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TÓPICOS EPECIAIS-IV – Teoria do Conhecimento (Teoria da Filosofia)

Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS-Campus de Erechim


Prof. Dr. Márcio Soares –

Aluno: Renato Escobar de Escobar

Memória das Aulas - modo remoto-Semestre 1/2021 (ref. ao semestre 2/2020)

18/02/2021- Apresentação dos tópicos a serem debatidos no semestre, bem como uma
breve descrição das formas das avaliações. No semestre será abordada a autora, filósofa
e cientista política, Hannah Arendt, e sua obra “A Vida do Espírito”. No decorrer
também serão pincelados aspectos de outras obras da autora, como: A Dignidade da
Política, Compreender, Eichmann em Jerusalém, e outras.
Também foi comentado sobre a importância de assistir a uma entrevista dada pela
autora a Günter Gauss, disponível no YouTube em
(https://www.youtube.com/watch?v=PG8BYwv9IBQ), bem como ao filme “Hannah
Arendt”, de 2013, estrelado por Barbara Sukowa, também disponível no Youtube em
(https://www.youtube.com/watch?v=LYGVAFKpvXM&t=291s). (no Brasil o filme
leva o nome de “Hannah Arendt, ideias que chocaram o mundo”). Neste filme a atriz
Janet McTeer faz o papel de Mary McCarty, sua amiga e editora, até o final da vida, e
que aparece no livro A Vida do Espírito.
Também foi comentado sobre assistir ao filme “Operação Final”, disponível na Netflix.

Na sequência foi lida a introdução de A Vida do Espírito até pg.7.


O livro é dividido em dois volumes: O Pensar e O Querer (A Vontade). Ainda há ao
final o Apêndice, que Arendt denomina O Julgar. A tradução é de Antônio Abranches.

Pontos importantes debatidos: 1) é possível alguém praticar o mal por ausência de


reflexão? 2) segundo a tradição, o que é o mal? Qual a causa do mal?

Interessante notar que Arendt permeia seu ensaio com fortes impressões de passagens
do julgamento de Adolf Eichmann, em Jerusalém, cuja experiência lhe rendeu um livro,
com o mesmo nome.

Segundo Hannah Arendt o mal se origina da incapacidade do indivíduo para pensar.


Mas surge a pergunta: o mal pode ter origem na falta de reflexão? Ou seja, o homem
comete o mal porque não avalia os dados. Nestas hipóteses, o “mal banal” ocorre devido
à ausência de reflexão (que Hannah chama de “juízo reflexivo”) e do juízo kantianos,
trazendo à tona muitas das lacunas que o mal derivado do pensamento possui, como o
problema de distinguir o raciocínio do pensamento.

Também debatidos aspectos históricos, que inevitavelmente vêm à tona, quando se trata
de discorrer sobre a “banalidade do mal”, devido à sua inseparabilidade dos fatos
analisados à luz da segunda guerra mundial.

Não deve ser deixado de notar que, na re-ascensão da nação germânica, o sentimento
antissemita (estendendo-se também a outras minorias, como homossexuais, negros,

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ciganos, etc.) foi sobremaneira exacerbado, de modo a ter se tornado o ponto central no
conflito mundial que se seguiu. O fato marcante, entretanto, foi a maneira como o
fascismo e o nazismo se enraizaram, na Itália e na Alemanha, e mesmo após o conflito.
O interessante nisso é perceber que após o término do conflito mundial, todas as nações
do mundo pareceram olhar com estupefação e horror os fatos ocorridos, fatos estes que
durante todo o desenrolar do conflito pareceram correr soltos, ou sob as vistas grossas
de diversos segmentos das sociedades do mundo, inclusive religiosas. Tal foi a comoção
mundial do pós-guerra que, ato contínuo formou-se a ONU, na pretensão de, segundo as
intenções das nações signatárias, não mais se repetirem tais agressões.

Não deixa de ser curioso, entretanto, notar o fato de que o vertiginoso crescimento
tecnológico da humanidade, que em seus primórdios (durante a Idade Média) teve que
enfrentar um dura intolerância religiosa para sobreviver, já no sec. XX cai novamente
na mesma intolerância religiosa, ao verificarmos que uma nação inteira baseou seu
crescimento na crença inverossímil de que devia eliminar uma etnia fundamentando-se
apenas em preconceitos religiosos, ou de supostas inferioridades.

(mas isso é uma outra questão, que apenas estou colocando aqui por divagações minhas,
e que talvez sejam interessantes abordar em outros tópicos, não agora. Não foram
debatidos em aula.).

25/02/2021 – foi concluída a leitura da introdução de “A vida do espirito”.

O professor Márcio pediu que expressássemos nossos entendimentos sobre essa


introdução (págs. 5 a 14).

A narrativa que Hannah Arendt aborda em A vida do espírito, parece ser a busca do
pensar e do significado de cada atividade das faculdades do espírito e da compreensão
da relação de cada uma delas com o âmbito da política, do viver junto uns com os
outros. O fio condutor são os eventos que a autora vivencia durante o totalitarismo, os
acontecimentos centrais no mundo e que desencadeia na autora o desejo de
compreender este mundo. Essa aspiração parece levar a autora a se direcionar para as
atividades do espírito, isto é, para as faculdades do pensar, do querer e do julgar; e
também, da compreensão dessas faculdades em relação ao domínio público, o espaço da
política e da pluralidade humana. Para compreender as faculdades do espírito, a autora
destaca filósofos que se relacionaram com o mundo em que viveram, manifestando um
cuidado com o mundo e com a pluralidade humana. Nesse recorte Hannah Arendt faz
um entrelaçamento para sua investigação sobre as faculdades do espírito e o âmbito da
política. A possibilidade de pensar a educação das faculdades do espírito para um
cuidado do mundo. Nisso surgem questões como: uma educação que acolhe os recém-
chegados no mundo pode se responsabilizar por eles? Uma educação pode despertar o
desejo dos educandos de se relacionarem neste mundo e de pertencer a ele? O mundo,
neste sentido, parece ser o local em que, futuramente, quem quer que chegue por
nascimento será inserido e no qual esta tríade das faculdades do espírito - pensar-querer-
julgar - será fundamental para que seja possível a manutenção e preservação do mundo
para as futuras gerações.

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Após mais alguns outros discentes também expressarem seus entendimentos sobre esta
introdução da obra de Arendt, nosso professor comentou: “talvez devêssemos reler esta
introdução...”... Denotando o quão longe estamos de um real entendimento sobre uma
mera introdução, quiçá da obra inteira.

Porém durante a aula as quedas de sinal e a frequente dificuldade de comunicação


impossibilitaram o prosseguimento normal. Ficou decidido, via chat, que se estudasse
novamente o conteúdo geral desta Introdução de “A vida do Espírito”, para a retomada
do pensamento na próxima aula.

04/03/2021 – Feito novas discussões e entendimentos acerca da introdução da obra A


Vida do Espírito de Hannah Arendt.

A Vida do Espírito foi publicada em 1978, postumamente, e curiosamente, em uma


outra obra sua, Entre o Passado e o Futuro, publicado bem antes, (1954), a autora
apresenta uma explanação mais abrangente, referente ao mesmo tema, o Pensamento, no
que concerne ao aspecto visto no contexto do julgamento de Eichmann.

Chama a atenção um ponto importante da introdução: a questão do suprassensível e do


sensível. Um supõe a existência do outro, eliminar um desses aspectos seria eliminar em
consequência, o outro. Assim, não faz sentido dizer que a falta de moral de um
indivíduo existe porque existe a falta de pensamento. Se não existe a moral, não existe o
pensamento. Nesse sentido, a autora se pergunta se seria possível que a atividade do
pensamento como hábito de examinar (iluminar) suas ações, independente de
resultados, estivesse dentre as condições que levam os homens a se absterem de fazer o
mal, ou ao menos que os condicionasse contra ele. (pg. 6-7).

Isso parece estabelecer o abismo entre a as informações e os sentidos, ou seja a


linguagem é esse abismo.

Impossível deixar de estabelecer um paralelo com a conjuntura política contemporânea


de hoje no Brasil. As pessoas parecem seguir Bolsonaro porque ele tem uma boa
consciência. Parece absurdo, mas tem. Bolsonaro sabe que não tem moral, ou ao menos,
sabe que há uma falha em sua moral, mas isso parece não o afetar. Espantosamente,
quem não desenvolveu consciência moral, nunca vai se preocupar com isso. E nisso se
resume sua consciência. Perguntado a Eichmann durante o julgamento, como ele se
sentia, tendo participado ativamente da logística que mandou cerca 6 milhões de judeus
à morte, ele respondeu: “mas eu não matei ninguém...”. Paralelamente em nossa nação
foi perguntado à Bolsonaro como ele se sentia com as 260 mil mortes que a pandemia já
nos apresenta, ele simplesmente respondeu: “...eu não matei ninguém”, tal qual
Eichmann. Ou seja parece não haver o drama da consciência moral, porque
simplesmente não há o pensamento moral.

Hannah Arendt escreveu que “a consciência significa saber comigo e por mim
mesmo”(pg.7).

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Nessa questão da falta de moral, há um forte sentimento negacionista, como forma de
dar peso a seus argumentos, quando há essa “boa consciência” apreciada pelas pessoas
realmente más. Em seu livro Responsabilidade e Julgamento, a autora comenta que
muitos filósofos fazem filosofia para negarem uma filosofia existente. (na seção
pensamentos e considerações morais).

Como sugestão para a próxima aula o professor sugeriu começar a leitura do capítulo 1
– Aparência.

11/03/2021 – Continuação da leitura de “A Vida do Espírito” de Hannah Arendt.

Foi feito uma reapresentação rápida do Plano de Ensino, com algumas modificações e
atualizações em função do andamento das aulas.

Breve explanação sobre o que Hannah Arendt entende (ou pretendeu entender) ao
descrever as “duas faces” (pg.24), da morte da metafísica. A primeira face poderia ser
um olhar ao passado como uma riqueza histórica, um tesouro. Isto seria liberado pela
tradição, e teria um significado de se olhar para os textos antigos com um olhar de
historiador e não de um religioso. Algo como que destituir do caráter de sagrado os
textos aos qual a escolástica pretendeu, por cerca mil anos, e serem desvelados como
uma narrativa histórica. Seria como se livrar da tradição adquirindo uma consciência
histórica sem o peso da tradição. A segunda face poderia ser a noção de se olhar esse
legado como uma exigência ao exercício do pensamento. Isto deve necessariamente ser
independente da erudicidade, pois como a autora diz, essa habilidade de pensar deveria
estar em toda a pessoa sã, “não importando quão erudita ou ignorante, inteligente ou
estúpida essa pessoa seja”. (pg.12).

A vantagem, segundo Arendt, dessa nova situação subsequente à morte da metafísica, e


a consciência histórica e o consequente alívio do peso da tradição, é que agora se pode
exigir que a consciência seja exercitada. Hannah enseja a uma revisão acerca desse
debate propondo duas correntes sobre o fim da metafísica. Ou que se concluiu a
totalidade do pensamento, ou que a discussão se tornou anacrônica.

18/03/2021 – Continuação da leitura de “A Vida do Espírito” de Hannah Arendt.

Dado início do capítulo 1 (pg.17), com apresentação feita pelo nosso colega Douglas
Kruchinski, da primeira parte: (1. “A natureza fenomênica do mundo”).

Após a apresentação do pensamento da autora, surge a proposição de algumas


indagações subsequentes: qual é o pano de fundo dos escritos de Arendt? Ela apresenta
algumas questões, como por exemplo: se eu me enxergo, eu apareço para mim mesmo.
A realidade não é plenamente assegurada em minha consciência.

Na sequência, se apresenta o traço fundamental da trajetória do pensamento desde


Parmênides. Existe uma distinção entre Ser e Aparecer, que se mostra também na
distinção entre Essência e Aparência. E essa descrição do mundo como o mundo de
aparências é a dialética heideggeriana, onde a filosofia se construiu como um discurso

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metafísico. Na ciência moderna se desvaloriza a intuição em função da supervalorização
da tecnologia. E nisso está, segundo a autora, a exacerbação da falácia metafísica (a
qual ele retomará na parte 2, pg.21), onde, na teoria dos dois mundos de Platão,
sobressai a descrição fenomênica de como o mundo aparece para nós. Das coisas
fenomênicas do mundo as coisas apenas chegam até nós não como são, mas como nós
as captamos. O homem é do mundo e não apenas está nele, e isso encerra nossa
abrangência perceptiva desde nascimento, vida e morte.

Não é uma antropologia, pois todos os seres vivos chegam ao mundo com uma
capacidade perceptiva. Nesse sentido, não estamos simplesmente no mundo, nós somos
do mundo. Essa é a tentativa arendtiana da descrição fenomenológica operando pelo
senso comum. Uma vez feita a distinção entre Ser e Aparecer, é difícil se livrar disso.

O professor Márcio sugeriu ler um texto de Heidegger da Coleção Os Pensadores, ao


ilustrar essa aproximação heideggeriana da descrição arendtiana, a fim de perceber que
a motivação principal da autora é dizer o que é pensar. Qual é o conceito de mundo com
que a autora lida.

Ela insiste que o mundo sempre existiu e sempre existirá. É um conceito de mundo
humano, que não tem princípio nem fim, e onde seus limites estão circunscritos à
finitude do pensamento humano. O mundo em que vivemos é o mundo construído pelos
vivos e pelos mortos, nós surgimos nele, pertencemos a ele e ajudamos a construí-lo. O
mundo é uma abertura que se dá no horizonte de compreensão. E isso aponta o
problema da finitude humana no seu tempo de existência. O tempo é humanamente
marcado pelo nascimento e pela morte. A noção de mundo é permeada por uma noção
de tempo, onde estar vivo significa ser impulsionado a aparecer.

25/03/2021 – Leitura da parte 2 do capítulo 1: “O (verdadeiro) ser e a (mera)


aparência: a teoria dos dois mundos”, em apresentação feita pelo colega Rodenei
Stempkowski. (pgs.20-22).

Nessa parte a autora enfoca a questão da percepção das aparências. Nas palavras de
Kant, “Se olharmos para o mundo como aparência, ele demonstra a existência de algo
que não é aparência”. (pg.20). Ou seja, a percepção das aparências se desloca para o ser
pensante, e o ser pensante é extraído do mundo das aparências. Hannah cita a “falácia
lógica da dicotomia entre o Ser e a Aparência” referindo-se ao fragmento de Górgias,
onde o sofista aponta as incongruências entre o Ser e Aparecer. (Essa referência aparece
na obra de Barbara Cassin, “O Efeito Sofístico”, da Editora 34 Ltda. Tradução de Ana
Lúcia de Oliveira, Maria Cristina Franco Ferraz e Paulo Pinheiro, 2005, pg. 269 - O
Pseudo-Aristóteles e Sexto Empírico). Hannah se refere ao fragmento em questão ao
afirmar que “nenhum homem pode viver entre causas” (pg.22), pois não se consegue
traduzir o Ser, dado que “a causa deve ocupar um lugar mais elevado do que o efeito”
(pg.21).

Isto sugere que a Hannah Arendt pode estar buscando superar a dicotomia falaciosa que
tem permeado a tradição, e, neste sentido Rodenei cita um trecho da obra

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“COMPREENDER: Formação, Exílio e Totalitarismo” da mesma autora, no qual
aparece um texto: “O que é a filosofia da existência” (pg.92), onde transparece o fio
conduto que permeia o interesse de Hannah: compreender a filosofia e compreender o
quê foi o fenômeno do pensar.

Uma das chaves do entendimento de Hannah Arendt é que ela faz um diagnóstico de
como na cultura ocidental o mundo moderno rompe com a tradição.

08/04/2021 – Leitura da parte 3 do capítulo 1. “A inversão da hierarquia metafísica: o


valor da superfície”, em apresentação feita por Renato Escobar de Escobar (eu). (pgs.
22-25).

Hannah começa dizendo que tanto filósofos quanto cientistas conhecem tanto o erro
quanto a ilusão no mundo cotidiano do senso comum, e nem mesmo a supressão disso
os leva além da aparência. A eliminação dos erros e das ilusões não nos leva a um lugar
seguro, sempre haverá uma nova aparência por trás da aparência removida. E a nova
aparência se estabelecerá no lugar da antiga por conta própria, ela retoma a função
ontológica da primeira. Passa a significar, e isso é um impasse que mesmo a ciência,
incansável em sua busca da verdade por trás da mera aparência, é incapaz de resolver. O
impasse da des-ilusão da remoção da ilusão, é o paradoxo de não existir o Parecer sem a
Aparência. Nas palavras de Merleau-Ponty, “não há Schein sem uma Erscheinung”.
(Segundo o Google, um é o verbo e o outro é a substantivação do verbo, - fica, portanto,
ainda, sem explicação o porquê de, na obra traduzida de Arendt, terem sido mantido os
vocábulos em alemão, visto que no português o verbo substantivado não perde o
significado, e fora isso, também surge a dúvida da adjetivação. Se uma xícara pode se
Parecer com uma caneca, é lógico dizer que a Aparência da xícara com a caneca é uma
adjetivação, mas, gramática à parte, Arendt segue...).

Seguindo adiante, Arendt associa a perda de uma evidência à aquisição de outra. E


mesmo um cientista que queira diferir do mundo do senso comum, ele ainda pertence ao
mundo das aparências. Isso nos coloca a todos dentro da inexorabilidade histórica do
mundo dos homens. A ideia de progresso ilimitado, que hoje se vê inequivocamente
como um erro revela a descrença de uma infinitude benfazeja, ao mesmo tempo em que
desvela o reconhecimento de uma finitude perigosa.

O homem de repente se vê jogado na realidade de lidar com a dificuldade de uma


quebra de paradigma. (O prenúncio de que o progresso tecnológico apesar de apontar
para o infinito, se depara com a inexorabilidade da finitude da extração dos recursos
naturais – o parêntese é meu...). É a quebra de paradigma que se nos apresenta como o
impasse do Parecer sem a Aparência. E a consciência desse impasse que deveria ser
maior nas ciências humanas, acaba acontecendo mais acentuadamente nas ciências
exatas. Esse funcionalismo matemático é prontamente verificável ao nos apresentar
novamente a velha dicotomia metafísica entre o verdadeiro Ser e a mera Aparência, já
discutida na parte 2.

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Nas páginas seguintes (metade da pg.23 até o final, pg.25) a autora faz referência a
Adolf Portmann, biólogo e zoólogo suíço, que prestou importantes contribuições no
campo da linguagem funcional entre seres vivos.

Portmann demonstra em seus estudos que os fatos falam uma linguagem diferente do
que a simples aparência tende a mostrar como funcionais. Por exemplo, ele diz que os
órgãos internos de qualquer espécie animal (nós inclusos), apesar de não aparecerem,
prestam-se ao único propósito de manter as aparências externas. A velha dualidade
(aristotélica?...nietzschiana?...kantiana?...não lembro) de não aparecer para manter a
aparência. Fora o fato de que os próprios órgãos internos, se expostos e confrontados
com os de outro Ser ainda são muito parecidos. Pois “nem mesmo as várias espécies
animais – quanto mais os indivíduos – são facilmente distinguidos pela simples
inspeção das vísceras”. (pg.24)

Portmann diz que “O problema da pesquisa não é o que uma coisa é, mas como ela
aparece” (pg.23), e Hannah cita essa constatação como a inversão fenomênica das
diferenças entre as aparências “autênticas” e as “inautênticas”, onde “as formas externas
são infinitamente diversas e altamente diferenciadas” (pg.24). E Portmann diz que a
abordagem normal segundo a qual a aparência exterior dos animais serve apenas para
conservar a aparência interior, é equivocada, e propõe uma inversão “morfológica”, ou
seja, a de que a aparência interior é a que de fato teria a função de conservar a aparência
exterior.

Segundo a autora, dois fatos sustentam a razoabilidade dessa inversão: o primeiro seria
essa impressionante diferença verificável e fenomênica entre as aparências “autênticas”
e as “inautênticas”, e o segundo fato seria “a evidência igualmente impressionante da
existência de um impulso inato, [...] que Portmann chama “impulso de auto exposição”
(Selbstddarstellung).” (pg.24) (o google diz que isso é “autoapresentação”).

Esse impulso segundo Arendt supera o que pode ser entendido como um instinto. É
como um impulso para adequar-se a um mundo de aparências. (pg.24), e ela discorda do
termo “Selbstddarstellung” usado por Portmann, pois, como ela diz, há dúvidas sobre se
essa “auto exposição” seria como uma auto-presença, ou se seria como uma auto-
apresentação. Se fosse o segundo caso seria como algo interior, e isso configuraria uma
aparência “inautêntica”, e prefere adotar a primeira acepção do termo, ao afirmar que é
isso que faz o homem ser o que é. O impulso da auto-presença é o que faz o homem
ocupar o topo do lugar que ocupa entre as espécies de animal do planeta.

Esse é o “valor da superfície” que se observa na inversão morfológica, e que tem tão
amplo alcance que o próprio Portmann, por boas razões não tenha elaborado por
completo, especula ela. E conclui que talvez seja por isso que

“[..] nossos padrões comuns de julgamento, tão firmemente enraizados em


pressupostos e preconceitos metafísicos [...], estão errados; e a nossa convicção
corrente de que o que está dentro de nós [...] é mais relevante para o que nós ‘somos’
do que o que aparece exteriormente não passa de uma ilusão; mas quando tentamos
consertar essas falácias, verificamos que nossa linguagem [...] é falha.” (pg.25).

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Segundo o Prof. Márcio, algumas distinções são necessárias: o termo
“Sellbstdartellung” usado pela autora, deve ser entendido como auto-exposição, e não
auto-apresentação, pois assim teria o sentido do “self” inglês, ou seja, aquilo que o Ser
se faz a si mesmo, como um impulso oriundo de sua força, e não de uma força interna.

É uma forma de perceber em Arendt a sua pretensão de querer demostrar que o sentido
de “espiritual” é a capacidade humana de pensar. Nesse sentido, as coisas são o que elas
aparecem para o homem dentro da sua capacidade de pensar, o Ser e a Aparência. As
coisas foram feitas para aparecer, e só podem aparecer para os órgãos que foram feitos
para captar essa aparência. Há uma conjunção entre o que Aparece e o que Parece. A
natureza do Ser se organiza em torno da Aparência.

Quanto ao impasse da ciência moderna citado pela autora, também cabem algumas
notas. A cientificidade de Popper diz que “uma teoria só pode ser científica se ela puder
ser falseada”. E é com essa concepção popperiana que Hannah Arendt se refere à
ciência, com esse funcionalismo verificável que inexoravelmente terá que se mostrar
infalível ou falseável.

15/04/2021 – Leitura da parte 4 do capítulo 1. “Corpo e alma; alma e espírito”, em


apresentação feita por Waldir Tomazzoni. (pgs. 25-30).

Parece dar continuidade ao item anterior

Fator de crenças.

Nenhuma parte de nosso corpo pode

Vida da alma: o que pode ser verdadeiro para o corpo pode não ser para a alma.

Ao final Hannah diz que Hegel à essa ilusão.

A ilusão de que o homem criou-se a si mesmo. A ilusão antropocêntrica.

Auto-apresentação e o simples dasein não são a mesma coisa.

Tentativa de distinção entre alma e espírito.

Espírito: pensamento (nossa capacidade de pensar).

O pensamento é o discurso do espírito.

O pensamento se move, se constrói, através da linguagem.

A distinção a autora se refere é entre o espírito e a alma.

Supõe que há o físico (no qual ela não toca na questão).

O cérebro, que gera a linguagem é a atividade é a atividade do espírito. A relação do


cérebro com o espírito, o resultado, o efeito intelectual, sim, é a vida do espírito.

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Arendt separa na característica humana, a vida da alma da vida do espírito.

Seja no discurso consigo mesmo, seja no discurso com os outros.

Ela diz que parece não haver caso em que a alma possa atuar sem o corpo.

22/04/2021 – Leitura da parte 5 do capítulo 1 de “A Vida do Espírito”. “Aparência e


semblância”, em apresentação feita por Matheus Staudt. (pgs. 30-32).

29/04/2021 – Leitura da parte 6 do capítulo 1. “O ego pensante e o eu: Kant”, em


apresentação feita por Maurício. (pgs. 32-36).

06/05/2021 – Leitura da parte 7 do capítulo 1. “Realidade e ego pensante: a dúvida


cartesiana e sensus comunis”, em apresentação feita por Rodenei Stempkowski. (pgs.
36-42).

13/05/2021 – Neste dia não houve leitura de Hannah Arendt. Ocorreu a aula Magna
com o Prof. Dr. Gabriele Cornelli (UnB), com o tema “Não compreendo a direção dos
ventos”. (link da internet: https://youtu.be/9JzXce5h5PS).

A aula é do Curso de Graduação em Filosofia. Interessantíssima apresentação


abordando o parágrafo 488a, da República de Platão, com referências a Heráclito,
Hesíodo, Aristofanes, e outros.

20/05/2021 – Leitura da parte 8 do capítulo 1, da obra de Hannah Arendt “A vida do


espírito”. “Ciência e senso comum: a distinção de Kant entre intelecto e razão, verdade
e significado”, em apresentação feita por _____________. (pgs. 42-51).

REFERÊNCIA:

ARENDT, Hannah. A Vida do Espírito. Trad. de Antônio Abranches, Cesar Augusto


R. de Almeida e Helena Martins. Ed. Relume Dumará. Rio de Janeiro/RJ. 2000.

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