Você está na página 1de 6

CONSUMO, FELICIDADE E MEIO AMBIENTE.

(Atividade 2 assíncrona)

Renato E. de Escobar 1

Erechim/RS, 25/03/2021

O dilema que a humanidade enfrenta com a crescente poluição ambiental, somados ao


desafio de viver em um ambiente cada vez mais inóspito, nos impulsiona a uma reflexão
sobre os impactos e as consequências de práticas de consumo que já fazem parte de
nossa cultura consumista, e nos empurra a uma conscientização da sociedade a respeito
da urgência de uma mudança nos hábitos de consumo no sentido da preservação dos
recursos naturais do planeta e das relações sociais. Fica cada vez mais claro a
necessidade de se aceitar uma quebra de paradigmas ao delinear os processos ao longo
da linha de produção de bens e serviços, as várias etapas até a chegada ao consumidor
final e seu inevitável descarte na natureza, gerando o crescente problema dos resíduos.

Conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental se torna cada vez


mais uma necessidade, e um desafio. E essa discussão parece estar em pauta em todos
os países do mundo. Mas não parece estar gerando os resultados esperados. Frear o
consumismo exagerado e desmedido, visando à diminuição dos resíduos gerados no
descarte após consumo, parece ser o “hit” do momento. Neste sentido, vêm à tona
discussões sobre os processos de pós-consumo, atribuindo responsabilização tanto aos
atuantes no ciclo do produto quanto aos atuantes nos descartes e reciclagens. Desta
maneira, evidencia-se que a preservação do meio ambiente não é atribuição de uma
única pessoa, ou de uma única empresa. Isto parece ser um encargo de todos, desde o
poder público, passando pelo fabricante e todos os setores intermediários, até o
consumidor final, e além, ou seja, aos órgãos ou empresas encarregadas da destinação e
reciclagem dos resíduos. A sustentabilidade apregoada nessas discussões só poderá ser
alcançada quando a sociedade tiver suficiente consciência de sua interferência no meio
ambiente, seja negativamente quando da destruição, ou positivamente, na preservação.
Surge assim, paralelamente a questão da felicidade. Na esteira da visão conservadora,
atualmente em voga, parece ser possível obter a felicidade mediante a existência de um
mundo sustentável, em que a exploração dos recursos naturais à disposição garanta a
dignidade a todos os habitantes da nossa pequena e frágil esfera, com água potável,
alimentação, segurança e qualidade de vida. Mas não é bem assim. Fica a evidente a
importância das análises dos recursos naturais mediante um enfoque qualitativo,
abandonando o enfoque quantitativo.

Em geral, a grande maioria da sociedade não tem conhecimento suficiente sobre a


relação entre consumismo e meio ambiente. Nossa sociedade parece ter se focado
1
Acadêmico do Curso de Filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS-Campus de
Erechim/RS, na disciplina de Meio Ambiente, Economia e Sociedade, ministrada pelo Prof. Dr. José
Martins dos Santos.

1
exclusivamente na obtenção da felicidade, relegando outras questões subsequentes
como agressão ambiental e a importância da preservação e reciclagem a um segundo
plano. Em consequência disso criou-se uma geração de sociedade consumista com
pouca ou nenhuma consciência sobre esse problema. Raramente as pessoas param para
pensar nisso, pois consumir é algo natural do ser humano.

Temos visto reiteradas informações midiáticas propagandeando que o ato de comprar


está diretamente relacionado com bem estar e à felicidade. Isto cria hábitos que se
tornam arraigados. É muito difícil se desprender de velhos hábitos. Nossa sociedade
considera que consumir seja necessário, e talvez seja verdade, dentro de uma
determinada ótica. Mas é necessário ter um determinado grau de consciência, para que
se consiga um suficiente equilíbrio entre o que se pode consumir e o que se pode
preservar. E para se ter essa consciência devemos ter ciência de nossos atos. Analisar
nossos costumes e ações deve ser obrigatório e extensivo a toda sociedade. Afinal, uma
natureza abundante e uma sociedade saudável estão diretamente relacionadas a uma
contribuição coletiva.

Inevitável que surge diante nós um quadro que se agrava em escala geométrica, e diante
da gravidade dessa situação, ser um consumidor consciente se tornou mais que uma
obrigação. Obviamente que é um assunto difícil de entender, para muitos. O
consumismo prejudica o meio ambiente e entender como isso se dá ajuda a adquirir uma
melhor consciência ecológica e garantir um futuro melhor para os que virão.

Para isso se torna urgente entender a relação entre Consumismo e Meio Ambiente, e não
aceitar de pronto que a felicidade seja facilmente extraível desse processo, sem maiores
consequências. Antes do meio do ano de 2019, a ONG Global Footprint Network
chamou a atenção ao avisar que a humanidade já havia esgotado os recursos do planeta
para aquele ano. A cada ano, a humanidade acaba com estes recursos cada vez mais
cedo. Em 2017, o chamado “dia da sobrecarga” da Terra ocorreu no dia 2 de agosto.
Nossos recursos naturais estão sendo explorados cada vez mais de forma predatória e o
planeta não está tendo o tempo necessário para se restaurar. Isso está se tornando cada
vez mais evidente devido ao aumento do desmatamento, erosão do solo, emissão de
CO2 e outros. Tudo isto culminando com o aumento da temperatura global, o chamado
“aquecimento global”, que é alvo de intensa crítica e negacionismo.

O negacionismo tende a agravar o problema, pois as pessoas são compelidas a ignorar e


desacreditar em notícias e dados sobre o assunto. A negligência na maneira como
estamos consumindo faz com que a cada ano os recursos naturais sejam esgotados cada
vez mais cedo. A gravidade disso é óbvia. E o consenso geral, dentro da lógica racional
é que ninguém quer deixar um planeta destruído para as futuras gerações (pelo menos
deveria ser assim). Isso implica que as ações no sentido de uma nova conscientização
devam adquirir caráter de urgência.

Um dos principais tópicos que deve ser dado uma atenção especial é com relação ao
consumo predatório. Defrontamo-nos com um terrível dilema: de um lado estão as
grandes empresas que utilizam os recursos naturais. Do outro, há os empregados que
2
precisam do trabalho para sobreviver. No meio disso estão os consumidores
digladiando-se com o conceito de felicidade.

Isso cria uma equação de difícil solução, com o agravante de que corporações
poderosas, agindo de dentro de seu poderio financeiro, contribuem para a crescente
degradação ambiental, sem pensar nas consequências. E, na maioria das vezes, não
mudam de atitude, porque os consumidores continuam comprando seus produtos. É um
problema em que a própria falta de consciência do lado consumista retroalimenta a falta
de consciência do lado produtivo.

Porém, este não é o único problema: a população mundial também aumentou,


juntamente com a expectativa e qualidade de vida. E a sociedade, dentro desse conceito
vigente de felicidade e consumo, passa a querer mais do que necessita. E isso gera
paralelamente uma escalada de desperdício sem precedentes. Apenas para exemplo,
cerca de 51% de todo o lixo produzido é orgânico. O desperdício de alimentos vem
tornando-se um grave problema na sociedade, pois grande parte dos alimentos vão para
o lixo ainda em bom estado para consumo.

Se isso é um problema mundial, no Brasil, não é diferente. As famílias brasileiras


chegam a desperdiçar cerca de R$1 mil por ano em alimentos. Para agravar esse cenário
de consumo predatório, o avanço tecnológico faz com que as pessoas troquem seus
produtos em menos tempo. É a obsolescência programada. Objetos que antes duravam
mais tempo agora duram poucos anos, fazendo com que seja necessário utilizar cada vez
mais recursos para produção de novas tecnologias.

Felizmente, existem reflexões que parecem direcionar para a constatação de que é


possível consumir de forma consciente e ajudar a natureza. Como se vê, a situação é
grave e tende a piorar se não mudarmos nosso jeito de pensar e agir. A população
mundial consome cerca de 30% a mais do que o planeta consegue repor, conforme a
ong World Wide fund for Nature (WWF). É mais do que necessário refletirmos sobre
isso. Mas, mesmo com essas constatações surge a pergunta: “como fazer para se tornar
um consumidor consciente?”. A verdade é que pequenas alterações no nosso dia a dia
podem fazer enorme diferença. Algumas destas alterações são simples, como comprar
apenas o que for necessário, utilizar produtos biodegradáveis, proceder a substituições
em produtos usados no dia a dia, fazer escolhas ecológicas nas horas de decisões, etc.

Por exemplo, comprando somente o que for necessário, pode-se evitar de se fazer
compras para o mês inteiro no supermercado, especialmente quando o assunto é
perecíveis. Seria uma maneira de evitar comprar em excesso e evitar desperdício de
alimentos. Em relação a outros produtos, uma ação possível poderia ser adquirir
somente por necessidade e não por desejo. Pode-se usar técnicas como “eu quero” e “eu
preciso” para ajudar nessas decisões de consumo. Se desejar (e puder), vale também
evitar comprar vestimentas ou utensílios feitos por empresas que não se importam com
o meio ambiente.

3
Na utilização de produtos biodegradáveis e ecológicos, pode-se agir pesquisando por
marcas e lojas que vendam produtos que não agridam o meio ambiente. Há várias
empresas que se preocupam em não fazer mal à natureza. E, se for o caso, não deixar de
cobrar das empresas sempre que achar que certos princípios foram violados.

Quanto à substituição de produtos no dia a dia, pode-se evitar usar coisas descartáveis,
como copos ou garrafas pets, tentando usar sempre garrafas de vidro ou canecas
reutilizáveis no lugar. Outros produtos, como canudos de plástico e talheres descartáveis
também podem ser facilmente retirados do dia a dia. Troque papéis por panos ou papéis
recicláveis. Usar lâmpadas mais econômicas ou a luz natural. Substituir torneiras,
descargas e chuveiros que desperdiçam água pode ser uma boa opção. Nesse sentido é
importante analisar tudo o que pode ser substituído e fazer as adequações necessárias.
Além de ajudar o meio ambiente, ainda será possível se fazer uma boa economia no
mês.

Quanto às escolhas de opções mais ecológicas, pode-se, em vez de andar de carro,


verificar se não é possível fazer o trajeto de bicicleta, transporte público ou a pé. A
utilização desses transportes tendem a se tornar mais eficientes, e poderão ajudar muito
no combate à emissão de gases que pioram o efeito estufa e aquecimento global.
Pessoas que moram perto, por exemplo, podem combinar de darem carona uns para os
outros, ou fazerem uma escala de revezamento. Desta maneira pode-se economizar
dinheiro e ajuda a diminuir o número de automóveis circulando.

Um conceito que anda tomando corpo ultimamente é o de minimalismo. O adepto ao


minimalismo parece ter entendido que comprar e ter muitas coisas não traz felicidade. A
partir do momento em que se percebe que consumir é um vício que dá uma sensação
passageira de alegria, consegue-se modificar o pensamento, e passa-se a valorizar mais
as pequenas coisas da vida. Viver dessa forma está cada vez mais trazendo o
entendimento de que temos que mudar nossos paradigmas de felicidade e da sensação
de realização.

Enfim, a consciência de que se deve economizar e evitar desperdícios, parece estar pelo
menos sendo entendida que deve ser hegemônica. Cada vez mais se aceita que a tarefa
de evitar grandes desperdícios na natureza, também está em ter hábitos de pequenas
coisas como evitar desperdiçar água e alimentos, ou, sempre que sair, desligar as luzes
do local, separar o lixo, reciclar e reutilizar restos de alimentos, etc. Dentro das
possibilidades também está outras atividades como criar uma horta para plantar
alimentos. Cada vez mais as pessoas se convencem que nessas coisas, ao final, é o
próprio bolso e a natureza que agradecem.

Considerações finais

Não se pode negar que consumismo e meio ambiente possuem uma relação muito
próxima. E nessa relação a sociedade procura encontrar as condições de felicidade. A
sociedade construiu a ideia de que necessitamos consumir para sermos felizes. Porém,
hoje a própria natureza nos mostra que isso não deve ser tomado como uma verdade

4
absoluta, pelo contrário, está nos mostrando de forma inequívoca que é extremamente
prejudicial.

Se quisermos deixar um planeta decente para as futuras gerações, precisamos agir


rápido e de maneira coerente para reverter os estragos atuais e evitar que a situação
piore. Portanto, é premente a necessidade da consciência de mudanças imediatas de
paradigmas para mudar a mentalidade coletiva. Essa consciência com certeza ajudará a
conservar a natureza e construir um mundo melhor para todos.

Frequentemente o ser humano se isola em seus conceitos individualistas e deixa de


perceber que o homem é um ser social, e que a própria individualidade inviabiliza o
raciocínio de que seus hábitos de consumo podem ser prejudiciais. Dessa maneira acaba
desperdiçando um enorme meio de conscientização de massa, que são as redes sociais e
muitas vezes acaba usando-as para exacerbar pensamentos prejudiciais. Claro que
também se encontra nas redes uma grande exortação aos usos racionais dos recursos
naturais, e a grande lástima é que em muitos casos essas tentativas acabam se
transformando em intermináveis contendas onde o principal acaba sendo a quebra de
braço entre uma nova consciência e um velho paradigma.

Dentro dessa luta vale apelar para o dinheiro como lastro para angariar combatentes
contra o desperdício e na busca da felicidade. É válido, portanto perguntar: “como fazer
seu dinheiro trabalhar para você?”. Aprender a investir melhor o dinheiro que se tem à
disposição e tomar boas decisões de investimentos, de acordo com seu planejamento
pessoal, pode ser uma maneira de convencer a parte endinheirada da sociedade, no
sentido da conscientização ambiental. Embora longe de resolver outras mazelas, parece
que trabalhar nessa direção poderá trazer resultados quando direcionada para a noção de
que utilizar corretamente esses recursos financeiros, é a única maneira de fazer seu
dinheiro trabalhar para você e de conquistar todos o seus objetivos financeiros.

É visto, portanto, que as relações entre consumo, felicidade e meio ambiente estão
diretamente interligadas ao desenvolvimento da sociedade. Isto é um grande problema
mundial, pois as consequências do consumo exagerado incentivado pelo espírito
consumista entranhado pelo regime capitalista, e mais recentemente pela “compra” do
discurso neo-liberal, enraizou-se no seio da sociedade, gerando consequências
irreversíveis ao meio ambiente. A sociedade deve urgentemente modificar seu
consumismo, mudando o paradigma de que a relação de consumo e o desenvolvimento
devam andar juntos. Já está mais que provado que a grande demanda da produção e do
consumo afetam diretamente a retirada de recursos da natureza, com a poluição do meio
ambiente. Os governos devem buscar estratégias e instituir políticas que possibilitem
mudanças nos atuais padrões insustentáveis de consumo e que visem preservar o meio
ambiente e incentivar a utilização de produtos recicláveis e biodegradáveis. Pois todos
têm o direito à uma natureza saudável e equilibrada, que deva ser zelada através da
conscientização de um novo paradigma, que possa equacionar as relações de consumo,
felicidade e meio ambiente, possibilitando o desenvolvimento sustentável.

5
REFERÊNCIAS:

GORGESCU-ROEGEN, Nicholas. O decrescimento – Entropia, ecologia, economia.


Trad. de Maria José Perillo Isaac. Editora Senac. São Paulo, SP. 2012.

MARQUES, Luiz. Capitalismo e colapso ambiental. Editora Unicamp. Campinas, SP.


2015.

Internet:

“The Story of Stuff” A história das coisas, curta-metragem de Annie Leonard (2007)
disponível em: (https://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k)

“The 11th Hour” A Última Hora. Documentário de Nádia Conners e Leila Conners
Petersen (2007) disponível em:
(https://drive.google.com/file/d/1JIF5Wqq4K1S__o5Vy2wQYujmG7whAYzH/view).

Você também pode gostar