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28/03/2023, 20:17 Temas Contemporâneos em Psicologia

TEMAS CONTEMPORÂNEOS EM
PSICOLOGIA

DIREITOS HUMANOS,
VIOLÊNCIA NO
CONTEXTO DAS
INSTITUIÇÕES DE
SAÚDE E EDUCAÇÃO E
VULNERABILIDADE
SOCIAL
Autoria: Me. Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Revisão técnica: Ma. Luana Pinto Moraes

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Introdução

O que é violência? Em quais pilares ela se sustenta? Como podemos categorizar


tipos de violência? Quais seus impactos na construção da subjetividade
humana? Como a Psicologia atua em contextos demarcados pela violência?
Nesta disciplina, vamos expandir a discussão sobre Direitos Humanos ao
abordar um dos seus principais temas: a violência. Esse fenômeno abarca
aspectos psicológicos e sociais e tem sido trabalhado pela Psicologia em
muitos contextos de atuação. Discutiremos sobre a violência centrada em dois
públicos: mulheres e crianças/adolescentes. Em seguida, falaremos sobre a
violência como um fator de interesse à saúde. Por fim, vamos nos aprofundar no
tema da violência no contexto educacional.
Você verá que, apesar de falarmos sobre violência no nosso dia a dia, sua
conceituação é bastante complexa. Será primordial conhecermos cada contexto
em que ela se manifesta e, com isso, identificar pontos nos quais psicólogas e
psicólogos podem intervir.
Bons estudos!
 
Tempo estimado de leitura: 48 minutos.

2.1 Políticas públicas de combate à violência 

A Organização Mundial de Saúde define violência como uso intencional da força


física ou do poder – real ou em ameaça – contra si próprio, outra pessoa ou
contra um grupo ou uma comunidade cujo resultado possa ser lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (ROSA et al.,
2010). Embora genérica, essa definição apresenta um fundamento básico sobre
a violência no que tange a uma ação direta de um agente cometedor contra o
alvo que a sofre. Compreender e intervir nesse processo tem sido mote de
discussão no campo da Psicologia partindo de alguns questionamentos.

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O que caracteriza o agente da violência?

O que caracteriza a pessoa ou grupo que passou ou está


em situação de violência?

Quais são os impactos em curto e longo prazo da


violência?

Para responder essas perguntas, é fundamental identificar quais são os


condicionantes sociais e históricos que perpassam as relações estabelecidas
entre os envolvidos na situação de violência. Características como gênero,
orientação sexual, idade, deficiência, raça/cor e classe social são fundamentais
para o entendimento de situações e ciclos de violência.
Outro entendimento sobre o que seria a violência se refere a um processo menos
“ativo” de violação. Schraiber, D'Oliveira e Couto (2006) chamam atenção para o
entendimento da violência também a partir da omissão e negligência que priva
grupos, pessoas e instituições de cuidados e direitos. Desse modo,
despersonaliza-se a prática violenta, sendo ela passível de cometimento
também por via institucional e do Estado.
Por outro lado, cabe ao Estado garantir a proteção da sociedade,
disponibilizando mecanismos legais e políticas públicas de acolhimento às
vítimas e combate à violência. Por isso, neste tópico, falaremos de dois públicos
historicamente alvo de violências estruturais e conheceremos algumas
organizações de políticas públicas voltadas à sua proteção.

2.1.1 Violência contra a mulher


A violência contra a mulher possui raiz histórica e tem se reconfigurado a cada
período. Conforme, na contemporaneidade, a mulher conquista o espaço público
pelo trabalho, a violência que se encerrava no contexto privado ganha novas
formas e se expande para as relações sociais extrafamiliares.
O Conselho Federal de Psicologia (2012) complementa essa problemática ao
pontuar que a análise histórica e social da violência contra a mulher está ligada
às posições de poder distintas entre homens e mulheres na sociedade patriarcal,
no que diz respeito às hierarquias mantidas pela sensação masculina da posse e

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do direito sobre o corpo e sobre a vida das mulheres. Também é importante


pontuar a complexidade desse processo, gerando nas mulheres em situação de
violência a incapacidade de discernir quando se está nessa condição, a
estigmatização sobre a vítima e até a revitimização social, por meio da dúvida e
desconfiança acerca dessas mulheres.

VOCÊ SABIA?
O termo “mulher vítima de violência” foi substituído por “mulher em
situação de violência”, sendo influenciado por movimentos sociais e de
trabalhadoras. Dentre outras razões, destaca-se que ser “vítima” remete a
um rótulo permanente, enquanto “situação” representa uma condição
temporária, que pode ser rompida. Ademais, o termo “situação”
representa um processo, e não um episódio isolado.

Sendo a violência contra a mulher uma violação de direitos fundamentais, no


Brasil e no mundo foram sendo elaboradas, após o período da
redemocratização, leis e políticas que buscam resguardar esses sujeitos. No
Brasil, foram criadas, em 1985, as Delegacias especializadas de Atenção à
Mulher (DEAMs), que são uma importante via pública de proteção às mulheres
que passaram ou estão em alguma situação de violência (JESUS, 2015).
Entretanto, além da segurança pública, há dispositivos da rede de saúde,
assistência social e transversais que se voltam à proteção desse público. 

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Figura 1 - Violência contra a mulher não se limita à agressão física


Fonte: Nubefy, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Na imagem, há uma cena, em desenho,
composta pela silhueta de uma mulher que
passou por situação de violência, sendo que a
parte superior de seu corpo está sobreposta pela
cor preta.

Independentemente do contexto de trabalho em que a Psicologia se insira, ao


atuar perante mulheres em situação de violência, tem-se como referência a Lei
nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. A chamada Lei Maria da Penha marca um
histórico de lutas e institucionaliza a proteção a todas as mulheres que,
porventura, necessitem disso. Dentre outras deliberações, com a lei são
definidas as principais formas de violência comumente vivenciadas pelas
mulheres. 

Violência física

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Qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde


corporal.

Violência psicológica

Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da


autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento, visando degradar ou controlar ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, violação de intimidade, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir.

Violência sexual

Qualquer conduta que constranja a presenciar, manter ou


participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza à
comercialização ou utilização, de qualquer modo, da sua
sexualidade; que impeça o uso qualquer método contraceptivo
ou que force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos
sexuais e reprodutivos.

Violência patrimonial

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Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição


parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos.

Violência moral

Qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Ter esse referencial demonstra a complexidade do fenômeno da violência e


valida queixas não centradas nas violências física e sexual, cujos demarcadores
corporais são mais evidentes. Mulheres que passaram por quaisquer situações
de violência podem ser encaminhadas para serviços privados de saúde ou
assistência social, especializados ou não. Além disso, de acordo com o
Conselho Federal de Psicologia (2012), a(o) psicóloga(o), ao entrar em contato
com uma mulher nessa condição, pode desenvolver algumas ações.

Acionamento da rede de políticas públicas: o trabalho


intersetorial é fundamental no atendimento à mulher em
situação de violência, por isso, a(o) psicóloga(o) deve
conhecer e saber quando acionar os serviços de saúde,
centros e núcleos de referência para a mulher em situação
de violência, DEAMs, abrigos para esse público, serviços
socioassistenciais, como Centros de Referência em
Assistência Social e Centros de Referência Especializados
em Assistência Social, serviços do Poder Judiciário e
Organizações Não Governamentais. Para tanto, é
fundamental conhecer a comunidade em que se atua e os
serviços disponíveis.

Acolhimento: refere-se à escuta inicial. É importante


manter uma escuta empática, em ambiente de confiança,
com destaque à confidencialidade e sigilo profissional.

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Deve-se evitar posturas que revitimizem a mulher ou


duvidem da sua argumentação. O momento de
acolhimento é determinante, pois o vínculo estabelecido
nessa etapa pode garantir a permanência ou
distanciamento da mulher ao serviço.

Planejamento da atuação/atendimento: com base em


avaliação detalhada de cada caso, a(o) psicóloga(o) pode
utilizar distintas estratégias de atuação, optando por
atuações mais breves ou projetos psicoterapêuticos
regulares; identificar quais outros profissionais farão parte
das intervenções e elaborar formas de atendimento que
permitam a adesão da mulher ao serviço. Não há receita
para o atendimento a ser realizado, contanto que sejam
seguidos os princípios de garantia de defesa dos Direitos
Humanos e fundamentações éticas da profissão.

Encaminhamento: refere-se ao direcionamento da mulher


em situação de violência para serviços que atinjam
demandas não abarcáveis pelo contexto de inserção da(o)
psicóloga(o) que a recebeu. Pauta-se no princípio da
atuação integral, pois, muitas vezes, haverá demandas que
não são resolvidas apenas pelo atendimento psicológico.

Acompanhamento: o encaminhamento não deve


representar uma transferência de responsabilidade. Sendo
assim, o profissional que atende uma mulher em situação
de violência deve acompanhar o caso durante o período
necessário.

Estudo de caso: a Psicologia pode realizar estudos de


caso com as equipes profissionais que atuam em
conjunto para desenvolver soluções com base na
interdisciplinaridade.

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Trabalho com grupo de mulheres: poderão ser


desenvolvidos grupos com mulheres em situação de
violência ou preventivos. Cada política pública
desenvolverá grupos com base em seus objetivos, e a
Psicologia pode propor temáticas e modos de intervenção
grupal.

Figura 2 - Atuação em grupo no acolhimento a mulheres em situação de violência


Fonte: Photographee.eu, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Na figura, há um grupo de pessoas dialogando,
representando uma intervenção psicológica
grupal.

Trabalho com o agressor: menos comum, porém,


essencial. Há propostas de intervenção psicológica com o
homem autor de violência contra a mulher. Essa
intervenção costuma ter por objetivo fazer com que o
agressor ressignifique suas ações e desenvolva outras
estratégias comportamentais não violentas para serem
adotadas nas suas relações interpessoais. É importante
compreender que, às vezes, a convivência da mulher com
o autor da violência ocorre por fatores como a
dependência econômica, a existência de afeto ou vínculos
familiares, como os filhos. Desse modo, é fundamental
que, junto à responsabilização do sujeito autor da

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violência, busque-se estratégias para que esse ciclo não


se repita com a mulher violentada e outras que possam
com ele se relacionar.

2.1.2 Violência contra crianças e adolescentes


Toda(o) psicóloga(o) que atua com crianças e adolescentes deve ter como base
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esse documento foi fundamental
por estabelecer no Brasil a Doutrina da Proteção Integral, colocando esse
público como prioridade nas ações do Estado. De acordo com o art. 70 do ECA,
“É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da
criança e do adolescente” (BRASIL, 1990).
A violência contra crianças e adolescentes também é compreendida a partir dos
determinantes históricos e sociais. A categoria “infância”, pouco delimitada na
Idade Média, passa a ganhar uma nova configuração na Modernidade.
Apresenta-se, então, um binômio da criança como alvo de proteção e disciplina,
cabendo à família garantir essas condições (JACINTO, 2019). Desse modo, as
relações de poder estabelecidas historicamente entre crianças e adultos podem
ser manifestadas de modo violento que, por vezes, não é reconhecido no
ordenamento legal vigente. Basta analisar como, durante séculos e mesmo
contemporaneamente, no Brasil, a correção disciplinar de pais para filhos por
meio da agressão física não era entendida como violência, por ser perpetrada
por familiares.

VOCÊ O CONHECE?
Mary Ellen Wilson foi uma criança estadunidense que marcou a história
dos direitos da infância no mundo. Tendo passado por constantes abusos
físicos e psicológicos por parte dos pais adotivos, o caso de Mary Ellen
foi levado à Suprema Corte dos Estados Unidos, em 1874. Na época, não
havia medidas legais específicas para casos que envolvessem crianças e
adolescentes, então, foi ofertado suporte por parte de Henry Bergh,
criador da Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade Contra os
Animais. O caso de Mary Ellen demarcou no Direito a invisibilidade sofrida
por crianças e adolescentes e explicitou a necessidade de criação de
mecanismos legais em defesa dessa população.

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A violência contra crianças e adolescentes pode gerar efeitos duradouros na


saúde mental de quem a sofre. São identificados impactos na autoestima,
associados à ridicularização, humilhação, rejeições e abusos; desordens
psíquicas severas (depressão, distúrbios alimentares, sentimentos crônicos de
vergonha e culpa, transtorno de estresse pós-traumático); déficits de atenção
(HABIGZANG; KOLLER, 2012) e mortalidade (BRASIL, 2009).
Sugere-se que a Psicologia oriente sua prática na análise de fatores intrínsecos e
extrínsecos relacionados à situação de violência.

1
Fatores intrínsecos

Envolvem resiliência, estratégia de coping, idade


da criança e percepções sobre a violência.

2
Fatores extrínsecos

Envolvem as relações familiares, aspectos


socioeconômicos, intensidade e característica
da violência, dentre outros.

Ao identificar esses fatores, é possível traçar uma linha de ação centrada nos
múltiplos determinantes que envolvem a ocorrência da violência e os seus
efeitos. Especificamente no campo da violência sexual, Habigzang e Koller
(2012) apresentam orientações sobre a entrevista clínica que auxilia na
compreensão do fenômeno, bem como nas intervenções perante a criança ou
adolescente que passou por essa situação. Apesar do direcionamento, tais
orientações podem servir de base para entrevistas em outros contextos.
 
a) Características da revelação

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A interação e o vínculo entre criança e adulto interferem naquilo que é contado


pela criança, tanto em quantidade quanto em qualidade das informações. É
comum que a situação seja mantida em segredo em um primeiro momento.
Mesmo fora do contexto clínico, as situações de violência são reveladas com
maior frequência após questionamentos de terceiros, e não espontaneamente.
 
b) Atitude dos entrevistadores
A atitude do profissional que atua com uma criança ou adolescente nessa
situação deve ser de cordialidade e empatia. Mesmo em situações cuja violência
já esteja instaurada, é possível que o diálogo aberto sobre a temática não ocorra
no primeiro contato. A(O) psicóloga(o) deve, portanto, mostrar-se disponível, não
apressar a narrativa da criança ou adolescente, nem questionar como dúvida
aquilo que está sendo falado.
Orienta-se também:

adequar o vocabulário de acordo com a idade da criança


ou adolescente;

evitar perguntas repetidas;

informar ao sujeito que o profissional não sabe sobre o


fato a ser contado.

Podem ser utilizadas ferramentas, como brinquedos, que favoreçam a


comunicação. É importante que a(o) psicóloga(o) preste atenção nos sinais
verbais e não verbais.

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Figura 3 - Atendimento à criança


Fonte: Tatyana Dzemileva, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Imagem de duas crianças, um menino e uma
menina, vistas de cima diante de dois desenhos
a lápis, sendo um deles um rosto feliz e outro um
rosto triste.

c) Conhecimento dos fatores de risco e proteção


O levantamento dos fatores de risco e proteção envolvidos na situação de
violência deve ser realizado. Podem ser fatores de risco:

problemas de saúde mental dos pais;

abuso de drogas;

desconhecimento sobre o desenvolvimento infantil;

maus-tratos sofridos pelos pais;

violência conjugal;

morte de cuidadores;

isolamento social;

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pouco envolvimento entre pais e filhos;

pobreza;

tolerância social sobre violência infantil;

leis frágeis.

Podem ser fatores protetivos:

conhecimento sobre o desenvolvimento infantil;

habilidades parentais desenvolvidas;

rede de profissionais capacitados na comunidade;

existência de rede de apoio social para a família e um


sistema de garantia de direitos eficiente (HABIGZANG;
KOLLER, 2012).

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VAMOS PRATICAR?

Você atua em uma Unidade de Saúde da Família


e passou a acompanhar uma família na qual a
criança mais nova (9 anos) passou por
episódios subsequentes de violência pelo
padrasto. Nos primeiros atendimentos, ela
revelou que sua genitora também era agredida
pelo companheiro. O caso foi levado à reunião
da equipe e decidiu-se realizar um estudo para
saber quais são as melhores linhas de ação.
Desenvolva um roteiro de estudo de caso para
violência contra a mulher ou contra a
criança/adolescente. Quais informações devem
ser levadas em consideração? Quais perguntas
podem orientar a intervenção? Como o trabalho
multiprofissional pode colaborar com a
integralidade da prática? Quais outros serviços
podem ser envolvidos?

De posse dessas informações, a(o) psicóloga(o)


pode traçar uma linha de ação que envolve
atendimentos individuais e em grupo, incluindo
também as famílias e a comunidade.

Importa ressaltar o impacto da violência em grupos cujo demarcador identitário


é proeminente. Souza, Martins e Araújo (2011) apresentam o conceito de
“ninguemidade”, retirado da obra de Darcy Ribeiro, para definir aqueles sujeitos
cujas condições sociais os coloca em uma posição identitária alvejável pela

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violência, sem que haja mobilização comunitária contrária. Mulheres, crianças,


LGBTQIA+, grupos étnico-raciais não hegemônicos, dentre outros, são afetados
por essa condição que opera em binômio: por um lado, evidencia sua condição
identitária, ainda que em posição de ofensa; por outro, nega sua expressão de
subjetividade e, com isso, cria terreno para o apagamento, muitas vezes, gerado
ativamente por vias violentas.

TESTE SEUS CONHECIMENTOS


(ATIVIDADE NÃO PONTUADA)

Leia o trecho a seguir acerca dos fatores que envolvem as


situações de risco para crianças e adolescentes.
“Conforme a Política Nacional de Assistência Social (PNAS,
2004), no âmbito de atuação da Assistência Social, as situações
de risco pessoal e social por violação de direitos envolvem a
iminência ou ocorrência de eventos como: violência intrafamiliar
física e psicológica, abandono, negligência, abuso e exploração
sexual, situação de rua, ato infracional, trabalho infantil,
afastamento do convívio familiar e comunitário, entre outros.”
(CFP, 2012, p. 32).
Fonte: CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências
técnicas para a atuação de psicólogas(os) em programas de
medidas socioeducativas e meio ambiente. Brasília: CFP, 2012.
Disponível em: http://crepop.pol.org.br/wp-
content/uploads/2012/10/Atua%C3%A7%C3%A3o-dasos-

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Psic%C3%B3logasos-em-Programas-de-Medidas-
Socioeducativas-em-Meio-Aberto.pdf
(http://crepop.pol.org.br/wp-
content/uploads/2012/10/Atua%C3%A7%C3%A3o-dasos-
Psic%C3%B3logasos-em-Programas-de-Medidas-
Socioeducativas-em-Meio-Aberto.pdf). Acesso em: 4 jun. 2021.
 
Quanto à relação entre violência e subjetividade e consequente
ligação com a Psicologia, assinale a opção correta.

a) Além de representar uma violação de direitos fundamentais,


no campo legal, a violência pode causar impactos permanentes
no desenvolvimento de crianças e adolescentes que passam por
essa situação.

b) A violência é um fenômeno do momento presente, sendo


impossível correlacioná-la com aspectos históricos e estruturais
da sociedade.

c) Estudos na área da Psicologia revelam que a violência é um


fenômeno social e, portanto, não gera impacto na saúde mental
dos sujeitos que a sofrem.

d) O Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta a criação


de instituições voltadas exclusivamente ao combate à violência
infantil (Conselhos Tutelares). Portanto, demais serviços não
necessitam atuar nesse âmbito.

e) A violência gera impactos na saúde mental de crianças e


adolescentes, não reverberando no contexto educacional de
ensino-aprendizagem.

VERIFICAR

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2.2 Violência no contexto da saúde

Você, como psicóloga(o), ocupará distintos espaços na sua trajetória de


atuação. Principalmente aquelas(es) interessadas(os) em políticas públicas
deverão obter conhecimento sobre funções de gestão. É importante conhecer
indicadores sociais que impactem direta ou indiretamente nos fenômenos
trabalhados, de modo a traçar projetos e orientar abordagens condizentes com
os objetivos de cada serviço.
Na política pública de saúde, os chamados determinantes sociais podem
envolver acesso à educação, condições de trabalho, acesso à rede de
saneamento, gênero e demais fatores econômicos, culturais, étnicos/raciais,
psicológicos e comportamentais (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007).

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Figura 4 - Esquema relacional entre saúde, violência e determinantes sociais


Fonte: Elaborada pelo autor, 2021.

#PraCegoVer
Na figura, são apresentados três quadros
posicionados em formato de triângulo, cujos
vértices são expressos como setas bidirecionais,
revelando uma interação recíproca entre saúde,
determinantes sociais e violência.

Especificamente sobre a violência, podemos observar que ela é apresentada


como um problema de saúde pública. Dados do DataSUS sobre informações
epidemiológicas e morbidade permitem identificar que, só em 2019, foram
notificados 405.497 casos que envolviam algum tipo de violência interpessoal
ou autoprovocada no país. Considerando aqueles casos que não chegam ao
conhecimento das equipes de saúde e as subnotificações, podemos imaginar a
gravidade desse problema.

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VOCÊ QUER LER?


Doenças e Agravos de Notificação - 2007 em diante (SINAN)

Autor: Ministério da Saúde - DataSus

Ano: 2021

Comentário: O portal DataSUS é um dos bancos de dados do Ministério


da Saúde que permitem identificar diversas informações epidemiológicas
por região do país, incluindo a violência interpessoal.

Acesse (http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?
area=0203&id=29892332&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftoht
m.exe?sinannet/cnv/viole)

Agora que sabemos que violência e saúde podem estar relacionadas e que há
determinantes sociais que sustentam esses fenômenos, veremos duas
situações nas quais as violações de direito interferem nas práticas em saúde. 

2.2.1 Psicologia e racismo na saúde


O racismo é, antes de tudo, um comportamento social.

As pessoas não herdam, geneticamente, ideias de racismo,

sentimentos de preconceito e modos de exercitar a

discriminação, antes os desenvolvem com seus pares, na

família, no trabalho, no grupo religioso, na escola. Da mesma

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forma, podem aprender a ser ou tornar-se preconceituosos e

discriminadores em relação a povos e nações. (LOPES, 2005, p.

188).

O Conselho Federal de Psicologia (2017) apresenta três dimensões básicas na


compreensão e abordagem das questões raciais. A primeira dimensão seria a
individual e corresponde às emoções vivenciadas por quem sofre racismo, bem
como por quem reproduz as práticas racistas. A segunda dimensão é a
sociorrelacional, representada pelas relações interpessoais permeadas pela
discriminação racial. Os atos de injúria e exclusão cometidos por quem pratica o
racismo são enquadrados nessa dimensão e, muitas vezes, o senso comum
reconhece apenas essa dimensão como o racismo propriamente dito.
Entretanto, é impossível compreender o racismo sem considerar seu aspecto
estrutural, que tem fundamento histórico e forte relação com a cultura vigente.
Assim, surge outra dimensão, fundamental para a compreensão das práticas
formais: o racismo institucional. Werneck (2013) afirma que este é um
mecanismo estrutural que garante a exclusão seletiva dos grupos racialmente
subordinados, atuando como alavanca da exclusão de diferentes sujeitos nesses
grupos. 

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ESTUDO DE CASO
A psicóloga do Hospital Universitário identificou que grande parte das
mulheres negras que participam do pré-natal na instituição não concluem
o processo. A baixa adesão chamou atenção especialmente em
comparação com o índice de mulheres brancas. Diante da situação, a
psicóloga realizou um estudo observando os procedimentos,
entrevistando profissionais e usuárias do serviço.

Na investigação, descobriu que as mulheres atendidas se sentiam


destratadas pelos profissionais e percebiam diferença até no tempo de
sessão, em comparação com mulheres brancas. Já os profissionais
pareciam desmerecer as peculiaridades das trajetórias de vida das
mulheres negras e traziam falas que punham em dúvida a experiência de
dor delas, como se elas devessem ser “mais resistentes, por uma
condição genética”.

A situação expôs um forte contexto de racismo institucional. Para


resolver a situação, foram realizadas palestras, interações constantes
com gestores e trabalhadores, e estudos de caso com os profissionais
que explicitaram os efeitos das atitudes racistas. As usuárias, por sua vez,
foram acolhidas pela equipe de psicologia e instituiu-se um canal de
ouvidoria monitorado diariamente, de modo a acompanhar mais de perto
as violações discriminatórias e garantir uma intervenção em tempo mais
preciso. Observou-se que, para combater o racismo institucional e seus
impactos na saúde mental das usuárias do serviço de saúde em questão,
foi necessário tomar atitudes não só em nível individual, mas envolvendo
a gestão da organização.

Ademais, de acordo com Scarano (2018, p. 123), "[...] o racismo é um sistema de


poder que funciona na óptica da dominação, inserido na sociedade, excluindo
certas populações e mantendo um grupo de pessoas em posição social
privilegiada [...]", e por ser um sistema, manifesta-se em todos os pontos da
sociedade na qual ocorre. As instituições, portanto, são espaços que mantêm e
promovem a lógica da desigualdade racial.

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Figura 5 - Racismo institucional e sistema prisional


Fonte: fran_kie, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
A imagem apresenta uma pessoa encarcerada,
encarando uma janela com barras.

Subjacente a atitudes de violência interpessoal e até violência de Estado, fica


evidente que o racismo também é uma questão de saúde pública (WERNECK,
2016). Em 2006, foi aprovada a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra (BRASIL, 2017). Esta apresenta campos da área da saúde em que o
quesito racial opera como fator determinante, incluindo: saúde materna, saúde
sexual e reprodutiva, saúde infantojuvenil, dentre outras. Curiosamente, a
referência à saúde mental é breve, sendo abordada como estratégia de gestão
em dois itens: 

V – fortalecimento da atenção à saúde mental das crianças,

adolescentes, jovens, adultos e idosos negros, com vistas à

qualificação da atenção para o acompanhamento do

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crescimento, desenvolvimento e envelhecimento e a

prevenção dos agravos decorrentes dos efeitos da

discriminação racial e exclusão social;

VI – fortalecimento da atenção à saúde mental de mulheres e

homens negros, em especial aqueles com transtornos

decorrentes do uso de álcool e outras drogas; (BRASIL, 2017).

Em documento do Ministério da Saúde, intitulado “Política Nacional de Saúde


Integral da População Negra: uma política para o SUS” (BRASIL, 2017), há o
reconhecimento da existência de discriminação nos serviços de saúde. A
interseção entre raça, classe social economicamente mais pobre e menor
acesso à educação foi apontada como correlacionada às experiências de
discriminação por parte de médicos e outros profissionais de saúde.

TESTE SEUS CONHECIMENTOS


(ATIVIDADE NÃO PONTUADA)

Analise as informações a seguir acerca dos dados


epidemiológicos sobre a violência no Brasil e seus impactos na
saúde.
a) Sudeste: 25 casos ignorados; 34.023 casos com vítima do
sexo masculino; 92.954 casos com vítima do sexo feminino;
total de 127.002.

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b) Sul: 20 casos ignorados; 15.351 casos com vítima do sexo


masculino; 37.545 casos com vítima do sexo feminino; total de
52.916.
c) Nordeste: 21 casos ignorados; 11.994 casos com vítima do
sexo masculino; 30.541 casos com vítima do sexo feminino;
total de 42.556.
d) Centro-Oeste: 1 caso ignorado; 5.809 casos com vítima do
sexo masculino; 12.330 casos com vítima do sexo feminino;
total de 18.140.
e) Norte: 1 caso ignorado; 4.802 casos com vítima do sexo
masculino; 12.498 casos com vítima do sexo feminino; total de
17.301.
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. DataSUS – Tecnologia da
Informação a Serviço do SUS (TABNET). Informações de Saúde.
Brasília, 2021. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?
sinannet/cnv/violebr.def
(http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?
sinannet/cnv/violebr.def). Acesso em: 4 jun. 2021.
 
Diante dos dados apresentados e considerando o que foi
estudado até o momento, analise as afirmativas a seguir.
 
I. Os números revelam que as mulheres possuem maior
probabilidade de sofrer violência no Brasil do que os homens.
II. Os números apresentados em absoluto dificultam a avaliação
proporcional das pessoas que sofreram violência diante da
população total.

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III. O estímulo à notificação dos casos de violência na saúde é


fundamental para manter dados atualizados que permitam a
compreensão do cenário epidemiológico que envolve esse fator.
IV. Não cabe à Psicologia observar as situações de violência
nem intervir sobre elas, já que, ao identificar uma ocorrência, a
vítima é encaminhada ao Instituto Médico Legal e acompanhada
por equipe de medicina e enfermagem.
 
Está correto o que se afirma em:

a) I, II e III.

b) I e III.

c) I, III e IV.

d) I, II, III e IV.

e) IV, apenas.

VERIFICAR

Cabe ao profissional de Psicologia incluir os determinantes étnico-raciais nas


suas análises, de modo a compreender as especificidades das experiências
demarcadas por essa característica. Em 2002, foi publicada a Resolução CFP nº
018, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao
preconceito e à discriminação racial (CFP, 2002). O documento reafirma o
compromisso da profissão em não cometer qualquer ato discriminatório com
base nos preconceitos de raça ou etnia e reforça a necessidade de não
conivência ou omissão perante esses atos.

2.2.2 Violência obstétrica

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Embora tenha sido removido dos documentos oficiais do Ministério da Saúde no


Brasil, em 2019, violência obstétrica é um tema discutido mundialmente. Foi
definido pela Organização Mundial da Saúde como:

[...] apropriação do corpo da mulher e dos processos

reprodutivos por profissionais de saúde, na forma de um

tratamento desumanizado, medicação abusiva ou

patologização dos processos naturais, reduzindo a autonomia

da paciente e a capacidade de tomar suas próprias decisões

livremente sobre seu corpo e sua sexualidade, o que tem

consequências negativas em sua qualidade de vida. (DPESP,

2017, p. 2).

A Psicologia pode atuar nos serviços em que transitam os Direitos Sexuais e


Direitos Reprodutivos. Cabe ao psicólogo analisar e intervir sobre práticas
profissionais que reproduzam violência obstétrica no contexto da saúde. Esses
discursos frequentemente se referem à desvalorização da dor sentida pelas
mulheres no momento do parto, desconfiança e preconceito voltado às mulheres
passando por abortamento ou reproduções de falas violentas no
acompanhamento às mulheres durante o período gestacional. 

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Figura 6 - Violência obstétrica contrapõe-se ao cuidado


Fonte: Mila Supinskaya Glashchenko, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer
Na imagem, é apresentada uma mulher
gestante, com roupas de origem árabe, em
expressão de felicidade ao olhar um celular e
acariciar o ventre.

Diniz et al. (2015) mencionam os danos físicos causados à mulher que sofre
violência obstétrica, especialmente pelo prolongamento de situações de dor,
negligência de cuidado e possíveis mutilações. Ademais, dessa violência pode
gerar fortes impactos na forma como a maternidade é vivenciada, pois opera
como um demarcador de violação antes mesmo do nascimento da criança. A
intervenção perante situações de violência obstétrica, ou sua prevenção, deve
envolver:

formação dos recursos humanos durante a graduação e


educação continuada;

intervenções informativas que fortaleçam as usuárias e


famílias desde o planejamento familiar, pré-natal até
cuidados subsequentes;

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visibilização e responsabilização daqueles que cometeram


a violência (DINIZ et al., 2015).

Acresce-se o acompanhamento psicológico a essas mulheres como estratégia


de prevenção de estresse pós-traumático, depressão pós-parto, dentre outras
patologias relacionadas à violência.

VAMOS PRATICAR?

Há diversas bases de dados que apresentam


indicadores que envolvem a violência como fator
determinante. Dentre elas, destaca-se aqui o
DataSUS. A partir desse banco, pode-se mapear
a situação epidemiológica de muitos agravos
nos estados brasileiros. Acesse, selecione seu
estado, escolha uma informação para constar
das linhas e das colunas e gere uma tabela com
os dados epidemiológicos sobre notificações de
violência. O que esses dados revelam?
Compartilhe com seus colegas as reflexões
sobre os resultados. Lembre-se de sinalizar
como o conhecimento sobre dados
epidemiológicos sobre violência pode contribuir
para a atuação da(o) psicóloga(o)!

Educação, proteção e violência: violência na


2.3
escola e contribuições da Psicologia

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Educação é um direito fundamental garantido na Constituição Federal de 1988.


Todas as políticas públicas voltadas à infância e adolescência fortalecem a
necessidade de promover recursos educacionais, compreendendo que essa é
uma via fundamental para o rompimento de ciclos de violação de direitos e
vulnerabilidade.
Inserida em políticas públicas de saúde, educação, assistência social, dentre
outras, a Psicologia tem papel fundamental ao compreender também quais são
os impactos desenvolvimentais da escolarização na trajetória de crianças e
adolescentes. Experiências vivenciadas no contexto escolar são determinantes
objetiva e subjetivamente para os indivíduos.
Dentre os fenômenos que podem demarcar negativamente essas experiências, a
violência merece destaque. Vejamos como a violência pode interferir no
processo educacional e como a Psicologia pode compreender e intervir sobre
esse contexto. A escola é um espaço de relações sociais e uma instituição
atravessada pelas condições sociais e históricas que a cercam. Abramovay et al.
(2012) apresentam conjuntos de relações possíveis que podem ser conflitivas,
porém, oportunizam crescimento e criação de vínculos. Destacam-se as
relações entre:

estudantes e adultos;

estudantes e estudantes;

adultos e adultos.

A qualidade dessas relações compõe e evidencia o clima escolar, que orienta a


instituição e aqueles que dela participam. Alcântara et al. (2019, p. 510)
associam clima escolar ao "[...] conjunto de percepções que crianças e
adolescentes têm acerca de sua escola e que influi em seu comportamento, e,
por conseguinte, em seu desenvolvimento e saúde".

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VOCÊ QUER VER?


“Entre os Muros da Escola” (Entre les Murs) é um filme francês que relata
o contexto de uma escola localizada em uma região de vulnerabilidade
tendo que lidar com a heterogenia do seu público e garantir um ensino de
qualidade diante de situações de discriminação e violências.

O clima escolar não é um construto posse de nenhum indivíduo, mas do


contexto complexo que envolve os agentes da comunidade escolar, famílias,
comunidade externa, além de fatores sociais, legais, históricos e institucionais.
Levando em consideração as situações de violência que podem estar atreladas
ao clima escolar presente, Abramovay et al. (2012) afirmam que a escola pode
acabar reproduzindo violações advindas do cenário externo, porém, produz suas
próprias, alinhadas ao modo de funcionamento institucional. As autoras
pontuam três tipos de violências ocorridas no cenário escolar.

Microv São aqueles atos que não contradizem a lei e os


iolênci regimentos, mas geram impacto nas relações e
as nos sujeitos pertencentes à comunidade escolar.

Violên
Remete às relações de poder que orientam a
cia
instituição escolar e é cometida com base nessa
simból hierarquização relacional.
ica

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Envolve as contravenções penais e crimes


codificados. Concretamente, as violências
Violên
podem se manifestar como agressão verbal,
cia
bullying, ameaças, violência física e
dura discriminações de distintas ordens
(ABRAMOVAY et al., 2012).

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2019), o compromisso da(o)


psicóloga(o) envolve a construção de uma escola plural e democrática, e as
ocorrências de violência vão de encontro a esse objetivo. Entendendo a violência
como determinante nos processos de ensino-aprendizagem e no
desenvolvimento dos estudantes, esta deve compor a linha de ação nas
instituições de ensino.
Para tanto, a(o) profissional pode desenvolver intervenções de nível individual e
grupal, que podem incluir acolhimento e escuta de estudantes e professores,
realização de ações coletivas, palestras e assembleias. Entretanto, considerando
as ações institucionais, o papel da Psicologia na gestão é fundamental e sua
contribuição na construção do planejamento escolar, incluindo o Projeto Político
Pedagógico, pode ser crucial para evidenciar as intervenções educacionais
perante situações de violência.

CONCLUSÃO

Nesta unidade, você viu que a violência é um elemento central que deve ser
observado pela(o) psicóloga(o), independentemente do seu espaço de inserção
profissional. Esteja na clínica, nos hospitais, nas escolas ou nas instituições
sociais, esse fenômeno perpassará, provavelmente, os sujeitos atendidos. Cabe
a você garantir uma análise precisa de cada caso, de modo a não deixar passar
e, mais importante, não reproduzir esse tipo de violação no seu contexto de
trabalho. 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

conhecer a definição de violência;

identificar o impacto da violência em populações


específicas, como mulheres, crianças e adolescentes;

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relacionar a prática psicológica perante situações de


violência em ambientes institucionais, como escolas e
estabelecimentos de saúde;

conhecer o conceito de violência obstétrica;

identificar os determinantes sociais em saúde e


compreender o papel da violência nesse fenômeno.

Clique para baixar conteúdo deste tema.

Referências
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escolas. Rio de Janeiro: FLACSO - Brasil, OEI, MEC, 2012.

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contextos de desenvolvimento: suas implicações no bem-estar. Ciênc.
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BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da


Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília: DOU, 1990.

BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para


coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §
8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação

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de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da


Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal,
o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.
Brasília: DOU, 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Impacto da Violência na Saúde das


Crianças e Adolescentes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível
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