Você está na página 1de 11

1

HÁBITO E COSTUME DAS SOCIEDADES MODERNAS E SUAS


CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS

Momade Jaime Chau1


1
Faculdade de Ciências Naturais, Matemática e Estatística-Universidade Rovuma-Moçambique

Resumo

O presente ensaio trata de um estudo sobre hábito e costume das sociedades modernas e suas
consequências ambientais. O objectivo é apresentar uma abordagem sobre a forma como as sociedades
modernas se comportam e proporcionar uma reflexão sobre a importância do trabalho do educador no
desenvolvimento de cidadãos conscientes, aptos a compreender que o meio ambiente vai além do
espaço em que vivemos, e assim precisamos pensar não só local, mas regional, nacional e global. A
relação de consumo esta directamente interligada ao desenvolvimento da sociedade, sendo um grande
problema mundial as consequências do consumo exagerado incentivado pelo espírito consumista
entranhado pelo regime capitalista enraizado no seio da sociedade, gerando consequências
irreversíveis ao meio ambiente. A sociedade deve modificar urgentemente seu consumismo, mudando
o paradigma que a relação de consumo e o desenvolvimento andam juntos. Uma vez que a grande
demanda da produção e do consumo afetam diretamente a retirada de matérias-primas da natureza,
com a poluição do meio ambiente. Os Estados devem buscar estratégias e instituir políticas que
possibilitem mudanças nos padrões insustentáveis de consumo e a fim de preservar o meio ambiente e
incentivar a utilização de produtos recicláveis e biodegradáveis.
Palavras-chaves: Hábitos; costumes; sociedades modernas, meio ambiente.

Abstract

This essay deals with a study on the habit and custom of modern societies and their environmental
consequences. The aim is to present an approach on the way modern societies behave and provide a
reflection on the importance of the educator's work in the development of conscious citizens, able to
understand that the environment goes beyond the space in which we live, and so we need think not
only local, but regional, national and global. The consumption relationship is directly linked to the
development of society, with a major global problem being the consequences of excessive
consumption encouraged by the consumerist spirit entrenched by the capitalist regime rooted in
society, generating irreversible consequences for the environment. Society must urgently modify its
consumerism, changing the paradigm that the relationship of consumption and development go
together. Since the great demand of production and consumption directly affect the withdrawal of raw
materials from nature, with pollution of the environment. States should seek strategies and institute
policies that enable changes in unsustainable consumption patterns and in order to preserve the
environment and encourage the use of recyclable and biodegradable products.
Keywords: Habits; mores; modern societies, environment
2
Introdução

O homem faz parte da natureza. Sua constituição biológica é parte da energia e da matéria
naturais. É habitat de outros seres vivos, se alimenta de outros organismos e, quando morre,
os microrganismos tratam de reaproveitar a matéria orgânica que formava seus corpos. Toda a
história humana diz respeito ao modo como os homens mantêm uma relação entre si e com a
natureza externa a eles – o meio ambiente. Assim, ao longo da história, a raça humana vem
criando diferentes modos de se relacionar com a natureza.

Desde a pré-história, com a descoberta do fogo, da agricultura e da pecuária, a capacidade do


homem de transformar e agir na natureza tem se tornado maior. Contudo, a partir da
Revolução Industrial até actualmente, o modo de vida se modificou consideravelmente, a
acção do homem sobre o meio ambiente tem se tornado cada vez mais insustentável e
destrutiva. Apesar da situação preocupante do planeta, nem tudo está perdido. A educação
ambiental aponta para uma solução: a conscientização ambiental e a construção de uma nova
relação entre o homem e a natureza. Conhecendo melhor a crise ambiental que ameaça a
sobrevivência de todas as espécies vivas, inclusive a dos seres humanos, as pessoas
provavelmente irão interferir de forma diferente no meio ambiente. O objetivo deste trabalho
é pensar sobre o actual cenário sócio ambiental, procurando entender como ele vem sendo
construída ao longo da história, relacionando-o principalmente ao modo de produção
capitalista e ao consumo de massa e buscando alternativas possíveis para uma nova relação
entre o homem e a natureza diferente de todas as anteriores: mais sustentável, equilibrada e
duradoura.

Hábitos e costumes da sociedade moderna

A modernidade pode ser entendida como aproximadamente equivalente ao “mundo


industrial” desde que se reconheça que o industrialismo não é sua única dimensão
institucional. Ele se refere às relações sociais implicadas no uso generalizado da força
material e do maquinário nos processos de produção (Giddes, 2002).

O mundo actual é dominado pelo espírito capitalista que vangloria o consumo, estando
entranhado no coração da sociedade moderna, o qual o poder de consumo é o ápice do ideal
da sociedade, onde a arte de consumir é o padrão, e quanto mais se consome, maior se torna o
desenvolvimento e a estabilidade econômica de cada Estado, estando esse modelo de vida
altamente capitalista levando o mundo atual para um colapso ambiental.
3
Cada vez mais se produz e mais se consome, estando à sociedade moderna condenada a um
grande ciclo vicioso, onde se deve consumir para produzir e produzir cada vez mais para se
consumir. Cada vez mais os produtos ganham menores tempos de vida úteis, e quando
quebram são extremamente difíceis de consertar, afim de cada vez mais impulsionar o
consumo e a produção, pois sempre sairá mais barato e pratico comprar um produto novo, do
que conservar ou arrumar o produto antigo. Além é claro, também de sempre o mercado
impulsionar modelos novos dos mesmos produtos mudando pequenas coisas, ou dando
pequenos retoques, desvalorizando e desmerecendo os produtos antigos que muitas vezes
ainda estão em boas condições de uso.

O desenvolvimento da sociedade está claramente insurgido numa crise, uma vez que se
desenvolve a fim de garantir melhor qualidade de vida daqueles que a pertencem, porém se
esta mesma sociedade agindo de forma irracional não se preocupa com os estoques de
reservas naturais, com os locais de deposições de resíduos, e quase sempre poluindo o próprio
meio ambiente onde se encontram.

Camargo (1992) afirma que “quanto maior o poder aquisitivo da remuneração devida aos
agentes econômicos, maior a possibilidade de consumir”.

Então, pode-se afirmar que o consumo nada mais é que uma forma de atender as necessidades
humanas primárias e secundárias, internas e externas, ao adquirir e/ou utilizar produtos e
serviços, sejam naturais ou artificiais. Enquanto o consumismo é a pratica desenfreada de
consumir mesmo sem necessidade. Isso causa impactos sobre o ambiente natural e artificial,
consumindo os recursos naturais disponíveis, colocando em risco a sustentabilidade das
gerações futuras.

A sociedade actual estabeleceu um paradigma onde o consumo se tornou sinônimo de


felicidade e bem estar, até mesmo o prestigio e o status está diretamente interligado a
capacidade de adquirir bens. Portanto consumir e acumular bens com ou sem necessidade,
pois esse sistema esta enraizado no seio do paradigma capitalista.

Nesse sentido Holthausen (2006) afirma que:

“O mercado consumidor teve seu grande desenvolvimento a partir da Revolução


Industrial, assim entendida, como algo evolutivo, que durou décadas, mas que
transformou, por completo, as relações entre consumidores, fornecedores e Estado.
A Globalização, o encurtamento das distâncias, tecnologia, aparecimento e
desenvolvimento da publicidade e marketing, foram alguns fatores que permitiram
4
que os avanços dos ideais capitalistas e disseminação dos produtos acontecessem no
mercado mundial.”

O mundo em que vivemos estaria acabado se todas as pessoas pudessem comprar tudo que
gostariam. Pois ao examinar o sistema de vida norte-americano, que é tão sonhado modelo de
vida, observa-se que ele é extremamente devastador, pois assustadoramente precisaria de três
planetas Terra para que toda a população mundial pudesse consumir de forma igual.

Sobre o assunto Portilho (2005) disserta que o consumo da economia humana excede a
capacidade de produção natural e a assimilação de dejetos da ecosfera, sendo feito uso das
riquezas produzidas de forma socialmente desigual e economicamente injusta.

Sobre o assunto Lima (2010) afirma que “por mais importantes que tenham sido as mudanças
proporcionadas pela industrialização e, mais adiante, pela globalização, o intenso ritmo de
produção, aliado ao consumo exacerbado acarretou a depredação ambiental, de forma a
comprometer a própria vida no planeta”.

Fica clara que a relação de consumo atual esta indo em direção a uma crise ambiental, uma
vez que ela cresce de forma desenfreada e desorganizada. As necessidades de consumo
criadas pela sociedade estão desconsiderando o impacto de seus atos sobre o meio ambiente.
Observando dessa forma que quanto maior o poder aquisitivo do individuo mais danoso ele se
torna para o meio ambiente, uma vez que ele extrapola sua necessidade básica de consumo a
fim de saciar caprichos indivíduos ou de caráter coletivos, se fosse para se encaixar em
determinado grupo social. Enquanto os indivíduos de baixo poder aquisitivo prejudicam o
meio ambiente em menores proporções, pelo seu poder aquisitivo.

Neste sentido Pereira (2008) afirma sabiamente que:

“Os consumidores não dispõem, individualmente, dos meios necessários para


prevenir e impedir esses efeitos globais das relações de consumo. Eles dispõem
ainda menos nos contextos socioeconómicos dos países menos desenvolvidos, onde
outros problemas sociais, tais como a necessidade de moradia, de saúde, de
alimentação, de transporte, de educação ou de redução do desemprego encontram
como solução um modelo de “desenvolvimento a qualquer preço”, com graves
prejuízos – de ordinário irreparáveis – ao meio ambiente e ao bem-estar geral dos
consumidores.”

Desta forma os consumidores devem construir uma consciência ecológica, bem como
modificar os seus hábitos de consumo a fim atender padrões de consumo sustentáveis e não
5
procurando apenas sua própria satisfação e benefício. Pois os recursos naturais são fontes
esgotáveis e deve ser preservado para as futuras gerações.

Desta forma Condesso (2001) afirma que;

“(…) o planeta terra encontra-se, hoje, perante o dilema de viver uma “civilização”
industrial e agrícola poluidora, conter uma população que cresce a um ritmo
galopante e ter um patrimônio e recursos naturais, incessantemente, degradados pela
humanidade, à escala mundial. Como vimos os problemas ambientais situam-se,
hoje, entre as principais questões mundiais.”

A urbanização e o meio ambiente

Urbanismo é a ciência e arte de construir, ocupar, reformar, embelezar a ocupação e


estabelecer normas para a não ocupação.

Urbanismo, hoje, designa o estudo organizado da ocupação humana sobre a Terra, que
implica construir sobre os espaços, produzir sobre os espaços e devolver os resíduos sobre o
espaço. Portanto, não diz mais respeito apenas a um determinado lugar, mas tem relação com
a ocupação sobre a orbe, o que nos leva a concluir que não se trata mais de urbanismo, mas de
orbanismo, pois os efeitos da ocupação têm consequências não apenas em um determinado
lugar, mas em todo o globo. É o caso do efeito estufa, das mudanças climáticas, etc.

Não há dúvidas de que precisamos pensar de forma global a necessidade de suprir os bens de
consumo, a necessidade de assegurar essa produção com a necessidade de que tudo isso não
afete o bem-estar das gerações presentes e futuras.

O meio ambiente é um problema da atualidade, o planeta Terra vive um momento de


inúmeras transformações. Na verdade, o seu equilíbrio ecológico está, de certa maneira, sendo
rompido, acarretando diversas consequências e perigos para a humanidade e a todos os seres
vivos existentes. Como argumenta Guattari (2004):

o planeta Terra vive um período de imensas transformações técnico-científicas, em


contrapartida das quais engendram-se fenômenos de desequilíbrio ecológicos que, se
não forem remediados, no limite, ameaçam a vida em sua superfície. Paralelamente
a tais perturbações, os modos de vida humano individuais e coletivos evoluem no
sentido de uma progressiva deterioração.

Os problemas ambientais emergem do impacto dessa produção e desse consumo sobre a


saúde, o conforto e o bem-estar contemporâneos da comunidade como um todo. E advém de
seus efeitos futuros, inclusive e esgotamento dos recursos naturais agora tão abundantemente
6
disponíveis e consumidos. As manifestações de dano contemporâneas são penosamente
familiares – poluição do ar e da água, o grande e crescente problema da remoção do lixo, o
perigo imediato à saúde de produtos e serviços distribuídos e a poluição visual da intromissão
das atividades de produção e de vendas, em particular a atividade de vendas varejistas, sobre a
paisagem urbana e rural. Com certa frequência, a má condição de saúde e a poluição visual
juntas. (Galbraith, 1996)

Colabora nesse sentido Silva (2006), dizendo que “urbanismo objectiva a organização dos
espaços habitáveis visando à realização da qualidade de vida humana”

Ao longo da história do homem, percebemos as várias formas de ocupação do solo nas


diferentes regiões da Terra, adequadas e incorporadas às diversas condições climáticas, seja
nos pólos, seja nas regiões temperados ou tropicais. De maneira especial, o avanço
tecnológico e a urbanização da paisagem estimularam grandes transformações à natureza,
especialmente após a Revolução Industrial que, por meio de um processo ininterrupto, trouxe
à luz do dia, debates antes desconhecido.

Se por um lado o avanço tecnológico proporcionou um progresso da qualidade de vida como à


erradicação e controle de doenças, novas vacinas, encanamento de água, tratamento de esgoto,
lixo etc, por outro, estimulou um desenvolvimento rápido das cidades, verificado no século
XX, ordenando não só grandes demandas na obtenção de recursos naturais, mas também de
infraestruturas, numa escala antes insonhável. A natureza humanizada, através das
modificações do ambiente, alcança maior expressão nos espaços ocupados pelas cidades,
criando um ambiente artificial. (Barieri, 1997).

O aumento da urbanização é um factor indissociavelmente ligado à mobilidade espacial do ser


humano, onde, em consequência da perda do meio de produção e a alteração dos processos
produtivos, migraram das áreas, até então rurais, para aquelas denominadas urbanas,
ocasionando o aumento demográfico das cidades. Este é um fato importante com relação à
urbanização, uma vez que, na época presente grande parte da população de vários países vive,
em sua maioria, nas áreas urbanas. Entretanto, não devemos culpar a população urbana pelos
problemas ambientais e sociais vivenciados, hoje.

Segundo Santos (1998), com o processo de urbanização e a actual conjuntura de tensão social
vivenciada pela globalização e pelo modelo de desenvolvimento econômico atribuído aos
países no mundo, onde uns encontram-se cada vez mais ricos e outros cada vez mais pobres,
nos leva a refletir sobre que tipo de desenvolvimento e progresso nós queremos. Não é
7
possível mais não pensar em meio ambiente, quando o mundo já vive problema de escassez
de água, mas também, não é possível pensá-lo, sem alimentar os milhões de famintos que se
encontra em continentes inteiros, como a África.

É nessa circunstância, que devemos discutir nossos problemas ambientais. É preciso construir
um novo mundo. Repensar os valores estabelecidos. É urgente pensar o homem como parte
do ambiente.

Educar para transformar, este é um dos princípios da educação ambiental. Informar e alterar
práticas de produção e consumo. Estabelecer a reciclagem, o reaproveitamento e o reuso.
Incentivar as tecnologias limpas. Reconhecer as formas simples e ecológicas nas relações
humanas. Resgatar o elo perdido entre o homem e a natureza. Construir um novo e melhor
mundo, este é o nosso desafio, e tudo é possível, com determinação e confiança em si, nas
mudanças de atitudes, que resultaram na transformação de comportamento para melhorar o
meio em que nos encontramos inseridos.

O homem é um ser consumista por natureza. Tem necessidades fundamentais, como: de


alimentar-se, vestir-se, morar, comunicar-se, de deslocar-se, etc., que tornam o consumo uma
questão antropológica e um direito fundamental. Buscando assegurar essas necessidades
fundamentais, além dos bens naturais disponíveis na natureza, o homem tem buscando
multiplicar e garantir novos bens de consumo. Mas problemas, como: o consumo desenfreado,
a forma de produção desses bens, a não utilização da mesma tecnologia para devolvê-los à
natureza e a desordenada ocupação humana têm sido as principais causas da poluição e
degradação ambiental.

O problema se resolve com a adoção de normas urbanísticas de ocupação, industrialização e


destinação final dos resíduos dos bens consumidos, buscando não inibir a produção e
multiplicação de bens, por meio da tecnologia, mas assegurando o desenvolvimento
sustentável.

Consequências ambientais resultantes da actividade do homem

No âmbito da natureza, são muitos os problemas ecológicos que resultam da sociedade atual,
dos métodos de consumo de energia, de matéria-prima e, principalmente, dos rejeitos dos
produtos eliminados no ambiente. A título de exemplo, podem ser citados: desertificações,
buracos na camada de ozónio, alteração da acidez dos mares, desgelo das calotas polares,
alterações climáticas, alterações das correntes marítimas, improdutividade das terras, entre
8
outros. Na realidade, esses exemplos citados são somente alguns dos problemas ambientais
que ameaçam o ecossistema da Terra.

A ampliação do consumo exagerado e da produção desenfreada de bens materiais ocasiona


uma grande preocupação com a destinação dos resíduos, pois rapidamente ficam obsoletos. A
mídia vincula o consumo ao prazer, a felicidade. As pessoas consomem em busca da
felicidade imediata. E cada produto novo ou reformulado exige novos consumidores e, para
atraí-los, é necessário renovar a promessa de felicidade, os produtos antigos já não servem
mais.

Devido à ampliação da insustentabilidade social e ambiental houve a formação de uma


opinião pública ambientalizada que busca a compreensão do problema ambiental e vem
construindo uma cultura ecologizada. No ocidente há uma diferenciação do humano e não
humano, pois se acredita que o não-humano (animais, plantas e objectos) é destituído de
espírito. Essa destituição ocasiona uma diferenciação entre sujeito e objecto do conhecimento,
onde o homem é o sujeito e o objecto é o meio ambiente. A relação estabelecida desde então
propiciou o homem que o sujeito fosse apenas observador do objecto, não acreditando que
fosse um sujeito transformador que intervêm diretamente no meio ambiente. Ao se separar do
meio ambiente, aumenta-se a possibilidade de destruição e degradação deste meio.

Uma das causas do descaso com meio ambiente é o etnocentrismo. Compreende-se que este
não está presente em todas as culturas o que nos remete a pensar: qual será o motivo da
difusão do etnocentrismo? É preciso desvincular a ideia que somos seres independentes do
meio ambiente e começar a construir uma relação mais harmoniosa com a natureza, onde seja
possível através de processos democráticos de planejamento de intervenções, que haja
participação de todos os integrantes da sociedade, para que esse processo possa ser melhor
difundido.

Para que haja ações transformadoras é importante compreender o que está acontecendo com o
meio ambiente. A participação activa é imprescindível para proporcionar a formulação de
diferentes hipóteses para cuidar do meio ambiente.

Muitos produtos que poderiam ter uma vida útil muito maior são produzidos já com o intuito
de durarem pouco, para que as pessoas tenham que comprar o mesmo produto várias vezes.
Existem diversos exemplos para esta situação: pilhas, lâmpadas, electrodomésticos,
automóveis e muitos outros. Além disso, é comum as empresas lançarem “novas versões” dos
produtos, com algumas pequenas melhorias, para que os consumidores comecem a considerar
9
os produtos que possuem como “obsoletos” e sintam-se impelidos a comprar os produtos mais
“modernos”.

Os descartáveis prejudicam a qualidade do meio ambiente das populações que vivem


próximas aos lixões, pois demoram centenas ou até mesmo milhares de anos para serem
degradados, favorecendo o surgimento de doenças como a dengue. Além disso, ocupam um
espaço enorme em aterros sanitários e lixões e representam uma das formas mais exacerbadas
de desperdício de matéria e energia da natureza.

É importante ressaltar que os lixões e a poluição não são “agressivos” à natureza. Eles
diminuem a qualidade de vida das pessoas que vivem naquela determinada área, bem como de
algumas espécies animais e vegetais que vivem ali, mas também favorecem a proliferação de
outras espécies. Por exemplo, um lixão pode ser ruim para as árvores, vacas e pessoas que
vivem naquele local, mas com certeza favorecerá os urubus, ratos e microrganismos
decompositores que habitam aquela área. Nossa luta contra a poluição é, na verdade, uma luta
por melhores condições de vida para nós mesmos.

A praticidade e a comodidade presentes na sociedade de consumo leva a criações tecnológicas


que resultam em uma produção contínua de artigos descartáveis, muitas vezes inúteis ou até
mesmo nefastos à qualidade de vida. Os cascos de vidro de refrigerantes que reutilizávamos
várias vezes, por exemplo, foram substituídos por garrafas PET descartáveis, pois assim as
empresas de refrigerante economizavam com o frete, otimizando seus lucros e repassando
para a sociedade os custos de sua lógica mercantil.

Muitos produtos que poderiam ter uma vida útil muito maior são produzidos já com o intuito
de durarem pouco, para que as pessoas tenham que comprar o mesmo produto várias vezes.
Existem diversos exemplos para esta situação: pilhas, lâmpadas, eletrodomésticos,
automóveis e muitos outros. Além disso, é comum as empresas lançarem “novas versões” dos
produtos, com algumas pequenas melhorias, para que os consumidores comecem a considerar
os produtos que possuem como “obsoletos” e sintam-se impelidos a comprar os produtos mais
“modernos”.

Considerações finais

O ser humano, em seu plano moderno, se distingue da natureza em uma autoexclusão.


Cartesianamente, separou o sistema simbiótico do planeta em partes e, pela dissecação,
imaginou a possibilidade de sobrevivência da espécie humana, pela exploração e destruição
10
da natureza. Nessa odisseia, não conseguiu perceber que homem e natureza são uma só coisa,
coexistindo em um mesmo habitat.

A sociedade moderna, que também é denominada de sociedade consumista, optou, como se


pode ver, pela busca da felicidade individual e, para isso, elegeu o consumo como o elemento
fundamental para atingir essa felicidade.

O consumo, indiscutivelmente, é imperativo para aplacar as necessidades de vida do


indivíduo; porém, quando ele se transforma desregradamente em escopo para satisfazer
desejos, ocorrem problemas tanto em âmbito social quanto ambiental.

Mostrar esses problemas e tentar conscientizar para a procura de uma nova ética, que envolva
tanto o social quanto o ambiental, foi o escopo primeiro deste capítulo. Nesse mesmo
diapasão, buscou-se demonstrar as dificuldades de ser criada uma ética ambiental na
sociedade atual, pois o homem sempre se posicionou, nos últimos séculos, como superior aos
outros organismos vivos, tendo a natureza para sob seu domínio.

No que se refere a essa superioridade, ela se evidencia claramente quando se observa que o
homem só começou a criar um pensamento ambientalista e a preocupar-se com a natureza
quando começaram a surgir problemas ambientais que atingiram o ser humano. Ou seja, o
homem só se preocupou com a natureza quando ele começou a ser atingido.

A direcção que a sociedade moderna tomou, com a inversão de valores morais, em que o ter
sobrepuja o ser, dificulta o protecionismo ambiental. Com a sociedade predefinida para o
consumo, não se consegue uma racionalização sistêmica. Os indivíduos fortificados por uma
subjectividade heterónoma, que os impele ao consumo desregrado, não percebem o que esta
acontecendo ao seu redor. Assim, por óbvio, não veem motivos para mudanças
paradigmáticas.

Por fim, torna-se indiscutível que esse sistema utilizado na sociedade moderna não faz sentido
algum, pois o caos ambiental fica fácil de ser visualizado. Dentro desse sistema linear, a
sociedade afundará no próprio lixo – restos humanos criados pela exclusão social e montanhas
de entulhos e rejeitos produzidos – criado pela sociedade de consumo.

Referências Bibliografias

BARIERI, J. C. Desenvolvimento e Meio Ambiente – As estratégias de mudança da Agenda


21. São Paulo: Vozes, 1997.
11
CAMARGO, R. A. L. Interpretação e Aplicação do Código de defesa do Consumidor.
São Paulo: Ed. Acadêmica, 1992.

CONDESSO, F. R. Direito do Ambiente. Portugal: Almeidinha, 2001.

GALBRAITH, J. K. A sociedade justa: uma perspectiva humana. Trad. de Ivo


Korytowski. Rio de Janeiro: Campus, 1996.

GIDDES, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. p. 21.

GUATTARI, É. As três ecologias. Trad. De Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas, SP:


Papirus, 2004.

HOLTHAUSEN, F. Z. Responsabilidade civil nas relações de consumo. In: Âmbito


Jurídico, Rio Grande, 35, 01/12/2006. Disponível em
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1409. Acesso em 07/08/2020.

LIMA, A. K. F. G. Consumo e Sustentabilidade: Em busca de novos paradigmas numa


sociedade pós-indutrial. In: Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI (Fortaleza/CE).
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010.

PEREIRA, W. M. Padrões de consumo e proteção ambiental – Ensaio de uma visão


global. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 51, 31/03/2008 [Internet]. Disponível em
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link =revista_ artigos _ leitura&artigo
_id=2473. Acesso em 07/08/2020.

PORTILHO, F. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo: Cortez,


2005.

SANTOS, M. A urbanização brasileira. 4ª edição. São Paulo: Hucitec,1998.

SILVA, J. A. Direito Urbanístico brasileiro. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

Você também pode gostar