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AMÉRICA III

1. De acordo com o artigo de Geneviéve Verdo, na primeira década revolucionária das


independências na América Hispânica, quais eram as duas tendências em relação as
concepções sobre a soberania e a organização política, e qual é a tese da autora sobre
ambas?

Segundo o autor, para compreender as primeiras décadas do processo político de


independência, é necessário analisar os vínculos entre as cidades do antigo vice-reinado e como
suas relações evoluíram. Isso nos leva a considerar o problema da representação e da concepção
do povo como soberano. Existem duas perspectivas distintas: a concepção tradicional, que
considerava as cidades como sujeitos da soberania e prevalecia na prática, e uma concepção
mais moderna dos líderes revolucionários, que viam o povo como uma entidade única e
abstrata, composta por indivíduos.

Essas duas concepções possuem projetos políticos diferentes. Uma delas, mais
"moderna", busca a centralização e a uniformização dos assuntos políticos, enquanto a outra
valoriza a autonomia do governo. No entanto, o autor argumenta que, embora essas tendências
sejam contraditórias, estão intrinsecamente ligadas. Na realidade, elas coexistiam no âmbito
pragmático do mesmo projeto político e explicam, em grande parte, as oscilações, os
compromissos e as ambiguidades do regime revolucionário nesses anos.

2. Segundo o artigo de Temistocles Cezar, de que forma o IHGB articulou os fundamentos


da historia magistra vitae com o projeto de uma história nacional?

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), fundado em 1838, marcou o


início da pesquisa histórica no Brasil, segundo José Honório Rodrigues. O objetivo desse novo
enfoque era estabelecer um projeto historiográfico que pudesse organizar os recursos e os
procedimentos para escrever a história da nação.

A historiografia era vista como uma ferramenta essencial para legitimar o poder e a
ordem social, além de promover a ideia de progresso e desenvolvimento nacional. A escrita da
história tinha o propósito de fortalecer o sentimento de pertencimento à nação e preservar a
memória coletiva. A historiografia refletia as visões de mundo e os interesses das elites
intelectuais e políticas da época, buscando promover narrativas históricas que apoiassem suas
ideologias e projetos de poder.

De acordo com Januário da Cunha Barbosa, havia a necessidade de unir uma história
nacional. A ideia de "historia magistra vitae" (a história é a mestra da vida) justificava e
orientava as pesquisas do IHGB. Eternizar e preservar os fatos eram princípios derivados dessa
ideia. Após a eternização do fato, era necessário salvá-lo, o que envolvia uma série de
procedimentos metodológicos, desde a descoberta das fontes até a produção textual.

Dessa forma, as ideias centrais eram o resgate dos fatos notáveis da história brasileira,
a concentração desses fatos em uma associação literária para oferecê-los ao conhecimento do
mundo, purificados de erros e imprecisões. Através da história, o sentimento patriótico era
revelado tanto para os brasileiros como para os estrangeiros.

3. Para Dilma Diniz, como "nasceu" o conceito de América Latina?

O conceito de América Latina nasceu no século XIX por meio da obra de Michel
Chevalier, um francês. Em seu livro "L'Amérique latine: considérée dans ses rapports avec les
nations européennes" ("A América Latina: considerada em suas relações com as nações
europeias"), publicado em 1836, ele utilizou o termo "América Latina" para se referir aos países
da América colonizados por nações europeias de línguas latinas, como Espanha, Portugal e
França. A ideia central era que esses países compartilhavam aspectos culturais e históricos em
virtude de sua herança colonial.

A partir disso, a noção de América Latina como uma entidade cultural e política distinta
se disseminou, primeiramente na França e posteriormente em outros países, especialmente na
Europa. É importante ressaltar que esse conceito foi influenciado por perspectivas externas,
principalmente europeias, refletindo uma visão eurocêntrica da região. Ele engloba uma
diversidade de países e culturas, muitas vezes negligenciando as diferenças e particularidades
específicas de cada nação. Além disso, o conceito de América Latina também carrega
implicações políticas e ideológicas, relacionadas ao processo de afirmação e busca de
identidade dos países latino-americanos.

4. A partir do artigo de Vânia Moreira, explique de que forma as leis agrarias de


desamortização de terras no México durante o século XIX afetaram a propriedade
comunal dos grupos indígenas.

Durante a segunda metade do século XIX, ocorreu a desamortização das terras


indígenas tanto no Brasil quanto no México. Essa política exerceu uma pressão dissociativa
sobre as comunidades indígenas, acelerando a "nacionalização" e "cidanização" dos índios, em
um processo imposto de cima para baixo, com nacionalização forçada.

No México, a pressão política para repartir e privatizar as terras indígenas dos pueblos
ganhou força, especialmente após a promulgação da Lei Lerdo. Essa lei determinou a
privatização dos bens da Igreja e das terras de posse comum dos pueblos, conhecidas como
"común repartimiento". A constituição mexicana de 1857 também reforçou a ideia de
liquidação das terras de uso comum, proibindo a propriedade corporativa de imóveis e
ordenando a repartição e privatização dos ejidos, que antes estavam excluídos desse processo.

Essas medidas de desamortização refletiram a preocupação da elite política mexicana


em estabelecer um mercado de terras e trabalho no país, sob o argumento de promover a
modernização e a consolidação do poder econômico.

No entanto, a historiografia sobre o México reconhece que os processos de recepção e


mitigação das novas diretrizes, em âmbito local e regional, variaram bastante e contaram com
a ativa resistência dos índios. Além disso, o efetivo impacto da legislação liberal sobre os
pueblos de índios é um assunto bastante controverso na literatura especializada.

Enquanto alguns autores, como Margarita Carbó, apontam que a legislação liberal
mexicana provocou uma profunda reorganização no estilo de vida de índios e camponeses,
resultando em pouca posse de terra para os pueblos, outros autores, como Frank Schenk,
enfatizam a resistência pacífica ou armada das comunidades, o que levou à sobrevivência de
muitas terras comunais em diferentes regiões do país, devido a resistência armada e pacífica.
A questão é que houve impacto sobre os indígenas.

5. Segundo o texto do Doratioto, quais foram as características da historiografia sobre a


"Guerra do Paraguai" surgida em meados de 1980?

De acordo com as análises de Francisco Doratioto, a Guerra do Paraguai foi interpretada


no contexto brasileiro sob uma perspectiva ideológica. Nesse sentido, o nacionalismo e a
construção da identidade nacional desempenharam um papel fundamental na forma como o
conflito foi historicamente compreendido. A guerra foi percebida como uma batalha heroica
em defesa da pátria, contribuindo para a imagem do Brasil como uma nação guerreira. Essas
interpretações foram influenciadas pelo viés ideológico presente na produção histórica sobre o
conflito.

Algumas características do conflito são acentuadas pela historiografia, começando


pelos diferentes nomes atribuídos a ele: no Brasil, é chamado de Guerra do Paraguai; na região
do Rio da Prata, é conhecido como Guerra da Tríplice Aliança; e no Paraguai, é denominado
de Guerra Grande. Para estabelecer uma designação comum, pode-se referir a ela como Guerra
de 1865-1870.
No contexto do Império do Brasil, a Guerra do Paraguai marcou o auge do poder do
Estado Monárquico. Isso é evidenciado pela capacidade de organizar um exército moderno,
substituindo a pequena e mal armada força de 16.000 homens existente em 1864, e pelo
desenvolvimento de uma nova Marinha capaz de combater em ambiente fluvial. A persistência
do Estado Monárquico em sustentar a guerra foi respaldada, em termos ideológicos, pela
justificativa de que o Brasil havia sido agredido sem uma declaração prévia de guerra e que
Francisco Solano López era um megalomaníaco cuja permanência no poder no Paraguai
representaria uma ameaça constante à paz regional e à segurança das fronteiras brasileiras. A
interpretação predominante, tanto durante a guerra quanto posteriormente, foi a de que o
Paraguai havia agredido o Império brasileiro sem razões diretas para tal.

No início da guerra, os autores brasileiros retratavam López como um tirano


ambicioso que desejava expandir sua influência na região do Rio da Prata, o que o levou a
desencadear o conflito. A guerra impôs enormes sacrifícios ao Estado Monárquico brasileiro.

No entanto, a partir da década de 1980, surgiu uma nova corrente historiográfica que
buscou as causas da Guerra do Paraguai no próprio processo histórico dos países da região do
Prata. Essa abordagem caracteriza-se por uma pesquisa sólida em fontes primárias, o que
permitiu concluir que as origens da guerra estão intrinsecamente ligadas ao processo histórico
regional. O Paraguai não constituía exemplo de modernidade econômica e social no período
que antecedeu o conflito e, ainda, analisar criticamente os personagens queparticiparam do
processo que levou ao enfrentamento armado, em lugar de robustecer mistificações.

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