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SOCIAL
Introdução
Desde a Antiguidade, havia garantias que limitavam o poder absoluto do
Estado na perspectiva de soberano versus súditos. Só com a luta pelos
direitos individuais burgueses é que podemos pensar nas garantias na
relação cidadão versus Estado, ou seja, a partir da necessidade individual
baseada na soberania popular.
A divisão do Estado em poderes foi a primeira garantia para se acabar
com o poder absoluto e, desde então, essa organização do Estado é
adotada em nações democráticas, mas o Estado liberal apresentava
limitações extremas ao Estado. No século XX, uma nova classe social se
apresentou como protagonista e reivindicava seus direitos, garantidos
por meio da intervenção do Estado na perspectiva social democrática.
O desenvolvimento da sociedade ampliou os direitos a diversos gru-
pos sociais. Atualmente o respeito aos direitos humanos fundamentais
é um consenso mundial, mas a garantia desses direitos, de forma efetiva
e não apenas descrita, é o desafio contemporâneo.
Neste capítulo, você vai ler sobre as garantias constitucionais e a sua
relação com os direitos humanos fundamentais.
Conceitos fundamentais
As garantias constitucionais dão materialidade aos direitos humanos fundamen-
tais na perspectiva da ordem jurídica de um Estado Democrático de Direito,
pois a simples positivação de direitos, mesmo daqueles com eficácia imediata,
2 Garantias constitucionais
não garante sua efetivação. Já que os direitos são conquistas históricas e estão
sempre em disputa, não basta serem reconhecidos e positivados constitucio-
nalmente, assim, é necessário garanti-los, pois sempre serão questionados.
Os direitos individuais datam do século XVIII e apareceram pela primeira vez na De-
claração Americana e na Declaração dos Direitos do Homem e dos Cidadãos. Esses
documentos foram resultantes da luta da burguesia por seus direitos frente ao Estado
absolutista, no qual reivindicavam a liberdade econômica, o direito à propriedade
privada e a participação política.
Revolução Francesa. Em seu livro O espírito das leis, de 1748, afirmava que
todo homem que tem poder é tentado a abusar dele, assim, é preciso que se
freie esse instinto. A divisão de poderes é o berço do Estado Democrático de
Direito, no qual esse é o mecanismo de proteção do indivíduo contra o poder
e a opressão. Dessa forma, o Estado é dividido entre Legislativo, Executivo e
Judiciário (MARMELSTEIN, 2009). Essa foi a forma adotada de organização
do Estado em nações democráticas. Não é um consenso mundial, mas uma
forma de organização na qual se baseia o Estado Democrático de Direito.
A partir desse momento, diversas nações se organizaram na perspectiva
do Estado Democrático de Direito como forma de garantia dos direitos indivi-
duais, porém na perspectiva liberal, na qual não há intervenção do Estado nas
relações sociais e econômicas, cabendo a este apenas a garantia de segurança
da propriedade privada.
Adam Smith, um pensador liberal, dizia que a mão invisível do mercado
regula todas as relações, sendo que se deve ter um Estado mínimo. Para Gruppi
(1980, p. 31), o Estado sempre representa uma classe. A sua maior intervenção
ou não faz parte da luta de classes. Assim:
direitos que se diziam ser para todos. O voto, por exemplo, era censitário, isto
é, apenas donos de terras detinham o poder político.
Assim, terminou a fase revolucionária burguesa e iniciou-se um processo
conservador, materializado na dominação sobre outra classe. Essa outra classe
assumiu o processo revolucionário na luta de classes, reivindicando melhores
condições de trabalho para todos e não mais pela negociação individual. Essa
reivindicação foi questionada por ferir a liberdade individual. Além disso,
como o poder do Estado estava com a burguesia, o sufrágio universal também
entrou na luta pelos direitos. Essa classe — que não possuía bens, que tinha
prole numerosa e que vendia sua força de trabalho em forma de salário — foi
chamada de proletariado.
seus direitos. Bobbio (1992) apresenta que a preocupação ainda hoje não está
na teoria dos direitos individuais, mas sim em garantir sua efetivação. Ou
seja, além de teorizar sobre a evolução dos direitos, é importante perceber as
formas que garantem sua materialização em cada contexto histórico e/ou nação.
A partir da luta pelo direito ao trabalho e pelos direitos políticos, estabelece-se
um Estado Social de Direito, que apresenta as demandas de outros grupos sociais
e não apenas de um grupo que diz representar a todos. As Constituições do início
do século XX apresentaram a garantia de atendimento a direitos individuais para
todos como obrigação do Estado, com claras perspectivas sociais. As experiências
do México, da União Soviética e da Alemanha são as primeiras a apresentar a
intervenção do Estado frente à necessidade de todos os grupos sociais.
A garantia da educação básica permeou essas Constituições como dever
do Estado, além de regulamentações das relações trabalhistas, apresentando
a igualdade entre patrões e empregados nas negociações trabalhistas. Na
tensão da luta de classes, alguns direitos individuais foram retirados na União
Soviética em favor da classe trabalhadora. O exemplo clássico é a tomada
de toda a propriedade privada pelo Estado para o usufruto de trabalhadores.
Nessa tensão entre o Estado liberal de direitos e o Estado social de direi-
tos, surgem as demandas de atendimento de dignidade da pessoa humana de
todos os indivíduos, independentemente de sua nacionalidade ou da soberania
nacional no século XX.
A Segunda Guerra foi marcada pela violação de direitos pelo Estado nazista
alemão. Os campos de concentração apresentaram ao mundo o horror dessa
guerra — caracterizado pelo trabalho forçado, por torturas e pela morte de
milhões de judeus e de minorias sociais — e levaram os países a repensar
os limites do Estado. As pessoas foram presas e levadas para esses campos
devido à sua religião, por serem contrárias ao regime nazista ou por sua
orientação sexual. Ao fim dessa guerra, com a derrota alemã, foi organizada
uma instituição que tivesse o objetivo de resolução pacífica entre as nações.
6 Garantias constitucionais
Confira no link a seguir o mapa mental sobre a organização social, política e econômica
do Estado absolutista, sem qualquer espaço para garantia de direitos:
https://goo.gl/UR2umF
A globalização neoliberal tem atacado, cada vez mais, os direitos sociais com o discurso
de livre comércio. Assim, é latente a luta de classes na reivindicação dos direitos. Já a
solicitação da burguesia internacional é o Estado não interventor.
Também temos o medo do terrorismo, que tem justificado torturas e mortes, ou
seja, um Estado interventor forte que garanta a segurança a um grupo, mesmo que,
para isso, sejam utilizados meios cruéis.
direito de petição;
direito de certidões;
habeas corpus;
mandado de segurança;
mandado de injunção;
habeas data;
ação popular.
Direito de petição
No art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal de 1988, consta “[...] que se assegura
a todos o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de Direitos ou
contra ilegalidade ou abuso de poder” (BRASIL, 1988, documento on-line).
O direito de petição pode ser definido como:
[...] o direito que pertence a uma pessoa de invocar a atenção dos Poderes
Públicos sobre uma questão ou situação, seja para denunciar uma lesão con-
creta, e pedir a reorientação da situação, seja para solicitar uma modificação
no Direito em vigor, mais favorável a liberdade (SILVA, 2011, p. 182).
Direito de certidões
O direito de certidões é uma garantia que apareceu pela primeira vez no Brasil
na Constituição de 1946 e se manteve nas de 1967 e 1969. Tem o caráter de
direito individual, ou seja, apenas o próprio interessado pode exigi-lo em
nome do seu interesse. Nessas constituições citadas, essa garantia deveria ter
regulamentação futura. Essa é a principal mudança em relação à Constituição
Federal de 1988, que já apresenta essa garantia constitucional como de eficácia
plena e aplicabilidade imediata.
Na Constituição Federal de 1988, art. 5º, XXXIV, b, está descrita a obtenção
em repartições públicas para defesa de direitos e esclarecimentos de situações
de caráter pessoal (BRASIL, 1988). Assim, é uma garantia constitucional
clara na defesa do direito individual, porém há diversos casos em que essa
garantia é negada, sendo utilizada outra garantia constitucional: o mandado
de segurança (SILVA, 2011).
Habeas corpus
O habeas corpus foi a primeira conquista liberal, que remonta ao século
XIII na Inglaterra e que veio, com o passar dos tempos, como uma garantia
constitucional de liberdade dos súditos e prevenção de encarceramentos por
exagerado poder do Estado absolutista. No Brasil, apresenta-se no ordenamento
jurídico desde a época imperial.
O habeas corpus já foi utilizado tanto na perspectiva civil quanto penal.
Ruy Barbosa, nosso principal jurista constitucional brasileiro do século XIX,
apresentava:
[...] logo, o habeas corpus não está circunscrito aos casos de constrangi-
mento corporal: o habeas corpus hoje se estende a todos os casos em que
um direito nosso, qualquer direito, estiver ameaçado, impossibilitando
seu exercício, pela intervenção de abuso de poder ou de uma ilegalidade
(SILVA, 2011, p. 186).
14 Garantias constitucionais
Art. 5º [...]
LXVIII — conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por
ilegalidade ou abuso de poder;
[...] (BRASIL, 1988, documento on-line)
Assim, o habeas corpus pode ser preventivo quando uma pessoa sentir que
pode ter o direito à liberdade violado por abuso de poder. Essa é uma garantia
individual, ou seja, apenas de interesse pessoal e intransferível. Assim, qualquer
pessoa pode impetrá-lo junto à autoridade judicial, não sendo necessária a
presença de um profissional de direito. Essa garantia constitucional não cabe
a punições disciplinares relativas às forças armadas.
O habeas corpus preventivo é uma garantia constitucional muito utilizada por agentes
políticos em momentos de crise política. O Brasil, após o impeachment da presidenta
Dilma Rousseff, vivenciou essa tensão, que, para alguns, pode representar um abuso
de poder e perseguição política.
Confira nos links a seguir a utilização do habeas corpus preventivo de personalidades
políticas.
https://glo.bo/2Ek9rSX
https://bit.ly/2HWxblN
Mandado de segurança
O mandado de segurança aparece no ordenamento jurídico brasileiro na
Constituição de 1934. O habeas corpus até 1926 tinha o caráter duplo: civil e
penal. Depois passou a se restringir à perspectiva penal na defesa do direito
individual de liberdade coagido ou ameaçado por abuso de poder. Assim, foi
pensado um remédio constitucional que garantisse os direitos na esfera civil.
Garantias constitucionais 15
Art. 5º [...]
LXIX — conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
[...]
Mandado de injunção
O mandado de injunção é uma garantia constitucional nova no ordenamento
jurídico brasileiro e está descrito no art. 5º, LXXI, com o seguinte enunciado
(BRASIL, 1988, documento on-line):
16 Garantias constitucionais
Art. 5º [...]
LXXI — conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucio-
nais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
[...]
Habeas data
O habeas data, que confere a garantia da intimidade individual, tem por
objetivo defender:
Ação popular
A ação popular é uma garantia desde as sociedades mais antigas. Desde a
sociedade romana, atribuía-se ao povo a legitimidade de pleitear, junto ao
Estado, os interesses coletivos. Esse direito não era para todos, já que a pers-
pectiva de cidadãos — independentemente de renda, classe social, religião,
entre outros — é algo do século XX, a partir da instituição da DUDH em
1948, a qual a nossa Constituição Federal de 1988 segue.
No art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal de 1988, consta que (BRASIL,
1988, documento on-line):
Art. 5º [...]
LXXIII — qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular o ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor a salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus de sucumbência;
[...]