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Resumo
Este trabalho propõe-se a investigar através da análise de artigos científicos, o que a literatura
tem apontado como principais características de história de vida e dimensões da personalidade
comumente encontradas em mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, especialmente
durante as intervenções de psicólogos. Elencar as características desse grupo contribui para que
os profissionais, futuramente, possam elaborar propostas de prevenção e intervenção conforme
o perfil previamente identificado. Inicialmente, abordamos alguns construtos que abordam o
tema da violência contra as mulheres, especialmente sua definição, características, legislações
e politicas publicas implementadas. Depois pontuou-se o trabalho dos psicólogos com estas
mulheres e as caraterísticas nomotéticas deste grupo, sendo encontrados fatores como histórico
de vida envolto em situações de violência na família de origem, baixa escolaridade, uso de
álcool pelos parceiros, entre outros. Em relação as dimensões da personalidade, levando-se em
conta o Modelo dos Cinco Grandes Fatores e tendo como base o instrumento NEO-PI-R e sua
versão reduzida o NEO-FI, observou-se na literatura a prevalência do fator Neurotiscimo. Por
fim, observou-se a necessidade urgente de se aprofundarem no Brasil os estudos sobre a
personalidade destas vítimas, especialmente tendo como base o Modelo supracitado, sendo
importante campo de estudo para profissionais de avaliação psicológica.
1. Introdução
Observa-se que a cada dia o fenômeno da violência doméstica contra a mulher tem estado mais
presente no cotidiano do profissional de Psicologia, esteja ele inserido na clínica, nas Unidades
Básicas de Saúde, no Poder Judiciário, nas Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher, nos Centros de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), em ONG’s
e demais espaços públicos e privados. O aumento desta demanda profissional aparenta estar
relacionado à recente adoção de leis e políticas públicas, incluindo equipes multiprofissionais
no atendimento a este público, que objetivam proteger a mulher vítima de violência doméstica,
como é o caso da Lei 11.340/2006, sancionada em 7 de agosto de 2006, batizada como “Lei
Maria da Penha”, em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes que ficou paraplégica após
ser agredida pelo marido.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018
Características e dimensões da personalidade comumente encontradas em mulheres vítimas de
violência doméstica e familiarb
Dezembro/2018
A partir da relevância do tema, este trabalho tem por objetivo descrever, através da análise de
artigos científicos, o que a literatura tem apontado como principais características de história
de vida e dimensões da personalidade comumente encontradas em mulheres vítimas de
violência doméstica e familiar, especialmente durante as intervenções de profissionais
psicólogos. Partindo-se do pressuposto de que para desenvolver propostas de prevenção e
intervenção em situações de violência, faz-se necessário levar em conta as características da
população alvo e as interações presentes entre elas, este estudo buscou conhecer melhor o perfil
das mulheres atendidas, possibilitando uma melhor atuação do profissional de Psicologia com
este público.
De acordo com os autores acima citados, a violência doméstica é aquela praticada no âmbito
privado, perpetrada por um membro da família que conviva com a vítima ou tenha
relacionamento afetivo com esta. Ademais, a violência contra a mulher diz respeito a
sofrimentos e agressões dirigidos especificamente às mulheres pelo fato de serem mulheres,
logo, é uma violência que tem como base a questão de gênero.
Como termo genérico, agora para referir à situação experimentada pelas mulheres,
quer remeter também a uma construção de gênero, isto é, se em primeiro lugar
evidencia uma dada ocorrência sobre as mulheres, também quer significar a diferença
de estatuto social da condição feminina, diferença esta que faz parecer certas situações
de violência experimentadas pelas mulheres – especialmente a violência que se dá por
agressores conhecidos, próximos e de relacionamento íntimo, como experiências de
vida usuais (SCHREIBER, OLIVEIRA, 1999:14)
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2005), uma em cada seis mulheres no mundo sofre
violência doméstica, sendo que em 60,0% dos casos a violência foi perpetrada por marido ou
companheiro. De acordo com a Lei 11.340/2006“, Lei Maria da Penha”, a violência doméstica
e familiar contra a mulher pode englobar: violência física, violência psicológica, violência
sexual, violência patrimonial e violência moral.
A violência física é entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde
corporal da mulher; a violência psicológica abarca qualquer conduta que cause dano
emocional e diminuição da auto-estima da mulher ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, englobando ameaças,
manipulação, contrangimento e isolamento; por violência sexual entende-se qualquer conduta
que constranja a vítima a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força ou ações que limitem ou anule o
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Ressalta-se que embora haja uma classificação, diferenciando os diversos tipos de violência
doméstica, elas se entrelaçam e estão presentes concomitantemente na maioria das situações.
Em pesquisa realizada por Silva (2005), em um centro de atendimento às vítimas de crimes,
dentre as formas atendidas de violência doméstica, a violência psicológica associada à física foi
a que mais se evidenciou. Para Silva et al. (2007) é difícil entender a ocorrência da violência
física sem a presença da violência psicológica, visto que ela acompanha todas as manifestações
da violência intrafamiliar.
Entretanto, observa-se que é dada muito mais ênfase à violência física, em detrimento da
psicológica, talvez pelo fato da primeira deixar marcas mais visíveis, mas ambas são igualmente
graves. A violência psicológica afeta, além da vítima, a todos que convivem com ela, como os
filhos, amigos e outros familiares, uma vez que o sofrimento sentido por esta mulher interfere
em suas relações interpessoais.
A respeito da atual repercussão do tema da violência contra a mulher, observa-se que o grande
número de denúncias e manifestações coletivas ocorridas em vários países, nas últimas décadas,
em especial pelos movimentos feministas, desencadeou um processo que tirou a violência
contra a mulher do âmbito doméstico, tornando-a uma discussão pública (GROSSI, TAVARES
& OLIVEIRA, 2008). Desta forma, observa-se que a temática não vem mais sendo tratada como
um problema privado, restrito ao âmbito familiar ou individual, inscrevendo o problema no
âmbito dos direitos humanos e das políticas públicas.
Neste sentido, ressalta-se que o Brasil vem ganhando destaque em sua atuação de combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher, sendo o signatário de vários documentos
internacionais que coíbem e proíbem toda e qualquer forma de violência e de discriminação
contra as mulheres (OLIVEIRA, 2004). Dentre esta legislação que objetiva proteger a mulher
vítima de violência doméstica, destaca-se a promulgação da já citada Lei 11.340/2006,
sancionada em 7 de agosto de 2006, batizada como “Lei Maria da Penha”, em homenagem a
Maria da Penha Maia Fernandes, que fora vítima de agressões perpetradas pelo seu então
marido, ficando paraplégica. Esta Lei visa coibir e prevenir episódios de violência doméstica e
familiar contra a mulher, além de estabelecer medidas de assistência e proteção às mulheres
que se encontram na referida situação de violência. Ademais, a criação das Delegacias
Especializadas no Atendimento a Mulher também são formas de enfrentamento ao problema.
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necessidades tão diferenciadas, a violência contra a mulher, para ser trabalhada sob uma
perspectiva integral, é um problema que demanda ações interdisciplinares, multiprofissionais e
com atuação em rede intersetorial de serviços. Neste campo, mostra-se crescente a atuação do
profissional de Psicologia na composição destas equipes de atendimento às vítimas.
2. Desenvolvimento
A literatura traz uma série de características comumente encontradas em mulheres vítimas de
violência doméstica, inclusive durante atendimento por psicólogos. Elencar as características
nomotéticas desse grupo contribui para que os profissionais, futuramente, possam oferecer
algum tipo de intervenção conforme o perfil previamente identificado. Ademais, possibilita que
os profissionais já envolvidos na área tenham um maior entendimento sobre as causas e os
fatores associados ao fenômeno da violência contra a mulher, para que desta forma, possam
oferecer a este público um acolhimento adequado e eficaz. Desta forma, no intuito de levantar
a referida literatura, foi desenvolvida uma pesquisa com a metodologia de revisão bibliográfica
nas plataformas SciELO (Scientific Eletronic Library Online), PePSIC (Periódicos Eletrônicos
de Psicologia) e Google Acadêmico.
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A baixa escolaridade também foi encontrada nos estudos de Lima e Werlang (2011: 513) e é
apontada por alguns autores como um dos fatores que favorecem a situação de violência, visto
que mulheres mais esclarecidas tendem a ter menor grau de tolerância à situação (Adeodato et
al., 2005; Rabello & Caldas Júnior, 2007). Entretanto, segundo GADONI-COSTA, ZUCATTI
e DELL’AGLIO, tal situação não significa que mulheres economicamente mais favorecidas e
com mais anos de escolaridade não passem por situações de violência doméstica. A diferença
é que estas mulheres geralmente fazem uso de outros recursos para lidar com a situação vivida,
como consultórios médicos, psicólogos e advogados particulares, o que leva a uma sub-
representação das denúncias, fazendo com que as situações de violência contra a mulher sejam
diretamente associadas à pobreza. Tal co-relação é questionada por estudiosos como Yunes
(2001) & Guareschi, Comunello, Nardini e Hoenisch (2004), argumentando haver o risco de
estigmatização e de criminalização das famílias pobres, o que de fato deve ser observado pelos
pesquisadores. Por outro lado, observa-se que a exclusão gerada pela pobreza fragiliza laços
sociais, o que dificulta o acesso a recursos de suporte social (KEIL, 2001 apud NARVAZ e
KOLLER, 2006), podendo tornar as mulheres economicamente menos favorecidas mais
vulneráveis a situação de violência.
Em relação ao histórico familiar destas mulheres, há estudos (ver Brasil, 2001 & GADONI-
COSTA, ZUCATTI e DELL’AGLIO, 2011) - os quais incluem o perfil levantado de mulheres
atendidas por psicólogos nas Delegacias da Mulher - que indicam a presença de determinados
fatores na vida destas vítimas, como: família de origem com histórico de violência, tendo estas
mulheres presenciado tais situações no âmbito doméstico de forma reiterada, levando à crença
de que a violência conjugal é algo natural e que, portanto, a mulher deveria se submeter ao
homem por acreditar que não existem outras formas de relação entre um casal, levando muitas
vezes à escolha de um parceiro violento, repetindo o modelo parental; vivências infantis de
maus-tratos, negligência, rejeição, abandono e abuso sexual; casamento como forma de fugir
da situação familiar de origem, onde o parceiro e o relacionamento são idealizados.
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Rovinski (2004) destaca que o uso de álcool e/ou outras drogas pode ser explicado por sua
função desinibidora na conduta dos agressores ou ainda como uma forma de minimizar a
responsabilidade por tais atos. A autora aponta ainda que uma das hipóteses para que álcool e
violência se associem é o fato de que ambos têm fatores preditivos comuns, como por exemplo,
uma personalidade impulsiva.
De acordo com Silva e Nakano (2011: 51), “a palavra personalidade diz respeito a padrões de
comportamento e atitudes que são típicas de um determinado indivíduo, de forma que os traços
de personalidade difeririam de um indivíduo para outro, sendo, entretanto, relativamente
constantes em cada pessoa e estáveis”. Já Allport (1966:50), caracteriza a personalidade como
"a organização dinâmica, no indivíduo, dos sistemas psicofísicos que determinam seu
comportamento e seus pensamentos característicos”.
De acordo com Garcia (2006), um dos modelos mais difundidos para descrever a estrutura da
personalidade dentro da teoria dos traços, sobretudo da personalidade adulta do ponto de vista
psicométrico, é o modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade, também conhecido
como Big Five, considerado uma teoria explicativa e preditiva da personalidade humana e de
suas relações com a conduta.
O modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) é “uma versão moderna da Teoria de Traço que
representa um avanço conceitual e empírico no campo da personalidade, descrevendo
dimensões humanas básicas de forma consistente e replicável” (NUNES, HUTZ,
GIACOMONI, 2009). Ressalta-se que embora os traços de personalidade sejam características
psicológicas que representam tendências relativamente estáveis na forma de pensar, sentir e
atuar do indivíduo, estes traços não são imutáveis, podendo mudar de acordo com as interações
das pessoas com seu meio social (SISTO & OLIVEIRA, 2007).
No Brasil, os cinco fatores básicos do CGF tem sido denominados de: Extroversão,
Socialização (também chamado por alguns autores, especialmente estrangeiros, de
Amabilidade), Realização (também denominado Conscienciosidade), Neuroticismo e
Abertura à experiência. Embora existam algumas diferenças na forma como são denominados
alguns fatores, as definições demonstram ser consensuais e apontam para características
semelhantes.
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Assim, Nunes, Hutz e Giacomoni (2009) descreveram: Extroversão como sendo a quantidade
e à intensidade das interações interpessoais preferidas, nível de atividade, necessidade de
estimulação e capacidade de alegrar-se. Pessoas que são altas em Extroversão tendem a ser
sociáveis, ativas, falantes, otimistas e afetuosas. Indivíduos com escores baixos em Extroversão
tendem a ser reservados (mas não necessariamente inamistosos), sóbrios, indiferentes,
independentes e quietos.
Socialização é uma dimensão interpessoal da personalidade que se refere aos tipos de interações
que uma pessoa apresenta ao longo de um contínuo que se estende da compaixão ao
antagonismo. Pessoas que são altas em Socialização tendem a ser generosas, bondosas, afáveis,
prestativas e altruístas. Indivíduos que são baixos em Socialização tendem a ser pessoas cínicas,
não cooperativas e irritáveis.
De acordo com Silva e Nakano (2011:53), para avaliação da personalidade baseada no Modelos
dos Cinco Grandes Fatores existem atualmente cinco escalas aprovadas no Sistema de
Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi) do Conselho Federal de Psicologia. Três delas
avaliam os fatores separadamente: a Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo,
a Escala Fatorial de Socialização e a Escala Fatorial de Extroversão, ao passo que outras duas
contemplam os cinco fatores: Revised NEO Personality Inventory (NEO-PI-R), e a Bateria
Fatorial de Personalidade.
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Outra vantagem é o fato de ser tratar de um instrumento que pode ser aplicado durante toda a
idade adulta (a partir dos 17 anos), a sujeitos de quase todos os níveis de escolaridade e
proveniência social e em contextos díspares, como as áreas do aconselhamento, psicologia
clínica, psicologia da saúde, psiquiatria, psicologia educacional, orientação escolar e
profissional, psicologia organizacional e investigação (COSTA & McCRAE,1992). Além
disso, Pedroso-Lima et al. (2014) destaca que o NEO-PI-R é um instrumento simples de
administrar, cotar e interpretar por profissionais com formação em Psicologia e em avaliação
da personalidade e permite fornecer feedback ao sujeito.
Pedroso-Lima destaca ainda que apesar das inúmeras vantagens deste instrumento, a sua
extensão – 240 itens – tornam-no moroso e pouco versátil. Esta limitação levou à construção
de versões reduzidas deste instrumento, tipicamente designadas por NEO-FFI ou NEO-FFI-R.
O NEO-FFI (NEO-Five Factor Inventory; Costa & McCrae, 1989) é assim uma versão reduzida
do NEO-PI-R, constituída por 60 itens e que, no original, nos permite obter uma versão fiável
dos domínios do modelo dos cinco fatores.
De acordo com Arroyo (2004), no que concerne à personalidade das mulheres vítimas de
agressão conjugal, surgem como caraterísticas mais comuns a baixa pontuação na afetividade
e a instabilidade emocional. São facilmente afetadas pelos sentimentos e descritas como
dependentes, inseguras, introvertidas, tímidas, depressivas e ansiosas, apresentando sintomas
somáticos diversos que têm a sua gênese nos acontecimentos de violência vivenciados.
As vítimas creem erroneamente que amor e sofrimento andam de mãos dadas e que com a força
do seu amor irão poder solucionar os problemas. Tendem a estabelecer de forma inconsciente
uma correlação entre os ciúmes e o amor, por outras palavras, quanto mais ciúmes, mais amor.
Tal aspeto evidencia que o cérebro humano, para além de ser um recurso importante, se deixado
à deriva pode tirar conclusões precipitadas contribuindo para que se considerem como
aceitáveis comportamentos que na realidade não o são (SAMSON, 2010).
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As mulheres que reportam mais situações de abuso psicológico revelam uma maior preferência
por parceiros com caraterísticas associadas a personalidades abusivas. Por outro lado, os
homens que infligem mais abuso psicológico revelam maior preferência por parceiras com
traços ansiosos (ZAYAS & SHODA, 2007). Em consequência, diversos profissionais ligados
à violência conjugal defendem que para a interrupção dos abusos é necessária uma alteração no
padrão de preferências de escolha dos parceiros, escolha essa que muitas vezes está associada
a abusos sofridos no passado.
Ressalta-se que embora não haja um perfil delineado para as vítimas de violência doméstica,
existem algumas características típicas, que são encontradas com mais frequência. Neste
sentido, Plana (1999) destaca que mulheres que suportaram mais de 20 agressões até
denunciarem os fatos apresentam um menor nível de rendimento intelectual, menor
determinação, instabilidade emocional, submissão e fácil acomodação ao exterior. Revelam
pouca confiança em si próprias, dependência, pouca preocupação com os assuntos práticos, são
conservadoras e apreensivas. Tendem a desejar manter a situação da família, a querer o seu
companheiro, a não sentir a violência como tal ou a desvalorizar a gravidade, a racionalizar o
fato de serem agredidas, a não se defenderem e a terem medo do agressor.
Em relação à análise da personalidade das vítimas de violência doméstica, tendo como base a
aplicação do Inventário de Personalidade NEO-PI-R e sua versão reduzida NEO-FI, a literatura
indica uma elevada pontuação no fator Neuroticismo nestas mulheres. Tal conclusão
compareceu tanto no estudo de Pinto, Varela e Vinhal (2012) quanto no de Paulino (2014). Os
autores destacam que estas mulheres, em geral, são pessoas que evidenciam instabilidade
emocional e, por isso, tendem a ser bastante preocupadas, melancólicas e irritadas; geralmente
são emocionalmente inseguras e ansiosas e apresentam mudanças frequentes de humor e
depressão; ademais tendem a sofrer de transtornos psicossomáticos e apresentar reações muito
intensas a todo tipo de estímulos.
Tais características aparentam indicar uma co-relação com o histórico de vida em geral
encontrado nestas mulheres, o qual, conforme já citado, envolve na maioria das vezes vivências
infantis de maus-tratos, negligência, rejeição, abandono e abuso sexual, o que pode levar a
características de insegurança, ansiedade e instabilidade emocional, típicas em indivíduos com
elevada pontuação no fator Neuroticismo. Ademais, as próprias vivências da mulher em sua
relação conjugal abusiva podem levar ao desenvolvimento da referida dimensão da
personalidade.
Ainda nesta esfera, é possível observar que outras características comumente encontradas em
mulheres vítimas de violência doméstica como: insegurança quanto a sua capacidade emocional
de sobreviver sem um companheiro e sem um pai para seus filhos, e sentimento de
responsabilidade pelo comportamento agressivo do parceiro – o que dificulta sua saída da
relação - poderiam ser explicados pela predominância do fator Neuroticismo na personalidade
das vítimas.
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Por fim, os outros três fatores não aparecem com destaque nos estudos encontrados, sendo a
pontuação mediana encontrada no perfil destas mulheres, não podendo, portanto, caracterizá-
las.
3. Conclusão
A partir do exposto, observa-se a complexidade das questões envolvidas na dinâmica da
violência doméstica contra as mulheres, entre elas o histórico familiar muitas vezes permeado
por situações de violência na família de origem destas vítimas; repetição do modelo parental,
escolhendo parceiros violentos assim como seus pais ou padrastos foram; vivências infantis de
maus-tratos, negligência, rejeição, abandono e abuso sexual, entre outros fatores. Ademais, a
baixa escolaridade destas mulheres também foi encontrada em alguns estudos como um fator
que pode favorecer a situação de violência, somado ao alto índice de uso de álcool e outras
drogas por parte do parceiro.
Em relação a personalidade destas mulheres, baseada no Modelo dos Cinco Grandes Fatores,
observa-se a prevalência do fator Neuroticismo, o que indica tendência a instabilidade
emocional, preocupação excessiva, melancolia, ansiedade e maior probabilidade de sofrerem
de transtornos psicossomáticos.
Tais características aparentam uma co-relação com o histórico de vida em geral encontrado
nestas mulheres, o que pode levar às características acima citadas, típicas em indivíduos com
elevada pontuação no fator Neuroticismo. Ademais, as próprias vivências da mulher em sua
relação conjugal abusiva podem levar ao desenvolvimento da referida dimensão da
personalidade.
Por fim, observa-se que embora seja cada vez maior o número de psicólogos atuando com este
público, ainda são raros os estudos, principalmente no Brasil, que versem sobre a personalidade
das mulheres vítimas de violência doméstica, especialmente tendo como base o Modelo dos
Cinco Fatores, o que dificulta termos uma análise destas vítimas que levem em conta as
especificidades de nosso país. Desta forma, pontua-se a urgente necessidade de se
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aprofundarem estas pesquisas, sendo importante campo de estudo para psicólogos que atuam
na avaliação psicológica.
Ademais, seria interessante que tais estudos comparassem os resultados da população das
mulheres vítimas de violência conjugal com a população de mulheres sem antecedentes de
violência em relações íntimas, a fim de se observar como a situação de violência vivenciada
pode ter contribuído para a potencialização ou surgimento das caraterísticas da personalidade
destas vítimas.
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