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REDE DE APOIO SOCIAL: A VIOLAÇÃO SEXUAL DO CORPO DA MULHER E


AS SUAS DECORRÊNCIASI
Kananda Fabiane Godoy TelskiII
Michelle Regina da NatividadeIII

Resumo: Atentando-se ao histórico de violências que as mulheres vivenciam em suas


trajetórias, este estudo tem seu foco na violência sexual, que fere os direitos humanos das
mulheres ao afetar seu direito a vida, a saúde mental e a integridade física. Com diversas
consequências que envolvem esta violência, a rede de apoio social possui um papel
fundamental, pois pode propiciar a proteção, acolhimento, cuidado e prevenção de outras
violências. Este artigo apresenta a análise dos sentidos atribuídos por mulheres à sua rede de
apoio social em relação às decorrências da violência que vivenciaram. Para isso buscou-se
caracterizar a violência sexual vivenciada; identificar as decorrências dessa violência;
identificar a composição da rede de apoio social destas mulheres e identificar a atuação desta
rede de apoio social em relação às decorrências da violência sexual. A pesquisa caracteriza-se
como qualitativa, exploratória, estudo de caso e de corte transversal, analisada com a técnica
de análise de conteúdo. Para alcançar os objetivos desta pesquisa, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com 04 mulheres da região da Grande Florianópolis, que em algum
momento de suas vidas sofreram a violação sexual de seus corpos. Foi possível caracterizar a
violência sexual destas mulheres como intra e extrafamiliar, ocorrendo, em sua maioria,
durante suas infâncias e adolescências de forma contínua e, ainda, com a presença de outras
formas de violência. Evidenciou-se que as decorrências advindas desta violência não se
atrelam a uma única faceta da vida, mas sim a consequências biopsicossociais que afetam sua
integralidade. Em suas redes de apoio social foram encontradas tanto pessoas que se
demonstraram acolhedoras e puderam potencializar a emersão de sentimentos positivos, com
também a presença de atitudes depreciativas que provocaram sentimentos negativos. Assim,
este estudo demonstra que as redes de apoio social tem capacidade de suporte e proteção que
propiciam o desenvolvimento da saúde mental da mulher violentada e, por isso, contribui para
ampliação do conhecimento sobre a potência das relações humanas.

Palavras-chave: Violência Sexual. Rede de apoio social. Decorrências. Violência de gênero.

1 INTRODUÇÃO

A trajetória da mulher brasileira é historicamente marcada por constantes lutas para


assumir seu protagonismo como sujeito e para garantia de direitos como seres humanos que,
ainda, são cotidianamente violados. Encontrando-se em uma sociedade patriarcal, a mulher
foi sujeitada a um papel coadjuvante, no qual deveria estar a serviço do homem para satisfazer
suas necessidades e auxiliar na constituição familiar. Devido ao enraizamento cultural da

I
Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa
Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga. Palhoça, 2019.
II
Acadêmica do curso Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail:
kanandatel@gmail.com.
III
Mestre em Psicologia. Professora na Universidade do Sul de Santa Catarina. E–mail:
michelle.natividade@unisul.br
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concepção patriarcal, é possível encontrá-la na contemporaneidade, fazendo com que o


homem, como marido ou pai, tenha o controle, autoridade e o poder sobre a mulher e a
família (RIBEIRO, 2017). Nessa compreensão, a mulher se encontra submetida a uma cultura
que a coloca às margens, posta em um lugar de exclusão na sociedade em que a voz de seus
afetos não é ouvida (SAWAIA, 2001), tornando necessária a incessante busca por um espaço
de direito. Pois, mesmo com conquistas como direito ao voto, direito à proteção, direito à
liberdade, entre outros, observa-se que a prática é muito falha frente às teorias. Pasinato
(2015) relata que, ainda que as leis existam, isso não garante que todas tenham seus direitos
assegurados, devido as variáveis sociais, econômicas, educacionais etc, que influenciam nesse
processo. Dessa forma, as leis ainda são infringidas em justificativa à uma cultura histórica,
social, econômica e política do que foi sempre propagado como certo, com preconceitos e
estereótipos explícitos e tácitos que mantém às mulheres as margens sociais.
Reconhecendo o histórico de violências sofridas por mulheres, ressalta-se que algumas
destas se iniciam em suas infâncias, já que além da categoria mulher sofrer com a exclusão, a
infância porta um papel, também, de submissão ao adulto (SAFFIOTI, 2000). E embora o
Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) tenha surgido para assegurar os
direitos dessa população, o seu cumprimento é dificultadado a todas as crianças e
adolescentes, pois a voz dos jovens ainda é silenciada pelo autoritarismo dentro da própria
família e negligência do Estado (PINHEIRO, 2000). Diante deste aspecto, o papel de
inferioridade que mulheres e crianças ainda são submetidas pela sociedade resulta em
inúmeras violações desencadeadoras de sofrimentos físicos e psíquicos, com consequências
sociais e emocionais de sujeitos postos em situações de vulnerabilidade.
A partir da compreensão das violações dos direitos humanos das mulheres destaca-se
neste trabalho, aquela que ocorre de forma silenciosa e que, por vezes, se mantém em
silêncio: a violência sexual. Conforme a Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009 (BRASIL,
2009) estas são diversas formas de crimes contra a dignidade e liberdade sexual cometidas de
forma individual ou coletiva. Abrange desde atos libidinosos até a conjunção carnal, ou seja,
desde o toque em qualquer região do corpo até a penetração sexual, sem que haja o
consentimento dos sujeitos em relação, independente de alguma forma de vínculo ou
familiaridade, ou em casos de crianças, mesmo havendo esse consentimento. Ainda, as
definições das formas de violência sexual são caracterizadas como: intrafamiliar, em que o
agressor possui vínculo familiar com a vítima, ou seja, o ato é cometido por alguém da família
com uma relação de confiança estabelecida, o que facilita a abordagem à vítima, realização da
violência e ameaças; ou extrafamiliar, em que o agressor pode ser algum desconhecido ou
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conhecê-la sem vínculos familiares (HABIGZANG; RAMOS; KOLLER, 2011). Além dessas
características, algumas violências sexuais podem envolver agressão física, psicológica,
ameaças à vítima e às pessoas com vínculos afetivos e até a morte da vítima (SUDARIO;
ALMEIDA; JORGE, 2005). Dessa maneira, a violência sexual fere os direitos humanos das
mulheres ao trata-las como objeto de satisfação de desejo sexual de agressores (as) que as
forçam ao ato sexual sem o seu querer, afetando seu direito à vida, a saúde e à integridade
física. Assim, a violação de seus corpos ocorre quando a vontade de mulheres não é respeitada
pelo toque de mãos indesejadas, ao som de palavras que as assediam, a penetração sem que
haja o seu consentimento e a coação para realizar atos sexuais malquistos (LUCANIA;
MIYAZAKI; DOMINGOS, 2008).
Por ser, na teoria, a violência sexual ser uma violação do corpo, essa forma de
agressão afeta o âmbito subjetivo do sujeito, incluindo a violação da vida afetiva, psicológica
e social da mulher violentada. As consequências decorrentes da violência sexual são diversas,
e irão variar de acordo com as condições de enfrentamento à situação, reação da família,
amigos, amparo das redes de apoio, proteção e até mesmo quando e de que forma o
acontecimento foi ou se será revelado (LYNSKEY; FERGUSSON, 1997; TYLER, 2002 apud
BORGES; ZINGLER, 2013). Do mesmo modo, Hanada, D‟Oliveira e Schraiber (2010)
relatam que as consequências da violência sexual poderão causar sofrimento psíquico de
acordo com a vivência de cada sujeito, afetando sua autoimagem, relação com o outro, ao
depender da idade, o desenvolvimento cognitivo, ademais “[...] envolve rompimentos nas
relações de intimidade e confiança, permeados de julgamentos morais e modelos de
masculinidade e feminilidade que desqualificam as mulheres no exercício de suas
subjetividades.” (2010, p.34). Ainda, Amazarray e Koller (1998) acrescentam que os
sentimentos decorrentes dessa situação podem ser imediatos ou retornarem posteriormente em
situações adversas de estresse ou ansiedade, por isso, destacam a importância do acolhimento
por sua rede de apoio, a qual poderá auxiliar no enfrentamento e proteção do sujeito.
Neste viés, é necessário entender como as relações humanas são partes constituintes
do que é o ser humano, essa compreensão é o alicerce do que é uma rede de apoio social. Esse
conceito baseia-se nas relações significativas de um sujeito, como sua família, amigos e
contato com pessoas de seu cotidiano, ou seja, pessoas com as quais se interage de forma
interpessoal e/ou intergrupal (SLUZKI, 1997 apud ROCHA; RODEGHERI; ANTONI, 2019).
Assim como trazido em seu nome, essa rede diz respeito ao apoio social fornecido por aqueles
que a compõe, ou seja, a forma como se é acolhido e o apoio fornecido pode fortalecer
vínculos e contribuir para que o sujeito interaja e haja trocas entre as pessoas que constituem
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essa rede (LEONIDAS; CREPALDI; SANTOS, 2013). Conforme Sanicola (2008 apud
NETTO et al 2017, p.3), a rede de apoio pode ser considerada primária: “caracterizados pelas
relações de parentesco, amizade ou vizinhança, fundadas na reciprocidade e confiança”, e
secundáriaIV: “[...] são formais ou informais, de terceiro setor, de mercado ou mistas [...]
constituída por instituições de existência oficial, com prestação de serviços de acordo com as
demandas e troca fundada na solidariedade”. Ressalta-se que as relações que possuem vínculo
instituído possuem capacidade de suporte e proteção que propiciam o desenvolvimento da
saúde mental, já que os vínculos afetivos são parte constituinte das relações humanas e as
relações humanas são inerentes à constituição do ser humano (JULIANO; YUNES, 2014).
Do mesmo modo, Sawaia (2008) expõe que a afetividade faz parte do que é ser
humano, de modo que ignorar essa magnitude é ignorar sua humanidade, e essa afetividade
está relacionada ao que lhe afeta de forma boa ou ruim, mas que em sua totalidade contribuem
para a constituição do sujeito. Deste modo, a violência sexual que mulheres sofrem
desencadeiam afetos negativos, de modos de viver de relação de dominância que por meio da
coação, da vergonha e humilhação tentam manter a mulher em posição de submissão
suscitando a alienação à vontade do outro, inviabilizando sua potência e capacidade de agir
(SAWAIA, 2008). Assim, as redes de apoio em que os vínculos estão instituídos são capazes
de proporcionar emoções positivas que viabilizam a potência da mulher. E, conforme a
mesma autora, a potência vai além da ajuda para se sentirem melhor com a situação posta, ela
diz respeito em impulsionar a sua capacidade de viver diante do afetar e ser afetado, sem que
exista uma relação de dominação. Dessa forma, uma rede de apoio em que vínculos e afetos
positivos estão instituídos proporcionam condições viabilizadoras de enfrentamento à situação
da violência sexual, já que, os afetos fortalecem a vítima a sair do ciclo de hostilidade e
agressão que vem sofrendo (SAWAIA, 2008).
Entretanto, de acordo com Correa, Labronici e Trigueiro (2009), o sofrimento diante
da violência sexual não afeta somente a vítima, sensibiliza, também, aqueles que estão diante
da situação: família, amigos e profissionais que estão em contato com essa violência. As
emoções acarretadas são diversas e podem desencadear desde sentimentos de sofrimento até
os de impotência diante da situação de resolução do crime e de proteção ao sujeito. Dessa
forma, tais aspectos negativos podem causar afastamento dos sujeitos envolvidos e da
sociedade em geral com a temática. Assim, nota-se que mesmo que a violência sexual esteja
sendo retratada e denunciada com mais frequência, essa violência ainda é um assunto

IV
Nesta pesquisa não será aprofundada sobre a rede de apoio social secundária.
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rejeitado, pois ainda que existam redes de atendimento às vítimas, por ser uma situação
desencadeadora de afetos negativos, o contato com o tema é evitado, causando certa
incompreensão social sobre a violência sexual. Assim, nota-se que não se trata da criação de
mais dispositivos para relatos da violência sofrida, e sim “compreender”, conforme trazido
por Hanna Arendt (1989, p.12):

[...] Compreender não significa negar nos fatos o chocante, eliminar deles o
inaudito, ou, ao explicar fenômenos, utilizar-se de analogias e generalidades que
diminuam o impacto da realidade e o choque da experiência. Significa, antes de
mais nada, examinar e suportar conscientemente o fardo que o nosso século colocou
sobre nós - sem negar sua existência, nem vergar humildemente ao seu peso.
Compreender significa, em suma, encarar a realidade sem preconceitos e com
atenção, e resistir a ela - qualquer que seja.

Por isso a importância de ir além de números e dados estatísticos em relação a


temática, de se potencializar práticas que viabilizam a compreensão da magnitude que a
violência sexual atinge.
Deste modo, ao levar em consideração que, por meio da violência sexual, a mulher se
depara com a violação de seu corpo e de sua vida, sofre com o desrespeito a sua integralidade
e perde seu nome para assumir a identidade de “vítima”, “violada”, “abusada”, “estuprada” ou
“violentada”, questiona-se sobre o papel que a rede de apoio social apresenta para mulheres,
em relação aos seus afetos diante de uma situação desencadeadora de limitações de
perspectivas de vida e identidade pessoal. Neste entendimento, faz-se a seguinte pergunta:
Quais os sentidos atribuídos por mulheres à sua rede de apoio social em relação às
decorrências da violência sexual vivenciada?
Para fundamentar este projeto foram realizadas pesquisas nas seguintes bases de
dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
As buscas basearam-se em publicações de artigos científicos voltados a estudos da realidade
brasileira. Deste modo, foram utilizados cruzamentos entre as palavras-chave: “Violência
sexual”; “rede de apoio”; “redes comunitárias”; “rede de apoio social”; “abuso sexual”;
“violência sexual”; “mulher”; “violência de gênero”; “consequências” e “saúde”. Os artigos
encontrados concentram-se nas seguintes temáticas: caracterização da violência sexual
(SUDARIO; ALMEIDA; JORGE, 2005; LUCANIA; MIYAZAKI; DOMINGOS, 2008; DE
ANTONI et al, 2011; HABIGZANG; RAMOS; KOLLER, 2011; LIMA; ALBERTO, 2015;);
as possíveis consequências da violência sexual (AMAZARRAY; KOLLER, 1998;
HANADA; D‟OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2010; MARTINS, 2011; BORGES; ZINGLER,
2013; GAVA; SILVA; DELL‟AGLIO 2013; FLORENTINO, 2015); a mulher na sociedade e
sua história (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015; SOUSA; SIRELLI, 2018); concepção de rede
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de apoio social e sua contribuição (CORREA; LABRONICI; TRIGUEIRO, 2009; SILVA;


GAVA; DELL‟AGLIO, 2013; JULIANO; YUNES, 2014; ROCHA; RODEGHERI;
ANTONI, 2019).
Por meio das leituras realizadas para aproximação com o tema, foi possível notar a
existência de pesquisas científicas sobre a violência sexual relacionada à rede de apoio,
porém, os conteúdos expostos exploram a perspectiva de profissionais e familiares acerca do
tema. Assim, esta pesquisa ancora-se a partir da voz de mulheres que sofreram a violação de
seus corpos para que através do ato político de corresponsabilização com a sociedade e vida
pública, mediante estudos, métodos e fundamentações científicas, contribuir para o
desenvolvimento das Ciências Humanas.
Ademais, diante das decorrências emocionais advindas da violência sexual que a
mulher sofre é perceptível que o papel da (o) profissional de Psicologia nessas situações é
imprescindível devido a compreensão multidimensional do sujeito que está em sua frente.
Conforme Freire (2003, p.14), o papel da (o) profissional de Psicologia se estende a:

Oferecer um lugar para o outro – lugar este que desde sempre já seria dele –, abrindo
portas e janelas para sua visitação, oferecendo o melhor cômodo e a melhor comida,
garantindo-lhe um espaço de habitabilidade, ou seja, um ethos, uma morada
confiada e serena onde ele possa renovar-se para retomar suas dores no mundo.

Por isso, entendendo o abundante número de casos de violência sexual e seus efeitos, o
papel da (o) profissional de psicologia deve compreender as diversas magnitudes que essa
forma de agressão atinge na vida da mulher, atentando-se para que suas atitudes não sejam
limitadoras, levando em consideração sua multidimensionalidade, e, além disso, respeitando
todos os aspectos que constituem esse sujeito. Assim, cabe a (ao) profissional entregar-se para
quem o procura e, também, caminhar aos lugares onde a psicologia deve estar presente.
Assim, diante do apresentado, esta pesquisa teve como objetivo geral “Analisar os
sentidos atribuídos por mulheres à sua rede de apoio social em relação às decorrências da
violência sexual vivenciada”. Para atingir tal objetivo geral e responder à pergunta de
pesquisa, tiveram-se os seguintes objetivos específicos: Caracterizar a violência sexual
vivenciada por mulheres, a partir de suas próprias significações; Identificar as decorrências da
violência sexual vivenciada por mulheres, a partir de suas próprias significações; Identificar a
composição da rede de apoio social das mulheres que sofreram violência sexual, a partir de
suas próprias significações; Identificar a atuação da rede de apoio social em relação às
decorrências da violência sexual vivenciada por mulheres, a partir de suas próprias
significações.
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2 MÉTODO

Esta pesquisa tem sua natureza como qualitativa, pois foi pesquisada a realidade dos
sujeitos alvos da pesquisa, preocupando-se com o sentido pessoal de cada participante acerca
de suas vivências (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Considerando seu objetivo, caracteriza-se como
exploratória que Gerhardt e Silveira (2009, p.35) classificam como principal finalidade
“proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a
construir hipóteses” e nesta pesquisa será investigado um tema que em sua generalidade é
conhecido popularmente, porém há poucos registros científicos que abordem a voz do sujeito
em relação ao tema. Já quanto ao delineamento é definido como estudo de caso, ou seja, um
número pequeno de participantes foi contatado, para apreensão da completude de uma
situação, levando em consideração o seu contexto e singularidade (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).
E seu corte do tipo transversal por haver um contexto histórico específico, com tempo
delimitado para a realização da pesquisa, que foi realizada no 2º semestre do ano de 2019.
Em relação aos sujeitos da pesquisa, foram contatadas quatro (04) mulheres que
demonstraram interesse em participar e que se enquadravam nos critérios de inclusão: com
idade maior ou igual a 18 anos; que tenham vivenciado violência sexual; que contaram a
alguém de sua rede de apoio social há pelo menos 06 meses e residentes na região da Grande
Florianópolis. Foi considerado como violência sexual qualquer ato sexual ocorrido sem o
consentimento da mulher, ou seja, que envolva atos libidinosos ou conjunção carnal, realizado
na presença de alguém com ou sem capacidade de discernimento, ou forçá-los a participação
do ato sem seu consentimento ou manipulação para o assentimento. Para seleção das
participantes foi realizada a divulgação nas redes sociais (Whatsapp e Instagram) da
pesquisadora, na qual apresentava critérios de inclusão, temática da pesquisa e contato da
pesquisadora, que também foi divulgado por seus conhecidos até alcançar mulheres que se
dispusessem a participar. As mulheres que quiseram participar entraram em contato, houve a
explicação da pesquisa e a entrevista foi agendada em datas e horários convenientes para cada
mulher e a pesquisadora.
O instrumento utilizado foi uma entrevista que, segundo Gil (1999), proporciona a
coleta de informações acerca do sentido atribuído pelo sujeito referente a determinado tema e
de forma semiestruturada com roteiro previamente estabelecido. Logo, a entrevista abordou
questões relativas aos objetivos desta pesquisa: caracterizar a violência sexual; identificar as
decorrências da violência sexual; a composição da rede de apoio social; a atuação da rede de
apoio social em relação às decorrências da violência sexual vivenciada por estas mulheres.
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Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética de Pesquisas da UNISUL e somente


após sua aprovação deu-se início a coleta de dados prevista. No início de cada encontro com
as participantes, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em que constavam
os objetivos, possíveis riscos, benefícios, garantia de sigilo, anonimato e autorização para
gravação de voz, sendo lido e assinado pelas participantes e pesquisadora. As entrevistas
ocorreram de forma individual e voluntária em salas disponibilizadas pela universidade, com
estrutura adequada para assegurar o sigilo dos relatos e tiveram duração média de 50 minutos.
As entrevistas foram transcritas para viabilizar a categorização e análise de dados das
informações obtidas para utilização da técnica de análise de conteúdo. Conforme Bardin
(2011), as transcrições permitem uma leitura aprofundada e a organização do conjunto dos
dados, que permite a categorização e análise dos dados, relacionando o relato das
participantes com os conteúdos já encontrados na literatura.
As participantes desta pesquisa receberam nomes fictícios visando o anonimato a fim
de preservar a identidade destas mulheres. Diante do exposto, apresentam-se as participantes
da pesquisa, conforme tabela 1, para melhor compreensão da análise dos resultados que serão
apresentas no próximo capítulo.
Tabela 1 - Apresentação das participantes
Renda
Nome fictício Idade Escolaridade Considera-se AgressorV
familiar
Mais de 10
Superior “1º namorado” e
Amélia 23 salários Branca
cursando “2º namorado”
mínimos.
Mais de 10 “Mãe” e
Superior
Joana 23 salários Branca “namorado da
cursando
mínimos. mãe”
2à5
Superior “Irmão mais
Maria 29 salários Branca
cursando velho”
mínimos.
5 à 10
Superior
Dandara 22 salários Branca “Avô”
cursando
mínimos
(fonte: elaborada pela autora, 2019).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos resultados foi realizada por meio da organização e categorização dos
dados a partir dos eixos temáticos em conformidade com os objetivos específicos desta

V
Estas mulheres não estão vivenciando atualmente qualquer forma de violência sexual, assim como não
convivem com seus agressores.
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pesquisa. Deste modo, por meio das falas das mulheres entrevistadas articuladas ao
referencial teórico desta temática serão apresentados os próximos subcapítulos abordando os
eixos: “A violência sexual vivenciada”; “As decorrências da violência sexual vivenciada por
mulheres”; “A composição da rede de apoio social”; “A atuação da rede de apoio social em
relação às decorrências da violência sexual vivenciada”.

3.1 A VIOLAÇÃO SEXUAL DE SEUS CORPOS

Neste eixo será apresentada a análise vinculada aos objetivos específicos:


“Caracterizar a violência sexual vivenciada por mulheres, a partir de suas próprias
significações”. Isto posto, para que seja possível a compreensão do eixo, a partir das
significações relatadas pelas entrevistadas, foram criadas cinco (05) categorias a priori, sendo
elas: “vínculo com o agressor”; “idade”; “frequência”; “violências” e “apropriação”.
A categoria “vínculo com o agressor (4)VI” objetiva analisar características da
violência referente a quem violentou as mulheres participantes desta pesquisa. Para melhor
elucidação, foram criadas duas (02) subcategorias que integram esta categoria: “intrafamiliar
(3)” e “extrafamiliar (2)”.
Iniciando pela subcategoria intrafamiliar, conforme Lima e Alberto (2015), a
violência sexual com essa característica tem como agressor algum sujeito que pertença à
família da mulher violentada, seja por laços consanguíneos ou pela vítima identificar seu
agressor como pertencente à família. De acordo com os mesmos autores, a maioria dos casos
de violência sexual intrafamiliar ocorre com crianças e adolescentes e como os agressores
estão envolvidos na dinâmica familiar seus atos e sua proximidade com a vítima não causam
desconfiança. Assim, ao analisar esta subcategoria, nota-se que ela está interligada à categoria
“idade (4)”, tendo como subcategorias a “infância”, “adolescência” e “adulta”, que
correspondem à fase da vida em que as mulheres foram violentadas. Desse modo, da amostra
das quatro (04) participantes desta pesquisa, três (03) delas vivenciaram a violência sexual
intrafamiliar durante o período de suas infâncias e adolescências: Joana: violentada
sexualmente pela mãe dos 07 aos 14 anos de idade; Dandara: violentada sexualmente pelo avô
paterno aos 12 anos de idade; Maria: violentada sexualmente pelo irmão dos 07 aos 11 anos
de idade. Ainda, cabe-se ressaltar que a infância porta um papel de submissão ao adulto em
uma sociedade patriarcal, segundo Saffioti (2000, p. 21): “Há uma hierarquia, na qual o poder
do adulto destina-se a socializar a criança, a transformá-la em um adulto à sua imagem e

VI
O número apresentado ao lado do nome da categoria ou subcategoria indica a quantidade de participantes que
as integram.
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semelhança.”. Além do mais, a criança, sendo aquela que deve obedecer aos ensinamentos do
adulto, torna-se sujeita às situações violentas já que muitas vezes não possui condições
maturacionais ou psicológicas para reconhecer o contexto de hostilidade de uma relação
“entre um superior que manda e um inferior que obedece”, que deslegitima o outro e reduz
sua integralidade que o constitui como ser humano (CHAUÍ 2003). Fato que tornaram essas
três participantes ainda mais vulneráveis a situação, pois como apresentado na introdução
desta pesquisa, além de abarcarem a categoria mulher, que são sujeitadas ao papel de
submissão, eram também crianças que se encontram no lugar de oprimidas.
Entretanto, mesmo que haja mais casos de violência sexual intrafamiliar, é necessário
apontar que a relação violenta que deslegitima o outro também está presente nos casos de
violência sexual extrafamiliar. Esta forma tem como agressor o sujeito sem nenhum vínculo
familiar, podendo ser um desconhecido, conhecido ou até amigo (HABIGZANG; RAMOS;
KOLLER, 2011). Ainda, conforme De Antoni et al (2011) essa vinculação com o agressor
tem geralmente como vítimas: “as adolescentes, jovens e adultas do sexo feminino” (p.99).
Assim, em relação aos casos das participantes, além de Joana Sanchez ter sofrido uma
violência sexual intrafamiliar, esta também vivenciou a violência sexual extrafamiliar aos 12
anos de idade, praticada pelo namorado de sua mãe VII. Em seu relato ela compartilha que:
“[...] Ele era um homem que me violentou e sim, ele sentiu que por ser um homem mais
velho, ele tava se sentindo no direito de tocar no meu corpo né.”. A partir do relato de Joana,
identifica-se que as violências encontradas ainda hoje são heranças de uma cultura arcaica, de
uma relação de dominação e submissão às figuras masculinas, em que as mulheres não são
vistas como mulheres, são compreendidas como aquelas que não são homens, estando em um
lugar de inferioridade, pois a partir do patriarcado a mulher é reduzida a função de servir ao
homem (BEAUVOIR, 1970). Nesse mesmo sentido, a participante Amélia foi violentada
sexualmente aos 17 anos de idade por seu 1º namorado e meses depois por seu 2º namorado,
dos 17 aos 19 anos de idade. Assim, ela relata sobre sua vivência com o 1º namorado: “Então
eu fiquei, parecia cena de filme, eu estática, parada, olhando pro teto, enquanto ele se
satisfazia assim [...]”. Posto isto, as perspectivas de que as mulheres devem servir aos desejos
do homem e comportar-se conforme “conservadorismo” contribuem com as contínuas
violações devido aos hábitos ultrapassados que reificam a mulher (SOUSA; SIRELLI, 2018).
Ainda, dados da categoria “vínculo com agressor” estão associados à categoria
“frequência (4)”, correspondente à constância da violação sexual vivenciada. Ela foi dividida

VII
Este caso é considerado extrafamiliar, pois a participante não identificava este homem como figura familiar
ou paterna.
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em duas (02) subcategorias: “Contínua (3)” e “Pontual (2)”. Conforme parágrafos


anteriores, os casos de violência sexual intrafamiliar, além de ter como maior número de
vítimas crianças e adolescentes, possuem, também, maior chance de terem ocorrências
contínuas, pela confiança estabelecida e a facilidade do acesso à vítima (DE ANTONI et al,
2011). Apesar disso, é possível observar que o caso de Dandara foi pontual, ou seja, com
apenas uma ocorrência, porém acredita-se que a variável de seu agressor não residir no
mesmo domicílio que a participante seja um dos fatores que possa ter influenciado nesse
aspecto. E em relação aos casos de violência sexual extrafamiliar, não foram encontrados
dados científicos que o relacionem com a frequência da ocorrência.
Em continuidade, ainda que este trabalho tenha o foco na violência sexual, as diversas
formas de violências não ocorrem isoladas e estão em sua maior parte interligadas
(GUIMARÃES; PEDROZA, 2015). Neste sentido, as vivências das mulheres desta pesquisa
não se restringiram à apenas uma forma de violência, por isso, criou-se a categoria “outras
violências (4)”, divididas nas subcategorias “física (3)” e “psicológica (4)”. A primeira se
refere às violências físicas que as mulheres sofreram no momento de sua violência sexual, em
que tiveram sua saúde corporal ofendida por resistir ao ato e pela hostilidade de seus
agressores, como ocorreram nos casos de Maria e Dandara. Entretanto, falar sobre a
interligação entre as violências inclui, também, falar sobre um contexto ameaçador, de
violações praticadas em diferentes situações resultadas de um ambiente sustentado pela
coerção (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015), encontrados nos relatos de Joana e Maria, que
sofreram diversas agressões físicas em momentos assíncronos à violação sexual, explicitado
pelo relato de Maria: “tinha momentos que ele me batia, mas não era só pra ter o abuso, era só
porque dava pra ver que ele tava com vontade de me bater, um negócio bem doentio assim.
Então ele me batia sabe, ficava me torturando.”.
Já a violência psicológica é definida pelos atos que prejudicam o estado emocional,
autoestima e saúde mental da mulher, por meio de constrangimentos, manipulações,
proibições de relacionar-se com sua rede social, insultos, chantagens, limitação do direito de
ir e vir etc (BRASIL, 2006). A violência com esta configuração normalmente está presente
com as demais violências e apesar disso quem a vivencia dificilmente a reconhece, já que é
desconhecida popularmente e de complexa comprovação (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015).
Do mesmo modo, todas as mulheres participantes trazem em seus relatos vivências explícitas
dessa violência, com a presença de ameaças de morte, insultos e chantagens emocionais,
como também implícitas, encontradas, por exemplo, no relato de Joana: “[...]ela sempre me
elogiava muito durante o abuso sabe? Então isso era muito forte”. Assim, mesmo que elogios
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não tenham uma conotação agressiva, os fins para os quais se destinavam, nessa situação,
caracterizavam-se como manipulativos articulado à violência sexual.
Um ponto em comum sobre as mulheres participantes desta pesquisa é sobre o silêncio
que mantiveram sobre as violências sexuais que vivenciaram. Por isso, criou-se a categoria
“apropriação (4)”, esta foi dividida nas subcategorias “no momento da violência sexual (2)”
e “posterior à violência sexual (3)”. Quando Joana foi violentada pelo namorado de sua mãe,
desde o momento em que o ato aconteceu, ela percebeu do que se tratava, ou seja, notou no
momento da violência sexual e tentou contar à mãe, que não acreditou em seu relato. No caso
de Maria, quando as violências sexuais começaram, não entendia o que acontecia, entretanto
notou enquanto ainda vivenciava constantes violações, contando pela primeira vez entre seus
16 e 17 anos de idade. Já Amélia em relação aos dois namorados; Joana em relação à sua mãe
e Dandara em relação ao seu avô, compreenderam que haviam sofrido violência sexual
quando os efeitos dessa violação ficaram mais intensos e começaram a afetar diversos âmbitos
de suas vidas pessoais na vida adulta e ao compartilhar suas vivências perceberam posterior à
violência sexual que se tratava de uma violação de seus corpos. Destaca-se, assim, o relato de
Joana “Então... é quando ele passou a mão em mim, eu percebi que era errado, eu sabia que
era errado. Mas quando minha mãe fazia, não”.
Ao atentar-se ao fato de que essas mulheres presentes na subcategoria posterior à
violência foram vítimas de uma violência sem a apropriação no momento em que a mesma
ocorria, é importante apontar que estavam em fase de escolarização e evidencia a relevância
da educação sexual nos ensinos escolares. Conforme Spaziani e Maia (2015), as escolas não
se reduzem à reprodução de grades curriculares, devem abordar questões sociais e propiciar a
socialização dos estudantes. Sabendo que o agressor podem ser os próprios cuidadores das
crianças, vê-se na escola um potencial para prevenção e/ou proteção da criança violentada.
Assim, nota-se que mesmo as mulheres da subcategoria no momento da violência poderiam
ter percebido na escola confiança e suporte se identificassem abertura e segurança para esse
diálogo.
Dessa forma, embora se tenha o movimento de mudança, de empoderamento e de
ouvir a voz de mulheres e crianças, ao considerar as histórias desta pesquisa, foi possível
perceber que relação entre homens e mulheres, bem como de adultos e crianças, foi e continua
a ser constituída pelo poder. Um sujeito assume dominância e razão sobre o outro,
independente das circunstâncias, acarretando uma relação marcada por opressões e
intimidações. Essas são atitudes violentas, já que são desenvolvidas em um contexto de
hostilidade, coerção, contra liberdade e favorável à violação (CHAUÍ, 2003), ao levar em
13

consideração que as vivências destas mulheres estiveram a mercê do autoritarismo de um


“superior” que as limitavam e as violavam.

3.2 AS DECORRÊNCIAS DA VIOLAÇÃO SEXUAL DE SEUS CORPOS

Neste eixo será apresentada a análise vinculada ao objetivo específico: “Identificar as


decorrências da violência sexual vivenciada por mulheres, a partir de suas próprias
significações”. Logo, pontua-se que a violência sexual pode ser desencadeadora de
consequências físicas e psicológicas que poderão emergir decorrente a violência
(AMAZARRAY; KOLLER, 1998). Assim, os efeitos resultantes da violência sexual são
variados e a forma como eles irão se manifestar se devem a diversos fatores. Diante do
exposto, foram criadas seis (06) categorias a priori para a compreensão desses fenômenos,
sendo elas: “identificação do sentimento desencadeado”; “somatização”; “autoimagem”;
“relacionamento interpessoal”; “desempenho escolar” e “negação”.
Deste modo, a forma como a violência sexual poderá afetar os aspectos
biopsicossociais das mulheres se devem a diversos fatores, dentre eles categorias citadas nos
eixos anteriores, como: idade da vítima; diferença de idade entre agressor e vítima; a reação
de seus familiares; vínculo com agressor; por quanto tempo ocorreu a violência; o
silenciamento, a presença de ameaças; a presença de outras agressão; ausência de figuras
protetoras; condições genéticas etc. (AMAZARRAY; KOLLER, 1998; BORGES; ZINGLER,
2013; GAVA; SILVA; DELL‟AGLIO 2013). Esses fatores são condições particulares, porém
com algumas semelhanças entre as participantes desta pesquisa, bem como as decorrências
vivenciadas, entretanto experienciadas de maneiras singulares por cada uma delas.
Deste modo, a categoria identificação do sentimento desencadeado (4) refere-se a
forma como as participantes nomeiam o sentimento desencadeado diante da violência sexual
vivenciada. As subcategorias foram divididas conforme a nomeação de cada participante,
sendo elas: desespero, invasão e receio em ser desacreditada relatados por Joana; desistência
relatado por Maria; medo relatado por Dandara e Joana; raiva relatado por Dandara e Amélia;
culpa relatado por Maria, Dandara e Amélia. Cabe mencionar que a culpa vivenciada por
estas mulheres carregam sentidos diferentes: Amélia e Dandara se referem a sentir culpa pela
violação sofrida. Já no caso de Maria se refere a uma culpa em decorrência ao suicídio de seu
irmão abusador, quando ela tinha entre 16 e 17 anos, pois acredita que poderia ter evitado sua
morte se o tivesse ajudado e, também, por diversas vezes ter desejado sua morte. Tal
acontecimento também desencadeou pensamentos suicidas, em que ela menciona ter sentido
muita vontade de se matar.
14

Durante as entrevistas observou-se a intensidade e dificuldade de todas as mulheres


em conseguir nomear os sentimentos advindos da violência sexual e cabe ressaltar o relato de
Maria sobre a desistência, pois foi percebido um grande impacto ainda presente na vida desta
mulher:

Eu acho que... talvez se fosse outro dia eu ia falar outra palavra, mas hoje, eu acho
que é desistir. Por que eu não tenho vontade de me matar mais, mas eu acho esse
mundo tão injusto, tão injusto... Não que eu seja infeliz agora, atualmente né, mas...
eu acho tão difícil viver nesse mundo.

Essas consequências também estão presentes no estudo do Martins (2011) e como


resultado de seu estudo a autora apresenta que mesmo no decorrer de um ano, algumas
decorrências continuam presentes na vida da pessoa violentada e esses impactos são
percebidos quando a vítima não pode contar com uma rede de apoio presente. Fato que pode
ser corroborado nesta pesquisa, já que as participantes permaneceram em silêncio durante
longo tempo e, em algumas situações, ainda preferem não falarem sobre a situação.
Em relação a categoria “somatização (4)”, conforme a compreensão de Dalgalarrondo
(2008), se refere à manifestação do corpo por meio de sintomas e sinais, relacionados à
expressão física de ordem psicológica que ocorre quando a forma verbalizada se encontra
impossibilitada de ser usada, como por exemplo, pela falta da identificação do sujeito sobre o
que o está afetando. Para isto, foram criadas nove (09) subcategorias de acordo com a
significação das próprias participantes: “dermatite”; “fibromialgia”; “asma” “dores nas
relações sexuais”; “candidíase”; “crise do pânico”; “compulsão alimentar”; “gastrite” e
“vômitos”.
O mesmo autor expõe que as somatizações podem ocorrer devido à predisposição
genética, ou doenças já manifestadas, que são impulsionadas devido às raízes psicológicas
que intensificam os sintomas. Assim, em relação às subcategorias dermatite apresentada por
Joana, fibromialgia apresentada por Dandara, e asma apresentada por Amélia são doenças que
as próprias participantes reconhecem ter devido a fatores biológicos e genéticos, entretanto
enfatizam que identificam a sua manifestação ou intensificação devido às conturbações
emocionais vivenciadas como pode ser observado no relato de Dandara sobre a fibromialgia:

Mas tem casos na minha família que as pessoas têm. E aí eu tinha essas crises, né,
que é uma dor no corpo inteiro assim. Foi nessa época, com uns 18/19 que eu
comecei a me dar conta de tudo que tinha acontecido, que eu fui falar sobre, daí
reviver isso me deu essas crises assim. Tinha isso, assim, dor no corpo todo[...]É
que... a dor aparece a partir de algum estado emocional teu né? Se alguma coisa
mexe ali, daí a dor surge, ai tem pessoas que tem dor em algum canto do corpo[...]
15

No mesmo sentido, Facuri et al (2013) mencionam que o comprometimento da saúde


física das mulheres vítimas de violência sexual podem se manifestar em curto ou em longo
prazo e comumente encontram-se decorrências como “distúrbios ginecológicos e na esfera da
sexualidade”, assim como “maior vulnerabilidade para sintomas psiquiátricos, principalmente
depressão, pânico, somatização, tentativa de suicídio, abuso e dependência de substancias
psicoativas” (BASILE; SMITH, 2011 apud FACURI et al, 2013, p. 890). Neste viés, em
relação as consequências recorrentes de ordem ginecológicas e de sexualidade, Dandara
apresentou candidíase frequente e mesmo com a tentativa de diversos tratamento não obtinha
melhora até que sua ginecologista indicou a psicoterapia, situação na qual a participante
começou a compreender os efeitos da violência sexual em seu corpo. Assim como Amélia
apresenta, desde a primeira violência sexual, dores nas relações sexuais que vivencia,
conforme seu relato: “[...] Até hoje em muitas relações sexuais que eu tenho com meu atual
noivo, mesmo sendo com vontade, mesmo tendo lubrificação, mesmo tendo um contexto
totalmente favorável, a primeira penetração SEMPRE dói, sempre dói...”.
Por conseguinte, em relação à vulnerabilidade para desenvolver sintomatologias
psicopatológicas, a participante Joana relata ter apresentado em diversas situações crise do
pânico, ou seja, crises intensas de ansiedade quando reconheceu que suas vivências na
infância e adolescência com a mãe eram caracterizadas como violência sexual.
Em continuidade, a pesquisa de Florentino (2014) acrescenta que problemas
relacionados à alimentação também são consequências frequentes da violência sexual, no caso
desta pesquisa encontrou-se compulsão alimentar (1), gastrite (1) e vômitos (2). Maria
mencionou não ter controle sobre o que comer em situações ansiogênicas geradas pela
violência sexual e que ocasionaram uma gastrite. Em relação às situações de vômitos a
participante Amélia sente náuseas, levando ao vômito, ao se deparar com situações de outras
mulheres em situação de violência sexual. Já no caso de Joana essa ocorrência aconteceu ao
se deparar com momentos relacionados às suas vivências sexuais: “eu tentei até ter uma
relação casual sim e só me fez mal, ao ponto de eu ter a relação sexual com a pessoa e eu ficar
uma semana vomitando, porque eu me senti suja. Então, isso tudo me afetou assim, bastante”.
Diante do exposto, é necessário mencionar que mesmo que as participantes
apresentem algumas manifestações normalmente encontradas nos casos de violência sexual,
não existem dados científicos sobre causa e efeito referente à certeza de que as vítimas irão
vivenciar comprometimentos específicos de sua saúde física (SILVA; GAVA;
DELL‟AGLIO, 2013). Ainda as pesquisas em relação às reações do corpo em longo prazo
não apresentam detalhamentos sobre a forma como ocorrem, porém, conforme Florentino
16

(2015), fatores como subjetividade, genética, vínculo com agressor, tratamento após revelação
ou se houve revelação, interferem em dados precisos de como a manifestação de sinais e/ou
sintomas pode ocorrer, pois como pode ser observado, as participantes apresentaram formas
diversas de suas expressões corpóreas.
Em prosseguimento, a categoria autoimagem (4) se refere ao modo como as mulheres
se percebem. Para isso foi criada a subcategoria depreciação (03), em que os relatos de Maria,
Amélia e Dandara exprimiam desvalorização sobre si mesma. Isso pode ser explicitado com a
fala de Maria:

Num ano eu queria que ele morresse, no outro eu queria que minha mãe percebesse
“ba, se minha mãe não ta percebendo, qual o meu valor, será que eu sou
importante”. Em outro ano era porque eu era um lixo, porque eu não era importante,
então é um misto de coisas em vários períodos diferentes. Então... Era muita coisa
na cabeça né.

Neste sentido, a estigmatização e baixa autoestima são formas manifestadas por estas
mulheres como formas de depreciação e mesmo que em diferentes literaturas sejam citadas
diversas consequências diferentes, esta autodesvalorização está presente na maioria dos dados
(AMAZARRAY; KOLLER, 1998; HABIGZANG; CUNHA; KOLLER, 2010, GAVA;
SILVA; DELL‟AGLIO, 2013). Já a segunda subcategoria relação com o corpo (1) se refere
ao modo de se relacionar com o próprio corpo, Joana menciona não identificar parte de seu
corpo como parte integrante de siVIII: “eu achava, o meu seio era uma parte muito abstrata,
sabe, eu não reconhecia o meu seio como meu [...]”. Conforme Teixeira-filho et al (2013),
quando a violência sexual tem como agressor o pai, as consequências desse ato podem
ocasionar uma alteração entre o sujeito e sua auto percepção sobre seu corpo, podendo
consequenciar, inclusive, na automutilação. Assim, mesmo que Joana não tenha mencionado a
automutilação e que sua violação não tenha sido causada por seu pai, a participante morava
apenas com a mãe e, assim como a figura paterna, também assume papel de proteção, variável
que pode fazer com que seus efeitos tenham as mesmas características.
Ainda, além de ter como consequência a forma de relacionar-se como o próprio corpo,
outra decorrência identificada foram interferências no relacionamento interpessoal (3),
colocada como categoria referente ao modo como as mulheres desta pesquisa relacionam-se
com outras pessoas. Assim, esta categoria foi subdivida de acordo com as dificuldades
encontradas pelas participantes. Diante disso, Amazarray e Koller (1998) mencionam que as

VIII
Apesar de não mencionado pela participante, essa é uma característica apresentada em quadros
psicopatológicos dissociativos, que são normalmente encontrados em casos de violência sexual (GAVA; SILVA;
DELL‟AGLIO, 2013). Entretanto, para tal enquadramento seria necessário aprofundamento sobre demais
sintomas e esta pesquisa não tem fins diagnósticos.
17

violências sexuais prejudicam na confiança com o outro, já que a violação sofrida foi
praticada por quem supostamente poderia confiar, como pode ser observado nas subcategorias
“dificuldade na relação com homens (1)” e “dificuldade em confiar em qualquer outra
pessoa (2)”. Na subcategoria dificuldade na relação com homens Dandara menciona que as
relações que observa entre as pessoas são permeadas por machismo, com violências sutis
praticadas por meio de piadas que legitimam às mulheres um lugar subalterno e vulgar na
sociedade. E na subcategoria dificuldade em confiar em qualquer outra pessoa Joana e Maria
mencionam perceber que a violência sexual afetou a forma de se relacionarem com pessoas
em diversos contextos, desassociados a relações sexuais. A subcategoria dificuldade na
relação sexual (3), situação encontrada na pesquisa de Martins (2011), envolve a realização
de um ato traumático, que foi mencionado por Joana, Dandara e Amélia como aspecto
complicador em seus relacionamentos amorosos, em que ambas sentiam dificuldades em ter
vivências sexuais, pois os toques de seus parceiros lhes causavam angústia ao invés de prazer.
As decorrências em relação aos aspectos comportamentais também envolveram a
relação com desempenho escolar (2) de Amélia e Maria. Embora normalmente a vítima de
violência sexual tenha seu rendimento decaído (SPAZIANI; MAIA, 2015), como ocorreu no
caso de Amélia em relação ao ensino superior, a participante Maria teve alteração de seu
desempenho para melhor no Ensino Fundamental, pois utilizava seus estudos como rota de
fuga das agressões: “[...]eu vou me trancar no quarto com a desculpa que eu tô estudando, que
eu tenho trabalho e coisa e tal, então eu tirava as melhores notas porque eu estudava desde a
hora do almoço até a hora da minha mãe chegar em casa, eu ficava estudando, pra tentar fugir
daquela realidade”. Aspecto, também mencionado por Spaziani e Maia (2015) em relação à
educação nas escolas, já que o alto desempenho escolar ou a mudança para um baixo
desempenho podem indicar mudanças na realidade daquele sujeito e pode ser percebida
diretamente pelos profissionais que estão envolvidos nessa dinâmica, mas que precisam de
capacitação e assistência para notar essas sutilezas e realizar o amparo necessário.
Por fim, a situação da violência sexual envolveu um processo de negação (3) destas
mulheres em relação à violência sexual vivenciada. Amélia mencionou em relação ao seu 1º
namorado: “Mas como eu era muito nova, tava com meus 17 anos e ele era mais velho, aquela
coisa toda, nossa namorando um cara mais velho, eu meio que tava um pouco deslumbrada
também” e menciona esse deslumbramento também sobre o 2º namorado. Dandara relatou:
“Eu não sei... Eu acho mais que era uma negação, de querer negar que isso não tinha
acontecido, de não querer lidar com o que aparecia a partir disso. De querer esquecer mesmo
isso que aconteceu.”. Já Maria: “E como minha mãe ia em uma igreja neopentecostal tinha
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muito essas coisas de demônio e coisa e tal, e eu na minha cabeça de criança „ba, eu quero
amar o meu irmão ainda‟, sabe? Então era só uma coisa ruim que entrou no corpo dele e
criava desculpas, né.”. De acordo com cada contexto social, estas mulheres criaram
artimanhas como formas de lidar com o que tinha ocorrido enquanto não tinham a
compreensão da dimensão da violação de direitos que sofriam e por serem pessoas com
vínculo e confiança estabelecida, dificultou o reconhecimento e enfrentamento as situações
aversivas as quais foram submetidas (LIMA; ALBERTO, 2015).
Diante do apresentado neste subcapítulo, compreende-se que não há como esperar
apenas uma reação à violação sofrida, deve-se levar em consideração seu contexto social,
cultural e, principalmente, a subjetividade da mulher, que irão interferir na forma como essa
vivência será atribuída por conta da violação de seu corpo (HOHENDORFF; HABIGZANG;
KOLLER, 2015). À vista disto, mesmo que esta pesquisa seja fruto de uma produção
acadêmica de psicologia, faz-se relevante apontar que as decorrências da violência sexual não
se restringem somente à dimensão psicológica da mulher de modo isolado. Nota-se como nos
casos destas mulheres as dimensões sociais, biológica e psíquicas demonstram-se interligadas,
em que as decorrências perfazem a vida das mulheres com um todo. Assim como apresentado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1946), a saúde abrange aspectos sociais, físicos e
mentais, desta forma, uma situação que comprometa um desses aspectos afeta as demais
dimensões e acomete a saúde do sujeito como um todo.

3.3 COMPOSIÇÃO DA REDE DE APOIO SOCIAL E SUA CONTRIBUIÇÃO

Neste eixo será apresentada a análise vinculada aos objetivos específicos: “Identificar
a composição da rede de apoio social das mulheres que sofreram violência sexual, a partir de
suas próprias significações” e “Identificar a atuação da rede de apoio social em relação às
decorrências da violência sexual vivenciada por mulheres, a partir de suas próprias
significações”. Deste modo, adiante será exposto quem são os integrantes da rede de apoio
social de cada participante desta pesquisa, em relação a violência sexual vivenciada, assim
como apresentar suas contribuições na forma como essas mulheres significaram a violação
sexual vivenciada.
Por meio do relato de Amélia, foi possível identificar sua rede de apoio social sendo
composta por seu núcleo familiar: mãe, pai e seu irmão mais novo, os quais não sabem sobre
a violência sexual que ela vivenciou. E também por seu noivo, uma amiga de infância e outra
amiga, que sabem da situação e lhe deram o suporte necessário. Entretanto, aponta-se que a
19

outra amiga de Amélia hoje não faz mais parte de sua rede de apoio, já que se distanciaram
por motivos que não envolvem a violência sexual.
Em relação à Joana, foi identificada sua rede composta por sua família paterna: pai,
madrasta, tia e avó, bem como por suas amigas. Quando Joana apropriou-se da violência pode
contar com o apoio do ex-companheiro, o qual atualmente não faz parte de sua rede de apoio
e será apresentado no decorrer deste subcapítulo. Ainda, destaca-se que seu pai sabe sobre
outras violências que Joana foi vítima de sua mãe, e sobre a violência sexual praticada pelo
namorado da mãe, mas não sabe sobre a violência sexual praticada pela própria mãe.
As falas de Maria demonstraram sua rede composta por sua família: mãe, padrasto,
irmão mais novo, irmã mais nova e seu marido, sendo este último que dispôs maior apoio e
suporte significativos. E, também por amigas próximas, todavia, ela conta que em alguns
momentos de sua vida pode ter o apoio de colegas de quarto e estudo, mas o vínculo formado
não foi forte o suficiente para que se mantivessem em sua rede de apoio, ou seja, houve
distanciamento por razões que não envolvem a violência sexual.
Dandara explicita sua rede composta por sua família materna: mãe, irmão e integrantes
da família materna. A sua família paterna sempre esteve presente em sua vida antes de
saberem sobre a violência sexual, como será apresentado no decorrer deste trabalho. Ainda,
menciona que não gostaria de ter contado a eles, sua história foi exposta à família quando seu
irmão identificou seu relato em uma entrevista nas redes sociais sobre violência sexual. Em
relação ao seu pai, a participante menciona afastamento por outras razões que não envolvem a
violência sexual somente. Foi percebido em seu discurso destaque às suas amigas de grupo
feminista, que foram as primeiras a ter conhecimento sobre a violação de seu corpo e lhe
deram o suporte necessário, assim como outras amigas.
Como exposto ao longo da pesquisa, a rede de apoio social compreende todas as
relações que são significativas para o sujeito e que afetam direta e indiretamente a qualidade
de vida das pessoas nela envolvidas (JULIANO; YUNES, 2014). Para compreender como as
redes de apoio social agiram, em relação à violência sexual vivenciada pelas mulheres desta
pesquisa, foram criadas quatro (04) categorias a priori, sendo elas: “expectativa das
vítimas”; “comportamento da rede”; “vínculo com a rede” e “denúncia”. E uma (01)
categoria que surgiu a posteriori: “outras mediações”
Nesta continuidade, ressalta-se que a violação sexual vivenciada por estas mulheres
esteve em segredo por vários anos e contar sobre essa vivência implicou em um processo que
envolveu o reconhecimento e a apropriação do que lhes aconteceu, suas diversas decorrências
e as relações de confiança com o outro. No decorrer desse processo emergiram-se diversos
20

afetos e fantasias sobre o que aconteceria com a revelação do segredo. Tal característica
envolve a categoria “expectativa das vítimas (4)” sobre as medidas que seriam realizadas ao
contar sobre a violência às quais foram submetidas.
Assim, a categoria foi dividida em subcategorias conforme a significação de cada
participante: para Amélia, sua expectativa era de que o noivo sentisse Raiva e tristeza (1),
porém ao contar pode constatar que a atitude do noivo foi acolhedora. Cabe ressaltar que esta
mulher ainda não contou sobre as violências aos seus pais, de forma que ainda acredita que
seus pais reagirão com raiva e tristeza. Punição ao agressor (1), Dandara mencionou que
esperava que o agressor de sua violência fosse punido com as consequências cabíveis. Culpa
(1) relatada por Maria, pois imaginava que seria culpabilizada pela violência sofrida e pela
destruição da família. Descrédito (2) foi percebido nos relatos de Dandara que julgava que a
família paterna não acreditaria em seu relado; já nos relatos de Joana foi percebido como
receio de que pessoas com quem não possui uma relação de confiança estabelecida não
acreditem em sua fala. E acolhimento (3) em que Maria esperava que a família a acolhesse
com cuidado e proteção; Joana esperava que ao contar à avó, suas atitudes fossem
acolhedoras, por saber do histórico de violência vivenciada por essa integrante da rede; por
Dandara, com desejo de que seus familiares paternos pudessem protegê-la.
Dessa forma, nota-se que a expectativa das vítimas referente a revelação apresentou
caráter encorajador para que compartilhassem suas vivências, mas ao mesmo tempo
dificultador, pois envolveu aspectos sociais de perspectiva sobre as mulheres a partir de
valores masculinos, perpassados por uma cultura religiosa conservadora e pela prevalência do
patriarcado que mantem as mulheres como responsáveis pelas violações sofridas e vítimas de
julgamentos morais (SOUSA; SIRELLI, 2018).
Neste sentido, quando o sujeito se vê diante de situações aversivas, a necessidade pela
busca de apoio aumenta e a forma como a rede de apoio social se articula e interage contribui
na forma como o sujeito envolvido nessa dinâmica irá se relacionar com essas situações
(JULIANO; YUNES, 2014). Deste modo, a categoria comportamento da rede (4) refere-se à
postura adotada pela rede ao ouvir sobre a violência sexual que as mulheres vivenciaram. Para
isto criou-se as subcategorias “desvalorização (3)” e “acolhimentos (4)”. Assim, as mulheres
desta pesquisa puderam perceber que algumas pessoas que integram sua rede social
demonstraram desvalorização em relação ao seu valor social e à violação sexual que
sofreram. Isto foi notado por meio de depreciações, dúvidas, culpabilização e desinteresse
pelo assunto e pelas próprias vítimas. Joana identificou aspectos desvalorativos em relação à
sua mãe, que não acreditou em seu relato sobre a violência praticada pelo namorado desta;
21

pelo seu ex-companheiro que, apesar de em um primeiro momento a apoiar, ao terminar o


relacionamento teve práticas machistas de julgamento moral contra Joana; e em relação à avó
que mesmo dispondo de sua escuta, fez Joana coadjuvante da violência sofrida, pois deu
enfoque à relação conflituosa de seus pais. Para Maria foi percebida a falta de interesse de seu
padrasto, mãe e irmão mais novo, sem orientações ou conversas aprofundadas sobre o assunto
e ela expõe com conformismo: “[...] o que eles iriam fazer, sabe?”. Já Dandara percebeu de
seu ex-companheiro e de sua família paterna desconfiança sobre os relatos do que havia
vivenciado, com questionamentos duvidosos e falta de credibilidade no que expressava à
essas pessoas.
Assim, conforme Martins (2011), pessoas que tem relação de confiança estabelecida,
principalmente aquelas que assumem papel de cuidadores são, normalmente, integrantes da
rede na qual se espera encontrar o suporte necessário para vivenciar qualquer evento adverso
que aconteça no decorrer da vida. Entretanto, de acordo com o apresentado, esse suporte não
foi percebido pelas participantes em relação a todos os membros de sua rede e, inclusive, a
desvalorização exprimida foi desencadeadora de sensações como: invisibilidade, raiva e
culpa, que compõem afetos negativos que inviabilizam a potência de agir dessas mulheres
para sair do ciclo de sofrimento (SAWAIA, 2008).
Por outro lado, ao mesmo tempo em que as participantes identificaram desvalorização
em suas relações com a rede de apoio social, algumas pessoas que integram essa rede
demonstraram acolhimentos. E, no que concerne esta subcategoria, foram percebidas relações
de apoio, em que todas as participantes apontaram ter recebido de sua rede social:
acolhimento, escuta empática e orientações de como deveriam proceder diante da violência
sofrida. Estas condutas respeitaram os discursos das participantes, que, a partir disso, puderam
propiciar alívio, ressignificação e fortalecimento em relação à violação vivenciada.
Igualmente, o apoio fornecido é reconhecido pelas vítimas como contributivo na forma como
se relacionam atualmente com a violência, como se pode perceber no relado de Dandara:

A transformar o sentimento da dor em alguma outra coisa... que não seja raiva e que
não seja dor, assim. Então de ajudar a transformar nessa comunicação com as
pessoas, de ajudar as pessoas a se conscientizarem de ser um pouco mais tolerante
com os meninos, também. Acho que é isso, foram transformando o jeito que eu me
sentia, o que que eu fazia com isso, acho que é isso.

Assim, ao analisar conforme a compreensão de Sawaia (2008), as redes destas


mulheres se mostram potencializadoras por meio de afetos positivos e vínculos que as
legitimam como seres de direitos e as impulsionam a agir de modo distante das relações de
coerção e dominância. Corroborando que o apoio provido é fundamental para o processo de
22

resiliênciaIX das vítimas de violência sexual, como apresentado por Martins (2011) e Silva,
Gava e Dell‟Aglio (2013).
Posto isto, Juliano e Yunes (2014) apontam que uma rede de apoio social é
considerada forte conforme o vínculo e relações de reciprocidade que se estabelecem entre os
integrantes. Logo, pode-se constatar nesta pesquisa que a forma como as pessoas portaram-se
concernente à violência sexual vivenciada por estas mulheres influenciou na dinâmica e
interação dessa rede social. Diante do exposto, foi criada a categoria vínculo com a rede (4),
que foi dividida da subcategoria aproximação (4) e distanciamento (4). Sendo a aproximação
percebida pelos integrantes da rede que manifestaram acolhimentos, passaram a demonstrar
carinho e preocupação com estas mulheres.
Já a subcategoria distanciamento (4) refere-se ao movimento de afastamento entre as
mulheres e integrantes de sua rede de apoio social. Destaca-se que quando questionadas as
participantes trazem em seu relato o distanciamento em relação aos membros da rede que
demonstraram desvalorizaçãoX. Entretanto, cabe mencionar que em diversos momentos das
entrevistas pode-se evidenciar o distanciamento das pessoas que foram acolhedoras com estas
mulheres ao levar em consideração, por exemplo, o relato de Joana: “Então, ele já tem tanta
dor quanto tudo que ele sente, ele se sente muito culpado por não ter me tirado antes de casa...
Então... É mais um sofrimento pra ele, é mais uma coisa pra ele remoer, então... prefiro
evitar.”. O relato expõe a existência de um segredo que relacionado aos seus pais, do mesmo
modo que acontece com Amélia. Outrossim, Maria mencionou evitar falar sobre a violação
com sua família; e Amélia com seu noivo e amiga por identificarem sofrimento por quem
ouve seus relatos. Assim, sem que percebam explicitamente, afastam-se de sua rede e de seus
próprios sentimentos.
Neste sentido, enquanto Joana e Amélia escolheram não compartilhar, ou
recompartilhar suas experiências, puderam contar com o amparo de outras mediações (2).
Embora a literatura sempre aponte a rede de apoio social como pessoas, foi possível
identificar produções humanas que atuaram como mediações, citadas por Joana como
literatura feminista e por Amélia como músicas. Ou seja, a partir da compreensão de Silva
(1998), a música e a literatura são criações humanas surgidas a partir das relações sociais
como forma de expressão de um determinado contexto social ou situação, neste caso sobre a
violência sexual, que possibilitaram mediações com o sofrimento destas mulheres. Cabe

IX
“[...] „capacidade‟ das pessoas e dos grupos para superarem as situações adversas e traumáticas” (JULIANO;
YUNES, 2014, p. 138)
X
Mesmo que Joana aponte não sentir-se acolhida por sua avó, esta não menciona o afastamento desta pessoa em
específico.
23

ressaltar que não foram medidas de valor substitutivo do contato com o outro, mas foram
mediações que elas encontraram para lidar com as decorrências de suas violações sexuais.
Por fim, ao levar em consideração que a violência sexual fere os direitos humanos de
quem a vivencia e é considerada crime conforme Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009
(BRASIL, 2009), entende-se que essa vivência repercute na busca de instituições para
proteção de garantia dos direitos. Entretanto, nenhuma das mulheres entrevistadas nesta
pesquisa realizou denúncia formal contra seus agressores. Neste sentido, mesmo que os
dados estatísticos apresentem números de casos notificados da violência sexual, eles não são
exatos ao considerar que a notificação da ocorrência, como no caso destas mulheres, não
ocorre.
Assim, Cavalcanti et al (2015) relata que a relevância que a violência sexual alcançou
no campo do direito e da saúde promoveu, em virtude das conquistas feministas, formas de
enfrentamento à violência sexual. No entanto, se encontra um distanciamento dos
profissionais e das instituições competentes em contato com a vítima. Isto pode ser destacado
na fala de Dandara, em que sua mãe a orientou em fazer a denúncia, porém ao buscar o
auxílio da assistência social, mesmo se sentindo acolhida pelo serviço, a orientação foi: “[...] e
ela disse que não valeria a pena, porque não iam fazer nada e ainda mais de ser depois de
anos, não tinha prova nenhuma, ainda ele dizendo que não fazia nada, a família também
dizendo que ele não fazia nada”, abalando sua confiança em prosseguir para uma resolução do
problema e em sua revelação, fato que evidencia o despreparo da atuação das políticas
públicas com o assunto.
Além disso, conforme exposto em parágrafos anteriores, os relatos demonstram falas
de vivências em um espaço de exclusão, na busca de que a voz de seus afetos tivesse um
espaço para ser ouvida e levada em consideração. Dessa forma, ao pesquisar sobre as redes de
apoio sociais primárias e secundáriasXI como elementos que amparam, protegem e propiciam
novas perspectivas às vítimas, entende-se a importância de fortalecer, disseminar e
potencializar as práticas que viabilizam a integração das redes em atenção à mulher. Com
políticas que forneçam qualidade de vida em atenção a esse sujeito biopsicossocial com
necessidades diversas a serem acolhidas de maneira que promova a qualidade de sua saúde de
forma integral.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

XI
Ainda, mesmo que as redes de apoio secundárias não sejam o foco desta pesquisa, Dandara esteve em contato
com a assistência social; Maria com a Igreja; e todas as participantes realizam psicoterapia devido às
decorrências da violação sexual.
24

Após a realização da categorização e análise dos relatos das mulheres participantes


desta pesquisa, foi possível responder ao objetivo proposto de “Analisar os sentidos atribuídos
por mulheres à sua rede de apoio social em relação às decorrências da violência sexual
vivenciada”. Desta forma, identificou-se que a violação sexual as quais foram submetidas
pode ser caracterizada, em sua maioria, como intrafamiliar e mesmo as caracterizadas como
extrafamiliar assemelhavam-se, pois havia proximidade e/ou confiança estabelecida com o
agressor. As violências ocorreram durante suas infâncias e adolescências com frequência de
ocorrência contínuaXII e com presença de outras formas de violência vinculadas à violência
sexual.
As decorrências dessa violação puderam ser identificadas nos âmbitos sociais (como a
dificuldade em relacionar-se com qualquer pessoa que não se tenha proximidade e a culpa),
biológicos (como vômitos, compulsão alimentar e dores na relação sexual) e psicológicos
(crises do pânico, não identificação do próprio corpo) destas mulheres, assim como aponta a
concepção da OMS (1946) que a saúde do sujeito se deve ao bem estar do conjunto dessas
dimensões, em que ao ter uma delas afetada, desencadeia o comprometimento de outra
dimensão também. Atenta-se, então, às decorrências sentidas no corpo destas mulheres, às
suas emoções e também aos aspectos sociais, diante de uma sociedade movida por
perspectivas machistas de valores de julgamento que historicamente tem como alvo crianças e
mulheres (SAFFIOTI, 2000; SOUSA; SIRELLI, 2018). Assim, independente da forma como
ocorreu a violência sexual, com semelhanças ou discrepâncias, o modo como foram afetadas
foi singular, devido às diversas facetas como as condições biológicas, seu contexto social e
sua subjetividade. E mesmo sendo individual, atravessa todas estas mulheres
Em relação às suas redes de apoio social, foi possível constatar que nem todos aqueles
que estiveram presentes na dinâmica familiar e com supostos vínculos afetivos, agiram de
forma acolhedora e com apoio. Notou-se a existência de um vínculo condicional, em que a
condição da rede é dada como sua verdade pessoal absoluta, sem levar em consideração os
afetos destas mulheres que vivenciaram a violação de seus corpos. À vista disso, Juliano e
Yunes (2014) expõem que a ligação entre os sujeitos da rede de apoio é constituída, mantém-
se ou é reformulada de acordo com a dinâmica das relações, pela afetividade, reciprocidade e
respeito em suas interações. Dessa forma, houve proximidade e fortalecimento do vínculo
daqueles que demonstraram acolhimento com estas mulheres, assim como enfraqueceram
com aqueles que demonstraram desvalorização às suas vivências. Do mesmo modo, também

XII
Somente o caso de Dandara foi pontual, conforme subcapítulo 3.1
25

se evidenciou a violação sexual ainda mantida em segredo entre as pessoas com que se tem
um vínculo estabelecido, que acarreta no enfraquecimento do vínculo entre essas pessoas, já
que demonstra uma atitude de distanciamento, pois limita sua relação de proximidade.
Outrossim, cabe ressaltar que mesmo havendo a presença de afetos negativos, as
participantes afirmam que os afetos positivos desencadeados pelo apoio fornecido de sua rede
social tiveram maior relevância, pois oportunizou a ressiginificação da violação vivenciada,
mesmo que esse não seja um processo finalizado, mas em curso. Aponta-se, ainda, que a
partir do momento em que estas mulheres puderam contar com sua rede de apoio social,
possibilitaram-se novas perspectivas de pensamentos, sentimentos e a ação a ser tomada após
apropriarem-se de tudo que lhes aconteceram, já que encontraram uma escuta para a voz de
seus afetos. Ressalta-se que a rede de apoio social não vai evitar as manifestações das
decorrências da violência sexual, entretanto a sua contribuição auxilia na diminuição de seus
impactos e, conforme Juliano e Yunes (2014), no seu processo de resiliência.
Logo, ao tratar sobre a temática das relações humanas, Kehl (2009) aborda como as
relações humanas têm adoecido e como o passar do tempo afetou a sociedade com a
aceleração do ritmo de vida, que acarretou no afastamento do outro e provocou a anestesia aos
afetos existentes nas relações humanas, assim como trouxe o empobrecimento da memória,
fazendo com que a aceleração e excessos de informações dificultem a apropriação das
experiências. Neste viés, é perceptível como esse aspecto interfere na abordagem da violência
sexual na sociedade, em que por vezes há a mobilização, indignação e revolta ao se ouvir
sobre um caso desta violência, mas que em seguida é posposto. Entretanto, esta violência deve
ser abordada conforme concepção de Arendt (1989)XIII sobre “compreensão”, em que mesmo
sendo uma temática que envolva sofrimento e perturbação, deve-se retratá-la em toda sua
magnitude e complexidade para que hajam formas de enfrentamento e movimentos de
mudança dessa realidade.
Assim, evidencia-se por meio dos relatos das participantes em como as relações
humanas podem apresentar caráter de dominância que envolve uma dinâmica que reduz sua
integralidade que a constitui como ser humano e inviabiliza a percepção de novas formas de
viver (CHAUÍ, 2003). Assim como relações que envolvem afetos positivos permitem
valorização pessoal, relacionamentos de qualidade e capacidade de enfrentamento de
situações aversivas (JULIANO; YUNES, 2014).

XIII
Apresentada na introdução desta pesquisa.
26

Por fim, cabe-se apontar o papel da (o) profissional de Psicologia com esta temática,
que não se limita a atuação clínica a espera de uma procura, apresenta um viés político, com
um olhar para um fenômeno contextualizado dentro de uma prática histórica e social,
entendendo que a violência sexual vivenciada por mulheres não se reduzem a formas
particulares de vivência, mas sim pela cultura, economia, política e as relações que
estabelecem. Assim, a (o) profissional de Psicologia também atua como porta-voz dos sujeitos
em relação às contribuições científicas, ao ato político de corresponsabilização com a
sociedade e vida destas mulheres, respeitando a ética e a valorização do ser humano em sua
integralidade com ações a serviço do outro. Posto isto, cabe a (ao) psicóloga (o) entregar-se
para quem o procura e, também, caminhar aos lugares onde a psicologia deve estar presente
(FREIRE, 2003).

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