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INTRODUÇÃO

A violência contra a mulher é um tópico complexo que não é somente


pertencente a contemporaneidade. Sua origem vem de relações desiguais e
hierarquizadas presentes entre homens e mulheres que por sua vez são derivadas das
raízes de nossa sociedade. De acordo com Souza e Rezende (2018), "a violência contra
a mulher decorre da desigualdade de gênero e acarreta danos psicológicos, físicos,
morais, patrimoniais e sexuais".

A pressão do movimento feminista sobre o Estado foi fundamental para que


houvesse uma ampliação dos direitos constitucionais das mulheres. Segundo Angelim e
Diniz (2003):

o movimento de sensibilização da sociedade para a ‘violência contra a


mulher", que surge na década de 1970 e ganha força na década de 1980, teve,
portanto, um papel fundamental para acabar com a invisibilidade das várias
formas de violências que ocorrem no ambiente doméstico e que são
perpetradas por pessoas que deveriam proteger seus familiares
 

Os autores também afirmam que, sem as reivindicações feitas pelo movimento


feminista, seria impensável definir a agressão conjugal como um ato de violência
passível de punição. E, mesmo com toda essa luta, pesquisas sobre a violência contra a
mulher continuam apontando o seu crescimento.  

Conforme os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH), em


todo Brasil, a central de atendimento registrou 31.398 denúncias e 169.676 violações
envolvendo a violência doméstica contra as mulheres no primeiro semestre de 2022. E,
segundo o Boletim “Elas Vivem: dados que não se calam”, feito pela Rede de
Observatórios da Segurança aponta que, em 2022, uma mulher foi vítima de violência a
cada quatro horas. O documento aponta que foram 2.423 casos, 495 deles terminaram
em morte e o maior número de eventos foi registrado em São Paulo. Foram 898 casos,
ou seja, uma cada dez horas. 

Devido à magnitude do problema, buscamos fazer uma análise sobre o índice de


violência contra a mulher na Região Metropolitana de São Paulo.
REFERENCIAL TEÓRICO

Na década de 50, a Organização das Nações Unidas iniciou projetos para a


prevenção da violência contra a mulher com a criação da Comissão de Status da
Mulher. Esse comitê formulou entre os anos de 1949 e 1962 uma série de tratados
baseados em provisões da Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Pinafi (2007) explica que, a Carta das Nações Unidas afirma
expressamente os direitos iguais entre homens e mulheres e a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e a Declaração Universal dos Direitos Humanos declara que todos os
direitos e liberdades humanos devem ser aplicados igualmente a homens e mulheres,
sem distinção de qualquer natureza. Desde então, uma série de medidas tem sido
planejadas e implementadas para a prevenção desse problema.

A violência contra a mulher possui um cunho, histórico e cultural com aponta


Pinafi: 

A violência contra a mulher traz em seu seio, estreita relação com as


categorias de gênero, classe e raça/etnia e suas relações de poder. Tais
relações estão mediadas por uma ordem patriarcal proeminente na sociedade
brasileira, a qual atribui aos homens o direito a dominar e controlar suas
mulheres, podendo em certos casos, atingir os limites da violência. 

A partir daí, o caminho para a formação de outras políticas e leis que protegiam
as mulheres foi trilhado até chegar em leis como a lei Maria da Penha e a Convenção de
Belém do Pará e a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher

(CEDAW). Foi a partir da Convenção de Belém do Pará que houve a primeira definição
de violência contra a mulher: 

[...] esta representa um marco contextual e conceitual para a violência de


gênero, uma vez que define em seu artigo 1° o conceito de violência contra a
mulher. Violência contra a mulher significa, nos termos desta convenção,
‘qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause ou passível de causar
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na
esfera pública como na esfera privada.’ (BRASIL, 2006, p. 15)
A Lei Maria da Penha foi uma grande inovação jurídica e um salto ao progresso
da luta contra a violência doméstica. Além de ser a conquista mais recente da população
feminina do Brasil. 

Segundo o Instituto Maria da Penha, “antes de a lei Maria da Penha ser


sancionada, a violência doméstica e familiar contra a mulher era tratada como crime de
menor potencial ofensivo e enquadrada na Lei n. 9.099/1995”. Ou seja, isso significa
que a violência de gênero se torna trivial para o Estado e as punições não serão mais se
reduzidas ao pagamento de cestas básicas ou trabalhos comunitários.

Após a lei ser sancionada, o poder público assumiu o compromisso de criar


condições para que direitos da mulher fizessem parte do dia a dia de uma brasileira,
segundo ela:

toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual,


renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (Brasil,
2006, Lei Nº 11.340,  Art. 2º)

E acordo, com o artigo Art. 7.º dessa lei a última definição jurídica de violência
contra a mulher é: 

São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras: 

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal 

 II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe


cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;  
 III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade,
que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício
de seus direitos sexuais e reprodutivos;  

IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que


configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades; 

V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure


calúnia, difamação ou injúria. (Brasil, 2020, Lei Nº 11.340,  Art. 1,2,3,4,5)

Segundo Guimarães e Pedroza, “a gravidade das situações de violência


doméstica contra a mulher tem exigido cada vez mais estudos e reflexões teórico-
práticas que embasem compreensões deste complexo fenômeno.” Há várias e pesquisas
que estão apontando o aumento da violência contra a mulher no Brasil, especialmente
na cidade de São Paulo. 

De acordo com a Secretaria da Mulher, cerca de 70% de mulheres vítimas de


feminicídio nunca conseguiram denunciar o crime em uma Ouvidoria Nacional dos
Direitos Humanos (ONDH), denunciar um agressor é algo muito mais complexo e
pesado do que parece, então muitas mulheres não o fazem. De acordo com uma
pesquisa da Rede Nossa SP, mais de 83 mil mulheres foram vítimas de violência
doméstica na cidade de São Paulo em 2019, o que demonstra que houve um aumento de
64% se comparado às ocorrências de 2016, conforme a pesquisa “Mapa da
Desigualdade".  

A pesquisa mostra que a menor taxa de violência contra a mulher foi registrada
no distrito de Marsilac, 114,4 por 10 mil habitantes, seguido por Vila Andrade (119,3) e
Alto de Pinheiros (131,8). O distrito com a maior taxa de registros é o da Sé (865,4),
seguido por Barra Funda (835,9), Brás (535,4) e Pari (495,2). Isso demonstra que o
índice de violência contra a mulher na cidade de São Paulo é de 228,1 por 10 mil
habitantes. 

Pensando então, a partir de Pinafi, no qual além da responsabilidade do Estado


de implantar políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres, é dever
da sociedade tomar consciência sobre sua responsabilidade, no sentido de não aceitar
conviver com a violência doméstica, pois, ao se calar, ela está contribuindo para a
perpetuação da impunidade. É necessário falar sobre a violência contra a mulher, devido
a isso, elaboramos uma cartilha informativa para que a sociedade possa saber mais sobre
a violência contra a mulher e sobre seu papel de combatê-la. 

REFERÊNCIAS

SENADO FEDERAL. A Violência contra a Mulher. Disponível em:


<https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/hp/acervo/outras-referencias/
copy2_of_entenda-a-violencia/a-violencia-contra-a-mulher#:~:text=A%20Conven
%C3%A7%C3%A3o%20de%20Bel%C3%A9m%20do>. Acesso em: 3 abr. 2023.

SOUZA, M,Carmo,T ; REZN, F, F. Violência contra mulher: concepções e práticas


de profissionais de serviços públicos. Est. Inter. Psicol.,  Londrina ,  v. 9, n. 2, p. 21-
38,   2018.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S2236-64072018000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 
02  abr.  2023.

Violência contra mulher cresce 64% em SP em 3 anos; casos de feminicídio


chegam a ser 16 vezes maiores em um bairro em relação a outro, diz Mapa.
Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/10/29/violencia-
contra-mulher-cresce-64percent-em-sp-em-3-anos-casos-de-feminicidio-chegam-a-ser-
16-vezes-maiores-em-um-bairro-em-relacao-a-outro-diz-mapa.ghtml>. Acesso em: 3
abr. 2023.

 
Brasil tem mais de 31 mil denúncias de violência doméstica ou familiar contra as
mulheres até julho de 2022. Disponível em:
<https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2022/eleicoes-2022-periodo-
eleitoral/brasil-tem-mais-de-31-mil-denuncias-violencia-contra-as-mulheres-no-
contexto-de-violencia-domestica-ou-familiar>. Acesso em 02 abr.2033

Lei Maria da Penha na Íntegra e Comentada - Instituto Maria da Penha. Disponível


em: <https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/lei-maria-da-penha-na-
integra-e-comentada.html>. Acesso em 02 abr.2033

Estudo em sete estados aponta que uma mulher é vítima de violência a cada quatro
horas. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/03/06/estudo-em-sete-estados-
aponta-que-uma-mulher-e-vitima-de-violencia-a-cada-quatro-horas.ghtml>. Acesso em:
3 abr. 2023.

Homicídios de mulheres no Brasil aumentam 31,46% em quase quatro décadas.


Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/homicidios-de-mulheres-no-brasil-
aumentam-3146-em-quase-quatro-decadas>. Acesso em: 3 abr. 2023.

CÂMARA DOS DEPUTADOS; EDIÇÕES CÂMARA. Lei Maria da Penha. [s.l.]


Edições Câmara, 2020.

H
‌ ANADA, H.; D'OLIVEIRA, A. F. P. L.; SCHRAIBER, L. B.. Os psicólogos na rede
de assistência a mulheres em situação de violência. Revista Estudos Feministas, v.
18, n. Rev. Estud. Fem., 2010 18(1), p. 33–60, jan. 2010.

PINAFI, T. Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na


contemporaneidade. Disponível em:
<http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/
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