Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Redimensionando
a Independência*
Maria Fernanda Bicalho**
*
Resenha recebida em dezembro de 2006 e aprovada na mesma data.
**
Professora Adjunta do Departamento de História da UFF. E-mail: mfbicalho@uol.com.br.
194
Redimensionando a Independência
195
Maria Fernanda Bicalho Resenha
196
Redimensionando a Independência
197
Maria Fernanda Bicalho Resenha
198
Redimensionando a Independência
questão e aborda o que, no cenário tes dos nossos, e assim aparece nos
historiográfico que se propõe a ana- documentos coevos.
lisar, consiste num falso problema. Outras questões pontuais
Malerba reconhece a existência de mereceriam um maior desenvolvi-
uma “vaga revisionista da história mento. Malerba constrói um quadro
de independência”, porém enxerga intitulado Produção historiográfica
em alguns destes trabalhos um viés sobre a independência do Brasil até
nacionalista, o que decorre mais de 2002 e o discute apenas em termos
uma leitura parcial dos estudos refe- quantitativos. Embora afirme que
ridos do que de afirmações e argu- a produção dos últimos 20 anos será
mentos de seus autores. É no mínimo o foco de sua análise (e os últimos 20
intrigante atribuir a Maria de Lourdes anos produziram um total de 66 estu-
Viana Lyra, autora de A utopia do dos), não a interpreta sistematicamen-
poderoso Império, a defesa de uma te, elegendo alguns títulos, deixando
visão que incorpora a construção da outros, igualmente fundamentais, de
identidade nacional já naquele perí- lado, mencionados apenas em nota
odo e, ao contrário, propor, como se de pé de página e de forma genérica.
ela não o tivesse feito em seu livro, Entre eles, os livros de Istvan Iancsó,
que a idéia de império luso-brasileiro Brasil: formação do Estado e da nação;
é mais apropriada do que a de nação. de Cecília Salles de Oliveira, A astú-
Da mesma forma, é difícil aceitar ser cia liberal; de Lúcia Bastos Pereira
a “questão nacional” o argumento das Neves, Corcundas, constitucionais
central no livro de Gladys Sabina e pés-de-chumbo... Não ficam claros
Ribeiro, A liberdade em construção. os critérios que utilizou ao eleger
Para Malerba, “a solução adotada na e contemplar uns e não outros.
obra de reificar sentimentos e estados Em suma, o capítulo em questão mais
(nacionais) atribuindo-lhes maiúscu- se assemelha a um “juízo” do que
las não soluciona satisfatoriamente a um “esboço crítico”. O autor, em
o problema”. Parece não perceber diversas passagens do texto, em vez
que “Causa Nacional” é grafada em de proceder a uma avaliação historio-
maiúscula e entre aspas pela autora, gráfica e crítica da produção – antiga
não como estratégia de reificação e recente – sobre o tema, a julga,
de um sentimento ou de um esta- e às vezes erroneamente. Em defesa
do nacional, e sim porque é termo dos comportamentos diferenciados
utilizado na época, que lhe confere das distintas regiões do Brasil no
seus próprios significados, diferen- processo de independência, afirma,
199
Maria Fernanda Bicalho Resenha
200