Você está na página 1de 2

UFBA-2019, Avaliação da Disciplina FHC 001 – Introdução a Filosofia - T16, Professor Saulo Dourado

Estudante: Jobson Pereira de Jesus

O Ponto de Mutação, Hanna Arendt, Blade Runner e a humanidade


- algumas considerações -

O filme, o Ponto de Mutação aborda um diálogo de três pessoas e, se passa em um castelo medieval
na França. Essas pessoas são norte-americanas e fazem parte de núcleos sociais diferentes. A
primeira, é um senador, sente-se desmotivado com a política, lamentando não ter discurso próprio,
repetindo os discursos escritos por seus assessores ou, diz o que as pessoas querem ouvir. A segunda,
é um professor de literatura e escritor (poeta) que se sente na crise de meia idade. Ele veio para a
França para fugir da competitividade das grandes cidades. A terceira, é uma cientista, especialista em
Física que vive uma crise existencial ao ver a intenção do uso militar em sua pesquisa. Ao se
encontrarem numa sala do castelo onde existe um imenso relógio antigo, este torna-se o tema inicial
de toda a discussão. A cientista é convidada a entrar na conversa, iniciada pelos dois amigos. Logo
que entra na conversa, ela faz uma dura crítica sobre a maneira cartesiana em que os políticos de
modo geral veem a natureza. Afirma que os políticos descrevem a natureza, assim como, Descartes o
fazia, ou seja, como um relógio, onde é possível reduzi-la a um monte de peças, em que, analisando
cada parte, seria possível entender o todo. Em sua crítica, prossegue afirmando que essa ideia é
antiga e ultrapassada e, que, devemos mudar nossa visão de mundo ´cartesiana´. O mundo tem que
ser visto como um todo, através das relações existentes entre cada objeto que compõem a natureza
e, da qual fazemos parte, fazemos parte dessas relações que são complexas, não mecanizadas,
simplistas. (...). Não se pode olhar em separado os problemas globais tentando entendê-los e resolve-
los separadamente. Deve-se entender as conexões, para depois resolver os problemas. Com isso se
consegue pensar em um mundo com crescimento sustentável, com melhores condições para todos. O
político, simpático com algumas ideias da cientista, apresenta a grande questão da trama: como
concretizar essas ideias na política, como fazer com que as pessoas (os eleitores) consigam
entender. A resposta da cientista aparentemente simplista: “mudando nossa maneira de ver o
mundo”, apresenta a transversalidade da educação e a importância de ser trabalhada como uma
grande teia ligada a diferentes saberes, sobretudo, de pensar e julgar, a fim de favorecer a análise
de fenômenos, revelando, nessa sua resposta, uma sintonia sobre o papel do filosofo ou da filosofia
segundo Hanna Arendt, onde o educador é o responsável por instruir os seres num mundo cada vez
mais massificado e distante dos verdadeiros valores da tradição, que acabaram entrando em colapso
(o julgar, o pensar) dando lugar a alienação, a comportamentalização da consciência, processo que
facilita a banalização do mal nas sociedades atuais, segundo o pensamento da filosofa, apresentado
no filme Arendt. Para Hannah os Estados Unidos dos anos 50 é um sonho realizado, depois de
chegar lá com seu marido Heinrich como refugiados de um campo de concentração nazista na
França. Nos EUA, surge a oportunidade de cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann para
a The New Yorker. Ela escreve sua avaliação sobre o caso e outros fatos desconhecidos, e a revista
separa tudo em 5 artigos. Porém, aí começa o drama de sua vida, pois nos artigos mostra que nem
todos que participaram dos crimes de guerra eram verdadeiros monstros, segundo ela, judeus
também estavam envolvidos e ajudaram na matança dos seus iguais. A sociedade se volta contra ela
e a New Yorker, e as críticas são tão fortes que até mesmo seus amigos mais próximos se assustam.
Arendt esperava encontrar no tribunal um monstro humano, através do qual o mal se manifestava.
No entanto, se deparou com um burocrata, um criminoso de escrivaninha, cuja banalidade a
surpreendeu. As reportagens que escreveu da sala do tribunal foram objetivas, frias e perturbadoras.
Os críticos a acusaram de indiretamente fazer das vítimas corresponsáveis ao dizer que teriam se
comportado de maneira excessivamente passiva ou até cooperativa. Na “desdemonização” de
Eichmann feita por Arendt, muitos observadores viram uma minimização da periculosidade do réu.
Na verdade, ela argumentava como a filósofa, a pensadora que foi durante toda a vida. Seu modo de
ver o mundo gerou controvérsia, fazendo com que até mesmo amigos e companheiros se afastassem.
1
UFBA-2019, Avaliação da Disciplina FHC 001 – Introdução a Filosofia - T16, Professor Saulo Dourado
Estudante: Jobson Pereira de Jesus

A tese da “banalidade do mal” tornou-se um tema central abordado em Hannah Arendt. Nessa
perspectiva do pensar e do julgar, o filme Blade Runner apresenta uma questão importante para toda
humanidade, que é a relação do homem com o futuro, onde o automatismo e a desumanização se
apresentam como um ´perigo iminente, levando o homem contemporâneo a tornar-se maquina, sem
ética, ou seja, sem pensamento próprio, capacidade de julgar, de refletir, suscetível a ideias absurdas
e violentas, a exemplo de Eichmann na análise de Arendt, suscitando nossa consciência a se
perguntar o que nos faz humanos? O ponto certamente importante, do/no filme, é encontrar e
"reformar" os replicantes, esses humanoides, que, desafiando o equilíbrio entre homens e máquinas,
podem ser as sementes (o simbolismo da palavra não se perdeu nesta sequela) de uma nova ordem
social. O essencial decorre da sensação crescente, porventura ainda mais intensa do que no primeiro
filme, de que a "reforma" dos replicantes deixou de ser a mera aplicação de uma lei humana,
ilustrando antes uma angustiada interrogação: até que ponto todas as personagens pertencem já a um
mundo onde a fronteira entre humanos e replicantes se tornou definitivamente instável? Pormenor
sintomático: Gosling dá pelo nome de K, por certo, herdando o fantasma de Josef K., o "herói" de
todas as alienações, inventado há um século por Franz Kafka. Em boa verdade, este é um mundo de
hipóteses fantasmáticas. A saber: a transformação da organização económica em sistema policial, o
triunfo das máquinas sobre a vulnerabilidade humana, enfim, a redução do amor à instrumentalização
do sexo. Moral da história: o futuro está demasiado próximo dos medos do nosso presente. Caminha-
se para a massificação da sociedade e o totalitarismo, permitindo o desenvolvimento de uma multidão
que cumpre ordens sem questionar, uma massa incapaz de fazer julgamentos morais e éticos, onde a
intolerância religiosa, de gênero e outras injustiças sociais são exemplos que já se fazem presentes em
nossa sociedade.

Referências bibliográficas:

ARENDT, Hannah. A condição Humana, 11ª edição – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
https://www.dn.pt/artes/interior/o-futuro-de-blade-runner-e-igual-ao-nosso-presente-8820899.html,
consultado em 22/09/2019.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/520508-o-pensamento-de-hannah-arendt-em-um-filme-
fascinante, consultado em 22/09/2019.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20701999000100007, consultado em
22/09/2019.
http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/sobre-a-banalidade-do-mal/, consultado em
22/09/2019.
http://catolicadeanapolis.edu.br/revmagistro/wp-content/uploads/2013/05/O-PAPEL-DO-
EDUCADOR-NA-CONCEP%C3%87%C3%83O.pdf, consultado em 22/09/2019.
http://www.cienciamao.usp.br/tudo/exibir.php?midia=lcn&cod=_filmepontodemutacao, consultado
em 22/09/2019.

Você também pode gostar