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Williane Tibúrcio Facundes

mostra de artigos
(organizadora)

Tomo I

CIÊNCIAS JURÍDICAS
na Amazônia Sul-Ocidental

EAC
Editor
Copyright © by autoras, 2023.
All rigths reserved.

Todos os direitos desta edição pertencem aos autores. Nenhuma parte desse
livro poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a autorização
prévia da organizadora pelo e-mail <willitiburcio@gmail.com >. A viola-
ção dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido
pelo art. 184 do Código Penal. As informações contidas em cada capítulo
são de inteira responsabilidade dos autores, bem como o alinhamento dos
textos às normas da ABNT e da ortografia gramatical da língua portuguesa.

EDITOR GERAL,
CAPISTA E DIAGRAMADOR
Eduardo de Araújo Carneiro
eac.editor@ gmail.com

CONSELHO EDITORIAL DA OBRA


Dr. Eduardo de Araújo Carneiro
Dr. Elyson Ferreira de Souza
Me. Adriano dos Santos Lurconvite
Esp. Arthur Braga de Souza
Esp. Ícaro Maia Chaim

E-BOOK
S729c FACUNDES, Williane Tibúrcio (Org.).
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental: mostra de
artigos / Williane Tibúrcio Facundes (organizadora). – 1.
ed. – Rio Branco: EAC Editor, 2023. 193 p.; il. 14,8x21
cm. Vol.5
ISBN: 978-65-00-69676-9
1. Ciências Jurídicas; 2. Direito; 3. Amazônia ; I. Título.
CDD 340.07
SUMARIO

APRESENTAÇÃO 05

1. A EVOLUÇÃO E DESAFIOS DA LEI MARIA DA PE- 08


NHA E SUA EFETIVIDADE NO COMBATE ÀS FORMAS
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER
Andreina de Souza e Souza e
Williane Tibúrcio Facundes

2. A EFICÁCIA DAS MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS: 47


TEORIA E PRÁTICA
André Neves Ribeiro e
Williane Tibúrcio Facundes

3. ALIENAÇÃO PARENTAL E A PANDEMIA DE 82


COVID-19
Thais Fernanda Gonçalves Oliveira
Williane Tibúrcio Facundes

4. CRIMES CIBERNÉTICOS: PROTEÇÃO À PRIVACI- 122


DADE E INTIMIDADE NA INTERNET
Sara Alves da Costa
Williane Tibúrcio Facundes

5. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA E SUA 160


RELAÇÃO COM A EXECUÇÃO DE PENA APÓS CON-
DENAÇÃO EM 2ª INSTÂNCIA
Lucas Reis Oliveira e
Williane Tibúrcio Facundes
“A força do direito deve

superar o direito da força".

Rui Barbosa
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

APRESENTAÇÃO

A
presente obra reúne 05 (cinco) artigos de con-
cludentes do curso do direito do Centro Univer-
sitário Uninorte, sob a organização do profes-
sor especialista Williane Tibúrcio Facundes, dos quais foram
escritos em coautoria com a organizadora e abordam relevan-
tes temas jurídicos, a saber.
Dentre os textos aqui presentes, temos um estudo so-
bre a eficácia das medidas socioeducativas: teoria e prática,
com ênfase no Estatuto da Criança e do Adolescente, onde é
realizada uma análise entre o que assevera a lei e realidade
vivenciada no cotidiano pelos adolescentes praticantes de
atos infracionais, levando-se em consideração a hipótese da
proteção integral e a Constituição Federal brasileira, estando
o tema relacionado à eficácia das medidas socioeducativas,
quando empregadas em sua essência.
Outra temática estudada é a evolução e desafios da lei
Maria da Penha e sua efetividade no combate às formas de
violência doméstica e familiar contra a mulher que tem como
objetivo, discutir e investigar a aplicabilidade e os resultados
da Lei Maria da Penha, bem como sua eficácia em relação à
violência doméstica e familiar enfrentada pela mulher, desde
a Lei 11.340/06.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Segue tratando acerca do princípio da presunção da


inocência e sua relação com a execução de pena após conde-
nação em 2ª instância, temática de grande relevância na con-
temporaneidade, principalmente devido as modificações jurí-
dicas sobre a execução de pena após a condenação em 2ª
instância, ou seja, a análise que viabiliza a adoção da execu-
ção em relação ao princípio da inocência, avaliando as possi-
bilidades e implicações da mutação constitucional como ferra-
menta utilizada pelo Supremo Tribunal Federal -STF frente a
interpretação do texto legal.
Prossegue abordando sobre crimes cibernéticos: prote-
ção à privacidade e intimidade na Internet, versando sobre a
proteção à privacidade e intimidade na esfera virtual, visto que,
nos dias que correm, os vínculos sociais praticamente se con-
verteram em digitais.
Por fim, temos a alienação parental e a pandemia de
Covid-19, abordando teoricamente, os conceitos que por
muito tempo permearam o ambiente jurídico e que por análise
e necessidade anseiam brevemente por alterações, embora a
legislação esteja pronta para nos auxiliar, devemos sempre
estar aptos às mudanças.
Trata-se de uma obra coletiva e plural, que debate te-
mas interessantes à sociedade e, sem esgotar os assuntos,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

promove reflexões a respeito de situações vivenciadas diaria-


mente em nosso corpo social. Daí se extrai a sua relevância.

Rio Branco, maio de 2022.

Prof. Esp. Williane Tibúrcio Facundes


Docente do Curso de Bacharelado em Direito pelo
Cento Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela
U:Verse. Especialista em Psicopedagogia. Graduada em Le-
tras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre - UFAC.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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A EVOLUÇÃO E DESAFIOS DA LEI MARIA DA PENHA E
SUA EFETIVIDADE NO COMBATE ÀS FORMAS DE VIO-
LÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

THE EVOLUTION AND CHALLENGES OF THE MARIA DA


PENHA LAW AND ITS EFFECTIVENESS IN COMBATING
FORMS OF DOMESTIC AND FAMILY VIOLENCE
AGAINST WOMEN

Andreina de Souza e Souza1


Williane Tibúrcio Facundes2

SOUZA, Andreina de Souza. A Evolução e Desafios da Lei


Maria da Penha e sua Efetividade no Combate às Formas
de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Traba-
lho de Finalização do Curso de graduação: Bacharelado em
Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco, 2023.

1
Discente do 9º Período do Curso de Bacharel em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
2
Docente do curso de Bacharelado em Direito pelo Centro Univer-
sitário Uninorte. Graduada em Direito pela U:Verse. Especialista em
Psicopedagogia. Graduada em Letras Vernáculas pela UFAC.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Este artigo tem como objetivo discutir e investigar a aplicabili-


dade e os resultados da Lei Maria da Penha, bem como sua
eficácia em relação à violência doméstica e familiar enfrentada
pela mulher, desde a Lei 11.340/06, desde sua promulgação
em 2006, tem objeto de estudos demonstrar e avaliar sua efi-
cácia frente a este grande problema. Trazendo diversas mu-
danças significativas para o Brasil, a Lei Maria da Penha mos-
trou que sua percepção em nível nacional era muito ampla,
onde produziu uma nova visão da violência doméstica e fami-
liar, mostrando que a situação é muito mais grave do que apa-
renta. Quanto à metodologia, foi utilizada pesquisa bibliográ-
fica, que implica na análise e revisão crítica das diversas fon-
tes teóricas e doutrinadores criminalistas pesquisadas, a fim
de responder sobre a real eficácia da Lei 11.304/2006. Nessa
perspectiva, foi realizada uma pesquisa histórica da lei, suas
modificações, natureza jurídica e atualizações, com o objetivo
de identificar e mapear os resultados na prática, além dos ín-
dices de violência por ano e o andamento da aplicação das
políticas públicas que foram fundamentais para sustentar o
tema.

Palavras-chave: lei Maria da Penha; violência doméstica e


familiar; efetividade; mulher; políticas públicas.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

This article aims to discuss and investigate the applicability


and results of the Maria da Penha Law, as well as its effec-
tiveness in relation to domestic and family violence faced by
women, since Law 11.340/06, since its enactment in 2006, has
the object of studies demonstrate and evaluate its effec-
tiveness against this major problem. Bringing several signifi-
cant changes to Brazil, the Maria da Penha Law showed that
its perception at the national level was very broad, where it
produced a new vision of domestic and family violence, sho-
wing that the situation is much more serious than it appears.
As for the methodology, bibliographical research was used,
which implies the analysis and critical review of the various
theoretical sources and criminalist scholars researched, in or-
der to answer about the real effectiveness of Law 11.304/2006.
In this perspective, a historical research of the law, its modifi-
cations, legal nature and updates was carried out, with the ob-
jective of identifying and mapping the results in practice, in ad-
dition to the violence rates per year and the progress of the
application of public policies that were fundamental to support
the theme.

Keywords: Maria da Penha law; domestic and family violence;


effectiveness. Woman; public policy.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

A Lei Maria da Penha, Lei 11.340/06, é uma lei federal


brasileira que objetiva proteger as mulheres que são vítimas
de violência doméstica e familiar. Desde sua promulgação em
2006, a referida lei se tornou um marco nesta luta sendo con-
siderada, mundialmente, uma das legislações mais avança-
das. No entanto, muitas dúvidas ainda pairam sobre a efetivi-
dade dessa lei no combate às formas de violência doméstica,
e é isso que irá ser investigado neste artigo.
O nome da lei foi escolhido em homenagem a Maria da
Penha Maia Fernandes, uma mulher que ficou paraplégica
após seu próprio marido tentar contra sua vida duas vezes.
Com isso, nessa legislação são estabelecidas medidas de pro-
teção para mulheres vítimas de violência em qualquer das
suas cinco formas, algumas como a restrição ou proibição de
total contato da vítima e os filhos com seu agressor e a deter-
minação de que ele não se aproxime da ofendida em determi-
nadas distâncias.
Ainda, a Lei Maria da Penha prevê penas mais rígidas,
com menos penas alternativas ‘’leves’’ para os agressores, e
estabelece outras ações preventivas, como: a implementação
das unidades de delegacias policiais especializadas e a pro-
moção de campanhas de conscientização para a sociedade.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

No entanto, ainda com todos os seus avanços benéfi-


cos, a violência doméstica e familiar é recorrente no Brasil. De
acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos, o número de casos de violência doméstica no Brasil
ultrapassou a marca de 100 mil em 2020. Além disso, muitos
especialistas questionam a efetividade da Lei Maria da Penha
alegando a falta de capacidade prática de reduzir a incidência
de violência contra as mulheres.
Portanto, este artigo irá analisar os aspectos, tanto evo-
lutivos como limitantes, da Lei Maria da Penha, que mostram
sobre a sua efetividade para combater as formas violência en-
frentada por muitas mulheres. Para isso, serão utilizados da-
dos oficiais e pesquisas científicas objetivando avaliar se as
medidas legais previstas estão sendo efetivas e se a incidên-
cia de violência doméstica tem diminuído, a fim de entender
se a lei tem sido capaz de cumprir seus objetivos e quais são
as maiores dificuldades encontradas no processo.

1.1 LEI MARIA DA PENHA

Marco Antônio Heredia Viveros era marido de Maria da


Penha e mesmo assim isso não o impediu de tentar matá-la
duas vezes, uma vez atirou na vítima, a deixando paraplégica

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e na outra vez a empurrou contra o chuveiro para que mor-


resse eletrocutada, mas diferente de muitos casos de violên-
cia, Maria da Penha sobreviveu e lutou.
Em 1986, Viveros foi objeto de acusações cuja decisão
final ainda não havia sido proferida após um decênio e em
1988, o CEIJ-Brasil (Centro para a Justiça e o Direito Interna-
cional) e o Cladem-Brasil (seção nacional do Comitê Latino-
Americano e do Caribe para a defesa dos direitos da Mulhe-
res), interpôs uma petição perante a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos Estados America-
nos contra o Estado Brasileiro no tocante ao caso de Maria da
Penha, apesar de ter sido intimado a responder por três vezes,
o Brasil permaneceu inerte. (SUCASAS, 2012).
Com isso, a Comissão recomendou ao Estado Brasi-
leiro a promoção de uma adequada reparação simbólica, as-
sim foi sancionada, em sete de agosto de 2006, pelo Presi-
dente da República vigente, a Lei nº 11.340/2006 - Lei Maria
da Penha, com vigoração em 22 de setembro de 2006, reco-
nhecendo quase vinte anos desta mulher lutando por justiça.

1.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEI 11.340/06

Toda ação causa uma reação, já dizia Newton em sua


terceira lei, aplicando essa analogia a temática, por muito

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tempo mulheres não eram titulares de direito, sendo conside-


radas ''sexo frágil'' - inferiores aos homens e esse preconceito
fez com que as ofendidas lutassem, agindo de fato em busca
de seus direitos, reivindicando condições humanas de vida, a
fim de garantir que a igualdade de direitos não fique somente
no âmbito teórico e tenha sua aplicação exercida.
A trajetória da criação e implemetação da Lei Maria da
Penha acompanha a luta pela não discriminação e não violên-
cia à mulher, com isso, antes dessa Lei, para garantir a prote-
ção das mulheres, foram criadas convenções em favor da pro-
teção dos Direitos da Mulher. Dentre elas estão: a Convenção
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação con-
tra a Mulher (Convention on the Elimination of All Forms of Dis-
crimination against Women - Cedaw, 1979), o Programa de
Ação do Cairo e Convenção de Belém do Pará (1994), a Pla-
taforma de Ação de Pequim (1995) e as metas acordadas in-
ternacionalmente na Declaração do Milênio (2000).
Surgiu em 1985, a primeira delegacia com o objetivo de
oferecer atendimento especializado às mulheres (Delegacia
de Atendimento Especializado à Mulher - DEAM) no Brasil em
São Paulo e, logo, várias outras foram implantadas em outros
estados brasileiros. Em igual ano, a Câmara dos Deputados
aprovou o Projeto de Lei nº 7.353, onde o Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher foi implantado.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Essas importantes conquistas da luta feminista brasi-


leira foram, durante muito tempo, as principais vias das ações
do Estado para tentar alcançar a promoção dos direitos das
mulheres que lutam diariamente contra a violência, pois aos
poucos a segurança foi se instaurando para poder prestar
ajuda às mulheres. (FAGANELLO, 2009)
De 1985 a 2002, Casas-Abrigo foi a criação ponto focal
da política para o enfrentamento da violência contra as mulhe-
res, com isso se constituiu também a base do Programa Naci-
onal de Combate à Violência contra a Mulher, gerenciada pela
Secretaria de Estado de Direitos da Mulher (SEDIM), criada e
vinculada ao Ministério da Justiça em 2002.
As ações para enfrentar à violência contra as mulheres
passam a ter um maior investimento e vista com novos olhos,
já que a política é ampliada para promover a criação de novas
atividades com a criação da Secretaria de Políticas para Mu-
lheres em 2003, onde definiu o método de notificação com-
pulsória de casos de violência contra a mulher pela Lei
10.778/03, onde diz:

Art. 1º Constituem objeto de notificação compul-


sória, em todo o território nacional, os casos em
que houver indícios ou confirmação de violência
contra a mulher atendida em serviços de saúde
públicos e privados.
§ 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por vi-
olência contra a mulher qualquer ação ou con-
duta, baseada no gênero, inclusive decorrente
de discriminação ou desigualdade étnica, que

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual


ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público
quanto no privado.

Antes da Lei Maria da Penha a Política Nacional de


Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) foi elaborada
em 2004 pelo Ministério da Saúde no Brasil, considerado mais
uma avanço para o país. A PNAISM teve como base o Pro-
grama de Atenção Integral de Saúde da Mulher - PAISM, cri-
ado, em 1983. O seu objetivo é de grande importância, con-
forme Xavier (2015 p 10):

O documento da PNAISM incorpora, num enfo-


que de gênero, a integralidade e a promoção da
saúde como princípios norteadores e busca con-
solidar os avanços no campo dos direitos sexu-
ais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da
atenção obstétrica, no planejamento reprodutivo,
na atenção ao abortamento inseguro e aos ca-
sos de violência doméstica e sexual. Além
disso, amplia as ações para grupos historica-
mente alijados das políticas públicas, nas suas
especificidades e necessidades.

Logo posteriormente a essa etapa, ocorreu a promul-


gação da Lei nº 11.340 no ano de 2006, popularmente conhe-
cida como Lei Maria da Penha. Esta Lei foi criada com o intuito
de estabelecer mecanismos eficazes para prevenir e reprimir
a violência doméstica e familiar contra a mulher. A mencio-
nada lei surgiu devido à frequente complacência com crimes
de violência doméstica, à escassez de dispositivos legais para

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a punição desses delitos e à necessidade premente de prote-


ger imediatamente as mulheres que se encontram em situa-
ção de violência doméstica e familiar.
Depois de já instaurada a Lei Maria da Penha, em 2013
foi estabelecido com autoridade federal o Decreto 7.958/13,
no dia 13 de março, onde em sua ementa se destacam: o pro-
pósito consiste em instituir orientações para a assistência
prestada às mulheres que se encontram em situação de vio-
lência doméstica, familiar ou sexual aos profissionais da segu-
rança pública e da rede de atendimento do Sistema Único de
Saúde.
Aos profissionais do SUS, irá se compreender procedi-
mentos de acolhimento, exame físico completo, inclusive o
exame ginecológico, descrever lesões, coleta de vestígios e
de encaminhamento especial para perícia oficial, ficando,
ainda, incumbida de garantir a idoneidade dos dados, con-
forme o decreto:

Art. 4º O atendimento às vítimas de violência se-


xual pelos profissionais da
rede do SUS compreenderá
os seguintes procedimentos:
I – acolhimento, anamnese e realização de
exames clínicos e laboratoriais;
II – preenchimento de prontuário
com as seguintes informações:
a) Data e hora do atendimento;

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

b) História clínica detalhada, com da-


dos sobre a violência sofrida;
c) Exame físico completo, inclusive o exame gi-
necológico, se for necessário;
d) Descrição minuciosa das lesões, com indica-
ção da temporalidade e localização específica;
e) Descrição minuciosa de vestígios e
de outros achados no exame;
f) Identificação dos profissio-
nais que atenderam a vítima.

Em 2019 houveram algumas alterações à Lei Maria da


Penha, advindas da criação da Lei 13.827/19 causando uma
maior importância para a Lei Maria da Penha, já que as alte-
rações vieram com o intuito de causar um maior rigor, na me-
dida em que estabelece as medidas protetivas de urgência em
favor das mulheres em situação de violência doméstica e fa-
miliar e as medidas adotadas em desfavor do agressor, de-
cretadas estas pelo delegado de polícia, caso o município não
detenha jurisdição sobre a comarca, ou até mesmo pelo poli-
cial, na hipótese de não haver delegado disponível quando re-
alizada a denúncia.

O principal ponto a ser destacado nessa Lei é a agili-


dade de tramitação do procedimento, já que não é mais pre-
ciso a autorização judicial para que seja decretada a medida
de urgência, conforme podemos verificar na ‘’lei seca’’, em
seu artigo 12- C:

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual


ou iminente à vida ou à integridade física da mu-
lher em situação de violência doméstica e fami-
liar, ou de seus dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou lo-
cal de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Municí-
pio não for sede de comarca;
III - pelo policial, quando o Município não for sede
de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia.
§ 1° Nas hipóteses dos incisos II e III do caput
deste artigo, o juiz será comunicado no prazo
máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá,
em igual prazo, sobre a manutenção ou a revo-
gação da medida aplicada, devendo dar ciência
ao Ministério Público concomitantemente.

A Lei Maria da Penha foi editada atualmente pela Lei


14.550 de 2023 publicada em 19 de abril. Foram acrescidos
nesta legislação três parágrafos ao já existente artigo 19, no
novo $ 4° foi acrescentado que, para o juiz conceder as medi-
das protetivas não será preciso uma profunda análise dos fa-
tos, ou seja, não é preciso que exista uma profundidade de
cognição, pois as medidas são cautelares, não necessitando
de certa comprovação já que o foco é evitar risco.
A partir do depoimento da vítima, já poderá ser decre-
tadas as medidas protetivas, porém caso a autoridade avalie
inexistência de risco físico, patrimonial, moral, sexual e psico-
lógico, perante a situação, poderá este indeferir tal medida

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

provisória.
O parágrafo 5° aborda sobre a desconsideração sobre
o tipo de violência para a concessão das medidas provisórias,
ou seja, independe de tipificação penal, além do ajuizamento
poder ser penal ou cível e ainda, essa concessão independe
de inquérito policial ou B. O. (Boletim de Ocorrência).
É necessário que as medidas protetivas de urgência
permaneçam em vigor enquanto existir risco para a segurança
da vítima e seus dependentes, a fim de evitar a ocorrência de
novos episódios de violência e garantir a proteção necessária.
De acordo com o novo parágrafo 6°, do Art. 19 da Lei
citada, para garantir a segurança da vítima e seus dependen-
tes essas medidas passam a ter vigência enquanto existir
risco para a integridade e segurança da mulher. Dar ênfase ao
princípio da precaução e ao in dubio pro tutela é muito impor-
tante nestas situações de risco. Podemos entender que, privi-
legia-se a segurança da mulher e seus dependentes com essa
nova modificação da Lei.
Por último, foi inserido um novo artigo, 40-A, onde
afirma que a Lei deve ser aplicada em todas as situações pre-
vistas no artigo 5° da Lei 11.340/06, independentemente da
causa ou motivação dos atos de violência, ou da condição do
agressor ou da vítima. O artigo 5º da Lei Maria da Penha lista

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

as formas de violência doméstica e familiar contra as mulhe-


res, que incluem violência física, psicológica, sexual, patrimo-
nial e moral.
Isso significa que a Lei deve ser aplicada em todas as
situações de violência doméstica e familiar contra mulheres,
pois o objetivo é garantir que todas as mulheres tenham o di-
reito de viver livres de violência e que os agressores sejam
punidos por seus atos, independentemente de quem são ou
do que motivou suas ações.

1.1.2 OS OBJETIVOS DA LEI MARIA DA PENHA

A Lei nº 11.340/2006, em sua ementa, descreve em


seu primeiro artigo o seu objetivo:

Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir


a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Violência contra a Mulher,
da Convenção Interamericana para Prevenir, Pu-
nir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de
outros tratados internacionais ratificados pela
República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas
de assistência e proteção às mulheres em situa-
ção de violência doméstica e familiar.

21
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Lei Maria da Penha é devidamente amparada pela


Constituição Federal, leis, Convenções e Tratados Internacio-
nais, objetivando a criação de métodos coibitivos para que a
violência seja erradicada. Essa lei é caracterizada pelo cunho
educacional, dedicada a dar assistência a todas as mulheres
vítimas de violência doméstica e familiar, além do seu caráter
punitivo ao agressor
Com a chegada da Lei Maria da Penha, a violência teve
uma nova espécie dentro dela, que é a realizada contra a mu-
lher, em seu domicílio, familiar ou de intimidade, que foi cons-
tatado que esse é um problema significativo para a sociedade,
essa Lei veio para evitar e impedir a ocorrência desse tipo de
violência, trazendo mais segurança às mulheres que estão
vivenciando violência doméstica e familiar e trazendo uma de-
vida punição ao criminoso (a), essa norma jurídica autônoma
estabelece regras próprias de interpretação, aplicação e de
execução (Cunha e Pinto 2018, p. 39).
Para que uma mulher seja protegida por essa lei em ca-
sos de violência doméstica e familiar, não é suficiente apenas
ser mulher, mas também deve estar em uma posição vulnerá-
vel em relação ao agressor.
A Lei Maria da Penha protege as mulheres que sofrem
violência por serem mulheres e, portanto, por estarem em uma
posição de submissão que as torna vulneráveis. Isso mostra

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que a cultura patriarcal ainda está presente em nossa socie-


dade e é uma das principais causas da violência doméstica
contra mulheres, já que os agressores acreditam que têm po-
der absoluto sobre as mulheres simplesmente por elas serem
mulheres.
Apesar de a submissão ser frequentemente associada à
imagem do homem, é possível observar a mesma dinâmica
dos conflitos que envolvem mulheres, uma se sujeitando a ou-
tra, como entre mãe e filha, casais homoafetivos, tia e sobrinha
etc. (NETO, 2018, s.d.).
Assim, é válido notar que a lei nos traz a mulher como
sujeito passivo, mas não fala que o sujeito ativo necessaria-
mente deva ser um homem, podendo também uma mulher vi-
olentar outra mulher nessa mesma perspectiva e assim, atuar
no polo ativo de uma lide, dessa forma a Lei nº 11.340/2006
também ser aplicada a mulheres agressoras, embora o índice
de agressão por mulheres seja mínimo comparado aos núme-
ros de violência perpetrada por homens contra mulheres.
Assim sendo, a Lei Maria da Penha veio para coibir e
prevenir a violência doméstica que atinge todas as classes so-
ciais e as diferentes culturas, concedendo medidas protetivas
de urgência, onde até mesmo uma autoridade policial, em si-
tuações especificadas em lei, passaram a ter poderes para
concedê-las. A Lei Maria da Penha também estabelece que é

23
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

responsabilidade de cada órgão público prestar auxílio às mu-


lheres que sofrem violência. Apesar do sucesso dessa lei, as
estatísticas de violência contra as mulheres no Brasil ainda
são alarmantes.

1.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEUS MEIOS DE MANI-


FESTAÇÃO

Cavalcanti define a violência como:

(...) um ato de brutalidade, abuso, constrangi-


mento, desrespeito, discriminação, impedi-
mento, imposição, invasão, ofensa, proibição,
sevícia, agressão física, psíquica, moral ou pa-
trimonial contra alguém e caracteriza relações
intersubjetivas e sociais definidas pela ofensa e
intimidação pelo medo e terror (CAVALCANTI.
2008 p. 29).

O termo: violência doméstica contra a mulher (VDCM) foi


adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde a
Assembleia Geral realizada em 1993. Destarte, especificando
ainda mais, segundo o estudo da ONU de 2006, a violência
contra a mulher é qualquer ato de violência praticado por ra-
zões de gênero contra uma mulher (Cf. Gadoni-Costa &
Dell’aglio, 2010, p. 152).
Em resumo, todo ato que produza ou possa produzir
danos que sejam físicos ou psicológicos na mulher, como:

24
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ameaças, indução, coerção ou privação de liberdade. Com


isso podemos até nos perguntar: por que essas mulheres não
conseguem sair (quando casais) desses relacionamentos? Ou
mesmo se “desvincular” do agressor? Mas infelizmente, há
muitas implicações quanto a isso, pois a maioria das mulheres
em situação de violência doméstica ou familiar depende finan-
ceiramente e/ou emocional do seu agressor, o que leva ao que
chamamos de ciclo da violência.
Já comprovado, esse ciclo é caracterizado pelo "pedido
de perdão" que o agressor faz à vítima, prometendo que nunca
mais aquilo vai acontecer. Nesse momento, a mulher é tratada
muito bem pelo seu companheiro e passa a acreditar que as
violências não irão mais acontecer e isso faz com que a vítima
se torne refém do seu agressor, por consequência cada vez
mais se torna difícil sair dessa situação desfavorável. (PE-
NHA, 2012)
É importante destacar que a violência de gênero contra a
mulher tem consequências significativas em vários aspectos
da vida, incluindo no trabalho, nas relações sociais e na saúde
física e psicológica. De acordo com o Banco Mundial (Ribeiro
& Coutinho, 2011), a violência doméstica afeta entre 25% e
50% das mulheres na América Latina; esses dados eviden-
ciam que os impactos são significativos em diversos aspectos,
incluindo financeiro e social.
As mulheres que sofrem violência geralmente têm uma

25
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

renda menor do que aquelas que não passam por essa situa-
ção. Além disso, estima-se que a violência doméstica tenha
um impacto negativo significativo na economia do país, repre-
sentando entre 1,6% e 2% do PIB. Esse não é um problema
isolado, mas sim, afeta toda a sociedade, prejudicando a es-
tabilidade social e econômica.
De acordo com a Fundação Perseu Abramo, a cada 15
segundos ocorre que uma mulher é agredida no Brasil, e mais
de 2 milhões de mulheres se tornam vítimas de espancamento
anualmente por seus cônjuges ou companheiros. Essas esta-
tísticas alarmantes ilustram a urgência de medidas efetivas
para combater essa condição.

1.2.1. OS TIPOS DE VIOLÊNCIA

A Lei n° 11.340/06 delimita em cinco, os meios em que


a violência pode ser manifestada, a saber: físico, psicológico,
patrimonial, sexual e moral. Podemos ver os conceitos de
cada tipo de violência nos próximos tópicos.

1.2.1.1 Violência física

A Lei reconhece a violência física como uma forma de


violência contra a mulher e a define em seu sétimo artigo, in-

26
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ciso primeiro, como qualquer comportamento que possa cau-


sar dano ou lesão ao corpo da mulher. Esse tipo de violência
pode incluir uma série de atos, tais como espancamento, arre-
messo de objetos, agarrões, estrangulamento, sufocamento,
ferimentos com objetos perfurantes ou cortantes, queimadu-
ras, ferimentos por armas de fogo, além de tapas, empurrões,
chutes, murros e tortura. (IMP, 2018).

1.2.1.2 Violência sexual

A violência sexual se trata de: todo tipo de conduta que


a mulher se constranja a participar ou manter, de cunho se-
xual, mediante ameaça ou uso da força física. Exemplos: o
estupro; a obrigação para praticar atos sexuais sem consentir;
impedimento da vítima de usar métodos contraceptivos, força-
la a abortar; impor uma gravidez ou até mesmo prostituição,
chantagem, manipulação ou suborno; além da limitação ou
anulação de seus direitos sexuais e direitos reprodutivos.
(IMP, 2018).

1.2.1.3 Violência psicológica

A violência psicológica ou emocional é frequentemente


imperceptível, mas pode deixar feridas profundas e duradou-
ras para a vida, traumas, já que não tem caráter momentâneo,

27
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mas efeito cumulativo. Essa violência é entendida como todo


tipo de conduta causadora de danos emocionais à vítima, que
diminui a autoestima dela. Ou que prejudique e abale o seu
desenvolvimento, controlando e manipulando suas ações e
decisões.
A violência pode ser através de ameaças, constrangi-
mento, desrespeito, perseguição, insultos, impedimento de ir
e vir, exploração da liberdade de religião e de consciência, dis-
torção e omissão de fatos, além de insinuações de falta de
sanidade, já que a acusação de "loucura" é uma tática comum
utilizada por homens agressores para invalidar as queixas das
mulheres vítimas de violência doméstica, independentemente
da causa ou motivo. (IMP, 2018).

1.2.1.4 Violência moral

Essa atitude, encontrada no quinto inciso do sétimo ar-


tigo da Lei Maria da Penha e refere-se a todo tipo de conduta
que configure calúnia, injúria ou difamação, como: acusação
de traição; exposição da vida íntima; xingamentos a incidir so-
bre a índole da mulher; julgar uma mulher com base em suas
roupas; emitir juízo moral sobre sua conduta, entre outras ati-
tudes transgressoras de valores morais. (IMP, 2018).

28
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.2.1.5 violência patrimonial

Segundo o inciso IV do Art. 7º da Lei Maria da Penha:

IV - A violência patrimonial, entendida como


qualquer conduta que configure retenção, sub-
tração, destruição parcial ou total de seus obje-
tos, instrumentos de trabalho, documentos pes-
soais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades. (BRASIL, 2006, [n.p.])

A violência patrimonial ocorre quando há danos ou des-


truição de bens materiais, documentos ou objetos pessoais de
alguém sem o seu consentimento, ou qualquer conduta que
configure subtração, retenção, destruição de seus bens, docu-
mentos pessoais, furto, extorsão, estelionato, privação de
bens, danos propositais a seus objetos, entre outros. (IMP,
2018).

1.2.2. O PERFIL DO AGRESSOR

No comportamento de um criminoso tudo se encaixa e


se interliga em movimentos bem planejados como peça num
jogo de xadrez. Podemos perceber que os agressores são
maioritariamente do sexo masculino e as vítimas são, sobre-
tudo, mulheres. Nos últimos dados estatísticos divulgados
pela APAV (2019), cerca de 66% dos agressores dos casos
registrados eram homens com idades entre 35 e 54 anos.
O agressor apresenta algumas características comuns

29
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como o alcoolismo; desemprego; autoestima baixa; traumas


de maus-tratos (fator que geralmente ocorre entre os 40% e
os 50% dos agressores); depressão; progressão do ciclo de
violência; e sinais evidentes ou singelos na juventude, de
agressividade (COSTA, 2003).
Vistos de fora, pelas pessoas que não conhecem o ní-
vel de violência que o agressor é capaz de cometer, eles po-
dem parecer responsáveis, dedicados, carinhosos e até
mesmo cidadãos exemplares (Machado e Gonçalves, 2003),
mas por trás dessa máscara social, a vítima e sua família so-
frem “nas mãos” do criminoso, muitas vezes em silêncio.
É comum que, quando em violência conjugal, após o
ato violento o homem se sinta culpado, prometendo melhorias
em relação ao futuro para a mulher, no entanto, este parece
incapaz de mudar seu comportamento e, a conduta agressiva
volta a acontecer de novo e de novo (COSTA, 2003). Também
há mulheres agressoras. Geralmente, são mulheres que de-
senvolvem perturbações de comportamentos e emoções,
sendo o polo passivo nas agressões contra mulheres.

1.2.3. AS CARACTERÍSTICAS DAS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA E FAMILIAR

Quanto às vítimas, é na sua maioria mulheres, que po-


dem apresentar ou não algumas características mais comuns

30
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como: envergonhadas, conformadas, incapazes de reagir,


passivas, emocionalmente dependentes e deprimidas.
Segundo um levantamento realizado em 2019 pela de-
fensoria pública do estado do Ceará, feito com 573 mulheres
que sofreram todas as formas de violência, onde no local re-
ceberam assistência social, 35% das vítimas são mulheres
com idade entre 36 e 45 anos. Além disso, 63% delas são par-
das ou negras e 37% estudaram até o Ensino Médio. E, infeliz-
mente, é comum que essas mulheres só denunciem a situação
após mais de uma década de relacionamento abusivo.

1.2.4 O CICLO DA VIOLÊNCIA

É predominante na violência de gênero o fato que cha-


mamos de “Ciclo da Violência”, começa de maneira gradual e
sutil, evoluindo em intensidade ao longo do tempo e logo pro-
duz tristes consequências. Consiste em algumas etapas, em
que as vítimas são manipuladas por seus agressores.
A princípio a situação toda é permeada por insultos, hu-
milhações, intimidações, provocações mútuas, ameaças de vi-
olência, gerando conflitos e tensão decorrente da falta de con-
trole do agressor, e imposição de controle. Muitas vezes ele
não inicia com as agressões físicas, dessa maneira, antes de
agredi-la fisicamente, a importuna psicologicamente com o in-
tuito de baixar a autovalorização da mulher para que, depois,

31
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ela possa tolerar as agressões físicas. Portanto, geralmente a


violência psicológica precede à física.
Em seguida, o agressor comete o crime de violência fí-
sica ou força atos sexuais sem a vontade da vítima, dentre
outros tipos de violência. E por fim, acontece a remissão do
agressor, ou seja, propõe que irá mudar e que a relação será
transformada a partir de promessas mútuas de mudanças,
onde muitas vezes reconhece que errou, e faz juras de amor
a vítima, a presenteia e faz pedidos de desculpas reforçando
que tais atos não serão praticados novamente.
Contudo, o agressor às vezes nega a violência contra a
mulher, culpabilizando-a pelo ato sofrido, e aí o ciclo se re-
nova, pois há a falta de cumprimento dos pactos, tornando o
fenômeno da violência recorrente e vicioso.

1.2.5 DESIGUALDADE DE GÊNERO NA SOCIEDADE

Por anos a sociedade construiu um estereótipo relacio-


nado à mulher, onde se incorpora o primeiro caminhar para
constituir a base do preconceito e desigualdade de gênero
contra a mulher.
Conceituando gênero, dentro da humanidade e nas re-
lações sociais, este é descrito como: uma classificação de
masculinidade e feminilidade, e que não tem ligação com o

32
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sexo biológico, mas sim com a forma em que os padrões com-


portamentais de cada sexo se enquadram nas relações soci-
ais. Sobre esse assunto, a filósofa e escritora francesa con-
temporânea Simone de Beauvoir diz o seguinte:

Ninguém nasce mulher. Torna-se mulher. Nenhum


destino biológico, psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana assume no seio da so-
ciedade; é o conjunto da civilização que elabora
esse produto intermediário entre o macho e o cas-
trado que qualificam o feminino. (1980)

Desde os primórdios da humanidade, o homem exer-


ceu domínio de sua força física para impor autoridade sobre
as relações sociais e tudo começa no âmbito familiar privado,
onde se estende no âmbito social e público. As mulheres fica-
ram sob o domínio de homens e os espaços públicos como o
comércio, as empresas, a política e o meio científico foram do-
minados quase que exclusivamente pelos homens até o sé-
culo XX.

A mulher sempre foi privada de ter acesso à educação


formal, trabalhar fora de casa e de ter autonomia sobre si e
principalmente sobre o seu corpo e infelizmente isso ainda
acontece em algumas sociedades. Geralmente a justificativa
para a desigualdade entre homens e mulheres, baseia-se em
características físicas, pois a mulher é considerada mais fraca,
mais emocional, menos ágil e logo ela não é apta a exercer

33
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

atividades mais complexas, possui instinto maternal e habili-


dade para cuidar da casa e crianças.

A partir do século XVIII, movimentos feministas ganha-


ram força, demonstrando de fato que a desigualdade existe
entre os gêneros. Nos séculos seguintes, as mulheres conse-
guiram alguns direitos como: a participação na política, o di-
reito trabalhista fora de casa e a licença maternidade, que já
foi um marco de vitória e avanço para aquela época.

Quanto à desigualdade de gênero que existe no Brasil,


o 90º lugar é ocupado pelo Brasil, de acordo com o Fórum
Econômico Mundial, numa análise de 144 países, ainda, os
critérios analisados apontam que as mulheres negras sofrem
muito mais tendo menor acesso à escolaridade e ocupam pro-
fissões não especializadas, que pagam muito menos.

De acordo com um levantamento do Datafolha divul-


gado em 08 de março de 2017, por hora no Brasil, 503 mulhe-
res sofrem violência. Em 2016, 22% das brasileiras foram víti-
mas de violência moral e psicológica, 10% foram ameaçadas
de violência física, 8% violência sexual, 4% ameaças com
arma branca ou de fogo, 3% foram alvo de tentativa de estran-
gulamento ou espancamento, e 1% foi baleada. A Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) afirma que o Brasil é o quinto
país no mundo com maior número de feminicídios.

34
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.3 A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA

Com dezesseis anos de existência, a Lei Maria da Pe-


nha provocou apreciáveis mudanças no âmbito nacional, pro-
duzindo uma verdadeira revolução na forma de coibir e preve-
nir a violência doméstica no Brasil, apesar das muitas críticas
sofridas.
De acordo com o Relatório Global do Fundo de Desen-
volvimento da ONU para a Mulher, a Lei Maria 11.340/06 é
uma das três leis mais avançadas do mundo para afrontar da
violência contra as mulheres, pois tem um elevado rigor nas
penas contra os agressores. (Unifem, 2009)
Todavia, o Estado ainda tem dificuldade para a sua apli-
cação, pois alguns desafios precisam ser superados, a seguir
alguns: maior representatividade feminina em posições de po-
der; garantia de políticas públicas asseguradoras de seus di-
reitos; aumento da responsabilidade do poder público para as
políticas públicas já em vigor; participação da mulher nos âm-
bitos público e privado.
A Lei Maria da Penha ainda carece de uma melhor aná-
lise, mirando em uma melhor perspectiva para as vítimas, se
faz necessário certa discussão a fim de melhorar a programa-
ção de todas as suas regras.

35
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.3.1 SOBRE A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS DE PROTE-


ÇÃO URGENTES

Os artigos 23 e 24 da Lei nº 11.340/2006 apresentam


as medidas protetivas de urgência voltadas para a vítima, en-
quanto o artigo 22 traz as medidas que obrigam o agressor. A
inclusão dessas medidas na Lei Maria da Penha visa propor-
cionar uma proteção mais efetiva para mulheres e sua família,
além de combater a violência doméstica contra a mulher. O
objetivo é garantir que as vítimas possam viver sem serem
submetidas a qualquer tipo de violência, mantendo-as seguras
em relação aos seus agressores.
Para Pasinato (2015, p. 415):

As medidas previstas na Lei Maria da Penha


abordam o enfrentamento da violência doméstica
e familiar contra a mulher de forma integral, com
intervenções para punir os agentes responsáveis
pela violência, proteger os direitos das mulheres
e promover seu acesso à assistência e a seus di-
reitos, e a prevenção da violência por meio de
campanhas e processos de mudança cultural ba-
seados no rompimento dos padrões de relaciona-
mento entre homens e mulheres em favor da
igualdade de gênero.

A Lei Maria da Penha é o principal instrumento legal


para o amparo das mulheres em situação de violência domés-
tica e familiar, entretanto, a ausência de serviços e ineficiência

36
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

das medidas protetivas de urgência em quase todo o País pa-


recem contradizer essa afirmação. Algumas dessas medidas
não apresentam uma eficácia significativa, pois carecem de
certo mecanismo e logística eficientes, que tenham uma es-
trutura adaptada e adequada, acerca da correta identificação
dos agressores, aplicação de penas cabíveis e tratamentos
adequados, o que não ocorre no Brasil de forma certa.
Ainda existem muitos obstáculos para que as medidas
protetivas sejam aplicadas de forma mais efetiva, esses obs-
táculos que mais impedem que a medidas protetivas tenham
eficácia plena, são em sua maioria de natureza operacional, já
que 91% das cidades do Brasil não há delegacias especializa-
das nesse atendimento específico, o que representa um dado
preocupante, pois a vítima fica desamparada. Apesar da soci-
edade vir se conscientizando mais da necessidade de apoio
que as vítimas precisam, os índices de violência doméstica
ainda são alarmantes.
No Brasil, em toda sua extensão, não há estrutura sufi-
ciente para o acolhimento a todas as vítimas de violência. Em
muitas regiões, ainda faltam ambientes necessários para um
atendimento efetivo às mulheres, pela Pesquisa de Informa-
ções Básicas Municipais (Munic), foi constatado que apenas
2,4% dos municípios possuem casas-abrigo para mulheres
em situação de violência doméstica, bem como de agentes
capacitados para atuarem nessa área específica, por isso, é

37
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

válido salientar que com a ausência de estrutura, as medidas


protetivas não têm tanta eficácia e com isso deixam de ofere-
cer proteção real às mulheres vítimas de violência no país.
Conclui-se, portanto, que um dos mais importantes pro-
gressos para a sociedade brasileira foi a criação da Lei
11.340/2006, pois é um marco de prevenção da violência e
aumento de punibilidade ao agressor, onde visa a superação
das desigualdades sociais e de gênero na sociedade. Mas a
sua efetiva aplicação segue encontrando desafios na socie-
dade brasileira, pois dar visibilidade às diversas necessidades
das mulheres é um determinante desafio, causando uma ver-
dadeira exclusão para diversas vítimas.
A estrutura é escassa, pois existem poucas políticas
públicas aptas, sendo as medidas protetivas de urgência não
suficientes, ou seja, não há dúvidas de que sua criação teve o
intuito de ser um instrumento legal eficiente, mas na prática
elas devem ser atreladas a uma estruturação adequada. É
nesse sentido que as medidas protetivas precisam ser enten-
didas como um “acessório” ao combate e prevenção da vio-
lência doméstica e não a resposta do problema.

1.3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS

Para a existência de uma política pública, precisa exis-


tir um problema público. (SECCHI, 2010). Com essa defini-
ção, podemos dizer que uma política pública é tudo aquilo que

38
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

move o governo, tirando-o do estado de inércia com a sua


força, para que a totalidade de suas ações gere metas e pla-
nos, para o governo delinear os devidos desígnios a fim de
obter o bem-estar da sociedade.
A Lei Maria da Penha surge como uma política pública
de enfrentamento à violência contra a mulher, conforme des-
creve o próprio texto da Lei nº 11.340, pois fomenta a precisão
de um tratamento legalístico mais rigoroso, já que a violência
contra mulher se revelou um grande problema político que re-
quer a devida atenção, desde a experiência de Maria da Pe-
nha Maia Fernandes o caso ganhou visibilidade internacional,
a notoriedade despertou atenção da mídia e suscitou na cria-
ção da Lei como política pública de gênero no país.
Dessa forma, podemos verificar que a Lei Maria da Pe-
nha detém caráter amplo, pois é um problema de Estado que
precisa de mecanismos adequados para controlar e prevenir
qualquer tipo de violência, são exemplos de políticas públicas:
ações de institutos que abriguem mulheres vítimas de violên-
cia de gênero, criação de Delegacias de Atendimento à Mu-
lher com atendimentos especializados, promoção de medidas
socioeducativas unido à população, como campanhas nas es-
colas e universidades para que haja a repreensão das práti-
cas agressivas contra as mulheres e atendimento psicológico
gratuito para garantir uma rede de apoio às vítimas.

39
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Dessa forma, a lei não é somente um elemento de con-


tenção e punibilidade, mas também uma via de igualdade de
gênero. Sendo assim, com seu preceito de coibição, existe um
grande estímulo para a existência de uma sociedade justa,
igualitária e que proteja a dignidade humana como política pú-
blica que é.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que a Lei Maria da Penha possa ser efetiva, é neces-


sário que ela seja implementada de forma ampla e eficiente,
com o fortalecimento dos órgãos responsáveis pela sua apli-
cação, como as delegacias especializadas de atendimento à
mulher e os juizados de violência doméstica. Também é fun-
damental que a sociedade seja conscientizada sobre a gravi-
dade da violência doméstica e que as vítimas sejam encoraja-
das a denunciar seus agressores.
Atualmente, é importante destacar que a luta contra a vi-
olência doméstica é um processo contínuo e ainda há muito a
ser feito. No entanto, existem indicadores positivos que com-
provam que a legislação trouxe avanços significativos na pro-
teção das mulheres e no combate à violência doméstica.
Assim, conclui-se que para que essa Lei seja totalmente
eficaz, é preciso que órgãos competentes deem prioridade e

40
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tragam melhoria em alguns pontos, como: o fortalecimento do


sistema de atendimento às mulheres em situação de violência:
é preciso que sejam fortalecidos os serviços de atendimento
às mulheres em situação de violência, como delegacias espe-
cializadas, casas abrigo, centros de referência, entre outros.
É necessário garantir que esses serviços estejam pre-
sentes em todo o território nacional, sejam de qualidade e pos-
sam prestar um atendimento efetivo e humanizado às mulhe-
res. Investimento na capacitação dos profissionais que atuam
no sistema de justiça: é importante investir na capacitação dos
profissionais que atuam no sistema de justiça, como juízes,
promotores, defensores públicos e advogados, para que pos-
sam compreender melhor as questões relacionadas à violên-
cia de gênero e possam aplicar a Lei Maria da Penha de forma
adequada.
Ampliação das medidas protetivas: as medidas proteti-
vas são uma importante ferramenta para proteger as mulheres
em situação de violência. É preciso ampliar as possibilidades
de medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha, de
modo que possam abranger situações de violência mais sutis
e que possam ser aplicadas de forma mais rápida e efetiva.
Criação de políticas públicas de prevenção à violência
de gênero: é fundamental que sejam criadas políticas públicas

41
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de prevenção à violência de gênero, que atuem na raiz do pro-


blema, abordando questões como a educação de gênero, a
promoção da igualdade de gênero, a desconstrução de este-
reótipos e preconceitos, entre outros temas.
Aumento da punição aos agressores: a Lei Maria da Pe-
nha prevê penas mais severas para os agressores de mulhe-
res, porém, muitas vezes, essas penas não são aplicadas de
forma adequada. É preciso garantir que os agressores sejam
punidos de forma mais efetiva, o que pode ser feito por meio
de uma maior fiscalização e do fortalecimento do sistema de
justiça.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

SECCHI, Leonardo. Políticas públicas: conceitos, esque-


mas de análise, casos práticos. São Paulo: Cengage Lear-
ning, 2010.

SUCASAS, Fabíola. A vida, a saúde e a segurança das mu-


lheres. [São Paulo]: Editora Saraiva, 2012. E-book. ISBN
9786558100706. Disponível em: https://integrada.minhabibli-
oteca.com.br/#/books/9786558100706/. Acesso em: 17 out.
2022.

TREVISO, Marco Aurélio Marsiglia. A discriminação de gê-


nero e a proteção à mulher. 2008.

UNIFEM. (2009). Progresso das Mulheres no Mundo


2008/2009 – Quem responde às mulheres: gênero e res-
ponsabilização. Disponível em: https://www.unwomen.org/si-
tes/default/files/Headquarters/Media/Publications/UNIFE
M/ProgressOfTheWorldsWomen-2008-ExecutiveSummary-
pt.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.

46
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2
A EFICÁCIA DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS:
TEORIA E PRÁTICA

THE EFFECTIVENESS OF SOCIAL AND EDUCATIONAL


MEASURES: THEORY AND PRACTICE

André Neves Ribeiro3


Williane Tibúrcio Facundes4

RIBEIRO, André Neves. A eficácia das medidas socioedu-


cativas: Teoria e prática. Trabalho de Conclusão de Curso
de graduação em Direito – Centro Universitário UNINORTE,
Rio Branco, 2023.

3
Discente do 9º Período do Curso de Bacharel em Direito pelo Centro Uni-
versitário Uninorte. Graduado em Administração de Empresas pelo Centro
Universitário Uninorte. Especialista em Auditoria e Gestão Tributária pelo
Centro Universitário Uninorte.
4
Docente do Centro universitário Uninorte. Graduada em Direito pela
U:VERSE. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzea-
grandense. Graduada em Letras vernáculas pela UFAC.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Este artigo aborda a eficácia das medidas socioeducativas: te-


oria e prática, com ênfase no Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (lei 8,069/1990), fazendo análise entre o que asse-
vera a lei e realidade vivenciada no cotidiano pelos adolescen-
tes praticantes de atos infracionais. Pondera-se sobre a hipó-
tese da Proteção integral e a Constituição Federal Brasileira.
O tema está relacionado à eficácia das medidas socioeducati-
vas, quando empregadas em sua essência. O subsídio teórico
contou com a análise histórica, com pesquisa desde a gênese
desde o princípio da realidade vivenciada pelos adolescentes
no Brasil, que para convencionou chamar de doutrina da situ-
ação irregular, até culminar na proteção integral presente no
ECA. Neste sentido, procedeu-se o estudo, traçando um com-
parativo entre o conceito e a prática no emprego das cautelas
socioeducativas.

Palavras-chave: eficácia; medidas socioeducativas; teoria;


prática.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

This article approaches the efficiency of socio-educational


measures: theory and practice, with emphasis on the Statute
of Children and Adolescents (law 8.069/1990), making an anal-
ysis between what the law asserts and the reality experienced
in everyday life by adolescents who practice infractions. It con-
siders the hypothesis of integral protection and the Brazilian
Federal Constitution. The theme is related to the effectiveness
of socio-educational measures, when employed in essence.
The theoretical subsidy relied on historical analysis, with re-
search from the genesis since the beginning of the reality ex-
perienced by adolescents in Brazil, which was conventionally
called the doctrine of the irregular situation, until culminating in
the integral protection present in the ECA. In this sense, the
study proceeded, tracing a comparison between the concept
and the practice in the use of socio-educational precautions.

Keywords: efficiency; educational measures; theory; practice.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Este artigo aborda a eficácia das medidas socioeduca-


tivas: Tanto a teoria, quanto os benefícios trazidos pelo ad-
vento da lei 8.069/90, visto que a partir do início de sua entrada
em vigor, trouxe mudanças significativas para uma melhor ins-
trumentalização do direito aplicado ao adolescente, ade-
quando-a à nova teoria de processo e jurisdição adotada no
direito brasileiro.
Todavia, a implementação das medidas socioeducati-
vas no Brasil, é passível de críticas por parte de juristas e es-
tudiosos sobre o assunto, por não cumprir na íntegra o papel
pedagógico que possuem reintegrar o adolescente a socie-
dade.
Assim, fez-se necessária uma análise pormenorizada
de implementação das medidas socioeducativas elencadas no
ECA, bem como uma análise das consequências práticas pe-
los competentes órgãos instituídos para tal finalidade. Por con-
seguinte, clara está a relevância da temática, visto que tem por
fundamento uma problemática capaz de gerar divergência
pouco explorada pelos cientistas do Direito dado o aspecto
das inovações contidas no ECA.
Desta maneira, este artigo buscou demonstrar se a apli-
cação das medidas socioeducativas tem conseguido atingir

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

seu apogeu, ou seja, a recuperação do adolescente, através


de uma mudança comportamental. Se de fato, as medidas fo-
ram suficientes o bastante para o preparar ao convívio salutar
em sociedade, resultando no abandono das práticas análogas
ao crime.
Investigou-se, portanto através de pesquisa bibliográ-
fica como encontra-se positivado o direito da criança e do ado-
lescente, sem desprezar, portanto, os seus deveres, principal-
mente no que tange a formação educacional. Por outro lado,
buscou entender as contribuições dadas pela relação familiar
e o meio social de onde estes estão inseridos, pois estes fato-
res têm-se sido apontados como causas para o exercício de
ato infracional. Dessa forma, pode-se inferir da pesquisa rea-
lizada em livros que grande parte destes adolescentes são ori-
undos de famílias em estado de vulnerabilidade social.
Este trabalho de conclusão de concurso, se utilizou de
pesquisa em fonte doutrinária, jurisprudencial de demais tra-
balhos para atingir o resultado desejado.
Por meio deste trabalho, pretende-se evidenciar que o
Brasil promulgou o Estatuto da Criança e do Adolescente, que
é uma lei completa. Esta, assegura direito à alimentação, edu-
cação, lazer, saúde, dignidade, esporte e principalmente à
vida. Condições fundamentais para o desenvolvimento do

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

adolescente, mas que são comumente divergentes das encon-


tradas nos lares das famílias que vivem abaixo da linha da po-
breza no Brasil, as quais são empurradas para conviver em
lugares que desassistidas pelo braço do poder público. E
ainda, geralmente são famílias desestruturadas, o que contri-
buem ainda mais pra elevar o percentual de adolescentes ten-
dentes a adesão ao submundo do crime.

2.1 ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A PROTE-


ÇÃO PREVISTAS NA LEI 8.069/1990

O artigo 203, incisos I e II, da Constituição Federal do


ano de 1988, garantem aos brasileiros à prestação de assis-
tência social para qualquer pessoa, independentemente se
houve ou não contribuição a seguridade social. No qual a as-
sistência se destina a proteção da família, gestação, infância,
adolescente e aos idosos. Dessa forma, a carta magna brasi-
leira visa proteger principalmente crianças e adolescentes, já
estes estão em formação e carecem muito deste apoio.
Além do mais, é sabido que a CF/98 se constitui na
carta magma brasileira e, portanto, deve ser respeitada pelas
demais leis no ordenamento brasileiro. Inclusive a própria lei
8.069/90, teve seu surgimento após a promulgação daquela.
O artigo 5º da Constituição Federal tutela os direitos e

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

garantias fundamentos para todos perante a lei, não havendo


distinção entre pessoas independentemente de raça, cor, con-
dição social, de ser brasileiros ou estrangeiros residentes no
país. Todos possuem os mesmos direitos e obrigações. Com
isso, a principal legislação brasileira confere as garantias fun-
damentais a todos, inclusive ao adolescente porventura prati-
quem ato infracional.

2.1.1DIREITO PENAL JUVENIL

A Constituição Federal de 1988, por tratar de lei de


abrangência geral, que serve de referência para o surgimento
das demais leis do pais, consagrou no capítulo VII, os artigos
227 e 228 que servem de base para aplicação de penalidades
ao infanto-juvenil. Já que estes pela sua condição de pessoas
em desenvolvimento, não cometem crimes, mas atos infracio-
nais análogos aos crimes praticados pelos maiores de idade.
Neste diapasão, o artigo 227 do CF/88, assevera que
os direitos da criança e do adolescente devem ser tratados
como prioridade, pois se constitui obrigação do Estado, da fa-
mília e da sociedade. Assim, convém dizer que a Carta Magna
é bastante imperativa na busca de proteção do direito de cri-
anças, adolescentes ao jovem, portanto não se trata de uma

53
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

liberalidade daquelas instituições, mas uma obrigação de fa-


zer, positivada na legislação maior deste país.
Quando a lei se ocupa em dizer que é dever da família,
da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente
ao jovem o direito à vida, ela está dizendo para adotar todas
as medidas necessárias para garantir uma vida digna para
pessoas que serão o futuro da nação. Aqui a lei deixa bem
claro quais entes são responsáveis pela manutenção da vida
dos vulneráveis.
Semelhante, o direito à saúde deve concedido aqueles
que necessitam de atendimento para prevenção e preserva-
ção de vida. Sendo este papel principalmente do Estado, que
possui o dever de oportunizar condições ideais de atendi-
mento público, sempre que a criança e adolescente demandar.
O Estado deve implementar programas sociais de ge-
ração de emprego e renda para conceder vida plena e digna a
população. Essa medida é fundamental para que as famílias
de crianças e adolescentes tenham com condições de ofertar
alimentação necessária aos seus filhos. Contemplando o di-
reito à alimentação, positivado no artigo 227 da CF/88.
Direito à educação é fundamental para a aquisição de
conhecimento e desenvolvimento de competências que serão
necessárias no futuro para a vida profissional de crianças e
adolescentes. Além disso, quando ocupadas com a atividade

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

educacional, o foco será a aquisição de conhecimento cientí-


fico. Isso ajudará mantê-las distantes pessoas tendentes ao
crime.
É dever do Estado, por meio de programas sociais as-
segurar o direito ao lazer e à cultura, a crianças e adolescen-
tes. Sendo a prática de esportes, por exemplo bastante salutar
ao desenvolvimento físico e mental dos infanto-juvenis, além
de gerar ocupação da mente com atividades benéficas à sa-
úde do corpo.
Vida digna e respeito são direitos positivados na Cons-
tituição Federal que também devem ser aplicados para ado-
lescentes e crianças. Liberdade, convivência familiar e comu-
nitária são primordiais para a formação de adolescentes e cri-
anças.
O artigo 228 da Constituição Federal de 1988 descreve
adolescentes como penalmente inimputáveis, que, portanto,
estão sujeitos a legislação especial. A legislação brasileira es-
tabelece que adolescentes são pessoas menores de dezoito
anos de idade. Neste mesmo entendimento, o artigo 27 do
atual Código Penal tutela-se a inviolabilidade do direito de ado-
lescente, evitando que seja aplicado ao mesmo o tratamento
destinado aos plenamente capazes.
A Constituição Federal/88, por meio dos arts. 227 e 228,
tutela taxativamente os Direitos da Criança e do Adolescente

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

brasileiro, através de um sistema que busca a proteção destes


aos direitos fundamentais, que no passado foram penalmente
responsabilizados como adultos.
Assegura-se aqui os direitos de adolescentes de forma
geral, sem distinção de classe social que o mesmo pertença.
A CF/88, representou um marco fundamental para que dois
anos depois, o ECA estivesse positivado no ordenamento ju-
rídico brasileiro. Pronto a produzir seus efeitos, de proteção e
responsabilização da criança e adolescentes.
O Estatuto da criança e do Adolescente representou
grande avanço na tratativa de responsabilização dos atos in-
fracionais análogos a crime cometidos por adolescentes.

2.1.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A legislação brasileira conceitua adolescente primeira-


mente pelo critério biológico, compreendido dentro da faixa
etária de 12 anos de idade completos e 18 anos incompletos.
Bem como pelas exceções previstas no ECA Podendo ser es-
tendido o intervalo etário, aos casos taxativos em lei, com apli-
cação do ECA para assistir às pessoas entre18 anos comple-
tos e 21 anos incompletos.
As medidas socioeducativas, previstas no Estatuto da

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Criança e do Adolescente, apesar de representar menor quan-


tidade em relação as medidas protetivas, são mais gravosas
quando aplicadas de fato. A aplicação delas está prevista so-
mente aos adolescentes que praticarem ato infracional. O tipo
de medida socioeducativa a ser empregada, irá depender do
clivo de magistrado, que poderá designar que seja cumprida
em liberdade ou privação de liberdade a depender do caso
concreto.
A Lei 8.069 do ano de 1990 compreende que menores
de 18 anos são penalmente inimputáveis e que, portanto, não
cometem crimes, nem tampouco contravenção penal. Con-
tudo, fixa que adolescente comete ato infracional, sendo esta
conduta equiparada a crimes previstas no Código Penal.
Dessa forma, se o adolescente praticar ato infracional, estará
sujeito a aplicação das medidas socioeducativas elencadas no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
No artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente
constam as medidas que devem ser aplicadas aos beneficiá-
rios desta lei, quando seus direitos estiverem em risco ou fo-
rem descumpridos. Que poderá ocorrer diligência ou displicên-
cia da sociedade, do Estado, dos pais ou responsável. Bem
como em virtude da conduta do próprio adolescente.
As garantias estabelecidas no artigo 98 do ECA são
bastante suficientes para afirmar que a doutrina da situação

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

irregular não mais ocupa lugar legislação brasileira. Visto que


a partir da lei 8.069/90, foi definido o papel de cada persona-
gem deve cumprir.
O artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
trata especificamente das medidas socioeducativas, que são
combinadas de forma progressiva, devendo ser aplicadas
desde o princípio como advertência e pode chegar ao apogeu
com a privação de liberdade.
A Lei Federal nº 12.594/2012 estabeleceu o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que está
contido no Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja finali-
dade é prover vagas para atender às medidas socioeducati-
vas. Isso inclui construção, adaptação, revitalização das uni-
dades de atendimento, para proporcionar um ambiente mais
acolhedor as pessoas que são recebidas nas unidades.
O SINASE coordena a política nacional de atendimento,
que incluí: Internação, semi-internação e liberdade provisória.
Ele também articula e fiscalização a implementação prática
das medidas socioeducativas dentro das unidades de atendi-
mento. Isso, visa garantir a efetividade de atuação dos gesto-
res responsáveis pela condução dos trabalhos de ressociali-
zação dos adolescentes.
Conforme o artigo 112 da lei 8.069 de 1990, a autori-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dade competente é investida de poderes legais para ao verifi-


car a prática de ato infracional, aplicar medidas de: advertên-
cia, obrigação de reparar o dano, prestar serviços à comuni-
dade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliber-
dade, internação em estabelecimento educacional, entre ou-
tras mediadas que o magistrado julgar pertinente para aplica-
ção ao caso concreto.
A aplicação da medida ao adolescente considerará a
sua capacidade de cumpri-la, bem como a gravidade da infra-
ção cometida. De modo algum se admitirá a prestação de tra-
balho forçado. Em relação a imputabilidade, o menor portador
de doença mental poderá sofrer medida socioeducativa. O
ECA prevê expressamente no parágrafo 2º do art. 112, que os
adolescentes portadores de deficiência ou doença mental re-
ceberão tratamento individual e especializado, em local ade-
quado às suas condições.
O surgimento do Conselho Tutelar representou uma
das maiores conquistas sociais de amparo e efetivação de di-
reitos, sendo um organismo público e social de máxima impor-
tância. Está previsto um Conselho Tutelar para cada município
que deve despenhar as atribuições previstas na Lei. Estas atri-
buições estão estabelecidas consolidadas no artigo 136 do
ECA, no qual o Conselheiro Tutelar deve atender crianças e
adolescentes, cujos direitos tenham sido violados. Assim é de

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

competência do Conselho Tutelar atender os familiares dos


adolescentes para aconselhar, orientar sobre como proceder
para ficar alinhado com a lei. Logo, a partir dessa interação
será possível definir a medida de socioeducativa indicada para
cada caso.
Neste ano de 2022, o ECA está completando 32 anos
de sua criação e é importantíssimo reconhecer que represen-
tou um grande marco evolutivo de conquista na vida de inú-
meras crianças e adolescentes, visto que no Estatuto da Cri-
ança e Adolescente existe a atribuição expressa do dever e a
responsabilidade de aplicação dos direitos à família, da socie-
dade e do Estado.

2.2 UNIDADES DE ATENDIMENTO X INGRESSO DO


ADOLESCENTE

O artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente


elenca o rol das medidas socioeducativas, que podem ser re-
alizadas pelas entidades de atendimento, pela família, entre
outras possibilidades. Neste contexto, o artigo 90 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, enumera os tipos de entidades
de atendimento que estão credenciadas para prestar tais aten-
dimentos.

60
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É de responsabilidade das entidades de atendimento a


sua própria manutenção, bem como gestão dos programas so-
cioeducativo com abrange os adolescentes que se encontram
apoio socioeducativo em meio aberto, acolhidos institucional-
mente, em prestação de serviços comunitários, em liberdade
assistida, em semiliberdade e internado.
Em contrapartida, pela prática da conduta infracional, o
adolescente responde penalmente em sistema especial de
proteção, por intermédio da aplicação de medidas socioedu-
cativas. A medida cabível para que ocorra a recuperação do
adolescente será o acolhimento em entidade de acolhimento.
No caso de internação do adolescente, o artigo 123 do
ECA, determina que esta deverá ocorrer somente em entidade
exclusiva de atendimento para adolescentes. No qual o abrigo
deverá respeitar parâmetros de idade, estrutura física e tipo do
ato infracional cometido. As atividades serão sempre obriga-
tórias.
Em relação a ressocialização do adolescente a Lei es-
tabelece que haja separação por idade dentro dos abrigos,
visto que os adolescentes de mais idade, que possuem mais
experiência para a prática do ato infracional, se tornem do
ponto modelo a ser seguido pelos adolescentes mais jovens.
Também, visa evitar os adolescentes que possuam menos
idade sofram maus tratos por partes dos mais velhos dentro

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos abrigos.
As atividades pedagógicas, no processo ressocializa-
ção são de fundamental importância, uma vez que, os adoles-
centes são seres humanos em desenvolvimento, que estão
em desenvolvimento. Logo, esta é uma excelente oportuni-
dade para o adolescente ter sua vida transformada, através
deste incentivo em sua vida.

2.2.1 DIREITO DO ADOLESCENTE PRIVADO DE


LIBERDADE

Segundo Rossatto et al. (2020), o acolhimento na insti-


tuição de acolhimento é caracterizado pela estadia do adoles-
cente em entidade de atendimento que pode governamental
ou não governamental. Cuja principal incumbência é ser guar-
dião dos menores que foram entregues aos cuidados da enti-
dade de acolhimento. Conforme previsão legal estipuladas
nos arts. 124 e 125 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
de 1990.
O adolescente privado de liberdade possui vários direi-
tos, tais como: direito de ser entrevistado pessoalmente por
representante do Ministério Público, direito de peticionar dire-
tamente para qualquer autoridade, direito de se encontrar com
seu defensor em reservado, direito de obter informação sobre

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

seu processo sempre que desejar, direito de receber trata-


mento respeitoso e digno, direito de ser internado na mesma
localidade de seus pais, direito de receber visita no mínimo
uma vez por semana, direito de ter acesso a objetos de higi-
ene e asseio pessoal, direito de habitar em acomodações dig-
nas, direito de receber educação e lazer, dentre outros.
Os artigos do ECA, citados acima, elencam diversos di-
reitos que o adolescente possui quando é unidade de atendi-
mentos. Assim, o legislador reuniu, o mínimo necessário para
proporcionar as condições essenciais para estimular a resso-
cialização dos menores que cometem infração da lei.
Busca-se através deste acolhimento criar um ambiente
que possa estimular mudança interna em cada adolescente,
ou seja, levar o adolescente a refletir sobre seus atos infracio-
nais para que ocorra mudança de comportamento/atitudes.
Que significa nova oportunidade para o adolescente.

2.2.2 ATRIBUIÇÃO DA ENTIDADE DE ATENDIMENTO

Rossatto et al. (2020), faz menção as obrigações que


competem as entidades de atendimentos na execução do pro-
grama de internação, cuja previsão legal localiza-se no art. 94
do ECA. Esta previsão legislativa é taxativa para indicar quais
obrigações devem ser atendidas pelas entidades de atendi-
mento, visto que elas são responsáveis pelo desempenho e

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

aplicação da internação.
Nesta senda obrigacional, o art. 94-A do ECA, ainda faz
uma complementação importantíssima, em relação ao dever
de qualificar as pessoas que realizam os atendimentos nas
entidades. As entidades de atendimento deverão comunicar
ao Conselho Tutelar qualquer indicio de maus-tratos.
Antes de começar a atuar em entidade de atendimento
ao adolescente, os profissionais precisam estar capacitados
sobre como contribuir na ressocialização do público-alvo. Isso
irá proporcionar melhor atuação diante das ocorrências do co-
tidiano.
De acordo, com Rossatto et al. (2020), compete as en-
tidades de atendimento: expedir relatório, sempre que receber
adolescente em regime de internato. Sendo que este docu-
mento.
Também possui a finalidade indicar como à autoridade
judiciária poderá adotar as medidas cabíveis para que sejam
cumpridas as obrigações impostas à entidade de atendimento.
Dessa forma, a demonstração dos trabalhos é feita por meio
de relatório de acompanhamento, que possuem a finalidade
demonstrar as atividades que estão sendo realizadas para al-
cançar ressocialização do adolescente.
Deste modo, estando concluso o relatório da unidade
de atendimento, será remetido ao juiz da vara de execuções

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

da medida socioeducativa. Sendo que estes autos serão ins-


pecionados pelo Ministério Público e ainda, será concedida à
Defesa a oportunidade para manifestação nos autos. Após a
análise, sendo acolhido o parecer, será o adolescente liberado
para o regime de semiliberdade ou até mesmo a liberdade as-
sistida.

2.2.3 DA INSPEÇÃO NAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO

O artigo 95 do Estatuto da Criança e Adolescente asse-


vera sobre a necessidade de adoção de medidas de fiscaliza-
ção às entidades de atendimento por parte do Poder Judiciá-
rio, bem como pelo Conselhos Tutelares. Tal diligência é ne-
cessária para a constatação que as entidades de atendimento
têm cumprido fielmente seu papel na ressocialização dos ado-
lescentes.
O artigo 96 do mesmo diploma legal, obriga as entida-
des de atendimento a apresentar planos de aplicação e a pres-
tação de contas ao estado ou ao município, que são os entes
que efetuam a provisão orçamentária para que entidades te-
nham recursos financeira para suas manutenções. Assim, a
prestação de contas está diretamente condiciona a continui-
dade do vínculo existente entre as partes.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

As sanções pelo descumprimento das obrigações cita-


das no artigo anterior estão catalogadas no artigo 97 do ECA,
que podem ser: advertência, afastamento provisório ou defini-
tivo de seus dirigentes, e até o fechamento de unidades ou
interdição de programa.
A fiscalização realizada pelo Poder Judiciário, pelo Mi-
nistério Público e pelos Conselhos Tutelares imprescindível,
posto que visam, assegurar que os adolescentes estejam
sendo bem tratados, inclusive que o programa de ressociali-
zação esteja sendo cumprido integralmente.
Cabe aos entes responsáveis pela fiscalização realizar
visitas aos abrigos com regularidade, e caso seja constado al-
gum desvio de finalidade, deverão aplicar as sanções previs-
tas nos artigos supracitados. Assim, restando comprovada a
ineficácia de atuação da entidade de atendimento está poderá
ter seu registro cassado.

2.2.4 APURAÇÃO DE ATOS IRREGULARES

Compete as Entidades de Atendimento buscar a resso-


cialização do adolescente, porém caso, incorra em eventuais
desvios, deverá ser adotado o Direito da Criança e Adoles-
cente, para promover a apuração de atos irregulares, nos mol-
des dos arts.191 a 193 do ECA. No qual a apuração dos atos

66
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

regulares nas entidades de atendimento terá início a partir de


emissão de portaria por autoridade judiciaria ou representante
do Ministério Público ou até mesmo do Conselho Tutelar. Que
dependendo da gravidade do caso concreto, o dirigente da en-
tidade poderá ser afastado da entidade.
Após ser citado o dirigente da entidade de atendimento
terá prazo de dez dias para responder e produzir provas para
robustecer sua defesa.
Durante o processo de apuração de irregularidade em
entidades de atendimento, caso seja detectado motivo grave,
a autoridade judiciária poderá, ouvido o Ministério Público, de-
cretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da
entidade. É imprescindível a fundamentação da decisão, com
base em elementos sólidos que comprovem a conduta desvi-
ada e finalidade da entidade de atendimento.
As etapas de apuração de irregularidade preveem que
o dirigente da entidade de atendimento, após citado terá até
10 dias para apresentar resposta, inclusive com juntada de
provas aos autos.
Independentemente da apresentação de reposta por
pelo dirigente da entidade de atendimento, a autoridade judi-
ciaria designará a audiência de instrução e julgamento, inti-
mando as partes ao comparecimento. Se o resultado do julga-
mento for pelo afastamento provisório ou definitivo do dirigente

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de entidade de atendimento, a autoridade judiciária deverá ofi-


ciar a autoridade administrativa para que no prazo determi-
nado processada com a substituição do cargo vacante.

2.2.5 DAS PENALIDADES

As entidades de atendimento devem resguardar a pro-


teção integral do adolescente. Contundo, em caso de desvios
desta finalidade, o Estatuto prevê penalidade às entidades que
não estiveram executando atividades com foco no objetivo
pactuado em lei.
O ECA, disponibilizou no art. 97, um rol de penalidades
previstas para ser aplicadas às entidades de atendimento go-
vernamental ou não governamental, que deixem de cumprir
suas atribuições. São previstas penalidade que se inicia com
advertência e vai até a cassação do registro da entidade.
De acordo com Rossatto (2020), Juiz da Vara da Infân-
cia e da Juventude somente poderá aplicar as penalidades de-
pois que o citado exercer o direito do contraditório e da ampla
defesa conforme previsão na legislação brasileira.

2.3 MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS E RESSOALIZAÇÃO

No art. 112 do ECA localizamos o rol taxativo das me-

68
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

didas socioeducativas que poderão ser sancionadas pela au-


toridade competente ao adolescente que cometer ato infracio-
nal. Podendo ser aplicada desde advertência e até internação,
dependendo com caso concreto e gravidade do ato praticado.

2.3.1 ADVERTÊNCIA

O Dicionário Online de Português, qualifica a palavra


advertir como: ação de advertir, chamar atenção de alguém,
ato de reprimir, repressão, admoestação. O Estatuto da Cri-
ança e do Adolescente art. 115, define advertência como ad-
moestação verbal do magistrado ao adolescente e reduzida a
termo e assinada. Isso implica dizer que o adolescente será
advertido oralmente, haverá a transcrição em um termo, que
será assinado e logo após será liberado.
Assim, de acordo com o artigo 114 do ECA, existindo a
comprovação da materialidade e indícios suficientes, poderá
ser aplicada a advertência ao adolescente. Sendo esta opor-
tunidade fundamental para que o adolescente compreenda
que a medida aplicada tem o viés totalmente pedagógico, visto
que o ato de aconselhamento se constitui uma tentativa de
despertar no adolescente a consciência que há possibilidade
de trilhar por caminhos aliados com o previsto em lei,
A advertência é a medida socioeducativa mais mode-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

rada que é aplicada ao adolescente no cometimento de infra-


ções mais leve. Ela, quando aplicada, não possui caraterística
punitiva, mas pedagógica para despertar no adolescente que
sua conduta é reprovável e distante dos padrões morais de
convivência em sociedade.
Contudo, apesar do lado pedagógico, provoca efeitos
jurídicos, visto que ficará registrada na Vara de Infância e da
Juventude, e dependendo da quantidade de registros poderá
servir de precedente para justificar futura internação em de-
corrência de atos infracionais reiterados.
As medidas socioeducativas que são aplicadas ao ado-
lescente requerem da autoridade posicionamento de um ver-
dadeiro educador, cuja finalidade é o crescimento do edu-
cando por meio do aprendizado.
Criar uma atmosfera com condições ideais para que o
adolescente descubra e aprimore seu potencial, por meio de
estímulos externos e criação de autoimagem positiva. Estimu-
lar e desenvolver no adolescente o hábito da leitura como
forma que apresentação de um novo mundo, fazendo com que
ele possa viajar através dos livros pelos campos do conheci-
mento científico.
A medida socioeducativa tem a finalidade de estimular
o adolescente quanto ao valor pessoal que possui, visto que
afinal o objeto da mesma é a ressocialização daquele.

70
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A advertência se traduz no indicativo que a conduta do


adolescente está em desacordo com a legislação vigente.
Serve para que o adolescente tome conhecimento da ilicitude
de seus atos e sinaliza para uma política de consequências,
caso haja reincidência do ato infracional.
Essa fase funciona como alerta de que a conduta do
adolescente infrator tende a evoluir, podendo culminar na me-
dida mais drástica que é internação. Ela funciona como um
termômetro dos atos praticados pelo adolescente, no qual ele
é convidado a mudança por completo de suas ações.
No Estatuto da Criança e Adolescente o legislador faz
questão de criar oportunidades para a recuperação daquele
que pode mudar a sua história.

2.3.2 OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO

Relativamente a reparação do dano patrimonial, o Es-


tatuto da Criança e do Adolescente é bem incisivo em dizer
que o adolescente tem o dever de restituir a coisa subtraída
ao dono, promover o ressarcimento do dano, ou por outra de
igual forma, de forma que seja compensado o prejuízo que vi-
tima amargou. Não sendo possível atender a uma das possi-
bilidades anteriormente indicadas, a medida poderá ser subs-
tituída por outra que adeque ao caso.

71
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Este artigo ocupa-se da conduta infracional, que resulta


na subtração de bens pertencente ao espólio da vítima. O le-
gislador estabelece que a autoridade poderá ordenar que o
adolescente repare o dano material por meio da restituição ou
ressarcimento da coisa subtraída da vítima. Busca-se através
deste ato, amenizar os prejuízos e o sofrimento de quem teve
seu patrimônio diminuído pela ação de adolescente.
Esta medida possui como características a prova de au-
toria e materialidade do ato infracional, ou seja, exige neces-
sidade de comprovação da autoria e materialidade para sua
convalidação. Logo, a existência insolada de indícios não as-
segura a obrigação de reparação do dano, visto que o magis-
trado precisa de confirmação do fato para determinar que o
adolescente proceda com a compensação do prejuízo cau-
sado a vítima.
Compete ao Poder Judiciário a atribuição de fiscaliza-
ção da efetivação da medida aplicada ao adolescente, isto é,
se constada a comprovação da reparação, a medida será in-
dicada no processo como concluída. Neste caso, será extin-
guida a medida.
Consoante ao artigo 932 de Código Civil, em se tra-
tando de menores de 16 anos de idade, quando da ocorrência
do ato infracional, a reparação do dano será exclusiva dos pais
ou responsável pelo menor.

72
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Também consoante ao prescrito no artigo 116, pará-


grafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente, quando
manifestada a impossibilidade dos pais ou responsáveis pela
reparação do dano, o magistrado poderá substituir a medida
por outra que julgar mais adequada para o caso.

2.3.3 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

No artigo 117 do Estatuto da Criança e do Adolescente


encontra-se normatizada a prestação de serviços à comuni-
dade, que corresponde a execução de serviços gratuitos, por
período não superior a um semestre, para entidades assisten-
ciais, escolas, hospitais entre outras entidades.
E cada adolescente deverá desenvolver suas ativida-
des em consonância com suas aptidões, não superior a oito
horas de semanais e respeitando a frequência escolar do ado-
lescente. Importa enaltecer o lado pedagógico que esta me-
dida possui, visto que ela funciona como escola técnica ao en-
sinar adolescente um ofício/ocupação, que poderá a desem-
penhar como aprendiz, podendo até ao atingir a maior idade
utilizar o serviço aprendido como meio de vida para sobreviver.
Por meio desta medida o legislador cria oportunidades
para ocupar o tempo ocioso do adolescente, através da reali-

73
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

zação de serviços gratuitos, prestados em várias entidades as-


sistenciais, consideradas suas aptidões.
De acordo com Rossatto et al (2020), a apuração de
materialidade e autoria da inflação, por intermédio de sen-
tença, são também caraterísticas da medida socioeducativa
de prestação de serviços à comunidade. Que dependendo da
capacidade mental e física para a execução da tarefa, poderá
ser perdoada pelo magistrado.
Deste modo, o artigo 112 § 2º do Estatuto da Criança e
do Adolescente, apresenta a proibição do trabalho forçado
como excepcionalidade na aplicação desta medida. O legisla-
dor proíbe a prática de trabalho forçado, ou seja, se faz neces-
sária a existência de consensualidade para a execução do tra-
balho por parte do adolescente. Logo, essa medida só cum-
prirá sua condição de viabilidade na ressocialização, se o ado-
lescente estiver em comum acordo para executar as ativida-
des laborais.

2.3.4 LIBERDADE ASSISTIDA

Esta medida socioeducativa se constitui numa aliada


muito significativa na ressocialização do adolescente, visto
que por intermédio da liberdade assistida o adolescente é de-
volvido para o convívio familiar, comunitário, ao mesmo tempo

74
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que será acompanhado, também receberá auxílio de especia-


listas, dotados de conhecimentos para sugerir a melhor forma
de potencializar o retorno de adolescente para o convívio so-
cial.
Estes especialistas podem ser recomendados pelas en-
tidades de atendimento já possuem vastos conhecimento de
pessoas capacitadas para prestar este atendimento, com foco
ressocialização do adolescente.
Rossatto et al (2020), destaca que o acompanhamento
por entidade de atendimento, responsável pela execução da
concernente medida, com envio de relatórios é uma caracte-
rística importantíssima e que terá grande quinhão de créditos
no sucesso ou insucesso da medida.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, sem despre-
zar aos outros, elencou alguns encargos que deverão ser
atendidos pelo orientador, que irão beneficiar tanto o adoles-
cente, como também sua família: promover socialmente o ado-
lescente e sua família; controlar a frequência e o rendimento
escolar do adolescente; orientar no sentido da profissionaliza-
ção do adolescente e de seu ingresso no mercado de trabalho,
desde que, possua dezesseis anos de idade, salvo na condi-
ção de aprendiz (catorze anos), e não seja o trabalho insalu-
bre; apresentar relatório do caso; e prazo mínimo de seis me-
ses e máximo de três anos.

75
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2.3.5 SEMILIBERDADE

Medida socioeducativa que contempla aqueles adoles-


centes que possuem condições de retornar ao convívio social,
que apesar de ter praticado ato infracional, apresentam bom
comportamento. Isso permite, que o Estado tenha confiança,
que estes adolescentes conseguiram entender o papel peda-
gógico das medidas aplicadas.
A medida de semiliberdade, consiste numa medida, a
qual o adolescente estuda e trabalha no período diurno, mas
no noturno retorna para entidade de atendimento para dormir.
Portanto, é uma medida restritiva de liberdade, pois apesar da
falta de convivência familiar e comunitária, não há impedi-
mento ao direito de ir e vir.
De acordo com Rossatto et al (2020), dentre as carac-
terísticas da medida de semiliberdade constam: a apuração da
autoria e da materialidade, com sentença prolatada, bem
como a invalidade da aplicação cumulativa à remissão. O
prazo da medida é por tempo indeterminado, mas não superior
ao limite de três.
Para permanecer nesta medida é obrigatório que o ado-
lescente esteja se profissionalizando e estudando. Caso haja
descumprimento, o magistrado poderá substituir a medida por
outra que melhor adeque ao adolescente.

76
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2.3.6 INTERNAÇÃO

A medida de internação ocorrerá quando a situação exi-


gir postura mais drástica do Estado, visto que outras medidas
não conseguiram atingir seu objetivo de ressocialização. As-
sim, a internação consiste na medida de privação de liberdade,
que considera o adolescente como pessoa em desenvolvi-
mento, com direito assegurados pelo Estatuto da Criança e
Adolescente,
Esta medida privativa de liberdade está sujeita aos prin-
cípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento. Três são as modali-
dades de internação:

a) Internação provisória prevista no art. 108 “A interna-


ção, antes da sentença, pode ser determinada pelo
prazo máximo de quarenta e cinco dias”. Trata-se de
uma medida de urgência, aplicável as hipóteses em
que demonstrada sua imperiosa necessidade.
b) Internação com prazo indeterminado prevista no art.
122 “A medida de internação só poderá ser aplicada
quando: I - tratar-se de ato infracional cometido medi-
ante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por rei-
teração no cometimento de outras infrações graves”.
c) Internação com prazo determinado prevista no art.
122“A medida de internação só poderá ser aplicada

77
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

quando: III - por descumprimento reiterado e injustifi-


cável da medida anteriormente imposta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estatuto da Criança e do Adolescente possui como


objetivo garantir à criança e ao adolescente o ambiente neces-
sário para estimular o desenvolvimento mental, moral, físico e
social, contribuindo na preparação para o exercício da vida
adulta longe da prática. A proteção das crianças e adolescen-
tes é responsabilidade primeiramente da família, da sociedade
e Estado.
Para o adolescente que é uma pessoa em desenvolvi-
mento, as mediadas socioeducativas objetivam reeducar o
menor, levando a uma reflexão do ato infracional que cometeu
e suas consequências, para que desta forma, o adolescente
não mais pratique ato infracional.

Apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente ter as-


segurado direitos e garantias aos menores infratores, sua apli-
cabilidade, na maioria dos casos, não tem obtido o resultado
pretendido na recuperação dos infantes, não podendo consi-
derá-los ressocializados ao final do cumprimento da medida
socioeducativa. Isso, infelizmente porque na prática, ocorrem

78
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

muitos equívocos e as medidas que deveriam ter caráter edu-


cativo e pedagógico, findam tendo um caráter punitivo.

A finalidade do ECA é o reconhecimento dos adoles-


centes como sujeitos protegidos pela lei, visto que se trata de
pessoas em desenvolvimento físico, psicológico, moral e so-
cial. Dessa forma, as medidas socioeducativas devem realçar
a natureza pedagógica, de reeducação para aspectos de vida
favorecendo valores sociais e morais para a formação do
infanto.

Por outro lado, na prática as medidas socioeducativas


não cumprem seu caráter pedagógico, uma vez que, são apli-
cadas com a finalidade punitiva pelo ato infracional cometido
pelo adolescente. Deste modo, tais medidas não surtem a efi-
cácia na reinserção e reeducação do menor infrator na socie-
dade. Se elas fossem aplicadas de forma adequada, respei-
tando todas as condições previstas na lei 8069/90, poderiam
obter o resultado esperado em grande parte dos casos.

Portanto entende-se, que a maioria dos atos infracio-


nais possui sua raiz vinculada ao meio em que vivem os me-
nores infratores, uma vez que, existem vários fatores que con-
tribuem com a desestrutura da base familiar, psicológica e mo-
ral. Neste caso, para que haja mudança é necessário investi-

79
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mento em políticas públicas que possam propiciar oportunida-


des de uma vida digna a todos os membros familiar.

Investimento em política social básica é o caminho para


gerar oportunidades de futuro digno para famílias a margem
da sociedade. Mediante a isso, elas possuam ofertar a educa-
ção necessária aos seus filhos, evitando que estes sejam re-
crutados como atores do crime.

Também se faz necessária que as medidas socioedu-


cativas sejam aplicadas fielmente ao que consta no Estatuto
da Criança adolescente, respeitando principalmente o caráter
pedagógico, visto que, isso contribuirá para a ressocialização
do infanto.

Logo, se as medidas socioeducativas foram aplicadas


com a eficiência esperada, terá sua eficácia garantida. Isso,
irá proporcionar ao adolescente infrator sua ressocialização e
o retorno pacífico da convivência em sociedade.

REFERÊNCIAS

AMIN et al., 2022 - Curso de Direito da Criança e do Ado-


lescente: Aspectos Teóricos e Práticos – 14. ed. – São
Paulo: Saraiva, 2022. [BIBLIOTECA VIRTUAL]
ARAUJO JÚNIOR, Gediel Claudino de. Prática no Estatuto
da Criança e do Adolescente. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
[BIBLIOTECA VIRTUAL]

80
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

DI MAURO, Renata Giovanoni. Procedimentos civis no Es-


tatuto da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2017. [BIBLIOTECA VIRTUAL]
ECA - Linha do tempo sobre os direitos de crianças e ado-
lescentes - Centro de Apoio Operacional das Promotorias
da Criança e do Adolescente. Disponível em https://cri-
anca.mppr.mp.br/pagina-2174.html.Acesso em 24/05/2022.
MACHADO, Martha de Toledo. A proteção constitucional de
crianças e adolescentes e os direitos humanos. Barueri:
Manole, 2003. [BIBLIOTECA VIRTUAL]
NUCCI, Guilherme de S. Estatuto da Criança e do Adoles-
cente - Comentado (5th edição). Grupo GEN, 2020. [BIBLIO-
TECA VIRTUAL]
ROSSALTO, Luciano, A. et al. Estatuto da crianca e do ado-
lescente comentado artigo por artigo. (12th edição). Editora
Saraiva, 2020. [BIBLIOTECA VIRTUAL]
SPOSATO, Karyna B. Direito penal de adolescentes: ele-
mentos para uma teoria garantista., Editora Saraiva, 2013.
[BIBLIOTECA VIRTUAL]
ZAPATER, Maíra. Direito da criança e do Adolescente. Edi-
tora Saraiva, 2019. [BIBLIOTECA VIRTUAL]

81
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3
ALIENAÇÃO PARENTAL E
A PANDEMIA DE COVID-19

PARENTAL ALIENATION
AND THE COVID-19 PANDEMIC

Thais Fernanda Gonçalves Oliveira5


Williane Tibúrcio Fagundes6

OLIVEIRA, Thais Fernanda Gonçalves. Alienação parental e


a pandemia de Covid-19. Trabalho de Conclusão do Curso
de graduação em Direito – Centro Universitário UNINORTE,
Rio Branco, 2023.

5
Docente do 9º período do curso de bacharelado em direito do Centro
Universitário Uninorte.
6
Docente do curso de Bacharelado em Direito pelo Cento Universitário
Uninorte. Graduada em Direito pela U:Verse. Especialista em Psicopeda-
gogia. Graduada em Letras Vernáculas pela UFAC.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O presente artigo trata da avaliação e análise da alienação pa-


rental em período de pandemia por conta da covid-19, onde
desde o início do ano de 2020, o mundo vem sofrendo grave-
mente com pandemia, doença essa que pouco se sabe, mas
que já trouxe diversas consequências para a população, uma
vez que o mundo todo passou por modificações adversas, so-
bretudo com alterações rotineiras nas análises de pedidos de
guarda dos filhos. Neste quesito foi abordado teoricamente
uma pesquisa dos conceitos que por muito tempo permearam
o ambiente jurídico e que por análise e necessidade anseiam
brevemente por alterações. Embora a legislação esteja pronta
para nos auxiliar, devemos sempre estar aptos às mudanças.
A pandemia que nos afetou de forma direta e indireta, nos le-
vou a analisarmos por outros ângulos a alienação parental,
onde embora que ilegal é muito comum no cotidiano das pes-
soas cabendo as autoridades envolvidas no processo identifi-
car e combater esta questão.

Palavras-chave: alienação parental; pandemia; Covid-19.

83
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

This article deals with the evaluation and analysis of parental


alienation in a pandemic period due to covid-19, where since
the beginning of 2020, the world has been suffering seriously
from a pandemic, a disease that little is known about, but which
has already brought several consequences for the population,
since the whole world has undergone adverse changes, espe-
cially with routine changes in the analysis of child custody re-
quests. In this regard, theoretical research of the concepts that
for a long time permeated the legal environment and which,
due to analysis and necessity, briefly yearn for changes, was
approached. Although the legislation is ready to help us, we
must always be able to change. The pandemic that affected us
directly and indirectly, led us to analyze parental alienation
from other angles, where although illegal it is very common in
people's daily lives, it is up to the authorities involved in the
process to identify and combat this issue.

Keywords: parental alienation; pandemic; Covid-19.

84
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

A Síndrome da Alienação Parental ou SAP foi descrita


pela primeira vez na década de 80, pelo psiquiatra norte-ame-
ricano Richard Gardner, sendo definido por ele como um dis-
túrbio que acomete crianças ou menores, por condutas e po-
sicionamentos realizados pelo pai, pela mãe ou pela família
em processos jurídicos entre os mesmo (GARDNER, 1998).
O afastamento indevido sem justificativa legítima dos
pais dos filhos podem trazer diversos efeitos psicológicos, pro-
curando evitar transtornos maiores causados nesses proces-
sos, além da psicologia com auxílio à cerca da saúde mental
dos indivíduos, a legislação entra com o objetivo de fazer valer
o direito de ambas as partes, de forma que não agrida com
danos maiores o direito dos filhos.
O aumento do pedido de divórcios e o consequente au-
mento das disputas pela guarda dos filhos demonstram a ocor-
rência dos atos de Alienação Parental com maior frequência.
Para Nüske e Grigorieff (2015), é comum casais não suporta-
rem o divórcio ou separação, causando atitudes hostis com
intuito de afastar o filho do outro genitor.
A cultura e as crenças referentes ao casamento em que
o amor e a felicidade são para sempre muitas vezes ao fim do

85
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

relacionamento causam atritos entre os pais, o que acaba atin-


gindo os filhos. Com o rompimento do vínculo conjugal, todos
os membros da família precisam se adaptar a uma nova reali-
dade, aprendendo a viver dentro de um novo formato familiar.
Mágoas e ressentimentos podem ocorrer de um dos ge-
nitores, onde nestes casos um dos genitores veem no filho
uma forma de se vingar do seu antigo parceiro causando da-
nos ao próprio filho, caracterizando como alienação parental
(NÜSKE e GRIGORIEFF, 2015). Com isso, observaremos
como a jurisdição auxiliou e se comportou nesse processo,
mediante o período pandêmico, e se o isolamento social afe-
tou esse processo, de que forma isso ocorreu.

3.1 CONCEITO DE ALIENAÇÃO PARENTAL NO DIREITO


DE FAMÍLIA E SEUS REFLEXOS LEGAIS

Para explicar de forma clara e objetiva a alienação pa-


rental nada mais é que a conduta promovida por um dos pais
da criança ou adolescente em que o pai ou a mãe usa o filho
para atingir negativamente o outro genitor (LIMA FILHO,
2010). No Brasil, a alienação parental ocorreu por meio da Lei
nº 12.318 / 2010, aprovada por unanimidade em 26 de agosto
de 2010. Para Souza (2017), a alienação parental ocorre den-
tro das relações familiares, quando por alguma razão, os pais

86
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

se divorciam e um dos dois começam a manipular o menor,


visando causar um mal-estar na relação entre um dos seus
genitores.
Teixeira e Dias (2013), descreve que a alienação pa-
rental ocorre através das mudanças com o fim de um relacio-
namento, com intuito de reduzir ou até eliminar a relação entre
pai/filho, onde estes fatos acontecem por influência familiar, na
forma de conversar, falando bem ou mal de um dos genitores
como forma de negativar a relação entre pai e filho.
A alienação parental é um problema social sério, o di-
vórcio está em alta não só no Brasil mais no mundo inteiro. Os
pais precisam resolver com seus filhos a questão da alienação
parental, pois mais adiante elas levarão esta bagagem de
aprendizado para a vida e como será que vai estar o relacio-
namento com o seu genitor ou responsável (BRUM, 2020).
Com o passar do tempo, a criança não conseguirá dife-
renciar a realidade dos fatos narrados e a verdade será o que
ela ouve por parte do alienante (LIMA, 2012). Desta forma a
Lei 12.318/2010 mostra sua importância sendo um instru-
mento que pretende garantir o desenvolvimento sadio da cri-
ança e do adolescente.
Segundo a Lei 12.318/2010 em seu artigo 2° a interfe-
rência na formação psicológica da criança ou do adolescente

87
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

na qual possa ser induzida por um dos genitores, ou respon-


sáveis para que repudie um dos seus genitores é uma causa
de alienação parental (BRASIL, 2010a). Brasil (2010), cita al-
guns exemplos de alienação parental:

I - Realizar campanha de desqualificação da conduta


do genitor no exercício da paternidade ou materni-
dade;
II - Dificultar o exercício da autoridade parental;
III - Dificultar contato da criança ou adolescente com
genitor;
IV - Dificultar o exercício do direito regulamentado de
convivência familiar;
V - Omitir deliberadamente a genitor informações pes-
soais relevantes sobre a criança ou adolescente, in-
clusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - Apresentar falsa denúncia contra genitor, contra fa-
miliares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar
a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justifica-
tiva, visando a dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor, com familiares deste
ou com avós.

88
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Desta forma, a Lei 12.318/10 surgiu para garantir a pro-


teção da criança e adolescente nas situações de alienação pa-
rental, procurando manter na convivência familiar uma forma
de vida sadia para o menor (NÜSKE e GRIGORIEFF, 2015).
De acordo com Noronha e Romero (2021), o Brasil pos-
sui uma ampla legislação para a preservação da dignidade hu-
mana e do bem comum de interesse da criança e do adoles-
cente. A lei que institui sobre a alienação parental, vem de en-
contro à proteção psicológica do menor, uma vez que pretende
abster esse tipo de comportamento tão maléfico à formação
da criança e adolescente.
A Lei de alienação parental de nº 12.318 de 26 de
agosto de 2010, é suscinta e conta com apenas nove artigos,
onde dois já foram vetados. No artigo 2º apresenta o conceito
de alienação parental. Praticar alienação parental contra o ge-
nitor fere os direitos destes, conforme consta no artigo 227 da
CF, como complementado por Madaleno e Madaleno (2013,
p. 101) e como traz o artigo 3º:

A prática de ato de alienação fere direito funda-


mental da criança ou do adolescente de convi-
vência familiar saudável, prejudica a realização
de afeto nas relações com genitor e com o grupo
familiar, constitui abuso moral contra a criança ou
o adolescente e descumprimento dos deveres
inerentes à autoridade parental ou decorrentes
de tutela o guarda (BRASIL, 2010).

89
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A lei 12.318/10, na qual diz respeito sobre alienação pa-


rental, foi levemente alterada pela lei 14.340/22. A alienação
parental está definida no artigo 2º da lei federal 12.318/10, o
qual instituindo que o ato de alienação parental, a distorção na
formação psicológica da criança ou do adolescente motivada
por um dos pais ou responsáveis, pelos avós ou pelos que te-
nham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda
ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este
(SANTOS, 2022).
A primeira está relacionada ao artigo 4º, parágrafo
único da lei 12.318/10, definindo os locais de convivência mí-
nima entre a criança/adolescente e seus pais ou responsáveis.
Caso ocorra situações em que há indícios da prática de alie-
nação parental a visitação necessita ser feita de forma assis-
tida. A lei 14.340/22 ampliou que a convivência deve ser reali-
zada no fórum onde tramita o processo em que se discute a
alienação parental ou em entidades conveniadas com a justiça
que são especificamente criadas para esta finalidade (SAN-
TOS, 2022).
No artigo 5º da lei 12.318/10 foi acrescentado o pará-
grafo 5º, prevendo a possibilidade de o juiz nomear peritos da
sua confiança para realização dos estudos psicológico, social
e outros porventura necessários, quando forem insuficientes

90
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ou não tiverem serventuários da justiça para a realização das


perícias técnicas.
A lei 14.340/22 invalidou ainda, o inciso VII do artigo 6º
da lei 12.318/10, no qual descrevia sobre a possibilidade de
ser determinada a suspensão da autoridade parental como
forma de anular o genitor ou responsável a cessar a prática de
alienação parental.
Ainda no parágrafo 2º ao artigo 6º da lei 12.318/10 foi
estabelecido a regularidade limite que devem ocorrer as ava-
liações sobre o acompanhamento do tratamento psicológico
que tenha sido determinado como forma de conter a prática
de alienação parental.
Neste sentido, tais avaliações devem ocorrer, no mí-
nimo, em 2 oportunidades, uma no início dos acompanhamen-
tos psicológico e/ou biopsicossocial, mediante a apresentação
do caso e a metodologia que será aplicada, e uma outra vez
ao final dos trabalhos, mediante a apresentação dos resulta-
dos do atendimento.
Na lei 12.318/10, mudanças foram implementadas de
forma prática, já eram aplicadas pelo Poder Judiciário nos pro-
cessos que versam sobre alienação parental. No entanto, é
importante que a prática judicial se torne lei, vinculando os ju-
ízes de forma a evitar interpretações.

91
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Quanto ao dispositivo revogado, qual seja, a suspensão


do poder familiar como forma de coibir a prática de alienação
parental, de fato nos parecia inaplicável, pois as demais for-
mas previstas em lei para evitar tal prática são suficientes à
preservação dos melhores interesses da criança ou adoles-
cente alienado, por exemplo, a realização da visitação assis-
tida ou, ainda, a reversão da guarda (SANTOS, 2022).
Embora muitas vezes a intenção ou sentimento de um
dos genitores venha ser de vingança contra seu antigo com-
panheiro sem querer prejudicar o filho do casal, a saúde psí-
quica da criança acaba sendo prejudicada por um conflito de
interesses, gerando agravos na formação de sua personali-
dade (NÜSKE e GRIGORIEFF, 2015).
A ideia inicial não é prejudicar a criança ou adolescente,
e sim impedir um novo começo de vida do outro genitor,
mesmo que para isso danos possam ser causados ao filho,
onde eles muitas vezes são utilizados como instrumento de
ataque ao outro” (TRINDADE & MOLINARI, 2014, p. 24).
Vale ressaltar que o término de um relacionamento en-
tre um casal não indica o início da alienação parental, mas sim
o modo com que cada genitor, se comporta em sua nova rea-
lidade, precedida de uma crise e seguida de fortes mudanças
estruturais (GRISARD FILHO, 2014, p. 260).

92
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

No fim de uma relação entre genitores um dos dois mui-


tas vezes ficam procurando um culpado para o fim do relacio-
namento e por vezes acabam usando os filhos para tentar atin-
gir um ao outro, pois sabem que dessa forma conseguem de-
siquilibrar o emocional do seu ex-companheiro (a). O que deve
ser lembrado é que no meio dessa relação existe uma criança
na qual sua vida não deverá ser afetada pelo fim de um rela-
cionamento, onde ambos deixaram de ser um casal, mas con-
tinuarão sendo pais (BRUM, 2020).
Com o fim do relacionamento e a ruptura familiar podem
acontecer situações em que um dos genitores ou responsável
pela criança come a praticar a alienação parental, prejudi-
cando os laços de afeto do menor com o um de seus genitores,
podendo trazer futuras consequências psicológicas que pode-
rão afetar o seu desenvolvimento até a fase adulta (OLIVEIRA,
2020).
A desqualificação da conduta entre os pais na presença
do menor, bem como omitir informações pessoais sobre a cri-
ança (escolares, médicas, moradia), entre outros artifícios ca-
racterizam o ato da alienação parental (NORONHA; RO-
MERO, 2021).
A criança vai absorver toda informação repassada para
ela durante a alienação parental. Segundo Rodrigues e Ama-
ral (2015), as práticas e costumes causados pela alienação

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

parental geram graves consequências a vítima, como depres-


são, ansiedade, fobia social, dor, distúrbio de identidade, etc.
A família possui um papel de suma importância na vida
de seus filhos, pois é na família que acontecem os primeiros
aprendizados no decorrer de sua formação para viver em so-
ciedade, aonde a escola vem apenas para reforçar esses va-
lores primários, acrescentando, acrescentado pelo papel pe-
dagógico (BRUM, 2020).

3.2 TIPIFICAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO LEGAL ACERCA


DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A lei da alienação parental aprovada no ano de 2010


visou estabelecer medidas que envolvem interferências na for-
mação psicológica da criança, quando um dos pais ou respon-
sáveis tenta interferir na relação do outro genitor com seu filho.
a lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010 dispõe sobre a alie-
nação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de
julho de 1990, possuindo11 artigos e 2 já foram vetados.
A relação dos genitores com seus filhos vai além do ma-
trimonio, onde caso venha acontecer o término do relaciona-
mento os direitos e deveres de pais continuam com seus fi-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

lhos, algo que vai além de uma pensão ou um simples cui-


dado. Segundo Nader (2016), a proteção aos filhos é uma ten-
dência natural, espontânea:

Como regra geral, a lei exerce função comple-


mentar, orientando os pais, seja quando lhes
falte discernimento, seja quando ocorre dissídio
na relação do casal. A proteção não é um dever
que dimana da lei, mas diretamente da moral, e
a sua observância é fato instintivo na escala ani-
mal; na espécie humana ganha dimensão maior,
porque a carência dos filhos no conjunto não diz
respeito apenas às necessidades de sobrevivên-
cia e afeto, também às de formação, educação,
apoio, aconselhamento, cultura, encaminha-
mento na vida social.

Não é somente a lei nº 12.318/10 que discorre sobre a


alienação parental que trata do assunto que envolve a prote-
ção a criança. A própria Constituição Federal estabelece que
os pais têm o dever de amparar e educar os filhos menores
(art. 229), sendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(Lei nº 8.069/1990) é outro que valida o direito a proteção dos
direitos fundamentais da criança e do adolescente.
No âmbito da relação familiar, o Código Civil (art. 1566),
lista os deveres recíprocos dos cônjuges, salientando aqueles
específicos dessa relação e que envolvem o sustento, a
guarda e a educação dos filhos, bem como a mútua assistên-
cia, cuja violação pode acarretar, conforme a hipótese, a perda
da guarda dos filhos ou ainda a suspensão ou destituição do

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

poder familiar, e a condenação ao pagamento de pensão ali-


mentícia (GONÇALVES, 2019, p. 188).
Vale lembrar que a criação e sustento dos filhos devem
ser algo em prol deles e não dos pais. Os pais ou responsáveis
não podem confundir suas obrigações com vontades relacio-
nadas a interesses próprios, mas sim no sentido de fazer valer
os interesses da criança, tanto no âmbito patrimonial quanto
no pessoal (MADALENO; MADALENO, 2018, p. 15).
A alienação parfental não ocorre somente após a sepa-
ração do casal como muitos pensam. Ramos (2016, p. 149),
explica que é mais fácil perceber a alienação parental após o
termino de um relacionamento, porém pode ocorrer durante o
casamento, quando um dos genitores procura difamar o outro.
Essa situação é mais comum em ambientes de violên-
cia doméstica e não necessariamente envolve violência física
podendo envolver a violência moral e psicológica, onde nem
sempre são observadas pelos familiares como atos de violên-
cia, mas que refletem no desenvolvimento psicológico dos
filhos.
O art. 1º da Lei nº 12.318/2010 dispõe sobre a aliena-
ção parental. O art. 2º, considera uma prática que alia a inter-
ferência dos genitores, avós ou outros adultos responsáveis
pela criança ou o adolescente sobre sua formação psicológica
por meio de repúdio à figura do outro genitor. Observa-se que

96
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a alienação parental se constitui uma forma de manipulação


da qual a criança ou adolescente tornam-se vítimas de um dos
genitores, acarretando prejuízos de ordem mental e social.
Para Freitas (2015), vale salientar:

Trata-se de um transtorno psicológico caracteri-


zado por um conjunto sintomático pelo qual um
genitor, denominado cônjuge alienador, modifica
a consciência de seu filho, por meio de estraté-
gias de atuação e malícia (mesmo que inconsci-
entemente), com o objetivo de impedir, obstacu-
lizar ou destruir seus vínculos com o outro geni-
tor, denominado cônjuge alienado. Geralmente,
não há motivos reais que justifiquem essa condi-
ção. É uma programação sistemática promovida
pelo alienador para que a criança odeie, des-
preze ou tema o genitor alienado, sem justifica-
tiva real.

O art. 2º da Lei nº 12.318/2010 descreve formas que


estabelecem condutas de alienação parental, onde o genitor
procurar criar meios de deixar a imagem do outro genitor nega-
tiva perante o filho bem como mudança de endereço sem jus-
tificativa, omissão de informações pessoais da criança (esco-
lares e médicas, por exemplo), e falsas denúncias contra o
genitor.
Na maioria das vezes a alienação parental ocorre de
forma intencional, causando modificações nas emoções do ali-
enado e da criança e, futuramente, produzindo um sistema de

97
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cumplicidade e compreensão da conduta do alienante, a cri-


ança pratique atos que visam a aprovação do alienante que
joga e chantageia sentimentalmente o menor (FREITAS,
2015, p. 26).
A alienação parental surge como um resultado dos con-
flitos familiares que já podiam ser verificados antes mesmo da
dissolução dos vínculos conjugais e afetivos. A separação só
evidencia o que já passava despercebido na família que com
o rompimento dos laços matrimoniais onde ante eram movidos
pelo amor e com a separação são movidos pelas mágoas e
frustração, nas quais são repassadas aos filhos de diferentes
maneiras, onde a mais comum é difamar um dos genitores.
Rizzardo (2019), descreve essa situação:

Incontáveis são as investidas e justificações fal-


sas e imaginárias para afastar os filhos do pai ou
da mãe, como o fato de cuidados que necessi-
tam, a alimentação, a convivência com amigos, a
necessidade da presença do outro progenitor
nos momentos de entrega e recebimento, o horá-
rio de banho, o ambiente da residência do proge-
nitor, a convivência com outra pessoa, e assim
por diante, de modo a criar uma visão deturpada
e irreal, convencendo da impossibilidade de se
manter os contatos e a convivência com outro
progenitor. [...] É desencadeado um processo de
destruição, de desmoralização, de descrédito do
ex-parceiro perante os filhos, numa verdadeira
‘lavagem cerebral’, com o fim de comprometer a
imagem do outro genitor. Narram- se maliciosa-
mente fatos que não ocorreram ou não aconte-
ceram na forma descrita. O filho é programado

98
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

para odiar e acaba aceitando como verdadeiras


as falsas memórias que lhe são implantadas.
Tudo para afastá-lo de quem ama e de quem
também o ama.

As consequências mais evidentes da alienação é a que-


bra da relação com um dos genitores, onde os filhos crescem
com o sentimento de ausência, por parte de um dos genitores
(MADALENO; MADALENO, 2018, p. 48). A discussão em
torno da alienação parental no âmbito jurídico é fruto das
mudanças pelas quais as famílias e a própria sociedade vêm
passando, tomando novos rumos para as relações entre pais
e filhos, incluindo aquelas realizadas a partir do rompimento
de laços afetivos entre cônjuges.
O ordenamento jurídico pátrio (regras ou principios) traz
elementos que estabelece normas quanto a da alienação
parental. A lei fala que a suspeita de ocorrência de alienação
deve ser apurada com prioridade e com rigor pela justiça, seja
incidentalmente numa ação ou mesmo por meio de uma ação
autônoma de natureza declaratória (ARAÚJO JUNIOR, 2019,
p. 53).
O amparo legal acerca do tema está firmado em dife-
rentes instrumentos, incluindo a doutrina da proteção integral
presente na CF e no ECA, bem como na esfera civil, conside-
rando aspetos relacionados ao poder familiar e guarda, que
serão aprofundados na sequência.

99
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Constituição Federal, defende a uniformidade entre


homens e mulheres nas relações conjugais, delegando ao
casal o direito de sustento material e moral dos filhos, o que
evidencia a responsabilidade dos pais ou responsáveis no pro-
cesso de educação e no desenvolvimento dos filhos, de modo
que condições possam surgir para que os filhos cresçam com
dignidade e sem traumas, cumprindo o dever de assistir, criar
e educar (art. 229).
O art. 227, da Constituição Federal busca assegurar o
melhor interesse quanto se trata de criança, sendo que a con-
vivência familiar assegura não só a formação de laços afeti-
vos, mas contribui para a formação mental e social do mesmo.
Ao frear a alienação parental em capítulo especial destinado à
proteção da família, a Constituição Federal, compreende que
uma convivência saudável e harmónica com ambos os genito-
res e as respetivas famílias, ainda que desfeita a relação con-
jugal, é essencial para a formação da criança e, consequente-
mente, da sociedade (NUCCI, 2018, p. 604).
Apesar de não ser algo novo, somente em 2010 a alie-
nação parental recebeu o tratamento merecido voltado para a
relação de afeto entre pais filho. A partir da publicação da Lei
nº 12.318, respondendo a uma realidade que molda a socie-
dade atual, na qual cada vez mais esta se tornando comum o

100
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

termino de relacionamentos e disputas de guarda, aumen-


tando ainda mais as chances de ocorrência da alienação
(ARAÚJO JUNIOR, 2019, p. 53).
Esta lei destaca uma maior visibilidade quanto se trata
de alienação parental:

A Lei 12.318/2010 represente o marco histórico


que introduz na legislação nacional um meca-
nismo jurídico de eficiente combate à síndrome
da alienação parental e finque definitivamente na
raiz da consciência brasileira a existência desta
tormentosa chaga criada pela maldade humana
e que faz com que genitores vivam sempre ator-
mentados pela prática corrente da síndrome da
alienação parental, ela ainda trafega livremente
no âmago das famílias brasileiras, sem que no
passado a sua existência tivesse sido claramente
identificada, e sem que seus males tivessem sido
igualmente identificados e em toda a sua exten-
são (MADALENO; MADALENO; 2018, p. 68).

No passado, o ordenamento jurídico tratava de forma


velada a alienação parental, considerando os dispositivos
legais de proteção as crianças e adolescentes. No entanto, a
Lei nº 12.318, foi um progresso na realidade do processo de
amparo às crianças e adolescentes, afirmando a questão e
dando maior possibilidade de prevenção e combate à aliena-
ção. Entretanto, não representa uma solução decisiva para a
questão, pois as relações que ocorrem entre genitores e filhos
podem causar na prática da alienação (VIEIRA, 2015, p. 200).

101
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A partir da lei, amplia-se a análise das possibilidades da


existência da alienação parental em processos que envolvam
a guarda e o direito de convivência com relação ao filho menor,
passando o juiz a ter maiores condições de identificação das
alegações (FIGUEIREDO; ALEXANDRIDIS, 2014, p. 45). No
art. 2º, além do conceito, é apresentada uma lista de formas
concretas de alienação parental, procurando apresentar seus
mecanismos de ocorrência:

Art. 2º. Considera-se ato de alienação paren-


tal a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou indu-
zida por um dos genitores, pelos avós ou
pelos que tenham a criança ou adolescente
sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause preju-
ízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas
de alienação parental, além dos atos assim
declarados pelo juiz ou constatados por perí-
cia, praticados diretamente ou com auxílio de
terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da
conduta do genitor no exercício da paterni-
dade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade paren-
tal;
III - dificultar contato de criança ou adoles-
cente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regula-
mentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informa-
ções pessoais relevantes sobre a criança ou
adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço;

102
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor,


contra familiares deste ou contra avós, para
obstar ou dificultar a convivência deles com a
criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante,
sem justificativa, visando a dificultar a convi-
vência da criança ou adolescente com o outro
genitor, com familiares deste ou com avós
(BRASIL, 2010).

A positivação do tema a partir da Lei nº 12.318/2010


veio traçar condutas consistentes em alienação e deu a res-
pectiva contrapartida, ou seja, quais as atitudes à disposição
do juiz para combater a alienação. Isso não era observado an-
teriormente, o que gerou um avanço à aplicação da justiça,
facilitando a tarefa dos operadores do direito na verificação de
sua ocorrência (MALUF, 2016, p. 649).

No art. 3º da Lei, verifica-se que ficou ampliada a noção


de negação e descumprimento de direitos da criança quando
ocorre ato de alienação, indo contra ao processo de convivên-
cia familiar saudável e prejudicando as relações de afeto com
genitor ou o grupo familiar, o que constitui uma forma de vio-
lência e abuso contra a criança ou o adolescente, contrariando
os deveres do poder familiar ou que estejam associados a
guarda. Nessa mesma perspectiva Azevedo (2019), salienta:

103
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

[...] a lei mostra aspectos negativos que produ-


zem a alienação parental, utilizando-se, princi-
palmente, de expressões “dificultar”, “omitir”, fal-
sear, “obstar” e “mudar”, mostrando o caráter
doloso da atuação infratora. A prática de ato de
alienação parental fere direito fundamental da
criança ou do adolescente de convivência fami-
liar saudável, contrariando a necessidade de
afeto nas relações familiares, ao mesmo tempo
em que representa abuso moral e descumpri-
mento de deveres ligados à autoridade parental
ou relativos à guarda e cuidados devidos ao
menor e ao adolescente, assenta o art. 3º da lei
analisada.

O Brasil possui um conjunto de normativas para valida-


ção dos direitos que são de suma importância para as crianças
e adolescentes, como por exemplo, a Constituição Federal de
1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei da Alie-
nação Parental e da Guarda Compartilhada.

A Lei nº 12.318/2010, nasceu para cercear e punir os


atos de alienação parental que se fazem presente, especial-
mente nos casos de divórcio litigioso, sendo assim a Lei
13.058/2014 que expõe a Guarda Compartilhada como regra,
tem a capacidade de servir como um “antídoto” para alienação
parental, já que os genitores terão equilibrados seus papéis na
vida dos filhos.

3.4 O PODER JUDICIÁRIO E SUA ATUAÇÃO EM RELAÇÃO


A ALIENAÇÃO PARENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

104
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O ano de 2020 foi um ano histórico vivido pela humani-


dade, mais precisamente a partir do mês de março, quando
ocorreu o surto da pandemia da COVID-19, que mediante
isso, gerou mudança na vida de todos, forçando a população
a um isolamento social (IBIAS, SILVEIRA; RÜBENICH, 2020).
Com o decorrer do período pandêmico, o direito da fa-
mília entrou em cena, pois, conforme elas foram sendo atingi-
das pelo Coronavírus, foram tornando-se notórios os proble-
mas decorrentes do isolamento e convívio social.
A pandemia da COVID-19 colocou as famílias em iso-
lamento nas suas casas por tempo integral, os lares tornaram-
se abrigos aos quais deveriam ser seguros, mais além das di-
ficuldades e dos riscos inerentes à pandemia, crescente foram
os problemas desencadeados través dela (PASE; PARADA;
PATELLA, 2021). Segundo Silveira e Thomé (2021), com o
avanço dos casos do COVID-19 diversas implicações surgi-
ram no Direito de Família, em especial, na realidade dos filhos
de pais separados, uma vez que o isolamento social não per-
mitia esse encontro em caso de pais separados.

A convivência diária na mesma residência tem


sobrecarregado muitos casais brasileiros du-
rante a pandemia do novo coronavírus. [...] Além
disso, tem a situação sociopsicológica dos ca-
sais. Com muito tempo dentro de casa, todos os

105
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

problemas acabam sendo ressaltados (RODRI-


GUES. Apud GUIMARÃES. 2020).

Para Teixeira (2019), a pandemia impactou profunda-


mente no direito de família, principalmente no que se refere
relação familiar:

Diante das medidas de segurança que reverbe-


raram no Poder Judiciário, muitos ex-casais se
viram diante da necessidade de se restabelecer
o diálogo (mesmo que forçadamente) para nego-
ciarem novas possibilidades para esse período,
pois precisavam encontrar soluções que prote-
gessem os filhos e, em alguma medida, atendes-
sem às expectativas de convivência entre pais e
filhos. Para aqueles que não conseguiram resol-
ver consensualmente, o Poder Judiciário foi pro-
curado para dar solução aos conflitos. As deman-
das que proliferaram nesse momento se referem,
principalmente, ao exercício da convivência fami-
liar.

A convivência familiar é um direito fundamental, pre-


visto no art. 227 da Constituição Federal de 1988 e no art.19
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):

Artigo 227 – “É dever da família, da sociedade e


do Estado assegurar à criança, ao adolescente e
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao la-
zer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão”.

106
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Artigo 19 – “Toda criança ou adolescente tem di-


reito a ser criado e educado no seio da sua famí-
lia e, excepcionalmente, em família substituta,
assegurada a convivência familiar e comunitária,
em ambiente livre da presença de pessoas de-
pendentes de substâncias entorpecentes”.

Para solucionar a falta do genitor em relação a visita ao


filho em meio a pandemia e o isolamento social temos como
exemplo um caso no Paraná. Conforme, a decisão proferida
pelo Tribunal de Justiça do Paraná:

Diante do conhecimento público e notório quanto


à pandemia do Coronavírus (COVID-19) que as-
sola o mundo e o país, bem como considerando
as diversas restrições determinadas pelos pode-
res públicos para fins de contenção da prolifera-
ção do vírus (orientação de isolamento, evitar
aglomerações, suspensão das atividades de
shoppings centers, cuidados na higienização,
etc.), oportuno acolher o pedido formulado, a fim
de restringir, temporariamente e excepcional-
mente, o direito de visitação paterno, de modo a
evitar que a criança seja retirada do seu lar de
referência neste período, expondo-se à contami-
nação do vírus, assim como os seus familiares e
demais pessoas do seu convívio social
(TJPR,2020).

A Pandemia da COVID-19 trouxe grande impacto no di-


reito de família, principalmente no que diz respeito à convivên-
cia familiar garantida constitucionalmente. O convívio entre
pais e filhos constituiu a regra, e deve ser mantido seguindo

107
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

os protocolos de prevenção. Porém, os alienadores se apro-


veitaram dessa situação para praticarem atos de alienação pa-
rental, e impedir o convívio do menor com o outro genitor.
Após, essas contradições, os Tribunais têm se mostrado mais
flexíveis no que tange a convivência familiar em tempos de
pandemia, com o objetivo de priorizar o melhor interesse da
criança e do adolescente (PASE; PARADA; PATELLA, 2021).
Uma vez que ao observamos os protocolos de proteção
e cuidados repassados pelo Ministério da Saúde, o isolamento
tinha como principal objetivo o de buscar mitigar os riscos de
contaminação e a infecção de mais pessoas (BRASIL, 2020).
Podemos observar dois direitos sendo diretamente afetados,
os direitos à convivência familiar, sendo este um dos direitos
primordiais de todas as crianças e adolescentes (SILVEIRA;
THOMÉ, 2021), e o direto à saúde, uma vez que se contami-
nando, estando em outros espaços e contaminando mais pes-
soas de forma irresponsável, poderia afetar direta e indireta-
mente a vida de outras pessoas. A retirada desses causam
vários impactos negativos em todas as fases da vida das víti-
mas de alienação parental.
Dias (2020), aborda e chama a atenção para as expres-
sões “direito de convivência” e “direito de visitas”, de acordo
com o autor, ambas são confundidas e utilizadas de forma
confusas, uma vez que, a última, é amplamente inadequada,

108
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o que por sua vez não torna o poder familiar limitado. Com
isso, a locução “de visitas”, torna a relação entre pai e filho
seria “mecanizada”, ou seja, uma tarefa a ser realizada com
horário estabelecido e acompanhado.
Para Negrelli (2020), um dos fatores que contribuiu para
que situações de alienação parental fossem mais corriqueiras,
foi o decreto de lockdown, no pico mais elevado de índices de
contaminação, o que a advogada atribui sendo uma manobra
de genitores de má fé, uma vez que a criança ou adolescente
fique sem o contato físico, até tornar-se a situação natural e a
pessoa seja retirada inteiramente da vida do filho.

A questão é muito sensível e merece especial


atenção. É preciso verificar se esse afastamento
específico é realmente necessário para preser-
var a saúde do menor ou não. Em caso positivo,
deve ser utilizada toda a tecnologia disponível
para minimizar a distância (internet, smartpho-
nes etc) entre pais e filhos, bem como precisam
ser verificadas futuras compensações. (PE-
REIRA, 2020).

Conforme mencionado antes, a alienação parental no perí-


odo pandêmico tornou-se o seu agravamento perceptível, com
a diminuição de visitas resultando em um maior período em
casa somente com um dos pais, de acordo com o Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul aumentaram em 52%, no ano de
2020, com relação ao ano de 2019. (RIO GRANDE DO SUL,

109
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2021). Para (OLIVEIRA, 2015), a alienação parental é uma ati-


vidade que atribuída a pai ou mãe, onde uma das partes en-
volvidas induzem a criança para que a mesma odeie um de
seus genitores.
Para evitar esse tipo de manipulação, o poder legisla-
tivo sancionou a Lei da Alienação Parental Nº 12.318, de 26
de agosto de 2010, que aborda normas regulamentadoras
com o objetivo de resguardar o menor incapaz um acompa-
nhamento e ajuda psicologicamente, aos quais afetam direta-
mente as crianças mediante ameaças, brigas e discussões.
A ofensa do pai à mãe e vice versa, futuramente serão
sentidas pelos filhos como sendo vítimas do ataque, mesmo
que não tenham percepção do ocorrido naquele momento,
pois naturalmente os filhos possuem vínculos afetivos com os
pais. (STORCH, 2013).
As questões psicológicas influenciam diretamente na
preferência de um lado ao qual apoiar, a criança não consegue
discernir o que é certo ou errado, pois ainda não detêm de
maturidade e entendimento para compreender situações de-
sarmoniosas, audiências, reuniões, entrevistas o que muitas
vezes o transforma em uma criança desorientada e com pro-
blemas psíquicos aos quais só serão expostos e ou resolvidos,
quando suas relações interpessoais começarem a acontecer.

110
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É por isso que, mesmo que o filho mostre rejei-


ção ao pai - por exemplo, porque ele abandonou
a família ou porque não pagou pelo sustento do
filho - todas essas rejeições se transformarão,
sem saber, em prejuízos pra ele mesmo. Qual-
quer ofensa ou julgamento de um dos pais para
o outro pode contribuir para essa dinâmica, que
é especialmente prejudicial para as crianças. O
mesmo acontece quando o juiz toma partido a
um dos pais, fortalecendo o conflito interno da
criança. (STORCH, 2013).

Com o aumento dos divórcios nos relacionamentos,


consequentemente aumenta a busca pela intervenção judicial
para uma possível a solução dos conflitos familiares, onde um
dos pontos principais acontece quando o casal possui filhos e
ambos lutam pela guarda do mesmo, resultando muitas vezes
em práticas de alienação parental (DUARTE, 2012).
Dessa forma, o Poder Judiciário passa a fazer parte
destes acontecimentos mal resolvidos, nos quais geram insa-
tisfação de ambas as partes, pois com o fim do relacionamento
o que resta são as mágoas, onde até mesmo ser perceberem
acabam usando seus filhos para atingir seus ex-companheiros
(LEITE, 2015).
Se o afastamento do filho já não é uma situação fácil a
pandemia trouxe um afastamento de forma obrigatória por
conta do isolamento. Logo no início da pandemia o isolamento,
baseado na quarentena, o distanciamento social e as medidas

111
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de contenção comunitárias foram medidas usadas pra impedir


o avanço do vírus (WILDER-SMITH; FREEDMAN, 2019).
As pessoas com doenças contagiosas são separadas
daquelas não infectadas, onde este isolamento evita a trans-
missão do indivíduo infectado para o não evitando sua expo-
sição a condições contaminantes (GOLDIM, 2020).
O que aconteceu é que muitos genitores se aproveita-
ram da situação em que os filhos estavam longe de um dos
pais e aquele detentor da guarda da criança no momento pode
influenciar a criança de forma negativa para o outro genitor,
passando insegurança, a ansiedade, e conflitos emocionais in-
ternos (ULLMANN; CALÇADA, 2020). Teixeira (2019), relata
que a pandemia impactou profundamente no direito de família,
especialmente no que diz respeito à convivência familiar:

Diante das medidas de segurança que reverbe-


raram no Poder Judiciário, muitos ex-casais se
viram diante da necessidade de se restabelecer
o diálogo (mesmo que forçadamente) para nego-
ciarem novas possibilidades para esse período,
pois precisavam encontrar soluções que prote-
gessem os filhos e, em alguma medida, atendes-
sem às expectativas de convivência entre pais e
filhos. Para aqueles que não conseguiram resol-
ver consensualmente, o Poder Judiciário foi pro-
curado para dar solução aos conflitos. As deman-
das que proliferaram nesse momento se referem,
principalmente, ao exercício da convivência fami-
liar aos alimentos, temas que serão abordados
nessa oportunidade.

112
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Silva et al., (2021), observou um aumento das deman-


das relacionadas à guarda e visitas no Judiciário, onde muitos
genitores não conseguem estabelecer um diálogo sadio e que
possam beneficiar os filhos, usando muitas vezes a pandemia
como uma forma de praticar alienação parental.
Contudo, é necessário estabelecer um meio no qual a
criança não venha ser a prejudicada da convivência familiar,
na qual não venha passar por traumas e nem por difamações
por parte de um dos genitores, onde a forma mais parceira de
resolver essa situação seria a criança passar um tempo na
casa do pai e outro tempo na casa da mãe (MIGUEL FILHO,
2020, p. 61).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos através deste que embora a legislação es-


teja pronta para nos auxiliar devemos sempre estar aptos às
mudanças. A pandemia que nos afetou de forma direta, nos
levou a analisarmos por outros ângulos a alienação parental
como também outros diversos temas.
É interessante salientarmos a importância de sempre
estar prezando em primeiro lugar a saúde, segurança e bem-
estar da criança envolvida em processos como esse. A prote-
ção integral contra-argumentos e justificativa improváveis

113
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como se observou no decorrer deste trabalho, utilizando-se


neste caso da pandemia como forma de prática de alienação
parental é uma prática embora que ilegal é muito comum no
cotidiano das pessoas cabendo as autoridades envolvidas no
processo identificar e combater esta questão.

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121
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4
CRIMES CIBERNÉTICOS: PROTEÇÃO À PRIVACIDADE E
INTIMIDADE NA INTERNET

CYBERCRIME: PROTECTION OF PRIVACY AND INTI-


MACY ON THE INTERNET

Sara Alves da Costa7


Williane Tibúrcio Facundes8

COSTA, Sara Alves da. Crimes cibernéticos: proteção à pri-


vacidade e intimidade na internet. Trabalho de Conclusão
de Curso de graduação em Direito – Centro Universitário UNI-
NORTE, Rio Branco, 2023.

7
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
8
Docente do curso de Bacharelado em Direito pelo Cento Universitário
Uninorte. Graduada em Direito pela U:Verse. Especialista em Psicopeda-
gogia. Graduada em Letras Vernáculas pela UFAC.

122
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

A presente obra pretende dissertar sobre a proteção à privaci-


dade e intimidade na esfera virtual, visto que, nos dias que
correm, os vínculos sociais praticamente se converteram em
digitais. Contudo, em soma com as vantagens sucederam-se
alguns aspectos negativos, como a aparição de uma zona cri-
minológica, classificados como crimes cibernéticos. Assim, a
vulnerável privacidade e intimidade, estas prevista no artigo
5º, X da Constituição Federal de 1988, em soma com a es-
cassa legislação penal virtual brasileira, acabou por corroborar
a ocorrência de diversas infrações, transformando a privaci-
dade nas telas um elemento de preocupação para as autori-
dades judiciárias. Com essa percepção, foram criadas as leis
n.º 12.737/12 e 12.965/14, conhecidas como lei Carolina Di-
eckmann e Marco Civil da Internet, e ainda, a lei n.º
13.709/2018, Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), na ten-
tativa de sanar essa adversidade.

Palavras-chave: crime; privacidade; intimidade; cibernéticos;


lei; proteção.

123
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

The present work intends to discuss the protection of privacy


and intimacy in the virtual sphere, since, nowadays, social
bonds have practically been converted into digital ones. Howe-
ver, in addition to the advantages, some negative aspects have
followed, such as the appearance of a criminological zone,
classified as cybercrime. Thus, the vulnerable privacy and inti-
macy, these foreseen in Article 5, X of the Federal Constitution
of 1988, in addition to the scarce Brazilian virtual criminal le-
gislation, ended up corroborating the occurrence of several in-
fractions, transforming privacy on the screens an element of
concern for the judicial authorities. With this perception, laws
no. 12,737/12 and 12,965/14, known as Carolina Dieckmann
law and Marco Civil da Internet, were created, as well as law
no. 13,709/2018, General Law of Data Protection (LGPD), in
an attempt to remedy this adversity.

Keywords: crime; privacy; intimacy; cyber; law; protection.

124
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Este artigo aborda sobre crimes que, antes praticados


no ambiente real, agora também são praticados na esfera vir-
tual, chamados crimes cibernéticos, cometidos por cibercrimi-
nosos mal-intencionados que visam cometer fato tido como ilí-
cito através de um equipamento eletrônico, como o computa-
dor ou celular.
Ainda, em como essa modalidade de crime se difundiu
drasticamente com o progresso eletrônico, dando ênfase na
ofensa aos direitos fundamentais como o direito à vida privada
e intimidade, os quais ficaram cada vez mais suscetíveis, já
que os diversos ataques de criminosos nas redes, produzem
a estes nocividade.
É notória, a relevância que o direito à intimidade e a
vida privada conquistaram com o percorrer dos anos, visto
que, tornaram-se maiores as possibilidades de os internautas
terem esses direitos violados por meio de delitos na atmosfera
virtual, no meio deles, um dos que acontecem com muita fre-
quência são os relacionados a ingerência da privacidade,
como a obtenção de dados particulares, dispositivos ou vaza-
mento de conteúdo.
Esses direitos, são assegurados no artigo 5º, inciso X

125
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

da Constituição Federal, e ainda, são tidos como direitos fun-


damentais pertencentes à dignidade humana, fixados no ce-
nário dos direitos de personalidade. Mesmo com essa base
importante, buscou-se e ainda se busca gradativamente mais,
o regramento da utilização na internet, no sentido de transfor-
mar o meio mais resguardado e sossegado. Sendo assim, fez-
se essencial a fundação de leis que protegessem esses dados
informáticos.
Essa pesquisa visa analisar ainda, as soluções já criadas
pelo governo, as leis que surgiram durante os anos com a fi-
nalidade de controlar a utilização da internet e seus segmen-
tos, com o intuito de remediar os conflitos existentes nesse
meio, tais como violações de direitos de modo geral, pois
quem está conectado às redes consequentemente poderá ser
sofrente de crimes cibernéticos.
Neste âmbito, será versado sobre o surgimento da Lei
n.º 12.737/2012 – Lei Carolina Dieckmann, a qual tipificou de-
litos cometidos por dentre os meios virtuais, criminalizando de-
litos informáticos com a finalidade de solucionar os problemas
ocasionados pela lacuna legislativa envolvendo o uso de meio
cibernético.
Ainda, a Lei n.º 12.965/2014 – Marco Civil da Internet,
a qual surgiu para instituir no Brasil, princípios, garantias, di-
reitos e deveres para os utilizadores da web e a Lei n.º

126
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que


protege os dados na esfera virtual, tal qual, os direitos de li-
berdade, privacidade e personalidade do indivíduo.
Sendo assim, essa pesquisa visa estudar e aprofundar
assuntos relacionados preservação da privacidade dos usuá-
rios nas redes, além de averiguar as previsões legais, e se tais
leis são eficazes diante da transgressão a direitos.

4.1 DIREITO À PRIVACIDADE E INTIMIDADE A LUZ DO


COMPLEXO JURÍDICO BRASILEIRO

É evidente, a relevância alcançada pelo direito à priva-


cidade com o atravessar do tempo, embora a defesa jurídica
desse espaço seja um tanto recente. À vista disso, com o apri-
moramento da sociedade que foi se variando, fazendo-se pro-
gressivamente mais moderna e complexa, principalmente pe-
los avanços tecnológicos, a chance de haver a exposição do
ser humano, só aumentou. Então, fez-se precisa a formação
de leis e regras para segurar o direito à vida privada.
Dessa forma, a Lei de Imprensa nº 5250/67, gerada na
fase da Ditadura Militar, foi a primeira legislação no complexo
jurídico brasileiro que aludiu algo, mesmo que em aspecto
vago, sobre o direito à vida privada e à intimidade. Porém, foi

127
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

com a Carta Magna brasileira de 1988, que esses direitos fo-


ram declarados notoriamente por influência da Carta Magna
lusitana.
Sendo assim, somente com a Constituição Federal de
1988, que os direitos a intimidade e a vida privada foram ele-
vados a direito fundamental pertencente à dignidade humana,
pois lhe reforçou a relevância que tem esses direitos para a
sociedade. Assim, assegura em seu art. 5º inciso X, essa pro-
teção:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem dis-


tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos ter-
mos seguintes:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Esse amparo amplo da vida privada, estende-se em


mais duas outras especificas, que se trata da inviolabilidade
do domicílio e das comunicações, mencionada nos dois inci-
sos subsequentes, observemos:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, nin-


guém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial;

128
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

XII - e inviolável o sigilo da correspondência e


das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação crimi-
nal ou instrução processual penal; (BRA-
SIL,1988)

Então, a defesa da privacidade na Constituição Federal


se parte em três categorias, sendo elas: a geral, a de domicílio
e das comunicações.
Está preceituado no artigo 5º da Constituição Federal
de 1988, um amplo índice de direitos e garantias fundamen-
tais, na qual dispõem de uma enorme proteção, fazendo-se
vedada qualquer probabilidade de infringi-los, e dentre eles,
inclui-se o direito à privacidade, que na condição presente da
sociedade, encontra-se muito suscetível a violações, em razão
de diversos mecanismos digitais que brotam virtualmente, e
ainda, por ineficiência dos órgãos públicos.
Em relações a garantias fundamentais citadas acima,
Sidney Cesar S. Guerra (2017) diz:

Direitos Fundamentais são aqueles direitos que,


aplicados diretamente, gozam de uma proteção
especial nas Constituições dos Estados de Di-
reito e são provenientes de um amadurecimento
da própria sociedade no que se refere à prote-
ção destes direitos.

129
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Vale citar, a vida privada prevista na CF/88, nas pala-


vras de Moraes (2009, p. 53):

Os direitos à intimidade e à própria imagem for-


mam a proteção constitucional à vida privada,
salvaguardando um espaço íntimo intransponível
por intromissões ilícitas externas. A proteção
constitucional consagrada no inciso X do art. 5.º
refere-se tanto a pessoa física quanto a pessoas
jurídicas, abrangendo, inclusive, à proteção à
própria imagem frente aos meios de comunica-
ção em massa.

É preciso ainda enfatizar, que o direito à privacidade


não é literalmente novo, pois os Estados Unidos, já o admitia
há quase um século, como constata-se pela obra Warren e
Brandeis, chamado The right of privacy, cujo objetivo era im-
possibilitar a ingerência das comunicações informativas na vi-
vência e na dignidade das pessoas. Porém, ele nem sempre o
foi defendido assim, como Ferreira Filho (2011, p. 347), dis-
corre:

O direito fundamental à privacidade (toma-se


aqui o termo no seu sentido mais abrangente)
não foi reconhecido nas primeiras Declarações,
as do século XVIII. Entretanto, bem corresponde
ele à "liberdade dos modernos", na fórmula de
Constant, pois, corresponde a autonomia da con-
duta individual, pode-se dizer que ele somente
veio a ser apercebido como uma das projeções
da dignidade da pessoa humana, quando o de-
senvolvimento dos meios de comunicação -pri-

130
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

meiro da imprensa, vieram a ameaçar a privaci-


dade individual. Com efeito, o desenvolvimento
da imprensa e particularmente dos meios audio-
visuais de comunicação de massa, por um lado,
da informática, por outro, veio pôr em grave risco
o direito de cada um não ver exposta a sua vida
privada, e, mais, a sua vida intima à indiscrição
alheia. Inclusive a do Estado.

Como já visto, a privacidade e a intimidade são direitos


fundamentais, considerados fatores essenciais da dignidade
da pessoa humana, por isso, são vistos como componentes
da completude moral de cada indivíduo e estão inclusas nos
direitos de personalidade.
Estes direitos, são resguardados pelo Código Civil, em
seu artigo 11º, o qual disserta: “com exceção dos casos pre-
vistos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária”.
O direito à vida privada, é relatado ainda no art. 21 do
Código Civil (2002): “a vida privada da pessoa natural é invio-
lável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as pro-
vidências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrá-
rio a esta norma”.
Fora a proteção legal, a nossa Constituição ainda alber-
gou em 1992, a Convenção Americana de Direitos Humanos,
popularmente chamada de Pacto de São José da Costa Rica
(1969), que em seu artigo 11, prescreve:

131
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.1.1 ARTIGO Nº 11

Proteção da Honra e da Dignidade


1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua
honra e ao reconhecimento de sua dignidade.
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbi-
trárias ou abusivas em sua vida privada, na de
sua família, em seu domicílio ou em sua corres-
pondência, nem de ofensas ilegais à sua honra
ou reputação.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei con-
tra tais ingerências ou tais
ofensas.

Ainda também, segundo Declaração Universal de Direi-


tos Humanos, em seu artigo 12º, diz que:

Ninguém será sujeito a interferências em sua vida


privada, em sua família, em seu lar ou em sua cor-
respondência, nem a ataques à sua honra e repu-
tação. Todo ser humano tem direito à proteção da
lei contra tais interferências ou ataques.

Contudo, o nosso sistema jurídico é enfático ao prote-


ger a privacidade de cada cidadão brasileiro.

4.1.2 DISTINÇÃO ENTRE PRIVACIDADE E INTIMIDADE

É indispensável, conhecer melhor sobre a intimidade e


a vida privada, já que ambas não são sinônimas, ou seja, há
diferenças entre elas. Válido destacar também, que a nossa

132
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Lei Maior reconhece esses direitos como autônomos, pois de-


fendem situações diferentes. Então, tanto a palavra intimidade
quanto privacidade, possuem significados mais amplos.
A privacidade, pode ser vista como o gênero, da qual
dispõe como espécies a intimidade, honra e imagem das pes-
soas. Com base nisso, o professor José Afonso da Silva
(1997, p. 202), instrui que é mais adequado adotar o termo:
“[...] o direito à privacidade, em sentido genérico e amplo, de
modo a abarcar todas essas manifestações da esfera da vida
íntima e da personalidade, que o texto constitucional em
exame consagrou.”
Ainda, esse direito pode ser estipulado como a garantia
de ficar sozinho ou, de modo mais exato, o direito de ser posto
sozinho. Sob esta visão, refere-se a não intromissão do Es-
tado na vivência do cidadão, não só isso, como também, ao
poder de exigir do Estado o amparo dessa privacidade, res-
guardando o indivíduo de outras pessoas.
Deste modo, a vida privada é constituída por conteúdos
e informações, em que apenas a própria pessoa pode decidir
se as externa ou não.
No entendimento de André Ramos Tavares (2010,
p.670), “a vida privada diz respeito ao modo de ser, de agir
enfim, o modo de viver de cada pessoa”.

133
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Já conforme o Centro Haifa de Direito e Tecnologia,


(2005, pp. 1-12):

O direito à privacidade é o nosso direito de sus-


tentar um controle sobre tudo ao nosso redor, o
que engloba todas aquelas coisas que fazem
parte de nós, como nosso corpo, casa, proprie-
dade, pensamentos, sentimentos, segredos e
identidade. O direito à privacidade nos dá a habi-
lidade de optar por quais porções neste domínio
pode ser acessada por outras pessoas, e para
controlar a extensão, formato e o momento do
uso dessas informações que escolhemos para
divulgar.

No mesmo sentido, é o de Branco e Mendes (2012, p.


318):

O direito à privacidade teria por objeto os com-


portamentos e acontecimentos inerentes as co-
nexões pessoais em geral, as relações comerci-
ais e profissionais que o cidadão não almeja que
se distribua ao conhecimento público. O objeto
do direito à intimidade seriam as conversações e
os episódios ainda mais íntimos envolvendo re-
lações familiares e amizades mais próximas.

Já o direito tratado como espécie, o de intimidade, é fre-


quentemente equivocado com o da privacidade, e diz respeito
a forma de ser do sujeito, a sua personalidade ou identidade.
Reforçando-se assim, que dentro da privacidade está a intimi-
dade da pessoa.

134
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O direito a intimidade, é a tutela do que tem de mais


íntimo no ser humano, como os pensamentos, desejos, ideias
e emoções, ou seja, são os vínculos subjetivos e de cuidado
íntimo. É aquele, que procura proteger os sujeitos da visão
alheia e do entremetimento no seu ambiente íntimo, que muito
ocorre, por meio de espionagem e exposição de materiais ad-
quiridos ilicitamente.
Conforme Rene Ariel Dotti:

[...] a intimidade, por constituir o núcleo da priva-


cidade, é um sentimento, um estado de alma que
se projeta ao exterior para ser possível viver a
liberdade de amar, pensar, chorar, sorrir, orar,
enfim, de viver a própria vida e morrer a própria
morte. É, assim, manifestação do corpo, da
mente e do espírito. (1980, p. 983).

Já Paulo José da Costa Júnior (1970, p.8), conceituou


a intimidade em seu modo, como:

A necessidade de se deparar na solidão com


aquela paz e aquele equilíbrio, constantemente
envolvidos pelo ritmo da vida moderna, de man-
ter-se a pessoa, querendo, isolada, subtraída ao
alarde e à publicidade, fechada na sua intimi-
dade, a salva da curiosidade dos olhares e dos
ouvidos ávidos.

Sem findar o conteúdo, o alemão Heinrich Hubmann


produziu uma teoria que separou os direitos da personalidade

135
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em 3 (três) ramos. Por essa teoria, a força da proteção à pri-


vacidade muda conforme o espaço da personalidade abalado,
ou seja, quanto mais próximo das experiências definidoras da
personalidade e identidade do indivíduo, maior será a prote-
ção dada a esse espaço. Dessa maneira, tem-se a esfera da
publicidade, a esfera pessoal ou privada e a esfera íntima. O
Supremo Tribunal Federal adota esse posicionamento, e al-
guns doutrinadores também, como Geraldo Andrade (2015, s.
p), que relata:

quanto maior for a interferência num estabele-


cido direito, maiores terão que ser as razões que
atestem o egresso desse direito. E lembrando
que os princípios da proporcionalidade e da ra-
zoabilidade devem em todo tempo relacionar a
ponderação.

É notório, por isto, que o direito à privacidade é essen-


cial para que seja impedido a invasão de terceiros em sua vida
particular, e para que a comunidade se sustente em ordem,
podendo assim, as pessoas terem liberdade de viverem sem
medo em seus momentos íntimos e privados.

4.2 CRIMES CIBERNÉTICOS: BREVE HISTÓRICO

O significativo desenvolvimento da tecnologia fez nas-


cer na era digital uma espécie de crime que se tornou bem

136
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

recorrente na sociedade contemporânea, sendo eles: os cri-


mes virtuais ou, também apontados como crimes cibernéticos.
Segundo Paesani (2013, apud LIRA 2014, 39):

Na segunda metade da década de 1990, com a


chegada da Internet e da globalização da econo-
mia, surge uma nova espécie de crimes denomi-
nados Crimes eletrônicos ou Crimes Virtuais pra-
ticados no ambiente virtual da rede, por meio de:
e-mails, websites, ou ocorridos em comunidades
de relacionamentos na Internet, entre as quais a
mais conhecida é o Facebook.

4.2.1 CONCEITO

Frisa-se, que os crimes cibernéticos ou como também


chamados, cibercrimes, são atividades ilegais executadas na
internet, por intermédio de dispositivos informáticos, como
computadores e celulares, que podem atingir e afetar qualquer
pessoa ou empresa.
Crime Cibernético é o crime que ocorre no meio ciber-
nético. Nesses delitos o aparelho é usado como uma ferra-
menta, um alvo, de modo incidental, ou associado. É uma ati-
vidade criminosa relacionada com a utilização ilegal do com-
putador ou da rede, pelo acesso não-autorizado e roubo de
dados online que podem ser utilizados de várias maneiras con-
tra as vítimas (AGARWALL, KASUHIK, 2014, p. 02).

137
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Os crimes cibernéticos similarmente aos crimes co-


muns, são conforme Bortot (2017, p.341): “atitudes típicas, an-
tijurídicas e culpáveis, mas praticadas contra ou com a utiliza-
ção dos sistemas da informática”, ou seja, um delito efetuado
por um aparelho eletrônico, é considerado uma conduta ilícita,
sendo de interesse da maioria dos criminosos, apoderar-se im-
propriamente ou propagar dados e informações tidos como si-
gilosos ou particulares a procura de se beneficiar.

4.2.2 ORIGEM

O vocábulo cibercrime, ergueu-se no término do decê-


nio de 1990 na cidade Lyon, França, depois de realizado um
encontro com a subdivisão de um grupo das nações do G8
(grupo internacional formado pelos sete países mais avança-
dos, produtivos e industrializados do mundo), no qual debate-
ram sobre o devido assunto.
Com isso, o termo começou a qualificar as infrações pe-
nais efetuadas na esfera digital. No Brasil, praticamente no fi-
nal da mesma década, as atribulações causadas por essas
condutas infratoras passaram a ter maior relevo, pois foi
quando ocorreu a ingerência de vários sites ligados ao go-
verno, como exemplo, o Supremo Tribunal Federal.

138
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O crime virtual começou em 1982, quando aluno, cha-


mado Rich Skrenta, querendo brincar com seus amigos, criou
um vírus chamado de Elk Clone para computadores Apple2,
este produzia um poema na tela a cada cinquenta vez que o
computador era iniciado com um quadro infectado. Também,
trouxe-lhe uma inovação relevante, um método de auto propa-
gação. Na época, a sociedade estava diante de uma revolução
tecnológica que mudaria as suas vidas em diferentes sentidos.
Porém, os primeiros surgimentos relatados de delitos
informáticos, foram lá pela década de 1960. Eram atos em que
o infrator manipulava, espionava, exercia uso abusivo ou sa-
botava os primeiros computadores existentes e alguns siste-
mas eletrônicos. Logo após, conforme Junior Oliveira dita

Por volta dos anos de 1980, obteve -se um


aumento de ações criminosas de um modo ge-
ral, com o aparecimento de grandes escânda-
los, dando o exemplo, das manipulações de cai-
xas bancários, os abusos em processo de tele-
comunicação, aparecimento em grande escala
de pirataria de programas e também a pornogra-
fia infantil. (2013)

4.2.3 ALGUMAS CLASSIFICAÇÕES

Cumpre comentar, que o principal sujeito ativo que está


ligado de modo direto aos crimes cibernéticos, é o chamado
Cracker. Esse termo, refere-se a uma pessoa que discorda

139
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

com as leis e atua a todo momento em benesse própria, sendo


assim, ele costuma romper chaves de defesas de programas,
ser capaz de invadir dispositivos eletrônicos, redes e sistemas
de computação para praticar infrações e consequentemente
atingir direitos alheios.
Já o sujeito passivo nessas infrações, podem ser pes-
soas físicas e pessoas jurídicas, logo, todo indivíduo que for
atingido por alguma espécie de lesão no ambiente virtual a um
bem jurídico protegido pelo direito, será vítima de delito ciber-
nético. Neste norte, as vítimas podem apelar para a justiça
com o intuito de endossar o seu direito de reparação de dano,
e mesmo que seja não seja um assunto tão longevo no espaço
jurídico, os legisladores têm progredido nesse quesito.
Dando sequência, a indagação sobre a natureza jurí-
dica desses crimes nas doutrinas, determinam diversas clas-
sificações. Nesse viés, escritores como, Ivette Senise Ferreira
(2001) e Marcelo Xavier de Freitas Crespo (2011) afirmam que
há duas espécies.
A primeira espécie, retrata as condutas executadas
contra o sistema tecnológico, denominado de crimes informá-
ticos próprios, estes são cometidos através da informática, ou
seja, o dispositivo é mecanismo de execução fundamental,
tendo como os bens legais abalados, os dados guardados em

140
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

outra ferramenta ou a rede (como é o caso do crime de inser-


ção de dados falsos em sistema de informações, art. 313-A do
CP).
Já a segunda, são os crimes informáticos impróprios,
os quais podem ser praticados de diversos jeitos, sendo eles
por meio da rede ou não, também atingindo o mundo físico,
como são os casos dos delitos que infringem o direito à honra
e do autor, ou como estelionato, pornografia infantil e etc.

4.2.4 CASOS DE CRIMES VIRTUAIS

É inegável, a existência da grande série de crimes na


internet que ocorrem atualmente, pois ainda existem muita
falta de segurança nesse âmbito, seja pela natureza de trans-
ferência da internet, ou pela impressão de anonimato que ela
possibilita. Ao dizer de Camila Requião Fentanes da Silva
(2014, p. 47):

O fato de ser uma rede de comunicação abran-


gente e individual implica no acontecimento de
fraudes, proporcionando insegurança aos seus
usuários quanto à utilização de seus dados pes-
soais na rede, os quais podem ser roubados ou
clonados. Por ser uma rede que proporciona re-
lacionamento à distância existe a possibilidade
de criação de perfis falsos, bem como a navega-
ção anônima favorece o cometimento de vários
ilícitos.

141
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Salienta-se então, que inúmeros são os crimes cometi-


dos nessa esfera, já que as maneiras de usar ou adquirir con-
teúdo ou ainda de se expressar nas redes se expandiu, dos
quais podemos citar: estelionatos virtuais, falsificação ou furto
de dados, pornografia infantil, invasão de dispositivo informá-
tico, divulgação de segredos de terceiros, incitação/apologia
ao crime, ainda, crimes contra a honra, como a calúnia, difa-
mação e injúria, e também, há uma grande massa de plágios
na internet que acometem os direitos autorais.
Dessa forma, os principais crimes virtuais mais comuns
no Brasil. Dentre eles estão: calúnia, insultos, difamação, re-
velar segredos de terceiros, divulgação de material íntimo,
como fotos e documentos, atos obscenos, apologia ao crime,
preconceitos/racismo e pedofilia (POZZEBOM, 2015, p. 03)
Podemos citar, alguns casos de crimes ocorridos atra-
vés das redes que repercutiram nas redes. Sendo assim, um
deles ocorreu em 2017, quando a filha do ator Bruno Gagli-
asso com sua esposa Giovanna, chamada de Titi, foi vítima de
comentários e críticas racistas ao ter uma foto sua publicada
no Instagram de seu pai, por causa da cor da sua pele.
Outro episódio, aconteceu em março de 2015, quando
os dados particulares de inúmeros de passageiros da empresa

142
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

aérea britânica British Airways, acabaram invadidos sem per-


missão, após uma intromissão a reserva de dados de passa-
geiros da companhia.
Relacionado a essa categoria de infração, em fevereiro
de 2018, foram exibidos usuários e endereços de e-mail de
mais de 150 milhões de utentes do programa MyFitnessPal.
Logo depois, foi percebido que a vazadura aconteceu por ra-
zão de terem sido usados recursos de segurança que antiga-
mente já haviam sido analisados para não terem acesso per-
mitido as informações dos utilizadores da rede social de na-
moro FriendFinder Network.
Já em 2006, a modelo e apresentadora Daniela Cica-
relli, teve vazada filmagens de cenas íntimas com seu namo-
rado em uma praia na Espanha, ela iniciou com uma ação con-
tra o YouTube e o Google em 2015, para recolhessem as fil-
magens publicadas, assim, tiveram que custear uma indeniza-
ção ao casal, já que os mesmos sabiam da ilegalidade das
informações.
E o principal caso em 2012, faz surgir até a criação de
uma Lei, o caso da atriz Carolina Dieckmann que obteve seu
e-mail infectado e suas fotos íntimas divulgas na internet, com
isso em 30 de novembro de 2012 foi criada a Lei 12.737/2012,
Lei esta que será aprofundada mais adiante.

143
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Portanto, pode-se observar que é fácil violar a privaci-


dade, já que as informações particulares ficam vulneráveis,
principalmente nas mídias sociais, como por exemplo, assim
que se assina um termo de uso e de funções de um qualquer
aplicativo, pois não é difícil conter cláusulas que permitem o
uso de dados para a venda.

4.3 O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO NO


COMBATE AOS CRIMES CIBERNÉTICOS NO BRASIL.

É visível que, a privacidade e a intimidade dos indiví-


duos na rede virtual, se encontra fragilizada pelos diversos
ataques de criminosos, pois quem está conectado às redes,
consequentemente poderá ser sofredor de crimes cibernéti-
cos. Sendo assim, o direito à privacidade progrediu muito por
causa do avanço dos meios de comunicação em volume, o
que fez ganhar potência e passar a ter maior respaldo brasi-
leiro.
Com isso, no mundo atual, a percepção de privacidade
ultrapassa as concepções e ideias de isolamento. O “right to
be let alone”, tido como o direito de estar só, mostra-se falho
na coletividade, em que os meios de atentado a privacidade
percorrem lado a lado aos inúmeros e importantes desenvol-
vimentos eletrônicos.

144
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Conforme as Lições de Paesani (2013, p. 34), “esse di-


reito vem assumindo, aos poucos, maior extensão, com o
crescimento das novas técnicas de comunicação, que colo-
cam o homem numa exposição permanente”.

Já aludido acima, a legislação careceu de se atualizar


e acompanhar o progresso eletrônico, já que este não só pro-
duz benefícios, mas também malefícios em razão de sujeitos
mal-intencionados que cometem crimes, o que acabam por
provocar muita das vezes as vítimas danos irreparáveis, seja
por altos custos financeiros ou seja por danos físicos ou men-
tais, ainda, trazendo a origem de uma noção de isenção ou
impunidade aos criminosos.

Com base nessa ausência, leis foram sendo instituídas


aos poucos em nosso regulamento, embora ainda não sejam
suficientes pela demanda de infrações novas que aparecem a
cada instante nos meios cibernéticos.

4.3.1 LEI CAROLINA DIECKMANN

O sistema judiciário brasileiro observou que se se fez


cada vez mais necessária a tipificação de infrações e a defesa
jurídica da vida privada no ambiente virtual. Foi a partir dessa

145
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

direção, que criaram a Lei n. 12.737/12, nomeada como “Lei


Carolina Dieckmann”.
Essa lei, surgiu depois de um lamentável episódio com
uma atriz que teve os seus retratos íntimos divulgados na web
sem a sua permissão, o que tornou então, precisa a publica-
ção de uma lei que tipificasse os delitos informáticos, já que
havia escassez de legislação combatente para esses crimes
na época e a pressão midiática do fato ocorrido era grande.
A lei n. 12.737/12, teve seu projeto anunciado no dia 29
de novembro de 2011 e sua aprovação se deu em 2 de de-
zembro de 2012 pela presidente Dilma Rousseff. Ela veio para
modificar o Código Penal Brasileiro, com a inserção dos arts.
154-A e 154-B e a modificação dos arts. 266 e 298. O artigo
154-A, do Código Penal, disserta sobre “invasão de dispositivo
informático”. Neste artigo, insere-se as condutas e suas res-
pectivas penas:

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso


alheio, conectado ou não à rede de computado-
res, com o fim de obter, adulterar ou destruir da-
dos ou informações sem autorização expressa
ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, ofe-
rece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou
programa de computador com o intuito de permi-
tir a prática da conduta definida no caput.

146
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3


(dois terços) se da invasão resulta prejuízo eco-
nômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conte-
údo de comunicações eletrônicas privadas, se-
gredos comerciais ou industriais, informações si-
gilosas, assim definidas em lei, ou o controle re-
moto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, e multa, se a conduta não constitui crime
mais grave.
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de
um a dois terços se houver divulgação, comerci-
alização ou transmissão a terceiro, a qualquer tí-
tulo, dos dados ou informações obtidas.
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade
se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e pre-
feitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal, de Assembleia Legislativa de
Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Fede-
ral ou de Câmara Municipal;
IV - Dirigente máximo da administração direta e
indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
Federal.

Ainda, o artigo 154-B do CP, apresenta uma exceção.


Ele regula a ação penal, dizendo ser, em regra, de ação penal
pública condicionada, mas conforme prescrito, será incondici-
onada quando:

147
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A,


somente se procede mediante representação,
salvo se o crime e cometido contra a administra-
ção pública direta ou indireta de qualquer dos Po-
deres da União, Estados, Distrito Federal ou Mu-
nicípios ou contra empresas concessionárias de
serviços públicos.

Já os artigos 266 e 298 do CP, tratam sobre a Interrup-


ção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informá-
tico, telemático ou de informação de utilidade pública e falsifi-
cação de documento particular.
Relevante acrescentar, que o bem jurídico segurado
nessa lei, é o da liberdade individual, já que o tipo penal está
entre os capítulos que aborda os crimes contra a liberdade in-
dividual.
Dessa forma, finda-se que a Lei Carolina Dieckmann,
foi sancionada para assegurar a privacidade, as informações
dos indivíduos na esfera digital, além de tutelar o sigilo pessoal
e profissional.

4.3.2 MARCO CIVIL DA INTERNET

Outro ato marcante, foi a criação de uma ferramenta de


normatização que orientasse o comportamento dos internau-
tas nesse âmbito. Com esse propósito, instituíram a Lei n.
12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, a qual

148
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

veio para designar princípios, garantias, direitos e deveres


para os navegadores da internet no Brasil.
O marco civil da internet, foi legalizado em 2014, tam-
bém pela presidente Dilma Rousseff. Porém, a entrada do seu
curso se deu em 2009 e o plano de lei já tramitava a começo
de 2011 entre as câmaras legislativas.
Essa lei é uma espécie de “Constituição da Internet”, a
qual conta com 32 artigos, trazendo alguns fatores relevantes,
como: a privacidade na internet, a neutralidade no meio (alude
a concepção de que a internet deve ser compatível e igual
para todos) e ainda os registros de acesso.
Além desses, ainda versa sobre o direito dos internau-
tas, os registros de conexões dos provedores, o combate as
práticas ilícitas civil e criminal efetuadas na internet e diversos
outros. Tendo em consideração, a privacidade na internet, o
portal EBC (2014, s. p), preleciona:

Além de criar um ponto de referência sobre a


web no Brasil, o Marco prevê a inviolabilidade e
sigilo de suas comunicações. O projeto de lei re-
gula o monitoramento, filtro, análise e fiscaliza-
ção de conteúdo para garantir o direito à privaci-
dade. Somente por meio de ordens judiciais para
fins de investigação criminal será possível ter
acesso a esses conteúdos. Outro ponto da pro-
posta garante o direito dos usuários à privaci-
dade, especialmente à inviolabilidade e ao sigilo
das comunicações pela internet. O texto deter-
mina que as empresas desenvolvam mecanis-
mos para garantir, por exemplo, que os e-mails

149
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

só serão lidos pelos emissores e pelos destina-


tários da mensagem. O projeto assegura prote-
ção a dados pessoais e registros de conexão e
coloca na ilegalidade a cooperação das empre-
sas de internet com órgãos de informação es-
trangeiros. As empresas que descumprirem as
regras poderão ser penalizadas com advertên-
cia, multa, suspensão e até proibição definitiva
de suas atividades. E ainda existe a possibilidade
de penalidades administrativas, cíveis e crimi-
nais.

Dentro dessa legislação, dá-se ênfase ao art. 7º, pois o


mesmo trata diretamente a respeito dos direitos e garantias
dos usuários, acercando logo em seus primeiros incisos sobre
a inviolabilidade da vida privada e a intimidade:

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercí-


cio da cidadania, e ao usuário são assegurados
os seguintes direitos:
I - Inviolabilidade da intimidade e da vida privada,
sua proteção e indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;
II - Inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comu-
nicações pela internet, salvo por ordem judicial,
na forma da lei;
III - Inviolabilidade e sigilo de suas comunicações
privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;

O Marco Civil, ofertou uma porção de benefícios ao for-


mular normas para que uso da internet no Brasil fosse mais
adequada. Ele, gerou limites de forma generalizada da garan-
tia dos direitos das personalidades, e nesse proceder foi o con-
sequente pela progressão da proteção dos dados pessoais e

150
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

consequentemente, dos direitos fundamentais. Nessa visão,


Oliveira (2013, s. p), discursa sobre os proveitos que essa lei
trouxe consigo:

O Marco Civil define que o sigilo das comunica-


ções dos usuários da internet não pode ser infrin-
gido. Provedores de acesso à internet serão obri-
gados a guardar os registros das horas de
acesso e do fim da conexão dos usuários pelo
prazo de um ano, mas isso deve ser feito em am-
biente controlado. [...] Provedores de acesso e
aplicações não poderão ceder dados a terceiros
sem que os usuários permitam. O projeto esta-
belece proteção aos dados pessoais do inter-
nauta - nome, endereço, telefone, fotografias ou
outros que possam identificá-lo. Também será
obrigada a exclusão de
dados pessoais de usuários que termine uma re-
lação com uma aplicação na internet.

Dessa feita, o MCI ofereceu proporções legais de defesa aos


direitos de personalidade, com esse cenário trazendo consigo
um asseguramento aos dados individuais e aos direitos funda-
mentais no âmbito virtual nacional.

4.3.3 LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)

Além das legislações já presentes, todos esses princí-


pios e vários desses regramentos seriam implementados em
seguida pela Lei n. 13.709/2018, a Lei Geral de Proteção de

151
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Dados (LGPD), esta foi influenciada pelo regulamento euro-


peu de proteção de dados, sendo assim, ergueu-se para nor-
malizar o tratamento de dados pessoais, assegurando mais
ainda o direito à privacidade dos cidadãos, tencionado a pre-
servar os dados na esfera virtual, como também, os direitos de
liberdade, privacidade e personalidade da pessoa natural.
Visto que, não havia uma regulamentação especial na circuns-
tância de escapamento de dados pelo registrador civil, porém
essa situação se modificou com a entrada da LGPD.
A Lei n.13.709/2018 é uma recente referência jurídica
brasileira, a qual trouxe consigo um imenso baque, não só
para as organizações privadas, mas também para as públicas,
já que esta zela pela guarda de dados pessoais dos sujeitos
brasileiros.
A LGPD, preconiza que o oficial deve se atentar à infra-
estrutura técnicas, para assim impossibilitar imprevistos com
vazamento de dados e criar mecanismos operacionais para
que sejam evitados incidentes de segurança. Conforme con-
ceitua Rafael Fernandes na sua obra Manual Prático sobre a
Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, a LGPD é uma Lei
que (2019, p.50):

Dispõe sobre o tratamento de dados pessoais


por pessoa natural ou por pessoa jurídica de di-
reito público ou privado, com o intuito de proteger

152
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

os direitos fundamentais de liberdade e privaci-


dade e o livre desenvolvimento da personalidade
natural, inclusive por meio digital.

É uma regulamentação que traz princípios, direitos e


obrigações relacionados ao uso de um dos ativos mais valio-
sos da sociedade digital, que são os apoios de dados relacio-
nados às pessoas (Pinheiro, 2018). Desta forma, com o ad-
vento da LGPD, o Brasil começou a participar e interagir entre
os países que possuem legislação específica no que se refere
a privacidade e tutela de dados.
Na visão ampla, a LGPD tem como propósito impor uma
modificação e regulamentação nos costumes de uso de dados
pessoais, para que assim, seja preservado a emancipação e
liberdade informativa do dono de dados pessoais.
Adiciona-se que, a LGPD pretende certificar que o dono
dos dados pessoais tenha controle sobre os seus dados, e
também a ciência de que forma serão utilizados os conteúdos
pessoais por outros.
Nesse viés, a LGPD (2018) tem por princípio retratado
em seu artigo 1º, a proteção dos “direitos fundamentais de li-
berdade e privacidade e o livre desenvolvimento da personali-
dade da pessoa natural”, vejamos:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de da-


dos pessoais, inclusive nos meios digitais, por
pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito

153
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

público ou privado, com o objetivo de proteger os


direitos fundamentais de liberdade e de privaci-
dade e o livre desenvolvimento da personalidade
da pessoa natural.

Contudo, qualquer pessoa natural ou jurídica de di-


reito público ou privado que faça o tratamento de dados pes-
soais tem que estar em conformidade com os preceitos trazi-
dos pela normativa legal. Embora, haja toda segurança, ainda
existem muitas situações de exposição de dados, informações
importantes e secretas, como invasão de websites e principal-
mente em contas de redes sociais, sendo assim, é muito difícil
as vezes de seguir os rastros e descobrir os autores destes
crimes.
Ademais, a LGPD é extensível todo e qualquer trata-
mento de dados pessoais, logo, qualquer operação que utilize
dados pessoais estará regulamentado por ela, nos termos do
seu art. 5º, X:

[...] toda operação realizada com dados pesso-


ais, como as que se referem a coleta, produção,
recepção, classificação, utilização, acesso, re-
produção, transmissão, distribuição, processa-
mento, arquivamento, armazenamento, elimina-
ção, avaliação ou controle da informação, modi-
ficação, comunicação, transferência, difusão ou
extração (BRASIL, 2018)

154
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É indiscutível, de fato, a crescente massa de diversos


crimes diariamente no ramo tecnológico, pois com o passar do
tempo mais se inovam e surgem diversos modos e meios de
acessar e usar a internet. Hoje, a relação através de aparelhos
praticamente se tornou indispensável e de certa forma muito
benéfica, quando se tem proteção e é utilizado da maneira cor-
reta.
Porém, regularmente, infrações cibernéticas são come-
tidas e direitos são violados como por exemplo em casos de
revelação de segredos de terceiros, divulgação de informa-
ções íntimas, vazamento de dados importantes e sigilosos ou
senhas.
Considerando o estudo realizado, ao acontecer um
crime digital, consequentemente os principais direitos a serem
violados serão os de intimidade e privacidade, estes conside-
rados como direitos fundamentais. Sendo assim, ocorrerá a
quebra desses direitos quando há a intromissão dos seus as-
suntos na vida privada, ou exposição de fatos que afetam a
pessoa.
O direito a intimidade é a proteção que há de mais ín-
timo na pessoa como os desejos, pensamentos e ideias. Já a
vida privada, é aquela que pressupõe de pessoas que estão

155
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ligadas ao indivíduo, constituída por informações, em que só


o cidadão decide se as externa ou não.
Em vista disso, o direito à privacidade teve um grande
progresso e ganhou muita potência, passando a ter maior res-
paldo brasileiro, com leis intencionadas a tutelar a pessoa hu-
mana.
Defronte a esse cenário, leis foram criadas, como a Lei
n.º 12737/12 de Carolina Dieckmann, a de marco da internet
n.º 12965/2014 e a Lei n.º 13.709/2018, Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD), que vieram para tipificar delitos informáti-
cos, estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para
os usuários e proteger os dados na rede, além de trazer puni-
ções para tais atos infracionais.
Portanto, embora já existam essas garantias de prote-
ção, o sistema jurídico ainda necessita de atualização, pois a
realidade é que quanto mais se criam novas tecnologias e re-
des de comunicação, mais crimes surgem e mais a sociedade
se torna mártir.
Por isso, fica concludente que o ordenamento construiu
uma base, mas precisa se fortalecer e progredir ainda mais,
principalmente estabelecendo penas mais rígidas e trazendo
formas para conscientizar os cidadãos das previsões legais já

156
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

existentes. A internet não dispõe de muitas restrições, ha-


vendo desse jeito, uma maior possibilidade de inimagináveis
delitos e ofensas a direitos em seu meio.

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159
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA E SUA RE-
LAÇÃO COM A EXECUÇÃO DE PENA APÓS CONDENA-
ÇÃO EM 2ª INSTÂNCIA

PRINCIPLE OF THE PRESUMPTION OF INNOCENCE AND


ITS RELATIONSHIP WITH THE EXECUTION OF PENALTY
AFTER CONDEMNATION IN 2nd INSTANCE

Lucas Reis Oliveira9


Williane Tibúrcio Facundes10

Oliveira, Lucas Reis. Princípio da presunção da inocência e


sua relação com a execução de pena após condenação em
2ª instância. 18 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação em Direito - Centro Universitário Uninorte, Rio
Branco, 2022.

9
Discente do curso de bacharelado em direito pelo Centro Universitário
Uninorte.
10
Docente do curso de Bacharelado em Direito pelo Cento Universitário
Uninorte. Graduada em Direito pela U:Verse. Especialista em Psicopeda-
gogia. Graduada em Letras Vernáculas pela UFAC.

160
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

A pesquisa corrente a seguir, aborda uma temática de grande


relevância na contemporaneidade, principalmente devido as
modificações jurídicas sobre a execução de pena após a con-
denação em 2ª instância, ou seja, a análise que viabiliza a
adoção da execução em relação ao princípio da inocência,
avaliando as possibilidades e implicações da mutação consti-
tucional como ferramenta utilizada pelo Supremo Tribunal Fe-
deral -STF frente a interpretação do texto legal. O objetivo
deste estudo é compreender o princípio da presunção de ino-
cência e a execução da pena após a condenação em 2ª ins-
tância. O método aplicado para a realização deste estudo é
uma revisão de literatura, na qual a autora por meio de leituras
e na seleção de materiais com a aplicação de descritores que
melhor enfatizasse o tema, selecionou artigos, doutrinas, juris-
prudências e outros periódicos que foram retirados das bases
de dados Scielo e CAPES, dando o embasamento teórico a
pesquisa. Os resultados coincidiram com a sustentação da
nova interpretação do Direito em adequar o tempo e o fenô-
meno da mutação constitucional., adequando a realidade, ou
seja, a relevância dos princípios constitucionais como garanti-
dores de direitos. Concluiu-se a possibilidade de apresentar
as formas de integração do instituto com o intuito de resguar-
dar a segurança jurídica assimilada com a preservação do
princípio da inocência, por meio da reinterpretação do trânsito
em julgado.

Palavras-chave: execução; princípios; presunção da inocên-


cia; Supremo Tribunal Federal.

161
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

The present research addresses a topic of great relevance in


contemporary times, mainly due to legal changes on the exe-
cution of sentence after conviction in the 2nd instance, that is,
the analysis that enables the adoption of execution in relation
to the principle of innocence, evaluating the possibilities and
implications of constitutional mutation as a tool used by the
Federal Supreme Court - STF when interpreting the legal text.
The objective of this study is to understand the principle of the
presumption of innocence and the execution of the sentence
after the conviction in the 2nd instance. The method applied to
carry out this study is a literature review, in which the author,
through readings and in the selection of materials with the ap-
plication of descriptors that best emphasize the theme, selec-
ted articles, doctrines, jurisprudence and other journals that
were withdrawn. from the Scielo and CAPES databases, pro-
viding the theoretical basis for the research. The results coin-
cided with the support of the new interpretation of Law in adap-
ting the time and the phenomenon of constitutional mutation.,
adapting to reality, that is, the relevance of constitutional prin-
ciples as guarantors of rights. It was concluded the possibility
of presenting the forms of integration of the institute in order to
protect the legal certainty assimilated with the preservation of
the principle of innocence, through the reinterpretation of the
res judicata.

Keywords: execution; constitutional; presumption of inno-


cence; Federal Court of Justice.

162
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal Brasileira de 1988 é uma garan-


tia dos cidadãos, tratando de assuntos fundamentais e que ga-
rantam a proteção com princípios que acentuam o direito a
vida, a dignidade da pessoa humana, ampla defesa, dentre
eles o princípio da presunção da inocência, que também é de-
nominado como não culpabilidade, que acentua um recente
entendimento jurisprudencial na possibilidade de cumprimento
de pena após a decisão de segunda instância.
Antes de aprofundar a temática, o princípio da inocên-
cia não é um assunto recente, pois ele está inserido no orde-
namento jurídico brasileiro, desde a promulgação da Carta
Magna, pois dá uma imensidão de possibilidades de recursos,
para que possam ser analisados e acabassem todas as alter-
nativas. Percebe-se então, a importância do princípio, princi-
palmente quando direcionado aqueles que respondem proces-
sos na esfera penal, pois ninguém é considerado culpado até
sentença condenatória que foi transitada em julgado.
Diante ao que vem sendo abordado, qual a importância
do princípio da presunção da inocência frente a execução da
pena após a condenação em 2ª instância? O estudo demons-
tra grande nível de relevância, o que justifica o fato de ser um

163
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

assunto bem abordado na contemporaneidade frente as mu-


danças que ocorrem e da compreensão do STF na procedên-
cia da execução da pena, houve a alteração na método de in-
terpretar, mas sem a mudança do texto legal, assim, existem
questionamentos e dúvidas, o que acarreta na insegurança ju-
rídica.
O principal objetivo desta pesquisa é analisar o princí-
pio da presunção da inocência e sua relação com a execução
de pena após a condenação em 2ª instância. Outros objetivos
são almejados com a realização deste estudo, com o intuito de
contribuir com o processo de conhecimento do leitor, dessa
forma, apresentar os princípios que norteiam o processo pe-
nal, enfatizando o princípio da presunção da inocência, frente
as suas concepções e evolução histórica; identificar os precei-
tos relacionados ao devido processo legal como garantia do
princípio da presunção da inocência; avaliar os principais en-
tendimentos jurisprudenciais e o posicionamento do STF.
A metodologia aplicada na realização deste estudo é
uma revisão de literatura com referência a trabalhos já realiza-
dos, analisando doutrinadores e pesquisadores que apresen-
tam uma percepção acerca do princípio da presunção da ino-
cência e a condenação em 2ª instância, caracterizando cada
um dos institutos e a análise de cada caso e dos fatores rela-
cionados nessa conjuntura.

164
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5.1 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O PROCESSO PENAL

O processo penal é uma matéria relacionada a regula-


mentação e o direcionamento da formalidade com a aplicação
da lei na matéria penal, além de seguir diretrizes e princípios
da Constituição Federal, deste modo, a doutrina em questão,
vive em constante transformação, a fim de atender a demanda
e necessidade da sociedade, o que torna indispensável, os
princípios que norteiam o processo penal, como instrumentos
eficazes no sistema de garantias (LOPES, 2012).
Nesse viés, a partir deste momento, serão apresenta-
dos alguns desses princípios, dando embasamento ao da pre-
sunção da inocência, como objeto deste estudo, eles são nor-
teadores do direito e com a contextualização elementar que
serve na argumentação, em regra, a conduta descritiva para
que a ação possa ser conduzida, sendo cumpridos em dife-
rentes graus de consecução, na realização e a efetividade da
maior intensidade possível.
O primeiro princípio a ser apontado é o da ampla defesa
e do contraditório, sendo a garantia dada aos litigantes e aos
acusados, com o devido processo judicial ou administrativo,
com os recursos inerentes, são os princípios que integram es-
sencialmente a estrutura do diálogo no processo. O princípio
oportuniza o contraposto as partes, sendo que nenhum possa

165
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ficar isenta de apresentar suas defesas, provas e afins.


O princípio do duplo grau de jurisdição, onde o agente
acusado mantém o direito a garantia constitucional a defesa,
relacionando com o pronunciamento final do julgamento do
mérito, quando um caso é julgado em primeira instância em
determinado processo e com todos os elementos necessários,
a sentença é proferida em primeiro grau, desafiando e dispo-
nibilizando outros recursos, acentuando o princípio supramen-
cionado.
O princípio da duração razoável do processo, tem por
finalidade evitar a morosidade processual e da apreciação de
recursos, pois o ordenamento jurídico brasileiro é complexo e
a alta demanda ao sistema judiciário, o deixa defasado, e mui-
tos se arrastam por anos aguardando o trânsito em julgado, e
as demandas antigas ficam pendentes de resoluções, sem
contar as novas ações que são ajuizadas.

5.1.1 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA: ORI-


GEM, CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O Estado brasileiro tem por característica elementar,


ser democrático, partindo da ideia da igualdade, crença de que
todos os cidadãos são titulares do poder e tem direito a exer-

166
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cer sua cidadania, além da palavra social que elucida a garan-


tia da diminuição da desigualdade, a promoção da acessibili-
dade e ainda o reconhecimento de todos os direitos, sejam
eles difusos ou coletivos, assim como os individuais.
Antes de aprofundar o histórico e a evolução do princí-
pio da presunção da inocência é importante a compreensão
de seus significados, apesar de ser um ponto complexo, é con-
siderado na atuação em diferentes áreas do processo penal,
com as raízes históricas e profundas, e que condiz com o de-
ver do tratamento.
De acordo com Beccaria (2015) em sua obra sobre os
delitos e as penas, condicionou sobre o princípio da presunção
da inocência em caracterizações diretas, apontando que o in-
divíduo acusado não pode ser considerado culpado antes da
sentença do juiz e da sociedade, mas apenas a retirada da
proteção pública sobre o indivíduo após ele ter decidido que o
mesmo teria violado as normas que lhes conferem a proteção.
Para Paulino (2018) é fundamental destacar sobre o
princípio da presunção da inocência na garantia de uma ins-
trução criminal justa, sem que haja a arbitrariedade, assim
como o que proporciona ao réu o direito de se defender de
forma plena, sem que seja obrigado a produzir provas contra
si, além de caber ao Ministério Público provar sobre autoria e
materialidade.

167
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Presunção de Inocência está disposta no art. 5º, in-


ciso LVII, da Constituição Federal que é compreendida como
uma garantia constitucional de que o réu só será culpado
quando a sentença transitar em julgado, uma ferramenta de
grande relevância, preceitua e considerando culpado o acu-
sado que teve a culpa comprovada, passando pelas etapas
processuais que são garantidas.

Nesse viés, o levantamento das origens históricas do


Princípio da Presunção de Inocência, na contextualização da
dogmática jurídica brasileira, assim, a sua origem remonta o
período que já se encontrava, com o favorecimento do réu so-
bre o cometimento do crime, sendo um princípio que era apli-
cado nas civilizações antigas, cabendo ao acusado comprovar
a sua inocência ou sobreviver aos castigos que era submetido.

Da presunção da inocência se infere que não


pode haver a inversão do ônus da prova. Ao es-
tado, a quem compete a formalização da denún-
cia, cabe a produção das provas necessárias
para tanto, asseguradas ao acusado a ampla de-
fesa e o estabelecimento do contraditório. Para
haver condenação é necessário que o juízo es-
teja realmente convencido da culpabilidade do
autor, caso contrário, se infirma a presunção da
inocência, corolário do in dubio pro reo. O nome
do acusado somente pode ser lançado no rol dos
culpados após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, vale dizer, quando da sentença
não cabe mais nenhum recurso (MASCARE-
NHAS, 2020, p.78).

168
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A importância do princípio da presunção da inocência


como uma garantia do julgamento justo e com ampla defesa e
contraditório, o que torna o processo mais seguro e com pos-
sibilidades para o acusado, garantindo a liberdade até que sua
culpabilidade seja comprovada, e que até então, todos os di-
reitos sejam assegurados, devendo manter a liberdade, en-
quanto houver possibilidade de recursos.

Nucci (2020) menciona sobre a magnitude e abrangên-


cia do direito do cidadão, a comunicação como base em diver-
sos outros princípios sem os quais não poderia ser aplicado
em sua conjuntura geral, o princípio da presunção da inocên-
cia protege o indivíduo de ser submetido a situações contradi-
tórias a realidade.

Ou seja, se uma pessoa é acusada e tem o direito de


provar sua inocência, assim como o Estado tem o dever de
buscar e cumprir com suas funcionalidades, ao buscar com-
provar a autoria, mas é importante evitar danos maiores, como
submeter o acusado a situação e depois ser comprovado a
inocência, no entanto, até todos os recursos serem utilizados
em ressalva ao procedimento jurídico legal.

5.1.2 PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA: ABRANGÊNCIA E


SIGNIFICATIVIDADE

169
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Após a compreensão de alguns aspectos relacionados


com a presunção da inocência, que está previsto na Constitui-
ção Federal de 1988, além de ser um ponto imutável, ou seja,
não pode amenizar sua significatividade e importância, infe-
rindo em outras caracterizações, porém, existe a exceção de
medidas cautelares de prisão, em caso de apresentar perigo
a sociedade, a prisão em flagrante, sendo necessário a preva-
lência do interesse geral (NUCCI, 2018).
De acordo com Oliveira (2018) percebe-se a magnitude
e a abrangência do princípio da presunção da inocência e
como ele é importante aos cidadãos, a comunicação de base
em diversos outros princípios, mas sem poder ser aplicado em
sua completude, sendo considerado inocente como um ditame
constitucional, a decorrência de outros direitos, como no caso
do silêncio, o acusado se manter sem apontar algo que seja
utilizado a seu favor ou não.
No entanto, existem as exceções, com outras medidas
constritivas, como as prisões em flagrante, cautelares, que
têm o intuito de limitar a atuação do indivíduo na sociedade
para o bom andamento na apuração processual, que são me-
didas que também podem avaliar os propulsores íntimos do
investigado, isso significa, a quebra de sigilo fiscal e telefônico,

170
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dentre outras medidas que exigem a jurisdição obrigatória,


como a autorização judicial (NUCCI, 2018).

Externamente ao processo, a presunção de ino-


cência exige uma proteção contra a publicidade
abusiva e a estigmatização (precoce) do réu. Sig-
nifica dizer que a presunção de inocência (e tam-
bém as garantias constitucionais da imagem, dig-
nidade e privacidade) deve ser utilizada como
verdadeiros limites democráticos à abusiva ex-
ploração midiática em torno do fato criminoso e
do próprio processo judicial. O bizarro espetáculo
montado pelo julgamento midiático deve ser coi-
bido pela eficácia da presunção de inocência.
(SILVEIRA, 2014, 213).

O autor supramencionado entende que o estado de ino-


cência é elementar e que limita o poder de punição do Estado
em detrimento ao cidadão, o indivíduo, dando a ele a execu-
ção de uma punição apenas com a comprovação da autoria,
além de corresponder a garantia positiva complacentes com o
deslocamento do ônus da prova para quem o acusa, como o
indivíduo de ser presumidamente considerado inocente ou
não culpado, provando o contrário de que corresponde o ma-
nejo da ação penal (SILVEIRA, 2014)

Quando se fala em presunção de inocência e que não


seja considerado culpado, os princípios se diferem, tendo um
alcance mais abrangente, e que normatiza que ninguém deve

171
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ser considerado culpado sem o trânsito em julgado da conde-


nação, porém, as expressões de inocente e não culpado são
diferentes (LOPES JÚNIOR, 2020).

De acordo com Mello (2020) mesmo com o risco de


existir a impunidade de algum indivíduo que realmente seja
culpado, é fundamental se ater aos cuidados, ou seja, uma
crítica para que não seja cometida injustiça de colocar uma
pessoa inocente privado de sua liberdade, e com a realidade
vivenciada nos sistemas carcerários brasileiros, que ao invés
de modificar e prepará-lo para a ressocialização, acaba sendo
o contrário, ele sai mais apto ao crime, e fica mais complexo,
se não foi submetido a um julgamento que acentue a sentença
definitiva, tornando irreparável o dano acarretado.

Lopes Júnior (2020) crítica sobre o cumprimento provi-


sório da pena antes que ocorra o trânsito em julgado, em de-
trimento a contextualização da Constituição Federal, garan-
tindo a execução da pena, após as condenações em mérito
criminal transitada em julgado, sendo que existem as prisões
cautelares que são fundamentadas até que cessem os requi-
sitos, mas não é uma execução provisória da pena, pois exis-
tem os recursos cabíveis, em que se pode provar a inocência
do réu.

172
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5.2 DEVIDO PROCESSO LEGAL COMO GARANTIA DO


PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA

O devido processo legal relacionado a presunção da


inocência, ambos são previstos na Constituição Federal, com-
placente com o fato de que nenhum indivíduo deverá ter sua
liberdade privada ou os seus bens, sem que haja a sentença
condenatória, ou pelos prontos que já foram mencionados na
pesquisa, se tratando de duas proteções legais que estão in-
trinsecamente relacionadas, seja no âmbito formal (liberdade)
ou material (bens) (MASCARENHAS, 2018).

E na relação com o devido processo legal que compete


ao acusado que ele tenha um julgamento justo e dentro dos
preceitos legais, respeitando os direitos e as garantias que são
acentuadas no ordenamento jurídico brasileiro, como no caso
de competências, a defesa e o direito a ela, dentro de todos
os requisitos, para que ele tenha uma defesa digna.

De acordo com Brasileiro (2015) o devido processo le-


gal abrange uma série de fatores e preceitos, como o procedi-
mento ser público para que os demais cidadãos e as partes
tenham acesso, se atendo aos demais princípios, que não
cabe aprofundá-los nessa pesquisa, porém a garantia de to-

173
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos os elementos complacentes com a lei, o conjunto de ativi-


dades na verificação e demonstração que chega aos fatos re-
levantes.

E na conjuntura dessa abordagem, estão os recursos,


que elucidam os princípios, principalmente o da inocência,
pois são como instrumento voluntário de impugnação de deci-
sões judiciais.

De acordo com Brasileiro (2015) eles possuem quatro


características primordiais, que é a voluntariedade (manifesta-
ção da vontade de recorrer, na interposição do recurso); a pre-
visão legal (imprescindível na análise do cabimento); preclu-
são ou coisa julgada (deve ser interposto em dois momentos
distintos); e, o desenvolvimento do recurso na mesma relação
jurídica processual que compete a decisão impugnada.

As pessoas são falhas, incluindo os profissionais do Di-


reito, mesmo com todo o reconhecimento e conhecimento,
eles são susceptíveis ao erro, as falhas, e justamente pela
possibilidade de cometer erros, se equivocar ou ter uma deci-
são injusta, o que torna necessário o instrumento que reavalia
a decisão, seja de erro ou acerto, prestando o melhor serviço
jurisdicional.

174
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5.2.1 DAS PRISÕES E O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA


INOCÊNCIA

A privação da liberdade do indivíduo é utilizada em di-


versos países, como forma de punir o indivíduo por ter infrin-
gido a lei, uma pena que tem a necessidade de preceder da
declaração do delito, em caráter distintivo que não lhe tira o
outro traço essencial, mas apenas em detrimento a lei, em ca-
sos de necessidade de punir alguém (BECCARIA, 2015).
De acordo dom Chiaverini (2019) é importante pontuar
que a prisão é uma espécie de pena que necessita da atenção
dos institutos, para evitar erros, estipulando, aplicando e fisca-
lizando, o que se trata de uma reprimenda que lida com o di-
reito de liberdade do cidadão, sendo que passou por uma série
de reformulações, mas ainda é necessário aplicar melhorias,
como no caso da ressocialização do indivíduo que é conde-
nado.
Em se falar sobre as prisões, com relação a presunção
da inocência, as prisões cautelares são exceções, as prisões
pena são aquelas após o trânsito em julgado da sentença pe-
nal condenatória, enquanto que as mencionadas anterior-
mente, são aplicadas como forma de prevenção, cautelosa-

175
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mente, após o acusado cometer ou supostamente ter come-


tido algum delito, Fernandes (2019) faz uma breve discussão,
seguindo:

Uma medida cautelar, seja ela qual for, não tem


natureza satisfativa, mas sim instrumental. Como
o próprio nome indica, essa medida judicial é
cautelar, de modo que não tem o condão de en-
frentar o mérito principal da questão, mas, tão so-
mente, assegurar a eficácia do processo que
está (ou estará) a se desenvolver (FERNANDES,
2019).

O método é utilizado na garantia de que o processo está


em fase de desenvolvimento, sendo instaurado até que possa
atingir o objetivo sem nenhuma complexidade, em referência
à medida que tem o intuito de impedir, a destruição de provas
que sejam importantes no processo, sendo que a prisão cau-
telar, é apenas uma das diversas medidas cautelares existen-
tes.

5.2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES

O homem vem evoluindo constantemente, a criação de


leis e normas como punição inerente aos indivíduos que des-
cumprissem, o que acentua a análise de aspectos históricos

176
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

na busca de acentuar as penas no âmbito brasileiro, o que en-


seja constantes mudanças, a fim de atender as necessidades
da sociedade (THUMÉ, 2015).
De acordo com Silva e Neto (2018) as penas são as
punições pelas quais impostas pelo Estado juiz ao infrator,
elas são as consequências de determinado crime ou de con-
travenção penal que tenha sido praticado pelo autor, o intuito
da sua aplicação é prevenir e punir pelas práticas do crime,
assim como as leis que reprimem a conduta delituosa do indi-
víduo, suas sanções que privam sua liberdade, como a sus-
pensão dos direitos, surtindo efeitos para que ele seja reabili-
tado para voltar a sociedade, sem a prática de novos crimes
ou contravenções.
Jesus (2013) acredita que a pena é a sanção aflitiva que
é imposta pelo Estado, por meio do ordenamento jurídico bra-
sileiro, mais precisamente a ação penal, em que o autor da
infração é retribuído pelo seu ato ilícito, consistente a ameni-
zação do bem jurídico, o que assimila com a aplicação da pena
preventiva, seguindo com as seguintes palavras:

Na prevenção geral o fim intimidativo da pena di-


rige-se a todos os destinatários da norma penal,
visando impedir que os membros da sociedade
pratiquem crimes. Na prevenção especial a pena
visa o autor do delito, retirando-o do meio social,
impedindo-o de delinquir e procurando corrigi-lo
(JESUS, 2013, p.563).

177
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Nesse segmento, a pena é uma sanção para a maioria


dos doutrinadores brasileiros, como uma imposição por meio
da previsão legal que consiste na perda ou na restrição dos
bens ou até mesmo da liberdade, como entendimento de pri-
vação ou da restrição legal, mas a ideia também consiste na
readaptação social, em que o Estado precisa promover,
abrindo oportunidades para que o indivíduo não se torne rein-
cidente, o que ocorre justamente ao contrário do almejado.
A punição pelo crime cometido ou pela contravenção
penal que teve origem junto com a formação do meio social, o
direito assegura a paz e ordem, porém a Lei Penal inerente ao
tempo, busca a identificação de forma mais justa e adequada
com o intuito de reprimir as condutas tipificadas como crimino-
sas, progredindo pela realidade das penas, resguardando os
direitos individuais e a melhor forma da ressocialização do
apenado, no entanto, a realidade é bem diferente da contex-
tualização legal.
Diante as muitas correntes teóricas sobre as penas e
suas finalidades, elas coincidem como uma forma de evitar
que o indivíduo volte a praticar o ato ilegal, porém, a busca do
Estado por meio da imposição das penas em coibir a prática
dos novos delitos como forma de retribuir o mal praticado e
para que se possa alcançar a ressocialização do condenado,

178
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

através da punição, reprovando a conduta inadequada e que


foge do objetivo de manter a ordem e a paz social (SCHMITZ,
2021).

5.2.3 PRINCIPAIS ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS


SOBRE A PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA

O que será relatado nessa pesquisa, compete na explo-


ração e compreensão de alguns julgados do Supremo Tribunal
Federal na interpretação da presunção de inocência, investi-
gando as questões doutrinárias e jurisprudenciais que ense-
jam sobre as oscilações da compreensão e alterações que
ocorrem ao longo dos anos.
O STF é considerado o órgão máximo do Poder Judici-
ário, como o guardião da Constituição Federal de 1988, atri-
buído a ele as demais incumbências, competindo a ele diver-
sas ferramentas constitucionalmente que são previstas legal-
mente, sem que haja a pretensão de se esgotar em relação a
matéria no controle de constitucionalidade, enumerando os
métodos que buscam evidenciar os preceitos legais.
Existem muitas dúvidas devido as diversas interpreta-
ções do princípio da presunção da inocência, sem que o STF
tenha conflito com a funcionalidade desse princípio, como a
expedição do mandado de prisão em desfavor do réu que teve

179
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sua condenação a pena em segunda instância, seguindo um


dos entendimentos:

HABEAS CORPUS. SENTENÇA CONDENATÓ-


RIA MANTIDA EM SEGUNDO GRAU. MAN-
DADO DE PRISÃO DO PACIENTE. INVOCA-
ÇÃO DO ART. 5 , INCISO LVII, DA CONSTITUI-
ÇÃO. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART.
669. A ORDEM DE PRISÃO, EM DECORRÊN-
CIA DE DECRETO DE CUSTODIA PREVEN-
TIVA, DE SENTENÇA DE PRONUNCIA OU DE
DECISÃO DE ÓRGÃO JULGADOR DE SE-
GUNDO GRAU E DE NATUREZA PROCES-
SUAL E CONCERNE AOS INTERESSES DE
GARANTIA DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL OU
DE EXECUÇÃO DA PENA IMPOSTA, APÓS O
DEVIDO PROCESSO LEGAL. NÃO CONFLITA
COM O ART. 5 , INCISO LVII, DA CONSTITUI-
ÇÃO. DE ACORDO COM O PAR.2 DO ART. 27.
DA LEI N 8.038/1990, OS RECURSOS EXTRA-
ORDINÁRIO E ESPECIAL SÃO RECEBIDOS
NO EFEITO DEVOLUTIVO. MANTIDA, POR
UNANIMIDADE, A SENTENÇA CONDENATÓ-
RIA, CONTRA A QUAL O RÉU APELARA EM LI-
BERDADE, EXAURIDAS ESTAO AS INSTAN-
CIAS ORDINÁRIAS CRIMINAIS, NÃO SENDO,
ASSIM, ILEGAL O MANDADO DE PRISÃO QUE
ÓRGÃO JULGADOR DE SEGUNDO GRAU DE-
TERMINA SE EXPECA CONTRA O RÉU. HA-
BEAS CORPUS INDEFERIDO. (STF - HC:
68726 DF, Relator: Min. NÉRI DA SILVEIRA,
Data de Julgamento: 28/06/1991, TRIBUNAL
PLENO, Data de Publicação: DJ 26-11-1992
PP21612 EMENT VOL-01685-01 PP-00209, on-
line).

A interpretação acima, a decisão acerca da interpreta-


ção dos recursos especial e extraordinário que não impedem

180
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a execução provisória da pena por não possuírem efeito sus-


pensivo, a justificativa para tal, condiz com o imediato cumpri-
mento do mandado de prisão.
No Habeas Corpus de nº 126.292 de 2016, que foi jul-
gado em 17/02/2016 que em síntese, que pretendia a conces-
são da ordem, sendo proferido pelo Supremo, considerado um
marco que entendia como presunção de inocência, em que até
o julgamento do apontado acentua o entendimento, para ini-
ciar a execução da pena, aguardando que o esgotamento de
todos os recursos, enquanto que o acusado o interpusesse,
consolidando então a posição da possibilidade do início da
execução da pena, confirmada a sentença condenatória em
segundo grau, pelo órgão colegiado (BRASIL, 2016).
Finalizando, o entendimento acerca do julgamento do
Habeas Corpus, que possibilitou, em tese, o cumprimento da
pena após a condenação confirmada em juízo de segundo
grau de jurisdição, sem a necessidade, aguardando o esgota-
mento dos recursos que por ventura são cabíveis, a decisão
alterou a interpretação do que tinha sobre o princípio da pre-
sunção da inocência, postulando sobre o ponto de partida da
execução da pena após a condenação em segunda instância.
Percebe-se que o reconhecimento do princípio da pre-
sunção de inocência acentuou a importância processual e a
garantia das fases posteriores no procedimento processual,

181
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em junção aos demais princípios que já foram mencionados


até então, garante ao acusado mais uma oportunidade de de-
fesa, com a reavaliação do processo, observando as provas e
fatos.

5.3 EXECUÇÃO DA PENA APÓS CONDENAÇÃO EM SE-


GUNDA INSTÂNCIA

O entendimento sobre a execução da pena após a con-


denação em 2ª instância, relacionado com o princípio da pre-
sunção da inocência, que vem passando por diferentes mol-
dagens de alterações, e que foi reformado com a ideia de não
cabimento da execução da pena antes do trânsito em julgado,
mas e após? Como pode ser relacionado o princípio tendo to-
dos os recursos cabíveis esgotados e com a sentença conde-
natória?
Santos e Miranda (2018) em suas pesquisas menciona-
ram que recentemente a Suprema Corte em decisão recente
e histórica reconheceu a possibilidade de antecipar a execu-
ção da pena com a sentença penal condenatória em segunda
instância, ou seja, o Habeas Corpus que foi apresentado no
estudo, estipulou e acarretou uma série de discussões e críti-
cas dentre os doutrinadores.
Não existe o direito absoluto, ou seja, mesmo que em

182
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

caráter fundamental, pois a presunção da inocência pode ser


abrandada em conformidade a jurisprudência do STF, a rele-
vância que condiz com o anseio social, transmitindo o senti-
mento de justiça em prol da sociedade, garantindo que um
condenado tenha sua pena executada, porém, quem chega a
apreciação de todos os recursos são indivíduos com melhores
condições financeiras, o que consequentemente, leva o pro-
cesso a possibilidade de prescrever a punibilidade, acarre-
tando uma série de violação aos demais princípios constituci-
onais.
No entanto, o princípio da presunção da inocência é as-
segurado até o segundo grau em detrimento ao devido pro-
cesso legal, ampla defesa e contraditório, porém, ao ser con-
denado em segunda instância, o indivíduo poderá cumprir a
sua pena por lhe restar apenas os recursos especial e o extra-
ordinário, no entanto, a sentença poderá ser cumprida, sem
que haja interferência da presunção da inocência, mantendo o
direito de recorrer e ainda demonstrar a inocência.
Existe uma linha tênue entre os pontos positivos da exe-
cução da pena em segunda instância e o aguardo pela apre-
ciação de mais um recurso, em observação de quão complexo
é o andamento jurídico processual, o fator inicial é a possibili-
dade de acarretar determinados perigos, dentre eles, a prisão
de um inocente, podendo ser encarcerado e ter consequência

183
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

desse fato, porém geralmente, são casos recorrentes com


pessoas de menor renda.
E justamente no que foi mencionado no final do pará-
grafo anterior, os cidadãos com maior renda, ou melhores con-
dições financeiras, não cumprem suas penas, essa é a reali-
dade do país, mesmo que sejam condenados em todas as ins-
tâncias, pois eles interpõem os recursos e com a morosidade,
se veem livres da aplicabilidade, a triste realidade que a ideia
é o aprimoramento da situação.
Mesmo com todas as complexidades e divergências, o
Direito deve ser respeitado e executado, zelando pelas garan-
tias do texto Constitucional e do restante do ordenamento ju-
rídico brasileiro, em detrimento dos elementos que acentual os
preceitos sociais e democráticos, como o objeto deste estudo,
que garante direitos a favor do acusado, evitando o poder es-
tatal.
No que vem sendo demonstrado nesse tópico, enseja
com as complexidades da prisão após a condenação em se-
gunda instância que favorece apenas que pode custear os ad-
vogados e as custas processuais em recorrer decisões de
forma incessante, além de não contribuir em coibir a impuni-
dade do país, demonstrando que o direito deve ser igual para
todos, independentemente do tipo de crime que foi cometido.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defende a

184
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sustenta a tese a favor dessa nova interpretação que permite


a amenização do cenário de violação dos direitos individuais,
discorrendo do texto:

[...] o que prevê a presunção de não culpabili-


dade (artigo 5º, inciso LVII), os direitos funda-
mentais à saúde, educação, alimentação apro-
priada e acesso à Justiça. Articula com a inob-
servância de tratados internacionais sobre direi-
tos humanos ratificados pelo país – Pacto dos Di-
reitos Civis e Políticos, a Convenção contra a
Tortura e outros Tratamentos e Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes e a Convenção Inte-
ramericana de Direitos Humanos. Conforme es-
clarece, a técnica da declaração do “estado de
coisas inconstitucional” permite ao juiz constitu-
cional impor aos Poderes Públicos a tomada de
ações urgentes e necessárias ao afastamento
das violações massivas de direitos fundamen-
tais, assim como supervisionar a efetiva imple-
mentação. Considerado o grau de intervenção ju-
dicial no campo das políticas públicas, argu-
menta que a prática pode ser levada a efeito em
casos excepcionais, quando presente transgres-
são grave e sistemática a direitos humanos e
constatada a imprescindibilidade da atuação do
Tribunal em razão de “bloqueios institucionais”
nos outros Poderes. Afirma que essas condições
estão presentes e são notórias no sistema prisi-
onal brasileiro, a legitimar a atividade do Su-
premo por meio desta arguição [...] (SILVA, 2019,
p. 5).

As ações condizem com os entendimentos favoráveis


da interpretação que assegura que o condenado deverá per-
manecer em liberdade, porém, a execução da pena após o
julgamento em segunda instância, exaurindo todos os meios

185
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de defesa, sustentando que a prisão do indivíduo ocorra após


a condenação, sendo indispensável para evitar a impunidade
ou ao arrastamento do cumprimento da pena, pela morosidade
processual.

5.3.1 A DESIGUALDADE NO ACESSO AO DIREITOS

Ao tratar-se de desigualdade dentro de um contexto do


Brasil, é evidente em diversos aspectos quanto à parte: eco-
nômica, educacional, étnica e ao acesso jurídico. Ao restringir
as pesquisas ao aspecto do acesso exercido pelo cidadão co-
mum ao devido processo legal e sua relação com as prisões,
demonstra-se a chamada seletividade existente no direito pe-
nal brasileiro, algo que não é recente no âmbito penal.
Esta área que é objeto de estudos de suma importância
pela criminologia, objetivando demonstrar a diferença quanto
o tratamento do sistema penal quando aplicado a indivíduos
em desigualdade econômica, Nesta seara destaca-se estudos
primordiais como a teoria do ‘’labelling approach’’ que teve
grande repercussão, e conhecida por dar o nome do que hoje
se chama etiquetamento social, onde se busca esclarecer a
pergunta de porque os ditos crimes de colarinho branco frente
ao crimes cometidos por um indivíduo de classe econômica
inferior, de maneira comum obtém diferentes tratamentos no

186
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

processo penal.
Outro estudo de suma importância para o tema mencio-
nado, é a chamada Teoria do direito penal do inimigo de auto-
ria de Gunther Jakobs, também objetivou a pesquisa a seleti-
vidade do direito penal brasileiro no devido processo legal.
Norteando-se conforme a índice de crimes, se vislumbra uma
sociedade que dá mais atenção aos ditos ‘’crimes de rua’’ ge-
ralmente cometidos por cidadão comum, e desta forma os cri-
mes de colarinho branco, que em sua maior parte estão liga-
dos a administração pública, não obtém a mesma repercussão
perante a sociedade, muitas vezes possibilitando que aquele
que cometeu o crime volte a exercer cargo em funções da ad-
ministração pública sem nenhum alvoroço. (MATTOS,2018).
Tal ato como será demostrado no próximo tópico, é re-
flexo direto da teoria garantista do direito penal brasileiro, onde
se possibilita que aquele com maior poderio financeira consiga
acessar os seus direitos exaurindo-se todos os ritos processu-
ais.

5.3.2 EXCESSO DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS E SUA


RELAÇÃO COM A PRESCRIAÇÃO

No que concerne o princípio do devido processo legal,


em que a todos se debruça o direito de ter um processo com

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sua totalidade de etapas no que dispõe a lei, dotado de todas


as garantias constitucionais, o código de ritos no Brasil quando
se refere em âmbito penal, dispõe sobre uma vasta possibili-
dade de utilização de recursos no decorrer dos tramites, tendo
diversas brechas a ser utilizadas para se interpor novos recur-
sos
Nesse sentido, a utilização desta gama de recursos
para a mera protelação do processo, pode ser observada com
recorrência, tornando-se inegável que há um abuso do direito
de recorrer, que em sua maioria não é objeto da devida puni-
ção como prevê a lei para estes casos.
Nota-se, portanto, que este abuso do direito de recorrer
remete inteiramente a maior desigualdade e a seletividade do
direito penal brasileiro, uma vez que este ato oportuniza para
aqueles que detém maior poderio financeiro a possibilidade de
contratar os melhores defensores, uma vez que é de notório
saber em âmbito jurídico que a recorrente interposição de re-
cursos em tribunais de instâncias superiores, necessita advo-
gados experientes e por usa vez de serviço de alto valor pe-
cuniário.
Sobre este assunto, é importante o posicionamento do
Ministro da Suprema corte, Luís Roberto Barroso (2016, p. 33),
voto em Habeas Corpus 126.292/SP³:

188
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A ampla e (quase irrestrita) possibilidade de re-


correr em liberdade aproveita sobretudo aos réus
abastados, com condições de contratar os me-
lhores advogados para defendê-los em sucessi-
vos recursos. Em regra, os réus mais pobres não
têm dinheiro (nem a Defensoria Pública tem es-
trutura) para bancar a procrastinação. Não por
acaso, na prática, torna-se mais fácil prender um
jovem de periferia que porta 100g de maconha
do que um agente político ou empresário que co-
mete uma fraude milionária.

Com isso, demonstra-se que este uso desmedido de


recursos não faz interesse a todas as partes interessadas nem
ao Estado na figura da justiça. Mas tão somente ao réu de po-
derio econômico elevado.
Já demonstrado em tópico anterior, a maior parte dos
crimes de colarinho branco envolvem administração pública e
desvio de dinheiro, quando se observa o excesso de utilização
de recursos e sua relação com a prescrição, transforma-se
mais evidente que aquele indivíduo com maior capacidade de
protelar as os procedimentos afastando a possibilidade das
decisões desfavoráveis, tem maior probabilidade de ser bene-
ficiado com a figura da prescrição.

189
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante aos posicionamentos e o que foi abordado no


decorrer dessa pesquisa, os objetivos foram devidamente al-
cançados, sendo pertinente o apontamento da análise na con-
temporaneidade do ordenamento jurídico brasileiro que tem
resultados plausíveis em alterações do entendimento e a atu-
ação do Poder Judiciário, contribuindo com a aplicabilidade
das atividades jurisprudenciais.
É perceptível a importância e eficácia do princípio da
presunção da inocência, como um direito fundamental de to-
dos os cidadãos, o que abrange as condições e escolha do
tema, no sentido de assegurar a garantir que o acusado tenha
o processo justo e em conformidade com a lei, respeitando os
direitos e garantias fundamentais, assim como se ater as pri-
sões preventivas e cautelares em busca do bem e da segu-
rança dos cidadãos.
Por fim, a adequação que possibilita a execução da
pena após o trânsito em julgado, sem interferir no princípio da
presunção da inocência, além de acarretar com outros precei-
tos legais, evitando que o indivíduo seja exaurido da sua pena,
mesmo comprovado sua culpa em todas as fases recursais,
medida que impõe uma discussão entre doutrinadores e de-
mais operadores do direito.

190
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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THUMÉ, Paulo Renato. Uma abordagem acerca das penas


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reito. Universidade de Santa Cruz do Sul. UNISC. Santa Cruz
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193
Este livro reúne cinco artigos, na
área de Ciências Jurídicas,
redigidos por concludentes do
Curso de Direito da UNINORTE –
Ac, sob a supervisão do Profa. Esp.
Williane Tibúrcio Facundes
EAC
Editor .

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