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- 2 olhares sobre essa relação: há um olhar que busca detectar e analisar as muitas
formas que revelam a presença do poder na própria história; e outro que indaga dos
inúmeros mecanismos e artimanhas através dos quais o poder se manifesta na produção
do conhecimento histórico.
- Estudar visões de poder: o poder visto como objeto da investigação/produção
histórica e o poder enquanto agente instrumentalizador da própria oficina da história,
com o que o conhecimento histórico se converte em seu objeto.
- Capítulos: 1º observar-se-á a passagem bastante lenta do poder como algo inerente a
certos indivíduos e instituições – a começar pelo estado – ao conceito de poder como
um tipo de relação social concebida eventualmente como de natureza plural – os
poderes. Tratar-se-á aí da historiografia tradicional e de sua tendência multissecular de
abordar apenas a política como se fosse esta a única forma/lugar do poder.
2º A partir da crise da história política tradicional, tentaremos situar as características do
que se convencionou chamar de nova história política.
3º Empreender um balanço preliminar da presença do poder e da política na
historiografia brasileira recente.
Poder e política na historiografia ocidental – ou ascensão, apogeu e declínio da
história política
- História nasce: nasceu, sim, com os gregos uma certa concepção de história: uma
narrativa de certo tipo de ações heróicas ou humanas dignas de serem lembradas.
Era a história dos historiadores, que mais tarde se tornou a história política tradicional.
- Como é a visão: centralizada e institucionalziada de poder. Ligada intimamente ao
poder, essa história pretendeu ser também memória.
- Na idade média: praticada por eclesiásticos e escribas leigos, há continuidades e
diferenças, retenção de certos eventos e a continuidade narrativa, trata-se sempre de
múltiplas histórias, sobre assuntos seculares ou eclesiásticos.
- Na idade moderna: 1) continuou a ter a velha função de mestra da vida, mas os
humanistas a utilizam também no ensino da retórica. 2) a sombra de Maquiavel faz
pairar sobre ela uma desconfiança terrível: talvez, na verdade, a história não seja capaz
de ensinar senão política e nada tenha a ver com a moral e a ética; 3) trata-se de
histórias que se referem cada vez mais aos estados territoriais ou dinásticos, conhecidas
monarquias nacionais dos estados absolutistas.
- Inovação: ilustração e romantismo, acentuaram ainda mais a importância do político.
- Iluminismo: abrange a história interpretada pelos filósofos e as histórias produzidas
pelos historiadores eruditos – antiquários. Filosofia faz uma história racional e
explicativa da totalidade do devir histórico. Antiquários aperfeiçoaram o instrumental
da critica das fontes documentais, além de revelarem novos acervos à investigação
histórica.
- Romantismo: contra as concepções iluministas consideradas abstratas e absurdas –
racionalismo extremado, unversalismo ético-juridico e histórico, naturalismo fisicalista -
o romantismo propôs e defendeu perspectivas quase diametralmente opostas: o papel e
a importância do sentimento, a intuição, o individualismo, o organicismo e a história.
- A história metódica: levou a supremacia da história política - narrativa, factual,
linear - ao seu apogeu nos meios acadêmicos. Tratava-se de distinguir a verdade
histórica da ficção literária a partir da separação entre dois tipos de fatos – os
verdadeiros, que podem ser comprovados, e os falsos, de comprovação impossível.
Assim, a história política, é ciência e não arte, consistindo a tarefa do historiador não em
evocar ou reviver o passado, como desejavam os românticos, mas sim em
narrar/descrever os acontecimentos desse passado como eles realmente se passaram.
- Marx, Tocqueville, Engels, Burckhardt, Dilthei – abordam a sociedade, a economia
e a cultura, quase sempre em busca de determinações ou fatores não políticos
importantes ou essenciais para a compreensão/explicação dos processos políticos.
- Criticas à metódica/positivista: 1º Pré-annales se inclui a influencia da sociologia
durkheimiana, vocalizada por François Simiand, a geografia humana de Vidal de La
Blache; Henri Berr em prol da síntese histórica, Paul Mantroux, Henri Pirenne;
2º O novo historicismo, ou historismo, Dilthey, Rickert, Simmel, Max Weber. B. Croce
neo-hegelianismo, Collingwood, .
Os limites dessas criticas aconteceu, pois não foram suficientes para provocar de
imediato grandes alterações no panorama da historiografia, ou seja, não conseguiram
abalar a posição dominante da história política, nem a supremacia institucional da
“historiografia metódica” ou positivista.
- Declínio da história política: a partir de 1929/30.
- Annales: Febvre e Bloch tinham dois adversários a enfrentar: uma certa concepção
acerca da natureza do conhecimento histórico e o primado da história política no campo
da historiografia. Quanto ao primeiro, os annales propuseram a ampliação do domínio
historiográfico, ou seja, a história como estudo do homem no tempo, ou a totalidade
social em ultima analise, com a conseqüente redefinição de conceitos fundamentais
como documento, fato histórico e tempo. Com relação à história política tradicional, as
criticas foram incisivas e definitivas: recitativo interminável de eventos políticos e
batalhas.
Novos caminhos do poder e da política na historiografia contemporânea
- Pós 45 a 70: crise final da HPT e, no período seguinte, a progressiva constituição da
“nova história política”. A escola dos annales ajudou a declinar a HPT no pós-guerra.
- Nova história: consagrada nos anos 70, relegou a hp a um lugar secundário.
- Annales: 1ª geração estigmatizou a hp como sinônimo de história factual, a 2ª, de
Braudel, relegou os fatos políticos ao “tempo curto”. 3º foi obrigada a abandonar alguns
paradigmas dos annales: a unidade de método com as CS e humanas e a unidade do
objeto - o homem. Invibializou assim a possibilidade de uma história global, criando
espaços de dispersão múltiplas unidades, acaba-se a grande historia, a história, sobra a
múltipla história, era a nova história.
- Marxismo: a perspectiva do político em geral e da historia política, em particular, foi
sempre, desde Marx e Engels, oposta aos pressupostos e características da hpt.
- Criticas marxistas: denunciou os 3 ídolos principais da hp: uma noção de
político/política desvinculada da totalidade do processo histórico e presa fácil da
ideologia; o caráter voluntarista de uma história baseada em idéias e ações de alguns
poucos agentes históricos individuais; um discurso histórico-narrativo, cronológico e
linear construído em função de uma epistemologia empirista.
- Outras contribuições marxistas: Gramsci, Lukács, escola de frankfurt, Hobsbawn,
Anderson, Hill, Thompson, W. Williams, Sartre, Goldmann, Althusser, Badiou, Vilar,
Bouvier Vovelle, Duby. Contrabalanceou, certas tendências empiristas e subjetivistas.
- Efeitos antagônicos do marxismo: recolocou no primeiro plano da escrita da história
o poder, o político e a política. Mas aprofundou a atitude, entre os historiadores
marxistas, de franca rejeição da hpt com seus chamados fatos, seus conhecidos atores,
enfim, sua alienação.
- Nova história: possibilitou a abertura para concepções novas e variadas a respeito de
temas pouco freqüentados pela historiografia: os poderes, os saberes enquanto poderes,
as instituições supostamente não políticas, as praticas discursivas.
A historiografia política passou a enfocar, nos anos 70, a microfísica do poder, no
cotidiano de cada individuo ou grupo social.
- Novas contribuições do marxismo: conceitos gramscianos de hegemonia, bloco
histórico, intelectuais tradicionais e orgânicos, e althusserianos de autonomia relativa,
aparelhos ideológicos do estado, sobredeterminação.
Lançaram luz nova sobre o político, o estado, suas relações com a sociedade civil, além
de abrirem a investigação histórica à questão muito mais ampla do poder, e daí à das
formas de dominação.
- Contribuições de Geertz: poder e política passam assim ao domínio das
representações sociais e de suas conexões com as praticas sociais; coloca-se como
prioritária a problemática do simbólico – simbolismo, formas simbólicas, mas sobre
tudo o poder simbólico, com em Bourdieu. Não mais apenas a política em seu sentido
tradicional mas, em nível das representações sociais ou coletivas, os imaginários sociais,
a memória ou memórias coletivas, as mentalidades, bem como as diversas praticas
discursivas associadas ao poder.
- Orientações da Nova História Política: radicais: são as interpretações que conduzem
o historiador a subsumir a política na esfera do poder, de modo que se perde de vista a
quase por completo sua autonomia, ainda que relativa.
A tendência passa a ser substituir a historia política por algum tipo de historia das
formas de dominação não vindo ao caso se baseada em matriz teórica marxista,
weberiana ou outra qualquer. Situa-se no extremo desse radicalismo a pulverização do
poder e sua redução a efeitos de sentido produzidos em função de praticas discursivas
especificas.
Moderadas: resgatar ao que se convencionou designar como sendo a legitimidade da
história política. 1) marcar suas próprias distancias em relação aos erros e equívocos da
hpt; 2) apropriar-se de métodos e teorias desenvolvidos tanto por historiadores quanto
por cientistas sociais, sempre que se possa, a partir dessa apropriação, produzir
abordagens inovadoras e hipóteses cientificas no campo da história política. 3) redefinir
alguns dos antigos objetos da história política mas, principalmente, definir novos e mais
modernos objetos.
- Fatores para surgimento da Nova História Política: condicionamentos históricos,
epistemológicos e disciplinares. Os fatores históricos mais mencionados compõe: o
advento da sociedade pos-industrial, domínio tecnológico, consubstanciado na
informática, sobre um conjunto de seres humanos massificados e manipulados pela
mídia; o retorno do acontecimento como noticia e a percepção aguda do caráter
eminentemente político das decisões governamentais compreendidas na designação
poltiicas publicas; a universalização da burocracia (Weber) e a programação de vastos
setores das atividades sociais.
- Novidade: na tentativa de se redefinir o político, sua realidade e especificidades,
entram em jogo a noção de social e o conceito de representação.
- Cultura política: a concepção plural do público (receptor, audiência) e as
perspectivas promissoras do conceito de cultura política (Vandermeer e Rémond)
exemplificam talvez o quanto se tenta suprimir e inovar em história política.
- Vandermeer: o comportamento eleitoral das massas (eleições, eleitores, voto
partidário); os processos de votação no congresso e legislativos estaduais (fidelidade
partidária, ideologias, clientelismo ou patronagem); instituições políticas e burocráticas.
– Julliard: os sistemas políticos (estruturas institucionais e funcionários); os agentes
políticos (elites e massas); a dinâmica política (evolução dos regimes, reformas,
revoluções).
- Rémond: o politico existe, distingue-se de outros tipos de realidades, constitui algo
especifico, é irredutível a outras realidades, pode ser determinante ou determinado, é
dotado de certa autonomia e é capaz de imprimir sua marca e influir no curso da
história, ou ainda, como em Julliard, é o acontecimento político que deve ser revisto,
pois nem é autônomo, nem é simples subproduto.
- Peter Burke: a história política estar entre dois tipos de preocupação: com os centros
de governo (poder) e com as raízes sociais (da política e do poder).
- Foucault: formas concretas que assume a luta pelo poder e o seu exercício em
instituições como família, escola, fabrica.
- O que é: o modelo cientifico não é de forma alguma um guia pelo qual deve se pautar
a realidade; também não configura uma “maquete” dessa realidade, não a reproduz em
outra escala. É um instrumento de trabalho que, orientado teoricamente, é capaz de
estabelecer homologias (construindo isomorfias) entre dados que à primeira vista, são
dispares, fazendo ressaltar o sistema que os ordena.
O Conceito de Modelo
- Modelo: é uma operação conceitual visando a representar relações ou funções que
ligam as unidades de um sistema. 1º Construir um modelo supõe uma generalização
previa (formulação clara de hipótese ou problema, condição para a sua própria
elaboração). 2º na aplicação, ele deve permitir uma explicação abrangente de um
fenômeno ou grupo de fenômenos. Jamais um modelo é idêntico.
- Dimensões do modelo: sua elaboração, sujeita às diferentes teorias do conhecimento,
e sua aplicação, enquanto técnica controlada para o esclarecimento de aspectos
específicos de um problema e posterior construção explicativa.
- Parâmetros: objeto de estudo (objetos e variáveis), estabelecimento das propriedades
dos objetos (classes de constantes, ou grupo de objetos que satisfazem uma dada
propriedade), elaboração de uma “generalidade” do domínio considerado (verificação
da aplicabilidade) entre os enunciados possíveis.
1º Significa que o uso de modelos pressupõe, por si só, que a historia não é composta de
fatos únicos, irreptíveis, nem de singularidades irredutíveis umas às outras.
2º Relacionar esses diferentes grupos implica respeitar a forma pela qual tal relação se
estabeleceu historicamente na pratica social.
3º O uso de modelos permite o exercício de experimentações, nas quais as hipóteses
podem ser efetivamente testadas.
A história e os pressupostos dos modelos
- Marxismo: o conhecimento da sociedade somente se produz enquanto processo que
privilegia a síntese de suas diversas articulações e a história.
Ponto focal do conhecimento é a forma da articulação social.
1º a precedência da totalidade sobre o singular, o conhecimento não é a soma dos
atributos individuais.
2º o acesos ao empírico se dá sempre mediado tanto pelas noções corriqueiras (senso
comum), quanto pelas modalidades precedentes de conhecimento (artístico, religioso,
ideológico, cientifico). Marx usa conceitos e não modelos.
- Weber: considerando a produção de cultura como a principal especificidade das
sociedades e definindo-a como a elaboração de valores. Julgamento de valor é vetado.O
critério de cientificidade para Weber não reside mais na explicação e sim na capacidade
de elaborar um modelo – o tipo ideal – que, estando no espaço onde se cruzam
múltiplos valores, é construído a partir de uma reflexão de tipo racional, apoiando-se na
experiência cientifica.
Tipo ideal: realidade histórica global e singular (capitalismo), elementos abstratos da
realidade histórica (instituições, burocracias, dominação) e às condutas dos indivíduos
(religiosas e econômicas).
- Diferença de Marx e Weber: no marxismo o modelo é uma ferramenta conceitual a
partir da qual as proposições explicativas podem se submeter a teste, permitindo uma
elaboração de tipo hipotético-dedutivo. Em Weber o modelo é um recorte arbitrário,
eventualmente contra factual, cujo objetivo é recuperar e atribuir significados culturais.
O uso dos modelos
- O que garante um modelo: a pertinência de sua elaboração, de sua aplicação e
construção explicativa.
Mercado e cultura
- Smith, Malthus, Ricardo: modelo de comportamento humano baseado na relação
lucro/beneficio. O mercado é o eixo econômico central, local de explicitação dos
comportamentos e cuja racionalidade traduz e sintetiza todas as demais relações sociais.
O funcionalismo e os sistemas
- Funcionalismo: 1º considera as diversas interações sociais como um sistema, ou
sistema social, cuja identificação depende da abstração dos papeis individuais, visando a
evidencias sua articulação com a integralidade social.
2º identifica funções através de atribuições de papeis integradores dos indivíduos ao
sistema social.
O estruturalismo
- Levis Strauss: trata-se de passar dos fenômenos conscientes à infra-estrutura
inconsciente; de abordar sempre os termos enquanto entidades relacionais (e não
independentes), constituindo-se sistemas, finalmente, de descobrir leis gerais (por
indução ou dedução).
Abrangência e limites dos modelos
- Riscos: os modelos mais abstratos – e os mais abrangentes – correm 2 riscos
principais: a perda da dimensão histórica e um determinismo tipo teleológico.
As tendências atuais
- Elaboração de modelos submetidos a controles mais estritos. Ao invés de trabalhar
com processos de longuíssimas durações e com universos sociais variados, os modelos
tendem a ser construídos a partir de situações sociais bem demarcadas. Os modelos
devem dar conta do maior numero possível de variáveis, de forma sistemática,
estabelecendo (listando e analisando) seus diferentes componentes, estabelecendo os
parâmetros do sistema, os estados do sistema e sua trajetória. Trata-se de trabalhar com
múltiplos modelos, sistematicamente integrados.