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Violência e seus tipos.

Está ocorrendo um aumento importante dos estudos na área da saúde sobre a violência,
principalmente nos casos de violência contra a mulher. Isso ocorre por conta do
reconhecimento da dimensão do fenômeno como um grave problema de saúde pública, por
sua alta incidência e pelas consequências que causa à saúde física e psicológica das pessoas
que sofrem violência. Dessa forma, torna-se importante compreender a definição de tipos de
violência que mais ocorrem.
A palavra violência deriva do latim violentia; que significa impetuosidade, aplicação de força,
vigor, contra qualquer coisa. Mas sua origem está relacionada com o termo violare, violação,
que evidencia o caráter danoso e invasivo do termo. Assim considera-se violência qualquer
atitude ou comportamento que se usa da força e do poder para causar intencionalmente dano
ou intimidação contra a integridade física ou psicológica, através de autoagressões, agressões
interpessoais ou coletivas.
Para a OMS, por exemplo, a violência contra a mulher é definida por:
Todo ato de violência baseado em gênero, que tem como resultado, possível ou real, um dano
físico, sexual ou psicológico, incluídas as ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da
liberdade, seja a que aconteça na vida pública ou privada. (OMS, 1998, apud DA SILVA,
2007, pg.97)
Já para Santos (1996) a violência configura-se como um dispositivo de controle aberto e
contínuo, ou seja, a relação social caracterizada pelo uso real ou virtual da coerção, que
impede o reconhecimento do outro, pessoa, classe, gênero ou raça, mediante o uso da força
ou da coerção, provocando algum tipo de dano, configurando o oposto das possibilidades da
sociedade democrática contemporânea.
Na perspectiva legal, o artigo 5° da Lei Maria da Penha configura violência doméstica e
familiar contra a mulher como uma forma de violação dos direitos humanos caracterizada por
cinco categorias de acordo com sua natureza, sendo elas: violência física, sexual, patrimonial,
moral e psicológica.
A violência física é entendida legalmente (pela Lei Maria da Penha) como qualquer conduta
que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. Seus efeitos visíveis e imediatos, a
tornam entre as cinco violências, a mais reconhecida e combatida socialmente.
Ela se caracteriza frente a atos que usam de força física, de algum tipo de arma ou instrumento
que pode causar lesões internas: (hemorragias, fraturas), externas (cortes, hematomas,
feridas). Entre o rol de agressões as quais as mulheres estão sujeitas podemos distinguir
golpes, tapas, chutes, surras, cortes, tentativas de estrangulamento e queimaduras, tortura
física, entre outros.
A violência sexual é entendida, pelo artigo 7° Inciso III, da mesma Lei, como “qualquer
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força...”
A violência moral e patrimonial discorrem, respectivamente, sobre condutas que configuram
calúnia, difamação ou injúria e condutas que coloquem em risco a integridade e o direito de
posse de objetos e recursos da mulher.
Por fim, a violência psicológica, é estabelecida pela Lei Maria da Penha, artigo 7° Inciso III,
como: “qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto estima ou que
lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;”
Os abusos psicológicos, apesar de frequentes, são por via de regra mais difíceis de serem
identificados. Sem marcas visíveis no corpo da mulher, essas agressões são mascaradas em
atos de ciúmes, controle, humilhação, menosprezo, chantagem, ironias e ofensas. A
manifestação da violência psicológica inclui a discriminação, exploração da mulher, crítica pelo
desempenho sexual, o cerceio à liberdade, vigilância constante, reclusão ou privação de
recursos materiais, financeiros e pessoais, ofensa verbal de forma repetida. Além disso, a
concepção da Organização Mundial da Saúde ainda identifica atos que visam degradar ou
controlar as ações da mulher, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, manipulação, ridicularização, ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo
à saúde psicológica e à autodeterminação.
Atos estes que para muitos faz parte da dinâmica natural de um relacionamento,
caracterizados como “brincadeiras”. Mas a gravidade dessa realidade traz consequências que,
ainda que não imediatas ou explícitas, atingem a saúde física e psíquica das mulheres, com
desdobramentos que extrapolam o âmbito individual, influenciando sua conjuntura familiar e
até mesmo a econômica e social. As consequências se manifestam desde quadros orgânicos
como obesidade, síndrome de dor crônica, distúrbios ginecológicos, a problemas psíquicos
como depressão, síndrome do pânico, fobia, estresse pós traumático, consumo de álcool e
drogas, chegando muitas vezes à tendência ao suicídio.
Não obstante suas consequências diretas, a violência psicológica contra a mulher preocupa
ainda mais, já que esta normalmente precede a agressão física que, uma vez praticada e
tolerada, pode se tornar constante. Como propõe Bandeira (2014), a violência psicológica é a
argamassa da violência física, uma vez que o agressor se usa daquela para controlar sua vítima
e mantê-la subjugada. O temor e a perda do empoderamento da mulher são consequências
graves de abusos psicológicos, que abrem prerrogativa para que a violência física se manifeste.
Como mostra Miller o agressor, antes de “poder ferir fisicamente sua companheira, precisa
baixar a auto-estima de tal forma que ela tolere as agressões”
Como destaca Day (2003) “os homens têm maior probabilidade de serem vítimas de pessoas
estranhas, enquanto que as mulheres têm maior probabilidade de serem vítimas de membros
da sua própria família ou de seus parceiros íntimos. [...] Sabe-se que de 40% a 70% dos
homicídios femininos, no mundo, são cometidos por parceiros íntimos.” (DAY, 2003, p.15).
Além disso, dados nacionais corroboram essa realidade, como os relatos registrados pelo
balanço da Central de Atendimento às Mulheres 180 (2015) que mostram que 70% das
agressões foram cometidas dentro de uma relação afetiva, ou seja, por homens com quem as
vítimas tinham ou já tiveram algum vínculo afetivo.
Nesse contexto, a violência contra a mulher, que por muitos anos foi respaldada por lei e
justificada por uma ordem social de dominância e subordinação de gênero, ainda se perpetua
em pensamentos e comportamentos. Um processo que acaba por legitimar certas agressões,
especialmente dentro das relações domésticas, julgando-as (ou subjulgando-as) como parte
integrante, e natural, da dinâmica entre homens e mulheres. Se essa quase “tolerância” social
ainda se dá em níveis de estupro e agressões físicas quem dirá em violências que não deixam
roxos ou marcas físicas, nas violências mais silenciosas: as violências psicológicas. Estas
recebem ainda menos atenção e reconhecimento na dinâmica social, mesmo sendo quase
sempre o primeiro passo em um processo de controle e dominação da mulher, que não raro
culmina em agressões físicas e mesmo em feminicídio. A violência do homem contra a mulher,
especialmente a doméstica, passa a ser classificada, então, como um tipo de violência bastante
específica, vista com outros olhos e combatida de maneira mais firme e incisiva (PINSKY;
PEDRO (Org.) 2012).
Em outras palavras a violência contra a mulher é tanto mais percebida e denunciada
quanto for seu nível físico de agressividade – em comportamentos que ferem, deixam marcas
ou, em última instância, matam. “A violência contra a mulher está tão naturalizada que só nos
causa indignação aquela que lesa o corpo."

Após a análise de dados entre os anos de 2007 a 2017 pelo Instituto de


Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP), indicadores foram elaborados para uma melhor compreensão do processo
acentuado de violência no país, contribuindo então, para a produção do ‘Atlas da
Violência’ publicado em 2019. Logo, através de elementos tabulados pelo Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM), a divulgação realizada refere-se às taxas de
violência no Brasil como um todo, números agravantes em alguns estados e públicos-
alvos dessa questão, por exemplo as mulheres. À vista disso, é relatado que em 10
anos 4.936 mulheres foram assassinadas, possuindo um índice de maior ocorrência
especificamente em 4 estados (Roraima, Rio Grande do Norte, Acre e Ceará), e 66%
das vítimas no último ano eram negras.
Já de acordo com o ‘Anuário Brasileiro de Segurança Pública’ de 2020
divulgado também no FBSP, a respeito da violência contra a mulher no primeiro
semestre do ano durante a pandemia do coronavírus, possui um aumento de 1,9% de
feminicídios em relação ao mesmo período de 2019, assim como nos chamados para
polícia militar em casos de violência doméstica, sendo 147.379 vítimas. Portanto, é
constatado que a cada 2 minutos ocorre uma agressão física totalizando 266.319
registros de lesão corporal. Ainda sobre as taxas de 2019, é exposto também que a
cada 8 minutos ocorre um estupro, atingindo 66.123 casos.
Em combate aos fatos descritos acima, é possível citar algumas práticas
essenciais para sua efetivação, como por exemplo, a Política Nacional de
Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres instituída em 2018 através da
‘Resolução CNJ n.254’, com ações implementadas que articulem com a complexidade
do assunto em todas as suas possíveis especificidades. Desse modo, essa política
dispõe do envolvimento com diversos setores (saúde, segurança pública, justiça,
educação, assistência social, entre outros) para uma atuação em conjunto neste
enfrentamento. Por fim, compreende-se na prática as seguintes dimensões:
prevenção, assistência, combate e garantia dos direitos.
a) Prevenção: “ações educativas e culturais que interfiram nos padrões
sexistas, transmitir atitudes igualitárias e valores éticos para com às
diversidades de gênero, raça/etnia, geracionais e de valorização da
paz.” Por exemplo, campanhas que propiciem reflexões e mudanças de
valores.
b) Assistência: “rede de atendimento e capacitação de agentes públicos.”
Através de atendimentos humanizados e qualificados e com a criação
serviços especializados (Casas-Abrigo, Centros de Referência,
Reabilitação e Educação do Agressor, Juizados de Violência Doméstica
e Familiar Contra a Mulher, Defensorias), e junto uma interligação entre
os governos (Federal, Estadual, Municipal) para maior integralidade do
atendimento.
c) Combate: “ações punitivas e cumprimento da Lei Maria da Penha”.
Intervenções realizadas para uma responsabilização dos agressores no
aspectos processuais e penais.
d) Garantia dos Direitos : “cumprimento da legislação
nacional/internacional e iniciativas para o empoderamento das
mulheres.” Viabilizar o acesso à justiça e relembrar o público feminino
que possuem seus direitos.
POR QUE MUITAS MULHERES NÃO DENUNCIAM A
VIOLÊNCIA?

A grande parte dos responsáveis pela violência contra a mulher no Brasil


segundo o Mapa da Violência de 2015 são homens que algum momento teve
algum relacionamento com a vítima, mas mesmo assim o agressor pode ser
pai, tio, irmão, sobrinho, filho, vizinho, mais as vítimas sempre serão as
mulheres. O sentimento de posse que agressor tem sobre a vítima mostra uma
herança histórica, onde antigamente a mulher era submissa a o homem, pode
acontecer também ser uma relação que é passada de pai para filho, onde o
filho vê o pai maltratando a mãe e fazer isso com sua esposa. Esse sentimento
de posse é sustentado pela cultura influenciando a mídia de forma a romantizar
tal posse (PEREZ, 2015).
A maioria dos agressores de crimes passionais não possuem registros
criminais, tendo características de um cidadão trabalhador ou atencioso para
com seus filhos. Dessa forma, são vistos pela Instituição legais como um
improvável culpado, simplesmente por não haver antecedentes criminais ou por
estar inserido em uma posição de prestígio da sociedade (PEREZ, 2015).
Na cartilha “Protegendo as Mulheres da Violência Doméstica” do Fórum
Nacional de Educação em Direitos Humanos Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres é colocado o padrão geral do ciclo de violência do agressor,
sendo:
Fase um: A criação da tensão. Nesta fase podem ocorrer incidentes
menores, como agressões verbais, crises de ciúmes, ameaças,
destruição de objetos, xingamentos, crítica constante, humilhação
psicológica, e pequenos incidentes de agressão física. Há um aumento
gradual da tensão, que pode durar de alguns dias a um período de
anos. A mulher está atenta quanto a uma mudança no comportamento e
na atitude de seu companheiro. O agressor torna-se progressivamente
agitado e raivoso. A mulher demonstra precaução extrema com relação
ao seu companheiro. Nega que o abuso esteja acontecendo e tenta
controlar a situação assegurando que refeições estão sendo
preparadas, que a casa é bem cuidada e que os filhos têm bom
comportamento. Um pequeno incidente de violência ocorrerá. A mulher
procurará justificar a agressão. O agressor sabe que o comportamento
dele está errado e teme que sua companheira o abandone. A mulher,
inadvertidamente, reforça os temores do agressor, retraindo-se para
não o provocar. A tensão entre o agressor e sua companheira fica
insuportável. Estas expressões de tensão, hostilidade e
descontentamento invariavelmente conduzem à fase dois. Fase Dois: o
ato de violência. Existe um ato destrutivo principal de violência física
contra a mulher. Frequentemente esta violência aguda é acompanhada
por severa agressão verbal. Esta fase é mais curta que a Fase Um e
que a Fase Três, e normalmente dura de duas a quarenta e oito horas.
Nesta fase, a mulher sofre os danos físicos mais sérios. A mulher
consegue recordar frequentemente em detalhes a Fase Dois, o que o
homem não consegue. O agressor parece saber como prolongar a
violência em sua companheira, sem matá-la. O agressor pode acordar a
mulher para bater nela. A mulher provavelmente negará a seriedade
dos danos que sofreu para acalmar o agressor e assegurar o término da
Fase Dois. Algumas vezes a mulher percebe a aproximação desta fase
e acaba agindo de forma a provocar os incidentes violentos, por não
suportar mais o medo, a raiva e a ansiedade. Ela inconscientemente
sabe que esta fase é mais curta e que, logo em seguida, virá a fase da
lua-de-mel. Fase Três: Fase Amorosa, tranquila (Lua de mel). O
agressor mostra-se arrependido com o comportamento que teve e age
de forma humilde e amorosa, procurando se desculpar. Ele pode encher
a mulher de presentes e desculpas e prometerá não a atacar
novamente. O comportamento amoroso dele reforça na mulher a
esperança de que ele mudará e muitos até começam a buscar um
tratamento psicológico ou para alcoolismo. Isto 7 normalmente encoraja
a mulher a manter sua relação de vida matrimonial. Mas, às vezes, não
há nenhum comportamento amoroso na Fase Três, apenas a ausência
de violência. O agressor e a mulher aceitam de bom grado esta fase. O
agressor se mostra encantado e manipulável. O agressor acredita que
pode se controlar e nunca mais agredirá a mulher. Convence a todo
mundo disso, usando frequentemente a família e os amigos para
convencer a mulher a não romper o relacionamento com ele. A mulher
quer acreditar nele e se convence de que a intenção dele é verdadeira.
A mulher recorda, pelo menos tem uma pequena lembrança, do amor
que nutriu por ele no início de seu relacionamento. O agressor se
mostra carente – não pode viver sem a mulher. A mulher sente-se
responsável pelo homem. É durante esta fase que a probabilidade da
mulher fugir é menor. A Fase Três traz de volta a tensão, que provoca a
Fase Um. O ciclo de violência começa novamente. Eventualmente, o
remorso que o agressor sente na Fase Três vai dando lugar aos
pequenos incidentes de agressão que caracterizam a Fase Um
(BRASÍLIA, 2006, p.7-8).
É importante ressaltar que esse ciclo de violência é “apenas um padrão geral
que, em cada caso, vai se manifestar de modo diferenciado, onde os próximos
incidentes poderão ser ainda mais violentos e se repetir com maior frequência
e intensidade, podendo terminar muitas vezes, em assassinato” (MIZUNO,
FRAID, CASSAB, 2010, p. 18).
Porem há muitos motivos que ainda impedem muitas mulheres a denunciarem
seus agressores, infelizmente em nossa sociedade muitos ainda não
compreendam a dificuldade que é para ela denunciar, muitos acham que a
mulher gosta de estar naquela relação, ou as acham covardes. Mais existem
algumas razões pelas quais as mulheres não conseguem denunciar seus
parceiros como:
1.Riscos do rompimento - A violência e as ameaças contra a vida da mulher
e dos filhos se tornam mais intensas no período da separação. O homem
violento percebe que perdeu o controle sobre sua parceira. Exigir que a mulher
em situação de violência abandone o agressor, pode ser uma enorme
irresponsabilidade, se não pudermos oferecer a ela as condições mínimas de
segurança para que possa dar esse passo tão arriscado.
2. Vergonha e medo - Imagine o que significa para uma mulher denunciar seu
próprio parceiro! Não é a mesma coisa que apontar um ladrão desconhecido
que lhe rouba a bolsa na esquina. Além disso, há o perigo dele se tornar ainda
mais violento, por ela o ter denunciado. Ainda considere que a vergonha de ter
que reconhecer que seu romance fracassou e seu projeto de ser feliz ao lado
da pessoa amada acabou em uma delegacia de polícia.
3. Esperança de que o marido mude o comportamento - Um homem
violento faz mais do que pedir perdão, durante a fase de lua-de-mel. Ele pode
pedir ajuda e começar a fazer algum tipo de tratamento: entrar para os
Alcoólicos Anônimos, procurar um psiquiatra ou uma igreja. Ele pode
demonstrar o amor, admitir seus erros e jurar que vai fazer o que estiver ao seu
alcance para mudar. Se a mulher ama seu companheiro, ela tenta evitar o fim
da relação.
4. Isolamento - As mulheres em situação de violência perdem seus laços
familiares e sociais. Os maridos violentos são muito ciumentos e controlam os
movimentos da parceira. Querem saber onde ela foi, com quem falou ao
telefone, o que disse, porque usou tal roupa, para quem olhou na rua etc. Em
muitos casos, elas acabam restringindo as relações com a família e com os
amigos para esconder as dificuldades que estão atravessando. Tornar a
violência um fato público, significa encher-se de vergonha e reduzir as
esperanças de recompor o casamento.
5. Negação social - Quando pedem ajuda, as vítimas de violência se
defrontam com pessoas despreparadas e desinformadas sobre o problema que
elas estão vivendo. Cada vez que um médico, um psicólogo, um líder religioso,
um policial ou um advogado as trata com indiferença, desconfiança ou
desprezo, contribuem para aumentar a violência. Quando isso acontece, as
vítimas perdem a esperança de encontrar apoio externo e acabam se
recolhendo novamente ao seu inferno particular.
6. Barreiras que impedem o rompimento - Ao ver que a mulher está
disposta a sair da relação violenta, o agressor recorre a todo tipo de chantagem
e ameaça: requisita a custódia dos filhos, nega a pensão alimentícia, interfere
no trabalho da esposa, difama-a, mata a mulher e os filhos, se mata etc. São
muitas as dificuldades e são poucos os recursos disponíveis em nossa
sociedade. Essa mulher precisa de apoio e de pessoas dispostas a ajudá-la a
ser capaz de vencer as barreiras. Se ao contrário, ela encontra apenas crítica e
julgamento, tenderá a desistir de buscar apoio, ficando exposta ao risco e
sentindo-se isolada e desamparada.
7.Dependência econômica - Muitas mulheres em situação de abuso não têm
capacitação profissional para iniciar uma vida no mercado de trabalho ou para
estabelecer novas relações de trabalho em outra cidade ou estado, onde
poderiam encontrar as condições ideais de segurança.
8. Deixar a relação é um longo processo - Ao perceber a necessidade de
escapar da relação violenta, a mulher tem um longo caminho a seguir:
preparar-se afetivamente para o desenlace; preparar-se com segurança para a
fuga, preparar-se economicamente. Essas iniciativas podem levar anos,
principalmente se a mulher não contar com nenhum apoio. Esse esforço
envolve idas e vindas, avanços e recuos, tentativas e desistências, acertos e
erros. Não se pode culpar a vítima. Essas oscilações são típicas de quem está
em situação de violência. O maior desafio é ajudá-la a encontrar saídas e
vencer as dificuldades e hesitações.
Por isso nunca se deve julgar uma mulher que passa por isso, sempre é bom
apoia-la, aconselha-la, e ficar ao seu lado, o apoio da família e amigos são
essenciais nesses momentos.

Desigualdade de Gênero

“Desigualdade de gênero é a desigualdade de poder entre homens e


mulheres. Desigualdade de poder refere-se ao acesso às oportunidades nos
âmbitos econômico, político, educacional ou cultural. Forma-se um círculo
vicioso em que a ausência de mulheres nos espaços de liderança e decisão
impede que haja melhorias para elas no ambiente corporativo, na esfera
pública e no ambiente familiar.

É notório que o espaço da mulher na sociedade vem crescendo e que as


mesmas estão em constante lutas para que sejam reconhecidas, tenham seus
direitos e que possam conquistar cada vez mais seu espaço na sociedade.”

O papel da mulher na sociedade sempre foi visto e intitulado como “senhora do


lar”, sendo assim seu papel voltou-se a cuidar das atividades domésticas, dos
filhos e servir o esposo. Além disso, o espaço da mulher na sociedade é de
menor expressão, por exemplo, no mercado de trabalho ainda temos poucas
mulheres em cargos de liderança ou recebendo salários iguais ao dos
companheiros de trabalho, justamente pela estigmatização da mulher diante do
homem, seja pela questão patriarcal, social, sentimental e etc.

“No âmbito das relações afetivas, as mulheres possuem menos liberdade


sexual e são duramente penalizadas quando decidem expressar-se sobre sua
sexualidade, além disso são objetificadas, e isso faz com que sejam vítimas
de assédio, importunação, que em alguns casos culmina em violência sexual.

Outra consequência da objetificação é o feminicídio, isto é, elas são


objetificadas ao ponto de serem assassinadas por companheiros ou ex-
companheiros quando não desejam prosseguir no relacionamento ou
encontram outros parceiros. Nas relações familiares, pesa sobre as mães uma
cobrança muito maior do que sobre os pais na criação dos filhos.”
Muitas mulheres por não terem voz e autoridade para se expressarem, acabam
se calando diante de situações como a violência doméstica, sexual e
psicológica que sofrem por parte do companheiro, isso agrava os indíces e a
situação em que se encontram, pois acabam mentindo e escondendo os fatos
por medo de sofrerem ainda mais, seja agressão física, verbal e represália não
só do parceiro mas como da sociedade em que vive também.

As mulheres e os homens, no decorrer da história, desempenham papéis


diferentes na sociedade. Cada indivíduo exerce suas atividades e funções
individuais, considerado assim o seu papel social. Dessa forma, os direitos, o
papel e a identidade da mulher são muito discutidos por conta da desigualdade
sexual. Assim como o homem as mulheres também estão envolvidas em um
conjunto de caracteres particulares, formando ao longo da história a vida social
feminina (FONSECA, 2011).

A identidade da mulher está ligada a diversos pontos, como: identidade


cultural, oriundas da interação dos membros da sociedade e da forma de
interagir com o mundo, a identidade visual, que tem o objetivo de criar uma
identidade a partir da perspectiva, imagem e aspecto, e também está ligada a
identidade social, elemento que facilita o reconhecimento da mulher no âmbito
social, designando assim o seu posicionamento de forma individual ou coletiva
em uma sociedade.

Lei Maria da Penha


A Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006.

“Com 46 artigos distribuídos em sete títulos, ela cria mecanismos para prevenir e coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal
(art. 226, § 8°) e os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro (Convenção de
Belém do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres
do Homem e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher).” IMP (Instituto Maria da Penha).

A Lei Maria da Penha tem muita popularidade na sociedade brasileira. E abrange diversos tipos
de violência domestica e familiar contra a mulher, sendo alguns deles: física, sexual,
psicológica.

Quem é Maria da Penha?


Maria da Penha Maia Fernandes, nascida no Ceará em 1 de fevereiro de 1945. É farmacêutica
bioquímica e mestre Parasitologia em Análises Clínicas.

Maria da Penha casou-se com o colombiano Marco Antonio Heredia Viveros em 1976,
tiveram três filhas.
As agressões começaram após Marco Antonio conseguir sua cidadania brasileira e
conquistar sua estabilidade financeira e profissional. Marco Antonio tinha
comportamentos agressivos e intolerantes, tanto com Maria da Penha quanto com
suas filhas.
O crime ocorreu em 1983, quando aconteceu o uma dupla tentativa de feminicídio de
Marco Antonio, que atirou em Maria da Penha enquanto ela dormia, com isso ela
acabou ficando paraplégica, fora outas complicações físicas e psicológicas.
Inicialmente, Marco contou a policia que haviam passado por uma tentativa de assalto,
mas isso logo foi desmentido pela perícia.
Após quatro meses internada, passando por tratamentos e cirurgias, Maria da Penha
voltou para sua residência, e novamente sofreu na mãe de seu então marido,
passando 15 dias em cárcere privado e uma tentativa de eletrocussão durante o
banho.
O primeiro julgamento de Marco Antonio aconteceu somente em 1991, onde a
sentença foi de 15 anos de prisão, mas acabou saindo do fórum em liberdade em
consequência de recursos solicitados pela defesa do agressor.
O segundo julgamento ocorreu em 1996, e nesse intervalo, Maria da Penha escreveu
seu livro Sobrevivi... Posso contar, publicado em 1994, onde contou sua história e o
andamento do processo. Nesse segundo julgamento Marco Antonio foi condenado a
10 anos e 6 meses de prisão, mas essa sentença novamente não foi comprida devido a
algumas alegações da defesa.
Em 1998 o caso ganhou repercussão internacional.
O ano de 1998 foi muito importante para o caso, que ganhou uma
dimensão internacional. Maria da Penha, o Centro para a Justiça e o
Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-americano e do Caribe
para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) denunciaram o caso
para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA).

Mesmo diante de um litígio internacional, o qual trazia uma questão


grave de violação de direitos humanos e deveres protegidos por
documentos que o próprio Estado assinou (Convenção Americana
sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica;
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem;
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará;
Convenção sobre a Eliminação do Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher), o Estado brasileiro permaneceu
omisso e não se pronunciou em nenhum momento durante o
processo. IMP (Instituto Maria da Penha).

Em 2001 o Estado foi acusado responsabilizado por negligência tolerância e omissão em


relação à violência doméstica praticada contra as mulheres brasileiras.

Como surgiu?
Em 2002, por falta de uma lei especifica, formou-se um Consórcio de ONGs Feministas onde
foi elaborado uma lei de combate à violência contra mulher, sendo domestica ou familiar.
A Lei 11.340/06, que recebeu o nome de “Lei Maria da Penha”, foi
fruto da organização do movimento feminista no Brasil que desde os
anos 1970 denunciava as violências cometidas contra as mulheres
(violência contra prisioneiras políticas, violência contra mulheres
negras, violência doméstica, etc.) e nos anos 1980 aumentou a
mobilização frente a absolvição de homens que haviam
assassinado as esposas alegando “legítima defesa da
honra”. (Ministerio Público do Estado de São Paulo)

Após alguns debates o Projeto de Lei n. 4.559/2004 da Câmara dos Deputados chegou
ao Senado Federal (Projeto de Lei de Câmara n. 37/2006) foi aprovado.
E em 7 de agosto de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei
N. 11.340.

Conclusão

Ao olhar para a situação de vida das mulheres, vítimas de violência, cabe


expressar a dificuldade que elas têm para lidar com este problema, seja pela
invisibilidade, inconsciência das suas necessidades ou negligência e a falta de
preparo dos profissionais e instituições no acolhimento de suas queixas.
Chama atenção o fato de a repercussão sobre a violência física e doméstica
ser mais evidente do que as outras, sendo que a violência contra a mulher
abrange algo mais amplo, afetando a sua integridade, seja física, psicológica,
ou de alguma forma atingindo a subjetividade, a forma como constrói a sua
identidade.
Vale lembrar que este tipo de violência está diretamente relacionado aos
papéis de gênero, evidenciado pelo que se espera de cada papel e do que foi
estruturado pela sociedade, sendo este um dos motivos que contribuem para o
número de mulheres violentadas serem maiores do que homens no Brasil.
Intervir na relação de hierarquia pelos papéis de gênero mostra o quanto
resolver problemas nesta temática implica na possibilidade de diminuir a
violência contra a mulher.
Não dá para considerar apenas como um problema individual, restrito a cada
lar, pois transpassa da esfera privada para a esfera pública, ou seja, a violência
contra a mulher pode ser entendida como um problema sistêmico, enraizado na
sociedade.
Por isso caberia ao estado contribuir de maneira mais significativa na resolução
deste problema, pois além dos danos causados as mulheres, a omissão de
suporte da sociedade reforça o estigma de desamparo e dificulta as suas
oportunidades de enfrentamento para estas situações.
Embora muito tenha sido feito através das lutas das mulheres pelo seu espaço
e garantia de direitos, além da conquista pela criação e implementação da Lei
Maria da Penha, com o propósito de assegurar a proteção da mulher que se
encontra em situação de violência, entra em foco questionar as práticas atuais
existentes que são adotadas para o suporte à mulher, verificando as
necessidades de aprimoramento do que já existe, para assegurar o
funcionamento da maneira devida.

https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-maria-da-
penha.html - RESUMO LEI MARIA DA PENHA
https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html - QUEM
É MARIA DA PENHA
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Violencia_Domestica/
Lei_Maria_da_Penha/vd-lmp-mais/Historia_da_lei#:~:text=A%20Lei
%2011.340%2F06%2C%20que%20recebeu%20o%20nome%20de
%20%E2%80%9C,%2C%20viol%C3%AAncia%20dom%C3%A9stica%2C
%20etc.) –
HISTÓRIA MARIA DA PENHA
https://assets-compromissoeatitude-ipg.sfo2.digitaloceanspaces.com/
2014/02/1_7_avancos-e-obstaculos.pdf - AVANÇOS E OBSTÁCULOS NA
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https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/1862/1/Definicoes_Tipologias.pdf

Fórum Brasileiro de Segurança Pública (https://forumseguranca.org.br/)


1. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/06/
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2. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/infografico-
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Conselho Nacional de Justiça
1. https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/violencia-contra-a-
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2. https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/
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