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Para começar a elaborar essa comparação devemos antes de tudo destacar que se

tratam de abordagens historiográficas amplamente distintas. Dessa forma, iremos


primeiro falar de cada uma delas separadamente para facilitar a compreensão de suas
especificidades e então partir para uma análise comparativa. Começando por Lynch,
usaremos como base o primeiro capítulo da obra: “Las Revoluciones
Hispanoamericanas 1808-1826” publicado em 1986.

John Lynch foi um historiador britânico considerado uma autoridade em História


da Espanha e principalmente nas independências da América Espanhola. Sua
abordagem traz uma visão mais tradicional da historiografia, apresenta uma análise
focada nas questões políticas e econômicas de escala maior. No texto que iremos nos
basear Lynch se propõem a explicar “As origens das nacionalidades Hispano-
americanas”.

Lynch procura defender a visão de que a formação da identidade nacional na


América Espanhola precede os processos de Independência, ele afirma que as
“revoluções pela Independência” nestes países são o resultado da tomada de consciência
dessa nacionalidade , somada a fatores políticos e econômicos que produziram um
momento de fragilidade da metrópole e propiciou a ação dos Americanos e sua vitória.

Sobre os citados fatores políticos e econômicos, o autor fala a respeito de


questões ligadas ao comércio ao comércio entre a América e as potencias europeias.
Segundo ele a exploração econômica imposta pela coroa gerava insatisfação entre os
americanos e este fator acabou contribuindo na formação da identidade nacional
ressaltando e acirrando as diferenças entre Americanos e Europeus e facilitando a
tomada de consciência e identificação nacional.

As invasões napoleônicas no começo do séc. XIX teriam fragilizado a Coroa


Espanhola e produzido o momento oportuno para o fortalecimento das elites Criollas e
consequentemente a culminação dos processos de Independência na América. Essa seria
a argumentação do autor John Lynch exposta de maneira drasticamente resumida.

“ Las peticiones de cargos públicos y de seguridad expresaban uma consciência


mas profunda, um desarrollado sentido de laidentidad, una convición de que los
americanos no eran espanoles. Este presentimiento de nacionalidade sólo podia
encontrar satisfaccion em la independência. Al mismo tempo que los americanos
empezaban a negar la nacionalidade espanola se sentían conscientes de as diferencias
entre sí mismos.” P.35

Iremos agora falar sobre o autor François-Xavier Guerra. Em seu texto “A nação
na América Espanhola: a questão das origens” publicado em 1999, o autor traz uma
espécie de revisão acerca das principais interpretações historiográficas sobre as origens
das nações na América Espanhola. Sua argumentação se aprofunda em diversos temas
ligados a questão, a identidade, cultura, nacionalidade, nacionalismo, etc.

Entretanto, o ponto central no texto de Guerra são os questionamentos dirigidos


as interpretações nas quais a independência na América Espanhola e a formação dos
Estados seriam consequência natural da formação preexistente de uma nação. Guerra
questiona a existência de uma identidade coletiva prévia e afirma que a formação dos
Estados-Nações são um ponto de partida para a construção das identidades nacionais e
dos nacionalismo e não uma consequência da preexistência deste em determinado
território político.

“O caráter teleológico desta interpretação é evidente; ele repousa sobre uma


confusão semântica entre um dos sentidos políticos do termo “nação”- ser um Estado
sobrano – e de um dos seus sentidos culturais culturais – ser uma comunidade humana
dotada de uma identidade singular. Só a necessidade imperiosa de consolidar países
instáveis e de conforma-los ao modelo de Estado-Nação que trinfava então na Europa
explica que os autores de história pátria ( a história de cada uma das nações latino
americanas) tenham se esforçado a fazer da independência o coroamento, por assim
dizer, natural e inelutável da preexistência da nação. Tudo mostra, ao contrário, que esta
não é um ponto chegada, mas um ponto de partida. A independência precede tanto a
nação como o nacionalismo.” P.11

Para tecer uma comparação entre as duas interpretações devemos ter em mente
que o ponto central que difere as duas é a questão : A formação dos Estados-Nações na
América Espanhola é uma consequência da preexistência de uma identidade coletiva ou
é um ponto de partida para a construção dessa identidade ?

Para Lynch, a resposta seria a primeira. O autor se esforça para encontrar no


período pré-independencia elementos que reforçam sua percepção de que essa
identidade coletiva já era presente entre os povos da América. Já o autor Guerra
considera que os valores ligados a nacionalidade no período pré independência não são
o suficiente para configurar uma unidade cultural que caracteriza uma nação.

Concluindo, é importante ressaltar que a interpretação exposta por François-


Xavier Guerra pode ser considerada mais atual, estando alinhada as interpretações que
hoje possuem maior fundamentação. A versão trazida por John Lynch é considerada
ultrapassada devido as inúmeras evidências que fortalecem a perspectiva alinhada as
ideias de Guerra.

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