, a comunidade foi se desenvolvendo e
passou a ficar conhecida como povoado Porteirinha. Tal denominação foi por
causa de um cercado que caindo, ficou de pé somente a porteira. Esse cercado
foi construído a mando de Rodrigues de Carvalho para servir de local para
amansar gado. Esse cercado foi construído onde foi erguida a capela de Santa
Dorotéia, a padroeira da cidade, às margens da Lagoa do Cajueiro.
Agripino da Silva Costa – que mais tarde viria a tornar-se um dos coronéis
do povoado, chegou a Porteirinha no ano de 1927, vindo de Magalhães de
Almeida – MA. Desempenhava suas atividades profissionais na área do
comércio, vindo instalar uma filial de Romão e Cia., que funcionou até 1929. Em
pouco tempo conseguiu predomínio econômico, social e político no povoado. Era
ligado politicamente ao Coronel Tomás Romão de Sousa, de Buriti dos Lopes.
Ocupou por duas vezes o cargo de vereador naquele município, como
representante de Porteirinha.
Francisco Leôncio chegou no município nos primeiros anos da década 30,
vindo do Estado do Ceará. Comprou a fazenda da Mimosa, onde começou a
progredir economicamente através extração e comercialização da cera da
carnaúba. Com o passar dos dias passou a plantar cana-de-açúcar fabricando
rapadura e cachaça. Devido à necessidade de mão-de-obra em suas atividades
profissionais trazia famílias cearenses para morar em suas terras, o que fazia
com que aumentasse cada vez mais o número de moradores na região.

¹ - Fogo: Vocábulo de uso técnico-administrativo significa casa, os arranjos sócio-econômicos dos


moradores e os moradores, que poderiam ser parentes sangüíneos, afim, agregados ou escravos
(BRANDÃO, 1995, p.99).
Antônio Miroca nasceu em 1928 dentro da própria região, no povoado
contendas, vindo morar na zona urbana do município em 1963 depois de morar
na localidade Forquilha. Nessa época já residia em Joaquim Pires várias
famílias, dentre elas a família de Pedro Agápito da Silva (mais conhecido por
Pedro Justino), a do conhecido Tote Barbeiro, a família do comerciante Francisco
Sales da Silva, a família de José Mendes Vasconcelos (conhecido por Zeca
Chagas), as famílias de Alfredo Lima da Cunha, de Benedito Sousa, de João
Lucas Escórcio (conhecido como Joca), Clarindo Lopes castelo Branco, João da
Mata Fortes (conhecido por Jota), Francelino da Silva Costa, o conhecido
Domingo Ricundino, Abel Lélis Pereira, dentre outras.

2.1 - O processo de emancipação política

Foi na década de 50 que começou o amadurecimento da idéia da


emancipação política fazendo com que o povoado passasse a ser cidade.
Consultando o trabalho monográfico de Marlene Cardoso Ramos (2004, p.28-
29), conseguimos encontrar um relato do tabelião Benedito Nicolau de Oliveira,
sobre o processo de Emancipação política de Joaquim Pires, onde o mesmo
relata que:

Foi iniciado mais precisamente no ano de 1956


pelos senhores Agripino da Silva Costa,
Clarindo Lopes Castelo Branco, Thomaz
Romão de Sousa e outros, com o apoio político
dos Deputados Epaminondas Castelo Branco,
Antonio Manoel Gaioso Castelo Branco e João
Clímaco de Almeida, todos do Partido Social
Democrático (PSD), na época não se deu
referida Emancipação, por imposição do grupo
político comandado pelo Deputado Wenceslau
Sampaio, da União Democrática Nacional
(UDN), de Buriti dos Lopes.

Segundo Ramos (2004, p.27):

[...] tal processo emancipatório de Joaquim


Pires, foi confeccionado pelo Sr. Benedito
Nicolau de Oliveira, na época Escrevente do
“Cartório Thomáz Romão” do 1º Ofício da
comarca de Buriti dos Lopes, por quem foi
conduzido e acompanhado o dito processo, na
cidade de Teresina, Capital deste Estado, em
todos os seus trâmites, até o final. Conforme
seus relatos o interesse dos que tiveram a
iniciativa pela Emancipação do município, era
tão somente torná-lo independente, em virtude
da dificuldade de comunicação, devido a
distância da sede do município de Buriti dos
Lopes, do qual fora desmembrado, ficando a
região muito isolada daquela administração [...]
O projeto de lei que emancipava politicamente Joaquim Pires, foi
apresentado pelo Deputado Estadual João Clímaco de Almeida, deputado que
mantinha fortes laços de amizade com Agripino Costa, segundo familiares de
Agripino. No meio político tradicional do município, comenta-se que o fato de a
cidade ter recebido essa denominação de Joaquim Pires, vem de uma
homenagem da Assembléia Legislativa do Estado do Piauí, prestada ao Senador
da República Joaquim de Lima Pires Ferreira, um piauiense que na opinião dos
deputados daquela casa, muito contribuiu com seus serviços prestados ao seu
Estado.
O senador Joaquim de Lima Pires Ferreira pertencia à tradicional família
Pires Ferreira, uma das maiores quando se fala em rede oligárquica na região
norte do Estado do Piauí. Para nós, a denominação dada a cidade não foi uma
homenagem, e sim uma tentativa de imposição de poder político na cidade, visto
que nela existiam parentes dos Pires Ferreira envolvidos no cenário político da
mesma. Ao invés de ser uma homenagem, foi uma imposição de poder
camuflada e a prova disso, foi que o primeiro prefeito Joaquim Pires Costa, era
parente muito próximo dos Pires Ferreira e foi colocado no cargo por nomeação
do governador.
Desde suas origens Joaquim Pires vive a mercê das vontades dos grupos
oligárquicos (tanto regionais quanto locais). Sua emancipação só foi possível
graças a um acordo feito entre os partidos que ocupavam cadeiras da
Assembléia Legislativa do Estado, precisamente o PSD e a UDN. Os Deputados
Estaduais que faziam parte da UDN, só assinavam a aprovação do projeto se o
prefeito nomeado fosse Joaquim Pires Costa. O PSD teve que ceder a tal
pressão, caso contrário, o povoado Porteirinha não teria sido emancipado
politicamente. Então, com a realização do acordo, em 1960 foi nomeado prefeito
Joaquim Pires Costa, da UDN, e Agripino da Silva Costa teve que esperar pelas
eleições de 1962 para poder candidatar-se pelo PSD, partido que fazia parte.
Em entrevista a Antônio Miroca (2006), perguntamos a ele o que teria
levado Joaquim Pires Costa a ser nomeado prefeito de Joaquim Pires, ele
respondeu o seguinte:

O que levou ele Joaquim, foi isso, é por que...


era o esquema político que existia naquela
época, o deputado Wenceslau Sampaio, ele
era o deputado daqui, só aceitava passar
cidade... município, se o prefeito fosse do
partido dele, e quem era do partido do
deputado Wenceslau Sampaio era ele
Joaquim (...)

Segundo Antônio Miroca, o fato de Joaquim Pires Costa fazer parte da


família Pires Ferreira influenciou tanto quanto o fato de ele fazer parte da UDN.
Vale deixar aqui explícito que, embora Joaquim tivesse o sobrenome “Costa”,
não era parente de Agripino.
O Governador Chagas Rodrigues nomeou o primeiro prefeito da cidade, Sr.
Joaquim Pires Costa, pela portaria de 21 de dezembro de 1960, fato que já havia
sido comunicado ao “chefe político” do município, Agripino Costa. A
comunicação foi feita através de um telegrama mandado pelo próprio
governador.
A lei que emancipava politicamente a cidade de Joaquim Pires foi a de N.º
2054 de 06 de dezembro de 1960 sancionada por Chagas Rodrigues,
empossado ao cargo de Governador do Estado no ano anterior à emancipação
do município, o mesmo fazendo parte de uma coligação formada pela UDN-PTB
(Rego Neto, p.106, 1986).
Foi num dia chuvoso que o município foi instalado, no dia 28 de dezembro
de 1960, em sessão presidida pelo Dr. Dário Fortes do Rêgo – juiz de direito da
comarca de Burití dos Lopes, com a presença do então governador do Estado.
A cidade amanheceu em clima de festa e encontrava-se apreensiva. Populares
como Chico Calú fizeram parte deste cenário festivo. Conta Chico Calú, que
naquele dia tinha chovido muito e com mais oito homens foram encarregados
(por Agripino Costa) de desatolar os carros que passavam com dificuldade,
próximo ao “Canto do Caju” (localidade próxima à cidade), em uma estrada
antiga que dava acesso à Joaquim Pires.
Chico Calú (2006) relata que:

O “réi” Agripino, ele foi o interessado pra botar


isso pra cidade, quando foi no dia 28 de
dezembro foi o movimento, né. 28 de
dezembro, aqui já ‘tava mole de chuva, aí ali,
você sabe onde é a CONDEVALE? Ali morava
uma velhinha, mãe... mãe da Isabel do
Bacana, morava assim pra “riba” daquele
morro. Aí perto tinha uns pé de capitão de
campo. Ali “num” tinha “arrudeio” “pros” carro
passar, tinha que passar por ali. Ali nós “era”
uns oito homem. Nós ‘tava “aprontado” ali, pra
na hora que vinha os carro, nós ‘tava ali. Era
difícil “num” ficar um carro. Na hora que batia,
“num” era... era “dislizando”, nós tinha que
passar todo mundo empurrando aquele carro.
E aí, quando errava a bitola, aí caía dentro do
buraco, aí atolava. Aí nós “ia” “disatolar”
aqueles carro, aquele carro, até... Pra entrar
pra debaixo, quando saia debaixo dos carro,
parecia uns porcos (risos).

Pedro Leôncio (2005) diz lembrar pouca coisa do dia da emancipação:

Eu lembro pouca coisa do dia da emancipação


da cidade. Só lembro que viemos pra cá pela
Malhada de Baixo. Estava num inverno
monstro. Lembro que veio o Wenceslau com
um pessoal do Buriti dos Lopes, veio aquele
governador Chagas Rodrigues. Veio todo esse
pessoal para passar a cidade.

Halbwachs (1990, p.27, 30), explica que o esquecimento geralmente pode


vir a acontecer por não termos nos envolvido muito ao acontecimento, ou pode
acontecer também pelo fato de “uma tal memória estar limitada pela força das
coisas, ou na duração do grupo”.
Estiveram presentes na solenidade de instalação do município os parentes
do senador Joaquim Pires: Jurandir Pires Ferreira, Deputado Federal Dirno Pires
Ferreira (respectivamente, filho e neto do homenageado Senador Joaquim
Pires). Estiveram lá também Deputados Estaduais João Clímaco de Almeida
(autor do Projeto de emancipação), Alberto Monteiro, Antônio Gaioso Castelo
Branco e Themístocles de Sampaio Pereira, além da Prefeita de Buriti dos Lopes
Zezita Cruz Sampaio, o sub-procurador do Estado José Nicodemos Alves
Ramos. Agripino Costa, Pedro Agápito da Silva, Padre Bossuet (filho do Coronel
Leôncio), outras autoridades e grande multidão, conforme consta na Ata Oficial
de instalação da cidade (p.02). (em ANEXO)

TABELA I - TRAJETÓRIA POLÍTICA DE DESCENDENTES DA FAMÍLIA


PIRES FERREIRA NA CIDADE DE JOAQUIM PIRES
ANO NOME CARGO PARTIDO VOTOS SITUAÇÃO
1960 Joaquim Pires Costa Prefeito UDN - Nomeado
1966 Joaquim Pires Costa Vice- ARENA - Eleito
Prefeito
1982 Joaquim Pires Costa Vice- PDS - Eleito
Prefeito
1992 Noé Fortes de Souza Prefeito PTB 1.111 Não-eleito
Pires
1992 José Fortes de Souza Vereador PTB 131 Não-eleito
Pires
1996 Noe Fortes de Souza Prefeito PTB 2.852 Não-eleito
Pires
2000 Maria José Sales Pires Prefeito PTB 424 Não-eleito
2004 Noé Fortes de Souza Vice- PtdoB 1.912 Não-eleito
Pires Prefeito
2004 Noé Fortes de Souza Vereador PtdoB 129 Não-eleito
Pires Filho
Fonte: TRE-PI

Analisando o tabela acima vemos que, descendentes da família Pires


Ferreira têm tido muito pouco respaldo político na cidade de Joaquim Pires. O
único a ocupar cargo público eletivo foi justamente Joaquim Pires Costa que,
depois de ter sido eleito vice-prefeito em 1966, passou 16 anos sem ocupar
cargo eletivo, vindo a ocupar novamente somente em 1982, quando foi
convidado por Antônio Miroca para ser vice-prefeito de Santino Santos.
Comentando sobre a ligação que tinha com Joaquim Costa, Antônio Miroca
explica:

Eu tinha poucas relações com ele, sabe. A


gente se encontrava pouco, já no fim da
caminhada dele, nós tivemos mais
aproximação, ele foi (...) vice do Santino. Foi
até eu que fui atrás dele pra ser vice. Então,
nós já no final da coisa, nós “tivemo” mais
aproximação, foi um bom companheiro, um
homem sério, o que eu acho muito bonito, é a
pessoa ser honesta com os amigos, ser
sincero.

Depois dele, quem mais se aproximou do poder executivo municipal foi Noé
Fortes de Souza Pires em 1996, apresentado pelo então prefeito da época
Santino Santos numa coligação feita pelos partidos PPB/PTB/PFL/PSDB. Nesta
eleição, Noé Pires perde por 706 votos para o candidato Édios Ramos,
apresentado por seu pai, Antônio Miroca.
Em entrevista com Antônio Miroca, perguntamos qual era sua opinião sobre
o motivo da família Pires nunca ter chegado a dominar a política de Joaquim
Pires, no que ele respondeu:

Rapaz, é uma coisa que eu não posso... não


sei nem responder, por que na grande
verdade, era uma família grande, e com
pessoas de prestígio e tal... e recursos, e
nunca teve um pra ser nem eleito a vereador.

Em Joaquim Pires só houve parentes da família Pires Ferreira ocupando


cargo eletivo enquanto Joaquim Pires Costa estava vivo, sendo que depois de
sua morte nenhum nome de “peso” surgiu na política.
3. OS PRECURSORES NA FORMAÇÃO DAS
OLIGARQUIAS JOAQUIMPIRENSES
Trataremos neste capítulo a respeito da história de vida de Agripino Costa,
Francisco Leôncio e Antônio Miroca, através de informações colhidas em
entrevistas que foram realizadas na perspectiva de resgate da memória dos
entrevistados. Esses três atores do cenário político de Joaquim Pires foram os
precursores quando o assunto é a formação das oligarquias joaquimpirenses.
Montenegro (1992, p.56), explica que quando entrevistamos buscando
trabalhar a história de vida, temos que nos adequar as diferenciações existentes:

Diferentes são as entrevistas que têm como


foco determinados temas, nas quais a
preocupação básica são opiniões, pontos de
vista, análises do entrevistado. Esse tipo de
entrevista se caracterizará por uma construção
em que predomina a racionalidade ou mesmo
o discurso racionalizado do entrevistado.

Buscamos revisitar experiências e acontecimentos daqueles que viveram


época e/ou que conviveram com coronéis joaquimpirenses.

3.1 - Agripino da Silva Costa

Agripino Costa chegou a comunidade Porteirinha no ano de 1927, vindo de


Magalhães de Almeida – MA. Assim como outros cidadãos que buscavam a
liderança na política da cidade, desempenhava atividades agrícolas e
comerciais.

Agripino Costa e sua esposa Dona Maricota (fonte: Arquivo fotográfico da família Costa)
Era um cidadão com forte poder de persuasão sobre às pessoas, e em
decorrência disso em pouco tempo conseguiu predomínio econômico, social e
político no município. Através de sua hegemonia econômica passou a ser
chamado pela patente de Coronel, e como tal, tinha que desenvolver alguns
atributos de coronel perante a sociedade.
Em entrevista a Francisco Pereira da Silva, mais conhecido por Chico Calú,
neto de um dos primeiros habitantes de Porteirinha, o já citado neste trabalho, o
Sr. José Pereira de Sousa, lhe perguntamos como era o relacionamento de
Agripino Costa com o povo. Chico Calú (2006) nos respondeu que:

Os pobre quando chegavam lá (na casa de


Agripino), não entravam pela sala, pela porta
da sala, entravam pelo lado da cozinha. Mas,
que “caboco” pra entrar lá de carona, como
entra na casa do Antônio Miroca, Santino, de
qualquer outros políticos que “existe” por aqui,
“num” entrava. Entrava aqueles da iguala dele.

Agripino Costa tornou-se o chefe político de Joaquim Pires antes mesmo


da emancipação da cidade. Nessa época o eleitor era submetido à sua vontade
pois, não havia outro chefe político na região, e era por causa dessa submissão
que a maioria dos habitantes de Porteirinha votavam onde ele mandava. Chico
Calú (2006) conta que:

(...) Naquela época ele “num” tinha nem esses


tratamento, o povo tinha essa obrigação. Ele
dizia assim... fulano de tal é o candidato
“vamo” votar nele, pronto. Era aquilo, né.

Considerado um “homem duro”, ou seja, grosseiro e de um “gênio”


orgulhoso, “continuava no poder por que trabalhava e pagava o povo”, justifica
Chico Calú. “Ele era honesto, esses Costa tudo era honesto...tudo”. Explica
Chico Calú acrescentando que o que faltava no Coronel Agripino era a simpatia
com o povo.

Agripino Costa e sua esposa Dona Maricota (fonte: Arquivo fotográfico da família Costa)
Para Antônio Miroca, o fato de Agripino Costa ter permanecido no poder,
mesmo com o gênio que tinha, se explicava pelo fato de o mesmo ser “um
cidadão de bem e... um homem muito inteligente, que conversava, conquistava
todo mundo, e o povo tirava o chapéu pra ele. Ele naquele tempo era o homem
daqui”, diz Miroca.
Proprietário de muitas terras, o que parece é que o Agripino a zona rural
era diferente do Agripino da zona urbana. Em entrevista a Francisca Nogueira,
a mesma relata que nasceu nas terras de Agripino Costa e lá permaneceu até
mais ou menos 1982. Nogueira (2006), relata que Agripino era um homem
simpático que tratava bem os seus moradores. A mesma diz que na época de
eleição o coronel Agripino não obrigava nenhum dos seus moradores a votar
nele ou em algum de seus candidatos, limitando-se apenas a visitas de casa em
casa entregando calendários e pedindo votos. Porém, ela lembra de que os
próprios moradores sentiam-se na obrigação de votar no patrão pelo motivo de
morarem nas terras dele.
Como prefeito, Agripino Costa governou de 1963 a 1966 pelo PSD e depois
pela ARENA. Essa primeira eleição foi disputada contra o Coronel Leôncio da
UDN. Foi uma eleição histórica em Joaquim Pires, visto que foi a única onde os
candidatos eram os próprios coronéis, além de ter sido nessa eleição, que
Joaquim Pires elegeu o primeiro prefeito do município através do voto, visto que
como já vimos, como prefeito Joaquim Pires Costa foi nomeado e não eleito.
Apresentou e elegeu seu sucessor nas eleições de 66 Pedro Agápito da
Silva, o Pedro Justino. Após a saída de Pedro Justino, apresentou o irmão
Bernardo Costa em 1970 onde sofreu a primeira derrota, numa eleição que aos
olhos do grupo que o apoiava estava ganha, porém, foram surpreendidos pela
chapa formada por Antônio Miroca – Prefeito e Pedro Leôncio – Vice-Prefeito,
que faziam parte da UDN. Depois desta derrota, ele mesmo entrou para a disputa
contra a chapa de Zé Leôncio – Prefeito e Zé Maria Marica – Vice-prefeito em
1972, sofrendo a segunda derrota. Nas eleições de 1976 apresentou o genro Zé
Maria Marica contra a chapa de Antônio Miroca – Prefeito e Santino Santos –
Vice-Prefeito sofrendo a terceira derrota.
Estima-se que Agripino Costa, esteve à frente do poderio político de
Joaquim Pires, por mais ou menos 20 anos, sofrendo seu declínio político em
1970 com a primeira derrota. Antes da emancipação da cidade, já ocupava o
cargo de vereador por duas vezes na cidade de Buriti dos Lopes (a qual
Porteirinha fazia parte), onde mantinha estreitos laços de relacionamento com
os chefes políticos daquela cidade, conforme já foi comentado neste trabalho.
Era amigo e eleitor do Deputado Estadual João Clímaco de Almeida, político que
estava sempre pronto a atender os seus pedidos.
Foi curioso o fato de seu declínio político, levando em consideração toda a
sua influência e poderio. Indagado sobre sua opinião, do por que de Agripino ter
perdido o poder político de Joaquim Pires e não ter mais conseguido de volta,
Chico Calú (2006) responde que:

Ele perdeu assim... quase por orgulho, “né”!


Por besteira. Ele perdeu a política, e aí quando
foi um dia, chegou um homem, eu “num” “tô”
lembrado quem era a pessoa que chegou pra
ele:
- “Seu Agripino, o senhor perdeu a eleição?”.
-“Não, ‘num’ perdi a eleição não... quem
perdeu a eleição foi os ‘caboco’. Eu paguei foi
uma promessa que devia a São Lázaro, de
encher o bucho dos cachorro.
Aí você se revolta com aquilo, aí ‘num’ vota
mais nele, só isso. Esse é um modo do político
tratar os eleitor? Eu acho que não seja”.

Para Marlene Ramos (2004, p.29), o declínio político de Agripino Costa se


deve ao fato de que:

com a administração, contrária a expectativa


do povo, o mesmo só teve o direito de eleger o
seu sucessor Sr. Pedro Agápito da Silva,
não tendo mais condição de continuar no
poder, tendo o povo concluído que Agripino
tinha o intuito de tornar Joaquim Pires,
propriedade sua; tendo grande parte de seus
correligionários se revoltado e pondo-o fora do
poder.

Após sua saída de Joaquim Pires, Agripino da Silva Costa passou a morar
com uma filha na cidade de Fortaleza, onde faleceu em 15 de fevereiro de 1990.

3.2 - Francisco Leôncio de Sales

Francisco Leôncio de Sales era cearense e chegou em Joaquim Pires em


meados da década de 30. Quando chegou em territórios piauienses foi ser
morador do Almirante Gervásio de Buriti dos Lopes, o qual serviu como um
trampolim para que Leôncio se tornasse um homem de boas condições
econômicas. Através de empréstimos feito pelo Almirante Gervásio, Francisco
Leôncio foi adquirindo bens como algumas propriedades de terra no município
de Joaquim Pires. Passou a morar na localidade Mimosa, passando a viver da
comercialização de produtos agrícolas. Alcançou sua hegemonia econômica na
década de 40, quando adquiriu a patente de coronel.

Carteira de Identidade de Francisco Leôncio (fonte: Arquivo fotográfico da família Leôncio de Sales)
O “coronel” da família dos Leôncios era um homem temido por todos por
causa de sua fama de valente. Em entrevista a seu filho Pedro Leôncio de Sales,
hoje com 79 anos de idade, ele confidencia que: “o papai não ia ‘mijar’ se não
fosse com o revólver na cintura”. Segundo Pedro Leôncio, seu pai possuía um
arsenal em casa, que ia desde um revólver 38 a um rifle surdo. Explicando o
motivo de ter tantas armas, o entrevistado fala que seu pai era perseguido por
causa da riqueza que possuía. O “Coronel” Francisco Leôncio de Sales não
temia sequer a polícia, a quem desafiou algumas vezes quando estiveram em
sua casa. Seus atos de valentia quase chegaram a se tornar lendas na cidade,
onde alguns antigos moradores do município comentam com um certo medo,
fatos como algumas mortes cometidas pelo coronel Leôncio.
Francisco Leôncio, só veio a entrar nas disputas políticas após a
emancipação da cidade. Através de incentivos por parte de pessoas que viviam
ao seu lado, decidiu candidatar-se a prefeito nas eleições de 1962 contra a chapa
de Agripino Costa – Prefeito e Clarindo Lopes Castello Branco – vice. Segundo
Pedro Leôncio (2006), seu pai perdeu essa eleição por que a mesma foi
fraudada:

Ele tirou muita vantagem e dizem que ele


ganhou bem as eleições, mas o negócio era
que as urnas passaram mais de cinco dias aqui
em Joaquim Pires antes de ir para Buriti dos
Lopes... e aqui abriram as urnas e tiraram os
votos do papai e deixaram os do coronel
Agripino.

Nas eleições de 1962 teve como Vice-Prefeito Antônio Miroca, indicado pelo
Deputado Estadual Wenceslau Sampaio de Buriti dos Lopes.
Francisco Leôncio não teve a oportunidade de disputar as eleições de
1966, pois, faleceu em 1964 vítima de problemas cardíacos. A liderança do grupo
ficou a cargo do seu filho José Leôncio que, em 1966 entrou contra a chapa
apoiada por Agripino Costa, sendo ela Pedro Justino – Prefeito e Joaquim Pires
Costa – vice, acontecendo desta forma a segunda derrota do grupo.
O grupo político originado pelo coronel Leôncio só alcança sua primeira
vitória com a chapa de Antônio Miroca - Prefeito e Pedro Leôncio - Vice-Prefeito
em 1969, contra o candidato de Agripino Costa, seu irmão Bernardo Costa. A
Segunda vitória do grupo veio em 1972 quando foram apresentados a candidato
José Leôncio de Sales tendo como vice o cunhado de Agripino Costa, Zé Maria
Marica. Segundo informações que se escondem atrás do anonimato, o fato de
Zé Maria Marica ter sido candidato a Vice-Prefeito na chapa dos Leôncios, foi
movida por dois interesses:
1º - Zé Maria Marica tinha um considerável número de votos na zona rural
do município, com redutos eleitorais na localidade Extremas e localidades
vizinhas;
2º - Zé Maria Marica era casado com a filha adotiva de Agripino Costa,
Dona Betinha, e o fato de o mesmo se opor ao sogro iria repercutir bem para o
grupo dos Leôncios.
Nas eleições de 1976, Antônio Miroca vence novamente tendo como vice
Santino Santos, e é nesse mandato que ocorre o rompimento de Antônio Miroca
com o grupo dos Leôncios, tirando dos mesmos a oportunidade de voltarem a
ocupar cadeiras no executivo municipal.
3.3 - Antônio da Silva Ramos

Na década de 70 entrava para o quadro de liderança política, Antônio da


Silva Ramos – o Antônio Miroca, um latifundiário residente no povoado Forquilha,
casado com uma afilhada de Agripino Costa, dona Maria dos Aflitos Lima. Miroca
era também comerciante e agricultor e desde jovem já trabalhava no ramo,
primeiramente como comerciário e só depois como comerciante, comprando e
vendendo produtos como algodão e fumo.
Antes de vir morar em Joaquim Pires, morava no povoado Forquilha, deste
município, chegando das Contendas em 1951. Segundo Miroca (2006), o mesmo
era eleitor de Agripino Costa, e tal “amizade se desfez, quando Agripino mandou
um policial derrubar uma ‘tapagem’ na sua propriedade da Forquilha a pedido de
um amigo que tinha uma propriedade próxima a de Miroca”.
Veio morar na sede do município (zona urbana) em 1963, ingressando na
política através do grupo dos Leôncios. Logo na primeira eleição da cidade de
Joaquim Pires (1962) se candidatava a Vice-Prefeito do coronel Francisco
Leôncio.
Foi Antônio Miroca quem até a presente data por mais tempo manteve-se
no poder na cidade de Joaquim Pires e, durante 45 anos de emancipação da
cidade perdeu somente três eleições (1962, 1966, 2004). Desde sua primeira
vitória em 1970 sempre tem elegido seus sucessores vindo a perder novamente
uma eleição quando seu candidato D’chagas Ramos perdia para o candidato
apresentado por seu filho Édios Ramos, Genival Bezerra em 2004.
Durante sua trajetória política sempre procurou impedir o progresso
daqueles que de alguma forma o ameaçavam tomar-lhe o poder, nem que para
isso fosse necessário romper com os próprios aliados. Um fato importante que
foi fundamental para que o mesmo se tornasse um líder político na cidade, foi o
rompimento com a família dos Leôncios. Visto que o mesmo pertencia a tal grupo
e através deste é que foi lançado na política, Antônio Miroca vivia numa espécie
de submissão aos Leôncios, e quando chegou a ocupar o executivo pela 2ª vez
houve o rompimento que aconteceu através de uma estratégia de Miroca,
isolando politicamente José Leôncio de Sales, que havia sucedido o pai na
liderança do grupo político.

TABELA II – QUADRO DEMONSTRATIVO DA TRAJETÓRIA POLÍTICA DE


ANTÔNIO MIROCA E CANDIDATOS POR ELE APOIADOS (1962-2004)
Eleições Chapa Partido Nº de Votos Situação
1962 Francisco Leôncio de Sales – Prefeito UDN - Não Eleito
Antônio da Silva Ramos – Vice-Prefeito
1966 Antônio da Silva Ramos – Prefeito - - Não Eleito
-
1970 Antônio da Silva Ramos – Prefeito ARENA - Eleito
Pedro Leôncio de Sales - Vice-Prefeito
1972 José Leôncio de Sales – Prefeito ARENA - Eleito
José Maria de Carvalho - Vice-Prefeito
1976 Antônio da Silva Ramos – Prefeito ARENA - Eleito
Santino Raimundo dos Santos – Vice
1982 Santino Raimundo dos Santos – Prefeito PDS - Eleito
Joaquim Pires Costa – Vice-Prefeito
1988 Antônio da Silva Ramos – Prefeito PFL 3120 Eleito
Manoel Lopes de Miranda – Vice-Prefeito
1992 Francisco das Chagas Melo – Prefeito PDC 2314 Eleito
José Ribamar Sales – Vice-Prefeito
1996 Édios da Silva Ramos – Prefeito PMDB 3.558 Eleito
PT
Genival Bezerra da Silva –Vice-Prefeito
2000 Édios da Silva Ramos – Prefeito PMDB 2.978 Eleito
Genival Bezerra da Silva –Vice-Prefeito PT
2004 Francisco das Chagas Ramos da Cunha – PSDB 2.028 Não Eleito
Prefeito PFL
Izabel de Maria Costa Carvalho –
Vice-Prefeita
Fonte: TRE-PI
Na hora de romper com os aliados, Antônio Miroca começava por isolá-los.
Não agüentando o fato de estar isolado, o aliado rompia com o mesmo. Foi o
que aconteceu com Zé Leôncio e com Santino Santos. Eleito prefeito com o
apoio de Antônio Miroca em 1982, Santino fez uma boa administração e
destacou-se pela aceitação por parte do povo. Isso era o bastante para que
Miroca pudesse isolá-lo, impedindo assim que Santino se tornasse uma ameaça
ao seu poder, se transformando futuramente em um forte opositor.
Perguntado se o rompimento com Santino foi pelo fato de o mesmo
representar uma ameaça à sua liderança política, Miroca responde que: “Não,
não... acho que sim, acho que não, né!?! Não foi isso que fez o rompimento da
gente”.
Antônio da Silva Ramos provou do próprio veneno após apoiar seu filho
Édios Ramos para prefeito de Joaquim Pires nas eleições de 1996. Após tornar-
se o gestor público de Joaquim Pires, Édios Ramos iniciou um processo de
isolamento político de Antônio Miroca cortando seus privilégios e regalias na
administração pública, o que veio a fazer com que Antônio Miroca deixasse de
ser o maior líder político da cidade e rompesse com o filho nas eleições 2004,
ano que novamente voltava a perder uma eleição municipal após 34 anos invicto.
Antônio da Silva Ramos é considerado o homem que implantou o
clientelismo e a compra de votos na cidade de Joaquim Pires, fato que o mesmo
nega dizendo que:

A compra de votos que eu tinha e tenho é a


amizade. É por que eu não me escondo de
ninguém. Nunca me escondi do eleitor. Nunca
enganei um eleitor, se eu posso arranjar o que
ele quer... comprar voto eu nunca comprei, eu
faço aquilo que eleitor quer. Se ele tá
precisando de um milheiro... dois milheiro de
telha, eu como prefeito por que não dá, né?!?
E se ele tá precisando de um remédio, um
vidro de remédio, eu tinha que dar. Se estava
precisando de outra coisa, eu dava também,
então era isso. Aí se outros não querem dá,
acha que o povo deve votar sem receber isso,
por que o certo é votar pela sua consciência,
mas, todo mundo sabe como é eleição, né!?!
Então, nunca comprei voto. Eu sempre gostei
de ajudar as pessoas pobres.
Foi um cidadão que se relacionou politicamente com várias autoridades da
política estadual como Dirceu Arcoverde, Hugo Napoleão, Alberto Silva, Freitas
Neto, dentre outros componentes dos grupos de direita.
4. CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA
OLIGÁRQUICA JOAQUIMPIRENSE
Alguns pontos têm acompanhado a história política da cidade de Joaquim
Pires desde a formação de grupos que passaram a disputar o poder público
municipal. Tais características têm se tornado uma permanência histórica na
cidade, mantendo-se viva passando de geração a geração. Neste capítulo
procuraremos abordar algumas dessas características que estão intimamente
ligadas aos grupos liderados pelos precursores da política joaquimpirense,
como:
1. Sucessão sem laços de parentesco no poder executivo;
2. Poucos membros das famílias oligárquicas no legislativo;
3. Política clientelista e a compra de votos;
4. Conivência da maioria dos vereadores com os erros do gestor público;
5. Perseguição aos adversários políticos;
6. “Fechamento” de seu subsistema político;
7. Fraudes eleitorais.
É necessário que por nós seja feita a observação que, mesmo citando nos
próximos parágrafos, nomes de gestores públicos de Joaquim Pires, assim como
membros do legislativo municipal que estão fora do recorte do tempo desta
pesquisa, é importante lembrar que eles chegaram ao poder via oligarquias
onde, os chefes dessas oligarquias são os atores que baseados na história de
suas vidas é que se desenvolve esta monografia.

4.1 - Sucessão sem laços de parentesco no poder executivo

Uma das características da política oligárquica de Joaquim Pires é eleger


como sucessores no executivo municipal aliados políticos sem nenhum grau de
parentesco onde, o motivo de tal prática, pelo menos por parte da família Ramos,
parece ser a desconfiança na própria parentela.
Se existir ponto positivo nas oligarquias joaquimpirenses esse é um deles,
visto que seria ainda mais nocivo para aquela sociedade, a existência de um
revezamento somente entre parentes tirando de outros a oportunidade de
exercer o direito de ocupar o cargo de gestor municipal. É importante observar
que, o fato de dar oportunidades aos amigos não vem a significar uma gentileza
por parte dos “coronéis” e sim, por ver neles um afilhado capaz de conservar
seus “status”.
Vale observar que, mesmo o cargo de prefeito sendo ocupado por não-
parentes, os chefes políticos continuavam a tomar as decisões e a fazer acordos
políticos, como é o caso da relação que existia entre Antônio Miroca e Santino
Santos, quando o segundo ocupava pela primeira vez a cadeira de prefeito,
chegando até lá através do primeiro, como veremos neste capítulo. Em
entrevista Santino (2005) nos confidencia que:

Eu sempre disse a ele que eu ia ser candidato,


mas a política era com ele. E... pra você ter
uma idéia nós nunca “discutimo” uma palavra
um com o outro... acredita nisso? Eu acredito
se você conversar com ele, ele lhe diz que
nunca nós “discutimo”, um problema nem
pequeno.

Desde a emancipação da cidade, existiram 4 gestores que ocuparam o


executivo municipal, sem que tivessem laços consangüíneos com essas famílias
que mantinham o controle político do município, porém, chegaram à prefeitura,
via oligarquia. Exemplo desses gestores são: Pedro Agápito da Silva (1967-
1970), Santino Raimundo dos Santos (1982-1988/1993-1996) Francisco das
Chagas Melo (1993) e Genival Bezerra da Silva (2005-?).
Pedro Agápito da Silva, mais conhecido como Pedro Justino, foi apoiada
por Agripino Costa nas eleições de 1966, tendo como Vice-Prefeito Joaquim
Pires Costa. Pedro Justino, já havia ocupado a presidência da Câmara de
Vereadores na legislatura anterior (I Livro de Atas CMJP, p.1), e foi o sucessor
do próprio Agripino Costa. Após entregar o cargo de Prefeito não ocupou mais
nenhum cargo eletivo na cidade de Joaquim Pires, tornando-se assim, um dos
políticos da cidade a ter carreira curta.
Perguntamos Chico Calú, um de nossos entrevistados, como era o
temperamento de Pedro Justino e como ele foi como administrador, no que ele
respondeu:

Rapaz, nós “trabaiemo” junto. “Trabaiei” muito


com ele Pedro. Nem só em tempo de política,
só tempo dele prefeito. Que antes dele ser
candidato, nós já “trabaiava” com ele (...). Era
assim, meio cabeça quente, mas era bom...
servidor. Na casa do Pedro Justino entrava na
sala, ia pra cozinha, se fosse possível ia no
quarto dele dormir, né. Tanto ele como a
mulher dele, era tudo uma coisa só (...) Na
campanha política ele ganhou bem “facinho”,
né. Ele era bom. Chegasse um “caboco” na
casa dele, assim na época que nós “tamo” e
dissesse assim: fulano de tal, como é que tá o
seu legume?. Ele dizia que “tava” ruim, por que
“tava” no mato, ele perguntava quantos dias de
serviço pegava. Aí as pessoas dizia. Ele
perguntava se o “caboco” tinha o que comer
pra dá pro’s “trabaiador”. Se tinha dizia que
tinha, se “num” tinha, dizia que “num” tinha. Se
tivesse o que comer e mandava os
“trabaiador”, e se “num” tivesse, e se o serviço
fosse amanhã, ele viesse buscar a [...] hoje pra
fazer comida amanhã pro’s “trabaiador”, né. Ai
o “caboco” vinha, no fim d’água, que vinha
pagar o Pedro Justino com legume, né (...) ás
vezes nós discutia, eu com ele, por que ele era
muito ignorante, e na hora da ignorância, a
gente não respeitava, e eu também tinha que
dizer umas “boa” pra ele, né (...) Na
administração dele, ele trabalhou muito. Só
que ele era assim meio “destabacado”. Ali da
Placa ele abria uma estrada manual, até a Boa
Vista, no tempo dele prefeito, né. Ele disse que
não ia pedir máquina, era pra dá serviço pro
povo. Esse mundo de praça aí, foi ele, né.

Alguns populares consideram que Pedro Justino foi o melhor prefeito que
Joaquim Pires já teve, e diante disso perguntamos o senhor Chico Calú se na
opinião dele, Pedro Justino estava sendo o melhor desde a emancipação da
cidade, no que ele respondeu:

Não. Não foi por que as coisa era esfarelada,


né. O melhor prefeito que ‘tô achando, que ‘tô
encontrando, é esse d’agora (...) É o melhor
que ‘tô encontrando. Pra atender o povo assim
com serviço, pagar, e tá “trabaiando”, né. É o
melhor que tô encontrando... é o Genival, né.

Pelas notícias que circulam pela cidade de Joaquim Pires, sabe-se que
Pedro Justino está morando na cidade de Brasília – DF, e trabalha com um filho
numa granja.
Santino Raimundo dos Santos, em 1972 elegeu-se a vereador pela primeira
vez. Na época era eleitor de Antônio Miroca, e foi convidado pelo mesmo a
candidatar-se pelo seu partido. Ainda nessa legislatura, chega a ocupar a
Presidência da Câmara após a renúncia² de José Maria de Carvalho, mais
conhecido como “Zé Maria Marica”, que na época era Vice-Prefeito, e o vice
exercia também o cargo de Presidente da Câmara. A renúncia aconteceu em 29
de março de 1971 (I Livro de Atas da CMJP, p.116).
Falando de como entrou na política ele explica:

Olhe, isso aí me levou por que eu estava aqui


e eu já era ligado... eu já votava no Antônio
Miroca, a própria sua filha Dorotéa, nessa
época era moça mas ela trabalhava muito em
política e me perguntaram se eu não queria ser
candidato a vereador, e eu ouvi aquilo e
disse: eu vou ser.

Em 1976, Santino foi eleito Vice-Prefeito na chapa de Antônio Miroca, e


pelo bom relacionamento que existia entre os dois, foi indicado para ser o
candidato a prefeito nas eleições de 1982, administração que o levou ao
reconhecimento popular, como um dos melhores prefeitos que Joaquim Pires
tivera até aquele momento.
Indagado sobre o por que de ele ter sido o escolhido para ser o candidato
a prefeito em 1982 no grupo de Antônio Miroca, ele responde:

Certo. Lhe digo aqui, e conheço muitos amigos


que tem aí, se eles “falar” a verdade não tinha
nenhum melhor pra ser candidato do que eu na
época, Antônio Miroca era candidato, eu era a
vice, naquele tempo não tinha reeleição e aí
quando chegou “pertim” quiseram que eu
fosse, eu fui candidato.
Sobre a escolha do nome de Santino para candidato a prefeito em 1982,
fomos perguntar a quem o apresentou, ou seja, ao próprio Antônio Miroca.
Perguntamos o que o levou a apresentar Santino Santos, e ele explicou que:

Santino foi um rapaz que chegou aqui, eu não


recordo o ano, mais ou menos em 65, por aí. E
um dia em 1970, eu falei com ele, quando eu
disse pra ele que eu ia ser candidato a prefeito
e convidei a ele pra ele votar em mim, e
perguntei se ele podia me ajudar, ele disse que
podia, aí ele votou pra mim. Fui eleito e ele
tinha um “comérciozim” aqui, um rapaz muito
bem quisto com o povo, tinha uma freguesia
boa, aí disse pra ele Santino, no outro pleito,
que ele ia ser candidato a vereador. Aí ele
aceitou, entrou como candidato a vereador. Foi
eleito, foi presidente da Câmara, um rapaz
muito sério com a gente... muito sério, e por
essa razão de ele ser sério foi que levou ele a
ser candidato a prefeito. Por que ele como
vereador, presidente da câmara, nunca teve
uma conversa de bem ou de mal contra mim,
aí eu coloquei ele como, na outra eleição, em
outra época como candidato a vice-prefeito
meu, aí ele foi o meu vice-prefeito, passamos
6 anos governando Joaquim Pires,
trabalhando e eu nunca tive uma pequena
queixa do Santino durante esse tempo. Aí foi
que me deu... me fez confiar e aí eu coloquei
ele como candidato a prefeito e foi eleito e
trabalhamos juntos 6 anos também que ele foi
prefeito. Foi um bom prefeito naquela época. O
que levou o Santino a ser prefeito, foi ele
merecer a confiança pra mim como amigo,
certo. Se não, não teria sido prefeito.

Quando candidatou-se novamente em 1992, já tinha acontecido o


rompimento com Antônio Miroca. Com a fama de bom prefeito, Santino Santos
começava a formar um grupo político paralelo (e contra) ao de Antônio Miroca,
o que representava uma ameaça para o poder exercido por Antônio Miroca, e
analisando fatos o que nos pareceu foi que o motivo do rompimento entre os dois
foi justamente esse.
Perguntamos a Antônio Miroca, se em algum momento ele se sentiu
ameaçado pelo grupo de Santino Santos, por causa da fama de bom prefeito
que o mesmo possuía:

Não, não... acho que sim, acho que não, né!?!


Não foi isso que fez o rompimento da gente. Eu
não gostei mesmo das pessoas, da arrogância,
querer aparecer demais nas coisas, eu sempre
gosto das coisas assim recuado, e ele era
diferente de mim, então, mas não foi isso não,
eu acho que tendo duas pessoas que se
entende numa cidade, se combinando as
coisas vão pra frente. Não sei por que, não sei
se foi o caso dos menino dele chegaram,
começaram a querer fazer, ele é um rapaz, um
homem que é muito levado pelos filhos. Ele
sempre faz aquilo que os filho quer, e a gente
tem que fazer, mas nem toda coisa, que às
vezes tem coisas que não dá certo. A gente só
faz aquelas que a gente vê que dá certo, e as
que não dão certo, a gente não faz. Eu pelo
menos não faço.

O resultado da eleição de 1992 foi um empate de 2.314 votos. Santino foi


derrotado por ter menos idade que seu adversário, Francisco das Chagas Melo
– candidato apresentado por Antônio Miroca. Porém, após recorrer por várias
vezes, pedindo ao TRE uma recontagem de votos, foi declarado vencedor.
Durante sua 2ª gestão, houve um desgaste muito grande de sua imagem política,
fato que lhe trouxe consequências posteriores, como a derrota nas eleições
2004, na qual candidatou-se a vereador.
Tanto Santino, como Miroca, afirmam que não houve nenhum motivo para
o rompimento dos dois, e que nunca houve nenhuma discussão e nenhum atrito
entre os mesmos e, mesmo que não tivesse tido nenhum motivo, nenhuma
espécie de conflito, também nunca houve uma reaproximação.
Alguns políticos, como também populares de Joaquim Pires, comentam
que Santino foi um dos melhores prefeito que Joaquim Pires já teve, porém,
fazem uma ressalva de que isso aconteceu somente no seu primeiro mandato,
sendo que no segundo deixou muito a desejar, aumentando ainda mais a crise
pela qual o Joaquim Pires passava na época. Perguntamos o que Santino tinha
a falar a respeito desse tipo de opinião sobre ele, no que ele respondeu:

Olhe, primeiro é muita diferença das “côsas”,


as pessoas dificilmente que analisam. Quando
eu fui candidato a primeira vez eu tinha como
governador o Hugo Napoleão, tinha como
secretário de educação Átila Lira, tinha como
deputado federal Freitas Neto, isso tudo aí era
uma equipe muita, que era conhecido deles e
que eles “fazio”, só “fazio”, eles é que
“aperriavo”: pode mandar os projetos, e eu
mandava e não precisava ter um trabalho com
nada, quando eu pensava que não já “tava” o
dinheiro na conta pra fazer um grupo escolar,
fazer um... qualquer tipo de “côsa” que dava
certo, né. No segundo mandato eu não tinha
governador, segundo mandato nós “partimo”
foi com a briga na justiça, já fiquei sem um
pedaço de mandato, todo nós “sabemo” que o
que é despesa de uma prefeitura com
advogados... e então eu não tinha um governo
pra... todos que eu fazia, que eu mandava
meus projeto eles eram “cancelado”. Até que
hoje, diferente (graças a Deus) os homem
terem feito uma “côsa”, que você pode não ter
um governador , mas você já pode mandar
seus projeto direto, naquele tempo, ia tudo o
que dependia aqui, tinha que ir pra Teresina,
pelo MEC, todos os “projeto” tinha que ir por
lá, e só chegava lá... e pronto. Depois disso, se
mandasse via secretaria de educação só ia até
lá, se mandasse MEC só ia até lá... então aí
ficava difícil.

Já Francisco das Chagas Melo, ocupou uma cadeira na Câmara Municipal


por três mandados consecutivos, o que quer dizer que passou 16 anos como
vereador, sendo de 1977 a 1992. Antônio Miroca quis elegê-lo Prefeito e o
candidatou nas eleições de 1992 para disputar com Santino Santos. Como
mencionamos acima, o resultado dessa eleição foi um empate entre os dois
candidatos e, Chagas Melo ganhou a eleição por ser mais idoso que seu
adversário, porém, permaneceu somente por oito meses no cargo, quando a
justiça declarou que Santino era quem na realidade havia sido o vencedor.
Nunca mais ocupou cargos eletivos e hoje não tem nenhum respaldo na política
de Joaquim Pires. Como atividade profissional, é funcionário público não-
concursado e possui uma agência de vender passagens da empresa de ônibus
FRETUR.
Sobre o por que de ter escolhido Chagas Melo para sucedê-lo em 1992 e
o que levou a eleição sair empate, Antônio Miroca (2006) responde:

É... o Chagas Melo é um companheiro, que


tinha aí e tem, é... ele tinha sido vereador por
várias “vez”, também foi um bom companheiro,
no momento eu achei que era o candidato ideal
pra ser o candidato a prefeito era ele (...)Na
realidade, o Santino naquela época era um
bom candidato. Um candidato muito forte. Que
ele fez seis anos de prefeito, foi um bom
prefeito, saiu com uma imagem muito boa, e o
“cumpadre” Chagas Melo só tinha sido
vereador e era um homem muito duro pra
negócio de eleição, pra eleição majoritária,
cargo de prefeito, é diferente de vereador.
Candidato a vereador é eleição pequena,
então foi essa razão que o Santino saiu
empate, ainda saiu empate pela minha
resistência que eu tinha na política.

Quanto a Genival Bezerra da Silva, foi apresentado por Édios Ramos, filho
de Antônio Miroca, numa eleição complexa, onde o filho ficou contra o pai e vice-
versa, dividindo o grupo oligárquico em dois. A vitória de Genival nas eleições
2004, foi um paradoxo, visto que fazia parte do PT (um partido de ideologia que
vai de encontro às ações de grupos oligárquicos) e elegeu-se via oligarquia. De
qualquer forma, essa eleição ficará como marca da ascensão de uma tímida
esquerda política na cidade de Joaquim Pires, fato que merece um estudo mais
aprofundado.
4.2 - Poucos membros das famílias oligárquicas no legislativo

Através de pesquisas realizadas no acervo da Câmara Municipal da cidade,


podemos observar que principalmente no legislativo houve a passagem de
vários políticos que não mantinham laços consangüíneos com a as famílias
oligárquicas, porém, para se eleger a maioria dependia da política clientelista
empregada pelos seus líderes, fato que no cenário histórico-político da cidade
se observa suas permanências, e que não deixa de ser uma outra característica
na política oligárquica de Joaquim Pires onde os comentários a respeito dessa
característica estão distribuídos no corpo da pesquisa e por essa razão não
consideramos necessário dar destaque nesse capítulo.
Se fizermos uma retrospectiva em relação a ocupação de cargos públicos
eletivos no legislativo por parte de parentes de Agripino Costa, Francisco Leôncio
e Antônio Miroca, iremos notar que em relação à família Ramos, somente a
partir de 1989 vem a ocupar cadeira na Câmara Municipal na pessoa de Lourival
Ferreira da Cunha, que passou a fazer parte da dita família após seu casamento
com a filha de Antônio Miroca, Dorotéa Ramos.
Lourival, vem acumulando 18 anos ininterrupto de legislatura (1989-
1992/1993-1996/1997-2000/2001-2004/2005-?). Além de Lourival Cunha, uma
membro da família Ramos, Regina Maria Ramos da Silva, vem a ocupar uma
cadeira no legislativo municipal (2005-?), sendo ela sobrinha de Antônio Miroca.
Vale deixar aqui explícito, que Regina Ramos foi eleita não com ajuda de seu tio,
e sim do seu primo Édios Ramos, que na época era Prefeito. Somando-se os
anos de legislatura no quadro de parentesco da família Ramos, encontraremos
até agora, a soma de 20 anos.
Revendo o quadro político de Joaquim Pires observaremos que integrantes
da família Leôncios, até agora tem ocupado por oito mandatos cadeiras na
Câmara Municipal. José Leôncio de Sales, filho do Coronel Francisco Leôncio
foi o primeiro, sendo que o mesmo foi vereador por oito anos consecutivos (1963-
1966/1967-1970). Depois, foi a vez de José de Ribamar Sales, também filho de
Francisco Leôncio. José de Ribamar Sales, mais conhecido como “Riba
Leôncio”, foi vereador por três vezes, com algumas interrupções entre um pleito
e outro (1971-1972 /1983-1988/1989-1992). José Augusto de Sales Fontinele,
mais conhecido como “Zé Augusto”, sobrinho de Francisco Leôncio, vem
acumulando dez anos no legislativo (1989-1992/1993-1996/2005-?), enquanto
que, sua esposa Maria do Socorro Silva Fontinele, ocupou uma cadeira de
vereadora por dois pleitos (1997-2000/2001-2004). Fazendo-se um somatório de
pleitos, veremos que membros da família dos Leôncios ocupam cadeiras na
Câmara Municipal de Joaquim Pires por 38 anos.
Quanto a família Costa, soma-se 12 anos de ocupação na Câmara, sem
levar em consideração o período em que Zé Maria “Marica”, ocupou a
presidência da mesma, quando ocupava o cargo de Vice-Prefeito de Zé Leôncio
no pleito de 1973-1976 e nessa época a presidência da Câmara era ocupada
pelo Vice-Prefeito. Zé Maria “Marica”, genro de Agripino Costa, veio a ocupar o
cargo de vereador apenas por um pleito (1993-1996), onde, nos dois pleitos
consecutivos (1997-2000/2001-2004), quem passou a ocupar “seu lugar” foi sua
esposa Isabel de Maria Costa Carvalho, sobrinha e filha adotiva de Agripino
Costa.
Observamos que, mesmo que membros dessas famílias tenham sido a
minoria na Câmara Municipal, eles têm passado muito tempo na vereança devido
às suas reeleições.
A seguir veremos um quadro construído a partir de dados coletados no site
do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI, assim como no próprio cartório
eleitoral da cidade de Joaquim Pires, onde prestamos informações sobre os
parentes de Agripino Costa, Francisco Leôncio e Antônio Miroca, no Legislativo
Municipal.

TABELA III - QUADRO SINÓPTICO SOBRE MEMBROS DE FAMÍLIAS


OLIGÁRQUICAS JOAQUIMPIRENSES QUE OCUPARAM CADEIRA NA
CÂMARA MUNICIPAL
Vereador Oligarquia Parentesco Legislatura Quant. Partido
com o de
“Coronel” votos
Lourival Ferreira Ramos Genro 1989-1992 495 PFL
da Cunha 1993-1996 424 PDC
1997-2000 326 PMDB
2001-2004 287 PMDB
2005-? 371 PMDB
Regina Ramos da Ramos Sobrinha 2005-? 366 PMDB
Silva
José Leôncio de Sales Filho 1963-1966 * UDN
Sales 1967-1970 * ARENA
José de Ribamar Sales Filho 1971-1972 * ARENA
Sales 1983-1988 * PMDB
1989-1992 189 PMDB
José Augusto de Sales Sobrinho 1989-1992 299 PFL
Sales Fontinele 1993-1996 360 PDC
2005-? 362 PFL
Maria do Socorro Sales Esposa do 1997-2000 414 PTB
Silva Fontinele sobrinho 2001-2004 353 PTB
José Maria de Costa Genro 1993-1996 168 PFL
Carvalho
Isabel de Maria Costa Filha 1997-2000 342 PFL
Costa Carvalho 2001-2004 261 PFL
5. AFLORANDO AS REMINISCÊNCIAS

Durante o decurso deste trabalho, tivemos a preocupação de não


assumirmos uma posição positivista, transformando em heróis os precursores
oligárquicos joaquimpirenses. É importante deixar claro que estes homens não
passavam simplesmente de homens comuns, assim como outros homens
quaisquer, que sem o apoio do grupo dos quais faziam parte, não teriam em suas
mãos nenhuma forma de poder, assim como sem o apoio do povo não teriam se
tornado conhecidos e assim, vemos que eles não seriam sem o povo, mas o
povo seria sem eles.
As narrativas que aqui leremos nos auxiliarão num melhor entendimento do
Joaquim Pires (cidade) no ponto de vista dos nossos entrevistados. Foram
narrativas feitas a partir das entrevistas realizadas na cidade de Joaquim Pires,
com atores do cenário político – seja votando ou sendo votado.
É importante termos o cuidado na hora de interpretarmos o que foi dito nas
entrevistas pelos líderes políticos ou por pessoas fortemente ligadas a eles, por
que como explica MONTENEGRO (1992, p.57):
Existem diferenças marcantes entre as
entrevistas com pessoas comuns e com
líderes políticos, comunitários, religiosos,
esportivos, estudantis... Entre esses últimos
observa-se constantemente uma nítida
preocupação em construir um discurso que
tenha uma lógica, uma coerência, e que
fortaleça a imagem que o entrevistado deseja
pública. Para eles as marcas da memória já
estão organizadas segundos um código
previamente definido.

A entrevista é um documento que no meio acadêmico ainda podemos


encontrar quem não lhe dê importância, quando na realidade ela é fundamental.
A questão do documento ainda nos leva a uma crítica sobre a visão positivista
de documento, aquela visão de que o mesmo é algo que revela ao historiador,
objetivamente o passado verdadeiro. Porém, toda a “revolução” historiográfica a
partir do final do século XIX, principalmente nas primeiras décadas do séc.XX,
ampliaram de forma produtiva a própria concepção de documento. É através
dessa ampliação da noção de documento que se é capaz de dilatar o campo de
ação do historiador.
E aí chegamos ao campo da oralidade, que vem a se constituir em fonte
para a produção do historiador a partir de 1960.
Ao fazermos uso das técnicas da oralidade durante as entrevistas desta
monografia, tratamos de deixar o entrevistado à vontade para expor seus pontos
de vista e suas lembranças, sentindo-se livre da obrigação de atender a
quaisquer de nossas expectativas.
Buscamos satisfazer o nosso ego, através de entrevistas sob a perspectiva
da história de vida, buscando revisitar as experiências, acontecimentos, enfim,
momentos que para o entrevistado são de grande significado, fazendo assim um
resgate da memória. Segundo Pollak (1992, p.56), “a história de vida apareceu
como um instrumento privilegiado para avaliar os momentos de mudança, os
momentos de transformação”.
Talvez essa narrativa não nos traga nada de novo, nos revelando o
desconhecido, mas isso para nós não é o mais importante, visto que se isso
viesse a acontecer seria uma consequência do processo investigativo, o que nos
faz lembrar MONTENEGRO (1992, p.57) quando o mesmo explica que:
Muitas entrevistas relatam marcas que
algumas vezes em nada se diferenciam do que
está registrado em outras fontes. No entanto, a
dimensão da memória, mesmo quando
coincide ou reproduz os significados sociais
institucionalizados, oferece elementos para
reflexão acerca da força das marcas das
histórias que se tornaram hegemônicas.

Nos sentiremos satisfeitos se junto aos entrevistados visitarmos lugares


diversos que se relacionam ou se comuniquem através de uma lógica para nós
desconhecidas. E aí é chegada a hora do resgate da memória, que aqui
deixaremos arquivada como algo que para alguns será algo novo, desconhecido.
E esse novo nunca deixará de ser novo, por que sempre chegará pela primeira
vez ao conhecimento de alguém que o busca. E nesse aspecto a memória nunca
envelhece e alcança a imortalidade.
Assim, MONTENEGRO (1992, p.56) expõe suas reflexões a respeito da
memória:
A memória possibilita resgatar as marcas de
como foram vividos, sentidos, compreendidos
determinados momentos, determinados
acontecimentos; ou mesmo o que e como foi
transmitido e registrado pela memória
individual e/ou coletiva.

É essa memória aqui resgatada que será narrada, deixando fluir a


interpretação de quem quer que venha a ler este trabalho, e assim como um
engenheiro projeta a sua obra usando um compasso e um esquadro, nós
procuraremos junto às entrevistas e técnicas da oralidade, fazer a narrativa da
forma mais perfeita que o nosso raciocínio, ideias e ações nos permitirem.
O papel do narrador tem sido agraciado por diversos autores. Elogiados,
são tidos como artesãos da comunicação (BOSI, 1994, p.88). BOSI (p.90)
comenta que:
Entre o ouvinte e o narrador nasce uma
relação baseada no interesse comum em
conservar o narrado que deve poder ser
reproduzido. A memória é a faculdade épica
por excelência. Não se pode perder, no
deserto dos tempos, uma só gota da água
irisada que, nômades, passados do côncavo
de uma para outra mão (...) O narrador está
presente ao lado do ouvinte. Suas mãos,
experimentadas no trabalho, fazem gestos que
sustentam a história, que dão asas aos fatos
principiados pela sua voz. Tira segredos e
lições que estavam dentro das coisas, faz uma
sopa deliciosa das pedras do chão (...) A arte
de narrar é uma relação alma, olho e mão:
assim transforma o narrador sua matéria, a
vida humana.

5.1 - Francisco Pereira da Silva: Chico Calú


Meu nome é Francisco Pereira da Silva, mais conhecido como Chico Calú,
nasci do dia 07 de fevereiro de 1942, em Joaquim Pires. Sou filho de João
Pereira de Sousa e Carolina Maria da Conceição.
Conheci o senhor Agripino Costa e, da minha família os que sabiam ler
votavam nele. Na época eu não votei nele por que eu não votava ainda. Nós
fazíamos a torcida, a campanha por ele, mas na época eu não votava ainda. O
primeiro candidato que eu votei foi para o Pedro Justino, que era apoiado pelo
Agripino Costa. Na época ele pagou o mobral pra gente aprender a ler e escrever
o nome. Naquela época era muito difícil gente da minha idade saber escrever o
nome. Aí ele nos botou pra estudar uns dois a três meses, e aí aprendemos e
votamos nele. Quem nos ensinava era a Socorrinha do Costinha. Quando não
era ela, era o Chaga Costinha.
Conheci a esposa do senho Agripino e ela também era do mesmo jeito dele,
você sabe que a família é difícil dá igual, mas nesse momento, nessa hora deu
igual... ele com ela. Ela tratava bem do povo enchendo o bucho das pessoas. Dá
de comer peão, ela gostava de ajudar nesse ponto, né. Ver a pessoa com fome,
levar pra casa dela e dá de comer.
Naquela época o senhor Agripino não recebia o povo pobre na casa dele,
né. Ele recebia sempre o povo rico, os pobre quando chegavam lá na casa dele,
não entravam pela sala, pela porta da sala, entravam pelo lado da cozinha. Se
ele tivesse no comércio dele, o “caboco” chegava ali na parte do comércio,
entrava no comércio e falava com ele, né. Mas, que “caboco” pra entrar lá de
carona, como entra na casa do Antônio Miroca, Santino, de qualquer outros
políticos que existe por aqui, não entrava. Entrava aqueles iguais a ele. Era
assim. Naquela época não tinham esses tratamentos de hoje. O povo tinha essa
obrigação. Ele dizia assim: “Fulano de tal é o candidato, vamos votar nele, e
pronto”. Era aquilo, né! A política do senhor Agripino rolava entre ele e o povo de
Buriti, eu num sei qual era o chefe dele. Ele era assim mas, na hora de votar o
povo votava nele por que ele trabalhava, né. Ele pagava o povo... ele era
honesto. Esses Costas todos eram honesto, todos. O que faltava nele era
simpatia com o povo. Ele foi um bom prefeito. Foi sim... ele foi assim por que não
enganava ninguém, né. O serviço que mandava fazer ele pagava.
Ele tinha uma caminhonete. Mas essa caminhonete não fazia uma
campanha. Num dava uma campanha. Aí vinha do Buriti, daqueles chefe político,
que lutavam com ele. As campanhas eram com carros que vinham de fora, aqui
não tinha. Nas campanhas tinham umas palestras, tinha uns comícios, umas
festas que aconteciam ali pelo Baixão... Santo Antônio. Aqui dentro da cidade
lembro que aconteciam comícios nos colégios, por que não era proibido.
O velho Agripino foi o interessado pra botar isso pra cidade, por que era só
ele que tinha aqui. O povo não podia fazer isso. Era só ele. Quando foi no dia 28
de dezembro foi o movimento, né. 28 de dezembro, aqui já estava mole de
chuva, aí ali, você sabe onde é a CONDEVALE? Ali morava uma velhinha, mãe
da Isabel do Bacana, morava assim pra cima daquele morro. Ali perto tinha uns
pés de capitão de campo. Ali não tinha “arrodeio” para os carros passarem, tinha
que passar por ali. Ali nós éramos uns oito homens. Nós estávamos prontos ali,
pra na hora que vinha os carros, nós estávamos ali.
Era difícil não ficar um carro. Na hora que batia era deslizando. Nós
tínhamos que passar todo mundo empurrando aquele carro. E aí, quando errava
a bitola, aí caía dentro do buraco, aí atolava. Aí nós íamos desatolar aquele carro
até... Pra entrar pra debaixo, quando saia debaixo dos carros, parecia uns porcos
(risos). Nós ficamos lá o todo tempo, até depois de tudo. Carro vindo, carro
voltando, carro vindo, carro voltando, foi até quando terminou tudo, né.
O senhor Agripino perdeu o poder por causa das conversa, andava tratando
mal o sujeito, né. Dizem que chegou um homem, eu não estou lembrado quem
era a pessoa que chegou pra ele e falou: - “Seu Agripino, o senhor perdeu a
eleição?”. Aí ele respondeu: “Não... não perdi a eleição não... quem perdeu a
eleição foi os ‘caboco’. Eu paguei foi uma promessa que devia a São Lázaro, de
encher o bucho dos cachorro.” Por que no dia da eleição não tem a comida? Aí
você se revolta com aquilo, aí não vota mais nele, só isso. Esse é um modo do
político tratar os eleitor? Eu acho que não seja.
Lembro que na época que o Antônio Miroca entrou na campanha contra o
Agripino Costa, o povo ficou do mesmo jeito de todas as campanhas... com
aquela dúvida. Aí na época do velho Agripino com o Antônio Miroca, foi só o
orgulho dele que fez com que ele perdesse, aí a negrada votaram tudo no
Antônio Miroca.
Com a entrada do Antônio Miroca na prefeitura a mudança que teve foi
essa... o pobre, o “caboco” tinha o direito de falar com ele, tinha o direito de falar
com a Dona Maria, fosse aonde fosse, fosse em casa... Fosse pela rua, se eu
encontrasse falava... e quando a pessoa precisasse de uma coisa... pelo menos
eu, né... Quando eu ocupava seu Antônio, eu nunca vim com a mão “abanando”
de lá. Ou que fosse do tanto que eu falasse, ou mais pouco, mas ele me
arranjava, né. Quando ele não tinha, mas ele marcava o dia de eu ir. Aí eu ia, e
aí ele me arranjava. E assim acontecia com os outros eleitores. Foi assim com
todos.
Conheci o Pedro Justino, trabalhamos juntos. Trabalhei muito com ele
Pedro. Nem só em tempo de política, só tempo dele prefeito, que antes dele ser
candidato, nós já trabalhávamos com ele. Eu trabalhava em todo serviço. Era em
Combóia, era... em máquina batendo palha. Toda coisa eu trabalhava pra ele.
Era nos capinais, era em roça... em tudo. Ele era assim meio cabeça quente,
mas era bom... servidor. Na casa do Pedro Justino entrava na sala, ia pra
cozinha, se fosse possível ia no quarto dele dormir, né. Tanto ele como a mulher
dele, era tudo uma coisa só. Ele tinha simpatia com o povo.
Na campanha política ele ganhou bem fácil, né. Ele era bom. Chegasse um
“caboco” na casa dele, assim na época que nós estamos e dissesse assim:
fulano de tal, como é que tá o seu legume?. Ele dissesse que estava ruim por
que estava no mato, ele perguntava quantos dias de serviço pegava. Aí as
pessoas diziam. Ele perguntava se o “caboco” tinha o que comer pra dá para os
trabalhador. Se tinha dizia que tinha, se não tinha, dizia que não tinha. Se tivesse
o que comer ele mandava os trabalhador, e se não tivesse, e se o serviço fosse
amanhã, dizia que o “caboco” viesse buscar a comida hoje pra fazer comida
amanhã para os trabalhadores. Aí o “caboco” vinha. No fim d’água era que
vinham pagar o Pedro Justino com legume.
Ás vezes nós discutíamos, eu com ele, por que ele era muito ignorante, e
na hora da ignorância a gente não respeitava, e eu também tinha que dizer umas
boas pra ele, né.
Como prefeito ele trabalhava muito. Na administração dele, ele trabalhou
muito. Só que ele era assim meio “destabacado”. Ali da Placa ele abria uma
estrada manual, até a Boa Vista, no tempo dele prefeito, né. Ele disse que não
ia pedir máquina, era pra dá serviço pro povo. Esse mundo de praça aí, foi ele
quem fez, né. Na minha opinião ele não foi o melhor prefeito que Joaquim Pires
já teve. O melhor que estou encontrando é esse agora. Pra atender o povo assim
com serviço, pagar, e estar trabalhando... é o Genival, né.
Conheci também o senhor Francisco Leôncio, mas isso era longe, por que
era ele pra lá e a gente aqui, né. Mas eu via ele chegar aí. Ele era um velho
gordo. Nós não tínhamos muito contato não. Ele também tinha a cabeça quente.
Pelo menos o povo da casa dele chegava lá e ele dava cobertura, assim eu vejo
o povo contando. Não vou falar mais nada dele por que nós não tinha contato
um com o outro, né.

5.2 – Antônio da Silva Ramos: Antônio Miroca


Meu nome é Antônio da Silva Ramos, mais conhecido como Antônio
Miroca, nasci no dia 28 de setembro de 1928, no povoado contendas, do
município de Joaquim Pires. Sou filho de Benvindo da Silva Ramos e Almira da
Silva Rocha. Minha profissão é... faço tudo, né. Fui comerciante, ainda sou.
Pecuarista, agricultor... tudo isso sei fazer, fiz tudo isso. Agricultura, pecuarista...
comerciante, tudo isso já exerci, que política não é profissão, é uma coisa
diferente. Antes de vir morar em Joaquim Pires eu morava no povoado Forquilha,
deste município, cheguei lá em 1951. Cheguei na sede do município (zona
urbana) em 1963.
Antes de eu entrar na política eu era apenas um simples eleitor em 1962.
Através do José Leôncio de Sales, foi que entrei na política, contra o candidato
a prefeito. Eu era o vice-prefeito na chapa do candidato a prefeito Leôncio Sales,
e daí de 1962 foi que comecei. De lá pra cá, continuei trabalhando na política até
hoje, de 1962 pra cá.
Naquela época, como hoje ainda, a gente sempre tem as pessoas que a
gente admira e que vota naquelas pessoas. Nós naquela época votava era no
Coronel Agripino Costa, é quem era residente aqui no povoado Porteirinha e era
um político e a gente votava no Agripino Costa. Ele era um chefe político e minha
posição política era essa. Votava sem nenhuma exigência de nada, naquele
tempo era muito trancado. Naquele tempo, não tinha conhecimento de coisa
nenhuma, a obrigação nossa era votar e mais nada. Eu votava aqui em
Porteirinha. Tinha uma urna aqui no povoado Porteinha, né! Nós votávamos aqui.
Na época eu não tinha nenhuma relação com os políticos. As coisas eram
diferentes de hoje. A gente conhecia Agripino, que era um vizinho da gente,
muito perto. Se conhecia, né! A gente não tinha era assunto pra ficar tratando
um com o outro.
Naqueles tempos passado, de 1970 pra trás, as coisas eram escondidas
demais. Eu era prefeito aqui, nunca veio uma pessoa de Teresina aqui em
Joaquim Pires. Do fim do município, do Santo Antônio pra cá, a coisa mais difícil
era ver uma pessoa do interior em Joaquim Pires. Então era uma coisa
escondida, o povo tinha que rezar naquela cartilha do Coronel Agripino.
Realmente o Coronel Agripino, era um cidadão de bem, e... um homem muito
inteligente, que conversava, conquistava todo mundo, e o povo tirava o chapéu
pra ele. Ele naquele tempo era o homem daqui.
A casa do Agripino era aquela que ele sempre morou. O Raimundo
Monteiro morava naquela onde mora hoje a velha esposa do Pedro Barbado. Ali
era uma casona grande, do finado Raimundo Monteiro, e na frente da casa do
Raimundo Monteiro, o Agripino fez uma casinha redonda pra poder ser o colégio.
A professora era Adélia Portela, nesse tempo. De formas que eram assim as
coisas.
Quando entrei na política, eu era aliado da família Leôncio e depois houve
o rompimento. A política trás todas essas coisas. Eu entrei na política através
dos Leôncios, fui eleito a prefeito em 1970, e assim trabalhei por 2 anos como
prefeito, e na minha saída apresentei meu amigo José Leôncio de Sales, que foi
quem me botou na política, e foi eleito.
Depois na saída do Zé Leôncio eu entrei novamente, e... fui eleito. Houve
um pequeno rompimento entre eu e o Zé Leôncio... numa época, não me recordo
bem. Ele criou um esquema político com um filho dele que é médico que chegou
aqui em Joaquim Pires, aí colocou o filho como médico e como candidato a
prefeito e, isso parece que foi em início de 78 (por aí sim), foi em 88, e aí eu tinha
meu candidato, eu não apoiei, e aí veio o rompimento daí pra cá. Teve um
desentendimento entre esquemas políticos, grupos políticos.
Por duas vezes perdi eleição para Agripino Costa, mas nunca pensei em
desistir. Fui candidato a vice-prefeito na chapa do candidato a prefeito Leôncio
de Sales, perdemos em 62. Aí passaram-se 4 anos, em 66 me candidatei a
prefeito e o coronel Agripino colocou o candidato a prefeito deles que foi o Pedro
Agápito da Silva, aí eu perdi. E aí quando foi em 70, eu me candidatei novamente
a prefeito pela terceira vez... contra o Coronel Agripino, que tinha o candidato do
grupo deles lá, que era quem mandava na situação naquela época e aí eu
consegui derrotá-lo. Consegui me eleger e de 70 vim perder uma eleição no ano
passado, em 2004. Deste que ganhei em 70 ainda não tinha perdido eleição.
Eu fui indicado pra ser o Vice-Prefeito na chapa dos Leôncios em 62 por
que naquela época o coronel Agripino era um homem forte na política e o
Leôncio morava na Mimosa, e aqui na região de Porteirinha, não tinha uma
pessoa que dissesse que era candidato contra o Coronel Agripino, e eu naquele
tempo achei por bem não votar nele Agripino por questões pessoais, questão
minha com ele e eu disse que votava contra e sempre trabalhei para ser
independente, não dependia dele, não dependia de ninguém, e eles me
escolheram. Quem me escolheu pra ser o vice do Leôncio, foi o deputado
Wenceslau de Sampaio, que nunca tinha me visto, e nesse dia que me viu, disse
que o candidato a Vice-Prefeito era aquele homem, que lá está bem “aculá”,
aquele rapaz. Não sabia nem quem era, não sabia nem do meu nome, disse: “eu
conheço cara de homem, e ele é homem”. O partido era a UDN.
Formar um grupo imbatível na política de Joaquim Pires é muito fácil e
difícil. Se conservar um grupo político que se diga ter liderança é trabalhoso. A
gente consegue isso quando a gente muda os trabalhos... a administração.
Naquele tempo as pessoas de Joaquim Pires eram muito sofridas. Veja bem...
quando eu assumi em 70 o município tinha doze escolas, doze. Todas na zona
rural funcionavam em residências familiares, não tinha prédio próprio para
funcionarem a escola.
As pessoas naquela época que votavam no esquema do Coronel Agripino,
votavam enganadas, por que votavam sem ter nada de volta de retorno. Não
tinham saúde, não tinham atendimento de médico, não tinham educação,
então... quando eu assumi a prefeitura, do meu jeito eu consegui mudar as
coisas. Eu comecei a construir colégios no interior, colocando as professoras,
pagando direito, o melhor que fiz foi dar assistência às pessoas que precisavam
de saúde e atendimento médico. Com isso eu me tornei líder do município por
que quando adoecia uma pessoa na zona rural eu botava uma enfermeira e uma
filha que eu tinha para ir pegar aquela pessoa doente e depois levar para o
hospital de Esperantina. Nunca deixei uma pessoa morrer à míngua. No meu
governo, nunca deixamos uma mulher morrer de parto. Durante esse tempo
todo, me parece que chegou falecer duas mulheres de parto.
Durante muitos anos que nós mandávamos, tanto fazia ser eu prefeito,
como se fosse uma pessoa que eu tivesse colocado, a história... a rotina era
essa: dar assistência às pessoas doente e, principalmente a mulher, no ato de
ter uma criança, não podia ser negado. E com isso me tornei um líder imbatível.
Até agora mesmo, ainda cheguei a dar trabalho, por isso... por essa razão. O
homem pra se tornar líder de uma população, precisa ele ter vários caprichos
bom, ser verdadeiro, dizer as coisas boas para o povo e cumprir, e isso... dar
assistência principalmente na área da saúde, foi o que fiz.
De vez em quando a gente encontra alguém da cidade de Joaquim Pires
que a gente sabe que dependeram de mim e que hoje me critica. Essa é uma
questão mesmo que existe do ser humano. Aqui em Joaquim Pires, só quem não
dependeu de mim dos políticos, foi exatamente o senhor Genival que é o prefeito
atual, mas, o resto todos.
Não sei por qual é a razão que eles criticam, não tenho motivo pra ninguém
criticar ninguém. Eu me pergunto, o que eu fiz... o que foi que eu fiz? Uma vez,
tinha uns camarada aqui... eu era prefeito, um sujeito pelejando pra eu ajudar
ele, eu sempre levando ele com carinho e tal, até que nesse dia tinha muita gente
e me deu vontade de explicar pra ele a verdade. Eu disse: “Rapaz, você quer
que eu lhe ajude, mas eu não posso lhe ajudar, por que político tem que ser
político. Ajuda quem me ajuda”. Queira me dizer que eu sou errado ou não
queira, mas eu sou desse jeito. Ajudar as pessoas pra ser ajudado, não é!?! É...
então eu perguntava para as pessoas: “O que foi que eu lhe fiz? Você não vota
pra mim mais... Você já votou e não vota mais?!? Agora tem um bocado de gente,
eu quero que você me diga, pra essas pessoas que não vota mais pra mim, é
por que eu já fiz com você, ou com uma filha sua, ou com sua mulher, com uma
parente sua... com qualquer pessoa sua. O que foi que eu fiz, que eu não me
lembro? Eu queria que você dissesse pra esse povo”. “Você nunca fez nada... e
tal.” “Pois é, isso eu perguntei pra umas pessoas, por que pra você eu fiz foi lhe
ajudar. Eu já lhe dei um emprego, ainda hoje você trabalha, ainda hoje você
ganha dinheiro nesse negócio, melhor do que ter lhe dado uma propriedade de
50 hectares de terra, por que eu lhe dei um emprego que ainda hoje você ganha
dinheiro.”
Ai eu passei pro outro... “e esse outro? Por que que o senhor não vota em
mim? Diga o que fiz. Só por que ‘num’ quer? Tem que ter um motivo. A gente
quando não vota numa pessoa, é que tem que ter um motivo, não é?!? Eu quero
que você diga. Aqui tem umas trinta pessoa, eu quero que você me diga. Eu Não
voto por que você já me fez isso... Não, não fiz nada demais com você, o que
lhe fiz foi lhe ajudar, ajudei sua esposa na minha casa, passou uma semana ou
mais, mandei ‘pro médico, dei almoço, dei janta, dei dormida e nunca cobrei
nada. Levando ‘pro médico... e tal, e foi isso que eu fiz pra você. Quer dizer que
eu fiz o bem pra você e você me paga com o mal? Agora, vocês sabem o que é
que vocês querem? É por que vocês tão com inveja. Vocês plantaram, ajudaram
a plantar uma planta, e essa planta cresceu, e aí por que cresceu vocês querem
‘derribar’. Só que dá trabalho. Essa planta cresceu, e vocês ficaram por aí
querendo ‘derribar’ a planta, agora num pode ‘derribar’ por que ‘tá bem
enraizada”.
Um dos motivos de ter segurado um grupo tão forte por tantos anos, foi o
fato de nunca ter traído um amigo meu... político. Nem em política e nem fora de
política. Por que sempre sou uma pessoa de diálogo, e quando eu quero... eu
digo, e quando eu não quero... eu digo também. Mas, trair meu amigo político,
meus amigos, eu nunca traí nenhum. Então é isso, as pessoas confiavam em
mim, e sabiam da intimidade que o povo tinham comigo, e aí eles os meus
amigos viam aquilo, e me admiravam e ficavam cada vez mais meus amigos, me
dando mais força, né! Até que fui realmente até onde... eu mesmo até admirei
conseguindo isso aqui em Joaquim Pires, por que poucas pessoas tem essa
condição de fazer isso que eu fiz.
O fato de eu ser um grande proprietário de terra aqui no município não
influenciou para que eu me tornasse líder político, por que nesse tempo as terra
estavam todas desocupadas. Não moravam ninguém. Depois foi que a
continuidade dos tempo, dos trabalho, foi se abrindo as ruas, mas ai não era rua,
era um terreno da zona rural praticamente. Não me ajudava por que não morava
ninguém nos terrenos. Na Forquilha moravam pessoas mas eram poucas.
As pessoas dizem assim: “O Antônio Miroca arranjou recurso por que era
prefeito”. É besteira. As coisas que tenho, que adquiri como prefeito, foi só essa
casa. As propriedade que eu tenho todas eu comprei antes de ser prefeito. A
Forquilha eu comprei antes, nem sonhava em ser prefeito. Eu tenho aqui um
bairro, aqui dentro da cidade, 3 hectares de terra, hoje foi dividido com a Dona
Maria, eu comprei antes de ser prefeito, não era nem prefeito. A casa que a Dona
Maria herdou de mim na divisão de bens na separação, eu comprei antes de ser
prefeito, nunca tinha sido prefeito. Então, o que acontece é que eu sei ganhar as
coisas, sei ganhar dinheiro, e aí as pessoas dizem que eu era pobre, depois
fiquei rico.
Não sou... nunca fui rico, eu tive as coisas e, hoje eu não tenho mais essas
coisa, mas eu tive. Se obtive alguma coisa na política, nela mesmo eu gastei. O
que eu não tenho é por que gastei na política. Mas sempre sei ganhar dinheiro.
Sei trabalhar e sei fazer tudo. Mas... também nunca fui pobre, eu sempre fui um
homem de fé. Acredito nas coisas e vou buscar, vou atrás de adquirir aquilo, por
que quando eu era rapaz de 15 anos eu já trabalhava pra ter as coisas. Nunca
fui estragado, nunca fui cachaceiro, nunca fui festeiro demais, gostava de festa
mas, naquela época as festas eram mais poucas.
Uma vez estava tendo um festejo no mês de janeiro aqui em Porteirinha...
nessa época eu era rapaz, morava nas Contenda e, mês de janeiro tinha um
festejo muito animado aqui, e a gente tinha os amigos da gente, tinha os rapazes
dessa época, tinha o Bina Julião, tinha o irmão do Maroca Soares, que eu não
recordo o nome dele, tinha os dois filho do senhor Manel Martim, que eram irmão
do Miguel, tinha esse grupo de rapazes que eram amigo. Nesse tempo eu
trabalhava no comércio do finado Tomé e aí eu tinha de costume de nessas
reuniões eu me apresentar bem e aí eu vinha o festejo aqui na Porteirinha,
naquela época.
Aí comecei naquela conversa com os amigos e tal, “rapaz, tem uma festa
hoje lá na casa do Agripino. ‘Ramo’ lá.” Eu disse: “Rapaz, de quem é essa
festa?”. Disse: “Rapaz, eu não sei não, acho que é do Bernardo Costa, acho que
essa festa é do Bernardo Costa.” O nome do rapaz que me levou pra essa festa,
foi o Ciça Soares. Ciça, irmão do Maroca Soares. Aí eu digo: “Vamo”. Aí nós
fomos. Pra lá, quando deu umas hora eu ia dançando com uma moça, não me
recordo quem era, aí seu Bernardo Costa veio falar comigo, me perguntou quem
tinha me convidado pra aquela festa e que eu nem de paletó estava. Naquele
tempo a gente só ia festa de paletó. Eu disse que quem tinha me convidado pra
festa tinha sido o Ciça Soares.
Aí ele disse: “Pois aqui não é a casa... a casa não é dele, a festa também
não é dele, e você... aqui só dança quem é convidado”. Muito bem. “Pois você
demore lá, pode terminar de dançar, mas só fica aqui quem é convidado”. Tá
ótimo. Aí quando terminou o toque, aí eu saí. Foi isso lá na casa do Agripino,
mas que a festa era do Bernardo Costa. De formas que na vida, é muito bom
essas coisas, viu... Eu cheguei , eu fui... meus pai eram pobre, como os daqui
também eram, né! Toda vida foram pobre esse pessoal, depois ganharam as
coisa. E a vida... o homem é a circunstância na vida. Hoje é de um jeito, amanhã
é de outro. Eu não me decepciono em dizer que já trabalhei até por diária, só
que por dia sou uma coisa, amanhã sou outra, e eu gosto de dizer aquilo que
realmente sou, faço.
Olha, eu trabalhei por diária, eu não me recordo é o ano, mas eu tinha uns
15 a 16 anos, lá na fazenda do Angico Branco... roçando mato. Nesse dia lá, o
primeiro serviço meu que mandaram fazer foi roçar mato, roçar mato da estrada,
roçar mato no caminho, pra o procurador, o dono lá passar. Eu com 16 a 17 ano.
Trabalhei roçando mato de facão lá.
Procurar saber ganhar dinheiro e segurar... foi esse o meu lema. Eu me
casei em 1950 e já tinha as coisas.
Quando falam que fui eu quem implantei em Joaquim Pires a compra de
votos... isso é história. A compra de votos que eu tinha e tenho é a amizade. É
por que eu não me escondo de ninguém. Nunca me escondi do eleitor. Nunca
enganei um eleitor, se eu posso arranjar o que ele quer... comprar voto eu nunca
comprei, eu faço aquilo que eleitor quer. Se ele tá precisando de um milheiro...
dois milheiro de telha, eu como prefeito por que não dá, né?!? E se ele tá
precisando de um remédio, um vidro de remédio, eu tinha que dar. Se estava
precisando de outra coisa, eu dava também, então era isso. Aí se outros não
querem dá, acha que o povo deve votar sem receber isso, por que o certo é votar
pela sua consciência, mas, todo mundo sabe como é eleição, né!?! Então, nunca
comprei voto. Eu sempre gostei de ajudar as pessoas pobres.
Eu conheci o Joaquim Costa. Joaquim foi o primeiro prefeito daqui. Foi
nomeado. Eu tinha poucas relações com ele. A gente se encontrava pouco, já
no fim da caminhada dele, nós tivemos mais aproximação, ele foi vice do
Santino. Fui eu quem fui atrás dele pra ser vice. Então, nós já no final da coisa,
nós tivemos mais aproximação. Foi um bom companheiro, um homem sério, o
que eu acho muito bonito, é a pessoa ser honesta com os amigos, ser sincero.
O que levou ele a ser nomeado prefeito foi por que ele era do esquema político
que existia naquela época.
O deputado Wenceslau Sampaio, ele era o deputado daqui, só aceitava
passar cidade... município, se o prefeito fosse do partido dele, e quem era do
partido do deputado Wenceslau Sampaio era ele Joaquim, e aí botaram ele
Joaquim e por coincidência botaram Joaquim Pires... por que? Por que na família
do Joaquim, teve um senador Joaquim Pires. Joaquim Pires da família de Pires,
e o nome do homem era Joaquim, era senador Joaquim Pires, aí em
homenagem botaram o nome da cidade Joaquim Pires, foi isso. O fato do
Joaquim Costa ser da família de Pires, influenciou para que ele fosse prefeito. A
família Pires como também o partido, que ele pertencia ao esquema da política
do Buriti dos Lopes. Ele tinha pouca relação com Agripino Costa. A relação do
Joaquim era com o deputado Wenceslau de Sampaio, Buriti dos Lopes, e ele foi
indicado para ser o prefeito interino daqui, indicado pelo deputado Wenceslau.
Eu não sei explicar é por que a família Pires nunca chegou a dominar a
política de Joaquim Pires. É uma coisa que eu não posso, não sei nem dizer, por
que na grande verdade, era uma família grande e com pessoas de prestígio e
tal, e recursos, e nunca teve um pra ser nem eleito a vereador.
Durante esse tempo todo a gente anda muito, viaja muito no município,
conhece as pessoas, isso é muito bom e faz muita amizade, muitos moradores,
proprietários, com os amigos que ajuda a gente, ninguém faz política só,
ninguém, nenhuma pessoa chega a lugar nenhum só. Política é um grupo de
amigos trabalhando em um só objetivo. E essas coisas que nos faz esses tempos
que passei aqui, a minha mocidade, eu entrei nisso com trinta e poucos anos, a
minha mocidade eu gastei nisso, aqui em Joaquim Pires, fazendo política e
servindo o povo. Essa, esse foi o meu grande lema, e tenho recordações assim
dos tempos que passaram. Os amigos que se foram, os tempos passaram e as
coisas vão mudando, tudo muda. E a gente tem sempre lembrança dessas
pessoas que foram fiel a gente, e muitos deles já morreram. Somente a
recordações de todos.

5.3 – Santino Raimundo dos Santos


Meu nome é Santino Raimundo dos Santos, nasci no dia 14 de janeiro de
1942. No município de Piracuruca, num lugar por nome Espinhos. Sou filho de
Raimundo Alves Viana e Maria Rodrigues dos Santos. Tenho como profissão
agricultor. Cheguei aqui em Joaquim Pires no dia 10 de setembro de 1967.
Morava na Malhada Grande, município de Buriti dos Lopes. Ficava vizinho ao
Coxo. O que me trouxe pra cá, foi por que eu tinha um cunhado e ele quis vim
pra cá. Ele morava no Rosário e me convidou pra nós trabalharmos aqui de sócio
e eu vim com ele pra cá.
Quando eu cheguei aqui, Comentavam que o Pedro Agápito era o prefeito
daquela época e... o seu Agripino Costa era um cidadão que era o chefe político,
e que por outro lado tinha o Zé Leôncio de Sales, o finado Zé Leôncio que não...
eu não alcancei o tempo do pai dele não, né, mas aí quem era chefe político
adversário de Agripino era Zé Leôncio, né. Naquela época que se destacava
mais na política o senhor Antônio da Silva Ramos e o Zé Leôncio ficou por que
já vinha do pai dele. Agora essa época o candidato mesmo que foi candidato
pelo lado dele foi seu Antônio da Silva Ramos.
Além de políticos, as pessoas que se destacavam na sociedade era seu
Joca que era o coletor, uma pessoa conhecida, tinha seu Costinha, que ele quem
fazia aqueles casamentos do pessoal aqui, juiz de paz né, e também nesse
tempo tinha o Chico Francisco, só chamavam Chico Jona, né, ele também era
um infiltrado no meu da história política né. Tinha também o Vicente Tote que
era um alto comerciante, tinha o véi Tote, que era um dos sujeitos velhos aqui.
De iniciante tinha um bocado deles, né, que é no meu caso, do Zé Higino, era
Higino, era o Chico Tote que é falecido e outros mais.
Os políticos de fora que se ouvia falar aqui era o Pedro Portela, era também
um deputado dos Pires, senador era o Dirceu Arcoverde, Petrônio Portela, ele
que era o chefão também lá, dava cobertura a Joaquim Pires, principalmente às
duas alas políticas que se tornaram ARENA I e ARENA II, né!?!. Existia dois...
existiam duas facções políticas, só que governo era um só. Então, só se dividia
pra governo municipal, pra governo federal, estadual, seguia tudo num caminho
só.
Naquela época as pessoas se comportavam muito bom, no calmo Joaquim
Pires. Eu já cheguei aqui ele era muito calmo, as pessoa tudo... respeito muito
alto uns com os outros, e que funcionava direitinho, né.
Naquele tempo os eleitores eram muito diferentes dos de hoje. Quando
uma pessoa lhe dissesse que votava num candidato, aquilo ali, você não
precisava voltar lá não, já estava cumprido. Diferente de hoje o sujeito modifica
muito o sistema. A lealdade das pessoa é diferente, eles se ilude com a história,
hoje é uma coisa, amanhã pode ser outra e que você não pode ver o resultado
antes, só depois de concluído qualquer que seja uma eleição, ou um sistema
político, uma coisa. Naquele tempo era muito fácil, era diferente, hoje mudou
tudo.
Falam em voto de cabresto naquela época, mas eu não acho que aquilo
seja não. Que existe uma coisa, não tem esse negócio de voto de cabresto não,
por que, lembro bem uma coisa, que seu Antônio foi um cidadão que se elegeu
aqui muitas vezes e ele não era nem apoiado pelo pessoal que tinha muitos
moradores. Ele se elegia, então não tinha voto de cabresto, né! Se tivesse, quem
se elegia ali era aquele pessoal que tinha os cidadãos que eram dono de
propriedade, que mandava no morado, que fazia isso, então, considero isso
diferente. Agora, eu acho hoje muito melhor por que no tempo de coronel,
machucava muito as pessoas que não podiam se encostar em ninguém. Aonde
ele estava ele tinha que ficar.
O que me levou a me candidatar a vereador pela primeira vez, foi o fato de
viver aqui. Eu já votava no Antônio Miroca e a própria filha dele nessa época era
moça mas ela trabalhava muito em política e me perguntaram se eu não queria
ser candidato a vereador, e eu ouvi aquilo e disse: eu vou ser. Nesse tempo eu
era comerciante mas não tinha nenhum problema. Eu fiquei dentro do meu
comércio e nada baixou no meu comércio. Não chegava ninguém pra pedir. Era
diferente do sistema hoje, que os candidatos não podem ser comerciantes.
Naquele tempo era uma política sadia, era diferente. O sujeito ia votar em você,
ia lhe ajudar. Por isso eu lhe digo que não tinha eleitor de cabresto, por que hoje
pode até existir algum que diga: eu voto em fulano por que ele me dá cachaça,
eu voto em fulano por que ele me dá alguma coisa, mas nesse tempo não existia
isso, ele não pedia, ele não vinha atrás. Se era comerciante, ele passava você
dava se quisesse uma pinga.
No meu primeiro mandato o prefeito era o Zé Leôncio. Nós éramos muito
amigos. Pra mim ele foi um cidadão muito bom, que seja pra Deus.
Naquele tempo era mais difícil, os conhecimentos, as coisas... tudo difícil, no
tempo da energia, foi na administração dele, a AGESPISA foi na administração
dele, então todos que passaram por aqui, tem uma história a dizer. Todo eles
que passaram por aqui cumpriram com sua parte conforme o tempo. Depois que
o Antônio Miroca entrou novamente começaram os atritos entre os dois. O finado
Zé Leôncio só faltava chorar por causa das coisas que não davam dando certo
para os amigos da gente. Ele chegava muito pra mim e dizia que ele Antônio não
estava se lembrando dele, que para os adversário ele estava dando mais vez do
que pra ele. O que é que fazia? Eu dizia pra ele o seguinte: “quando eu cheguei
vocês já estavam, não posso entrar no meio. Eu não posso fazer nada, quando
eu cheguei no grupo vocês já estavam há anos.
Nesse tempo assumi a presidência da Câmara de Vereadores por que
houve a renúncia do cargo de vice-prefeito e presidente da câmara do Sr. José
Maria de Carvalho, conhecido como “Zé Maria Marica”. Isso aconteceu por que
José Maria de Carvalho ele era candidato, ele foi candidato a vice, de José
Leôncio de Sales, só que quando chegou o tempo, influenciaram para ele ser o
candidato a prefeito do seu Agripino Costa, ou seja, do adversário. E... pra ele ir
pra lá tinha que renunciar, ele tinha que fazer isso. Renunciou, aí mudou pra lá,
foi ser candidato como eu também no tempo que fui, eu também tive que
renunciar à candidatura de vice-prefeito pra ser candidato a prefeito. Naquele
tempo era uma dificuldade pra gente ser candidato, por que ficava na dúvida se
podia ou não podia e, pra gente encontrar um jurista era coisa difícil, não era
como hoje, né. Então diziam: se você não renunciar, não pode ser candidato. E
a gente também não era (que me desculpem), como os políticos de hoje que
ficam com medo de perder um “vencimentozim” por um tempo, por que parece
que ele não tem coragem de trabalhar. Então, tanto eu como o Zé Maria
renunciamos e pronto. Não estávamos nem aí e fomos ser candidatos.
O fato de eu ter assumido a presidência da Câmara depois da renúncia do
Zé Maria Marica não influenciou para que eu fosse o candidato a vice-prefeito de
Antônio Miroca nas eleições de 1976. Não influenciou nada não. Primeiro é o
seguinte, por que eu sempre gosto de trabalhar com as pessoas com fidelidade,
com moral e responsabilidade. Segundo lugar, nós tínhamos um grupo de
amigos que eram bom pra ser candidato a vereador. Teve até um probleminha
do seu Genézio do Vim, por que ele achou que pra mim ser vereador e ele, ia dá
um problema e aí eu fui a ele e disse: “não, não se preocupe não, que eu assumi
a presidência da câmara, mas eu não vou ser candidato a vereador não. E vou
lhe dizer logo, eu vou ajudar o Antônio Graciano, vai ser candidato, eu ajudo ele
por que ele me ajudou. Não quero aqui tomar cadeira de ninguém não”. Por que
eles achavam que com isso eu tomaria a cadeira dele. Fiquei fora, aí seu Antônio
Miroca mandou até me chamar lá e falou: “Rapaz... por que tu não quer ser
candidato?” Aí eu disse: “Olhe, eu não vou ser candidato. Mas, eu vou ajudar do
mesmo jeito que eu ajudava sendo candidato”. Faltando mais ou menos um mês
pra eleição ele foi e me disse: “Rapaz, eu vou botar teu nome aqui de candidato
a vice, num tem outro melhor do que tu”. Eu disse: “Se você quiser botar bote,
se não quiser não tem nenhum problema”. E botou. Nunca fiz questão pra ser
candidato, por que quando eu vou ajudar uma pessoa, eu não vou atrapalhar
não, eu vou é ajudar.
Quando eu fui prefeito a primeira vez, foi o Antônio Miroca que me colocou.
Não tinha um nome melhor do que o meu. Eu sempre dizia a ele que eu ia ser
candidato, mas a política era com ele. Nós nunca discutimos uma palavra um
com o outro. Aí quando ele entrou de novo depois, ele não lembrou de mim... em
nada. Eu sempre fui uma pessoa que eu só fico, só sou seu amigo se você
quiser, se você não quiser não sou, mas pra isso aí, não precisa brigar. Dando
fé que o amigo não tá gostando muito de mim, eu fico fora.

5.4 – Pedro Leôncio de Sales


Meu nome é Pedro Leôncio de Sales, nasci no dia 25 de novembro de 1927
em Sobral-Ceará. Sou filho de Francisco Leôncio de Sales e de dona Antônia
Ineizita de Sales.. Nós morávamos no Ceará, e quando viemos de lá, o papai
vinha com pouco recurso. O papai ficou trabalhando de morador em São
Domingo, o patrão dele era o vaqueiro e o procurador do Almirante Gervásio,
grande homem de Buriti dos Lopes. Então o Almirante Gervásio perguntou o Zé
Leite, que era o vaqueiro e procurador dele, se por ali não tinha algum cearense
que soubesse trabalhar em carnaubal. Aí ele respondeu que tinha um cearense
recém chegado do Ceará e que era um homem trabalhador e direito. A partir daí
o Almirante Gervásio ficou dando dinheiro para o papai para a compra de pó.
Nisso ele deu para o papai um carro velho, ano 28 que carrega 1.500 Kg. Daí
em diante o papai, a mamãe e um rapaz que ajudava, começaram a derreter pó
fazendo cera. Com o passar dos dias diante da confiança que eles tinham um no
outro o papai chegou para o Almirante e disse: “Almirante, me compre uma
propriedade na Mimosa”. Aí o Almirante respondeu: “Rapaz, você quer me
largar?”. O papai disse: “Não Almirante, eu tenho vontade de morar no que é
meu”. Aí o Almirante disse: “Quanto é lá?”. O papai comprou as terras e ele
pagou.
A propriedade era do finado Luís Carvalho. Ele era poeta de uma
inteligência grande. O papai comprou a propriedade e trouxe a gente carregando
em jumento. Eu tinha uma irmã doente, veio numa rede, os outros vieram a pé,
a mamãe veio a cavalo. As minhas irmãs mais velhas, a Francisca e a Arminda,
vieram dentro de um jacá e eu no meio da estrada, no meio da carga dos jacá.
Saímos do São Domingo umas horas da noite e chegamos na Mimosa de
madrugada. Aí quando chegamos na Mimosa o papai começou a se movimentar.
Quem deu a mão para o papai abaixo de Deus foi o Almirante Gervásio. O
Almirante comprou as terras e o papai pagou em pó e em cera. Depois o papai
foi para o Ceará e trouxe uns homens pra tirar o carnaubal e aí a coisa melhorou.
Depois o papai falou novamente com o Almirante Gervásio pedindo um dinheiro
para comprar 200 gados, bode, ovelha... aí o Almirante disse assim: “Leôncio, tu
tá enriquecendo. Daqui a pouco tu tá meu patrão”. Aí o papai falou: “Não
Almirante, é que quero que você me ajude, que eu quero comprar porque eu
tenho vontade de comprar essa outra propriedade que já vem com gado, tem
ovelha, tem tudo”. Aí o Almirante deu a ordem para o Rolando Jacó de Parnaíba,
para o Rolando fornecer o dinheiro. Aí o papai pagou com cera. Ele trouxe mais
homens do Ceará, aí todos nós fomos trabalhar. Nesse tempo o preço da cera
subiu... foi lá pra cima, e aí o papai pagou logo o dinheiro.
Isso tudo foi mais ou menos foi de 30 a 36 por que em 40 o papai já estava
folgadão. Já chamavam ele de Coronel. Ele resolveu ir para o
Baixão...chamavam o Baixão de Mitamba. Nesse tempo lá tinha uns sítios do
finado Luís Carvalho. Tinha um engenho de pau, tinha tudo, aí o papai queria
levantar. Era perto. O papai mudou-se pra lá. Lá começou a trabalhar e melhorou
mais ainda de condição. Nesse tempo ele fez um empréstimo com o Presidente
da República Getúlio Vargas para poder fazer um açude. Nessa época o papai
já era um homem “apulumado”, já tinha o nome de coronel, já tinha muito gado...
muito boi. O próprio povo daqui o chamavam de coronel, como também os de
fora. Os coronéis não tinham era curso e nem diploma, mas davam a patente pra
eles.
O papai também plantou muita cana. Ele ia buscar uma cana
chamada piojota no Ceará. Tinha essa cana roxa e a cana caiana. Ele tinha
engenho de pau, fazia rapadura e depois começou também a fabricar cachaça.
O pessoal trabalhava no canavial o mês de julho, agosto, setembro e outubro.
Ele tinha uns setenta homens trabalhando pra ele. Eram cearenses e filhos de
cearenses. Tinham uns que eram pernambucano e paraibano.
Ele era um homem muito energético. Era pobre mais era energético. Uma
vez quando a comadre Duca era moça, namorava com o compadre Isaque, que
é o esposo dela... foi esposo... era namorado... ela dava confiança ao compadre
Isaque e dava confiança ao João vaqueiro, que era o vaqueiro do papai. Estavam
numa festa e lá ela deu confiança aos dois, aí o Isaque veio tirar ela pra dançar
e ela na perna do João vaqueiro... de lado. O João vaqueiro disse não... dava
não que ela estava ocupada com ele alí. Aí ele puxou uma faca e deu uma facada
nele debaixo do peito. Aí foi aquela confusão.
O compadre Isaque trabalhava na cozinha lá de casa, pois o papai não
tinha mulher trabalhando na cozinha, por que a luta era grande. Tinha que pisar
arroz, café tinha que ser pisado, o feijão penerado na areia... Aí o papai botou o
João vaqueiro e compadre Isaque dentro de um quarto, quando deu dez dias a
polícia chegou lá em casa. O delegado era José Ribeiro Machado, da família de
Pedro Machado de Parnaíba. Quando ele chegou disse: “coronel Leôncio, nós
viemos aqui prender o Isaque”. Aí o papai disse: “Prende não... quem faz comida
aqui é o Isaque. O meu vaqueiro tá lá dentro deitado e tá bem melhor, tá quase
bom... lá está ele. Eu vou deixar o cozinheiro da minha cada ir preso? Delegado,
esses soldados que você trouxe são poucos... não vai dá não. Se meu vaqueiro
morrer, eu pego o Isaque e vou deixar lá em Buriti dos Lopres a cavalo, mas
deixar o meu cozinheiro que torra meu café ir preso... vai não”. E não foi não.
Quando iam saindo o delegado falou para um soldado: “Rapaz tu é doido...
não tá vendo que se tentarmos levar ele vai morrer gente?!? Deixa ele cuidar do
vaqueiro dele”. Aí o João vaqueiro ficou bom, a comadre Duca casou o compadre
Isaque e o João vaqueiro casou com outra “Matins” parente da comadre Duca,
que morava no Angelim.
O papai tinha na casa dele muitas armas. Tinha papa amarelo, rifle surdo,
um 38 tanque, garrucha, espingarda lazarina boca de sino. O papai não ia mijar
se não fosse com o revólver na cintura. O pessoal queria perseguir ele por causa
da riqueza que ele possuía. Um dos que perseguia ele era o Pedro Quaresma.
Ele tinham uma fama de valentão por que ele não “abria” pra ninguém. A
polícia quando foi buscar o Isaque lá em casa perguntou se ele tinha arma, aí
ele respondeu: “Tenho. Todas estão aqui”. Antes do papai morrer, ele teve
derrame cerebral e ficou aleijado de um lado, nesse tempo ele ainda aprendeu
atirar com a mão esquerda.
Inventaram uma vez que ele tinha enterrado um homem de cócoras, mas é
mentira. O que aconteceu foi que apareceu um negro pra trabalhar com ele
chamado Benedito. Ele ficou trabalhando até de guarda-costa do papai por que
ele era grandão. Pra onde o papai ia, o Benedito ia com ele, ele era o homem de
confiança do papai. Um dia eu fui comprar sabão em Luzilândia no finado
Bernardo Leão, aí me disseram assim: “Rapaz, esse homem tá aqui?”. Eu
respondi: “Tá lá em casa com o papai, ele é de Barroquinha”. E o homem me
disse: “Rapaz, isso rouba sonhando... ele amansa, amansa, amansa e quando
pensar que não ele vai e rouba”. Quando eu cheguei em casa falei para o papai
e o papai falou pra ele: “Tá aqui seu Benedito seu pagamento. De meio-dia pra
tarde não precisa mais trabalhar não. Pode ir embora, desocupe minha fazenda,
você é um ladrão fino, e com ladrão eu não luto”.
Ele se calou e a negrada ficou todo mundo calado por que temia o papai,
mas depois o Benedito ficou perseguindo. Ele disse que ia deixar o papai mais
pobre do que ele. Até que chegou ao ponto de mandar um recado para o papai
dizendo que tinha levado duas facas pra matar ou o papai ou o Zé Leôncio, e a
outra faca era pra matar o Pedro Quaresma. Ele tinha levado também um saco
pra botar os pedaços deles. Aí o Zé Leôncio chagou lá em casa e disse assim:
“Papai, o Benedito tá lá na casa do vaqueiro e mandou dizer que vai me pegar
lá no Canto Feio”. O papai respondeu: “Pois vá”.
O papai mandou com o Zé Leôncio dois capangas dele... o Manel Joé e o
Manel Francisco que era da Paraíba. A cada um o papai deu um rifle. Foram a
cavalo e quando o Zé Leôncio chegou lá deu voz de prisão ao Benedito. O
Benedito respondeu: “Homem não se prende, se mata”. Aí Benedito jogou uma
faca no Zé Leôncio e acertou na cela do animal e nessa hora o Zé Leôncio pulou
e ficou enganchado. O cavalo começou a rodar com Zé Leôncio enganchado. Lá
em casa o papai falou para a mamãe: “Ineizita, meu filho não tá passando bem
não, eu tô com um palpite e eu vou já lá”.
O papai pegou um cavalo que ele tinha chamado argentino, e quando
chegou lá estava o Zé Leôncio dizendo para os capangas atirar e eles não
atiravam com medo. O papai era um bom atirador e de longe deu grito pro negro.
O papai deu um tiro e pegou quadro dedos acima do umbigo do Benedito. O “pau
fumaçou” ele caiu, aí a faca caiu da mão dele, ele meteu a mão e puxou outra
faca mas lá ele morreu... ficou lá no meio do tempo. O papai mandou chamar o
delegado pra tirar o corpo delito, quando o delegado chegou o Benedito já estava
todo duro, aí mandaram enterrar ele e enterraram lá no Mandu.
Quem foi processado pela morte do Benedito foi o Zé Leôncio por que
nesse tempo o Bossuet era seminarista. Naquela época se o seminarista fosse
filho de criminoso não podia ser ordenado padre. Aí o Zé Leôncio assumiu, mas
nunca foi preso. Só passou um dia na cadeia, que foi no dia que ele teve que ir
lá pra responder as perguntas. Lá mandaram chamar a mulher do juiz pra dormir
com ele... divulgaram que o papai era Coronel e dispensaram ele pra ele vir
embora.
O papai começou entrar na política por incentivo de algumas pessoas.
Falavam pra ele entrar por que ele tinha condições financeiras, estava conhecido
e tinha o Antônio Miroca aqui na cidade. Ele veio a entrar na política depois da
emancipação da cidade. O prefeito era o Joaquim Pires Costa, nomeado pelo
Wenceslau. Depois do Joaquim Costa foi que o papai entrou junto com o Antônio
Miroca. O Antônio Miroca, o Joaquim Lera dizendo para o papai entrar... aí o
papai entrou e abriu as mãos. Gastou muito dinheiro. Ele tirou muita vantagem
e dizem que ele ganhou bem as eleições, mas o negócio era que as urnas
passaram mais de cinco dias aqui em Joaquim Pires antes de ir para Buriti dos
Lopes... e aqui abriram as urnas e tiraram os votos do papai e deixaram os do
coronel Agripino. Nesse tempo o papai era da UDN e o seu Agripino do PSB.
O papai era bom demais para os eleitores ele servia muito as pessoas. As
pessoas iam procurar ele por uma necessidade ele estava pronto pra atender,
como por exemplo, a pessoas chegava lá i dizia: “Coronel Leôncio eu matei
fulano de tal...” ou “Eu quero que você mande deixar minha mulher... eu quero
isso... eu preciso daquilo...”. Ele tinha muita gente do lado dele, mas quando
chegou aqui na cidade foi traído quando tiravam os votos dele de dentro das
urnas. Dizem que compravam a polícia e a polícia abria as urnas. Eu sei que
tiraram os votos do papai e colocaram os do seu Agripino. Foi uma negação os
votos do papai... foi uma negação. Mas foi uma negação por que roubaram os
votos dele.
Com isso começou a rivalidade entre os Leôncio e os Costas. Os Costas
ficaram com aquela cisma com todos nós, mas nunca chegou a ter nenhuma
confusão mais séria por que eles temiam. Uma vez chegou quase a acontecer
uma confusão por que o papai quando ele vinha aqui para Joaquim Pires ele se
hospedava na casa do Vicente Tote. Quando o carro de som do grupo do
Agripino Costa passava na porta aumentava o soim e soltavam foguete. Aí o
papai mandou chamar o delegado e disse pra ele: “chame e mande suspender
esse carro de som aqui na minha porta, ou então passar aí calado, e se soltarem
foguete eu corto um com uma bala. Eu não quero nem saber... eu posso é
morrer mas corto um na bala”. O delegado chamou o carro de som e mandou
passarem lá calados se não... não ia dar certo.
Eu lembro pouca coisa do dia da emancipação da cidade. Só lembro que
viemos pra cá pela Malhada de Baixo. Estava num inverno monstro. Lembro que
veio o Wenceslau com um pessoal do Buriti dos Lopes, veio aquele governador
Chagas Rodrigues. Veio todo esse pessoal para passar a cidade.
Quem levantou o Antônio Miroca na política foi o papai, por causa do
Wenceslau. O Wenceslau perguntou: “Lá não tem assim um homem trabalhador
não?... Um homem de vergonha?” O papai respondeu: “lá tem um homem, a
cara dele é de homem... eu me engraço com ele. A cara dele é de homem,
agora... eu não sei se ele aceita, se ele quer.” O Wenceslau queria era esse
homem pra fornecer armazém pra ele, depois quando ele estive com mais
tempo... ele já conheceria direito esse homem e o jogava dentro da política. E
esse homem foi o Antônio Miroca. Depois o Wenceslau disse para o papai:
“Leôncio, vamos candidatar o Antônio Miroca. O homem é direito... o homem é
bom.”
Depois houve o rompimento entre o Antônio Miroca e nós Leôncios. O
papai já tinha morrido. O papai morreu em 64... do coração. Tudo indica que o
rompimento aconteceu por que o Antônio Miroca arranjou um deputado e esse
deputado soltou um dinheiro pra dividir entre ele Antônio e o Zé Leôncio...
segundo o que ouvi dizerem. Aí o Antônio Miroca ficou com o dinheiro escondido
e não deu nada para o Zé Leôncio. Depois que houve o rompimento se
distanciaram e o Zé Leôncio não entrou mais. Aí nós ficamos de fora.
Eu fui o primeiro vice-prefeito eleito do Antônio Miroca. Ele chegou para o
pessoal e perguntou: “Rapaz, quem é que eu boto como meu vice?” Aí o
Benedito Nicolau respondeu: “O Pedro Leôncio. A família dele é grande... com a
família grande você vai.” O Antônio Miroca já tinha perdido eleição duas vezes.
Eu nem queria, a Mazé foi quem disse pra eu aceitar pelo menos pra dizer que
eu era vice-prefeito do Antônio Miroca. Só entrei na prefeitura no dia da posse e
no dia pra entregar. Ele não precisava de mim. Só por uma assinatura...
Naquele tempo quem mandava aqui era o Antônio Miroca. Se ele desse um
nó numa corda, pra desatar era a maior dificuldade.
Naquele tempo já existia a compra de voto, mas o papai quando era vivo
não dava dinheiro para os moradores dele não. Ele dava o que eles precisassem.
Quando chegavam lá por casa o papai dizia: “Fulano, tu vai me dar um voto, o
que tu precisa me diz”. Aí a pessoa ia e falava. Mas, chegar e dizer “aqui fulano,
dez cruzeiro, dez “miréis” pra tu votar em mim”, não tinha isso não. Eles votavam
em quem o papai dizia, por que a luz que iluminava o andor era ele papai. Toda
necessidade de polícia, de política, de perseguição, eles corriam lá em casa, e
ninguém ia atrás.

5.5 – Francisca Nogueira dos Santos


Meu nome é Francisca Nogueira da Silva, nasci 04 de outubro de 1965 na
localidade Brejinho, em Joaquim Pires. Sou filha de Antônio Nogueira dos Santos
e Rita Moura dos Santos. Morei com meus nas terras do Sr. Agripino Costa de
1965 até mais ou menos 1982. Tenho lembrança de minha idade de oito anos
quando eu morava lá. Chegamos lá atrvaés de minha vó que veio do Ceará e foi
ser moaradora lá. Minha família faziam ro;cas nas terra do Sr. Agripino.
Nessa época tinha muitos moradores, mais ou menos uns sessenta nas terra
que ficam ali pelo Brejinho, Orelha D’onça, Canto de Cima e Canto de Baixo.
Na época de eleição seu Agripino trabalhava normal, como qualquer outro
candidato. Fazia visitas pelas casas deixando cartaz e pedindo voto. Nunca vi
ele agradar ninguém em troca de voto, nunca ouvi falar dele comprando voto por
lá. Ele era uma pessoa que tratava bem os moradores. Ele ajudava quando
podia, por exemplo, quando uma mulher tinha bebê ele ajudava com leite até
muito tempo, ele mandava o vaqueiro fornecer o leite. Ele dava fruta, o que
tivesse no sítio.
Quando alguém adoecia o vaqueiro vinha a cavalo atrás de um carro, aí seu
Agripino mandava um carro ir buscar para transportar o doente. Tudo lá a gente
contava com o Agripino Costa.
Os moradores se sentiam à vontade na hora de votar e não se sentia
obrigados. Ouvi algumas pessoas falando que se não votasse, podia o seu
Agripino botar pra fora das terras. Eles tinham medo de sair, mais nunca ouvi
falar que seu Agripino ameaçasse alguém pra poder votar nele.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trilhar os prazerosos caminhos da pesquisa, às vezes torna-se doloroso.


Porém, é muito significante e fundamental, para aqueles desejosos de estar
sempre fazendo novas descobertas. E para os iniciantes uma das maiores de
suas descobertas é a de que, ao invés do pesquisador direcionar a pesquisa
ocorre o contrário. A pesquisa leva o investigador a lugares remotos. Leva-o a
lugares onde o mesmo talvez nunca tivesse imaginado que por lá teria que
passar.
A pesquisa desperta emoções fazendo com que às vezes, o próprio
investigador venha a se comover no momento em que se depara com o antes
desconhecido. Pode fazer com que esse mesmo pesquisador sinta rolar lágrimas
em seu rosto, fruto da emoção sentida diante da alegria do término de seu
trabalho e da sensação de dever cumprido depois de vencer tantos obstáculos.
Esta pesquisa deu a oportunidade de testemunhas voltarem no tempo
deixando transparecer que, o momento em que estavam ali sendo entrevistados
era como se fosse o momento do passado que estavam relatando. E isso faz
parte da “magia” da pesquisa. É como se fosse uma “máquina do tempo”.
Entrar no magistério, é aceitar ser um eterno pesquisador. E se assim não
for, mais tarde aquele que não firmou tal compromisso tornar-se-á um
acomodado reprodutor do conhecimento ao invés de produzi-lo.
Esta produção científica é fruto de pesquisas realizadas pelo autor com o intuito
de revisitar o cotidiano político da Joaquim Pires na década de 60 e 70, baseado
na história dos chefes políticos da época. Buscamos os fatos através do uso da
oralidade, entrevistando àqueles atores que fizeram parte do cenário político da
época.
O fato de chegarmos à reta final não significa dizer que as fontes foram
esgotadas e que o que tinha para ser dito já foi dito. Há muito ainda para se
investigar, descobrir, questionar, analisar, rever, rescrever. Enfim, o que
veremos nesta parte do trabalho, são observações do ponto de vista de um
historiador que em sua simplicidade não tenta estabelecer ou impor uma verdade
como algo que não possa ser alterado, modificado.
O conhecimento aqui desenvolvido vem a abrir campo para discussões e
aprofundamentos, pois, a história está sempre em construção, e o conhecimento
produzido por ela não é perfeito ou acabado.
Gostaríamos de esclarecer que nossa intenção não foi de forma alguma
expressar críticas destrutivas a nenhuma das pessoas ou grupos partidários aqui
mencionados, e sim estudar e analisar o que realmente aconteceu durante a
formação política na cidade de Joaquim Pires, e pra isso seria quase impossível
deixar de mencionar nomes ou grupos.
Enfatizamos que é de suma importância o respeito que esses “coronéis”
joaquimpirenses merecem da população de sua terra. Eles são um referencial
no tempo histórico da cidade, que deve permanecer vivo na memória da política
municipal (e por que não na memória da política estadual?). Foram eles os
percursores da política de Joaquim Pires que, embora caminhando em passos
lentos, vive a cada dia sofrendo transformações, movidas pelo contexto histórico
do nosso Estado e País. Se eles deixaram para a cidade um legado bom ou ruim,
cada um tire suas conclusões, mas sem esquecer que o homem é movido pelas
circunstâncias do seu tempo e, o seu discurso ou sistema de propostas
necessariamente terá de ser interpretado de acordo com suas próprias
circunstâncias, ponto de vista e experiências. Não podemos deixar de lembra
também que o homem age sempre em relação aos outros homens e, isso faz
parte de seu caráter histórico.
Levamos em consideração a possibilidade de que, assim como os nomes
desses chefes políticos vêm a significar um referencial histórico para a cultura
política da cidade, leitores possam interpretar que possam vir a significar
descaso com a população e as coisas públicas. O que para alguns algo possa
significar progresso, para outros signifique desemprego, fome, humilhação e
opressão. Assim como para alguns seja liberdade, para outros seja
prisão...perseguição.
A classe média joaquimpirense desempenhou no cenário da formação
política da cidade, o papel de impulsionar nomes, transformar cidadãos comuns
em heróis, endeusar quem não é Deus, fazer uma propaganda de um
determinado indivíduo por puro interesse próprio em troca de favores dentro do
grupo em que age. E isso é uma permanência histórica em Joaquim Pires.
Não podemos generalizar essa afirmação, porém, se trata da maioria, visto que
essa maioria depende diretamente ou indiretamente do poder público municipal,
caracterizando-se como sanguessugas da máquina pública, observando-se uma
mobilidade da classe baixa para a classe média por esses meios. E é essa classe
média local que tem sido um dos pilares para que essa situação de atraso tenha
continuidade no decorrer dos anos.
O poder de influência que a classe média joaquimpirenses possui, é grande
ao ponto de fazer com que grande parte da população da cidade demonstre
omissão diante da pobreza e dependência que tem sido características da
situação econômica e social do município. Essa situação torna-se mais
preocupante quando se considera que ela se agrava pela situação de crise.
Discussões a nível local devem ser feitas no sentido de superar esses impasses
que mantêm o atraso e a dependência.
Partindo da classe média da cidade, tem sido propagada em Joaquim Pires
a falsa idéia de que a emancipação política do município foi realizada por causa
de um movimento popular liderada por homens do povo que muito se
preocupavam com o desenvolvimento da cidade. Na realidade a emancipação
política de Joaquim Pires ocorreu movida a interesses pessoais, arquitetada
pelas oligarquias a nível estadual e municipal.
Se analisarmos os fatos veremos que Joaquim Pires fazia parte de uma
política de emancipação que estava acontecendo no estado do Piauí da época,
onde não apenas ela foi emancipada. O que se tenta mostrar com tais
propagandas é que a emancipação de Joaquim Pires foi um caso particular, um
caso especial naquela época, enaltecendo a figura de políticos que estavam à
frente de seus liderados, transformando-os em heróis. Este tipo de pensamento
esconde atrás das cortinas os acordos, as artimanhas usadas por estes homens
para que Joaquim Pires viesse a ser emancipado.
Manter ou alcançar o status era uma das razões que motivava atores do
cenário político joaquimpirense a adquirir o poder e para isso não mediam
esforços. Manter-se no poder era necessário e fundamental para o auto-
sustento, para o sustento de parentes e da clientela, como também era
fundamental para adquirir destaque perante figuras que faziam parte do cenário
político estadual.
Nas primeiras décadas de emancipação política, os políticos
joaquimpirense sempre procuravam deixar transparecer a imagem de um
homem bom que está ao lado do povo nos momentos mais difíceis, muitas vezes
aproveitando-se da ignorância daquele que não possui nenhum tipo de
instrução, ou que por motivos de extrema necessidade se deixa entregar às
garras do clientelismo. Devido ao estado de miséria em que se encontrava parte
da população do município, essa parcela do povo comportava-se como quem
estivesse morrendo afogado precisando de socorro, e aí chega o momento de o
político agir como aquela serpente que espera o momento certo para dar o bote.
Assim é que se deu origem o clientelismo na cidade de Joaquim Pires.
A política do município sempre esteve cheia de homens que se relacionam com
o povo de forma interesseira, por que a política de Joaquim Pires sempre foi um
jogo de interesses e isso é mais uma das permanências que existe no cenário
político da cidade.
A política de Joaquim Pires foi alicerçada nas práticas coronelísticas de
seus precursores e a década de 60 e 70 foi um retrato disso. O destino do povo
foi sempre decidido pelo poder que os coronéis tinham em suas mãos. Esses
chefes políticos roubavam do povo o direito de liberdade e igualdade,
perseguindo seus adversários e encabrestando os seus aliados. Tais costumes
foram passando de geração em geração e isso também é uma permanência.
Em alguns momentos dessa pesquisa nos deparamos com cidadãos ou cidadãs
que testemunharam fatos importantes da política local e que se negaram a
compartilhar o que sabem cometendo o pecado de contribuir para a amnésia
coletiva da população da cidade, nos fazendo refletir a cerca dos motivos que as
levariam a esse tipo de omissão. Através da interligação entre os fatos
observados nesta monografia entendemos o por que da omissão de tais
pessoas.
Análises delicadas farão com que encontremos as razões que estão dentro
do campo político e pessoal. Político, quando tentam proteger alguém ou não se
comprometer prestando certos tipos de informações; Pessoal, quando tentam
proteger familiares, escondendo quem sabe, alguns dos fatos vergonhosos dos
quais fizeram parte em seu passado político. O medo de ser punido, de se expor
ou ser mal-interpretados faz com que os mesmos façam uso da arma do silêncio.
Porém, temos que respeitar àqueles que permanecem em seu direito de calar-
se.
Por outro lado encontramos àqueles que gostam de falar o que viveram, o
que viram, o que fizeram parte. Gostam de falar sobre si, sobre os outros, sobre
as coisas. Foi através deles que esta monografia foi construída. A partir deles
notamos no cenário joaquimpirense dos anos 60 e 70 uma tímida população
isolada do restante do mundo e muito limitada ao seu espaço geográfico. Era
como se o mundo fosse apenas o município de Joaquim Pires. Sem estradas,
sem meios de comunicação, sem meios de transportes, esse povo vivia a mercê
da vontade de seus líderes políticos.
As décadas de 60 e 70 marcaram época no cotidiano político da cidade de
Joaquim Pires. Marcaram época por que são nestas décadas que estão as raízes
do modo de se fazer política na cidade, esta cidade que deste sua emancipação
política tem sido governada por gestores públicos que chegaram ao poder via
oligarquia.
E assim vemos que o cotidiano político da cidade está cheio de
permanências e rupturas norteadas por diversos fatores que interagem com a
política. Os resultados de pesquisas realizadas para a produção deste trabalho
aqui estão registrados, e os mesmos têm como função principal armazenar as
informações que através do tempo permitirão comunicar e fornecer aos
joaquimpirenses ou quaisquer interessados um processo de marcação e
memorização, deixando para os mais capacitados reordenar, retificar e
acrescentar fatos que passaram despercebidos ou não chegaram ao nosso
conhecimento. De certa forma, esperamos nos ter aproximado das fronteiras
onde a memória se torna história.
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APÊNDICE
O APÊNDICE A SEGUIR, NÃO CONSTAVAM NO MEU
PRIMEIRO TRABALHO, PORTANTO, É UMA ATUALIZAÇÃO DA
PESQUISA REALIZADA NO ANO DE 2005.

DEDICO ESSE APÊNDICE A EDENÍLSON CUNHA SANTOS,


QUE SEMPRE FOI UM ENTUSIASTA NO CENÁRIO POLÍTICO DA
CIDADE DE JOAQUIM PIRES – PI, E QUE PERDEU SUA VIDA
DURANTE UM DOS PICOS DA PANDEMIA DA COVID-19, EM
2021.

FONTE: piauihoje.com
APÊNDICE 01

SEQUÊNCIA CRONOLÓGICA DE PREFEITOS E VICE-PREFEITOS.


Colhida no Portal piripiricultural.com.br/piri2/joaquim-pires-minha-terra-querida,
postado pelo correspondente joaquimpirense “Jorge do Bairro”.
PREFEITO
Genival Bezerra

VICE-PREFEITO
Chaguinha do
Santino

de 2021 - 2024
APÊNDICE 02

O PT no poder na cidade de Joaquim Pires

Que o PT se tornou hegemônico no cenário político da cidade de Joaquim


Pires - PI, isso não é nenhum segredo. Mas, como Genival Bezerra conseguiu
crescer tanto nesse cenário? É o que tentaremos responder.
Em 1993, quando Chagas Melo ocupou um curto período como prefeito
daquela cidade, Édios Ramos foi seu Secretário de Administração. Recém-
chegado da cidade de Recife-PE, onde se formou em Engenharia Agrônoma e
Engenharia Civil, era pouco conhecido na cidade. Ocupando o cargo de
secretário de Chagas Melo, teve a oportunidade de se aproximar da população
e através da prestação de serviços passou a ser bem visto pelos moradores
daquela cidade. Porém, como já foi dito nesse livro, Santino Santos assumiu a
prefeito alguns meses depois da posse de Chagas Melo, por decisão do TRE-
PI. Com isso, Édios volta pra Recife, retornando para Joaquim Pires, no período
das Eleições 1996.
Ao retornar pra Joaquim Pires nessa época, Édios Ramos, movido por sua
ideologia de esquerda adquirida nos “campus” universitários da cidade de
Recife, procura aliar-se a Genival Bezerra e o coloca para compor sua chapa
como candidato a vice-prefeito. Óbvio que na época já tinha trazido pra Joaquim
Pires, o “tímido” Diretório Municipal do PT, que alguns anos depois se tornaria
gigante. Fato interessante de lembrar, é que na época o pai de Édios Ramos,
era o maior líder político da cidade de Joaquim Pires, e foi contra a decisão do
filho em colocar Genival Bezerra como Vice na chapa, pois, já a algum tempo,
Genival e Antônio Miroca eram adversários políticos. Ou seja, Édios Ramos
escolheu para ser seu Vice-Prefeito, um adversário político do seu pai.
Édios Ramos foi prefeito por dois mandatos, mantendo Genival Bezerra
como seu Vice-Prefeito. Nos dois mandatos, tanto Genival Bezerra, como
também sua esposa, senhora Lêda Miranda, ocupavam cargos de confiança na
administração. Na realidade, Édios Ramos confiava mais em Genival Bezerra,
do que em qualquer membro de sua própria família.
Toda essa confiança, foi que fez com que Édios Ramos apoiasse Genival
Bezerra como seu sucessor na administração daquela cidade, nas Eleições
2004, contra o seu sobrinho Chagas Ramos, apoiado naquela eleição por seu
avô Antônio Miroca.

As eleições 2004 na
cidade de Joaquim
Pires, foram a “porta de
entrada” para que
Genival Bezerra se
tornasse o maior líder
político dos tempos
atuais daquela cidade.
Ao tomar posse, os desentendimentos entre Genival Bezerra e Édios
Ramos começaram e não demorou para que acontecesse um rompimento entre
os dois. Para surpresa de Édios, muitos dos seus fiéis aliados que batiam palmas
para seus pronunciamentos públicos, agora estavam fazendo parte do grupo
político de Genival Bezerra.
Com a caneta na mão, Genival Bezerra fez muito pela cidade de Joaquim
Pires, e conseguiu agregar políticos vindos de outros partidos, principalmente do
MDB (partido de Édios Ramos).
Antônio Miroca passou 27 anos como maior líder político da cidade
Joaquim Pires, num período compreendido entre 1970 e 1997, quando foi
sucedido por Édios Ramos nesse posto. A liderança hegemônica de Édios durou
muito pouco tempo. Foram apenas 08 anos, somente no período em que foi
prefeito (1997 a 2004).
Genival Bezerra, no ano atual (2022), já fazendo 18 anos de liderança,
provou ser um excelente estrategista no campo da liderança política. Ao assumir
a prefeitura, em pouquíssimo tempo, trouxe para próximo de si vários cabos
eleitorais da oposição, e passou a mostrar quem era que agora mandava na
política daquela cidade. Apesar de ter menos tempo de liderança do que Antônio
Miroca, bateu o “record” se tornando o único político em Joaquim Pires a ter 04
mandatos de prefeito.
APÊNDICE 03

Um fato inédito na política da cidade Fonte:


de Joaquim
diversos PortaisPires – PI
de Notícias

Nas eleições de 2012 ocorreu um fato inédito no cenário político da


cidade de Joaquim Pires. Foram formadas duas chapas para a disputa da
prefeitura daquela cidade. Uma delas, encabeçada pela candidata apoiada pelo
então prefeito Genival Bezerra, a candidata Regina Ramos (prima de Édios
Ramos), na época no PT, tendo como como vice-prefeito, Lourival Cunha. Por
outro lado, encabeçando a chapa da Oposição política da cidade, estava Cíntia
Ramos, do MDB, tendo como vice-prefeito, Dr. Miguel Ângelo. Cíntia era a
candidata apresentada pelo seu tio Édios Ramos, na época liderando a oposição
política de Joaquim Pires.
O que há de inédito é o fato de que tínhamos duas chapas onde pai e
filha estavam em lados opostos, neste caso, Lourival Cunha e Cíntia Ramos, o
que virou notícia a nível nacional, como vemos a seguir no print do Portal de
notícias UOL, matéria produzida pela BBC NEWS.
O resultado desse embate, foi que saíram vitoriosos Regina Ramos
prefeita (PT) e Lourival Cunha como Vice-Prefeito (PSB), que obtiveram 56,03%
dos votos válidos, e seus oponente Cintia Ramos (PMDB) que foi candidata a
prefeita, como vice-Prefeito Miguel Ângelo que somaram 43,97%. Nas Eleições
2016, Cíntia Ramos aliou-se a Genival Bezerra para derrotar sua prima Regina
Ramos, como entenderemos no próximo tópico.
APÊNDICE 04

O rompimento entre Regina Ramos e Genival Bezerra

Antes de integrar o grupo de Genival Bezerra, Regina Ramos


pertencia ao grupo político de Édios Ramos, seu primo. Demonstrando a Genival
Bezerra, ser uma pessoa de confiança, foi apresentada e apoiada por ele nas
Eleições 2012.
Como dito no Apêndice anterior, Regina Ramos tinha como opositora
sua prima Cíntia Ramos, apresentada como candidata a prefeita pelo MDB, por
Édios Ramos. Basta ler o Apêndice 03 pra saber o desenrolar dessa eleição.
Não passou muito tempo para que Regina Ramos começasse a
demonstrar que além de ser prefeita, queria também se tornar uma liderança
política, fato que não conseguiu. Na realidade, só conseguiu ser prefeita uma
vez e com o apoio de Genival Bezerra. Nas Eleições 2016, Regina se candidatou
tentando se reeleger prefeita, dessa vez com o apoio de Édios Ramos, principal
adversário político de Genival Bezerra, ou seja, Édios que se considerava traído
por Genival, foi apoiar Regina, a qual Genival considerava sua traidora. Para não
ficar muito desconfortante usar a palavra “traição”, usaremos o termo
menosprezo, e assim, resumiremos todo esse viés de liderança política em
Joaquim Pires da seguinte forma: Antônio Miroca menosprezou Zé Leôncio;
Édios Ramos menosprezou Antônio Miroca; Genival Bezerra menosprezou
Édios Ramos; Regina Ramos menosprezou Genival Bezerra. Agora monte o
quebra-cabeças.
Regina Ramos em 2016 perdeu as eleições para o próprio Genival
Bezerra, que se tornava pela terceira vez prefeito de Joaquim Pires. Do pleito de
Regina Ramos ficou uma grande lição a Genival Bezerra: não colocar nenhum
membro da família Ramos em sua chapa, e foi o que ocorreu nas Eleições de
2020, quando algumas pessoas esperavam que ele colocasse Cíntia Ramos
como sua vice, fato que não ocorreu, vaga sendo ocupada por Chaguinha
Santos, filho do ex-prefeito Santino Santos.

Fonte fotográfica: Portal Revista AZ


QUESTÕES ABORDADAS EM CONCURSO DA
FUND.CAJUÍNA RETIRADAS DESSE LIVRO
VISTA AÉREA DA CIDADE DE JOAQUIM PIRES

Fonte: https://www.jornaldaparnaiba.com/

É nesse recorte espacial que ocorreram os fatos


narrados nesse livro. Abraço a todos os leitores.

Chagas Ramos

ESTE LIVRO É DISTRIUBUIDO GRATUITAMENTE ÀQUELES


QUE DESEJAM SABER À RESPEITO DA HISTÓRIA DA
FORMAÇÃO DOS GRUPOS POLÍTICOS DA CIDADE DE
JOAQUIM PIRES/PI.
ESTÁ AUTORIZADA, O USO DE QUALQUER PARTE DELE,
DESDE DE QUE SEJA CITADO O AUTOR.
FRANCISCO DAS CHAGAS RAMOS DA CUNHA
É joaquimpirense, licenciado em História pela
UESPI, Acadêmico em Direito com previsão de término em
2022. Foi professor de História efetivo da SEMEC-
TERESINA, Professor de História na SEDUC-PI. É Escrivão
de Polícia Civil do Estado do Piauí, possui vários cursos de
formação na área de Segurança Pública.
É Terapeuta Holístico com ênfase na área de
meditação. É estudante do esoterismo, fazendo parte da
Maçonaria, Ordem Rosacruz (AMORC) e Ordem Martinista.

Contato através do e-mail: chagasramos@live.com

Instagram: @mongechagasramos

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