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Articulação de Sentidos:
o Novo Romance Histórico Brasileiro
Valter Sillrier
Nota: Uma versão preliminar deste texto foi apresentada na XXIII Reunião da Anpocs, realizada em
Caxambu em outubro de 1999, no GT Pensamenlo Social nu Brasil. Agradeço os comentários dos presentes
naquela ocasião, em especial de J leloisa Starling, comcnladora da sessão, de Helena Bomeny, Lucia Lippi
Oli\'cira e Ricardo Benzaqucn de Araujo. Agradeço a Vania Bellí os comentários e SUgesUlCS feitos a uma
versão anterior deste ensaio, que fOr3m fundamentais para a elaboração da presente versão. Agradeço também
as sugestões dos parcccristas de Estudos Hist6ricos.
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A narrativa da nação que surge nesse momento pode ser encarada, tal
como propõe Homi Bhabha, como "uma poderosa idéia histórica" que emerge
"de tradições do pensamenro político e da linguagem literária." (Bhabha,
199011997: 2). Uma das características marcantes do romanrismo enquanro
movimenro arrístico é sua estreita relação com o nacionalismo. No caso brasileiro,
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A Rc;,wellçiio do Passado c fi Artil:u{rrçtio de Selltidos
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Esse debate irá assumir as mais variadas formas desde então, ora identi
ficando, ora opondo escritores, críticos, ensaístas, historiadores e sociólogos,
entre outros analistas/intérpretes possíveis do Estado nacional brasileiro.
No que diz respeito à literatura, essa competição irá produzir um veto a
todo tipo de ficção que não estiver atrelada à formação de uma identidade
brasileira. Acompanhar a história desse veto permite mapear a história da
emergência da "racionalidade" política da nação - estratégias textuais, deslo
camentos metafóricos, subtextos e artifícios figurativos - como uma forma de
narrativa. Essa história, como indica Bhabha (1990/1997: 52), "está sugerida no
ponto de vista de Benedict Anderson sobre o espaço e o tempo da nação moderna
como corporificado na culrura narrativa do romance realista" e permite contestar
"a autoridade tradicional dos objetos nacionais de conhecimento - Tradição,
Povo, Razão de Estado e Alta Culrura, por exemplo- cujo valor pedagógico quase
sempre se apoia em sua representação como conceitos holísticos localizados
dentro de uma narrativa evolucionista de continuidade histórica".
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A Reill"ellçáo tio Passado e a Articulação tIe SClItitlos
em ruas quase estranhas": "Um fim literário". E isso que faz Silviano Santiago
em 1981. E muito mais.
Silviano Santiago coloca em diálogo o poeta Cláudio Manuel da Costa
(poeta e rebelde do século XVIII que participou da rebelião de Vila Rica em 1789),
o romancista Graciliano Ramos (na década de 1930), o jornalista Wladimir
Herzog (morto em fins da década de 1970) e ele mesmo. Temos então uma
conversa onde o papel do intelectual brasileiro frente a regimes autoritários e
intolerantes ecoa durante o livro todo. Nesse livro tudo é verídico e tudo é ficção
e, portanto, as relações entre literatura, história e biografia são objeto de constante
questionamento. Tanto no plano geral quanto no mais específico, o romance
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A Reilll'wçtio do Pfl.<Sflr/O C fi ArticlIlflftio de Sel/tir/os
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A Rcillllellçtlo do Passado e a Articulaçtlo de SeI/lidos
Notas
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pracrice of doeu me1l1ary jil.'lioll (ILhaca, New de Anna Paes D'Altro no Brasil holandês
York and London, Cornell Univcrsity emA garça lIIalf",ida;. fundação do Rio
Press, 1986). Grande em O exílio lia terra dos muitos; a
5. Um balanço pioneiro desse período história de Rondon em Piguu ru senhor dos
,
Referêllcias bibliográficas
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