Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RINS
Coleção Primeiros Passos
ANTONIO CANDIDO
Nelson Mandela O que são Direitos da Pessoa ANTONIO CARLOSRIBEIRO FESTER (ORG.)
Mary Benson Dalmo de Abreu Dallari CARLOS ALBERTO IDOETA
FÁBIO KONDER COMPARATO
Direitos Humanos O que é Habeas-Corpus HERBERT DE SOUZA
Leah Levin (UNESCO) Adauts Suannes
MARCO ANTÔNIO RODRIGUES BARBOSA
Direitos Flumanos O que é Justiça MARILENA CHAUI
Um debate necessário - Vol. 1e 2 Julio C. Tadeu Barbosa D. PAULO EVARISTO ARNS
Vários autores
O que é Constituinte
Muda Brasil Marília Garcia
Fábio K. Comparato
O que é Tortura
Para Viver a Democracia Glauco Mattoso
Fábio K. Comparato
O que é Poder
Gerard Lebrun
Apartheid
O horror branco na África do Sul
FranciscoJ. Pereira
editora brasiliense
14 INTRODUÇÃO
de passa a alojar-se não mais na figura da comunidade, mas na a pressuposição de um bem comum, nem a coletividade vista co-
do indivíduo. mo uma grande família cujo pai é o governante, representante
Tal como Descartes universaliza a razão, ao afirmar que “o do poder do Pai divino. À sua referência é o indivíduo como áto-
bom senso é a coisa melhor””, a sociedade burguesa faz o univer- mo isolado, tornando-se necessário saber como os indivíduos iso-
salismo alcançar as paixões, os vícios e as virtudes, resultando lados vieram a viver em comum, isto é, de como surge a sociabi-
'na afirmação de que, por natureza, todos os homens estão sujei- lidade(donde o desenvolvimento das teorias modernas do contra-
tos ao medo. Mas não é só isto. A sociedade moderna, sabemos, to social e do pacto social).
nasce quando desaparecem tanto a imagem quantoa realidade da A indivisão como referência da sociedade é substituída pe-
comunidade. Uma comunidade pressupõe e afirma: 1) sua indivi- la divisão interna ou, como diz Maquiavel em O Príncipe, toda
são interna; 2) a comunhão de destino, idéias, crenças e valores; cidade é constituída pela divisão em dois desejos opostos: o dese-
3) a identificação de todos os seus membros com a figura do go- jo dos grandes de comandar e oprimir e o desejo do povo de não
vernante encarnando em sua pessoa o ser mesmo da comunidade ser oprimido nem comandado. O mais importante, porém, é que
que nele se espelha, donde a idéia de que as virtudes e os vícios a sociedade já não pode explicar sua origem, sua forma,a existên-
cia do poder e da lei, a existência das desigualdades e dos confli-
da comunidade dependem inteiramente das qualidades morais do
tos referindo-se a uma força externa transcendente que os teria
governante, que é espelho e guia da comunidade; 4) a indivisão, produzido. Ou seja, a marca fundamental da sociedade moderna
figurada pelo governante e pela comunidade de destino, fazendo está em que não pode colocar sua origem na vontade de Deus,
com que se creia na existência de uma ordem comunitária natural, mas é forçada a reconhecer que as relações sociais, o poder e a
fixa, imutável, estabeleci los rios homens e sim por
lei são produzidos pela própria sociedade ou pela própria ação so-
uma força divina, sábia e transcendente que cial dos homens divididos, seja como indivíduos isolados, seja
homens qual a melhor forma de sua existência em comum; 5) o como indivíduos separados em grandes opressores e o povo que
poder assegurado pela fonte divina externa, que, ao garantir a or- não deseja ser oprimido.
dem, define 01 o de cada membro da coletividade, desig- No contexto da passagem da comunidade à sociedade com-
na sua função e suavirtude própria e estabelece a hierarquia inter- preendemos por que o medo muda de sentido e por que será um
na à comunidade, hierarquia que é encarada como realização da motivo central na constituição do pensamento político moderno.
vontade divina, como algo natural e necessário e que homem al- De fato, enquanto existia a comunidade, os homens dispunham
gum podealterar; 6) a lei concebida como doação à comunidade de referências para pensar sua realidade como algo necessário,
por Deus, que usa o governante como intermediário,isto é, o go- bom, imutável, e também havia referências para os seus medos:
vernante ou o detentor do poder é aquele que, em nome da divih- não precisavam temer mudanças sociais, mas tinham o medo da
dade, faz a lei segundo sua vontade própria, ou como diziam os existência de forças maléficas que quisessem mudar a comunida-
juristas medievais: “o que apraz ao rei tem força de lei”. A mar- de, isto é, os homens temiam o tirano eo diabo, aliás, considera-
ca da majestade do poder está nesse fazer a lei e em julgar a to- vam o diabo um tirano e o tirano, um homem diabólico. Além
dos segundo a lei, mas ele próprio permanecendo acima e fora do medo do tirano e do diabo, os poderes perversos, os homens
da lei, não podendo ser julgado por ninguém. Assim, uma comu- também tinham medode Deus, a força que criou e que conserva
nidade indivisa, encarnada na vontade e na razão da majestade a comunidade e os próprios homens. Não é casual, por exemplo,
do governante, desconhece a figura dos indivíduos, só conhecen- que o cristianismo defina o ateu como aquele que não tem o te-
do os seres humanospelo lugar e pela função que ocupam nointe- mor de Deus. Poder-se-ia dizer que, enquanto existia a comunida-
rior da ordem comunitária a serviço do bem comum, pois não há de, os medos eram muito precisos: tinha-se medo do fim da comu-
bem individual, não havendo distinção entre o público e o priva- nidade por obra do tirano e do demônio; de perder os favores de
do. A comunidade é umarealidade orgânica, divinizada, naturali- Deus; de perder a alma na eternidade; dos detentores do poder
zada e praticamente imóvel ou imutável, dirigida por forças que político e teológico, já que estes podiam julgar alguém culpado
lhe são transcendentes. sem direito à defesa, e se aquele que fosse julgado culpado pelos
É isso que desaparece com o advento da sociedade moder- representantes de Deus na comunidade estava condenado; enfim
na ou burguesa. A marca própria da sociedade é que sua referên- de tudo quanto pudesse surgir como obra do inimigo de Deus, is-
cia não é mais a ordem divina ou a ordem natural, nem a imagem to é, do demônio — feiticeiras, magos, bruxos, hereges, ateus,
da indivisão, nem a hierarquia de cargos, lugares e funções, nem livres-pensadores, tiranos, pestes, fomes, cataclismas.
MARILENA CHAUI
E = = TES ED
Eta md : y
| 20 DIREITOS HUMANOS E MEDO MARILENA CHAUI ; 21
direitos são naturais ou civis, sendo estes últimos criados pelos a teoria do direito natural nasce, afirmando que os homens são
próprios homens. Essa diferença é de grande envergadura porque dotados de direitos por natureza e que os direitos naturais são: di-
nos permite compreender uma prática política inexistente antes reito à vida ou à autoconservação, direito a tudo quanto auxilie a
| da modernidade e que se explicita, significativamente, em ocasiões auto-conservação dos indivíduos e direito ao pensamento e à pala-
muito precisas: trata-se da prática da declaração dos direitos. De vra. Os autores clássicos afirmam que, por natureza, os homens
fato, quando os direitos subjetivos e objetivos eram vistos como são iguais e livres, mas ressalvam que, em estado de natureza,
resultando da vontade de Deus, não havia por que declará-los. os homens não conseguem garantir seus direitos naturais; para ga-
Existiam como umfato. A prática de declarar direitos significa, ranti-los, recorrem ao contrato social, a partir do qual os homens
em primeiro lugar, que não é umfato óbvio para todos os ho- decidem alienar seus direitos naturais a uma instância soberana
* mens que eles são portadores de direitos e, por outro lado, signifi- que os transforme em direitos civis positivos, através das leis.
ca que não é um fato óbvio que tais direitos devam ser reconheci- Essa instância é o Estado. Não cabe aqui examinarmosas diferen-
dos por todos. A declaração de direitos inscreve os direitos no so- tes concepções clássicas da teoria do direito natural e civil, da te-
cial e no político, afirma sua origem social e política e se apresen- oria do contrato social e da teoria do Estado como legislador e
| ta como objeto que pede o reconhecimento de todos, exigindo o árbitro. O ponto que nos interessa aqui é apenas aquele no qual
| consentimento social e político. os teóricos modernos tendem a identificar o estado de natureza
| Dissemos que a prática política da declaração de direitos com o estado do medo generalizado e a idéia de que a criação
ocorre em ocasiões muito precisas. De fato, na modernidade, en- do direito civil e do Estado é um feito racional, ditado pelos inte-
contramos declarações de direitos em situações revolucionárias: resses dos homens face ao medo da violência. Esse ponto nos in-
as revoluções inglesas de 1640 e 1688; a independência norte- teressa porque a admissão do Estado como instância racional ca-
americana; a Revolução Francesa de 1789; a Revolução Russa paz de, pelas leis e pelo direito positivo, garantir a vida, a igual-
|
de 1917. Tambémencontramos a declaração de direitos no perío- dade e as liberdades dos homens, articulará a teoria jurídica a três
hi
vertentes políticas antagônicas:
do posterior à Segunda Guerra Mundial, isto é, ao fenômeno do
totalitarismo nazista e fascista, que conduzem à Declaração dos
* vertente republicano-democrática: julga que o direito civil
Direitos Humanos de 1948. Dessa forma, a confirmação de que
só poderá garantir os direitos naturais se mantiver os dados
os direitos do homem se tornaram uma questão sócio-política es-
que constituem tal direito, isto é, a igualdade e a liberdade:
| tá no fato de que as declarações dos direitos ocorrem nos momen- * vertente da monarquia constitucional: que considera que
n tos de profunda transformação social, quando os sujeitos sociais somente o poder legal centralizado no monarca e nas insti-
têm consciência de que estão criando uma sociedade nova ou de- tuições monárquicas é capaz de asseguraros direitos naturais;
fendendo a sociedade existente contra a ameaça de sua extinção. * vertente absolutista: que tende a apagar os direitos naturais
Enfim, o fato de que os direitos precisem ser declarados e que se- e os civis e a assumir, assim, perante o constitucionalismo
jam declarados nessas ocasiões, indica relações profundas entre moderno, as características da tirania.
os direitos humanos e a forma do poder, a definição da violên-
|| cia e do crime e o medo. Em outras palavras, a moderna teoria dos direitos desem-
boca numa concepção jurídico-constitucional da política que se
torna o padrão para avaliar os regimes políticos e serve para re-
H definira tirania: esta, longe de ser encarada comoresultadoda ação
demoníaca de um homem viciosoe perverso, aparece como política
Retornemos ao nosso ponto de partida. na qual os direitos naturais desapareceram, os direitos civis não se
Dissemos que o advento da sociedade moderna altera o constituíram e a regra sócio-política é a da opressão, entendida
sentido do medo, que se torna muito mais difuso do que antes, como apropriação privada daquilo que seria público e comum a todos
assume um conteúdo não só psicológico, mas ainda sócio-políti- os membros da sociedade. A avaliação não se refere mais às quali-
co e se manifesta como medo da violência dos indivíduos contra dades do governante e sim àsdasinstituições sócio-políticas. Assim,
os indivíduos, medo do poder e medo do tempo. E nesse contexto que a noção de direito natural e civil, natural e positivo serve de medi-
MARILENA CHAUI 23
22 DIREITOS HUMANOS E MEDO
da para avaliar os regimes políticos e não será casual que mui- contra preconceitos e superstições, liberando o espírito dos ho-
tos teóricos distingam esses regimes segundo a presença ou ausên- mens de medos trazidos sobretudo pela religião e pela ignorância;
2) na criação do Goden omo poder gúblicoy legal que, nascido
guga eeme
ai? cia de medo. Dirão muitos que umregime político é livre ou repu-
blicano quando nele os cidadãos agem em conformidade com a do consentimento dE seus criadores, seja por eles respeitado e obe-
* lei porque se reconhecem como origem ou como autores das leis decido segundo padrões que eles próprios estabeleceram; 3) no
segundo seus direitos; e, será tirânico o regime político no qual reconhecimento por parte de cada homem e de todos eles, assim
como pelo poder público, de que fodo indivíduo“nasce Yom direi- j
os cidadãos obedecem às leis por medo dos castigos, sendo por
1d isso tomados como escravos, uma vez que, perante o direito, é tos invioláveis, os quais ele pode ou nao alienar a outros, e cujo
ri
escravo aquele que vive sob o poder de um outro homem e reali- desrespeito configura violência e opressão que os homens têm o
za os desejos de outrem como se fossem os seus próprios. direito de combater e vencer. Por isso, com muitos humanistas e
A existência das três vertentes do pensamento político é im- clássicos, nasce a idéia do direito de resistência à opressão e à
portante para compreendermos o ressurgimento e o fortalecimen-
to das teorias do direito natural e do direito civil nas discussões migrar está no fato de conterem dentro de si mesmas uma teo-
do pensamento da Ilustração, no século XVIII, que permitiram, : Finalmente, um
com a Revolução Francesa, afirmar que os regimes não-constitu- outro ponto importante nessas teorias é que, em sua maioria, não
cionais eram o Antigo Regime. Este, caracterizado como opressão constituem teorias jurídicas da política'e sim teorias políticas que
e violência, é definido como regime fundado no medo. Ao mes- carregam em seuinterior um forte componente jurídico, pois colo-
mo tempo, podemos compreender um fenômeno interessante, cam os direitos naturais e os direitos civis no centro da ação polí-
qual seja a posição de alguns teóricos, como é o caso de Rousse- tica e sobretudo conferem noção de lei o papel de eliminar o
au, que tenderão a ver na simples existência do poder de Estado social e político. Isto significa, donde o of O desses
e memarspree—
a destruição dos direitos naturais e seu desvirtuamento pelos direi- pensadores, que a posição de um pólo político separado da socie-
tos civis que nada mais seriam senão a transformação em lei e dade, no qual esta possa superar suas divisões internas e perceber-
emdireito positivo da desigualdade social, da opressão e da vio- se unificada, confere à legalidade o estatuto da legitimidade: a lei
lência. Dessa forma, ao otimismo dos teóricos clássicos do sé- se anuncia como a visibilidade sócio-política da justiça. Nessa
culo XVII se contrapõe o pessimismo de muitos pensadores do perspectiva, onde houver medo haverá injustiça, onde houver in-
século XVIII que viram no Estado a impossibilidade de concreti- justiça haverá ilegalidade, onde houver ilegalidade haverá tirania
parte dos
rhaveráo direito de resistência por
vw
zar os direitos humanos, pois o Estado seria instrumento de opres- Tonde
houve
são dos mais fracos pelos mais fortes. “cidadãos que poderãorest; aldade e a liberdade que os
Antes de retomarmos essa problemática, que será a terceira efine naturalme isse otimismo republicano que vigorará na
parte de nossa exposição, examinemos o otimismo dos humanis- Revolução Francesa e que sustenta a declaração dos direitos do
tas da Renascença e dos pensadores clássicos do século XVII. homem e do cidadão, isto é, os direitos naturais e os direitos ci-
“Humanistas e clássicos tenderam, como vimos, a acompanhar a vis, é o que desaparecerá quando, no século XIX, os movimentos
dessacralização da realidade sócio-política e a conceber a socieda- populares e proletários revelarem a injustiça dasleis e a inexistên-
de a partir de suas divisões internas; vimos que Maquiavel fala- cia concreta dos direitos declarados nas várias revoluções.
va na divisão originária da sociedade entre os Grandes e o Povo Via (edtiveds)
e podemos mencionar o pensamento de Espinosa, o qual toma co-
mo ponto de partida os indivíduos e afirma que todo indivíduo, HI
por natureza, deseja governar e não ser governado. Quer sejam
contratualistas como Hobbes, Grotius, Locke, quer não sejam Sabemos que um dos pontos mais importantes da discus-
contratualistas como Maquiavel e Espinosa, os pensadores dos sé- são de Marx sobre a sociedade moderna encontra-se na questão
culos XVI e XVII estão convencidos de que a possibilidade de relativa ao poder. Marx indaga: Como se dá a passagem da rela-
vencer o medo reinante entre os/homens encontrasse na satisfação ção pessoal de dominação à dominação impessoal por meio do
de três condições: 1) no desenvolvimento da (az como vitória Estado e, portanto, da lei e do direito? Comose explica que a rela-
24 DIREITOS HUMANOS E MEDO
1
do como diferenças de interesses entre indivíduos privados. Em ses democráticos, autoritários e totalitários. Indaguemos se nas
segundo lugar, o ocultamento da divisão de classes se faz pelo sociedades contemporâneas esses direitos podem ser respeitados.
Estado, que está encarregado, através da lei e do direito positivo, Não mencionemos também a manipulação das consciências pelos
de garantir as relações jurídicas que regem a sociedade civil, ofe- meios de comunicação de massa, pelo consumo, pela indústria
recendo-se comopólo de universalidade, generalidade e comuni
da- da opinião pública. Indaguemos se, no modo mesmo comose or-
de imaginárias. A resposta de Marx enfatiza que o estado de di- ganiza a divisão social do trabalho, o trabalho fabril, o trabalho
reito é uma abstração, pois a igualdade e a liberdade postula
das nas instituições de serviço público ou privado (como na saúde e
pela sociedade civil e promulgadaspelo Estado não existem. Nes- na educação), esse direito pode ser respeitado. A resposta será
sa perspectiva, os direitos do homem e do cidadão,
além de serem negativa. De fato, sob os imperativos da divisão social do traba-
ilusórios, estão a serviço da exploração e da dominação, não
sen- lho em manual e intelectual, sob os imperativos da divisão dita
do casual mas necessário que o Estado se ofereça como máquin
a científica do trabalho fabril, sob os imperativos técnico-administra-
repressiva e violenta, fazendo medo aos sem-poder, uma
vez que tivos e burocráticos que regem a administração dos serviços públi-
o Estado e o direito constituem-se no poderio particular da clas-
cos e privados, os cidadãos são diferenciados em duas grandes
se dominante sobre as demais classes sociais.
categorias: a dos dirigentes, que sabem e que têm o direito ao
A verdade das colocações de Marx transparece quando
exa- uso da razão, e a dos executantes, que, considerados como
minamostanto a declaração dos direitos de 1789 quanto a declara os
- que nada sabem, não têm direito ao uso da razão. Essa divisão
ção dos direitos humanos de 1948, pois em ambas a proprie
dade social entre competentes e incompetentesçião fere apenaSyas decla-
rações dos direitos humanos, mas também um dos mais importan
-
MARILENA CHAUI 27
26 DIREITOS HUMANOSE MEDO
pendência, da tutela, da concessão, da autoridade e do favor, k vontade e o arbítrio são as marcas do governoe das instituições
fazendo da violência simbólica a regra da vida social e cultural. “públicas”. Donde o fascínio dos teóricos e dos agentes da '*mo-
Violência tanto maior porqueinvisível sob o paternalismoe o clien- dernização”” pelos modelos tecnocráticos que lhes parecem dota-
telismo, considerados naturais e, por vezes, exaltados como quali- dos da impessoalidade necessária para definir o espaço público.
dades positivas do ““caráter nacional””. Donde também a esdrúxula designação do autoritarismo brasilei-
E uma sociedade na qual as leis sempre foram armas para ro (e latino-americano, em geral) pelos cientistas políticos como
preservar privilégios e o melhor instrumento para a repressão e a ““novo autoritarismo”, porque a figura do caudilho carismático
opressão, jamais definindo direitos e deveres. No caso das cama- está ausente, sem que se perceba que é a estrutura do campo so-
tm omni
das populares, os direitos são sempre apresentados como conces- cial e do campo político que se encontra determinada pela indistin-
são e outorga feitas pelo Estado, dependendo da vontade pessoal ção entre o público e o privado. E donde, também, o equívoco
ou do arbítrio do governante. Situação que é claramente reconhe- daqueles que apresentam o “novo autoritarismo”” como divórcio
cida pelo trabalhadores quando afirmam que “'a justiça só existe entre sociedade civil e Estado, sem levarem em conta que a socie-
para os ricos”, e que tambémfaz parte de uma consciência so- dade civil também está estruturada por relações de favor, tutela
cial difusa, tal como se exprime num dito muito conhecido no país: e dependência, imenso espelho do próprio Estado, e vice-versa.
*“*para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei””. Como conseqiiên- Conseqiientemente, é uma sociedade na qual a luta de clas-
cia, é uma sociedade na qual as leis sempre foram consideradas ses é identificada apenas com os momentos de confronto direto
inúteis, inócuas, feitas para serem violadas, jamais transformadas entre as classes — situação na qual é considerada “questão de
ou contestadas. E onde a transgressão popular é violentamente re- polícia” — , sem que se considere sua existência cotidiana atra-
primida e punida, enquanto a violação pelos grandes e poderosos vés das técnicas de disciplina, vigilância, repressão, realizadas
sempre permanece impune. por meio das próprias instituições dominantes — isto é, quando
Nessa sociedade não existem nem a idéia nem a prática da a luta de classes é encarada como '“*questão de política””.
representação política autêntica. Os partidos políticos sempre to- As disputas pela posse da terra cultivada ou cultivável são
mam a forma clientelística (a relação entre inferiores e superiores resolvidas pelas armas e pelos assassinatos clandestinos. As desi-
sendo a do favor), populista (a relação sendo a da tutela) e, no gualdades econômicas atingem a proporção do genocídio (está pre-
vista a morte de mais de 5 milhões de pessoas no Nordeste, víti-
sy
caso das esquerdas, vanguardistas (a relação sendo a de substitui-
ção pedagógica, a vanguarda ““esclarecida”” tomando o lugar da mas da desnutrição e da fome absoluta). Os negros são considera-
classe universal ““atrasada””). dos infantis, ignorantes, raça inferior e perigosos, representados
Situação que marca profundamente a vida intelectual e artís- pela cultura letrada branca na imagem do Arlequim, e assim defi-
tica, os intelectuais — na maioria, oriundos das classes médias nidos numa inscrição gravada na Escola de Polícia de São Paulo:
urbanas — oscilando entre a posição de ilustrados (definindo pa- *““Um negro parado é suspeito; correndo, é culpado”. Os índios,
ra si próprios o “*direito ao uso público da razão””, isto é, a opi- em fase final de extermínio, são considerados irresponsáveis (is-
nião pública) e de Vanguarda Revolucionária (definindo para si to é, incapazes de cidadania), preguiçosos (isto é, mal-adaptáveis
próprios o papel de educadores da classe trabalhadora), mas sem- ao mercado de trabalho capitalista), perigosos, devendo ser exter-
pre fascinados pelo poder — identificado ao Estado — e pela tute- minados ou, então, ““civilizados"” (isto é, entregues à sanha do
la estatal, reduzindo-se a **funcionários do universal””, para usar- mercado de compra e venda da mão-de-obra, mas sem garantias
mos a expressão de Hegel (isto é, à burocracia, como lembra trabalhistas porque ““irresponsáveis”"). E, ao mesmo tempo, des-
Marx), embora desejassem a posição de funcionários da “Razão de o romantismo, a imagem índia é apresentada pela cultura letra-
na História”. da como heróica e épica, fundadora da ““raça brasileira””. Os tra-
É uma sociedade, consegientemente, na qual a esfera pú- balhadores rurais e urbanos são considerados ignorantes, atrasa-
blica nunca chega a constituir-se como pública, definida sempre dos e perigosos, estando a polícia autorizada a parar qualquer tra-
e imediatamente pelas exigências do espaço privado, de sorte que . balhador nas ruas, exigir a carteira de trabalho e prendê-lo **para
MARILENA CHAUI 31
30 DIREITOS HUMANOS E MEDO
averiguação”, caso não esteja carregando identificação profissio- Curiosamente, tais situações não são designadas por seu ver-
dadeiro nome, isto é, como luta de classes (pois se trata da domi-
nal (se for negro, além de carteira de trabalho, a polícia está auto-
rizada a examinar-lhe as mãos para verificar se apresentam “*si- nação de classe por meio das instituições e da ideologia; isto é;
nais de trabalho”” e a prendê-lo, caso não encontre os supostos a luta de classes conduzida pela classe dominante). Fato significa-
“sinais””). Há casos de mulheres que recorrem à justiça por espan- tivo do autoritarismo social que encara essas situações como natu-
rais ou, quando muito, na linguagem dosuniversitários, como ““a-
camento ou estupro, e são violentadas nas delegacias de polícia,
sendo ali novamente espancadas e estupradas pelas “autoridades”. nomia”. Não menos significativo é o fato de que os políticos e
Isto para não falarmos da tortura, nas prisões, de homossexuais, jornalistas empreguem a expressão ““luta de classes" no singular,
prostitutas e pequenos criminosos. Numapalavra, as classes ditas isto é, “luta de classe”, indicando que a luta e o conflito, quan-
“subalternas”” de fato o são e carregam os estigmas da suspeita, do se exprimem abertamente, são um feito da violência trabalha-
da culpa e da incriminação permanentes. Situação ainda mais ater- dora ou popular.
radora quando nos lembramos de que os instrumentos criados pa- É uma sociedade na qual a população das grandes cidades
ra repressãoe tortura dos prisioneiros políticos foram transferidos se divide entre um ““centro”” e uma “periferia”, o termo periferia
para o tratamento diário da população trabalhadora e que impera
sendo usado não apenas no sentido espacial-geográfico, mas so-
uma ideologia segundo a qual a miséria é causa de violência, as cial, designando bairros afastados.nos quais estão ausentes todos
classes ditas “desfavorecidas” sendo consideradas potencialmen- os serviços básicos (luz, água, esgoto, calçamento, transporte, es-
cola, posto de atendimento médico), situação, aliás, encontrada
te violentas e criminosas.
Preconceito que atinge profundamente os habitantes das fave- no ““centro””, isto é, nos bolsões de pobreza, as favelas. Popula-
ção cuja jornada de trabalho, incluindo o tempo gasto em trans-
RiSOceAC dn
rm a
De uma forma mais ou menos acentuada, este processo perpassa
todos os patamares da pirâmide social em que os mais ricos procu- Num estudo sobre leituras feitas por operárias, Eclea Bosi
ram diferenciar-se e distanciar-se dos mais pobres. Mas a favela verificou que a maioria das mulheres casadas desejaria ler, mas
recebe de todos os outros moradores da cidade um estigma extre- que elas não podem realizar esse desejo por absoluta falta de tem-
mamente forte, forjador de uma imagem que condensa todos os po, em decorrência da dupla jornada; ora por fadiga, que as faz
males de uma pobreza que, por ser excessiva, é tida como vicio- adormeceremsobre livros e revistas; por deficiência visual causa-
sa e, no mais das vezes, também considerada perigosa: a cidade da pelo cansaço e pela rotina doserviço fabril; pela falta de recur-
olha a favela como uma realidade patológica, uma doença, uma sos financeiros para comprar livros, revistas e jornais.
praga, um quisto, uma calamidade pública." É uma sociedade na qual a estrutura da terra e a implanta-
ção da agroindústria criaram não só o fenômeno da migração,
mas figuras novas na paisagem dos campos: os sem-terra, volan-
(*) Kowarick L, Espoliação Urbana, op. cit, pp. 92-93. E ainda: “O fato de
ser favelado tem desqualificado o indivíduo da condição de habitante urbano, pois re- tes, bóias-frias, diaristas sem contrato de trabalho e sem as míni-
tira-lhe a possibilidade de exercício de uma defesa que se processa emtorno da questão mas garantias trabalhistas. Trabalhadores cuja jornada se inicia
da moradia. Ocupante de terra alheia, o favelado passa a ser definido por sua situação por volta das três horas da manhã, quando se colocam à beira das
de ilegalidade e sobre ele desaba o império draconiano dos direitos fundamentais da
sociedade, centrados na propriedade privada, cuja contrapartida necessária é a anula-
estradas à espera de caminhões que irão levá-los ao trabalho, e
ção de suas prerrogativas enquanto morador. Assim, nem nesse aspecto mínimo o fa- termina por volta das seis horas da tarde, quando são depositados
velado tem aparecido enquanto cidadão urbano, surgindo aos olhos da sociedade co- de volta à beira das estradas, devendo fazer longotrajeto a pé até
mo um usurpador que pode ser destituído sem possibilidade de defesa, pois contra a casa. Frequentemente, os caminhões se encontram em péssimas
ele paira o reino da legalidade em que se assenta o direito de expulsão”. — idem, ibi-
dem, p. 91. condições e são constantes os acidentes fatais, em que -morrem
32 DIREITOS HUMANOS E MEDO 33
MARILENA CHAUI
dezenas de trabalhadores, sem que suas famílias recebam qual- de repúblicas democráticas (mesmo que seja a democracia formal
quer indenização. Pelo contrário, para substituir o morto, um no- proposta pelo liberalismo), tanto assim que cada um dos direitos
vo membro da família — crianças ou mulheres — é transforma- declarados tem como referência a existência de um poder públi-
— en-
do em novo volante. Bóias-frias porque sua única refeição co generalizador que opera segundo a lei, e também pressupõe
tre as três da manhã e as sete da noite — consta de uma ração
dos nas primeir as que os homens, com seus direitos ali declarados, são cidadãos
de arroz, ovo e banana, já frios, pois prepara
trazer a bóia fria, Ora, o autoritarismo brasileiro torna impossível a existência de
horas do dia. E nem sempre o trabalh ador pode
re- cidadãos, torna inexistente a figura do poder e da lei exigidos co-
e os que não trazem se escondem dos demais, no momento da mo pressupostos da Declaração dos Direitos Humanos; consegiien-
feição, humilhados e envergonhados. pi no Brasil, ocorre uma espécie de impossibilidade estrutu-
ta-
Por fim, é uma sociedade que não pode tolerar a manifes aeE estabelecimento, o respeito e a manutenção dos direitos
s
ção explícita das contradições, justamente porque leva as divisõe
e desigualdades sociais ao limite e não pode aceitá-l as de volta,
(à ma- | Havíamosdito que uma contradição perpassa a idéia de di-
sequeratravés da rotinização dos “conflitos de interesses'” reitos do homem e do cidadão nas sociedades modernas, qual seja
de
neira das democracias liberais). Pelo contrário, é uma socieda a contradição entre o fato de que o poder do Estado é “na uns
às contrad ições produ-
onde a classe dominante exorciza o horror de, poderio particular de uma classe social, enquanto os direitos
pe-
zindo uma ideologia da indivisão e da união nacionais, razão se referem aos homens universalmente, devendo ser garantidos
la qual a cultura popula r tende a ser apropri ada e absorvi da pelos
comotais por um poder que,de fato, não tem condições de garan-
dominantes através do nacional-popular. ti-los em sua universalidade. Dissemos também que essa contradi-
Nesse contexto, não só podemos compreender por que exis- ção é essencia! para a história dos direitos humanos civis por-
pe-
te o que chamei de divisão social do medo, mas também algo que, se é verdade que o Estado está preso aos interesses de uma
Brasil, até hoje, não se conseg uiu
culiar, isto é, o fato de que no classe, também é verdade que, contraditoriamente, não pode dei-
ia-
ultrapassar aquilo que foi a tônica do processo inicial da industr xar de atender aos direitos de toda a sociedade, pois não o fazen-
sta: a visão das classes popular es como classes pe-
lização capitali do perde legitimidade e se mostra como puro exercício da força
rigosas que não são caso de política e sim de polícia. Na medida
«
e da violência. Essa contradição é a chave da democracia oder
em que vivemos numa sociedade autoritária — na qual não se ins- na,pois a classe dominante moderna, liberal ou conservadora, ja-
-
tala a dimensão pública e coletiva da lei; os direitos são entendi mais foi nem pode ser democrática, e, se as democracias fizer :
interes ses dos dominan tes; o poder jamais
we
dos comoprivilégios e um caminho
pelos direi histórico, isto se deve jus
> E
se constituiu como poder público e instância coletiva de definição a
do justo e do injusto, do possível e do impossível, do permitido reconhecidos e respeitados. A luta popular pelos direitos e pela
e do proibido, do presente, do passado e do futuro; mas se reduz
e criação de novos direitos tem sido a história da democracia mo-
ao exercício privado da força e do privilégio — compreende-s derna. Disso gostaríamos de retirar duas conseqiiências:
que o medo assuma duas direçõe s principa is: o alto teme o baixo
o; Em primeiro lugar, observamos que a Declaração dos Direi-
como perigo de perda de força, privilégio, prestígio e domíni tos Humanos de 1948 é, afinal, uma declaração de direitos civis
o baixo teme o alto como pura violência, arbítrio e injustiç A a.
pois,embora se refira a direitos universais da pessoa humana sua
luta de classes se exprime como medo. Os grandes têm medo de referênciaé a existência de poderes públicos que possam garantir
é
perder o privilégio da violência e por isso afirmam que o povo
violento e perigoso — as classes popular es são vistas como agen- esses direitos, de sorte que o pressuposto da garantia política dos
direitos humanosos transforma em direitos civis — o que é com-
tes do medo. Os pequenos têm medo de que a injustiça aumente, preensível, pois, como dissemos no início desta exposição, a mar-
per-
que os grandes não tenham freios no exercício da violência, e ca da modernidade é a descoberta da origem, da formae do conte-
cebem, com clareza ou confusamente, que os grandes são os agen-
údo sociais-históricos do poder e dos direitos. Essa confluência
tes do medo. E é compreensível que assim seja. dos direitos humanos e dos direitos civis significa que a luta por
De fato, quando se lê a Declaração dos Direitos Humanos
de 1948 percebe-se que a carta dos direitos pressupõe a existência
35
MARILENA CHAUI
DO
DIREITO HUMANOS E ME
34
e se organizar politicamente e de participar das decisões, rom-
considerarmos Os esforços pendo a verticalidade hierárquica do poder autoritário. Por outro
Seria injusto e parcial des no sen tid o e u i a ão
brasileira e - lado, no registro social, observa-se que as lutas não se concentram
por uma parte da sociedade pmíti c p
i ucesso de muiitastas lutas sociais e pol E apenas na defesa de certos direitos ou sua conservação, mas são
rit i smo. O ins
itarari jun to
trário, s revela o) con lutas para conquistar o próprio direito à cidadania e constituir-se
i a esses esforços, pelo con
lid nia tê
lut as pelas conquistas da cidada comosocial.o que é particularmente visível nos movimen-
los à transformação. As eis sim ult âne os e dif erentes:
anos, em três nív tos populares e dos trabalhadores.
,
se efetuado, nos últimos
A segunda conseqiiência que gostaríamos de assinalar decor-
abelecimento de uma ordem re da anterior e se relaciona com a existência de Justiça e Paz.
1) como exigência do est os po
co, na qual os cidadã Dissemos, no início, que a marca fundamental da moderni-
legal de tipo democráti N i so o
s de perde dade é a passagem da comunidade à sociedade e que essa passa-
s+ da vida política atravé do a
raii o € Eça
licando uma dim
impli i nuição
imi gem é a descoberta de que o social e o político são obras da pró-
+ voto, imp ou ap
i
Executivo cio do Poder Legislativo
em benefífci pria sociedade e da política e que são obras históricas. Em outras
á ref ito :
re erida ao dire
tos. Nesse nív Í el, a cid i adania esttá palavras, dissemos que a modernidade é a descoberta de que não
representa
tanto como direito a ser há fundamentos transcendentes para a sociedade e para a política
representação política, a
eito a ser representant te;e, e que a destruição do Antigo Regime e o nascimento do Estado
omo dir irei de n e=
do est abe lec ime nto Moderno representaram a dessacralização e desnaturalização da
ii 2) como exigência sie
, soc iai s, eco nôm icas, Sa e sociedade e do poder. Isto significou, historicamente, o desapare-
dividuais 1 cre
as geraúis definem O est
ado de iireito ondde e cimento do poder teológico-político, o cruzamento entre o Esta-
€ O o R a
os e respeitados -
do e a Igreja — ou as igrejas, uma vez que oprocesso inclui o
dá pps conservad udo
etud o na defesa
el ê
a ênf ase recai1 sob ret
sobr protestantismo, ainda que tenham sido os protestantes radicais os
y est e nív est and o
ade do Pod ário, a cidadania promotores da separação Igreja-Estado, separação que não era de-
da e liberd É
er JudiciNi e
a : 36 ade s civ is; ejada nem pelos líderes protestantes nem pela Igreja de Roma.
da aos direitos € liberd um a
do estabelecimento de Vimos também que tal separação, ao laicizar o poder, modificou
Ao 3) como exigência pus4
tinado à a o conteúdo do medo e fez nascer a idéia moderna dos direitos.
modelo econômico des só $se des faç a ex -
i al, de tal modo que n ão iante do processo histórico, como explicar a existência de uma
nda nacion a paia Ee
ueza e seja modificada instituição como Justiça e Paz? Ela se explicaria em decorrência
a concentração da riq exi gên cia de ae
retudo na da fraqueza institucional da sociedade brasileira e da inexistência
* cial do Estado, mas sob seus s Interesse ão to
defendero de um Estado republicano? Ou pelo fato de que a Igreja Católica
or ses trabalhadoras pos sam iE s, sindic
SOciai aais € p p não é monolítica, surgindo de sua divisão interna a possibilidade
ime s s soc
ntonto
tanto através dos movime : de parte de seus membros colocarem o problema da injustiça e
Ja par tic ipa ção direta nas e
úbli bal ho. ANes te nív el, a ci-; consequentemente o dos direitos? Por outro lado, sendo Justiça e
€ tra
ida a é de
e
nentes às condições de vid a Paz uma instituição de origem religiosa, como se realiza em seu
rgência apo
dadania surge como eme as ; p ss interior a dessacralização e desnaturalização dos direitos, condi-
ído
d s de> todto as
dores (desde sempre excluí ica ções para o surgimento da moderna cidadania? Finalmente, se os
stão de justiça social e econôm
rias no Brasil) e como que direitos nasceram no momento em que o medo à transcendência
divina deslocou-se para o medo à transcendência do poder políti-
co, e se os direitos se puseram contra o medo, qual a-compatibili-
Assim, representação, Herdade&raraquestão
euntantaro
cesa r do ira r
a rse dade entre concepção moderna dos direitos humanos e o fundote-
ológico que caracteriza o fiel ou a pessoa religiosa como temen-
i . Quando id a
s o er Dê Sap te a Deus? Em suma, como uma sociedade e uma política laicas
im aopg podem ser compatíveis com uma concepção religiosa dos direitos
pg Ra do homem? Essas são perguntas que deixo para nosso debate.
o àMis 180 eia o A
asSaoe
do Estado, mas é luta pel
identificado com o poder