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Alcides Marini Filho

mostra de artigos
(organizador)

E-book
TOMO 3

Vol. I

CIÊNCIAS JURÍDICAS
na Amazônia Sul-Ocidental

EAC
Editor
Copyright © by autores, 2024.
All rigths reserved.

Todos os direitos desta edição pertencem aos autores. Nenhuma parte desse
livro poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a autorização
prévia do organizador pelo e-mail <alcidesmf1975@hotmail.com>. A viola-
ção dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo
art. 184 do Código Penal. As informações contidas em cada capítulo são de
inteira responsabilidade dos autores, bem como o alinhamento dos textos às
normas da ABNT e da ortografia gramatical da língua portuguesa.

CAPISTA E DIAGRAMADOR
Eduardo de Araújo Carneiro
eac.editor@gmail.com

CONSELHO EDITORIAL DA OBRA


Dr. Eduardo de Araújo Carneiro
Dr. Elyson Ferreira de Souza
Me. Adriano dos Santos Lurconvite
Esp. Simmel Sheldon de Almeida Lopes
Esp. Arthur Braga de Souza
Esp. Ícaro Maia Chaim

E-BOOK

M336c MARINI FILHO, Alcides (Org.).


Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental: mostra de
artigos / Alcides Marini Filho (organizador). – 1. ed. –
Rio Branco: EAC Editor, Edição dos autores, 2024.
224 p.; il. 14,8x21 cm. Tomo III; Vol. 1. (E-Book)
ISBN: 978-65-00-96020-4
1. Ciências Jurídicas; 2. Direito; 3. Amazônia; I. Título.
CDD 340.07
SUMARIO

APRESENTAÇÃO 05
1. A LEI 13.709/18 E A IMPORTÂNCIA DOS PROFISSI- 07
ONAIS DE DIREITO COMO ENCARREGADO DE DADOS
PARA A APLICAÇÃO DA LGPD BEM-SUCEDIDA NAS
ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS
Geice Franco dos Santos
Williane Tibúrcio Facundes
2. IDADE DE CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS NOS 44
CASOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL
Leanne Rodrigues Hassem
Alcides Marini Filho
3. A TUTELA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS APÓS 80
A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL
Amanda Fabrine Brito de Carvalho
Alcides Marini Filho
4. É POSSÍVEL PREVER A RESPONSABILIDADE 115
CIVIL NO PACTO ANTENUPCIAL, PARA PERMITIR IN-
DENIZAÇÃO NO CASO DE INFIDELIDADE CONJUGAL ?
Ana Vitória de Albuquerque Borges
Alcides Marini Filho
5. O DIREITO AUTORAL E A ESCASSEZ DE REGULA- 183
MENTAÇÃO NA ÁREA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
João Antônio Schumacher de Carvalho
Williane Tibúrcio Facundes
6 AS EXIGÊNCIAS DO INSS PARA COMPROVAÇÃO 194
DE UNIÃO ESTÁVEL SÃO LEGAIS?
Karoliny Almeida Rodrigues
Alcides Marini Filho
7 É JURIDICAMENTE POSSÍVEL A FIXAÇÃO DE 233
PENSÃO ALIMENTÍCIA E GUARDA COMPARTILHADA
PARA PETS, NA DISSOLUÇÃO CONJUGAL?
Maylon Diniz Morreira
Alcides Marini Filho
“A justiça tem numa das mãos a balança em
que pesa o direito, e na outra a espada de que
se serve para o defender. A espada sem a
balança é a força brutal, a balança sem a
espada é a impotência do direito.”
Rudolf von Ihering
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

APRESENTAÇÃO

A
presente obra reúne 07 (sete) artigos de con-
cludentes do curso do direito do Centro Univer-
sitário Uninorte, sob a organização da profes-
sora especialista Alcides Marini Filho, tendo também a colabo-
ração da professora especialista Williane Tibúrcio Facundes
os quais foram escritos em coautoria com os autores e abor-
dam relevantes temas jurídicos, a saber.
Os artigos científicos aqui apresentados desempenham
um papel fundamental na expansão do conhecimento jurídico.
Eles fornecem uma plataforma para a análise ampla de ques-
tões legais, a discussão de jurisprudência recente e a contri-
buição para o desenvolvimento de teorias jurídicas. Além
disso, esses artigos auxiliam na disseminação de informações
valiosas para a comunidade jurídica, advogados, estudantes e
profissionais do direito. Eles também desempenham um papel
importante na formação de políticas e na tomada de decisões
judiciais informadas.
Os textos científicos apresentados nesta obra exploram
tópicos variados, desde questões de direitos humanos e cons-
titucionais até a análise de casos legais específicos. A pes-
quisa cuidadosa e a análise crítica são o cerne para a produ-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ção de artigos jurídicos aqui tratados que, por sua vez, contri-
buem para o avanço e a compreensão aprofundada das com-
plexidades legais em nossa sociedade.
Trata-se de uma obra coletiva e plural, que debate te-
mas interessantes à sociedade e, sem esgotar os assuntos,
promove reflexões a respeito de situações vivenciadas diaria-
mente em nosso corpo social. Daí se extrai a sua relevância.

Prof. Esp. Williane Tibúrcio Facundes


Docente do curso de direito do Centro Universitário Uninorte. Gradu-
ada em Direito pela U:Verse. Graduada em Letras vernáculas pela
UFAC. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzean-
grandense. Direito Digital pela Faculdade Metropolitana.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1
A LEI 13.709/18 E A IMPORTÂNCIA DOS PROFISSIONAIS
DE DIREITO COMO ENCARREGADO DE DADOS PARA A
APLICAÇÃO DA LGPD BEM-SUCEDIDA NAS
ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS

LAW 13,709/18 AND THE IMPORTANCE OF LEGAL PRO-


FESSIONALS AS DATA RESPONDENTS FOR THE SUC-
CESSFUL APPLICATION OF LGPD IN BUSINESS
ORGANIZATIONS

Geice Franco dos Santos 1


Williane Tibúrcio Facundes2

SANTOS, Geice Franco; FACUNDES, Williane Tibúrcio. A Lei


13.709/18 E A importância dos profissionais de direito
como encarregado de dados para a aplicação da LGPD
bem-sucedida nas organizações empresariais. Trabalho de
Conclusão de Curso de graduação em Direito – Centro Uni-
versitário UNINORTE, Rio Branco. 2024.

1
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
2
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela
U:VERSE. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzea-
grandense e Direito Digital pela Faculdade Metropolitana. Graduada em
Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre- UFAC.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente artigo tem como objetivo mostrar a


importância de ter um profissional do direito como encarre-
gado de dados dentro de uma empresa, para uma melhor apli-
cação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Objetivo.
Procedeu-se o estudo analisando a desenvoltura dos variados
ramos profissionais no cargo de encarregado de dados para
aplicar a LGPD dentro das empresas, estudando as leis, con-
ceitos e posicionamentos sobre o cargo do encarregado. Mé-
todo. Através de pesquisas bibliográficas, foi realizado a aná-
lise de como cada ramo profissional se sairia no cargo de en-
carregado de dados, para assim facilitar a decisão das empre-
sas. Resultados. Com o surgimento da Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD), surgiram novos cargos a serem ocupados
dentro das empresas, dentre eles o de encarregado de dados,
que precisa de um profissional conhecedor da lei e das normas
vigentes, para orientar o restante da equipe e passar as devi-
das informações para a Autoridade Nacional e os titulares dos
dados. Conclusão. Com isso, pode-se constatar que o profis-
sional do direito se encaixa melhor no cargo de encarregado
de dados.

Palavras-chave: LGPD; encarregado de dados; empresas;


proteção de dados; privacidade de dados.

ABSTRACT

Introduction. This article aims to show the importance of hav-


ing a legal professional as data protection officer within a com-
pany, for better application of the General Data Protection Law
(LGPD). Objective. The study was carried out by analyzing the

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

resourcefulness of the various professional fields in the role of


data protection officer to apply the LGPD within companies,
studying the laws, concepts and positions regarding the posi-
tion of the person in charge. Method. Through bibliographical
research, an analysis was carried out of how each professional
branch would perform in the role of data protection officer, in
order to facilitate companies' decisions. Results. With the
emergence of the General Data Protection Law (LGPD), new
roles emerged to be filled within companies, including data pro-
tection officer, who need a professional knowledgeable about
the law and current regulations, to guide the rest of the pro-
cess, team and pass on the necessary information to the Na-
tional Authority and data holders. Conclusion. Therefore, it
can be seen that the legal professional is better suited to the
role of data protection officer.

Keywords: LGPD; data protection officer; companies; data


protection; data privacy.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo mostrar a importân-


cia de ter um profissional do direito como encarregado de da-
dos dentro de uma empresa, para uma melhor aplicação da
Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Sabe-se que a criação da LGPD foi de extrema importân-
cia para a sociedade como um todo, acarretou muitas mudan-
ças em todos os âmbitos, principalmente para as empresas

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que precisam tratar os dados dos seus clientes, fornecedores


e funcionários, mas foi uma mudança para melhor, tendo em
vista que aplicação da LGPD trouxe mais segurança tanto
para a pessoa que cede os seus dados quanto para a empresa
que vai tratar esses dados.
Antes da criação da Lei Geral de Proteção de Dados foi
possível registrar diversos casos em que aconteceram o vaza-
mento de dados pessoais de diversas pessoas e que as em-
presas que deixaram isso acontecer não souberam bem como
prosseguir em relação a esse ocorrido. Esse foi um dos moti-
vos para a criação da lei em questão, para que as empresas
soubessem exatamente como prosseguir quando uma situa-
ção desse porte acontecesse, até porque a lei já traz quais os
cuidados a serem tomados para que algo assim não ocorra.
A principal pergunta do presente estudo é: qual a im-
portância de ter um profissional do direito com encarregado de
dados, para a melhor aplicação e desenvoltura da Lei Geral
de Proteção de Dados dentro das organizações empresariais?
Para que fosse possível responder a esse questionamento, foi
realizado muitas pesquisas bibliográficas e analisado como os
profissionais de algumas áreas se sairiam ao desempenhar a
função de encarregado de dados.
A contratação de um profissional do direito para ocupar
o cargo de encarregado é a melhor opção para as empresas,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pelo fato de que o encarregado de dados precisa conhecer


bem a lei geral de proteção de dados e todas as legislações
vigentes, pois ele irá orientar os funcionários responsáveis
pelo tratamento dos dados sensíveis, além de que ele atuará
como uma ponte de comunicação entre a empresa e a Autori-
dade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e os titulares
dos dados.
Sendo assim, é a melhor opção para exercer essas fun-
ções, pois sempre estará por dentro de todas as inovações e
mudanças nas legislações vigentes e saberá orientar da me-
lhor maneira ambas as partes envolvidas.

1.1 A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS:


PARTICULARIDADES

O principal objetivo da lei geral de proteção de dados é


proteger os direitos fundamentais de liberdade e da privaci-
dade e proporcionar o livre desenvolvimento da personalidade
da pessoa natural, demonstrando que a lei quer estar sempre
conectada com a Constituição Federal. Tem como funda-
mento, o respeito à privacidade; a liberdade de expressão, in-
formação, opinião e comunicação; inviolabilidade da honra,
imagem e intimidade; a inovação e o desenvolvimento tecno-
lógico e econômico.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.1.1 INAPLICABILIDADE DA LGPD

O foco do legislador foi se concentrar mais em situa-


ções que podem efetivamente pôr em risco o direito de priva-
cidade e a proteção dos dados dos cidadãos, por medo de a
lei ter muita abrangência e acabar diminuindo a atenção da
sua atuação.
Com isso, foi colocado de fora da lei de tratamento de
dados aqueles feitos por pessoas físicas com fins particulares,
como lista de convidados, registro de dados para facilitar aten-
dimentos médicos de urgência.
Também quando o tratamento de dados não tiver a in-
tenção de ganho, por exemplo, quando houver videoconferên-
cias, a coleta de dados de pessoas que se associam para pra-
ticar algum esporte, nesses casos a lei geral de proteção de
dados é inaplicável.
Falando dos trabalhos e pesquisas acadêmicas em re-
lação ao tratamento de dados, devem sempre estar consoante
os artigos 7º e 11 da Lei 13.709/18, que trazem o seguinte
texto:

Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente


poderá ser realizado nas seguintes hipóteses:
I - mediante o fornecimento de consentimento
pelo titular;
II - para o cumprimento de obrigação legal ou re-
gulatória pelo controlador;

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

III - pela administração pública, para o tratamento


e uso compartilhado de dados necessários à
execução de políticas públicas previstas em leis
e regulamentos ou respaldadas em contratos,
convênios ou instrumentos congêneres, obser-
vadas as disposições do Capítulo IV desta Lei;
IV - para a realização de estudos por órgão de
pesquisa, garantida, sempre que possível, a ano-
nimização dos dados pessoais;
V - quando necessário para a execução de con-
trato ou de procedimentos preliminares relacio-
nados a contrato do qual seja parte o titular, a
pedido do titular dos dados;
VI - para o exercício regular de direitos em pro-
cesso judicial, administrativo ou arbitral, esse úl-
timo nos termos da Lei n.º 9.307, de 23 de se-
tembro de 1996 (Lei de Arbitragem) ;
VII - para a proteção da vida ou da incolumidade
física do titular, ou de terceiro;
VIII - para a tutela da saúde, exclusivamente, em
procedimento realizado por profissionais de sa-
úde, serviços de saúde ou autoridade sanitária;
IX - quando necessário para atender aos interes-
ses legítimos do controlador ou de terceiro, ex-
ceto no caso de prevalecerem direitos e liberda-
des fundamentais do titular que exijam a prote-
ção dos dados pessoais; ou
X - para a proteção do crédito, inclusive quanto
ao disposto na legislação pertinente.
Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensí-
veis somente poderá ocorrer nas seguintes hipó-
teses:
I - quando o titular ou seu responsável legal con-
sentir, de forma específica e destacada, para fi-
nalidades específicas;
II - sem fornecimento de consentimento do titular,
nas hipóteses em que for indispensável para:
a) cumprimento de obrigação legal ou regulatória
pelo controlador;
b) tratamento compartilhado de dados necessá-
rios à execução, pela administração pública, de
políticas públicas previstas em leis ou regula-
mentos;

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

c) realização de estudos por órgão de pesquisa,


garantida, sempre que possível, a anonimização
dos dados pessoais sensíveis;
d) exercício regular de direitos, inclusive em con-
trato e em processo judicial, administrativo e ar-
bitral, este último nos termos da Lei n.º 9.307, de
23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem) ;
e) proteção da vida ou da incolumidade física do
titular, ou de terceiro;
f) tutela da saúde, exclusivamente, em procedi-
mento realizado por profissionais de saúde, ser-
viços de saúde ou autoridade sanitária; ou
g) garantia da prevenção à fraude e à segurança
do titular, nos processos de identificação e auten-
ticação de cadastro em sistemas eletrônicos, res-
guardados os direitos mencionados no art. 9º
desta Lei e exceto no caso de prevalecerem di-
reitos e liberdades fundamentais do titular que
exijam a proteção dos dados pessoais.

Nos dois artigos é possível saber em quais situações


podem ser feitos o tratamento de dados pessoais e o trata-
mento de dados sensíveis.

1.1.2. CONCEITOS

Conforme o artigo 5º da Lei 13.709/18 (Lei geral de pro-


teção de dados), temos os conceitos das palavras mais utili-
zadas na lei:

Dado pessoal: informação relacionada a pessoa


natural identificada ou identificável; Dado sensí-
vel: dado pessoal sobre origem racial ou étnica,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

convicção religiosa, opinião política, filiação a


sindicato ou a organização de caráter religioso,
filosófico ou político, dado referente à saúde ou a
vida sexual, dado genético ou biométrico,
quando vinculado a uma pessoa natural; Dado
anonimizado: dado relativo a titular que não
possa ser identificado, considerando a utilização
de meios técnicos razoáveis e disponíveis na
ocasião de seu tratamento; Banco de dados:
conjunto estruturado de dados pessoais, estabe-
lecido em um ou em vários locais, em suporte
eletrônico ou físico; Titular: pessoa natural a
quem se referem os dados pessoais que são ob-
jeto de tratamento; Controlador: pessoa natural
ou jurídica, de direito público ou privado, a quem
competem as decisões referentes ao tratamento
de dados pessoais; Operador: pessoa natural ou
jurídica, de direito público ou privado, que realiza
o tratamento de dados pessoais em nome do
controlador; Encarregado: pessoa indicada pelo
controlador e operador para atuar como canal de
comunicação entre o controlador, os titulares dos
dados e a Autoridade Nacional de Proteção de
Dados (ANPD); Agentes de tratamento: contro-
lador e operador; Tratamento: toda operação re-
alizada com dados pessoais, como as que se re-
ferem a coleta, produção, recepção, classifica-
ção, utilização, acesso, reprodução, transmis-
são, distribuição, processamento, arquivamento,
armazenamento, eliminação, avaliação ou con-
trole de informações, modificação, comunicação,
transferência, difusão ou extração; Anonimiza-
ção: utilização de meios técnicos razoáveis e
disponíveis no momento do tratamento, por meio
dos quais um dado perde a possibilidade de as-
sociação, direta ou indireta, a um indivíduo; Con-
sentimento: manifestação livre, informada e ine-
quívoca pela qual o titular concorda com o trata-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mento de seus dados pessoais para uma finali-


dade determinada; Bloqueio: suspensão tempo-
rária de qualquer operação de tratamento, medi-
ante guarda do dado pessoal ou do banco de da-
dos; Eliminação: exclusão de dados ou conjunto
de dados armazenados em bancos de dados, in-
dependentemente do procedimento empregado;
Transferência internacional de dados: transfe-
rência de dados pessoais para país estrangeiro
ou organismo internacional do qual o país seja
membro; Uso compartilhado de dados: comu-
nicação, difusão, transferência internacional, in-
terconexão de dados pessoais ou tratamento
compartilhado de bancos de dados pessoais por
órgãos e entidades públicos no cumprimento de
suas competências legais, ou entre esses e en-
tes privados, reciprocamente, com autorização
específica, para uma ou mais modalidades de
tratamento permitidas por esses entes públicos,
ou entre entes privados; Relatório de impacto à
proteção de dados pessoais: documentação
do controlador que contém a descrição dos pro-
cessos de tratamento de dados pessoais que po-
dem gerar riscos às liberdades civis e aos direi-
tos fundamentais, bem como medidas, salva-
guardas e mecanismos de mitigação de risco;
Órgão de pesquisa: órgão ou entidade da admi-
nistração pública direta e indireta ou pessoa jurí-
dica de direito privado sem fins lucrativos legal-
mente constituída sob as leis brasileiras, com
sede e foro no País, que inclua em sua missão
institucional ou em seu objetivo social ou estatu-
tário a pesquisa básica, ou aplicada de caráter
histórico, científico, tecnológico ou estatístico;
Autoridade nacional: órgão da administração
pública responsável por zelar, implementar e fis-
calizar o cumprimento desta Lei em todo o terri-
tório nacional.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.1.3. O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DAS


CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

Segundo o guia de boas práticas disponibilizado pelo


Governo Federal (2020), o tratamento de dados pessoais das
crianças e adolescentes devem ser realizados consoante o
disposto na Lei, especificamente na seção III que trata so-
mente sobre esse assunto.
No artigo 14 da Lei 13.709/18 traz que o tratamento de
dados pessoais das crianças e adolescentes deve ser feito em
seu melhor interesse, ou seja, tem que ser realizado para o
bem desses indivíduos.

Art. 14. O tratamento de dados pessoais de cri-


anças e de adolescentes deverá ser realizado
em seu melhor interesse, nos termos deste artigo
e da legislação pertinente.
§ 1º O tratamento de dados pessoais de crianças
deverá ser realizado com o consentimento espe-
cífico e em destaque dado por pelo menos um
dos pais ou pelo responsável legal.
§ 2º No tratamento de dados de que trata o § 1º
deste artigo, os controladores deverão manter
pública a informação sobre os tipos de dados co-
letados, a forma de sua utilização e os procedi-
mentos para o exercício dos direitos a que se re-
fere o art. 18 desta Lei.
§ 3º Poderão ser coletados dados pessoais de
crianças sem o consentimento a que se refere o
§ 1º deste artigo quando a coleta for necessária
para contatar os pais ou o responsável legal, uti-
lizados uma única vez e sem armazenamento, ou
para sua proteção, e em nenhum caso poderão

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ser repassados a terceiro sem o consentimento


de que trata o § 1º deste artigo.
§ 4º Os controladores não deverão condicionar a
participação dos titulares de que trata o § 1º
deste artigo em jogos, aplicações de internet ou
outras atividades ao fornecimento de informa-
ções pessoais além das estritamente necessá-
rias à atividade.
§ 5º O controlador deve realizar todos os esfor-
ços razoáveis para verificar que o consentimento
a que se refere o § 1º deste artigo foi dado pelo
responsável pela criança, consideradas as tec-
nologias disponíveis.
§ 6º As informações sobre o tratamento de dados
referidas neste artigo deverão ser fornecidas de
maneira simples, clara e acessível, consideradas
as características físico-motoras, perceptivas,
sensoriais, intelectuais e mentais do usuário,
com uso de recursos audiovisuais quando ade-
quado, de forma a proporcionar a informação ne-
cessária aos pais ou ao responsável legal e ade-
quada ao entendimento da criança.

1.1.4. A AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO DE


DADOS-ANPD.

De acordo com Brasil (2019), a ANPD foi criada oficial-


mente pela Lei 13.853 de 2019 para cuidar da proteção dos
dados pessoais e sensíveis, além de fiscalizar o cumprimento
da Lei geral de proteção de dados no Brasil, com um papel
amplo, principalmente, de ter caráter fiscalizatório e sanciona-
tório, exercendo também papel de natureza normativa e deli-
berativa em âmbito nacional.

18
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Tem como objetivo proteger direitos de liberdade, pri-


vacidade e livre desenvolvimento da pessoa natural. A autori-
dade nacional também cuida da interpretação da LGPD, esta-
belecendo normas para a sua implementação, também pro-
move a conscientização sobre proteção de dados pessoais
dentro do país. Conforme o artigo 55-J da Lei 13.853/19, é
competência da ANPD:

Art. 55-J. Compete à ANPD:


I - zelar pela proteção dos dados pessoais, nos
termos da legislação;
II - zelar pela observância dos segredos comer-
cial e industrial, observada a proteção de dados
pessoais e do sigilo das informações quando pro-
tegido por lei ou quando a quebra do sigilo violar
os fundamentos do art. 2º desta Lei;
III - elaborar diretrizes para a Política Nacional de
Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade;
IV - fiscalizar e aplicar sanções em caso de tra-
tamento de dados realizado em descumprimento
à legislação, mediante processo administrativo
que assegure o contraditório, a ampla defesa e o
direito de recurso;
V - apreciar petições de titular contra controlador
após comprovada pelo titular a apresentação de
reclamação ao controlador não solucionada no
prazo estabelecido em regulamentação;
VI - promover na população o conhecimento das
normas e das políticas públicas sobre proteção
de dados pessoais e das medidas de segurança;
VII - promover e elaborar estudos sobre as práti-
cas nacionais e internacionais de proteção de da-
dos pessoais e privacidade;
VIII - estimular a adoção de padrões para servi-
ços e produtos que facilitem o exercício de con-
trole dos titulares sobre seus dados pessoais, os

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

quais deverão levar em consideração as especi-


ficidades das atividades e o porte dos responsá-
veis;
IX - promover ações de cooperação com autori-
dades de proteção de dados pessoais de outros
países, de natureza internacional ou transnacio-
nal;
X - dispor sobre as formas de publicidade das
operações de tratamento de dados pessoais,
respeitados os segredos comercial e industrial;
XI - solicitar, a qualquer momento, às entidades
do poder público que realizem operações de tra-
tamento de dados pessoais informe específico
sobre o âmbito, a natureza dos dados e os de-
mais detalhes do tratamento realizado, com a
possibilidade de emitir parecer técnico comple-
mentar para garantir o cumprimento desta Lei;
XII - elaborar relatórios de gestão anuais acerca
de suas atividades;
XIII - editar regulamentos e procedimentos sobre
proteção de dados pessoais e privacidade, bem
como sobre relatórios de impacto à proteção de
dados pessoais para os casos em que o trata-
mento representar alto risco à garantia dos prin-
cípios gerais de proteção de dados pessoais pre-
vistos nesta Lei;
XIV - ouvir os agentes de tratamento e a socie-
dade em matérias de interesse relevante e pres-
tar contas sobre suas atividades e planejamento;
XV - arrecadar e aplicar suas receitas e publicar,
no relatório de gestão a que se refere o inciso XII
do caput deste artigo, o detalhamento de suas
receitas e despesas;
XVI - realizar auditorias, ou determinar sua reali-
zação, no âmbito da atividade de fiscalização de
que trata o inciso IV e com a devida observância
do disposto no inciso II do caput deste artigo, so-
bre o tratamento de dados pessoais efetuado pe-
los agentes de tratamento, incluído o poder pú-
blico;
XVII - celebrar, a qualquer momento, compro-
misso com agentes de tratamento para eliminar

20
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

irregularidade, incerteza jurídica ou situação con-


tenciosa no âmbito de processos administrativos,
de acordo com o previsto no Decreto-Lei n. º
4.657, de 4 de setembro de 1942; (BRASIL,
2019).

É plausível concluir acerca das atribuições da ANPD


que a mesma atua, principalmente, na fiscalização quanto a
implementação e execução dos prescritos na LGPD e, ainda,
permeia no processo educativo das questões da proteção dos
dados sensíveis.

1.2 OS RAMOS PROFISSIONAIS NA ATUAÇÃO DE


ENCARREGADO DE DADOS

Para uma melhor compreensão acerca da atuação dos


profissionais dos mais diversos ramos, primeiramente, serão
abordados as funções do encarregado de dados, de acordo
com o artigo 41 da Lei 13.709/18, onde descreve que suas
funções são as seguintes:

1. Aceitar reclamações e comunicações dos titu-


lares, prestar esclarecimentos e adotar providen-
cias;
2. Receber comunicações da autoridade nacio-
nal e adotar providências;
3. Orientar os funcionários e os contratados da
entidade a respeito das práticas a serem toma-
das em relação à proteção de dados pessoais; e

21
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4. Executar as demais atribuições determinadas


pelo controlador ou estabelecidas em normas
complementares. (Brasil, 2018).

Conforme isto acima, percebe-se que a figura do encar-


regado se faz muito importante e precisa-se que eles tenham
o melhor conhecimento possível sobre a lei geral de proteção
de dados, para que possam orientar corretamente os funcio-
nários tanto sobre as práticas de proteção de dados, quanto
sobre as normas trazidas dentro da lei em questão.

1.2.1 A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO RAMO DE


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO.

De acordo com Zeferino (2020), o papel do profissional


da TI na Lei geral de proteção de dados (LGPD) é gerir os
dados pessoais através de todos os procedimentos de segu-
rança no armazenamento e tratamento destes.

Percebe-se que o profissional de TI tem um papel im-


portante dentro da LGPD, o mesmo trabalha diretamente com
os dados pessoais e sensíveis, o profissional tem todo o co-
nhecimento para criar os melhores sistemas de proteção dos
dados na empresa.

Vai prever formas como o sistema poderá ser invadido

22
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e se prevenir a essas situações, além de que irá fazer a coleta


e o armazenamento dos dados da forma correta, até porque a
privacidade e a proteção dos dados é uma pauta muito impor-
tante dentro do setor da Tecnologia da Informação.

Conforme a Escola Superior de Redes (2022) “Os pro-


fissionais de TI precisam compreender os limites e possibilida-
des dos dados pessoais (nome e e-mail, por exemplo) e dos
dados chamados de sensíveis (os que envolvem etnia, reli-
gião, dados genéticos, entre outros). A partir disso, elaborar
estratégias, sites e dispositivos digitais pautados, principal-
mente, no poder de consentimento de uso desses dados. ”

É claro que, os profissionais desse ramo são necessá-


rios para a implementação da referida lei, mas também é certo
que como figura do encarregado de dados eles não são os
mais preferíveis, para exercer esse papel o profissional tem
que ter conhecimento jurídico para que possa compreender a
lei.

Para conseguir se comunicar com a empresa, com os


clientes e fornecedores, e com a Autoridade Nacional, vai ser
preciso que o encarregado preste informações tanto a ANPD
quanto ao titular dos dados, dessa forma, é preciso que quem
ocupe o papel de encarregado tenha o conhecimento jurídico
e esteja sempre a par das legislações vigentes.

23
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.2.2 A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO RAMO DA AD-


MINISTRAÇÃO

Os profissionais da administração também são bas-


tante cotados para o cargo de encarregado de dados, pelo fato
de que suas habilidades chegam a ser bem semelhantes com
as do papel de encarregado. De acordo com Faesa (2023), as
habilidades necessárias para ser um administrador são as se-
guintes:

Existem algumas habilidades imprescindíveis


para um administrador. Entre as principais, es-
tão: saber liderar equipes, transmitir informações
de forma clara e objetiva, incentivar a colabora-
ção e inspirar os colaboradores a trabalharem
juntos. Além disso, é necessário ter habilidades
de negociação para lidar com fornecedores, cli-
entes e parceiros. (Faesa, 2023),

Com isso, pode-se concluir que as habilidades estão


bastante assemelhadas as necessárias para ser um encarre-
gado de dados, porém, um administrador não é provido de co-
nhecimento jurídico, logo, pode não ter a capacidade de inter-
pretar as normas jurídicas presentes dentro da lei geral de pro-
teção de dados (LGPD). Sabe-se que uma das atribuições do
encarregado de dados é orientar a equipe acerca das práticas
a serem tomadas com as práticas a serem tomadas em rela-

24
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ção a proteção de dados, e também, para se comunicar a au-


toridade nacional (ANPD) é preciso ter o conhecimento da le-
gislação, para que possa informar com clareza os procedimen-
tos que estão sendo realizados dentro da empresa, em relação
a aplicação da lei geral de proteção de dados (LGPD) e tam-
bém informar se todos os procedimentos estão em conformi-
dade com a lei em questão.
Os administradores seriam bastante indicados para de-
tectar a necessidade da coleta dos dados pessoais, fazer o
tratamento e distribuir esses dados para uso, já que eles são
responsáveis pela maioria dos planejamentos estratégicos e
gerir projetos dentro das empresas. Essas seriam as ativida-
des mais indicadas para um administrador desempenhar na
empresa, em relação a aplicação da lei geral de proteção de
dados (LGPD).

1.2.3 A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO RAMO DO DI-


REITO

Os profissionais do direito atualmente são os mais pro-


curados pelas empresas para atuarem na lei geral de proteção
de dados (LGPD) como o encarregado de dados, já é normal
que as empresas contratem escritórios de consultoria jurídica
e advocacia para prestarem esse papel.

25
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Inclusive, no Brasil a OAB proferiu um parecer que ad-


mite sociedades de advogados como encarregado de dados,
conforme a E-5.537/2021. “Em relação ao novo cenário legal
nacional não há impedimento ou incompatibilidade quanto à
atuação do advogado como encarregado de dados previsto na
Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018). (OAB,
2021).”
Dessa forma, fica claro que os profissionais do direito
não estão impedidos de atuarem como encarregado de dados
dentro das organizações empresariais. Para que seja exercida
a função de encarregados, é preciso também que a pessoa
que vai ocupar o cargo tenha conhecimento sobre as normas
vigentes de proteção e privacidade dos dados pessoais e sen-
síveis, gerir possíveis riscos contratuais, atuar em procedi-
mentos jurídicos e administrativos e o mais importante, preci-
sar interpretar a lei para que ela seja aplicada corretamente
para que não haja nenhum tipo de sanção administrativa.
Com isso, fica evidente mais uma vez que o melhor pro-
fissional a ser contratado para ocupar o cargo de encarregado
de dados são os profissionais do direito. A aplicação e ade-
quação da lei geral de proteção de dados (LGPD) pode ser
complicada, caso não haja a certa interpretação das normas
trazidas por ela, e ninguém melhor para fazer isso do que um
profissional do direito, que possui vasto conhecimento jurídico

26
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

podendo ajudar o controlador e todos os funcionários envolvi-


dos na implementação da referida lei.
Como já foi trazido neste estudo, o encarregado de da-
dos é uma figura importante dentro da lei geral de proteção de
dados (LGPD), ele vai desemprenhar um papel muito impor-
tante dentro da empresa que é a comunicação com os titulares
dos dados e a autoridade nacional (ANPD) e repassá-las para
o controlador.
Nesse caso, ele precisa estar sempre por dentro das
novas legislações e normas vigentes, precisa saber interpretá-
las corretamente, principalmente a própria LGPD, para que
consiga relatar de forma correta as autoridades se os procedi-
mentos que estão sendo realizados pela empresa no quesito
de coleta, proteção e privacidade de dados estão adequados
a lei geral de proteção de dados e as normas vigentes em re-
lação a privacidade e proteção dos dados pessoais e sensí-
veis.
Além de que ele vai servir como um canal de comuni-
cação entre a empresa e o titular dos dados, então tem que
estar sempre por dentro das normas para que possa passar
as informações corretas para essas pessoas.
O encarregado de dados vai orientar também os funci-
onários e os contratados da empresa sobre as práticas que
serão utilizadas em relação a lei geral de proteção de dados

27
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

(LGPD). O profissional do direito atuando nesse papel irá ori-


entar bem os funcionários, o controlador, os titulares dos da-
dos e a autoridade nacional, sobre todos os pontos da lei, além
de que saberá como diminuir conflitos caso algo ocorra de
forma irregular, conseguirá identificar o erro e corrigi-lo para
que a imagem da empresa não seja prejudicada.

1.2.4 A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DOS MAIS VARIA-


DOS RAMOS

A lei geral de proteção de dados (LGPD) não deixa es-


pecificado a formação necessária para que possa ser exercido
o papel de encarregado de dados, pode ser qualquer pessoa
natural ou jurídica, logo, entende-se que qualquer pessoa
pode ocupar esse cargo. Indo em consonância com a lei, qual-
quer profissional pode ocupar o cargo, farmacêuticos, conta-
dores, professores, terceirizados, e muitos outros, mas o con-
trolador precisa ter ciência da importância das atividades que
serão desemprenhadas pelo encarregado, já que é o contro-
lador que indica quem irá ocupar o determinado cargo.
Essa pessoa vai receber reclamações, vai se comuni-
car com os titulares dos dados para que possa esclarecer dú-
vidas, vai se comunicar com a autoridade nacional (ANPD) re-

28
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cebendo novas informações para que possa adotar as provi-


dencias cabíveis em relação a novas atualizações dos regula-
mentos, vai orientar os funcionários sobre a lei geral de prote-
ção de dados (LGPD).
Com isso, fica claro que mesmo não especificando na
lei, a pessoa que vai ocupar o cargo de encarregado de dados
precisa de determinados requisitos, para que consiga prestar
um bom serviço, como ter boa comunicação, ter conhecimento
jurídico e técnico sobre a lei, ter ciência de todas as normas e
legislações vigentes sobre a privacidade e proteção de dados
e das normas em gerais, para que possa orientar os funcioná-
rios corretamente, conseguir tirar todas as dúvidas que pos-
sam surgir vindas dos titulares de dados, conseguir relatar to-
das as informações pedidas pela autoridade nacional (ANPD),
se a empresa está atuando em conformidade com a lei.
Esse cargo também pode ser ocupado por um funcio-
nário de dentro da própria empresa, alguém da confiança do
controlador ou do administrador da empresa, mas isso não é
muito acatado pelo fato de que pode gerar um conflito de inte-
resses, já que o encarregado de dados fiscaliza as atividades
realizadas dentro da empresa em relação a atuação da lei ge-
ral de proteção de dados (LGPD), logo, ele vai ter que de certa
forma fiscalizar a ele mesmo, podendo pender também para o

29
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

lado de algum colega de trabalho e não realizar de forma ho-


nesta o seu trabalho.
Dessa forma, o mais indicado é contratar uma pessoa
de fora para exercer esse cargo, trazendo uma maior confia-
bilidade, pelo fato de que a pessoa vai agir com imparcialidade
e executar a sua função corretamente e com maior transpa-
rência, tanto para os titulares quanto para a autoridade nacio-
nal (ANPD).
Após tudo o que foi exposto nesses tópicos, fica claro
que o profissional mais indicado para exercer esse cargo são
os profissionais do direito, por serem aqueles com um vasto
conhecimento jurídico, boas comunicação e que irão melhor
entender a lei geral de proteção de dados (LGPD) e interpretá-
la da forma correta, assim, orientando bem o controlador, os
funcionários, os titulares dos dados e prestando um bom rela-
tório a autoridade nacional (ANPD).

1.3 A IMPORTÂNCIA DA LGPD DENTRO DAS EMPRESAS.

O intuito da LGPD é que as pessoas possam ter um


controle em relação aos seus dados pessoais e para serem
estabelecidas regras de como os dados pessoais dos indiví-
duos serão tratados tanto por organizações públicas como as
privadas. Antes da criação da lei, as pessoas não tinham ideia

30
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de como seus dados pessoais eram usados, e nem quem tinha


acesso a eles, é cediço que muitas empresas coletavam esses
dados e vendiam para outras, dessa forma, violando a privaci-
dade das pessoas.
Agora com o amparo da lei, é preciso autorização dos
usuários para que seus dados pessoais sejam coletados e sa-
bem exatamente para onde foram, a forma como está sendo
usado e tratado os seus dados pessoais.
Muitas empresas ainda não adotaram a LGPD, por de-
sinformação, acham que só vai trazer prejuízo pelo fato de que
terão que investir em funcionários, treinamento, possíveis
equipamentos novos e que não vai gerar resultados positivos
dentro da empresa. Mas, na verdade, estar em conformidade
com a lei geral de proteção de dados se tornou extremamente
relevante, pelo fato de que, vai gerar uma melhor organização
na empresa, poderão armazenar os dados de forma correta e
ter uma melhor administração deles.
Com a implementação da LGPD na empresa, terão
uma nova cultura empresarial e consequentemente estarão
em vigência com a lei, com isso, a organização vai construir
uma relação mais transparente possível com os seus clientes
e fornecedores, dessa forma, criando uma maior confiabili-
dade entre eles e ficarão sempre em destaque e preferência
para esses em termos de negócio, pois eles já vão saber que

31
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a empresa trabalha de forma correta e transparente. E assim,


vão ter uma organização com uma maior confiabilidade no
mercado, ficando sempre em primeiro lugar em questões de
negócios para novos clientes.
As empresas estarão sempre com as suas políticas atu-
alizadas, vai incentivar a atualização dos sistemas, porque es-
tando em conformidade com a lei essas empresas terão em
primeira mão as informações certas de acordo com o que a
sociedade e as leis vão se modernizando, dessa forma, vai
passar cada vez mais confiança para os seus parceiros e con-
seguirão passar sempre as informações corretas aos seus cli-
entes, não gerando dúvidas quanto à forma que estão tratando
os seus dados e a forma de armazenamento dos mesmos.
A lei geral de proteção de dados (LGPD) é de bastante
importância para as empresas, pois com ela as empresas es-
tarão mais seguras em relação a privacidade, proteção e tra-
tamento dos dados pessoais e sensíveis, vai evitar problemas
para as empresas, evitar que os dados que eles possuem se-
jam roubados ou haja um vazamento dos mesmos.
Com isso, passa mais confiabilidade aos seus clientes
e titulares dos dados pessoais e sensíveis, eles terão certeza
que seus dados estarão bem protegidos e isso também vai
gerar um aumento na procura pela empresa, pelo fato de que
as pessoas saberão sobre a confiabilidade da empresa e não

32
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

terão medo de ser seus clientes, oportunizando mais oportu-


nidades de negócios as empresas que implementarem a lei
geral de proteção de dados (LGPD).
Juntamente com a criação das leis para regulamenta-
ção, vem as formas de punição para quem não as cumprir,
dessa forma, demonstra mais um ponto importante para que
as empresas adotem a Lei geral de proteção de dados e aja
em conformidade com ela.
No artigo 52 da Lei 13.709/18 (LGPD), temos as formas
de punição para quem descumprir as normas previstas nessa
lei e as mesmas serão aplicadas pela autoridade nacional. No
inciso I, temos a sanção mais simples que seria apenas uma
advertência, um alerta para a organização de que ela está des-
cumprindo alguma norma e que ela volte a operar em confor-
midade com a lei.
No inciso II, já se trata de uma punição mais moderada,
que seria uma multa simples de até 2% do faturamento da or-
ganização, limitada ao total de 50.000.000,00 (cinquenta mi-
lhões de reais) por infrações; Inciso III, traz uma multa diária
observando sempre o limite do inciso II; Inciso IV, pune em
trazer a público a infração cometida pela empresa, mas claro,
depois que já tiver sido investigada e comprovada essa infra-
ção.

33
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

No inciso V os dados que foram remetidos a essa infra-


ção são bloqueados e só serão novamente disponibilizados se
regularizarem a situação; Inciso VI vai punir com a eliminação
dos dados pessoais que foram alvo da infração; Os incisos X
e XI suspendem o funcionamento parcial do banco de dados
da referida infração e o exercício do tratamento de dados a
que se refere a infração, pelo período de 6 meses podendo ser
prorrogável por igual período; Já o inciso XII pode proibir par-
cial ou total as atividades relacionadas ao tratamento de dados
pessoais.
Essas sanções têm o viés de incentivar as organiza-
ções a aplicarem corretamente as normas da lei e incentiva as
empresas a adotarem a mesma, para que assim, elas não so-
fram essas punições e claro manter o padrão de transparência
aos seus clientes e parceiros, mostrando que estão sempre
em conformidade com a lei.

1.4 O DIREITO E SUA UTILIDADE NA APLICAÇÃO E


ORIENTAÇÃO DA LGPD NAS EMPRESAS

Ter conhecimento jurídico é de muita importância para


a aplicação e orientação de uma lei, é preciso interpretar o

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

conteúdo que está presente nessa lei para que as normas se-
jam executadas de maneira correta e não acarrete nenhum
problema e nem haja conflito de normas.
É fato que, para a aplicação de qualquer lei o direito
precisa estar incluso, com a LGPD não seria diferente, princi-
palmente para a sua aplicação nas empresas que muitas ve-
zes não possuem o conhecimento necessário para que seja
colocado em prática determinada lei.
É preciso um estudo aprofundado sobre a lei, obter todo
o conhecimento possível e muitas vezes quando não se é pos-
sível compreender do que se trata a empresa vai atrás de
ajuda para obter uma consultoria jurídica com algum especia-
lista na área, depois disso é preciso fazer um estudo na em-
presa, em todas as áreas e avaliar os dados que a empresa
possui dos seus clientes, fornecedores e funcionários.
Após isso é preciso revisar os documentos da empresa,
tanto internos quanto externos, revisão essa que precisa ser
feita pelo departamento jurídico ou por um escritório que
preste consultoria que é o mais recomendado a ser feito, con-
tratar alguém de fora da empresa para que não gere um con-
flito de interesse.
É preciso sem sombra de dúvidas que haja sempre
transparência nesse processo, logo, todo o processo para a
execução da lei feral de proteção de dados (LGPD) precisa ser

35
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

conhecido por todos, se fazendo necessário que seja elabo-


rado um guia para que a equipe possa entender todos os pas-
sos a serem seguidos a partir da aplicação da lei.
A lei geral de proteção de dados (LGPD) tem um papel
bem importante dentro das empresas e traz um manual com-
plexo para a sua aplicação, precisa ter entendimento sobre as
normas vigentes em relação a privacidade e a proteção de da-
dos.
Além de que é preciso interpretar todos os dispositivos
trazidos dentro da referida lei e pra isso que precisa do direito
envolvido, pois é com a ajuda dele que as pessoas conseguem
compreender todas as leis, com o conhecimento jurídico ad-
quirido do estudo do direito que elas consegue interpretar as
leis e as aplicarem da forma correta e dentro da legislação vi-
gente.
É com o estudo do direito que as pessoas indicadas
para implementar a lei geral de proteção de dados (LGPD)
dentro das empresas vão conseguir realizar esse trabalho
dentro das normas jurídicas, saberão se está tudo conforme o
exigido dentro da lei e assim conseguirão orientar os demais
funcionários sobre como a lei funciona.
É com a ajuda do direito que os profissionais vão con-
seguir saber quando haverá irregularidades dentro das empre-

36
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sas, saberão como corrigir essas irregularidades, proporcio-


nando um melhor desempenho no desenvolvimento das ativi-
dades da organização. E com esse conhecimento jurídico po-
derão orientar seus funcionários sobre as sanções administra-
tivas que podem sofrer e a gravidade que as mesmas poderão
trazer a empresa em que eles trabalham.
Uma lei só gerará impactos e efeitos positivos se for
aplicada da maneira correta, vai ajudar as pessoas a terem
conhecimento de seus direitos e como essa lei funciona, isso
de fato vale para a lei geral de proteção de dados (LGPD), pois
só com a aplicação correta e uma boa orientação que a refe-
rida lei vai gerar bons impactos e efeitos dentro da empresa.
Isso só será possível se o direito estiver envolvido, pois é com
a ajuda dele que as empresas saberão sobre os direitos que
elas terão com a aplicação dessa lei, os direitos que cada titu-
lar de dados vai ter e a forma certa de orientá-los sobre todo o
processo que vai ocorrer com os dados que eles autorizaram
a empresa a tratar.
Vale ressaltar que, é do direito que vem o conhecimento
jurídico para os profissionais da área jurídica que trabalham na
empresa, é com o direito que esses profissionais aprenderam
sobre as leis e a partir disso criaram as políticas da empresa,
é desse conhecimento que eles elaboram os contratos com os
clientes, funcionários e fornecedores.

37
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A partir dele que os profissionais conseguem orientar a


todos os colaboradores sobre os seus direitos e principal-
mente proteger a empresa de qualquer imprevisto que possa
acontecer, com esse conhecimento jurídico que eles poderão
contornar qualquer conflito que possa aparecer em relação a
possíveis dúvidas dos titulares dos dados, e saberão se comu-
nicar perfeitamente com as autoridades de fiscalização e prin-
cipalmente prestar todos os esclarecimentos necessários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resgatando o problema inicial desse estudo, de que o


profissional do direito seria a melhor indicação para o cargo de
encarregado de dados para implementar a Lei Geral de Prote-
ção de Dados com sucesso dentro das organizações empre-
sariais, analisando diferentes profissionais nesse cargo, foi
possível perceber que o profissional do direito seria a melhor
opção para que a implementação da lei seja realizada de
forma bem-sucedida.
Cabe ressaltar que os profissionais analisados foram os
do ramo da administração, tecnologia da informação, ramo do
direito e entre outros, os resultados obtidos demonstram que
os profissionais do direito se desenvolveriam melhor no cargo,
pelo fato de que o encarregado de dados é o responsável por

38
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

orientar os funcionários da empresa, fica responsável pela co-


municação com a Autoridade Nacional, com o controlador e
com os titulares dos dados.
Além de que ele precisa compreender a própria lei que
será aplicada e as legislações vigentes em relação a proteção
e privacidade de dados e os riscos que um vazamento pode
trazer para ambos os lados. Fica evidente, que o profissional
do direito sai na frente nesses quesitos, pois ele conhecerá as
normas, podendo assim interpretar a lei geral de proteção de
dados (LGPD) da melhor maneira possível.
Com isso, repassar sempre as informações corretas
para todas as partes envolvidas, conseguindo também orien-
tar o restante da equipe que atuará junta a ele na aplicação da
referida lei, e além de que, ele será imparcial dentro da em-
presa, pois será contratado apenas para aquele cargo não ge-
rando conflito de interesses.
Dessa forma, analisando todos esses fatores, pode-se
provar o ponto principal do estudo, de que contratando um pro-
fissional do direito para integrar o cargo de encarregado de
dados, a lei geral de proteção de dados (LGPD) vai ser apli-
cada com sucesso dentro das organizações empresariais, tra-
zendo assim, um resultado mais satisfatório.

39
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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43
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2
IDADE DE CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS NOS
CASOS DE INFIDELIDADE CONJUGAL

THE POSSIBILITY OF SENTENCING FOR MORAL


DAMAGES IN CASES OF MARITAL INFIDELITY

Leanne Rodrigues Hassem 3


Alcides Marini Filho4

HASSEM, Leanne Rodrigues Duarte; FILHO, Alcides Marini.


Possibilidade de Condenação em danos morais nos casos
de infidelidade Conjugal. Trabalho de Conclusão de Cursos
de Graduação em Direito – Centro Universitário – UNINORTE
– Rio Branco. 2023.

3
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
4
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela
Universidade Católica Dom Bosco Campo Grande/MS; Pós-graduação
em Direito Civil Instituto Elpídio Donizete/ MG

44
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo analisar a viabilidade de


pleitear indenização por danos morais em casos de infideli-
dade conjugal. Para tanto, são examinadas as obrigações e
direitos decorrentes do casamento, conforme disposto no ar-
tigo 1.596 do Código Civil Brasileiro, bem como a interpretação
de seus incisos, os quais complementam o referido dispositivo
legal. Além disso, são examinadas as implicações no âmbito
civil quando tais deveres não são observados, analisando-se
a possibilidade de ressarcimento por danos morais. A legisla-
ção civil adota a responsabilidade civil como fundamento para
a aplicação dos direitos relacionados aos danos previstos no
Código Civil, considerando-se as distinções entre responsabi-
lidade objetiva e subjetiva para resolver a questão em análise.
A pesquisa emprega uma abordagem qualitativa para investi-
gar as consequências jurídicas previstas pela norma. Adicio-
nalmente, são realizadas pesquisas bibliográficas, incluindo
leis, doutrinas de renomados juristas brasileiros e decisões ju-
diciais que contribuem para elucidar e confirmar a problemá-
tica em estudo.

Palavras-chave: casamento; canos; responsabilidade civil.

ABSTRACT

This study aims to ascertain the feasibility of indemnification


for moral harm arising from spousal infidelity. It addresses the
impotance of matrimonial obligations and associated
entitlements, as delineated in Article 1,596 of the Brazilian Civil
Code, by interpreting its provisions and augmenting the
aforementioned legal stipulation. Additionally, it examines civil
jurisprudence concerning the aforementioned article in

45
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

instances of non-observance of said obligations, thereby


determining the potential entitlement to compensation for
moral harm. The legislation upholds principles of civil liability in
adjudicating rights pertaining to damages as outlined in the
Civil Code, whilst also addressing distinctions between
objective and subjective responsibilities pertinent to the matter
at hand. Employing a qualitative methodology, the research
scrutinizes the legal ramifications prescribed by the statutory
framework. Furthermore, comprehensive bibliographic inquiry
encompassed statutes and jurisprudence authored by eminent
figures within the Brazilian civil legal milieu, along with judicial
pronouncements that augment and corroborate the study's
focal points.

Keywords: matrimony; harm; civil responsibility.

INTRODUÇÃO

O ordenamento jurídico civil brasileiro prevê diversas si-


tuações passíveis de indenização por danos causados por ter-
ceiros, os quais podem afetar objetos, pessoas, animais e con-
tratos jurídicos. Uma inovação nesse contexto é a incorpora-
ção do instituto da responsabilidade civil no âmbito do Direito
de Família, constituindo um aspecto relevante na aplicação de
direitos a certos membros das entidades familiares, os quais
podem buscar ressarcimento pelos danos eventualmente so-
fridos.

46
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O Código Civil, em seu artigo 927, estabelece que, ha-


vendo ilicitude, surge o direito à indenização pelos danos cau-
sados. Tal disposição também se aplica ao Direito de Família,
exigindo uma análise específica da aplicabilidade dos direitos
no contexto da responsabilidade civil.
Nesse contexto, este estudo analisa as situações em
que é cabível a reparação por danos morais e materiais, es-
pecialmente nos casos de infidelidade conjugal, considerando
diferentes perspectivas doutrinárias que defendem a aplicação
desses danos dentro dos limites estabelecidos pela legislação
vigente.
É importante ressaltar que a responsabilidade civil e os
deveres conjugais desempenham um papel fundamental na
dinâmica dos direitos de família, em consonância com os prin-
cípios da dignidade humana e as causas de ressarcimento
moral. No entanto, essa questão gera dúvidas devido à sua
natureza relativamente nova.
A infidelidade conjugal que resulta na dissolução do ca-
samento pode ensejar a possibilidade de indenização. No en-
tanto, a incerteza quanto a tais indenizações decorre da com-
plexidade desse contexto, exigindo uma consideração cuida-
dosa das consequências do dano causado ao cônjuge traído
pelo seu parceiro. As dificuldades enfrentadas na busca por

47
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

reparação por danos morais decorrentes de infidelidades con-


jugais muitas vezes decorrem da falta de compreensão dos
aspectos jurídicos pertinentes que poderiam resolver a ques-
tão.
Os deveres e direitos conjugais são fundamentais para
orientar a decisão do cônjuge traído em buscar reparação. A
dissolução do casamento é um direito de ambos os cônjuges,
sem a necessidade de identificar a causa específica para essa
dissolução.

2.1 O PROPÓSITO DO CASAMENTO

Define-se casamento como a união entre duas pessoas


que escolhem atribuir convívios afetivos contínuos numa rela-
ção posta por deveres e direitos correlacionados entre si.
Essa escolha é uma decisão tomada entre duas pes-
soas que optam em viver juntos. É uma “escolha influenciada
por nossa personalidade que foi construída a partir de nossas
vivencias desde pequeninos com nossa família de origem”
(Caruso, 2019, p. 30). Na medida que a sociedade conjugal de
define automaticamente forma uma família fazendo com que
seus descendentes se espelham e imitam tal propósito.
Segundo Caruso (2010) essa origem é passada de pais
para filhos através de crenças e costumes. Nesse âmbito, o

48
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

casamento é instrumento antigo que perdura até os dias atu-


ais, celebrando a união dos nubentes, sendo interrompido pelo
falecimento de um dos cônjuges e divórcios. Historicamente
marcado por evoluções e definições de doutrinas em diversos
pontos de vista. Também, gerando controvérsia em relação à
definição de casamento em respeito à forma jurídica, desde a
celebração até seu desfasamento.
De acordo com Alves (1979, p. 109) “admitem, aquele
mero estado de fato que perdurava enquanto persistia. a in-
tenção dos cônjuges em permanecer casados”. Ao ver a per-
manência do casamento se dava de forma contínua e perpé-
tua. Alguns romanistas, na definição de Alves, 1979 apud Bon-
fante, (1963, p. 256) denota que “o matrimônio romano pode
definir-se: a convivência do homem e da mulher sob a autori-
dade do marido com a intenção, efetiva, contínua de ser ma-
rido e mulher”. A legislação definia que o marido condizia por
exclusivo o casamento a parte efetiva para a constância do
matrimônio.
Por conseguinte, passado décadas de acordo com tem-
pos modernos baseado em costumes a legislação conceitua o
entrelace afetivo, não apenas ao único cônjuge, mas entre
eles. As adequações jurídicas resultaram em manter o zelo e
a harmonia nas sociedades conjugais. Importante destacar
que o casamento é um instrumento solene e forma constituído

49
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de direitos e deveres adquiridos pela decisão dos nubentes.


Para Madaleno:

A definição de casamento sempre suscitou con-


trovérsias doutrinárias, dividindo as opiniões
dos autores, com uma corrente defendendo a
sua natureza contratual, porque requer o con-
sentimento dos nubentes, tanto que frustadas
as núpcias quando ausente a livre aquiescência
dos esposos. Em contraponto, outra linha dou-
trinaria atribui ao matrimonio uma feição institu-
cional, porque imperaram no casemtno normas
de ordem publica, a impor deveres e a reconhe-
cerem direitos ais seus membros, o que limita
sobremaneira, a autonomia privada. (2022, p.
142)

É válido afirmar que casamento é a formação de uma


estrutura familiar acompanhada de deveres e direitos, que no
ato de sua celebração instruem formas de como validar e dis-
solver, passando por trâmites processuais, judiciais ou extra-
judicial, respaldado por leis nas diversas causas, desde sua
celebração até sua extinção. O princípio básico do casamento
é regido pelo princípio da ratio do matrimônio e da união está-
vel que segundo Diniz, conceitua que:

...o fundamento básico do casamento, da vida


conjugal e do companheirismo é a afeição entre
os cônjuges ou conviventes e a necessidade de
que perdure completa comunhão de vida, sendo a
ruptura da união estável e a dissolução do casa-
mento (CF, art 226, § 6º com redação da EC n.

50
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

66/2010; CC, art. 1.511 e 1.571 a 1. 582) uma de-


corrência da extinção da affection uma vez que a
comunhão espiritual e material de vida entre ma-
rido e mulher ou entre conviventes não pode ser
mantida ou reconstituída (2022, p.236).

Ainda, este princípio conforme Diniz (2022, p. 236) “da


igualdade jurídica dos cônjuges e ou companheiro, no que
atina aos seus direitos e deveres referentes à sociedade con-
jugal”. Não obstante, o Princípio da afetividade conforme Diniz
(2022, p. 236) “corolário do respeito da dignidade da pessoa
humana, como norteador das relações familiares e da solida-
riedade familiar”. Simplifica que a efetividade é a razão para
ambos permanecerem e perdurarem em um matrimonio.
Inicialmente, o ordenamento jurídico brasileiro afirma
em seu art. 1.511 do Código Civil que “o casamento estabe-
lece comunhão plena de vida, com base na igualdade de di-
reitos e deveres dos cônjuges”. Essa é a afirmação citada no
escopo do artigo.
Os nubentes confirmam desde logo a união antes
mesmo de celebrar o casamento, confirmando mais uma vez,
porém dessa forma, perante a forma civil e gratuita da lei, con-
forme o art. 1.512 do C.C. O art. 1.514 do C.C., dispõe que “o
casamento se realiza no momento que o homem e a mulher
manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vín-
culos conjugal, e o juiz os declara casados”, o que indica uma

51
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

consciência de vontades de ambos os nubentes. A importân-


cia do casamento está no proposito de vida plena à constituir
planejamentos familiares.
O fundamento jurídico, respaldado pela Suprema Cons-
tituição Federal em seu art. 226 e incisos que estabelece de-
vida proteção no âmbito familiar, assegurando a manutenção
da família. Nota-se que o casamento é uma das principais for-
mas de constituição de uma estrutura familiar, ou seja, é a
base ou a forma fácil de começas a constituir uma família.
Posto isso, a união obsta apenas ao desejo e a manifestação
de plena comunhão sem a necessidade de celebração.
Dessarte, os conceitos de casamento e família andam
juntos. Nessa complexidade, determina-se como formas de
tratamento do direito de família. Como declara Diniz (2022, p.
236) “o casamento é o centro de onde irradiam as normas bá-
sicas do direito de família, que constituem o direito matrimo-
nial”. Assim, o casamento em sua plenitude de vida e união
permanente e exclusiva como descreve Diniz:

A união permanente, indispensável para a reali-


zação dos valores básicos da sociedade. Só a
Lei cabe questionar a admissibilidade da ruptura
da sociedade ou vínculo conjugal, ao arrolar su-
postos casos excepcionais que deverão ser de-
vidamente comprovados administrativa ou judi-
cialmente; a união exclusiva, pois o adultério,
apesar se não ser mais delito penal. Continua

52
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sendo ilícito civil, por ser uma das causas de se-


paração judicial (CC, art. 1.573, I) e de repara-
ção de dano moral, uma vez que a fidelidade
conjugal é exigida por lei (CC, art. 1.566, I)
(2022, p. 237).

De certo que, o casamento é delineado por propósitos


e plenitudes dentre eles como conceitua Diniz (2022):

I. Partindo do Consentimento e decisões obtidas en-


tre os cônjuges;
II. É monogâmico;
III. É protegida por lei;
IV. É indivisa, em relação a plenitude de vida, fator des-
tacado por lei, art. 1.511 caput C.C.;
V. Dada por celebração, partindo das formalidades fei-
tas pelas autoridades competentes por lei e formas re-
ligiosas;
VI. Criação da família, onde torna os cônjuges respon-
sáveis pela família em alguns casos produz a emanci-
pação dos consortes.

O casamento é uma faculdade que desenvolve o âmbito


social e religioso, integrado na cultura e costumes do país, par-
tindo do princípio da família. Sendo assim, tornando algo sig-
nificativo, já que faz parte do ciclo da vida. É notório sua exis-

53
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tência, é abundante em deveres e em direitos. Segundo Ca-


ruzo é um instrumento que define a capacidade civil de estado
e de direito:

A instituição do casamento tem, na nossa cul-


tura, um status, de conquista, de segurança e de
etapa de ciclo de vida a ser alcançada, por meio
da qual se obtém reconhecimento social. Tam-
bém, abrange afirmação. Responsabilidade e
seriedade, no sentido de que, socialmente, o in-
dividuo parece mais digno de credibilidade, de
confiança, por assumir o compromisso do casó-
rio... além disso somos ensinados a acreditar,
que casando, teremos um porto seguro, sos-
sego, tranquilidade, que teremos para sempre
alguém que cuidará de nó e nos protegerá
(2019, p. 27).

Prevalecendo neste sentido a previsão que o art. 1.511


caput, preconiza que a meta, o alcance do casamento é a ple-
nitude de vida no tocante de preceitos organizacionais de di-
reitos e deveres, fator predominante para a plenitude em ques-
tão.
Outrossim, adentra num matrimônio por decisão de mú-
tuo consentimento entre as partes, conhecendo suas obriga-
ções no que diz respeito aos direitos e deveres, para alcançar
a plenitude de vida (toda a vida, até o final da vida) enquanto
fazem parte da comunhão. Contudo, estes direitos e deveres
podem ser interrompidos por diversos fatores, razão do artigo
apresentar posteriormente.

54
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Dessa maneira, o casamento em sua definição, que


haja vista bem mencionado, é a constância de esforços mú-
tuos diários de forma colaborativa no que tange o desejo da
permanência conjugal, pelos consentimentos firmados quando
nubentes no intuito de construir família até o esgotamento afe-
tivos durante a vida.

2.2 DIREITOS E DEVERES NA SOCIEDADE CONJUGAL E


MATRIMONIAL

O casamento, como já conceituado, é modelo que os


cônjuges de forma igualitária escolhem fazerem parte de uma
sociedade conjugal, tomando consigo responsabilidade e pla-
nejamentos para direcionar o dia a dia à uma nova família for-
mada, preservando futuros vindouros.
Posto isto, a eficácia do casamento vislumbra-se o art.
1565 caput “pelo casamento homem e mulher assumem, mu-
tuamente a condição de consortes, companheiros e responsá-
veis pelos encargos da família”.
Tendo em vista a sociedade conjugal, o ordenamento
jurídico traz uma série de direitos e deveres comuns e recípro-
cos. Atualmente extinguiu-se e tornou-se em desuso o poder
da família patriarcal, onde apenas um dos cônjuges direcio-
nava o planejamento familiar, segundo Madaleno:

55
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

... o marido era o chefe da sociedade conjugal,


função que exercia com a colaboração da es-
posa, no interesse comum do casal e dos filhos,
competindo-lhe a representação legal da famí-
lia, a administração dos bens comuns, exer-
cendo também o direito de fixar o domicilio do
grupo familiar, salvo recurso judicial da mulher
quando a decisão do marido lhe fosse prejudi-
cial. (2013, p. 177).

Com a nova legislação, combinada com Estatutos e


Leis postulando a proteção à mulher, tendo em vista a mulher
casada, o marido foi perdendo o posto de principal condutor
do casamento, partindo para a liberdade de direitos e deveres
dos cônjuges em condições mútuas e semelhantes às atribui-
ções.
Ora que, não se pode distinguir, tampouco formular
aquele cônjuge que é o único provedor da família, determinar
que assuma o papel de forma unilateral, pois atrelado aos con-
ceitos conjugais que a lei atribui sendo de forma conjunta aos
direitos e deveres nele contido, que ora não cumpridos gera-
riam outras condições jurídicas.
No tocante, são direitos e deveres resultantes do matri-
mônio valendo-se para uniões com a intensidade de formar
famílias ou famílias já formadas pela união estável. Na visão
de Madaleno (2019, p. 178) “da previsão constitucional de
igualdade dos consortes e dos gêneros sexuais...que devem

56
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

se curvar diante dessas normas cogentes de conduta conju-


gal”. Os deveres tão apontados no artigo, estão elencados no
art. 1.566 do Código Civil Brasileiro que aponta os deveres de
ambos os cônjuges.Eis o artigo:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:


I – Fidelidade Reciproca;
II – vida em comum, no domicilio conjugal;
III – mútua assistência;
IV – sustento, guarda e educação dos filhos;
V – respeito e considerações mútuos.

Assim, apontados taxativamente os deveres impostos


pela legislação, que pela sua brevidade e ligeira colocação há
necessidade por trás dos incisos esclarecerem o que a lei de-
termina.

2.2.1 DA FIDELIDADE RECÍPROCA

Esta somente é dispensada pela separação de fato e


pelo divórcio. Está elencada no inciso I do art. 1.566 do Código
Civil. A ausência da fidelidade recíproca é determinante para
certos desentendimentos, gerando para a vida afetiva entre
cônjuges, ressentimentos, ofensas a honra, desrespeito, des-
consideração, desvalorização e insegurança.

57
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A fidelidade é uma conduta adquirida não apenas entre


cônjuges de afeição matrimonial, mas sim qualidade que apri-
moram em contextos éticos e morais. A fidelidade entre côn-
juges é uma promessa realizada entre os nubentes, é o fator
predominante para obter a plenitude de dia posta no art. 1.511
do C.C., citada como mandamento de Deus, é a forma praze-
rosa de honestidade e afeto entre os cônjuges.

O adultério, de acordo com Madaleno (2019, p. 180)


“está na antessala da infidelidade, que supõe exclusividade do
débito conjugal, porque com o casamento cada cônjuge renun-
cia à sua liberdade sexual, e lança mão do direito de unir-se
sexualmente ou em íntima afetividade com qualquer outra pes-
soa que não seja o seu consorte”. A fidelidade é um dever do
casamento, tal como, vínculos afetivos tanto moral quanto em
relações intimas.

Não existe uma terceira pessoa, o ordenamento jurídico


não reconhece formas conjugais paralelas nem poligâmico, a
reciprocidade é mútua entre duas pessoas, entre o casal. A
fidelidade é que fortalece os vínculos amorosos e o convívio
de respeito no casamento. É uma faculdade de perseverança
duradoura juntamente com a fé depositada em uma pessoa. E
por fim é o tratamento de honestidade baseada em condutas
advindas desde quando crianças.

58
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O contrário da fidelidade é a infidelidade, que não mede


quantidade determinantes, bastando apenas uma única vez. É
uma violação à quebra de confiança e uma ilicitude nos direi-
tos e deveres conjugais. A infidelidade não apenas apresenta
em atos de adultério íntimos, mas também se resumem por
meios de acesso às redes sociais, como diz Diniz (2022,
p.245) “é preciso não olvidar que não é só o adultério (ilícito
civil) que viola o dever de fidelidade recíproca, mas também
atos injuriosos”.

A infidelidade é a demandante em causa de ações judi-


cias em busca de reparações por danos morais em casos de
infidelidade conjugal na Ações de divórcios. É um dos pressu-
postos condenatórios no contexto Bíblicos, como apontado
nas Escrituras Sagradas “...qualquer que repudiar sua mulher,
a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adul-
tério (MT, 5:32, N.T.).

A referência bíblica diz respeito que, para divorciar de


seu cônjuge dentre vários motivos, o único causado “ilícito” de
divórcio é a infidelidade. E ainda a referência é de certo apon-
tamento lógico para aqueles que optam em cerimônias religi-
osas, no tocante quando respalda em que há ilicitude em ca-
sos de infidelidade conjugal.

59
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2.2.2 DA VIDA EM COMUM

No casamento, é importante a coabitação na mesma


residência, compartilhando leitos matrimoniais, costumes e
hábitos. O domicilio conjugal é o ambiente que proporciona a
vida em comum, oferecendo aconchego, pois simboliza como
referências familiar.
O ordenamento jurídico respalda o convívio na mesma
habitação, resguardando o pleno convívio, porém, haja visto,
que atualmente houve um retardamento desses deveres ou
pode-se dizer uma mudança de costumes.
Em casos específicos, são determinados pelos próprios
cônjuges pelos motivos eventuais de compromisso, bem
como, advinda pela profissão de um dos consortes ou mesmo
pela opção dos cônjuges em coabitar em casas diferentes. Se-
gundo Madaleno:

Logo, a lei imponha o convívio no domicilio co-


mum, há casos em que a coabitação fica impos-
sibilitada sem que este fato importe em conside-
rar como uma quebra do dever de vida em co-
mum, já que a coabitação não é dever absoluto,
mas evidentemente relativo, não só por conta
das inúmeras exceções justificadoras da mora-
dia em lares separados, o que pode ser tempo-
rário ou permanente, mas também por muitos
casais preferem a união ocasional, habitando
cada um em sua própria moradia, (2013, p.185)

60
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A respeito da vida em comum, a lei exige por sua, não


expressa a forma ou tipo. Em regras gerais o convívio será em
mesmas residências, compartilhando os mesmos recintos de
convivência.
De certo que a maturidade dos cônjuges juntamente
com os costumes e acordos impostos pelos mesmos não se
submetem a conviver em mesmos ambientes, mas que pre-
servem a união pelo desejo e aceitação de estarem juntos e
passar a imagem duma sociedade conjugal em meio social.

É justo destacar que a vida íntima interrompida ou a


abstenção (seja por doença, crenças ou outros fatores) conti-
nua sendo pressuposto de vida comum, dessa maneira não
sendo motivo de ausência de deveres impostos por lei.

2.2.3 DA MÚTUA ASSISTÊNCIA

Mútua assistência, é a reciprocidade de ambos os côn-


juges. Compartilhando confidencialidade de abrigos morais,
espirituais, emocionais entre ambos. É o apoio que comparti-
lha o conforto em momentos de tristezas, a constância no en-
frentamento de dificuldades, o compartilhamento de alegrias e
incentivos pessoais. Visa também a ajuda de formas materiais
para engrenagem pessoal, emocional e físico.

61
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A visão da mútua assistência em termos históricos bí-


blicos está desde o princípio da formação do primeiro casal
coabitado em que, cada cônjuge assistia (ajudava) um ao ou-
tro em tarefas diferentes de forma compartilhada e amparada
para se ter um determinado fim ou propósito - a união. É um
atributo louvável que consigna a forma saudável de dependên-
cia entre ambos.

2.2.4 DO SUSTENTO, GUARDA E EDUCAÇÃO DOS FILHOS

Em paralelo com o Estatuto da Criança e do Adoles-


cente no que diz respeito à proteção, educação e sustento, é
dever dos pais assegurar e prover até a maioridade mesmo
concluindo estudos superiores ou outros cursos de aprendiza-
gem, a manutenção do alimento e da guarda.

Assegura, ainda, tais deveres mesmo em guarda com-


partilhada pelo motivo de divórcio, pois a guarda neste caso
não é atributo de poder familiar. Desse modo, é passível de
acordos entre os responsáveis.

Para mais, o sustento, a guarda e a educação dos filhos


vai além dos deveres alimentar, material e protetivo. É um atri-
buto afetivo pois se trata de seus descendentes se sua prole.

62
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A família é uma ferramenta de duração a longo prazo, cheias


de plenos direitos e deveres, afinal, a formação dela se deu
em decorrência do matrimonio, ou seja, é esperado a respon-
sabilidade de sustento e guarda.

2.2.5 DO RESPEITO E CONSIDERAÇÕES MÚTUOS

O respeito mútuo plenamente inserido no Código Civil


de 2002, vem complementar os deveres conjugais. Contudo,
os deveres não apenas contemplam a fidelidade reciproca, a
mutua assistência, há de se falar em respeito e considerações
mútuos. Pois, partindo da confirmação e aceitação dos nuben-
tes, os cônjuges pelo grau de intimidade que adquirem ao
longo do casamento, o respeito, a dignidade da pessoa hu-
mana, prevalece, agora com mais força e perseverança, pois
envolvem além dos direitos entre pessoas, o direito à mulher
no que tange a moralidade, dignidade de valores cíveis, penais
e constitucionais.
A união em razão do desrespeito que se torne o conví-
vio a dois desgastado é passível de intervenção como comple-
menta o art. 1.513 do C.C. “é defeso a qualquer pessoa, de
direito público ou privado, interferir na comunhão de vida insti-
tuída pela família”, ou seja, de acordo com Madaleno (2013),
não sendo o caso de completa harmonia matrimonial, o côn-
juge tem a liberdade de permanecer ou não no matrimônio.

63
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Por fim os deveres conjugais é o termômetro da relação


conjugal, estipulando o comportamento de ambos os cônju-
ges. Sendo prevista no ordenamento jurídico que transmite os
entes envolvidos a responsabilidade de manter em equilíbrio
os postulados do art. 226 § 5º da Constituição Federal, que
versa “os direitos e deveres à sociedade conjugal são exerci-
dos igualmente pelo homem e pela mulher”, oferecendo ao ca-
sal, em termos iguais, prevalecerem seus deveres, principal-
mente a fidelidade, que é o estudo em questão.

2.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO CIVIL

Responsabilidade Civil é a forma jurídica escrita


quando aponta formas de prejuízos causados a uma determi-
nada pessoa ou coisa. Nesse deslumbre, pode-se dizer, diante
da visão de Venossa (2023) que a Responsabilidade Civil é
utilizada quando em uma determinada situação advinda de
uma pessoa física ou jurídica deva arcar com as consequên-
cias de um ato ou fato danoso.
O código civil define que, em seu artigo 927 que “aquele
que, por ato ilícito art. 186 e 187, causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo”. Este fator de ilicitude é bem determi-
nado pelo art. 186 que descreve “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito

64
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, co-


mete ato ilícito”.
Constatada a responsabilidade civil, apurando as cau-
sas que nela incluem, o dever de indenizar é absolutamente
automático, quando advindo de causas que remetem ao cabi-
mento de reparar. É a aplicação conforme Diniz:

...de medidas que obriguem alguém a reparar


dano moral ou patrimonial causado a terceiros
em razão de ato do próprio imputado, de pessoa
por quem ele responde, ou de fato de coisa ou
animal sob guarda ou, ainda de simples imposi-
ção legal. Definição esta que guarda, em sua es-
trutura, a ideia da culpa quando se cogita da
existência de ilícito (responsabilidade subjetiva),
e a do risco, ou seja, da responsabilidade sem
culpa (responsabilidade objetiva) (2022, p. 161)

Entende-se como danos: Danos Patrimoniais, Danos


Materiais, Danos Contratuais e Extracontratuais, Danos Pes-
soais e Danos Morais. Para Diniz (2022), a existência de uma
ação é a qualificação como forma: Comissiva, que teve a pre-
tensão de fazer; omissiva, que deveria agir; Ilícito, ação con-
trária do que a lei impõe, ou seja, ação com culpa, riscos que
são a exemplo as responsabilidades civis contratuais e extra-
contratuais; Lícito, não violam a lei, ação sem culpa, mas
funda-se do atingimento prejudiciais dos direitos sociais, per-
sonalíssimos e patrimonial, grifo nosso.

65
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Responsabilidade Civil visa tornar o direito a quem


necessite de reparação e oferece equilíbrios para quem deva
indenizar. Daí a parte o pressuposto da responsabilidade ob-
jetiva, da responsabilidade subjetiva e do nexo causal.

2.3.1 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

Assim como a responsabilidade objetiva que dispõe de


normas reparadoras de ressarcimento ocasionado pelos da-
nos gravosos, podemos dizer que a Responsabilidade Subje-
tiva é a consequência daquele dano ocasionando outras for-
mas de reparações, a exemplo, Diniz (2013, p. 33) “assim
sendo, incumbidas estarão de reparar os danos físicos ou psí-
quicos causados”.
A responsabilidade subjetiva é resultante em regra de
ação omissivo, de dolo e culpa. O elemento de tais condutas
acima mencionadas originam-se pela conduta humana, ou
seja, parte de ações resultante em fatores danosos. Para Tar-
tuce, a conduta humana;

Assim sendo, a conduta humana pode ser cau-


sadora por uma ação – conduta positiva – ou co-
missiva – conduta negativa – seja ela voluntária,
ou por negligencia, imprudência ou imperícia,
modelos jurídicos que caracterizam o dolo e
culpa, respectivamente. Pela presença do ele-
mento volitivo em tais atos, trata-se de um fator
jurígeno. (2022, p. 181)

66
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Neste sentindo, percebe-se que tanto a comissão


quanto a omissão geram efeitos danosos a alguém. Nota-se
que na comissão há um desejo e uma vontade de gerar danos,
é intencional, no ponto de vista civil e não penal. Na comissão
o ato poderia ser evitado, pois é um dever a ser seguido. No
entanto, não fazendo gerar uma ilicitude pois deveria ser obe-
decido, o regime foi violado pelo desleixo da norma ou da lei.
Dessa forma, cabe o questionamento do que seria a
Subjetividade na Responsabilidade Civil. Nessa conjuntura,
vários são os entendimentos doutrinários acerca da subjetivi-
dade, fatores que englobam tanto os aspectos religiosos
quanto psíquicos.
Afinal, para sintetizar a responsabilidade subjetiva
parte-se do princípio da culpa relativa pela ação humana. A
consequência gerada traz à baila danos que infligem sofrimen-
tos extraordinários, na qual nenhuma obrigação de fazer e/ou
pagar podem ressarcir para sua recomposição.
De tal modo, é inviável as obrigações de fazer como um
conserto de um muro que foi danificado pela batida de um au-
tomóvel, consertar o dano causado psicologicamente ou fisi-
camente a uma pessoa. Vítima de uma situação vexatória a
abalam a honra, não reparam com tijolos.
Ainda, é inviável e insanável o pagamento de juros e
multas pelo atraso de uma obrigação de pagar por exemplo,

67
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

rever o tempo e a dedicação que um cônjuge teve um com o


outro sendo dessa forma rompidos nos casos de inadimple-
mentos dos deveres conjugais, neste caso, por infidelidade
conjugal.
A subjetividade está no físico, no psicológico, no tempo
e por fim no prejuízo. Em alguns casos é invisível, pois esta se
camufla, no abalo, no descontentamento físico, na agrura e no
pudor. Portanto, não é apenas meros aborrecimentos ou um
tanto faz, daí a distinção.

2.3.3 DO NEXO CAUSAL

O nexo da causalidade é o efeito da Responsabilidade


Civil definido pela ação e o resultado do dano, ou seja, quando
um sujeito pela sua ação de negligência danifica um vem de
outrem, o nexo causal está entre a ação e o dano causado.
Dessa forma, caso não haja negligência não há dano.
Como destaca Tartuce (2022, p. 225) “o nexo de cau-
salidade é o elemento imaterial, virtual ou espiritual da respon-
sabilidade civil extracontratual, que liga esses dois polos: a
conduta e o resultado danoso”, a conduta acompanhada com
as formas que resultem em danos e entre eles produzem o
nexo causal.
Para efeitos teóricos, o nexo causal é o elemento da

68
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

responsabilidade objetiva e subjetiva, ora abordado, sinteti-


zando que, na responsabilidade subjetiva o elemento causal é
apontado pela culpa do agente de modo omissivo doloso, cau-
sando mudança de comportamento da vítima de modo danoso
imaterial, ou seja, danos psicológicos que resultem em abalo
físico e/ou situações desonrosas.
Na responsabilidade objetiva aponta a ação imprudente
que resulta em danos, causando estragos, desvalorizações,
perdas em situações que envolvam bens materiais e/ou con-
tratuais, seja também de modos que ofendam a vítimas bem
como terceiros prejudicados.

2.4 A POSSIBILIDADE DE DANOS MATERIAIS E MORAIS


NO DIREITO DE FAMÍLIA

A construção de danos é perceptível de modo que, o


resultado do ato ou fato que causaram danos a coisa ou a al-
guém. Se não aponta a causalidade não se pode falar em in-
denizações, da mesma maneira que, se não configura atos
gravosos, não se menciona indenizações. Mattos esclarece:

Se a atmosfera não é mais a mesma, necessá-


ria a renovação, não para eliminar inteiramente
a causalidade da imputação da responsabili-
dade civil na sociedade complexa, mas para in-
serir, considerando a natureza das vinculações

69
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em que implica a dita sociedade, observando,


com isso, a nova tessitura que a caracteriza.
(2012, p. 31)

Diante das renovações sociais no âmbito dos compor-


tamentos humanos, tendo em vista as diversas atualidade, a
imputação do nexo causal se dá através de medidas, ou seja,
o dano causado pelo autor não implica em danos cabíveis de
indenizações.
No direito de família os danos materiais e morais pre-
servam a teoria ainda mais incorporáveis, pois os laços afeti-
vos íntegro são cultivados todos os dias, dessa forma, gerando
valores éticos, costumes, afeições e reciprocidade.
Outrossim, Segundo Madaleno (2013) qualquer mem-
bro da família pode serem vítimas de danos gerando danos
morais, materiais ou morais e matérias. Porem para medir tais
conflitos, há uma preocupação jurídica, pois, somente aumen-
tam os conflitos conjugais e familiares, sobrecarregando os tri-
bunais, tendo em vista que, muitos deles em processo inúteis,
sem nexo causal, apenas medindo a sorte para eventuais in-
denizações.
Claro que, a medição do dano, é de plena esfera Cons-
titucional. Em seu art. 5º, inciso X “são invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra, e a imagem das pessoas assegurando
o direito a indenizações pelo dano material e moral decorrente

70
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a sua violação”, defendida em esferas jurídicas fortemente


pautadas no Código Civil e, ainda, dependendo da gravidade
entrelaçam em esferas criminais vigente no país.
No direito de família o dano moral nas relações conju-
gais afetivas, assunto este apresentado, condiz a personali-
dade jurídica pelo descumprimento dos deveres conjugais,
pois atingem a personalidade dos entes familiares, pois não
apenas ao cônjuge lesado, mas também aos filhos, marido ou
mulher sendo estes passíveis de dor, sofrimento, quando ex-
postos ao escárnio público (Madaleno 2013).
Ora quando um membro familiar ou melhor o cônjuge é
exposto pela ilicitude danoso a seu consorte, conforme des-
crito o art. 187 do C.C., que” também comete ato ilícito o titular
de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os li-
mites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes”.
Sendo então passível automaticamente a vítima em in-
denizações por danos morais e materiais pois a colocaram em
situações de vexames, humilhações, desagradáveis exposi-
ções, rompimento dos costumes, redução econômica, abalo
sentimental, agrura que diante dos efeitos caóticos necessi-
tem de tratamentos mentais bem como de recuperação física
ocasionada pela prática do descumprimento da fidelidade re-

71
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cíproca causada pelo agente causador trazendo ainda aban-


dono injustificável, descumprindo com o sustento alimentício
gerando danos abalo matérias. Diante desse cenário de certo
ofende a dignidade humana.
No direito de família, pertencente a todo sistema de re-
gras do Direito Civil, o dano advindo pela infidelidade conjugal
é ressarcido pela forma valorativa. Essa forma é a equidade
de valor como fonte de obrigação de reparar os danos materi-
ais e morais do cônjuge afetado pela vulnerabilidade que o
deixou desamparado.
Quando em determinadas situações, o cônjuge traído
sobrevive em divórcio que resulte em compensações alimen-
tícias pela dependência financeira, os alimentos não se cons-
tituem em indenizações pois sua fixação está excluindo a cul-
pabilidade do cônjuge infiel (Madaleno, 2013).
A exclusão do dano diverge do resultado dele causado,
por exemplo, o cônjuge lesado ao romper o matrimônio em ra-
zão da infidelidade conjugal de seu consorte, logo se divorcia.
O cônjuge lesado, sendo este inocente também dependente
financeiramente, para este, caberá apenas, compensações
alimentícias em forma de pensão.
Caso não comprovadas dependências financeiras em
relação do parceiro inocente, bem como, ausentes as situa-
ções vexatórias e humilhantes, o juiz decidirá quais equidades

72
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

apontar ou nem tampouco adentrar em valores relacionados a


danos. Como aponta, claramente Madaleno:

No estágio atual da evolução do direito pretori-


ano brasileiro, que caminhou para a completa
abstração do exame judicial da culpa no pro-
cesso, tenta regatar esse tormentoso o passado
processual que atrelava a concessão judicial da
separação à prova causal da falência conjugal,
chegando ao extremo de negar a ruptura oficial
do casamento se frustradas a prova da culpa
pelo fracasso matrimonial, representaria um in-
concebível e desnecessário retrocesso, especi-
almente quando a dissolução do casamento
está inquestionavelmente dissociada da respon-
sabilidade civil, que tem fundamento e feição
constitucionais. (2013, p, 356).

Nota-se que a reparação em casos de infidelidade con-


jugal são causas distintas que advém de históricos particular-
mente privados que incluem vínculos afetivos fortemente agre-
gados numa relação conjugal adquiridos ao longo da vida. Não
se mede culpa pelo fato da diminuição do amor nem tampouco
a insuportável convivência, que, se torna ao extremo. Pois a
decisão de adentrar e sair de um matrimônio é assegurada de
fato e de direito.
A seguir, alguns julgados retratam o rompimento do ca-
samento, diante dos casos de infidelidade conjugal, que resul-
taram ou não em indenizações por danos morais:
Os acórdãos trazem diferentes posicionamentos, como

73
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a Apelação Cível nº 0704009-45.2021.8.07.0005, Acórdão nº


1432760 relatado pela 8º Turma Cível, julgado em 23/06/2022,
analisa de forma parcial a R. Sentença, mantendo e enten-
dendo a indenização de forma que reduz o valor original da
sentença em favor da autora, em observância aos direitos sub-
jetivos de grande ofenda a honra que, obteve grande relevân-
cia a condenação do cônjuge infiel.
Neste mesmo sentido em manter a sentença a quo o
Acordão nº 1084472 da 7º Turma Cível do TJDFT, o Relator
nega o provimento à apelação do cônjuge infiel concedendo o
dano indenizatório à apelada pela exposição da relação extra-
conjugal em público, por não se prevenir sexualmente, ofen-
dendo a sua honra, a sua imagem, a sua integridade física e
psíquica. Apontamentos este totalmente na forma da respon-
sabilidade subjetiva, que envolveram circunstâncias vexató-
rias que levaram a vítima a constrangimentos públicos de hu-
milhação.
Porém nem todas ações na busca por danos morais em
casos de infidelidade conjugal, são suscetíveis de indeniza-
ções. O Acórdão nº 1401410 da 5º Turma Cível do TJDFT,
afirma que “nem toda ruptura conjugal apresentam responsa-
bilidades subjetivas descabendo dessa maneira indeniza-
ções”. Apenas a ruptura do casamento em decorrência da trai-

74
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ção o entendimento dos Magistrados não aponta a responsa-


bilidade subjetiva cabíveis para indenizações.
Em continuidade da mesma linha de raciocínio, o Acór-
dão nº 1418582 da 1º Turma Cível do TJDFT que teve como
Relatora a Desembargadora Carmem Bittencourt, decide que
o “simples fato da ruptura do convívio por frustações matrimo-
niais somadas com as constâncias causadas por inconfidên-
cias recíprocas não provocaram indenizações”. A reparação
notória em casos de infidelidade conjugal que a parte busca
reparação em danos morais, necessitam da notoriedade sub-
jetiva.
Essa notoriedade subjetiva é a vinculação de sentimen-
tos da pessoa humana, quando o cônjuge espera do outro total
fidelidade pois promove e respalda essa característica como
fonte principal da convivência matrimonial em leitos honrosos
na qual espera do outro a total confiança em caráter da ver-
dade, pois anela a reciprocidade. Quando o cônjuge lesado se
depara ou se pega desprevenido de total ocultamento da ver-
dade, vem a tona a montanhosa desconsideração e repulsa
afetiva, pois vem à memória o juramento nupciais.
Nesse sentido, o julgador irá concluir o cabimento ou o
indeferimento da reparação, levando em consideração os cos-
tumes e a ótica jurídica em relação à personalidade jurídicas
e aos direitos subjetivos.

75
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo demonstra que os casos de infidelidade con-


jugal podem resultar em danos morais, considerando a res-
ponsabilidade civil subjetiva e a possibilidade de aplicação de
indenizações. Muitos doutrinadores, bem como as repartições
judiciais, entendem que, ao lidar com casos que envolvem a
busca por reparação por danos morais decorrentes de infide-
lidade conjugal, é necessária uma análise minuciosa por parte
dos magistrados ou julgadores. Eles devem determinar se o
rompimento matrimonial resulta na obrigação de pagar danos
morais àquele que foi prejudicado.
Se houver fatores prejudiciais, como dor e sofrimento,
que envolvam o cônjuge em situações extremamente vexató-
rias e humilhantes devido à traição, colocando a vítima em to-
tal constrangimento, exposta publicamente e sofrendo abalos
emocionais, isso pode afetar a honra, a dignidade humana e,
principalmente, corroer a confiança depositada no vínculo afe-
tivo. Além disso, se o cônjuge lesado for pego de surpresa,
isso automaticamente indica a possibilidade de indenização
por danos morais, conforme respaldado pela Lei.
A indenização por danos morais, que afeta a honra e a
dignidade humana, é prevista no Código Civil, sendo aplicável
no âmbito das relações familiares quando ocorrem infrações

76
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

aos deveres dos cônjuges, conforme estabelecido no art.


1.566 do Código Civil, em conjunto com o art. 927 do mesmo
código.
Observa-se que a equidade e a decisão dos magistra-
dos podem variar. Não se trata de uma fórmula exata ou de
certezas absolutas; no entanto, é necessário analisar cada
caso com cuidado para evitar retrocessos quanto à culpa pelo
divórcio atribuída ao cônjuge infiel, e para que os trâmites ju-
diciais não se acumulem em questões irrelevantes. É essen-
cial que haja coerência na avaliação de cada caso para garan-
tir uma análise apropriada.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras provi-
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MATTOS, Paula F. Responsabilidade civil: dever jurídico


fundamental. Editora Saraiva, 2012. E-book. ISBN
9788502182738. Disponível em: https://integrada.minhabiblio-
teca.com.br/#/books/9788502182738/. Acesso em: 26 set.
2023.

78
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

TARTUCE, Flávio. Responsabilidade Civil. Grupo GEN,


2022. E-book. ISBN 9786559645251. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/bo-
oks/9786559645251/. Acesso em: 02 out. 2023.

TJDFT; Apelação Cível 0704009-45.2021.8.07.0005; Acor-


dão nº 1432760 Relator Desembargador Designado Diaulas
Costa Ribeiro; Órgão Julgador: 8º Turma Cível; Data do Julga-
mento: 23/06/2022; publicação em: 04/07/2022. Disponível
em: https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-
web/sistj

TJDFT; Acordão nº 1084472; Relator Desembargador Fábio


Eduardo Marques; Órgão Julgador: 7ª Turma Cível; Data do
Julgamento: 21/03/2018; Publicação em: 26/03/2018. Disponí-
vel em: https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-
web/sistj

TJDFT; Acordão nº 1401410; Relator Designado Desembar-


gador Angelo Passareli; Órgão Julgador: 5º Turma Cível; Data
de Julgamento: 16/02/2022; Data da Publicação: 07/03/2022.
Disponível em: https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcor-
daos-web/sistj

TJDFT; Acordão nº 1418582; Relator Desembargadora Car-


men Bittencourt; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível; Data do Jul-
gamento: 27/04/2022; Data da Publicação: 20/05/2022. Dispo-
nível em: https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-
web/sistj

VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Obrigações e Respon-


sabilidade Civil. v.2. Grupo GEN, 2023. E-book. ISBN
9786559774692. Disponível em: https://integrada.minhabiblio-
teca.com.br/#/books/9786559774692/. Acesso em: 26 set.
2023.

79
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3
A TUTELA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS APÓS
A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

THE PROTECTION OF DOMESTIC ANIMALS AFTER


THE DISSOLUTION OF MARITAL PARTNERSHIP

Amanda Fabrine Brito de Carvalho5


Alcides Marini Filho6

CARVALHO, Amanda Fabrine Brito de. A tutela dos animais


domésticos após a dissolução da sociedade conjugal.
Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Direito –
Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco. 2024.

5
Discente do 9° período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
6
Graduado em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco de Campo
Grande/MS. Pós-graduado em Direito Civil pelo Instituto Elpídio Doni-
zete/MG.

80
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente estudo trata dos direitos dos pets


após o fim da sociedade conjugal e os reflexos da ausência de
norma expressa no Judiciário Brasileiro, a respeito do tema.
Objetivo. Diante desse contexto, buscou-se compreender
como ocorre a tutela dos animais domésticos, após o fim da
sociedade conjugal, mostrando meios que os tribunais atuais
usam para regulamentar, a quem cabe, o dever de arcar com
os custos de subsistência do animal. Método. Através do em-
basamento teórico e legal do código civil, produziu-se uma
análise acerca das jurisprudências, julgados e doutrinas que
trazem formas consensuais da resolução dos conflitos advin-
dos da insuficiência de norma expressa. Resultados. Verifi-
cou-se a necessidade para o sistema judicial atual, da prote-
ção dos diversos núcleos familiares que surgiram através das
transformações sociais, como a valorização do afeto nas rela-
ções humano-animal. Conclusão. Dessa forma, os pets e
seus guardiões vêm ganhando espaço e resultados positivos
nas decisões proferidas pelos tribunais, reiterando a necessi-
dade da elaboração de uma lei específica que alicerce os seus
direitos no ordenamento jurídico.

Palavras-chave: sociedade conjugal; pets; família; ausência


de norma expressa; jurisprudência; princípio do afeto.

ABSTRACT

Introduction. This study deals with the rights of pets after the
end of the marital partnership and the consequences of the
lack of an express rule in the Brazilian Judiciary on the subject.
Objective. In this context, we sought to understand how the
protection of domestic animals occurs after the end of the
marital partnership, showing the means that current courts use
to regulate whose duty it is to bear the costs of the animal's

81
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

subsistence. Method. Through the theoretical and legal basis


of the Civil Code, an analysis was made of case law,
judgments, and doctrine that provide consensual ways of
resolving conflicts arising from the lack of an express rule.
Results. The need for the current judicial system to protect the
various family nuclei that have emerged due to social
transformations was verified, as was the appreciation of
affection in human-animal relationships. Conclusion. In this
way, pets and their guardians have been gaining ground and
positive results in the decisions handed down by the courts,
reiterating the need for a specific law to be drawn up to
establish their rights in the legal system.

Keywords: marital partnership; pets; family; lack of an express


rule; case law; principle of affection.

INTRODUÇÃO

O Direito de Família é um ramo do Direito Civil que anda


em conjunto com as transformações da sociedade, ou seja, a
sociedade vai se atualizando e ele vai a acompanhando. Tal
fato é notado quando se é questionado sobre as diversas es-
pécies de família, que sofreram muitas alterações no decorrer
dos anos, dado que antigamente a palavra “família’’ era vincu-
lada a um conceito patriarcal, já hoje, existem diversos concei-
tos para tal termo, como é o caso do surgimento de família
multiespécie, o que nos leva ao objeto a ser discutido no pre-
sente trabalho.

82
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Dessa forma, em razão dessas mudanças, muitos ca-


sais passaram a tratar os animais domésticos de maneira mais
afetiva, tratando-os como integrantes da família e, até, como
filho deles, dando a relação humano-animal um aspecto novo,
baseado no afeto e no amor. Porém, com o fim do relaciona-
mento, ficou em aberto uma lacuna em como ficaria a figura
do animal, uma vez que se tornou um importante elemento na
relação do casal dentro da sociedade conjugal. Ocasionando,
assim, desacordos em relação a com quem o animal ficaria,
os direitos de visitação, se os custos de alimentação e cuida-
dos com ele recairiam somente sobre uma pessoa ou a possi-
bilidade de guarda compartilhada.
Nesse contexto, observa-se que, com o surgimento
dessas novas configurações familiares, bem como o crescente
vínculo afetivo que, também, vem surgindo entre os humanos
e os animais, houve o crescimento de casos em busca da tu-
tela jurisdicional, envolvendo os animais de estimação do ca-
sal como ponto central nos processos de divórcio ou dissolu-
ção da união estável.
Portanto, evidencia-se que existe uma grande janela
aberta em torno dessa questão, em virtude da ausência de
norma expressa, o que vem obrigando o poder judiciário a bus-
car formas de solucionar os problemas que a cada momento
surge em torno desse quadro, através do uso das regras que

83
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

disciplinam a dissolução do casamento ou da União Estável


em relação aos filhos, e princípios, a exemplo do princípio do
afeto, para suprimir essa falha legislativa, procurando solucio-
nar tais desacordos por meio de decisões justas e, que este-
jam em concordância com as novas configurações familiares.

3.1 DA DIFERENCIAÇÃO ENTRE SOCIEDADE CONJUGAL


E VÍNCULO MATRIMONIAL

O casamento é uma relação jurídica, solene e especial


com um regulamento próprio, que surge mediante o desejo de
comunhão plena de vida entre duas pessoas que desejam
constituir uma família, formando assim, um vínculo matrimo-
nial.
Seus efeitos apresentam-se de maneira numerosa e
extensa, uma vez que abrange a vida conjugal nos âmbitos
social, pessoal e patrimonial. Dessa forma, vale destacar o Art.
1.511 do Código Civil Brasileiro, que determina o conceito de
casamento, ao dizer que: “o casamento estabelece comunhão
plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres
dos cônjuges’’. Direitos e deveres estes, que foram enumera-
dos em um rol pelo legislador no artigo 1.566, do Código Civil
Brasileiro de 2002, in verbis:

84
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:


I - Fidelidade recíproca;
II - Vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - Sustento guarda e educação dos filhos;
V - respeito E consideração mútuos.

Nesse viés, observa-se que juntamente com o casa-


mento e o Vínculo Matrimonial, tem-se a formação da socie-
dade conjugal, sendo esta entendida como, o conjunto de di-
reitos e deveres existentes entre os cônjuges, durante a vigên-
cia do vínculo matrimonial válido, estabelecendo-os como os
frutos do nascimento de uma relação matrimonial.
Sob o prisma doutrinário, entende-se o casamento
como uma instituição de maior extensão, em comparação com
a sociedade conjugal, uma vez que, respectivamente, a um
reside a responsabilidade de regulamentar as obrigações mo-
rais e materiais existentes entre o casal, assim como para com
os filhos. Já no outro, estabelece-se a regência dos bens pa-
trimoniais, frutos civis e industriais adquiridos na vigência da
união conjugal (Ferreira, apud Diniz p.137, 2004).
Desse modo, a sociedade conjugal não é pessoa jurí-
dica ou civil, mas sim uma sociedade de gênero único, de vida
domiciliar, com princípios e fundamentos econômicos, sociais
e morais, tendo como base de construção os sentimentos exis-
tentes entre os cônjuges, onde ambos prestam assistência
mútua.

85
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Pois bem, conforme exposto acima, com o casamento


cria-se um vínculo matrimonial entre os consortes, sendo por
meio deste que ambos terão responsabilidades familiares e
deveres a serem cumpridos, como estabelece o já mencio-
nado, artigo 1.566. É, no entanto, no dispositivo do artigo
1.567, também do diploma legal civil, que se encontra a defi-
nição de sociedade conjugal, que tem direção exercida, em
colaboração, pelo casal, pelo bem do interesse conjugal e dos
filhos. Nesse contexto, a partir dos fatos destacados anterior-
mente, convém ressaltar o entendimento de Maria Helena Di-
niz sobre o assunto:

O casamento é, sem dúvida, um instituto mais


amplo que a sociedade conjugal, por regular a
vida dos consortes, suas relações e suas obriga-
ções recíprocas, tanto as morais como os mate-
riais, e seus deveres para com a família e a prole.
A sociedade conjugal, embora contida no matri-
mônio, é um instituto jurídico menor do que o ca-
samento, regendo, apenas, o regime matrimonial
de bens dos cônjuges, os frutos civis do trabalho
ou indústria de ambos os consortes ou de cada
um deles. Daí não se pode confundir o vínculo
matrimonial com a sociedade conjugal. (2008).

Por conseguinte, fica evidente a necessidade de delimi-


tar a diferença entre vínculo matrimonial e sociedade conjugal,
visto que quando se fala em dissolução do casamento ou
união estável, logo se pensa em separação ou divórcio, porém
não se configura assim, como algo tão simples e objetivo.

86
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O artigo 1577, caput, do Código Civil Brasileiro norma-


tiza as causas para o término da sociedade conjugal, como a
separação judicial e o divórcio, nesse ínterim, a primeira forma
diz respeito a separação de fato dos corpos, ou seja, não há
mais a coabitação marital, bem como as obrigações e deveres
para com o cônjuge, rompe-se, então, apenas a sociedade
conjugal, mantendo o vínculo matrimonial intacto, uma vez
que, ainda permanece a assistência mutua em relação ao
sustento, guarda e educação dos filhos, se houver, só não po-
dendo casarem novamente.
Já o divórcio, diferencia-se da separação, por funcionar
como uma via extintiva e definitiva do enlace conjugal. Ele tem
o rompimento válido da sociedade conjugal e do vínculo ma-
trimonial, garantindo a possibilidade de, depois de divorciados,
contraírem novos matrimônios. Nesse sentido, o doutrinador
Paulo Nader completa esse entendimento ao falar que:

Com a celebração do casamento nascem o vín-


culo e a sociedade conjugal. Aquele é a relação
jurídica que se instaura entre os cônjuges, en-
quanto a sociedade é o compromisso de comu-
nhão de vida. Dissolvendo-se o vínculo, extin-
gue-se a sociedade conjugal. O término desta
não põe termo àquele, apenas aos deveres de
coabitação, fidelidade recíproca e ao regime de
bens, conforme dispõe o art. 1. 576 do Código
Civil. Por força do vínculo conjugal permanecem
os deveres de mútua assistência, respeito e con-
sideração entre os separados, além do sustento,
guarda e educação dos filhos. A permanência da

87
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mútua assistência entre os deveres há de ser in-


terpretada em termos, pois limitada a alimentos.
Em decorrência, ainda, da subsistência do vín-
culo, os separados ficam impedidos de contrair
novo casamento. O vínculo conjugal dissolve-se,
no casamento válido, com a morte real ou presu-
mida de um dos cônjuges, declaração judicial de
ausência ou pelo divórcio. (2006).

Portanto, diante do que foi posto em tela, diferencia-se


o vínculo matrimonial da sociedade conjugal, haja vista que o
primeiro se equipara a um mecanismo de formalização do laço
de união, como também, da sociedade conjugal que se esta-
belece entre os cônjuges, sendo esta última a esfera de con-
vivência em comum e domiciliar do casal, estabelecida a partir
do casamento.
Logo, deve-se adentrar no quadro jurisdicional em que
se encontram os animais de estimação advindos de uma rela-
ção afetiva com o casal, e tidos como filhos no decorrer da
comunhão familiar, após o rompimento da sociedade conjugal,
já que, como pode ser entendido diante dos fatos supracita-
dos, tal fim não rompe com a assistência mútua entre os ex
consortes.

3.2 DA FAMÍLIA MULTIESPÉCIE: CLASSIFICAÇÃO DOS


ANIMAIS COMO SERES SENCIENTES

A família, sendo a primeira instituição formadora de

88
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

identidade do indivíduo, existe desde os primórdios da huma-


nidade, como a primeira organização social em que temos
contato. O termo “família’’ nasceu do latim famulus, que signi-
fica “escravo doméstico’’, criado em Roma para designar os
grupos que eram submetidos à escravidão.
Termo este, que em sua essência, estava intimamente
relacionado ao conceito patriarcal de família, aquela constitu-
ída pela mãe, que cuidava da casa e dos filhos, e o pai que
possuía a figura intimidadora e autoritária, cabendo aos de-
mais integrantes, o devido respeito à figura paterna.
Assim, para Cláudia Maria da Silva (2004, p. 128-129),
a família patriarcal era caracterizada por um sistema hierár-
quico, com a figura do homem como o ser predominante e au-
toritário a ser respeitado, assim como, era constituída essen-
cialmente por laços biológicos e buscava o poder econômico,
político e religioso, tendo como função primordial a manuten-
ção do status social.
Ou seja, o elo entre os integrantes era voltado apenas
para refletir o quão poderoso o chefe de família era, seguindo
os padrões da sociedade impostos na época, fazendo com
que os vínculos fossem mais voltados para o sangue, o poder
econômico, político e social que eles poderiam oferecer, do
que o amor e o afeto. Porém, com o decorrer dos anos, o con-
ceito de família foi ganhando novas proporções à medida que

89
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a sociedade ia se transformando, e os ideais de liberdade, so-


lidariedade, dignidade da pessoa humana e igualdade foram
se disseminando na sociedade.
A respeito disso, Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald (2015, p. 5) ensinam que: “Os novos valores que
inspiram a sociedade contemporânea sobrepujam e rompem,
definitivamente, com a concepção tradicional de família”.
Nesse sentindo, a Ministra Nancy Andrighi corrobora ao exter-
nar que:

A quebra de paradigmas do Direito de Família


tem como traço forte a valorização do afeto e das
relações surgidas da sua livre manifestação, co-
locando à margem do sistema a antiga postura
meramente patrimonialista ou ainda aquela vol-
tada apenas ao intuito de procriação da entidade
familiar.(2008)

Então, observa-se que o direito de família atual, é total-


mente diferente do anterior, uma vez que junto às transforma-
ções sociais, este se modernizou, abrangendo, agora, as di-
versas espécies de família, baseadas no princípio do afeto, o
qual deu força para a proteção jurídica dessas espécies. Prin-
cípio este, que também, embasa a tutela jurisdicional do ani-
mal doméstico como um importante integrante das famílias
atuais, merecendo seu devido respeito e proteção.
É nessa circunstância que a questão dos animais vira
ponto central de debates, dividindo posicionamentos acerca

90
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos direitos e garantias fundamentais a eles garantidos, uma


vez que é tendência social recente, tê-los como membros da
família e merecedores de direitos básicos como a vida, saúde
e moradia.
Destarte, há em que se falar a respeito da recente clas-
sificação dos animais não humanos como seres sencientes e
sua relevância para o estabelecimento deles como sujeitos de
direito. O termo senciente advém da palavra em latim sentiens
entis, que significa a capacidade que um ser vivo possui de
sentir ou perceber através dos seus sentidos, ou seja, seres
que possuem a capacidade de terem impressões e sensa-
ções.
Dessa maneira, pode-se conceituar a senciência como
um modo em que o ser existente, sente sensações de dor,
fome, medo e frio, assim como possui impressões espaciais
dos lugares em que se encontra. Logo, a classificação encon-
trada hoje, é a de que aqueles animais que tem sensibilidade
e consciência são classificados como animais não humanos
com sentidos e sentimentos, nos levando ao questionamento
sobre seus direitos de proteção.
Nesse paradigma, Diomar Ackel Filho (2001) leciona vi-
sando à proteção dos animais como sujeitos de direitos, que
possuem direitos fundamentais, para ele, não são pessoas, na
acepção do termo, condição reservada aos humanos. Mas,

91
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

são sujeitos de direitos titulares de direitos civis e constitucio-


nais, dotados, pois, de uma espécie de personalidade sui ge-
neris, típica e própria à sua condição. Igualmente, a Constitui-
ção Federal de 1988 não define o animal como “coisa”, sendo
observado segundo o artigo 225, §1º, VII, da CF/88, que pre-
diz:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de es-
pécies ou submetam os animais a crueldade.

Com isso, frente a essas mudanças, a discussão a res-


peito da natureza jurídica dos animais de estimação, tem sido
frequente nos últimos anos. Tal fato é percebido na matéria
que trata o Código Civil Brasileiro, no qual os animais são tipi-
ficados como coisas, ou seja, objetos de propriedade. E, ape-
sar da definição, os animais de estimação são muitas vezes
considerados membros da família, quebrando com os paradig-
mas da família tradicional, abrangendo assim, o conceito de
família multiespécie.

92
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Além disso, para muitas pessoas, os animais não são


simplesmente um semovente, um simples animal, pois este
possui um significado maior e mais afetivo, é como um ente
da família, por isso, muitos são considerados como filhos, ir-
mãos ou melhores amigos. Ante este motivo, esses saudáveis
e estreitos relacionamentos criam vínculos fortes e duradou-
ros, que merecem a devida proteção legal, por parte do orde-
namento jurídico nacional.
No Recurso Especial 1.713.167/ SP da Quarta Turma
do Supremo Tribunal de Justiça, em junho de 2018, o conceito
de família multiespécie foi definido quando o então Ministro
Luís Felipe Salomão ao votar, afirmou que “os animais de
companhia possuem valor subjetivo único e peculiar, aflo-
rando sentimentos bastante íntimos em seus donos, total-
mente diversos de qualquer outro tipo de propriedade privada”.
Nesse sentido, verifica-se que em sede jurisprudencial,
o entendimento sobre os animais vem sendo modificado, des-
tacando-se nesse ponto, o pensamento do já mencionado Mi-
nistro do STJ o relator Luís Felipe Salomão (2023):

Os animais de companhia são seres que, inevi-


tavelmente, possuem natureza especial e, como
seres sencientes – dotados de sensibilidade,
sentindo as mesmas dores e necessidades bio-
psicológicas dos animais racionais -, também de-
vem ter o seu bem-estar considerado.

93
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Em suma, o animal, como bem semovente, conforme


descreve o direito civil, não é tido como um mero objeto, pois,
pelo princípio do afeto, bem como indicam certos doutrinado-
res e jurisprudências atuais, configuram-se como seres dota-
dos de direitos subjetivos, que merecem a devida proteção ju-
rídica do Estado, no que concerne sua elevada importância na
integração e na dinâmica de diversas famílias brasileiras, pois
por serem capazes de receberem sensações e impressões,
devem ter tutela assegurada no ordenamento jurídico.
Logo, nesse paradigma, insta ressaltar que através do
provimento de tal recurso, o Supremo Tribunal Federal deter-
minou a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, como acórdão vinculante para os demais conflitos que
vierem a surgir sobre os animais domésticos, estabelecendo-
os como sujeito de terceiro gênero e não uma “coisa’’, mas sim
um ser que é destinatário de afeto no âmbito da convivência
familiar.

3.3 AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA E ENTENDI-


MENTO JURISPRUDENCIAL A RESPEITO DOS PETS

A despeito dessa temática, é imperioso salientar que


em julho de 2012 um grupo de proeminentes cientistas se re-
uniram para analisar, estudar e comparar a consciência dos

94
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

animais não humanos com os humanos, criando ao final, a


Declaração de Cambridge, predizendo:

[...] A ausência de um neocórtex não parece im-


pedir que um organismo experimente estados
afetivos. Evidências convergentes indicam que
os animais não humanos têm os substratos neu-
roanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos
de estados de consciência juntamente como a
capacidade de exibir comportamentos intencio-
nais. Consequentemente, o peso das evidências
indica que os humanos não são os únicos a pos-
suir os substratos neurológicos que geram a
consciência. Animais não humanos, incluindo to-
dos os mamíferos e as aves, e muitas outras cri-
aturas, incluindo polvos, também possuem esses
substratos neurológicos[...]. (2012).

Essa declaração à época surgiu como um importante


parâmetro para a consolidação do Direito do Animal tanto na
esfera jurídica mundial, como para o quadro social e ambiental
que ele também possui.
Desse modo, sob o fundamento da senciência do ser
não humano, o Direito do Animal trouxe consigo, o reconheci-
mento dos animais como seres detentores de dignidade e, por-
tanto, dignos de terem sua vida e saúde salvo aguardados pe-
los direitos fundamentais.
A priori mediante uma análise jurídica dos animais, tem-
se a definição deles como bens semoventes, segundo o artigo
82 do Código Civil Brasileiro que prediz: “são móveis os bens
suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força

95
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

alheia, sem alteração da substancia ou da destinação econô-


mico-social”. De acordo com esse conceito, o animal possui
uma natureza jurídica de posse e propriedade, o qual, con-
forme o artigo 1.232 do CC fica suscetível ao melhor interesse
dado a ele, exclusivamente pelo o seu dono.
À vista disso, insta reafirmar o já citado artigo 225 da
Constituição Federal, que garante em seu bojo a proteção pelo
poder público constitucional aos animais, vedando práticas
cruéis contra os seres não humanos, garantindo a tais sujeitos,
direitos subjetivos e, consequentemente, reconhecendo a sua
condição de sujeito de direito.
Porém, tais dispositivos legais não abrangem o aspecto
jurídico do animal de estimação quando inserido em um con-
texto familiar, dado que seu papel não é restrito apenas ao de
um “animal doméstico’’, mas sim de um integrante da família.
Isto posto, dá-se muita importância em discutir a necessidade
de uma legislação específica desse quadro dentro do ordena-
mento jurídico.
Ocorre que, é notório que o afeto rege as relações in-
terpessoais nos tempos atuais, sendo priorizadas as relações
de amor e carinho que cada indivíduo tem para com o outro,
assim como para com o seu animal, considerado como um
bem de alto valor afetivo, e de acordo com o texto do disposi-

96
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tivo constitucional anteriormente citado, ao determinar a pro-


teção e condenar as práticas de maus – tratos contra os ani-
mais, a carta magna reconhece a importância deles para o ho-
mem.
Desta forma, cria-se uma lacuna no âmbito jurídico,
pois os animais passaram a penetrar e a exercer um papel
relevante na convivência em família, bem como passou a ser
sujeito portador de direito subjetivos, e tornando-se, atual-
mente, grande motivo de inúmeros casais irem aos Tribunais.
Circunstância esta, que ante a ausência de norma legal, vem
causando atraso e deficiência de fundamentação legal nas de-
cisões proferidas em juízo.
Isso porque o ordenamento jurídico nacional ainda não
apresenta uma configuração dos animais como sujeitos porta-
dores de direitos, sobrecarregando, assim, o judiciário em
busca de soluções para a resolução dos litígios envolvendo os
animais domésticos, ora figurando como parte, outra como ob-
jetos da lide.
Assim sendo, quando diante de ausência de norma le-
gal especifica o art. 4° da Lei de Introdução as Normas de Di-
reito Brasileiro, normatiza que ante a inexistência de sustenta-
ção legal, cabe ao juiz se valer da analogia, costumes e prin-
cípios do Direito brasileiro. Tal quadro, pode ser exemplificado
por meio do seguinte julgado:

97
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DISSO-


LUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. ANIMAL DE ES-
TIMAÇÃO. AQUISIÇÃO NA CONSTÂNCIA DO
RELACIONAMENTO. INTENSO AFETO DOS
COMPANHEIROS PELO ANIMAL. DIREITO DE
VISITAS. POSSIBILIDADE, A DEPENDER DO
CASO CONCRETO. 1. Inicialmente, deve ser
afastada qualquer alegação de que a discussão
envolvendo a entidade familiar e o seu animal de
estimação é menor, ou se trata de mera futilidade
a ocupar o tempo desta Corte. Ao contrário, é
cada vez mais recorrente no mundo da pós-mo-
dernidade e envolve questão bastante delicada,
examinada tanto pelo ângulo da afetividade em
relação ao animal, como também pela necessi-
dade de sua preservação como mandamento
constitucional (art. 225, § 1, inciso VII – 'proteger
a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função eco-
lógica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade'). 2. O Código
Civil, ao definir a natureza jurídica dos animais,
tipificou-os como coisas e, por conseguinte, ob-
jetos de propriedade, não lhes atribuindo a quali-
dade de pessoas, não sendo dotados de perso-
nalidade jurídica nem podendo ser considerados
sujeitos de direitos. Na forma da lei civil, o só fato
de o animal ser tido como de estimação, rece-
bendo o afeto da entidade familiar, não pode vir
a alterar sua substância, a ponto de converter a
sua natureza jurídica. 3. No entanto, os animais
de companhia possuem valor subjetivo único e
peculiar, aflorando sentimentos bastante íntimos
em seus donos, totalmente diversos de qualquer
outro tipo de propriedade privada. Dessarte, o re-
gramento jurídico dos bens não se vem mos-
trando suficiente para resolver, de forma satisfa-
tória, a disputa familiar envolvendo os pets, visto

98
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que não se trata de simples discussão atinente à


posse e à propriedade. 4. Por sua vez, a guarda
propriamente dita - inerente ao poder familiar -
instituto, por essência, de direito de família, não
pode ser simples e fielmente subvertida para de-
finir o direito dos consortes, por meio do enqua-
dramento de seus animais de estimação, notada-
mente porque é um munus exercido no interesse
tanto dos pais quanto do filho. Não se trata de
uma faculdade, e sim de um direito, em que se
impõe aos pais a observância dos deveres ine-
rentes ao poder familiar. 5. A ordem jurídica não
pode, simplesmente, desprezar o relevo da rela-
ção do homem com seu animal de estimação, so-
bretudo nos tempos atuais. Deve-se ter como
norte o fato, cultural e da pós-modernidade, de
que há uma disputa dentro da entidade familiar
em que prepondera o afeto de ambos os cônju-
ges pelo animal. Portanto, a solução deve per-
passar pela preservação e garantia dos direitos
à pessoa humana, mais precisamente, o âmago
de sua dignidade. 6. Os animais de companhia
são seres que, inevitavelmente, possuem na-
tureza especial e, como ser senciente - dota-
dos de sensibilidade, sentindo as mesmas
dores e necessidades biopsicológicas dos
animais racionais -, também devem ter o seu
bem-estar considerado. 7. Assim, na dissolu-
ção da entidade familiar em que haja algum
conflito em relação ao animal de estimação,
independentemente da qualificação jurídica a
ser adotada, a resolução deverá buscar aten-
der, sempre a depender do caso em concreto,
aos fins sociais, atentando para a própria
evolução da sociedade, com a proteção do
ser humano e do seu vínculo afetivo com o
animal. 8. Na hipótese, o Tribunal de origem re-

99
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

conheceu que a cadela fora adquirida na cons-


tância da união estável e que estaria demons-
trada a relação de afeto entre o recorrente e o
animal de estimação, reconhecendo o seu direito
de visitas ao animal, o que deve ser mantido. 9.
Recurso especial não provido" (REsp nº
1.713.167/SP, Rel. Ministro Luís Felipe Salomão,
QUARTA TURMA, julgado em 19/6/2018, DJe
9/10/2018 – grifou-se).

Feita tais ponderações, no que concerne aos processos


de separação conjugal envolvendo os animais de estimação,
evidencia-se a ausência de amparos legais sobre os institutos
de guarda, visitação e pensão quando são objetos de petições,
fazendo com que os magistrados se amparem em jurisprudên-
cias atuais e, a depender do caso concreto em leis que regem
o Direito de Família.
Contudo, tais ações não encontram embasamento re-
gular, pois as decisões estão se firmando em uma via regula-
mentar e fundacional instável, como por exemplo, ao tratar do
instituto de guarda, aplicando por analogia os artigos 1.583 a
1.590 do Código Civil sobre o dever de guarda que os pais têm
para com os seus filhos tidos no decorrer do casamento, não
se tem alicerce quando aplicado para o interesse do animal
não humano, desvirtuando a natureza da norma e gerando ins-
tabilidade jurídica.

100
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Sob essa ótica, cabe ao judiciário, como meio de reso-


lução para os eventuais litígios, a aplicação de princípios, de-
cisões e doutrinas que garantam o melhor interesse dos ani-
mais, visto que o ordenamento jurídico brasileiro ainda não
possui uma lei especificamente para o tema.

3.4 DA POSSIBILIDADE DE PEDIDO DE GUARDA, INDENI-


ZAÇÃO OU AJUDA DE CUSTO EM RAZÃO DA DISPUTA
PELOS PETS

Em linhas gerais, como já explanado nos capítulos an-


teriores, no cotejo de ações em varas de família no brasil, são
muitas as aquelas ajuizadas com pedidos de guarda compar-
tilhada e auxilio no custeio dos pets advindos da formação de
um vínculo conjugal.
Nessa senda, insta relatar que em durante uma apura-
ção quantitativa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE) realizou uma pesquisa, apurando, ao final, a
enorme quantidade de animais de estimação que o país reu-
nia, até aquela data.
Logo, partindo do pressuposto de que os animais do-
mésticos fazem parte da vida da maioria dos brasileiros, a pos-
sibilidade da concessão dos regimes de guarda, como tam-
bém da ajuda do custo de subsistência do pet percorre por

101
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

conceitos preliminares importantes, que serão abordados a


seguir.
A obrigação alimentícia é regulamentada pelos artigos
1.694 a 1.710 do Código Civil de 2002, sendo definida como o
socorro mútuo entre os cônjuges e companheiro diante de
uma relação respeitosa por ambos, mesmo após o fim do vín-
culo que os mantinham unidos, em prol da permanência da
permanência da união e solidariedade familiar (Madaleno, Rolf
p.1007, 2023).
Não obstante, essa obrigação deve ser fixada através
de acordo entre os ex conviventes, e de forma que não venha
a possibilitar o enriquecimento ilícito de umas partes, garan-
tindo ao alimentando os mesmos custeios que tinha durante a
vigência da sociedade conjugal. Dessa forma, como forma de
impedir que tal lide ocorra e, consequentemente, possibilite a
fixação de indenização e ajuda patrimonial do pet, essa obri-
gação alimentícia vem sendo nomeada como ajuda de custos
para manter a vida, saúde e bem-estar do animal.
Exemplificando para melhor elucidação, nos autos do
Recurso Especial n° 1.944.228, o Juízo da 4ª Vara Cível do
Foro Regional I – Santana - da Comarca de São Paulo, julgou
parcialmente procedentes os pedidos da autora de custeio do
pet adquirido no decorrer do seu casamento, afirmando que:

102
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Diante daquela realidade jurídica, de pronto


afasta-se os argumentos desenvolvidos na de-
fesa de perdimento da propriedade dos cachor-
ros pelo abandono deles e de transmissão do do-
mínio ao pai da autora que deles passou a cui-
dar. Houve relação de afeto entre os animais e
as partes, autora e réu desfrutaram da compa-
nhia dos animais, fato mostrados nas fotografias
juntadas, fls.38/62 com a inicial. Neste quadro,
não se admite, sob o ponto de vista ético, o aban-
dono deles como causa de extinção da proprie-
dade e da inerente responsabilidade pelos cuida-
dos que bichos necessitam. Há dever moral de
zelar pelo bem-estar dos cachorros, mesmo de-
pois de desfeita a união estável com a autora e
no contexto da qual eles foram adquiridos.

Ademais, o instituto de guarda compartilhada também


figura como ponto central das recentes demandas levadas a
juízo, como pode ser observado na ação que tramitou em juízo
de um pet, o qual fez parte de um processo de guarda e visi-
tação, após a separação judicial dos seus donos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REGULAMEN-


TAÇÃO DE GUARDA DE ANIMAL DE ESTIMA-
ÇÃO. CADELA QUE, APÓS A DISSOLUÇÃO DA
SOCIEDADE DE FATO DAS LITIGANTES, FI-
COU SOB OS CUIDADOS DA RÉ. SENTENÇA
NA ORIGEM QUE INDEFERIU A INICIAL E EX-
TINGUIU O FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉ-
RITO. RECURSO DA AUTORA. SENTENÇA
EXTINTIVA CALCADA NA INEXISTÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL SOBRE O TEMA. MATÉRIA,
NO ENTANTO, DEVIDAMENTE ENFRENTADA
NAS CORTES DE JUSTIÇA DE TODO O PAÍS.
RECONHECIMENTO, PELO SUPERIOR TRI-
BUNAL DE JUSTIÇA, ACERCA DA POSSIBILI-
DADE JURÍDICA DE REGULAMENTAÇÃO DE

103
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

VISITAS A ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO. RE-


CURSO ESPECIAL N. 1713167/SP. VIABILI-
DADE JURÍDICA DA DISCUSSÃO POSTA. RE-
CURSO PROVIDO PARA ANULAR A SEN-
TENÇA E DETERMINAR O RETORNO DOS
AUTOS À ORIGEM PARA O REGULAR PRO-
CESSAMENTO DO FEITO. "1. Inicialmente,
deve ser afastada qualquer alegação de que a
discussão envolvendo a entidade familiar e o seu
animal de estimação é menor, ou se trata de
mera futilidade a ocupar o tempo desta Corte. Ao
contrário, é cada vez mais recorrente no mundo
da pós-modernidade e envolve questão bastante
delicada, examinada tanto pelo ângulo da afetivi-
dade em relação ao animal, como também pela
necessidade de sua preservação como manda-
mento constitucional (art. 225, § 1, inciso VII -
"proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da
lei, as práticas que coloquem em risco sua fun-
ção ecológica, provoquem a extinção de espé-
cies ou submetam os animais a crueldade"). 2. O
Código Civil, ao definir a natureza jurídica dos
animais, tipificou-os como coisas e, por conse-
guinte, objetos de propriedade, não lhes atribu-
indo a qualidade de pessoas, não sendo dotados
de personalidade jurídica nem podendo ser con-
siderados sujeitos de direitos. Na forma da lei ci-
vil, o só fato de o animal ser tido como de estima-
ção, recebendo o afeto da entidade familiar, não
pode vir a alterar sua substância, a ponto de con-
verter a sua natureza jurídica. 3. No entanto, os
animais de companhia possuem valor subjetivo
único e peculiar, aflorando sentimentos bastante
íntimos em seus donos, totalmente diversos de
qualquer outro tipo de propriedade privada. Des-
sarte, o regramento jurídico dos bens não se vem
mostrando suficiente para resolver, de forma sa-
tisfatória, a disputa familiar envolvendo os pets,
visto que não se trata de simples discussão ati-
nente à posse e à propriedade. 4. Por sua vez, a
guarda propriamente dita - inerente ao poder fa-
miliar - instituto, por essência, de direito de famí-
lia, não pode ser simples e fielmente subvertida

104
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

para definir o direito dos consortes, por meio do


enquadramento de seus animais de estimação,
notadamente porque é um munus exercido no in-
teresse tanto dos pais quanto do filho. Não se
trata de uma faculdade, e sim de um direito, em
que se impõe aos pais a observância dos deve-
res inerentes ao poder familiar. 5. A ordem jurí-
dica não pode, simplesmente, desprezar o relevo
da relação do homem com seu animal de estima-
ção, sobretudo nos tempos atuais. Deve-se ter
como norte o fato, cultural e da pós-moderni-
dade, de que há uma disputa dentro da entidade
familiar em que prepondera o afeto de ambos os
cônjuges pelo animal. Portanto, a solução deve
perpassar pela preservação e garantia dos direi-
tos à pessoa humana, mais precisamente, o
âmago de sua dignidade. 6. Os animais de com-
panhia são seres que, inevitavelmente, possuem
natureza especial e, como ser senciente - dota-
dos de sensibilidade, sentindo as mesmas dores
e necessidades biopsicológicas dos animais ra-
cionais -, também devem ter o seu bem-estar
considerado. 7. Assim, na dissolução da enti-
dade familiar em que haja algum conflito em re-
lação ao animal de estimação, independente-
mente da qualificação jurídica a ser adotada, a
resolução deverá buscar atender, sempre a de-
pender do caso em concreto, aos fins sociais,
atentando para a própria evolução da sociedade,
com a proteção do ser humano e do seu vínculo
afetivo com o animal." (REsp 1713167/SP, Rel.
Ministro Luís Felipe Salomão, QUARTA TURMA,
julgado em 19/06/2018, DJe).

No entanto, esse marco civilizatório apesar de ter pas-


sado a integrar as discussões dos magistrados, a avaliação
que eles fazem sobre o tema, embora seja revertida de objeti-

105
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vidade no grau de afetividade do animal com os seus guardi-


ões, ainda não conferiu a responsabilidade indenizatória em
caso de abandono patrimonial do pet.
Diante do quadro apresentado, ressalta-se a existência
do Projeto de Lei n° 179/2023, de autoria dos delegados Ma-
theus Laiola e Bruno Lima, visando o reconhecimento da fa-
mília multiespécie e dá outras providencias, como em seu ar-
tigo 13 que prevê:

Art. 13. Em caso de separação, de divórcio ou de


dissolução da união estável, judicial ou extrajudi-
cial, deverá ser acordado ou decidido sobre a
guarda, unilateral ou compartilhada, dos animais
de estimação, além de eventual direito de visitas
e de pensão alimentícia específica para a manu-
tenção das necessidades do animal.
§ 1° É proibida a partilha de animais de estima-
ção.
§ 2º São competentes os juízos de família para
decidir sobre o destino e os direitos do animal de
estimação em caso de separação, divórcio ou
dissolução da união estável.

Em outro parâmetro, o art. 14 desse PL objetiva esta-


belecer que:

Art. 14. Aos animais de estimação, no âmbito das


famílias multiespécies, poderá ser constituído
capital, ou destinados bens ou rendas específi-
cas, visando a atender às necessidades decor-
rentes dos seus direitos fundamentais, especial-
mente no que se refere à saúde animal.

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§ 1° O patrimônio animal, constituído na forma


do caput deste artigo, será administrado por
quem detiver o poder familiar ou a tutela, em pro-
veito exclusivo do animal.
§ 2° Sempre que solicitados pelas autoridades
competentes, os pais humanos do animal, ou o
seu tutor, deverão apresentar contas da adminis-
tração do patrimônio animal.
§ 3° Também integrarão o patrimônio animal os
valores decorrentes de decisão judicial condena-
tória ou de pensão alimentícia exclusivamente
destinados ao animal.
§ 4° A constituição do patrimônio referido no ca-
put poderá se dar por testamento, respeitados os
preceitos da lei civil.
§ 5° Em caso de morte do animal que possua pa-
trimônio, os valores ou bens deixados poderão
ser aplicados em benefício exclusivo da respec-
tiva prole ou de outros animais pertencentes à
mesma família multiespécie, mantido o dever de
prestação de contas.
§ 6° Na hipótese do parágrafo anterior, caso o
animal falecido não tenha prole, nem existam ou-
tros animais de estimação na família, os valores
ou bens deixados serão revertidos ao fundo mu-
nicipal dos direitos animais do domicílio do ani-
mal ou, na falta deste, aos fundos estaduais e fe-
derais, nesta ordem, ressalvadas as disposições
especiais contidas nesta Lei.
§ 7° Aplica-se, para fins tributários, quanto aos
bens e rendas do animal o disposto no art. 134
da Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Có-
digo Tributário Nacional.

Caso seja aprovado e entre em vigor, prevalecerá como


norma expressa nas decisões judiciais nos tribunais do país,
diminuindo a falha jurídica para com a família multiespécie e a
guarda, visitação e pensão alimentícia dos animais de estima-
ção após o fim da sociedade conjugal.

107
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Importante destacar, o Enunciado n° 11 do Instituto Bra-


sileiro de Direito de Família (IBDFAM) que dispõe “Na ação
destinada a dissolver o casamento ou a união estável, pode o
juiz disciplinar a custódia compartilhada do animal de estima-
ção do casal’’. Regulamento este, que vigora como base para
a doutrina e jurisprudência tomarem as rédeas judiciais ao en-
frentar essa problemática e estender os direitos protetivos aos
animais, uma vez que o legislativo, por ora, encontra-se inerte.
Portanto, ainda que o quadro dos animais domésticos
tidos como “filhos’’ na sociedade conjugal seja revertido de nu-
ances incertos e entendimentos diversos, há a possibilidade
do provimento dos pedidos de guarda, indenização e auxilio
de custos para a alimentação, vacinas e médicos veterinários,
ainda que continue dependendo do caso concreto.
Logo, pelo fato dos pets terem advindo e participado de
um contexto familiar multiespécie, devem fazer jus a direitos
que lhe assegurem dignidade a vida, saúde e bem-estar, ou
seja, necessários para sua manutenção e existência, como a
pensão alimentícia e a guarda compartilhada. Dado que,
quando foram adquiridos seus responsáveis já tinham a cons-
ciência do valor sentimental que esses animais domésticos te-
riam e os gastos que viriam a ter. Não se excluindo facilmente
assim, tamanha responsabilidade afetiva para com esses se-
res dotados de sensibilidade.

108
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo que foi analisado no presente trabalho, a partir


da análise do tema, é possível a atribuição da tutela dos ani-
mais domésticos após a dissolução da sociedade conjugal,
ressalvada a barreira para essa possibilidade, qual seja: a au-
sência de norma expressa.
Haja vista que, é imprescindível para o contexto judicial
a identificação e proteção das diversas espécies de família
que vem surgindo por meio das transformações que a socie-
dade sofre com o passar dos tempos, como a valorização do
afeto nas relações entre humanos e seres não humanos, não
mais caracterizando-os como “coisas’’ e bens semoventes,
como é ditado no art.82 do Código Civil.
Em vista disso, buscou-se compreender como ocorre
fica tutela dos animais domésticos, intitulados como pets, pos-
teriormente o rompimento do vínculo matrimonial e mutualís-
tico dos ex cônjuges ou ex companheiros, evidenciando os
atuais meios que regulamentam a quem cabe o dever de arcar
com as despesas de subsistência do animal, a guarda defini-
tiva ou provisória e, ainda, o direito de visitação, ante a carên-
cia de legislação especifica.
Outrossim, cabe salientar que os acórdãos proferidos e

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

julgados obtidos a partir do caso fortuito, possuem caráter vin-


culante, a fim de perfazer a falta que o legislativo possui para
com a problemática, ao não reconhecer de plano as diversas
faces da família multiespécie na modernidade.
Por conseguinte, é notável pelo estudo de pesquisa, os
resultados obtidos nos tribunais judiciais pelo Brasil, que vem
considerando e aprovando as requisições de guarda compar-
tilhada e, mais recentemente, ajuda nos custeios dos pets, re-
afirmando a importância da proteção da afetividade nas rela-
ções humano-animal.
Deste modo, conclui-se que ante as novas configura-
ções familiares, os pets e seus guardiões são merecedores de
uma lei especifica que assegure seus direitos fundamentais de
vida, saúde e bem-estar, uma vez que figuram como seres do-
tados de senciência e sensibilidade, devendo, como foi obser-
vado, ser criada uma legislação especifica que regulamente
os institutos de guarda, indenização e pensão, quando os ani-
mais forem parte de processos litigiosos de extinção da socie-
dade conjugal.

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Erro! A referência de hiperlink não é válida. Acesso em: 21 a
br. 2023.

116
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4
É POSSÍVEL A PREVISÃO DE RESPONSABILIDADE CI-
VIL NO PACTO ANTENUPCIAL, PARA PERMITIR INDENI-
ZAÇÃO NO CASO DE INFIDELIDADE CONJUGAL?

IS IT POSSIBLE TO PROVIDE FOR CIVIL LIABILITY IN


THE ANTENUPTIAL AGREEMENT, TO ALLOW COMPEN-
SATION IN THE CASE OF MARITAL INFIDELIAGE?

Ana Vitória de Albuquerque Borges7


Alcides Marini Filho8

BORGES, Ana Vitória de Albuquerque; FILHO, Alcides


Marine. É possível a previsão de responsabilidade ci-
vil no pacto antenupcial, para permitir indenização no
caso de infidelidade conjugal? Trabalho de Conclusão
de Curso de graduação em Direito – Centro Universitário
UNINORTE, Rio Branco. 2024.

7
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
8
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Católica Dom Bosco - Campo Grande/MS. Pós-graduação em
Direito Civil Instituto Elpídio Donizete/MG

117
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente artigo visa debater a possibilidade de


responsabilização civil no pacto antenupcial para permitir a in-
denização no caso de infidelidade conjugal. Objetivo. Apre-
sentar uma nova forma de vislumbrar as relações civis matri-
moniais, diminuindo as amarras que as regras, majoritaria-
mente, eram usadas nas cláusulas do casamento, não se res-
tringindo somente aos bens, mas entrando em questões que
sempre foram judicializadas nas separações. Método. Utili-
zou-se de pesquisas aprofundadas nos mais diversos campos
jurídicos, com despachos judiciais em que corroboram com as
cláusulas. Resultado. Os pactos antenupciais estão se mo-
dernizando, permitido aos nubentes serem livres para decidi-
rem as regras de seu casamento, acrescentando cláusulas
que venham permitir uma melhor convivência matrimonial nas
diferentes formas de união, com diferentes pontos de vistas,
transformando a união, numa relação justa, acima dos precei-
tos sociais. Conclusão. Não obstante, o pacto antenupcial
tem que evoluir junto com as mudanças que a sociedade im-
pôs atualmente, tornando-se um contrato mais abrangente
para aqueles que buscam uma melhor tratativa de seus inte-
resses.

Palavras-chave: casamento; cônjuge; infidelidade; indeniza-


ção.

ABSTRACT

Introduction. This article aims to debate the possibility of civil


liability in the prenuptial agreement to allow compensation in

118
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

the case of marital infidelity. Goal. Present a new way of view-


ing civil marital relations, reducing the constraints that the
rules, in the majority, were used in marriage clauses, not re-
stricting themselves only to assets, but entering into issues that
have always been judicialized in separations. Method. In-
depth research was used in the most diverse legal fields, with
court orders corroborating the clauses. Result. Prenuptial
agreements are being modernized, allowing the bride and
groom to be free to decide the rules of their marriage, adding
clauses that allow for better marital coexistence in different
forms of union, with different points of view, transforming the
union into a fair relationship, above of social precepts. Conclu-
sion. However, the prenuptial agreement has to evolve along
with the changes that society has imposed nowadays, becom-
ing a more comprehensive contract for those who seek better
treatment of their interests.

Keywords: marriage; spouse; infidelity; indemnity.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo, debater sobre a


possibilidade da responsabilização civil, com a inclusão das
cláusulas de indenizações, no pacto antenupcial em caso de
infidelidade conjugal, tendo em vista que a infidelidade e suas
consequências são problemas recorrentes na sociedade.

119
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O casamento, ao decorrer dos séculos, é visto como um


dos alicerces da sociedade, bem como, da constituição da fa-
mília. É um instituto que não está ligado somente a questões
legais, como também, a vida individual dos cônjuges. Nessa
conjectura, o pacto antenupcial manifesta-se como uma ferra-
menta para que os cônjuges possam ter autonomia privada
sobre as regras que irão vigorar na constância do matrimônio
e o seu fim.
Nos aprofundaremos na análise do casamento, não em
seu aspecto geral, mas no âmbito de sua regra, exploraremos
o Pacto Antenupcial no tocante aos aspectos legais, éticos e
sociais da indenização por infidelidade analisando os argu-
mentos que favorecem e que se opõem à ideia de prever uma
indenização por infidelidade no pacto antenupcial. Além disso,
examinaremos como diferentes jurisdições e precedentes le-
gais abordam essa questão, buscando identificar tendências,
pelas quais a justiça brasileira, vem costurando novas doutri-
nas e atualizando o entendimento do pacto antenupcial.

4.1 A HISTÓRIA DO CASAMENTO

No Estado Romano, o império não exercia o poder so-


bre o indivíduo, mas sobre a família. Quando a mulher se ca-
sava, deixava sua família de origem e passava a fazer parte
da família do marido, bem como assumia o nome da família

120
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

do cônjuge. Se o marido ainda fosse sujeitado ao pai, sua


noiva passava a ser tratada como filha e entraria na herança
com os mesmos direitos que seus irmãos. O casamento era
um acordo entre o chefe da família e o interessado, firmados
nos esponsais (noivados), com um grande banquete entre as
duas famílias e, neste evento, era marcado o dia de núpcias,
que era o dia em que a noiva seria encaminhada à casa do
noivo através de uma celebração, seguindo alguns ritos onde
ela deixava de fazer parte da família paterna e passava a fazer
parte da família do marido. Apesar de não ser uma obrigatori-
edade, as famílias do noivo presenteavam a família da noiva
com bens.
No entanto, se por qualquer motivo a noiva ou sua fa-
mília não dessem prosseguimento ao noivado, cabia à família
da noiva restituir à família do noivo quatro vezes mais os bens
que porventura tenham recebido. O noivo só poderia celebrar
outros esponsais ou núpcias desde que cessassem o outro
precedente para que não caíssem em infâmia. Do mesmo
modo, a noiva que tivesse cometido relação sexual antes da
convivência era considerada adúltera, ou seja, era tratada nos
mesmos moldes das mulheres conviventes.
O casamento em Roma era considerado clandestino
se, ao menos, não tivessem realizado os esponsais. Apesar
de não haver uma proteção jurídica, o casamento precisava

121
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de um conhecimento público, pois a publicidade legitimava a


convivência matrimonial. Já o concubinato era proibido por lei
e denominado stuprum (estupro). Os esponsais (noivado) cri-
avam uma affinitas, ou seja, uma afinidade entre as duas fa-
mílias, tornando uma espécie de família única, sendo, pois,
proibido outros esponsais entre a família.
Existiam três configurações do casamento romano, o
Confaerratio era uma forma antiga de casamento romano
onde a noiva era destinada ao marido, ou seja, o pai passava
ao noivo a autoridade sobre a noiva através de um ritual sim-
bólico da lança (Flamen dialis) que separava o cabelo da
noiva, simbolizando a passagem de autoridade. Era realizado
por um sacerdote especializado no culto de Júpiter, através de
um sacrifício aos deuses de um bolo de trigo chamado far-
reum, que representava a fertilidade e a prosperidade dos noi-
vos, na presença de, no mínimo, dez testemunhas.
Coemptio era uma forma menos usual de casamento;
consistia em uma espécie de compra, onde o noivo pagava
uma quantia simbólica de um peso em moeda ao pai da noiva,
feito na presença de testemunhas para garantir o status de le-
galidade ao ato. O Coemptio era uma outra forma legal de ca-
samento como o confaerratio, apesar de menos usado. Con-
tudo, podiam também fazer rituais aos deuses Júpiter e Juno
para garantir bençãos divinas e prosperidade no casamento.

122
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Contudo, o aspecto financeiro no Coemptio era o principal ato.


Usus, ou per usum, era uma terceira forma de casa-
mento na Roma antiga e consistia no direito da propriedade
sobre a mulher pela coabitação, onde o poder do pai era pas-
sado ao marido automaticamente ao completar um ano inin-
terrupto de convivência. No entanto, se ela passasse três noi-
tes consecutivas fora de casa, poderia ser considerado aban-
dono e automaticamente o poder de propriedade da mulher
voltaria ao pai, e esse ato dissolvia o casamento.
Outra forma de dissolução seria se durante esse perí-
odo ela fosse reivindicada como propriedade por outro ho-
mem. Essa forma simples de casamento não se utilizava de
rituais aos deuses nem cerimônias específicas como no caso
do confaerratio e do coemptio.
Durante toda a história humana, o casamento passou
por grandes mudanças no tocante à sua finalidade. Na idade
antiga, o casamento era uma questão de instituição econô-
mica, e não uma relação estritamente amorosa e passional. O
casamento na idade média, era constituído com interesses de
perpetuação do poder econômico e social, com o passar dos
séculos, foi evoluindo para um conceito mais religioso, cultural
e legal.

123
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Foi no período renascentista que a sociedade, influen-


ciada pela cultura greco-romana, passou a enxergar o casa-
mento como um conceito final do amor. Este conceito foi for-
talecido no período iluminista, onde a sociedade começou a
compartilhar conhecimento com o objetivo de acreditar na ra-
zão, como forma de enaltecer o indivíduo em detrimento a
questões do pensamento religioso.
Com a revolução industrial, o casamento foi brutal-
mente influenciado, pois os indivíduos passaram a buscar par-
ceiros não somente por fatores econômicos, mas por afinida-
des, desde então, o conceito de casamento vem mudando a
cada momento, com regras, obrigações e deveres, transfor-
mando o matrimônio em um conceito jurídico, com garantia
aos nubentes de uma relação não somente de afinidade, mas
de contrato entre dois indivíduos.

4.2 A SOCIEDADE CONJUGAL E O VÍNCULO


MATRIMONIAL

O casamento era indissolúvel no Brasil até o ano de


1977, dado que, naquela época, grande parte da população
brasileira era cristã, o que ocasionava grande influência nas
leis vigentes naquele tempo.
Em tempos passados, não existia a possibilidade de se

124
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

divorciar, somente encerrava-se a união conjugal, sem a ex-


tinção dos laços matrimoniais, através do “desquite”, presente
no Código Civil de 1916, “A ação de desquite só se pode fun-
dar em algum dos seguintes motivos: I. Adultério. II. Tentativa
de morte. III. Sevicia, ou injuria grave. IV. Abandono voluntário
do lar conjugal, durante dois anos contínuos” (Brasil,1916,
art.347) entretanto, a lei 6.515/1977 (Lei do divórcio) substituiu
por separação judicial, em conjunto, nasceu o termo socie-
dade conjugal, à medida que o divórcio extingue o vínculo ma-
trimonial.
A sociedade conjugal e o vínculo matrimonial apresen-
tam contextos distintos, entretanto, complementares, que re-
gulam o casamento no Brasil. A sociedade conjugal é consi-
derada o eixo principal do casamento, é uma relação jurídica
que se estabelece entre os cônjuges, composta de direitos e
deveres que são essenciais para a manutenção do casa-
mento. O vínculo conjugal se dá a partir do casamento, como
expressa o artigo 1.524, do Código Civil (2002), veja: “Art.
1.514. O casamento se realiza quando o homem e a mulher
manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vín-
culo conjugal, e o juiz os declara casados. (Brasil, 2002)”
O elo matrimonial é o que torna o casamento um con-
trato válido e eficaz, tornando-se um instituto acima da socie-
dade conjugal. O vínculo conjugal é a base da relação vivida

125
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

por dois indivíduos quando estes decidem se unir através do


casamento ou união civil. O vínculo é o que vai reger os direi-
tos e deveres dos cônjuges na administração da união entre
os indivíduos, desde os laços emocionais, legais e sociais. O
vínculo conjugal estabelece uma série de responsabilidades
que envolvem o casal, desde o apoio mútuo na vida social,
familiar e existencial, tendo ambos o compromisso de criar os
filhos, educar, tomar decisões conjuntas, ou seja, fortalecer o
vínculo ao longo do tempo, através do respeito mútuo, empatia
e convivência agradável.
Esses fatores são baseados em: Comunicação eficaz,
onde o casal busca estabelecer uma comunicação aberta, ca-
paz de expressar seus sentimentos, dúvidas e preocupações
de forma respeitosa e compreensiva; Confiança, onde existe
um compromisso do casal baseado na honestidade e integri-
dade, construindo uma base sólida no casamento; Respeito
mútuo, conviver de forma a não quebrar a cortesia entre si,
reconhecendo as diferenças individuais; Compatibilidade, bus-
car no outro interesses, sonhos e realizações de modo a unir
os objetivos de vida ordenados de modo a facilitar a harmonia
e a cooperação entre o casal; Apoio recíproco, apoiar recipro-
camente o outro desde os aspectos emocionais, físicos e
econômicos; Intimidade, buscar estabelecer um relaciona-

126
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mento com o objetivo de satisfazer o parceiro de modo emoci-


onal e físico; Compromisso, estabelecer um esforço mútuo
com o objetivo de cooperar com a união do casal, de modo a
fortalecer e suprir o vínculo no decorrer do tempo; Resolução
de disputas, procurar atenuar as disputas e conflitos buscando
soluções que equacionem os interesses de forma construtiva,
promovendo a ampliação da resiliência do relacionamento.
A anulação da sociedade conjugal é repleta de subsí-
dios que norteiam as justificativas para a dissolução matrimo-
nial. Desde aspectos das diferenças de valores morais e éti-
cos, como também a incompatibilidade emocional, falta de co-
municação, eventuais traumas psicológicos, fatores econômi-
cos e sociais.
Nesta conjectura, fazem parte deste processo todos
agregados associativos aos divorciados, que são os familia-
res, amigos e círculos sociais. A análise desses componentes
permite um aprofundamento na dinâmica dos princípios que
norteiam a dissolução da união conjugal, implicando numa
abordagem delicada e minuciosa do processo. Conforme ob-
serva-se nos termos do artigo, 1.571 do Código Civil (2002):

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I - pela morte de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.

127
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Entretanto, é importante mencionar que a separação ju-


dicial estabelece o fim somente a sociedade conjugal, e não
no vínculo matrimonial, sendo assim, os cônjuges não pode-
rão contrair novo casamento, pelo não rompimento do vínculo
matrimonial. Através do Código Civil, é laborioso compreender
a diferença de ambos, visto que, na doutrina, segundo Maria
Helena Diniz, expõe o seguinte:

O casamento é, sem dúvida, um instituto mais


amplo que a sociedade conjugal, por regular a
vida dos consortes, suas relações e suas rela-
ções e suas obrigações recíprocas, tanto morais
quanto os materiais, e seus deveres para com a
família e a prole. A sociedade conjugal, embora
contida no matrimônio, é um instituto jurídico me-
nor do que o casamento, regendo apenas o re-
gime matrimonial de bens dos cônjuges, os frutos
civis do trabalho ou indústria de ambos os con-
sortes ou de cada um deles. Daí não se pode
confundir o vínculo matrimonial com sociedade.
(Diniz, 2008)

O pontapé inicial do matrimônio é composto pela ética


e pela fundamentação legal que norteiam os rumos da convi-
vência nupcial. Na análise desses deveres, depreende-se não
somente as previsibilidades legais, mas também a relevância
vista de uma perspectiva empenhada, compromissada e mu-
tuamente benéfica para fortalecer a união matrimonial. Con-
forme preceitua o artigo 1.566 do Código Civil de 2002:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

128
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.

Dentre eles, destacam-se a fidelidade recíproca, em


que os cônjuges têm o dever de ser fiéis um ao outro, tanto no
aspecto sexual, quanto no aspecto afetivo e na mútua assis-
tência, no qual os cônjuges possuem o dever de prestar assis-
tência moral e material ao outro, bem como o sustento, tendo
em vista que os cônjuges têm o dever de suprir as necessida-
des alimentares do outro, de acordo com as suas possibilida-
des, tal como a guarda e à educação dos filhos, em que pese,
os cônjuges têm o dever e a obrigação de criar e educar seus
filhos, tendo o respeito e as considerações mútuas.

4.3 A FAMÍLIA E O CASAMENTO: UMA ANÁLISE


JURÍDICA

A família é um instituto jurídico complexo, no qual pode


ser definida de diversas maneiras. No seu sentido amplo, a
família incorpora seus descendentes de um antepassado em
comum, introduzindo parentes colaterais, tais como os tios e
primos. A família, em sentido estrito, se constitui pelo pai e/ou
mãe e os seus filhos. A família matrimonial surge a partir do
casamento, incorpora-se os nubentes e seus descendentes,

129
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sendo regulada pelo Código Civil, para que ocorra a sua festi-
vidade.
O matrimônio é uma instituição social que existe há sé-
culos. Em diferentes civilizações, possui o objetivo da constru-
ção familiar, sendo este, apontado como o núcleo fundamental
da sociedade. Trata-se, pois, da união de duas pessoas de
sexos distintos, que se comprometem em viver juntas e com-
partilhar seus bens e objetivos.
O casamento é um negócio jurídico bilateral, ou seja, é
um acordo entre duas pessoas que tem efeitos jurídicos, é ofi-
cializado por meio de um rito ou cerimônia, que podem variar
de acordo com a cultura local.
A família é a unidade básica da sociedade, e o casa-
mento é a chancela que a torna possível. A comunhão de vida
é um dos elementos essenciais do casamento, consiste na
junção entre duas pessoas em todos os aspectos, tais como
no afetivo, sexual, econômico e jurídico. A convivência com-
partilhada é o que diferencia o casamento das outras formas
de união, nomeadamente o namoro ou a união estável.
Segundo o art. 1.511, do Código Civil, indica que: “O
casamento estabelece a comunhão plena de vida, com base
na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges” (Brasil,
2002). Ou seja, a instituição casamento, estabelece equidade

130
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de tratamento, dever e obrigação entre os indivíduos compac-


tuados, não fazendo distinção entre os cônjuges.
Existem três teorias que tentam explicar o casamento.
A primeira trata-se da teoria contratualista, da qual depreende-
se que o casamento é um contrato entre duas pessoas que se
comprometem a viver juntas, compartilhar seus bens e seus
objetivos. Essa teoria é baseada na ideia de autonomia pri-
vada, ou seja, a liberdade dos indivíduos de celebrar contratos
de acordo com sua vontade. Na segunda, Pereira leciona so-
bre o casamento na teoria institucionalista:

Dentro da sociedade, a família é um organismo


de ordem natural com a finalidade de assegurar
a perpetuidade da espécie humana, e bem assim
o modo de existência conveniente às suas aspi-
rações e a seus caracteres específicos. Em face
disto, o casamento é o conjunto de normas impe-
rativas cujo objetivo consiste em dar à família
uma organização social moral correspondente às
aspirações atuais e à natureza permanente do
homem (Pereira, 2017, p. 110).

Por último, a teoria mista, que afirma que o casamento


é uma combinação das duas teorias anteriores. Essa teoria é
baseada na ideia de que o casamento é um contrato, mas tam-
bém é uma instituição social, a mesma enfatiza a necessidade
de respeitar e considerar a individualidade de cada união ma-
trimonial.
Na contemporaneidade, o casamento não é somente a

131
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

união entre o homem e a mulher, pode envolver pessoas de


qualquer gênero. Assim, muitas jurisdições reconhecem o ca-
samento igualitário.
Diante disso, entende-se que o casamento é uma insti-
tuição inclusiva e aberta independente da orientação sexual,
garantindo, dessa forma, direitos iguais e a oportunidade de
formar uma família entre pessoas do mesmo sexo e do mesmo
gênero.
À vista disso, foi reconhecida a inconstitucionalidade da
vedação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, O
REsp Nº1183378/RS, julgado em 25 de outubro de 2011, pela
4ª Turma do STJ, tendo pressupostos como a ausência de ve-
dação expressa no código civil, a não existência de compati-
bilidade com a Constituição Federal, dever do Poder Judiciá-
rio, como também, o acolhimento das minorias e fortaleci-
mento da democracia. Segue a ementa:

DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CIVIL EN-


TRE PESSOAS DO MESMO SEXO (HOMOAFE-
TIVO). INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 1.514,
1.521, 1.523, 1.535 e1. 565 DO CÓDIGO CIVIL
DE 2002. INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO EX-
PRESSA A QUE SE HABILITEM PARA O CASA-
MENTO PESSOAS DO MESMO SEXO. VEDA-
ÇÃO IMPLÍCITA CONSTITUCIONALMENTE
INACEITÁVEL. ORIENTAÇÃO PRINCIPIOLÓ-
GICA CONFERIDA PELO STF NO JULGA-
MENTO DA ADPF N. 132/RJ EDA ADI N.
4.277/DF.

132
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1. Embora criado pela Constituição Federal


como guardião do direito infraconstitucional, no
estado atual em que se encontra a evolução do
direito privado, vigorante a fase histórica da cons-
titucionalização do direito civil, não é possível ao
STJ analisar as celeumas que lhe aportam "de
costas" para a Constituição Federal, sob pena de
ser entregue ao jurisdicionado um direito desatu-
alizado e sem lastro na Lei Maior. Vale dizer, o
Superior Tribunal de Justiça, cumprindo sua mis-
são de uniformizar o direito infraconstitucional,
não pode conferir à lei uma interpretação que não
seja constitucionalmente aceita.
2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento
conjunto da ADPF n.132/RJ e da ADI n. 4.277/DF,
conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002 in-
terpretação conforme à Constituição para dele
excluir todo significado que impeça o reconheci-
mento da união contínua, pública e duradoura en-
tre pessoas do mesmo sexo como entidade fami-
liar, entendida esta como sinônimo perfeito de fa-
mília. 3.
Inaugura-se com a Constituição. Federal de 1988
uma nova fase do direito de família e, consequen-
temente, do casamento, baseada na adoção de
um explícito poliformismo familiar em que arran-
jos multifacetados são igualmente aptos a consti-
tuir esse núcleo doméstico chamado “família”, re-
cebendo todos eles a "especial proteção do Es-
tado". Assim, é bem de ver que, em 1988, não
houve uma recepção constitucional do conceito
histórico de casamento, sempre considerado
como via única para a constituição de família e,
por vezes, um ambiente de subversão dos ora
consagrados princípios da igualdade e da digni-
dade da pessoa humana. Agora, a concepção
constitucional do casamento - diferentemente do
que ocorria com os diplomas superados - deve
ser necessariamente plural, porque plurais tam-
bém são as famílias e, ademais, não é ele, o ca-
samento, o destinatário final da proteção do Es-
tado, mas apenas o intermediário de um propó-
sito maior, que é a proteção da pessoa humana

133
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em sua inalienável dignidade.


4. O pluralismo familiar engendrado pela Consti-
tuição -explicitamente reconhecido em preceden-
tes tanto desta Corte quanto do STF - impede se
pretenda afirmar que as famílias formadas por pa-
res homoafetivos sejam menos dignas de prote-
ção do Estado, se comparadas com aquelas apoi-
adas na tradição e formadas por casais heteroa-
fetivos.
5. que importa agora, sob a égide da Carta de
1988, é que essas famílias multiformes recebam
efetivamente a "especial proteção do Estado", e
é tão somente em razão desse desígnio de espe-
cial proteção que a lei deve facilitar a conversão
da união estável em casamento, ciente o consti-
tuinte que, pelo casamento, o Estado melhor pro-
tege esse núcleo doméstico chamado família.
6. Com efeito, se é verdade que o casamento civil
é a forma pelo qual o Estado melhor protege a
família, e sendo múltiplos os "arranjos" familiares
reconhecidos pela Carta Magna, não há de ser
negada essa via a nenhuma família que por ela
optar, independentemente de orientação sexual
dos partícipes, uma vez que as famílias constitu-
ídas por pares homoafetivos possuem os mes-
mos núcleos axiológicos daquelas constituídas
por casais heteroafetivos, quais sejam, a digni-
dade das pessoas de seus membros e o afeto.
7. A igualdade e o tratamento isonômico supõem
o direito a ser diferente, o direito à autoafirmação
e a um projeto de vida independente de tradições
e ortodoxias. Em uma palavra: o direito à igual-
dade somente se realiza com plenitude se é ga-
rantido o direito à diferença. Conclusão diversa
também não se mostra consentânea comum or-
denamento constitucional que prevê o princípio
do livre planejamento familiar (§ 7º do art. 226). E
é importante ressaltar, nesse ponto, que o plane-
jamento familiar se faz presente tão logo haja a
decisão de duas pessoas em se unir, com escopo
de constituir família, e desde esse momento a
Constituição lhes franqueia ampla liberdade de
escolha pela forma em que se dará a união.

134
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

8. Os arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565,


todos do Código civil de 2002, não vedam expres-
samente o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, e não há como se enxergar uma vedação
implícita ao casamento homoafetivo sem afronta
a caros princípios constitucionais, como o da
igualdade, o da não discriminação, o da digni-
dade da pessoa humana e os do pluralismo e livre
planejamento familiar.
9. Não obstante a omissão legislativa sobre o
tema, a maioria, mediante seus representantes
eleitos, não poderia mesmo "democraticamente"
decretar a perda de direitos civis da minoria pela
qual eventualmente nutre alguma aversão. Nesse
cenário, em regra é o Poder Judiciário - e não o
Legislativo - que exerce um papel contra majori-
tário e protetivo de especialíssima importância,
exatamente por não ser compromissado com as
maiorias votantes, mas apenas com a lei e com a
Constituição, sempre em vista a proteção dos di-
reitos humanos fundamentais, sejam eles das mi-
norias, sejam das maiorias. Dessa forma, ao con-
trário do que pensam os críticos, a democracia se
fortalece, porquanto esta se reafirma como forma
de governo, não das maiorias ocasionais, mas de
todos.
10. Enquanto o Congresso Nacional, no caso bra-
sileiro, não assume, explicitamente, sua coparti-
cipação nesse processo constitucional de defesa
e proteção dos socialmente vulneráveis, não
pode o Poder Judiciário demitir-se desse mister,
sob pena de aceitação tácita deum Estado que
somente é "democrático" formalmente, sem que
tal predicativo resista a uma mínima investigação
acerca da universalização dos direitos civis.
11. Recurso especial provido. (Salomão, 2011).

Na área do direito, a natureza jurídica do casamento é


um tema discutível, com duas principais perspectivas: a de or-

135
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dem pública e a de autonomia privada. A compreensão do ca-


samento é, prevalentemente, uma entidade de ordem pública,
isto é, ordenado pelo estado para garantir a proteção de inte-
resses públicos.
Esses interesses incluem o equilíbrio familiar, a prote-
ção dos direitos dos cônjuges, dos filhos e a organização so-
cial. É o estado sendo uma espécie de gerente do casamento,
dirimindo todas as inconsistências advindo dos interesses in-
dividuais da família e dos cônjuges em suas garantias funda-
mentais.
Já na compreensão de autonomia privada, o casa-
mento é um exercício de autonomia privada dos indivíduos,
em outras palavras, é celebrado com base na vontade livre e
voluntária dos cônjuges. Nesse ponto de vista, os consortes
dispõem da liberdade para deliberar sobre os termos do seu
matrimônio, desde que não infrinjam a ordem pública.
Na prática, o casamento é uma combinação desses
dois aspectos, um contrato que envolve a vontade dos cônju-
ges, expressa no consentimento mútuo, mas também está su-
jeito a regras e formalidades estabelecidas pelo estado para
garantir a validade e a proteção dos direitos e interesses das
partes envolvidas.
Sendo assim, conclui-se que o casamento é uma natu-
reza jurídica abstrusa, onde as peças de ordem pública e de

136
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

autonomia privada se misturam. O intercâmbio entre esses


dois elementos é de grande importância para garantir a segu-
rança jurídica total entre os indivíduos. Para que sejam res-
guardados perante a lei seus direitos.

4.4 O DEVER DE FIDELIDADE

O dever de fidelidade é considerado um dos pilares do


casamento, por ser essencial para a manutenção da confiança
e do respeito entre os consortes. Trata-se de uma regra de-
corrente do princípio da monogamia, que tem sido objeto de
grande debate nos últimos anos.
Alguns autores defendem que o dever de fidelidade é
um valor social que deve ser preservado, enquanto outros ar-
gumentam que ele é uma forma de coerção e repressão se-
xual. A infidelidade pode gerar diversos problemas no relacio-
namento, como a desconfiança, o ciúme, a frustração e, em
alguns casos, até mesmo a separação ou o divórcio
A fidelidade recíproca vem causando debates ao ainda
ser tutelada pelo estado, as pautas que normalmente são le-
vantadas, por exemplo, a fidelidade não ser essencial para o
casamento, visto que é possível existir uma união feliz sem
que haja a fidelidade sexual, como também, a tutela do dever
de fidelidade ser apontado como discriminatória, uma vez que,

137
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a monogamia é apenas uma forma de relacionamento, e não


deve ser imposta a todos.
Segundo o posicionamento sobre fidelidade ser prote-
gida pelo estado o renomado advogado, Marcos Alves da
Silva, expõe:

O Estado ingressa na intimidade da casa para di-


zer que a família feliz é aquela na qual são res-
peitados os deveres de fidelidade recíproca, vida
em comum no domicílio conjugal, assistência
mútua, sustento, guarda e educação dos filhos,
respeito e considerações mútuos. A questão é
que tal intervenção tornou-se um verdadeiro fi-
asco. Os deveres se converteram em meros con-
selhos morais, destituídos de qualquer eficácia
jurídica (2013).

Na contemporaneidade, o dever de fidelidade, que faz


parte da tradição histórica do direito brasileiro, vem se defi-
nhando e nascendo o questionamento se a fidelidade é um
dever jurídico ou moral. A fidelidade anteriormente, era pre-
vista no Código penal:

Art. 240. Cometer adultério: Pena - detenção, de


quinze dias a seis meses. [...]
§ 1º Incorre na mesma pena o co-réu.
§ 2º A ação penal somente pode ser intentada
pelo cônjuge ofendido, e dentro de um mês após
o conhecimento do fato.
§ 3º A ação penal não pode ser intentada:
I - pelo cônjuge desquitado;
II - pelo cônjuge que consentiu no adultério ou o
perdoou, expressa ou tacitamente.
§ 4º O juiz pode deixar de aplicar a pena:

138
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

I - se havia cessado a vida em comum dos côn-


juges;
II - se o querelante havia praticado qualquer dos
atos previstos no art. 317 do Código Civil. (Brasil,
1940).

Entretanto, a lei 11.106/2005 removeu do Código Penal


o crime de adultério, e sua revogação foi de grande mudança
ao Direito das Famílias. Considera-se que houve uma trans-
formação na sociedade, ocasionando a modificação do sis-
tema, e o adultério não é mais previsto nas leis penais, ou seja,
o estado não possui mais interesse em reprimir os adúlteros,
pois há outros interesses em que necessite de penas que res-
trinjam a liberdade.
Com isso, cada vez mais, enfraquecendo o compro-
misso de fidelidade. Aos vistos como infiéis, coube o dever de
indenização por danos morais ao cônjuge, que tenha sofrido
uma exposição vexatória de sua imagem e\ou reputação no
seu papel social.
De acordo com O Estado de Minas (2022), em uma pes-
quisa realizada pelo Gleenden, revela que o Brasil é o país
mais infiel da América Latina. Segundo a pesquisa, 62% dos
brasileiros enxergam a infidelidade como algo comum. O mo-
tivo pelos quais os brasileiros mais cometem infidelidade é por

139
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

razões sexuais, através dos desejos e curiosidades, o que cor-


responde a 50% (cinquenta por cento) dos motivos da puladi-
nha de cerca.
O ato do contato físico, também, é encarado como infi-
delidade pela maioria dos pesquisados. A autora da pesquisa,
Silvia Rubies, diretora de Comunicação e Marketing do Gleen-
den, afirma que 86% (oitenta e seis porcento) dos brasileiros
já foram infiéis, tornando-se a maior proporção da América La-
tina. Segundo a autora, 60% (sessenta porcento) dos brasilei-
ros acreditam que a traição é somente física, e que mais de
70% (setenta porcento) podem estar apaixonados pelo com-
panheiro e mesmo assim não ser fiel, uma vez que, sexo é
fundamental aos brasileiros e, na vida a dois, buscam outros
propósitos.
A distinção entre os gêneros em questão de infideli-
dade, demonstra o raio-x da cultura brasileira, sendo que o
gênero masculino é considerado o mais desleal no casamento.
Conforme os entrevistados, somente 2% (dois porcento) acre-
ditam que são o gênero feminino os mais infiéis.
De acordo com os estudos, 8 a cada 10 homens foram
infiéis. Aos homens que foram interrogados, 91% (noventa e
um porcento) admitiram que já traíram, enquanto as mulheres,
88% (oitenta e oito porcento) assumiram que foram infiéis. As

140
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mulheres são mais atacadas por serem infiéis do que os ho-


mens, o que demonstra a existência de um tabu de gênero,
uma espécie de machismo social, onde a ideia de traição fe-
minina é encarada pela sociedade, como como um ato repul-
sivo, abrandando o mesmo ato, quando este é cometido pelo
gênero masculino. Nove em cada 10 brasileiros acham que
mulheres são mais julgadas pela sociedade por infidelidade do
que os homens, e 99% (noventa e novo porcento) dos interro-
gados assumem que o sexo masculino possui uma maior li-
berdade sexual e segurança.
Como observa-se no gráfico, em todas as faixas etá-
rias, o sexo masculino se sobressai no quesito de infidelidade:

Fonte: Mosaico Brasil/Estudo coordenado por Carmita Abdo

141
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.5 PACTO ANTENUPCIAL

O pacto antenupcial é um contrato celebrado entre os


noivos antes do casamento, com o objetivo de estabelecer o
regime de bens que vigorará durante a união, a decisão do
regime de bens está de acordo com o princípio da liberdade.
Em outras palavras, a máxima autonomia contratual entre as
partes, encontra-se exposto no Código Civil de 1916 (art.256)
e incluso em 2002 (art.1.639), o pacto tem de ser realizado
através de escritura pública.
No Brasil, o regime de bens é um conjunto de regras
que determinam a forma como os bens dos cônjuges serão
partilhados em caso de divórcio, separação judicial ou morte
de um dos cônjuges. O regime de bens mais empregado no
Brasil é o de comunhão parcial de bens, em que os bens ad-
quiridos durante o casamento são considerados comuns, in-
dependentemente de quem os tenha adquirido.
Os noivos podem optar por um regime de bens dife-
rente do regime legal, desde que isso seja feito por meio de
pacto antenupcial. Os regimes de bens disponíveis são: comu-
nhão universal de bens, em que todos os bens dos cônjuges
adquiridos antes ou durante o casamento, são considerados
bens comuns; a separação total de bens, que se refere aos
bens dos cônjuges que permanecerão separados, mesmo que

142
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

adquiridos durante o casamento; e por fim, a separação final


dos aquestos em que os bens adquiridos durante o casamento
são considerados bens comuns, mas cada cônjuge tem direito
a metade do valor dos bens que o outro cônjuge adquiriu com
o seu trabalho ou esforço pessoal.
O pacto antenupcial apresenta grande relevância, con-
siderando que, de acordo com os dados existentes da Central
Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CENSEC),
houve um grande aumento do número de pactos antenupciais
lavrados no país, algo em torno de 110% (cento e dez por
cento) entre os anos de 2006 e 2016.

4.5.1 DISCUSSÕES SOBRE OS LIMITES DO PACTO


ANTENUPCIAL

Nos dias correntes, o direito da família vem se expan-


dindo, principalmente na parte de contratualização, e especi-
almente no pacto antenupcial, com isso, dando origem a novas
possibilidades. Entretanto, existe um debate doutrinário sobre
a possibilidade de cláusulas não patrimoniais no pacto ante-
nupcial. Silvio de Salvo Venosa leciona que de acordo com a
corrente restritiva, o pacto antenupcial se resume somente a
escolha do regime de bens:

143
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O pacto deve ter em mira exclusivamente os di-


reitos patrimoniais e cabe ao cartorário encarre-
gado de documentá-lo orientar os nubentes e re-
cusar-se a inserir disposições nulas, levantando-
se dúvida, se for o caso. (Venosa, 2017, p. 334).

Existe a corrente intermediaria, aquela onde disserta


sobre o pacto antenupcial e ressalta que deve se resumir ao
regime de bens e outras questões, mas, que sejam patrimoni-
ais. A autora Débora Vanessa Caús Brandão, acredita que o
pacto antenupcial deve ser de conteúdo exclusivamente patri-
monial, e ainda justifica “se o legislador quisesse o conteúdo
do pacto antenupcial fosse também extrapatrimonial, não teria
inserido capítulo próprio dentro do título ‘Do Direito Patrimo-
nial’” (Brandão, 2007, p. 189)
Contudo, em decorrer das mudanças da sociedade, e
dos avanços, nasce outro pensamento, de que o pacto ante-
nupcial não deve se tratar somente de questões patrimoniais,
uma vez que, está ligada a vida privada dos cônjuges. De
acordo com a corrente ampla, aquela que Caio Mário da Silva
Pereira afirma que "os nubentes podem estabelecer o que in-
teressa ao seu regime de bens, ou matérias outras pertinentes
à sua vida conjugal" (Pereira, 2018, p. 211).
No pacto antenupcial, pode estabelecer qualquer cláu-
sula que não seja contraria à lei ou à ordem pública, existem

144
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

as cláusulas existenciais, considerada a mais comum, que tra-


tam de questões como a divisão de tarefas domésticas, a edu-
cação dos filhos e a assistência mútua.
4.6 DANO MORAL NO DIREITO DA FAMÍLIA

Na doutrina, considera-se dano moral, o descumpri-


mento de um dos direitos de personalidades elencados no art.
11 do Código Civil, tal como, a violação do direito ao nome,
imagem, privacidade, honra, boa fama, dignidade e entre ou-
tros.
No âmbito familiar existe a responsabilidade civil em
caso de dano moral. As relações familiares são complexas e
dinâmicas, permeadas por diferentes emoções, como amor,
carinho, respeito e cuidado. No entanto, nem sempre essas
relações são de fato serena ou equilibrada, tendo em vista
que, o fim do relacionamento, a falta de convivência harmoni-
osa, até mesmo uma convivência conflituosa, podem causar
danos morais aos envolvidos.
Quando isso acontece, a vítima pode buscar a tutela do
estado para obter reparação por esses danos, e, para que o
dano moral seja reconhecido, é necessário que o ato causador
seja ilícito, que a vítima tenha sofrido danos e que haja nexo
causal entre o ato e os danos. Nesse sentido, leciona o doutri-
nador Paulo Lôbo, o seguinte:

145
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A violação de algum dever conjugal pode, even-


tualmente, converter-se em dano moral. Mas a
responsabilidade civil por danos não é intrinseca-
mente de direito de família, e sim de direito civil
em geral: a ofensa moral deve ser objeto de re-
paração civil segundo as regras comuns e não
em razão do direito de família. (2018, p. 237).

Na esfera do direito da família, existem situações em


que o indivíduo pode ser indenizado, a título de exemplo, o
abandono no altar, mesmo ainda não sendo um ato jurídico, o
desfazimento do casamento publicamente pode ensejar um
ato ilícito, quando traz consequências psicoemocionais.
Segundo o Jusbrasil (2012), um homem foi obrigado a
indenizar por danos morais e materiais no montante de R$
9.186,86 (nove mil cento e oitenta e seis reais e oitenta e seis
centavos), pois, além da autora ter se sentido humilhada,
ainda teve um significativo gasto financeiro com a decoração,
vestido, buffet e entre outros. O motivo do abandono no altar
foi devido a família não concordar com o casamento, visto
isso, houve a configuração do dano moral.

4.6.1 A INFIDELIDADE CONJUGAL E O DANO MORAL

O fato de a infidelidade conjugal possibilitar o dano mo-


ral ainda é controverso, entretanto, em diversos casos o poder

146
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

judiciário concedeu o dano moral, sendo um direito a repara-


ção. Unicamente, o descumprimento da fidelidade recíproca
não provoca a incumbência do dano moral, que é gerado ex-
clusivamente quando a infidelidade provoca ao cônjuge sofri-
mento excessivo, humilhação ou constrangimento, maior do
que se fosse somente algum término comum de um relaciona-
mento.
Em 2016, o deputado Rômulo Gouveia (PSB/PB), criou
um projeto de lei, com a intenção de incluir no Código Civil
Brasileiro o art. 927-A, que dispõe “O cônjuge que pratica con-
duta em evidente descumprimento do dever de fidelidade re-
cíproca no casamento responde pelo dano moral provocado
ao outro cônjuge”, o aludido artigo teria como objetivo a repa-
ração civil em casos de infidelidade conjugal e estabelecer o
dever de indenizar do cônjuge infiel.
O argumento perante a criação do projeto, é de que a
infidelidade insulta o Código Civil, que determina a fidelidade
recíproca como um dos deveres dos cônjuges, e que, com o
descumprimento, já deveria haver na lei a multa por danos mo-
rais.
De acordo com o Jusbrasil, (2017), a 1ª Câmara Cível
do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, ao julgar o recurso
de apelação Cível nº 0002963-55.2010.8.08.0026, decidiu que

147
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

é possível aplicar as regras da responsabilidade civil às rela-


ções familiares. No entanto, para que o dever de indenizar seja
configurado, é necessário que a parte lesada comprove a exis-
tência de três elementos:

I. Conduta ilícita: ato ou omissão que viola um


dever legal ou contratual.
II. Dano: prejuízo material ou moral sofrido pela
vítima.
III. Nexo causal: relação de causa e efeito entre
a conduta ilícita e o dano. (Oliveira, 2010)

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais também decidiu


que a infidelidade conjugal não gera dever de indenizar sem
provas claras e robustas, de ofensa à honra objetiva da vítima.
Este entendimento foi expresso no acórdão proferido pela 9ª
Câmara Cível do TJ-MG ao julgar o recurso de apelação nº
1.0701.14.019776-8/001, relatado pelo Desembargador Pedro
Bernardes, em 15 de março de 2016.
No julgamento, os desembargadores da 9ª Câmara en-
tenderam que a infidelidade, embora cause naturalmente de-
sestabilidade emocional, tristeza e desestruturação familiar,
não é suficiente para configurar o dano moral. Para que o de-
ver de indenizar seja configurado, é necessário que a vítima
comprove todos os elementos da responsabilidade civil, que
são os de conduta ilícita, dano e nexo causal.
A partir da análise supracitada, é possível concluir que:
não existe um entendimento consolidado sobre a possibilidade

148
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de indenização por danos morais decorrente da quebra do de-


ver de fidelidade. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já reco-
nheceu a ofensa gerada pelo adultério aos consortes traídos,
mas as decisões proferidas pelos Tribunais Superiores variam
de acordo com as especificidades dos casos concretos.
Em geral, as decisões são norteadas pelos princípios
fundamentais ao direito de família, como a proteção da digni-
dade humana, a igualdade entre cônjuges e companheiros, e
a liberdade. O Instituto Brasileiro de Direito de Família (IB-
DFAM) afirma que, majoritariamente, os julgados atuais enten-
dem que a traição não é por si só fato constitutivo do dano
moral juridicamente indenizável, embora a fidelidade recíproca
seja um dever matrimonial.

4.7 A POSSIBILIDADE DE PREVISÃO DE INDENIZAÇÃO


NO PACTO ANTENUPCIAL

O Código Civil Brasileiro não se manifesta expressa-


mente sobre a possibilidade de previsão de indenização no
pacto antenupcial, no entanto, o artigo 1.653 do Código Civil
estabelece que o pacto antenupcial pode estabelecer que
"qualquer clausula que não viole os princípios da dignidade da
pessoa humana" (Brasil, 2002).
A jurisprudência brasileira não é uniforme sobre a ques-
tão, entretanto, a inclusão da cláusula, mesmo não havendo

149
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

previsão legal, alguns tribunais têm entendido que a cláusula


é válida e pode ser incluída do pacto antenupcial, do mesmo
modo que, não existe nenhuma legislação que proíba a intro-
dução da cláusula.
O caso mais recente no Brasil, (Conjur, 2023), envol-
vendo um casal de Belo Horizonte, em que no pacto antenup-
cial decidiram implementar uma multa de 180.000,00 (cento e
oitenta mil reais) em caso de infidelidade de algum dos cônju-
ges. Entretanto, a tabeliã se recusou a incluir a cláusula de
indenização por infidelidade, afirmando que o pacto antenup-
cial “deve se restringir a tratar do regime de bens entre os côn-
juges”.
O casal, descontente com a decisão, recorreu à justiça.
Não obstante, a juíza julgou improcedente a hesitação da ta-
beliã, ou seja, o judiciário já está discorrendo sobre o assunto,
apesar de não ser unânime, e criando jurisprudência sobre o
tema.
O pacto antenupcial estabelece regras que irão vigorar
na constância do matrimônio, sendo assim, o casal deve ter a
liberdade da decisão, contudo, as cláusulas não podem violar
a dignidade humana. Segundo a jurista, Maria Luiza de An-
drade, aborda:

O poder público deve exercer a mínima interfe-


rência possível na esfera privada. Assim, o pacto
antenupcial, como fruto da deliberação conjunta

150
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

do casal e da autonomia privada, serve para que


eles escolham termos que melhor se adequem à
vida que escolheram levar a dois. (2023)

Tal decisão corroborou demasiadamente para impor-


tância do direito da família e poderá reduzir a resistência dos
tabeliães, e dessa forma, se tornar mais habitual a inclusão de
cláusulas diversas, não restrita aos bens. Sobre a referida de-
cisão da juíza em Minas Gerais, a advogada e professora Ma-
rília Pedroso Xavier, declara que a decisão está caminhando
de acordo com a doutrina em progresso do direito das famílias
modernas, conduzindo assim, novas manifestações da esfera
privada. Referente a decisão, Marilia Pedrosa Xavier, co-
menta:

A decisão de Minas Gerais é paradigmática e


tem reverberado bastante. Sua importância ga-
nha sentido no fato de que é cada vez mais co-
mum nos escritórios de advocacia recebermos
clientes que, efetivamente, desejam inserir cláu-
sulas de caráter existencial em pactos antenup-
ciais e isso sempre foi algo bastante controverso.
(2023)

As cláusulas existenciais estão cada vez mais comuns


pelo mundo, diversos casais estão aperfeiçoando o seu pacto
antenupcial, principalmente, casais famosos como: Michael
Douglas e Catherine Zeta-Jones, a noiva convenceu Michael,
a pagar caso ocorrer separação, US$ 3 milhões (três milhões),

151
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

por cada ano juntos, entretanto, casa ela cometa infidelidade,


Michael teria a gratificação de US$ 5 milhões (cinco milhões).
À medida em que a sociedade se transforma, é natural
que o casamento também evolua em virtude de ser uma insti-
tuição enraizada em nossas vidas. Essa evolução demonstra
que o casamento é a maior expressão dos valores e necessi-
dades individuais, visto isso, o pacto antenupcial é um instru-
mento de suma importância para traduzir esses desejos em
acordos legais. Os casais enfrentam o desafio de encontrar o
equilíbrio entre a lógica e a emoção, ao traçar as regras que
irão prevalecer na constância do casamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução do direito civil incorpora o progresso social


no tocante às mudanças de paradigmas dentro do pacto ante-
nupcial, não restrito somente aos bens dos nubentes, abrindo
as possibilidades de incorporar cláusulas que melhor definem
como querem conduzir seus casamentos.
O pacto antenupcial pode diminuir as disparidades en-
tre o casal, principalmente quando existem uma desproporção
financeira entre os cônjuges, fazendo com que a relação seja
mais justa com a inclusão de regras que resguardem o de me-
nor poder aquisitivo.
Outro ponto importante é a inclusão de cláusulas que

152
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

resguardem a outra parte que, por motivos matrimoniais, teve


que abandonar emprego, carreira ou compromissos sociais
que eram revestidos em valores pecuniários, status e notorie-
dade social, e o pacto serviria como um bônus no ressarci-
mento daquilo que foi deixado de ganhar em prol do matrimô-
nio. Ou seja, o Pacto Antenupcial pode ser amplo e abran-
gente nas regras matrimoniais, desde que não infrinja outras
leis ou dignidade humana.
Durante o aprofundamento e análises sobre a possibili-
dade de incluir cláusulas de responsabilidade civil no pacto
antenupcial, visando à indenização em casos de infidelidade
conjugal, foi possível observar ser um campo complexo, de
opiniões distintas sobre o referido tema, alguns permitem a in-
clusão destas, enquanto outras apresentam dúvidas, e mino-
ritariamente, proíbem a inclusão.
Adicionalmente, a indenização pode ser vista como
uma forma de punição, apesar de, na maioria dos casos, o
término do casamento envolver diversos fatores, até mais
complexos do que somente a infidelidade.
A sociedade e a legislação devem abordar essas ques-
tões minuciosamente, uma vez que, os valores e as expecta-
tivas que envolvem o casamento estão em constante mudan-
ças. À proporção que a sociedade redefine constantemente o
significado e a natureza jurídica do casamento, a inserção das

153
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cláusulas de infidelidade no pacto antenupcial podem trazer


grandes benefícios para a sociedade, como exemplo, a repa-
ração do dano moral, já que a infidelidade pode causar danos
morais ao cônjuge traído, como a dor, a humilhação e a perda
da confiança.
Concernente a prevenção da infidelidade, as cláusulas
de indenização podem servir como um mecanismo para pre-
venir infidelidade, em razão de o cônjuge infiel poder estar ci-
ente de que poderá ser responsabilizado financeiramente por
seus atos.
É importante ressaltar alguns aspectos a serem consi-
derados na elaboração das cláusulas, tendo como exemplo a
definição do que é traição para cada cônjuge, visto que, essa
questão, vai de acordo com a individualidade de cada casal,
uma vez que, a traição não necessariamente é ter relações
sexuais com outras pessoas, mas também, virtualmente,
como a troca de mensagens, mentiras ou ocultações sobre in-
terações com outras pessoas.
Outro fator é quanto ao valor a ser pago na indenização,
que este seja proporcional ao dano sofrido pelo cônjuge traído,
já na forma do pagamento, a indenização pode ser prevista o
pagamento de forma única ou parcelas mensais.

154
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

As discussões sobre a inclusão de cláusulas de respon-


sabilidade civil, previstas no pacto antenupcial, devem perma-
necer abertas, adaptando-se às necessidades da vida privada
de cada um, dado que, as relações conjugais estão em cons-
tante mudanças.
Cada vez mais está existindo um maior conhecimento
de que o casamento não é um conceito estático, mas um ins-
tituto que requer adaptações contínuas. A ideia de incluir cláu-
sulas de responsabilidade civil no pacto antenupcial não é uma
resposta definitiva, entretanto, é uma ferramenta que pode
servir para moldar o relacionamento, de uma forma que faça
sentido para os cônjuges.

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TERRITÓRIOS. Dano moral 'in re ipsa'. TJDFT, 2 ago. 2023.
Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/
campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/dano-mo-
ral-in-re-ipsa201d. Acesso em: 31 out. 2023.

UOL. App de traição “Gleeden” alcança mais de 1,5 mi-


lhões de usuários na América Latina. Disponível em.
https://gizmodo.uol.com.br/app-de-traicao-gleeden-alcanca-
mais-de-15-milhoes-de-usuarios-na-america-latina/. Acesso
em fev de 2024

158
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5
O DIREITO AUTORAL E A ESCASSEZ DE REGULAMEN-
TAÇÃO NA ÁREA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

COPYRIGHT LAW AND THE LACK OF REGULATION ON


THE FIELD OF ARTIFICIAL INTELLIGENCE

João Antônio Schumacher de Carvalho9


Williane Tibúrcio Facundes10

CARVALHO, João Antônio Schumacher de. O direito autoral


e a escassez de regulamentação na área da inteligência
artificial. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em
Direito - Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco, Acre.
2024.

9
Discente do 9° período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
10
Docente do Centro Uninorte, Graduada em Direito pela U:VERSE. Es-
pecialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzeagrandense e Di-
reito Digital pela Faculdade Metropolitana. Graduada em letras Vernácu-
las pela Universidade Federal do Acre - UFAC.

159
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente estudo trata do direito autoral como


um todo, e quanto à escassez de regulamentação deste no
âmbito das Inteligências Artificiais, analisando a possível apli-
cação do fair use americano para complementação legislativa.
Objetivo. Apresentar uma solução à lacuna legislativa que
surgiu com a criação de ferramentas de machine learning e
inteligência artificial, bem como analisar os efeitos que essas
máquinas causaram no âmbito jurídico mundial. Método. Atra-
vés do embasamento teórico produziu-se um estudo de casos
práticos e da tecnologia em foco, para, dependendo do caso
concreto, aplicar o princípio em análise. Resultados. As ferra-
mentas de inteligência artificial estarão cada dia mais presen-
tes na sociedade, e o direito autoral brasileiro precisa primei-
ramente buscar uma solução para seus problemas na Lei de
Direito Autoral, antes de buscar criar uma legislação própria
para IA. Conclusão. O princípio do fair use pode se tornar a
alteração principiológica necessária para a melhor aplicação
da lei de direitos autorais, e possivelmente uma futura lei que
verse sobre o uso de IA neste contexto, porém este assunto
ainda precisa ser amplamente discutido, a fim de chegar a
uma solução mais concreta que esta norma aberta.

Palavras-chave: inteligência artificial; copyright; direito auto-


ral; fair use; machine learning; arte; IA.

ABSTRACT

160
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Introduction. This study deals with copyright law as a whole,


and with the lack of regulation that it has in the field of artificial
intelligence, analyzing the possible utilization of the american
fair use as a way to complement legislation. Goal. Present a
solution to the legislative gap that arose with the creation of
machine learning tools and artificial intelligences, as well as
analyze the effects that these machines caused in the global
legal sphere. Method. Through theoretical basis, a study was
conducted based on practical cases and the technology in
focus, in order to, depending on the specific case, apply the
principle under analysis. Results. Artificial intelligence tools
will be increasingly more present in society, and Brazilian
copyright law must first seek a solution to its own problems,
before seeking to create its own legislation for AI. Conclusion.
The principle of fair use could become the necessary principle
change for the better application of copyright law, and possibly
a future law that deals with the use of AI in this context, but this
subject still needs to be widely discussed, in order to reach a
more concrete solution than this open standard.

Keywords: artificial intelligence; copyright; copyright law; fair


use; machine learning; art; AI.

INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos que a humanidade experi-


menta todos os dias desde o século XVII foram constantes e
cada vez maiores, em um momento o ápice tecnológico da
sociedade moderna era o motor a vapor, hoje, as tecnologias
de maior proeminência são os computadores, e, com eles, a

161
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

criação das Inteligências Artificiais.


Filmes como “O Homem Bicentenário”, e “Extermina-
dor do Futuro”, definiram a Inteligência artificial como máqui-
nas cientes que um dia viriam a desenvolver sentimentos e
até mesmo nuances de humanidade, ou observariam huma-
nos e os considerariam obsoletos, os eliminando e assim do-
minando o planeta, porém a qualidade das IA (termo usado
para abreviar “Inteligência artificial”) que temos hoje variam,
e podem ser ferramentas que têm como base desde a criação
de textos a partir de comandos simples, geração de imagens
utilizando combinações de palavras específicas, ou até
mesmo a replicação de vozes humanas.
A vasta gama de usos que essas ferramentas pos-
suem e a importância que especialistas impõem sobre elas
destacam a necessidade de serem criadas leis para o regi-
mento delas por si só, porém o destaque deste projeto é no
âmbito do direito autoral, pois é nele que resta o maior debate
sobre a utilização da IA, um lado ditando que certos usos de
IA são violações de direitos autorais, bem como um insulto à
arte humana no geral, outro lado destacando a possibilidade
da democratização da arte como um todo, usando da IA para
tal e ao mesmo tempo advogando que a defesa da criativi-
dade é maior do que o direito autoral estrito.
É necessário investigar o que são essas ferramentas,

162
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

seus diversos usos, como o direito autoral pode ser modifi-


cado para melhor prever sua utilização, bem como analisar
ambos os lados desta balança jurídica e ideológica, versando
sobre a necessidade de legislar quanto a essas ferramentas,
que cada vez mais serão parte de nossa sociedade.

5.1 AS MÁQUINAS DO AMANHÃ: INTELIGÊNCIAS


ARTIFICIAIS

5.1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DA RELAÇÃO HOMEM X


MÁQUINA

A humanidade sempre foi familiar com o conceito de re-


voluções tecnológicas, desde o mais antigo ancestral do ho-
mem passamos a entender o nosso mundo e as formas de
interagirmos com ele, de forma a extrair o melhor da natureza
e de nós mesmos, um dos exemplos de como somos adeptos
a inventar e nos adaptar ao olhar o passado, é a forma que
nomeamos as diferentes eras da pré-história Humana: idade
da pedra lascada, idade da pedra polida, idade do bronze e
idade do ferro, cada uma referenciando as habilidades adqui-
ridas pelo homem primitivo.
A humanidade não cessou sua evolução científica e
tecnológica em momento algum da história, porém a partir do

163
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

século XVIII, a tão famosa revolução industrial iniciou um pro-


cesso de transformações que aceleraram a evolução humana
de maneira exponencial, e tudo começou com a máquina a
vapor.
Essa tecnologia mudou as relações de trabalho, as for-
mas de locomoção, e até mesmo as relações humanas, pois
foi a partir daí que o pensamento de que a humanidade um dia
se tornaria obsoleta passou a permear a mente do cidadão
comum, gerando medo, confusão, e desprezo pelo progresso.
Ao analisarmos o contexto daquela época, é possível
compreender a mentalidade do cidadão simples, que apenas
conhecia seu dia a dia, saía de casa pela manhã e enfrentava
horas de trabalho braçal em alguma fábrica, apenas para um
dia descobrir que seria demitido pois uma máquina conseguia
realizar sua função e a de mais uma frota de trabalhadores de
maneira mais eficiente e mais barata para o empregador.
Porém o que aconteceu não foi a extinção do trabalho
humano, e sim a evolução deste, máquinas precisavam de re-
paros, e havia funções que elas não podiam realizar, necessi-
tando assim que o trabalhador se adaptasse para realizar tais
funções.
O filme “Tempos Modernos” (1936), dirigido, produzido,
roteirizado e protagonizado por Charles Chaplin, que, apesar

164
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de mais recente, e mais focado nos aspectos socioeconômi-


cos dos Estados Unidos no período pós primeira guerra mun-
dial, é um retrato do ponto de vista do empregado comum na-
quele período de violenta mudança, uma janela onde pode-
mos observar e nos sentir na mesma posição de alguém que
se vê obsoleto, substituído por uma máquina sem coração e
sem alma.

5.1.2 O “JOGO DA IMITAÇÃO” E O DESENVOLVIMENTO


DA MÁQUINA PENSANTE

Duzentos anos se passaram, duas guerras de âmbito


global ocorreram, e com o advento da segunda guerra, houve
a criação de possivelmente as duas mais importantes inven-
ções da história do homem contemporâneo: a bomba atômica
e o computador.
Alan Turing, em 1950 (após a guerra e a invenção da
máquina chamada “bomb” do inglês bomba, um mecanismo
não considerado um computador, focado em decodificação,
mas que serviu como estopim para o surgimento de suas teo-
rias relacionadas a IA), publicou o artigo “Computing Machi-
nery and Intelligence” (Máquinas de Computação e Inteligên-
cia), na qual traz a ideia de uma máquina, um sistema capaz

165
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de simular decisões tomadas por um humano, em um jogo o


qual nomeou “O Jogo da Imitação”.
O jogo possuía três participantes: um humano, um com-
putador e um interrogador, o interrogador permanecia em uma
sala separada, sem poder ver ou ouvir qualquer dos dois par-
ticipantes, enquanto faz perguntas a ambos, com o objetivo de
identificar quem dos dois é a máquina, as perguntas podem
ser sobre qualquer assunto, e se o interrogador não conseguir
descobrir quem é quem, a máquina passa no teste.
Turing inventou esse teste para determinar se um com-
putador teria algum nível de inteligência artificial, e esse teste
foi um dos pontapés iniciais para a criação e desenvolvimento
das Inteligências Artificiais modernas, até hoje sendo utilizado
e amplamente discutido nesse contexto.
Turing foi o predecessor, o visionário que trouxe à tona
a ideia de máquinas pensantes para a sociedade em larga es-
cala, tudo a partir de sua famosa indagação: “Podem máqui-
nas pensar?”. O debate envolvendo tal questão é extenso,
dado que parte da comunidade científica deseja e contribui
para que a Inteligência Artificial evolua, a fim de possivelmente
superar a mente humana e auxiliar no desenvolvimento e apri-
moramento de nossa sociedade.
Porém, grande parte das pessoas teme tal cenário, sob
o medo de a humanidade se tornar irrelevante, ou mesmo ser

166
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

subjugada, tal qual ocorre no futuro distópico presente no filme


“O Exterminador do Futuro” (1984), enquanto outra parcela de-
sacredita que tal coisa possa ocorrer, o professor e neurocien-
tista brasileiro Miguel Nicollelis faz parte desse núcleo, em seu
livro “O Verdadeiro Criador de Tudo” (2020), ele afirma:

[...] A noção de que o funcionamento intrínseco


do cérebro humano pode ser reduzido a um al-
goritmo computacional para ser reproduzido em
lógica digital pode ser considerada mais um dos
mitos do mundo pós-moderno; uma espécie de
lenda urbana ou mesmo um exemplo típico da
era da pós-verdade, tempo em que uma declara-
ção falsa – repetida inúmeras vezes e dissemi-
nada amplamente na sociedade pela mídia ou
pelas redes sociais – passa a ser aceita como
verdade. [...] (Nicollelis, 2020)

Neste livro Nicollelis aplica diversas teorias que des-


bancam a noção da evolução da inteligência artificial para um
contexto ciente a um nível além do humano, ou a um nível que
ela passe a ser autossustentável, ele ainda adiciona:

[...] Bem poucos daqueles que acreditam nessa


visão pararam para pensar que o cérebro hu-
mano é, também, o verdadeiro criador tanto do
hardware como do software digital, não o contrá-
rio. A crença cega de que tecnologias criadas por
nós podem se virar contra o seu criador e superá-
lo basicamente defende a ideia de que um sis-
tema, seja ele o que for – digamos, um cérebro
humano –, pode criar algo mais complexo do que
si mesmo. [...] (Nicollelis, 2020)

167
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ele ainda ataca diretamente a ideia de que é possível


fazer uma engenharia reversa na mente humana, e aplicar o
aprendido a um sistema de computadores, pois acredita que é
impossível desconstruir algo que não foi construído, e sim pas-
sou por milhões de anos de evolução, ele destaca:

[...] assumir essa posição significa desafiar o


mais poderoso e duradouro arcabouço teórico
concebido na área em que militam: a teoria da
evolução pelo processo de seleção natural de
Charles Darwin. Digo isso porque, ao aceitar a
tese da engenharia reversa, os seus defensores
passam a favorecer a noção de que alguma
forma de design inteligente está envolvida no
processo que levou à emergência dos seres hu-
manos e seu cérebro. (Nicollelis, 2020)

Ou seja, afirmar a possibilidade de desconstruir a


mente humana e criar uma máquina realmente pensante, sig-
nificaria admitir a existência de um criador, um designer para
tal estrutura, indo diretamente contra as teorias aceitas para o
surgimento da vida humana.

Tendo em vista tais teorias, bem como as limitações


presentes em nossa tecnologia, a IA (sigla para inteligência
artificial) atualmente se limita a diversas séries de ferramentas
de interação humana, podendo ser codificadas para analisar
comportamentos e diretrizes da sociedade e aplicar o que
aprendeu em linguagem feita para parecer uma pessoa real.

168
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Como o fracassado projeto Tay, da Microsoft, que foi


criado para interagir com adolescentes na internet, porém per-
maneceu ativo somente por 24h, após desenvolver atitudes
negativas e falas racistas nas redes sociais.

Ou podem ser codificados para reunir informações de


diversas fontes e milhares de conteúdos, e usar tais informa-
ções para conversar e auxiliar o usuário, os chamados
chatbots como o GPT-3.5 e GPT-4, criados pela empresa
norte-americana OpenAI.

Ou ainda, de maneira ainda mais impressionante, pode


criar imagens ou alterar vídeos ao desejo do usuário, se base-
ando nos prompts (comandos), providos pelo mesmo, como
fazem as IAs Midjourney e o sistema Stable Diffusion.

5.2 MÁQUINA VERSUS ARTISTA

Porém, mesmo estas ferramentas relativamente sim-


ples, que funcionam à base de comandos humanos, erguem
debates fervorosos na internet e na comunidade tecnológica.
O funcionamento dessas ferramentas (usando como base o
GPT-4 e o Midjourney, as mais acessíveis e famosas dentre
as diversas existentes hoje), se baseia na análise de conteú-

169
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos pré-existentes, livros, artigos, peças de arte, pinturas, bio-


grafias, qualquer tipo de material relevante que possa alimen-
tar seu banco de dados.

Na assimilação de tais conteúdos, se tornando uma


fonte de conhecimento conveniente e de simples acesso.
Como exemplo, é possível acessar o Chat GPT (plataforma
que utiliza o GPT-3.5 e GPT-4), e escrever o comando “Me
explique como funciona a Lei de Direitos Autorais brasileira”,
e a IA irá prover um resumo do funcionamento da referida lei,
afirmando em conjunto a complexidade da mesma e a neces-
sidade de estudar mais a fundo seu funcionamento, pedindo
que não seja tomada sua palavra como verdadeira.

É possível também pedir que ele crie um texto com o


estilo de escrita semelhante a um autor específico, a IA irá
analisar seu banco de dados, aprender como esse autor es-
creve, e gerar o que o usuário requisitou. Pode-se notar que a
criatividade do usuário é o limitador da capacidade da ferra-
menta, quanto mais detalhado o comando, melhor será o re-
sultado gerado.

A ferramenta Midjourney funciona de maneira seme-


lhante, o usuário descreve o que deseja, e a máquina irá criar
uma imagem que se alinhe com a descrição, como exemplo,
ao utilizar a ferramenta LuzIA, que usa três diferentes modelos

170
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de IA (GPT-3.5, para geração de texto, Whisper, para transla-


ção de áudio em texto, e Kandinsky, para geração de ima-
gens), e comandar: “Imagine um robô pintando”, esta foi a ima-
gem gerada:

Ao observar a pintura, por um breve momento vem à


mente o filme “Eu, Robô” (2004) inspirado pelos livros de Isaac
Asimov, em uma cena onde o protagonista, o detetive Spooner
(Will Smith), questiona o robô Sonny (Alan Tudyk), se uma má-
quina pode criar arte, no entanto, não houve criatividade por

171
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

parte da máquina para chegar ao resultado acima retratado, a


máquina observou em seu banco de dados imagens referen-
tes ao comando obtido, e os combinou de maneira que satisfi-
zesse o comando, é importante frisar que não foram dados
comandos quanto ao estilo que deveria ser utilizado, nem
mesmo quanto ao posicionamento dos elementos ou quais-
quer detalhes constantes no resultado final, tanto que pode-se
observar as limitações dela, visto que na pintura o robô não
está ativamente pintando uma tela, por exemplo.
Ao descrever suas funcionalidades, é possível compre-
ender qual a fonte do debate atual dessas ferramentas, artis-
tas, de todas as áreas, temem ser ultrapassados, ou mesmo
temem ter seu direito autoral violado por essas ferramentas ou
o uso não regulamentado delas.
Um outro exemplo das funcionalidades e implicações
que essas tecnologias trazem à mesa, pode ser visto no vídeo
intitulado “Did we just change animation forever?” (Tradução
nossa: Nós mudamos animação para sempre?) do canal Cor-
ridor Crew, onde uma equipe de artistas de efeitos especiais
elabora uma forma de transformar vídeos normais em anima-
ções utilizando o sistema Stable Diffusion.
O resultado deste experimento foi o vídeo chamado
“Anime Rock, Paper Scissors” (tradução nossa: Anime pedra,

172
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

papel e tesoura), que dividiu opiniões online, com muitos ata-


cando os artistas por utilizarem como base para o desenvolvi-
mento da arte final, os traços e design de personagens do
anime “Vampire Hunter D: Bloodlust” (2000), após notar a
onda de criticismo, a equipe voltou a realizar o projeto, e na
sequência, “Anime Rock, Paper Scissors 2”, contrataram um
artista para criar a arte que alimentaria o sistema de aprendi-
zado da máquina, porém antes disso, destacaram nos comen-
tários do vídeo original a seguinte fala (tradução nossa):

[...] Vejo muita preocupação, especialmente de


animadores, de que ferramentas como essas
eventualmente irão torná-los obsoletos.
Isso não é um substituto para alguém que sabe
como animar, nem para alguém que sabe dese-
nhar. Ferramentas constantemente evoluem,
mas fazer algo visualmente cativante sempre re-
quer as mesmas habilidades centrais. Ainda é
necessário um artista para criar arte. Isso não
mudou. [...] (Pueringer, 2023)11

Niko Pueringer, apresentador do vídeo e co-fundador


dos canais Corridor e Corridor Crew, basicamente acredita
que mesmo com ferramentas como essas surgindo, o artista
nunca será substituído, da mesma maneira que a animação

11
I see a lot of concern, especially from animators, that tools like this will
eventually make them obsolete. This isn't a replacement for someone that
knows how to animate, nor someone who can draw. Tools constantly
evolve, but making something visually captivating always requires those
same core skills. It still takes an artist to make art. That hasn't changed.
(Texto Original)

173
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em CGI (Computação gráfica, ou Computer Generated Ima-


gery) não substituiu a tradicional animação 2D, ou que a exis-
tência de impressoras 3D nunca substituirá escultores clássi-
cos.
O debate que surgiu a partir deste vídeo, e do “boom”
que as IAs tiveram nos últimos anos, é constante, e surge a
partir das questões éticas do uso dessas ferramentas. Se-
gundo o artista e youtuber dinamarquês T B Skyen, em seu
vídeo “AI art is going to have consequences” (tradução nossa:
Arte de IA irá ter consequências).
Esse tipo de “arte”, ataca diretamente os meios de sub-
sistência de artistas iniciantes ou de calibre mais baixo, que
graças à estas ferramentas, perderam comissões de maneira
substancial devido a suposta gratuidade das ferramentas em
contraste com o valor da mão de obra de artistas humanos.
Além desse ponto de vista, ele ainda destaca a forma
com que tais IAs funcionam, ao dizer que as imagens e textos
gerados por esses tipos de máquinas são feitos a partir de
obras roubadas, milhões de imagens e textos usados sem per-
missão para preencher os bancos de dados que são analisa-
dos para cumprir os prompts dados por usuários, o que foi
apenas confirmado graças à ação protocolada pela Guilda de
Escritores Americana (basicamente um sindicato de escrito-
res), contra a empresa criadora do Chat GPT, OpenAI.

174
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

No processo, a guilda alega que a empresa violou os


direitos autorais dos escritores ao utilizar seus livros em seu
banco de dados, e utilizou como exemplo o escritor George R.
R. Martin, autor da série de livros “As crônicas de fogo e gelo”,
que sentiu que teve seus direitos violados ao ver na internet
uma sugestão de livro usando seus personagens e sua forma
de escrita, gerado pelo chatbot da empresa processada.
Assim, outro questionamento foi erguido, de quem é o
copyright de uma obra gerada por IA? T B Skyen, em seu ví-
deo, argumenta que em uma interação normal entre artista e
cliente, o cliente detalha o que deseja ver na arte, e o artista
aplica, porém não há dúvida de que o direito autoral sobre
aquela obra é do artista, não do comissionador, sendo assim,
no contexto da IA, onde o usuário diz o que deseja, e a má-
quina gera a imagem ou o texto, seguindo o mesmo princípio,
em momento algum o usuário será detentor do copyright.
A corte de Shenzen, situada na China, julgou o caso
Tencent versus Shanghai Yingxun Technology, onde a em-
presa Tencent processou a empresa Shanghai Yingxun, por
plagiar um texto escrito pela IA nomeada “Dreamwriter”, criada
pela autora da ação para elaboração de artigos. A corte, em
análise profunda do caso, chegou à conclusão de que mesmo
que o “autor” do texto o fez de forma automática, o trabalho

175
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

por ele criado ainda pode ser defendido pela lei de direitos au-
torais. A justificativa foi a seguinte (tradução nossa):

Em outras palavras, a criação do artigo e os tra-


balhos escritos comuns diferem da seguinte ma-
neira:
(1) Para obras comuns, o autor toma uma deci-
são sobre como criar enquanto cria a obra, ou
seja, criatividade e criação são sincronizadas.
(2) Para o artigo envolvido neste caso, o autor
primeiro decide sobre como criar (ou seja, desen-
volver o software Dreamwriter); e então criar tra-
balhos conforme necessário depois, ou seja, cri-
atividade e criação não são sincronizadas.
Em essência, no entanto, os artigos de Dre-
amwriter ainda são obras originais formadas em
atividades intelectuais humanas. (2019)12

Sendo assim, ficou firmado que o copyright do texto em


juízo era da empresa Tencent, sendo ele creditado aos pro-
gramadores da IA Dreamwriter, porém, em relatório à OMPI
(Organização Mundial da Propriedade Intelectual), o Juiz Sê-
nior da Divisão de DPI do Supremo Tribunal Popular da China,
Zhou Bo, destacou (tradução nossa):

12
In other words, the creation of the article and ordinary written works differ
in the following way:
(1) For ordinary works, the author makes a decision on how to create while
creating the work, that is, creativity and creation are synchronized.
(2) For the article involved in this case, the author first decides on how to
create (i.e. to develop
Dreamwriter software); and then create works as needed afterward, that is,
creativity and creation are not synchronized.
In essence, however, Dreamwriter’s articles are still original works formed
in human intellectual activities. (Texto original)

176
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Como não há respostas definidas para a capaci-


dade de direitos autorais dos produtos gerados
de forma autônoma da IA, não temos base para
discutir a propriedade de direitos autorais. Uma
resposta definitiva ainda não pode ser dada.
(Zhou, 2019)13

Ou seja, apesar de nesse caso os direitos terem sido


associados aos programadores, ainda é incerta a natureza de
garantir um direito personalíssimo à uma máquina.

5.3 DIREITO AUTORAL BRASILEIRO E A POSSIBILIDADE


DE APLICAÇÃO DO FAIR USE NORTE-AMERICANO

A lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, é a que rege


os direitos autorais no Brasil, ela dita em seu Art. 22: “Perten-
cem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra
que criou.”, bem como expressa as situações em que a utiliza-
ção da obra depende da autorização prévia do autor é neces-
sária, estando dentre elas a reprodução parcial ou integral,
edição, adaptação e a tradução. Já quanto à limitação desses
direitos, ou seja, a viabilidade de uso da obra sem a autoriza-
ção do autor, estão no art. 46, em rol taxativo, ou seja, se não

13
As there is no set answers to copyrightability of the autonomously gene-
rated products of AI, we have no basis to discuss copyright ownership. A
definite answer cannot be given yet. (Texto original)

177
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

se encaixar em alguma das poucas situações apresentadas, o


uso é irregular, porém tais situações expõem a falha intrínseca
na lei: ela não estipula os limites de forma direta.
Um exemplo é o inciso VIII do art. 46 da referida lei:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos auto-


rais:
VIII – a reprodução, em quaisquer obras, de pe-
quenos trechos de obras preexistentes, de
qualquer natureza, ou de obra integral, quando
de artes plásticas, sempre que a reprodução em
si não seja o objetivo principal da obra nova e
que não prejudique a exploração normal da
obra reproduzida nem cause um prejuízo injus-
tificado aos legítimos interesses dos autores.”
(Brasil,1988)

A lei permite a utilização de pequenos trechos, mas


não delimita em essência uma referência para comparação,
delimitando apenas que o trecho utilizado não seja o foco da
nova obra, e que a exploração do trecho não danifique os in-
teresses dos autores originais, regras as quais são ultima-
mente vagas e de aplicação inconstante.

É nesse caso que a possibilidade de aplicação do fair


use (uso justo, ou uso livre), surge, o fair use é um princípio,
uma norma aberta presente na lei de direitos autorais dos
EUA, que determina exatamente isso, as possibilidades de
utilização de uma obra sem a quebra do copyright, e estabe-
lece quatro fatores para o uso dessa norma.

178
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A) Transformação:

Se trata de como a nova obra modificará a velha, ou


de como o “copiador” irá utilizar a obra fora do contexto origi-
nal dela, como utilizar de um personagem, mas mudar algo
fundamental sobre ele, ou modificar o trecho da obra com o
objetivo diferente do original. Um exemplo prático pode ser
dito quanto ao vídeo “ELES LEVARÃO OS HOBBITS PARA
ISENGARD HQ”14, no qual o usuário Erwin Beekveld remixou
cenas do filme “O Senhor dos Anéis: As duas Torres”, com
música original para criar uma canção, essa forma de utiliza-
ção foi considerada justa pela norma americana, sob o con-
texto do quão transformador foi o uso do trecho utilizado.

Podem ser citados também os diversos canais no You-


Tube que utilizam de propriedades intelectuais já existentes
para criação de vídeos, como o já citado Corridor, que tem
em seu catálogo diversos vídeos onde colocam personagens
de jogos eletrônicos ou de filmes em situações inusitadas e
que diferem de seu lugar comum.

B) Natureza da obra copiada:

14
They're taking the Hobbits to Isengard HQ (Texto original)

179
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A natureza da obra, ou seja, se ela é fictícia ou biblio-


gráfica, sendo que para a lei americana, quanto mais criativa,
mais protegida a obra será (Ex.: músicas, livros, filmes), en-
quanto conteúdos baseados na realidade são mais permissi-
vos para sua utilização.

C) Substância do trecho utilizado:


A substancialidade se refere à quantidade do conte-
údo explorado, e o teor presente no trecho, por exemplo, ao
utilizar de um filme, o tamanho do trecho utilizado e o que
você mostrará no trecho são os fatores observados nesse cri-
tério, se for uma cena crucial, é uma violação, bem como se
você utilizar mais de 50% do material deste.

D) Efeito da nova obra sobre a antiga:


Em suma, que tipo de efeito o conteúdo novo irá apli-
car ao antigo, caso o subproduto cause puramente o detri-
mento da obra original, estando ausente de criticismo positivo
ou adição no contexto de ideias ou elementos positivos, ou
até mesmo onde o consumo do subproduto faça com que ou-
tros deixem de consumir o original, ferirá o direito do autor.
O princípio do Fair use é um pilar na lei de copyright
americana, sendo muito utilizado por exemplo em todas as
esferas do YouTube, na criação de conteúdo independente.
Em um julgamento de disputa de direitos autorais, o magis-
trado põe na balança esses aspectos, e julga utilizando os

180
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

costumes locais, e a boa-fé, para chegar a seu veredito.

O debate acaba sempre chegando ao mesmo ponto: a


justiça deve se limitar ao exposto na lei? Ou pode se expandir
para balancear o contexto social dos interessados? Principal-
mente ao se analisar que, na maioria dos casos, a disputa é
entre pequenos grupos de criadores de conteúdo, ou empre-
endedores que utilizam de propriedades intelectuais já bem
estabelecidas no mercado para viver, e grandes corporações
multibilionárias que pouco têm a perder, e na verdade têm
muito a ganhar, quando outros utilizam de suas obras.

Ao explicar em detalhes o que é o fair use, pode-se


notar que no Brasil já existe uma forma de aplicação dele,
presentes no art. 46 da LDA, como já exposto, porém, o dife-
rencial que o princípio discutido trás para a lei americana, é a
capacidade de se adaptar diante das inovações tecnológicas
experimentadas todos os dias.

Em contraste, a lei brasileira não possui esse tipo de


"rede de segurança" para o futuro, sendo mais limitada nesse
quesito. Se o fair use possui os quatro princípios acima cita-
dos, pode-se dizer que a lei brasileira abraça três "limitadores
de exclusividade" para o autor: em casos especiais; se a uti-
lização não prejudicar a exploração normal da obra; e se a
utilização não prejudicar os interesses do autor. Ou seja, é,

181
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

no geral, muito mais limitado no quesito de utilização livre.

Um caso famoso do uso do fair use foi no caso do you-


tuber "Totally not Mark", que teve seu catálogo de cerca de
150 vídeos, onde discutia técnicas de escrita, animação e
arte da série de mangá e anime "Dragon Ball" (1984), criado
por Akira Toriyama, retirados do seu canal pela produtora do
anime e possuidora dos direitos de imagem da obra, Toei Ani-
mation, afirmando que teve seu copyright infringido.

O YouTuber recorreu afirmando não ter infringido as


diretrizes do site, bem como demonstrando as formas com
que era protegido pelo fair use, alegando ter respeitado o
princípio da substancialidade e de que seus vídeos teriam um
efeito positivo na obra original, dado que sempre advogou
pelo suporte da obra e autor original, e que seu conteúdo ana-
lisa profundamente as qualidades que a obra possui, incenti-
vando o consumo na perspectiva de quem ainda não era fa-
miliar com o material. Ao fim do processo, entendo que o cri-
ador de conteúdo independente estava com a razão no caso,
o site realocou os vídeos e reativou a monetização dos mes-
mos.

5.4 O USO DO FAIR USE NO CONTEXTO DAS DISPUTAS


DE COPYRIGHT IA VERSUS AUTOR

182
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Após determinar o que é a IA e o que ela trouxe no con-


texto artístico mundial, bem como o que é o conceito de fair
use, é importante destacar a torrente de processos que se ori-
ginaram nas questões levantadas no presente artigo, afinal a
tecnologia debatida é relativamente nova, e tais disputas, além
de esperadas, são necessárias para chegar a um consenso
quanto à defesa do usuário que utiliza da IA para criar uma
obra, e do artista cuja obra foi estudada para chegar ao resul-
tado final gerado pela máquina.

Geralmente é arguido que houve o rompimento do di-


reito autoral quando obras são usadas em banco de dados
sem a permissão dos detentores do direito, e que quaisquer
obras geradas automaticamente são violações por extensão
(como já exemplificado na disputa da união de autores versus
OpenAI.

No capítulo anterior, onde tais autores não permitiram


que suas obras adentrassem no banco de dados do Chat
GPT), mas tal uso se iguala, em muitos casos, ao uso que fer-
ramentas de pesquisa como o Google têm na internet, tanto
que ao pedir à uma ferramenta de IA que escreva a totalidade
de uma obra, ela se nega e exprime a importância de apoiar o
autor.

183
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Nos casos de uso de conteúdo protegido em obras cri-


adas a partir de IA, há de ser analisado a transformidade do
conteúdo, dado que em grande parte dos casos a obra final
pouco se assemelha a original, e somente foi utilizada como
base de inspiração, ou seu estilo foi aplicado por estética, e a
ideia da arte em questão é completamente original.

Para argumentar a favor dos autores derivativos, é pos-


sível utilizar a obra “Dungeons and Dragons” (Cavernas e dra-
gões, ou Caverna do dragão, tradução nossa), jogo de tabu-
leiro RPG construído com inspiração na obra Senhor dos
Anéis, de J. R. R. Tolkien, que apesar de se basear na esté-
tica, raças e mundos da obra em que é inspirada, é original e
não viola os direitos autorais.

Em um vídeo intitulado “Lawyer Explains Stable


Diffusion Lawsuit (Major Implications!)” (Advogado explica o
processo da Stable Diffusion (Grandes implicações!) tradução
nossa), Jake Watson, advogado licenciado pelo estado da Ca-
lifórnia, e o membro do canal Corridor Crew, já citado anterior-
mente, alega que, em essência, tais ferramentas de IA só evo-
luíram ao patamar em que se encontram atualmente graças
ao trabalho de artistas cujas obras foram alimento para seus
sistemas.

184
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ao discernir novas obras criadas dessa maneira como


beneficiárias do “uso justo”, será difícil negar tal direito no fu-
turo (Watson, 2023). Pode-se resumir tal evolução em um tra-
balho eternamente colaborativo, onde obras alimentam as fer-
ramentas, e estimulam a criação de coisas novas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o contexto apresentado, bem como os


argumentos trazidos e demais referências externas, é possível
compreender que as ferramentas de Inteligência artificial, mais
precisamente machine learning (aprendizado de máquina), se-
rão cada dia mais presentes na sociedade, e que diante do
contexto do direito autoral, as discussões são necessárias e
pertinentes, a “solução” trazida ao destacar a existência e ca-
sos de aplicação do fair use, seria uma forma de preencher a
lacuna legislativa que se apresenta diante da lei brasileira em
foco.
Seria uma alteração principiológica, que estipula limites
interpretativos, o que traz seus próprios problemas, devido a
natureza opinativa e a incerteza quanto a possível parcialidade
dos juízes, expostos à mídia e demais vias que possam detur-
par suas opiniões e os argumentos a qual é exposto em julga-
mento, mas que iriam, a curto prazo, atender as demandas

185
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

necessárias nas disputas entre autores e usuários que se ins-


piram em obra protegida.
Uma forma de remediar, mesmo que não de forma sa-
tisfatória ou mesmo eficaz, o erro que o legislativo da década
de 1990 não conseguiria prever, um avanço tecnológico radi-
cal, que interferiria em todos os campos do direito contempo-
râneo, mudando a forma como vemos a arte, a tecnologia, e
as interações entre humano e ferramenta.
Destaco ainda que mesmo com tal princípio sendo apli-
cado na lei brasileira, o futuro do direito autoral diante dessas
tecnologias ainda é incerto, pois não existem precedentes
para este tipo de disputa, é uma tecnologia em constante evo-
lução, que cresce em velocidade exponencial, e as discussões
entre o direito do artista, e a ética de utilizar de uma máquina
para criar arte, sempre estarão no centro das atenções jurídi-
cas e midiáticas, assim eternamente tornando volátil este âm-
bito do direito brasileiro, e mundial.
Porém é imprescindível que tais discussões continuem
acontecendo, e uma solução mais concreta deve ser encon-
trada, pois tais tecnologias não podem ser reguladas apenas
por normas abertas.
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190
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

191
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6
AS EXIGÊNCIAS DO INSS PARA COMPROVAÇÃO DE
UNIÃO ESTÁVEL SÃO LEGAIS?

ARE THE INSS'S REQUIREMENTS FOR PROOF OF


A COMMON-LAW MARRIAGE LEGAL?

Karoliny Almeida Rodrigues 15


Alcides Marini Filho16

RODRIGUES, Karoliny Almeida. FILHO, Alcides Marini. As


exigências do INSS para comprovação de união estável
são legais? Trabalho de Conclusão de Curso de graduação
em Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco,
2024.

15
Discente do 9° Período do Curso de Bacharel em Direito do Centro Uni-
versitário Uninorte.
16
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Católica Dom Bosco de Campo Grande; Pós Graduado em Di-
reito Civil pelo Instituto Elpídio Donizete.

192
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente estudo trata das exigências a des-


peito da comprovação de união estável perante o INSS, para
aquisição do benefício previdenciário da pensão por morte.
Objetivo. Diante do contexto, conduziu-se o estudo a certa de
legalidade de tais exigências institucionais, quais acarretam
indeferimento da demanda e prejuízo a seguridade social
constitucionalmente almejada. Método. Mediante embasa-
mento teórico, firmou-se um exame sistemático da legislação
pertinente, em busca de uma possível explicação para a fun-
damentação precedente destas requisições. Resultados. Sob
a égide da normatização aplicada ao caso prático, observou-
se possível divergência jurídica, pautada em solicitações pro-
batórias preditas em normas viciosas, ocasionando sucessiva
insegurança jurídica à aplicação prática do direito. Conclu-
são. Dessa forma, ao clarificar a incompatibilidade legal utili-
zada pelo órgão concessor como fundamentação de indeferi-
mentos, consolida-se a importância de informação aos legíti-
mos do pleito sobre seus deveres probatórios, antes mesmo
que ingressem demanda ao Poder Judiciário, na tentativa de
garantir o que já é direito consolidado.

Palavras-chave: comprovação; união estável; legalidade; de-


pendente; companheiro.

ABSTRACT

Introduction. This study deals with the requirements


regarding proof of a common-law marriage before the INSS,
in order to acquire the social security benefit of a pension for

193
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

death. Objective. Given the context, the study was conducted


to determine the legality of such institutional requirements,
which result in the rejection of the claim and damage to the
social security constitutionally sought. Method. With a
theoretical basis, a systematic examination of the relevant
legislation was carried out in search of a possible explanation
for the reasons behind these requests. Results. Under the
aegis of the rules applied to the practical case, a possible legal
divergence was observed, based on evidentiary requests
predicated on vicious rules, causing successive legal
insecurity in the practical application of the law. Conclusion.
In this way, by clarifying the legal incompatibility used by the
granting body as grounds for rejections, the importance of
informing the legitimate parties of the claim about their
evidentiary duties is consolidated, even before they file a
lawsuit with the Judiciary, in an attempt to guarantee what is
already an acquired right.

Keywords: proof; stable union; legality; dependent; partner.

INTRODUÇÃO

O reconhecimento da União Estável como instituição fa-


miliar, previsto no artigo 226, §3° da Constituição Federal de
1988, tem como pressuposto jurídico a sua comprovação que,
por hora, dar-se-á pela sua formalização ou não.

Diante das previsibilidades aos direitos previdenciários,


a pensão por morte, prevista no artigo 74 da Lei n° 8.213/1991,
delimita que os componentes da instituição familiar serão be-
neficiários ao direito de receber a pensão. Confirma-se ainda

194
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tal garantia, pelo exposto no art. 16, inciso I, do Decreto 3.048


de 1999, o qual lista ao instituto em epígrafe os legitimados ao
benefício: “[... I - o cônjuge, a companheira, o companheiro...]”.

Ao que concerne à legislação do Regime Geral de Pre-


vidência Social – o RGPS e a sua aplicação prática, observa-
se uma lacuna normativa tanto do Código Civil, uma vez que
não regulamenta os meios probatórios da união estável, tal
qual a legislação previdenciária, inviabilizando em muitos dos
casos, a concessão do benefício constitucionalmente resguar-
dado, nos termos do artigo 201, inciso V da Constituição Fe-
deral de 1988, visto que a instituição competente se utiliza da
interpretação extensiva, por intermédio de decretos, para aná-
lise do caso concreto e sucessiva concessão do benefício.

Diante de tal complexidade, o presente artigo busca es-


clarecer aos beneficiários quais os meios probatórios legal-
mente exigíveis por parte do órgão competente, tal qual a sua
quantificação para indeferimento dos requerimentos. Ainda,
discorrer sobre a incompatibilidade entre as fontes jurídicas
nas quais se respaldam as exigências requeridas pelo INSS,
diante das leis que discorrem sobre o feito, a fim de esclarecer
eventuais conflitos normativos.

195
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.1 INTRODUÇÃO AO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA


SOCIAL

A priori, faz-se necessário elucidar algumas informa-


ções referentes aos auxílios previdenciários, indispensáveis à
sua compreensão, para que a delimitação do referido assunto
reste claro quando relacionado ao instituto da União Estável.
Sob a ótica doutrinária, Oliveira (1987) conceitua a Previdên-
cia Social como sendo:

A organização criada pelo Estado, destinada a


prover as necessidades vitais de todos os que
exercem atividade remunerada e de seus depen-
dentes e, em alguns casos, de toda a população,
nos eventos previsíveis de suas vidas, por meio
de um sistema de seguro obrigatório, de cuja ad-
ministração e custeio participam, em maior ou
menor escala, ao próprio Estado, os segurados e
as empresas. (p. 10)

Portanto, finda evidente que sob o caráter da seguri-


dade social, a qual resguarda a subsistência sociofamiliar, os
benefícios da previdência têm por objetivo a salvaguarda à
evolução social e a prevenção da decadência econômica, as-
sentando-se ao princípio da dignidade humana, afastando as
situações emergentes, uma vez que imprevisíveis são as ad-
versidades da vida.

196
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ao que concerne à seguridade social, e diante da ne-


cessariedade de assegurar o acesso de tais benefícios àque-
les que exercem atividade remunerada nacional, ou em alguns
casos, internacional, e aos seus dependentes, a Constituição
Federal pronunciou em seu artigo 40, sobre o regime próprio
de servidores, e nos artigos 201 e 202, foram reservados à
previdência social.
No primeiro dispositivo supracitado, tem-se o Regime
Próprio de Previdência Social – o RPPS, com previsibilidade
constitucional no art. 40, e instituída pela Lei n. 9.717/98, cujo
dispõe sobre a organização previdenciária específica, aplicá-
vel somente aos servidores públicos ocupantes de cargos efe-
tivos e militares. Possui caráter contributivo, introduzido pela
Emenda n. 3, de 1993, e a qualidade de “Regime Próprio” pre-
videnciário, pela Emenda n. 20, de 1998.
Ainda sobre as modalidades de seguridade social, insta
destacar o Regime Geral de Previdência Social – o RGPS,
principal sistema normativo disciplinador de direito previdenci-
ário. Operado pelo INSS (Instituto Nacional de Segurança So-
cial), abrange todos os trabalhadores de iniciativa privada, es-
tipulando para tais, direitos e deveres concernentes à aquisi-
ção dos benefícios legalmente previstos e constitucionalmente
garantidos.

197
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Regido pela Lei n. 8.213/1991– Plano de Benefícios da


Previdência Social - complementarmente a Lei n. 8.212/91–Lei
Orgânica da Seguridade Social, a RGPS é uma modalidade
previdenciária de filiação compulsória e automática a aqueles
estipulados como segurados obrigatórios, cujo possuem vín-
culo empregatício de acordo com a regulamentação da CLT –
Consolidação das Leis Trabalhistas, e aos segurados faculta-
tivos (por efeito do princípio universalidade de atendimento),
aqueles que não possuem vínculo laboral ou não se encaixam
no regime alternativo.
A cunho informativo, diferenciaremos as duas principais
leis citadas anteriormente, que disciplinam o regime ora discu-
tido. Na tangente da Lei de Plano de Benefícios – Lei
n.8.213/91, trata-se da legislação norteadora específica do
mencionado RGPS, englobando também especificações do
regime complementar; já no que dispõe a Lei Orgânica da Se-
guridade Social – Lei n. 8.212/91, refere-se às regras gerais
da previdência social, os contribuintes, custeio, etc.
Sob o prisma doutrinário, Santos (2019, p. 242 - 243),
declara que o regime geral se conserva em caráter contribu-
tivo. Assim, observa-se que para a aquisição do seguro esti-
pulado, faz-se necessária a contribuição por parte do segu-

198
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

rado, e quando devidamente efetuada, garante a contrapres-


tação em retorno monetário ao contribuinte ou a quem lhe for
de direito, nas situações adversas legalmente previstas.
Sua cobertura está expressa no artigo 1° da LBPS,
sendo disposta a guarda econômica sobre as hipóteses de in-
capacidade, desemprego, aposentadoria por idade ou tempo
de serviço e encargos familiares. Aos seus economicamente
dependentes, o mesmo dispositivo prevê auxílio prisão e
morte.
Os amparados deste regime são chamados beneficiá-
rios, como define o artigo 10 da Lei 8.213/91 e o Decreto
3.048/99 dividindo-os em dois segmentos: os segurados e os
dependentes, qual passaremos a conceituar. Antes, eviden-
cia-se o terceiro regime destinado à previdência, disposto na
Constituição Federal, o regime de Previdência Privada de ca-
ráter complementar, que não será discorrido neste trabalho.

6.1.1 DO BENEFICIÁRIO

Como explicitado anteriormente, beneficiário é aquele


contemplado pelos regimes antes expostos, e classificados
como segurados, como também explicita o artigo 10 da Lei n°

199
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

8.213/91, in verbis: “os beneficiários do Regime Geral de Pre-


vidência Social classificam-se em dois grupos: segurados e
dependentes, nos termos das Seções I e II deste capítulo”.
Em definição, Müller e Rocha (2021, p. 94) preceitua:
“Considera-se seguradas as pessoas físicas que em razão de
exercerem atividade ou mediante o recolhimento de contribui-
ções se vinculam ao sistema de previdência social”.
Ante o dispositivo exposto, observa-se a divisão em
duas categorias, onde o primeiro corresponde aqueles que
possuem a atividade remunerada, e logo serão os beneficiá-
rios diretos do regime, e o segundo são os beneficiários indi-
retos, os que dependem dos contribuintes para que sejam se-
gurados. Dessarte, seguiremos as discriminações da primeira
subclassificação de segurados. Vejamos:

6.1.1.1 Segurado obrigatório

Os segurados obrigatórios, previstos no art. 12 da Lei


8.212/1991 e art. 11 da Lei n. 8.213/1991, são aqueles que
contribuem obrigatoriamente à seguridade social, ou seja, que
automaticamente prestam quantia necessária à seguradora,
qual retribui assim, em benefícios pecuniários legalmente dis-
postos a sua categoria ou serviços sociais úteis ao contribui-
dor, a cargo do ente regulador do regime.

200
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Em pressuposição basilar ao enquadramento nesta ca-


tegoria, é imprescindível ser pessoa física e exercer atividade
laboral remunerada e lícita, independendo do tipo de vínculo
empregatício, sendo: empregado; empregado doméstico; em-
presário; trabalhador autônomo; equiparado a trabalhador au-
tônomo; trabalhador avulso; e segurado especial.
Tem-se por empregado, aquele que labora, em serviço
urbano ou rural, as atividades usuais da empresa contratante,
independente da jornada pactuada, com subordinação, desde
que não configure a eventualidade, Castro e Lazzari (2020, p.
248 – 256).
Inclui-se ainda, o empregado aprendiz, aquele entre 14
e 18 anos, regulado por contrato especial de trabalho, e o em-
pregado doméstico, que exerce atividade laboral residencial
em ampla definição, de forma contínua, a família ou a pessoa,
sem fins lucrativos ao empregador, por mais de 2 vezes na
semana, Castro e Lazzari (2020, p. 264 – 266).
A classe ‘contribuinte individual’, nomenclatura institu-
ída pela lei n. 9.876/ 1999 é composta, respectivamente, pelo:
empresário, o titular de firma individual urbana ou rural, legal-
mente reconhecida; autônomo, o que exerce por conta própria,
atividade econômica remunerada ou não, ou que trabalhem
em caráter eventual a outra empresa; e por último, o equipa-
rado a autônomo, cujo não se configura na mesma descrição

201
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

anterior, mas que para fins de recolhimento de seguridade so-


cial, são assim designados.
O trabalhador avulso é aquele que presta serviço, tais
quais as disposições anteriores, porém, não constitui vínculo
empregatício, e sua mão de obra é intermediada por outro ór-
gão gestor daquela função.
E por último, o segurado especial. O trabalhador de pe-
queno porte, que labora para subsistência familiar, gerando
economia limitada a família. Também abrange a pessoa indí-
gena reconhecida pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio).

6.1.1.2 Segurado facultativo

Segurado facultativo é aquele que não exerce atividade


laboral econômica, porém almeja o amparo previdenciário, in-
gressando no sistema por sua vontade exclusiva, desde que
não seja vedada esta opção nas imposições legais vigentes,
como o segurado obrigatório do RGPS ou RPPS.
O enquadramento nesta categoria pressupõe a idade
mínima de 16 (dezesseis) anos, através da EC n. 20/98, que
alterou o texto original da legislação pertinente a este regime,
instituída pelo art. 11, caput, do Decreto n. 3.048/99. Assim,
ficam dispostos a esta qualidade a filiação de pessoas físicas,
enumeradas no art. 11, § 1°, do Decreto 3.048/99, sendo:

202
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

§1° Dona de casa; síndico de condomínio,


quando não remunerado; estudante; brasileiro
que acompanha cônjuge que presta serviço no
exterior; aquele que deixou de ser segurado obri-
gatório da previdência social; o membro de con-
selho tutelar, quando não esteja vinculado a
qualquer regime de previdência social; o bolsista
e o estagiário que prestam serviços à empresa
de acordo com a Lei do Estágio; o bolsista que
se dedique em tempo integral à pesquisa, curso
de especialização, pós-graduação, mestrado ou
doutorado, no Brasil ou no exterior, desde que
não esteja vinculado a qualquer regime de previ-
dência social; o presidiário que não exerce ativi-
dade remunerada nem esteja vinculado a qual-
quer regime de previdência social; o brasileiro re-
sidente ou domiciliado no exterior, salvo se filiado
a regime previdenciário de país com o qual o Bra-
sil mantenha acordo internacional; o segurado
recolhido à prisão sob regime fechado ou semia-
berto, que, nessa condição, preste serviço, den-
tro ou fora da unidade penal, a uma ou mais em-
presas, com ou sem intermediação da organiza-
ção carcerária ou entidade afim, ou que exerce
atividade artesanal por conta própria.

Manifestadas os regimes e categorias, resta clarificar a


despeito do vínculo jurídico e seu processo de aquisição.

203
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.1.1.3 Aquisição da qualidade de segurado: filiação e


inscrição.

Como preceitua a doutrina basilar, toda qualidade de


direito material inicia-se com a concretização da relação jurí-
dica. Dessa forma, filiação é o vínculo jurídico instituído entre
o contribuinte e o ente de seguro social, firmando um ambiente
de proteção circundado pelo regime. Decorrente a esse vín-
culo jurídico estabelecido, surgem os direitos e obrigações en-
tre as partes envolvidas, e somente com ele se adquire caráter
de segurado, como demonstra Martinez (2001, p.143).
Como define Castro e Lazzari (2020, p. 293): “a filiação
é a qualificação de quais indivíduos receberam os benefícios
sociais garantidos, quando por estes satisfeitas as suas obri-
gações, qual seja, a contribuição.” Portanto, evidente é a atri-
buição de monitoramento da sistematização para a prestação
dos serviços.
Quanto à inscrição, essa é a ação material de filiação
às categorias em que o vínculo jurídico não se inicia de forma
compulsória, assim os dados do segurado ou de seu depen-
dente são cadastrados no banco de dados do sistema e usa-
dos para a efetivação dos benefícios.
Para os segurados obrigatórios, os trabalhadores cele-
tistas, o início da relação se dá exclusivamente pela filiação,

204
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ocorrendo automaticamente ao início da atividade remune-


rada. Como anteriormente exposto, a idade mínima para filia-
ção é de 16 (dezesseis) anos.
Quanto aos segurados facultativos, somente a partir da
inscrição formal, quando por ele desejada, e o pagamento da
primeira contribuição, é que se inicia a filiação. E, para aqueles
que exercem mais de uma atividade remunerada, conjunta-
mente, será inscrito em razão de cada uma delas.

6.2 ESTABILIDADE COMO CLASSE SEGURADA

6.2.1 MANUTENÇÃO DA QUALIDADE DE SEGURADO

A manutenção da qualidade de segurado corresponde


ao período em que o trabalhador permanece contribuindo para
o custeio RGPS, permanecendo neste caráter, como explicita
Lenza (2011, p.143): Manter a qualidade de segurado significa
conservar o direito à cobertura previdenciária prevista na Lei
n. 8.213/91. Portanto, demonstra-se que em regra há a neces-
sidade de contribuição pecuniária, para que se mantenha a
qualidade ora abordada e seus efeitos.
Entretanto, excepcionalmente, há a possibilidade de
permanecer sob tal qualidade ainda que o segurado não esteja
de fato contribuindo, período em que se perfaz toda a cober-
tura previdenciária, conservando-se os benefícios e serviços

205
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ofertados. Essa excepcionalidade é denominada período de


graça, e se perdura conforme os prazos previstos no art. 15
da LBPS, como conceitua Martins (2023) quais sejam:

Sem limite de prazo, quem está em gozo de be-


nefício, exceto do auxílio-acidente; até 12 meses
após a cessação de benefícios por incapacidade,
salário maternidade ou a cessação das contribui-
ções, o segurado que deixar de exercer atividade
remunerada abrangida pela Previdência Social,
que estiver suspenso ou licenciado sem remune-
ração ou que deixar de receber o benefício do
Seguro-Desemprego); até 12 meses após cessar
a segregação, para o segurado acometido de do-
ença de segregação compulsória; até 12 meses
após o livramento, para o segurado preso; até
três meses após o licenciamento, para o segu-
rado incorporado às Forças Armadas; até seis
meses após interrompido o pagamento, para o
segurado facultativo. ( p. 194).

Logo, no decurso da manutenção aludida, pressupõe-


se a já qualidade de segurado, onde a sua permanência no
âmbito envolto pelos benefícios restam garantidos.
Sobre os prazos, existem algumas hipóteses de prorro-
gação destes, sendo: no inciso II, o prazo de 12 meses, que
poderá ser prorrogado para até 24 meses, se o segurado hou-
ver pagado mais de 120 contribuições. E, ambos os prazos
apontados, 12 ou 24 meses, podem ser acrescidos para o se-
gurado desempregado, desde que comprovada essa situação

206
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pelo órgão do Ministério do Trabalho e Previdência, Goes


(2023, p.153).

6.2.2 PERDA E REAQUISIÇÃO DO SEGURO

A perda na qualidade de segurado concerne a não co-


bertura pela proteção econômico-social, decorrente da seguri-
dade previdenciária. Formalmente, se dá ao término do prazo,
mas, como predita o doutrinador Garcia (2022, p.167, p. 216):
nos termos do art. 15 da LBPS, ocorrerá no dia seguinte ao
término do prazo fixado em cada hipótese, atribuído ao mês
referente ao recolhimento da contribuição mensal do mês do
término do prazo.
Prediz o art. 102 da LBPS, que a perda da qualidade de
segurado resulta no declínio dos direitos subscritos a essa
classe. Desse modo, os direitos transferíveis a aqueles cujos
dependem do segurado, desde que no tocante ao direito ad-
quirido, não transpõe aquele que perdeu a qualidade antes da
adversidade.
Aos direitos adquiridos, a Lei n. 10.666/2003 fixou a
desconsideração da perda da qualidade em hipóteses de apo-
sentadoria especial e por tempo de contribuição. Assim, ad-
quiridos os direitos relativos a esse benefício, conserva-se o
caráter do contribuinte como segurado.

207
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Sob o arquétipo da manutenção, duas são as possibili-


dades ocasionadoras da perda da qualidade apontada. À pri-
meira vista, cessação da atividade qual foi qualificadora do re-
gime, nos casos dos contribuintes obrigatórios e a interrupção
das contribuições, no caso dos facultativos.
Ainda, sobre excepcionalidade supracitada, o período
de graça, transcorrido os prazos nele disposto, perde-se tam-
bém a qualidade de segurado. A requisição para todos os ca-
sos anteriores é a recolhimento da contribuição econômica do
mês posterior ao término dos prazos fixados no art. 15 do
PBPS, quando instituída nova filiação.

6.3 DO BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE

A pensão por morte é um direito de amparo monetário


aos dependentes de um segurado contribuinte, adquirido em
caráter post mortem, com previsão legal previdenciária no art.
74 e seguintes da LBPS, bem como constitucional, disposto
no art. 201, inciso V.
Pensão, no ramo previdenciário, é um pagamento con-
tínuo de quantia econômica que visa suportar a perda do pro-
vento antes garantido por um segurado. Concernente à pen-
são decorrente de morte, esta possui caráter substitutivo à

208
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

renda do falecido, qual suportava as necessidades dos mem-


bros do instituto familiar, agora a encargo do Estado, como
expõe Müller e Rocha (2021, p. 299).
Trata-se de provento devido aos dependentes do segu-
rado instituidor do benefício, após o falecimento deste. Logo,
entende-se que conforme os direitos previdenciários foram
surgindo, revelaram-se as modulações sociais quais tiveram
de serem previstas e instituídas ao ordenamento jurídico, ex-
pandindo os seus efeitos para além do segurado, emergindo
assim, um instituto amparador familiar.
Para que se garanta a efetivação do direito ora expla-
nado, precede requisitos concernentes à sua concessão: o
óbito ou a morte presumida do segurado; que o mesmo per-
maneça em qualidade de segurado à época do óbito; e a ha-
bilitação dos dependentes junto ao INSS, qual possam ser de-
clarados como beneficiários.
Salienta-se a hipótese de pensão provisória decorrente
dos casos de morte presumida, prevista no art. 78 da LBPS.
Todavia, o reaparecimento do segurado efetiva a cessação do
pagamento de pensão, ficando os dependentes desobrigados
à restituição dos valores recolhidos, salvo comprovação de
má-fé.
A fim de lembrete, como apresentado no item 2.1 deste
trabalho, há a excepcionalidade da efetivação do direito,

209
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

quando este for adquirido pelo segurado, como apresenta a


súmula do egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

Súmula 416, STJ – É devida a pensão por morte


aos dependentes do segurado que, apesar de ter
perdido essa qualidade, preencheu os requisitos
legais para a obtenção de aposentadoria até a
data do seu óbito. (Súmula 416, TERCEIRA SE-
ÇÃO, julgado em 09/12/2009, DJe 16/12/2009).

Por fim, restam algumas observações a despeito do ins-


tituto ora abordado. Vejamos.

6.3.1 INSTITUTOS

A priori, os seguros previdenciários são devidos aos


chamados segurados, que contribuem e são diretamente be-
neficiados. Todavia, já restou claro a transmissão de alguns
benefícios aos chamados dependentes, aqueles cujos víncu-
los permeiam a aquisição do seguro à proteção econômico-
social.
Quando estamos diante de um benefício que emerge
da figura do filiado, estamos diante do chamado instituidor,
efeito jurídico adquirido que transcende a este e alcança ao
dependente.

210
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.3.2 DEPENDENTES

Dependentes são os beneficiários indiretos, aqueles


que não contribuem pecuniariamente ao regime, mas que por
estabelecerem vínculo com o segurado, a lei o prevê como
passíveis de proteção social. Conjecturam a ausência do se-
gurado direto, para que figurem como os detentores do direito.
Para que se estabeleça a efetividade de pertencente a
tal classe, deve-se analisar quem de fato é dependente. Isso
posto, observemos o que expressa Castro e Lazzari (2020):

Dependentes são as pessoas que, embora não


estejam contribuindo para a Seguridade Social, a
Lei de Benefícios elenca como possíveis benefi-
ciários do Regime Geral de Previdência Social -
RGPS, em razão de terem vínculo familiar com
segurados do regime, fazendo jus às seguintes
prestações: pensão por morte, auxílio reclusão,
serviço social e reabilitação profissional (p. 311)

Como já expresso anteriormente, mesmo que este não


tenha contribuído uma única vez ao sistema previdenciário,
será beneficiado com a pensão, se depender de segurado re-
gularizado aos moldes da lei. Ainda segundo a concepção de
Castro e Lazzari (2020, p. 312), os dependentes são separa-
dos em três classes, de acordo com as disposições previstas
no art. 16 da Lei n. 8.213/1991, com redação atual dada pela

211
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Lei n. 13.146, de 6.7.2015. Alves (2020) corrobora tal preceito,


e hierarquiza os dependentes da seguinte forma:

1ª Classe: I. O cônjuge, a companheira, o com-


panheiro; II O filho não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 anos ou inválido ou que
tenha deficiência intelectual ou mental ou defici-
ência grave (Redação dada pela Lei 13.146, de
2015.); III O enteado e o menor tutelado em que
pese equipararem-se a filho mediante declara-
ção do segurado, deve comprovar a dependên-
cia econômica na forma estabelecida no Regula-
mento. 2ª Classe: Os pais. 3ª Classe: O irmão
não emancipado, de qualquer condição, menor
de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência
intelectual ou mental ou deficiência grave. (p.37)

Referente à primeira classe, estamos diante de presun-


ção de dependência econômica. Portanto, não necessitam da
comprovação de dependência do segurado falecido, mas tão
somente pertencerem à classe aludida. Apesar da não neces-
sidade de comprovação probatória de dependência, nessa
classe, quando se trata dos cônjuges ou companheiros, faz-se
indispensável a comprovação da existência dessa união.

Somente nas classes 2 e 3, os apontados devem com-


provar dependência para que usufruam do seguro, qual tam-
bém pode ser parcial, desde que a parcela de dependência a
qual se sujeita seja substancial a subsistência do vinculado.

212
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Insta destacar, que a ordem listada em que esses de-


pendentes aparecem é de importante observação, pois a pre-
sença de uma categoria de dependentes elimina a possibili-
dade de que a próxima receba os benefícios.

Sobre os instituídos no inciso III, da primeira classe, se-


gundo dispõe o art. 16, § 2° do Decreto 3.048/1999, quais se-
jam o enteado e o menor tutelado, estes serão equiparados a
filho quando declarados pelo segurado, fazendo-se necessá-
rio também a comprovação de dependência conforme regula-
mento. O procedimento de inscrição é formal, estabelecendo-
se através da demonstração de documentação compatível à
comprovação do vínculo jurídico e reconhecimento do feito.

3.3 DA DEMONSTRAÇÃO DE VÍNCULO PARA CONCES-


SÃO DE AUXÍLIO FINANCEIRO

6.3.3.1 Casamento: conceitos e natureza jurídica

A instituição familiar é vínculo jurídico legalmente pre-


visto, cujo propósito é estabelecer de forma efetiva a proteção
estatal sobre os seus membros. Múltiplas são as suas compo-
sições, conforme garante a carta magna, quando prescreve o
direito à liberdade, estando o instituto aberto às especificida-
des de cada sociedade e preferências individuais.

213
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O casamento é um dos institutos familiares mais anti-


gos de que se tem conhecimento, exposto a constantes trans-
formações ao decorrer do desenvolvimento social. Assim, pos-
sui uma conceituação poliédrica, adaptativa e evolutiva. Em
conceituação central quanto à natureza jurídica deste instituto,
exprime Diniz (2023):

O casamento é uma instituição social, refletindo


uma situação jurídica que surge da vontade dos
contraentes, mas cujas normas, efeitos e forma
encontram-se preestabelecidas em lei; e Dou-
trina Eclética ou Mista: o casamento é um ato
complexo, ou seja, é concomitantemente con-
trato (na formação) e instituição (no conteúdo).
(p. 20).

Já Tartuce (2022, p. 70), de forma direta explicita que a


caracterização do casamento se dá pela união de duas pes-
soas, legalmente regulada e estatalmente reconhecida, tendo
por objetivo fim a constituição de família através do vínculo
afetivo juridicamente estabelecido. Assim, pressupõe a livre
vontade, a regulamentação e reconhecimento.

O ordenamento cívico brasileiro de 2002, descreve em


seu artigo 1.511, que o casamento concebe vínculo comum
entre os cônjuges, refletindo em direitos e deveres adquiridos

214
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

por ambos. Portanto, no que tange a criação de uma socie-


dade conjugal, faz-se claro a interligação das determinações
positivas e negativas da vida matrimonial.
O seu conjunto probatório se dá pelo devido registro
matrimonial, averbado em cartório, intermediado pela certidão
de casamento como preceitua o art. 1.543 do Código Civil. As-
sim, também determina o art. 512 do provimento n° 149/2023
– CNJ, corroborando a despeito da certidão de casamento
como meio probatório a verificação de vínculo marital.
Ainda sobre exposto, resta determinado na Instrução
Normativa PRES/INSS n° 128/2022, no seu art. 178, parágrafo
4°, que o mesmo meio probatório anteriormente evidenciado,
faz prova da qualidade de dependente ao respectivo cônjuge
filiado, restando garantido os direitos previdenciários admissí-
veis.

6.3.3.2 União estável: conceito e natureza jurídica

À luz histórica, precede ao reconhecimento legal da


união estável a nomenclatura de concubinato ou união de fato,
na sua forma pura ou impura. Passando por diversas altera-
ções até seu reconhecimento, manifestou-se, contrario sensu,
através do direito previdenciário e não do direito civil, se esta-
belecendo somente com o advento da Constituição Federal de

215
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1988, com nova terminologia fixada em “união estável”, expri-


mindo a necessidade do conjunto probatório para a percepção
de direitos, perfazendo-se documentais ou não.
Sobre o disposto, expressam Gangliano e Pamplona Fi-
lho (2022, p. 149): “Foi na tutela previdenciária que o concubi-
nato começou a ser reconhecido como apto a produção de de-
terminados (e limitados) efeitos jurídicos”.
Sobre as modulações familiares, é fundamental desta-
car as novas composições conjugais, uma vez que o Código
Civil, no seu artigo 1.723, preceitua esta entidade familiar em:
“[...a união estável entre homem e mulher...]”, necessitando
deixar claro que os novos entendimentos fixam que a sua com-
posição fica a critério dos indivíduos, os quais se unam com o
animus de constituição familiar pública, contínua e duradoura,
e desde que não compunham o rol dos impedimentos do art.
1.521 do Código Civil de 2002 e Art. 179 da IN PRES/INSS n°
128/2022.
Sobre isso, declara Duarte e Furtado (2014), pessoas
com laços de sangue ou de afinidade, como os pais, tios, avós,
primos e cunhados, não podem requerer o reconhecimento de
união estável a fim de adquirir benefícios previdenciários. Tal
como, os adotados não poderão se casar com seus adotantes
ou parentes decorrentes deste vínculo.

216
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Contudo, no que tange ao companheiro, a LBPS no seu


art. 16 prevê concessão do benefício da pensão por morte
desde que comprovada a sua efetiva existência, tendo por re-
quisitos à comprovação da sindicância conjugal, tal qual o
óbito do segurado, a dependência econômica direta do fale-
cido, a comprovação de união estável por meio de provas do-
cumentais, além de requerimento junto ao INSS.
Essas são disposições anteriormente previstas na Ins-
trução Normativa do INSS, nº 77/2015, revogada e atualmente
preditas no art. 180 da IN PRES/INSS n° 128/2022, sendo: a
exigência mínima de duas provas documentais, referentes a
período não inferior a dois anos, podendo serem admitidas,
em caso excepcional, a prova exclusivamente testemunhal.
Sobre requisições às provas de união estável, ainda há
a determinação do INSS, de acordo com o art. 22 §3° do De-
creto 3.048/99, a indispensabilidade de apresentar perante a
instituição, no mínimo, três provas documentais para o reco-
nhecimento pleiteado. Diante de tais especificidades para o
reconhecimento de vínculo da união estável, discorreremos a
seguir a controvérsia aqui existente.

6.4 DO INDEFERIMENTO ILEGAL DE REQUISIÇÕES AO


BENEFÍCIO

Até o presente momento, fora elucidado como se pro-


move à constituição da união estável, restando evidente a mi-
nimização de empecilhos à instituição de união informal de

217
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

âmbito familiar. Assim, indubitável é a desburocratização do


próprio instituto, para fim de reconhecimento no plano da exis-
tência material e facilitação na percepção e proteção de direi-
tos.

Diante da explanação ora clarificada, contempla-se


uma gama de exigências não condizentes a hierarquia legal,
tal qual a escusa por intermédio de interpretação extensiva de
uma normatização lacunar viciosa.

Desse modo, ao centralizarmos a atenção ao instituto


concessor do benefício, estagnamos diante da seguinte pro-
blemática: há um indeferimento sucessivo de requisições de
benefício aos companheiros de segurados, diante da argu-
mentação de insuficiência probatória. Finda-nos analisar se
estas requisições e decorrentes indeferimentos se pautam em
legalidade. Vejamos.

6.4.1 DAS EXIGÊNCIAS PROBATÓRIAS QUANTITATIVAS:

Inicialmente, ao tratarmos de exigências probatórias


quantitativas, estamos nos referindo às 3 (três) provas reque-
ridas pelo INSS, no reconhecimento da união alegada pelo re-
querente. No tocante a fundamentação da exigência de quan-
tificação de provas, o INSS utiliza como regra o artigo 22, §3º

218
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

do Decreto 3048/99, in verbis: “ § 3º Para comprovação do


vínculo e da dependência econômica, conforme o caso, de-
vem ser apresentados no mínimo três dos seguintes docu-
mentos:[...].”
Comumente, quando não apresentados os quantitati-
vos expressos no texto supra, o benefício requerido é indefe-
rido por falta de comprovação que caracterize o vinculo de de-
pendência. Entende-se, logo, que há uma incongruência nor-
mativa, uma vez que não é possível estar diante de um De-
creto, norma inferior a Constituição Federal, que estabeleça
critérios não condizentes as determinações hierarquicamente
superiores.
Como discorre o doutrinador Siqueira Jr. (2019), existe
uma hierarquia, se dividindo de forma escalonada, devendo
priorizar neste caso, respectivamente: A Constituição Federal,
o Código Civil, a LBPS, e só por fim algum Decreto. Resta evi-
dente, que nenhuma das codificações exprimem tal solicita-
ção, desde que o preenchimento dos elementos indispensá-
veis a indicação de vínculo manifestado.
Ao que pese a própria ilicitude, a instituição se resguar-
dar diante do Decreto 3.048/99, norma inferior à carta consti-
tucional e todos os demais regulamentos expostos, quais não
estabelecem os quantitativos exigidos, infringe diretamente o

219
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

princípio da hierarquia das leis ora relatado, mostrando-se


uma exigência ilegal.

6.4.2 DAS EXIGÊNCIAS PROBATÓRIAS QUALITATIVAS

Diante das afirmativas preditas, não somente quanto à


quantificação, mas também a qualificação de provas é inexis-
tente nos ordenamentos formuladores do instituto. Dessa
forma, ao se observar o caráter não burocrático da união es-
tável, estabeleceu-se a dispensa a formalidade por escrito, o
seu registro, a existência de prole, tempo mínimo de convi-
vência, e até mesmo a coabitação, para a sua comprovação.
Portanto, ainda atualmente no Brasil, é factível uma dificul-
dade da materialização dessa relação, qual complexifica a sua
comprovação.
Como já fora elucidado, o art. 226, §3º da Constituição
Federal, instituiu e passou a proteger a união estável como
entidade familiar. Bem como o Código Civil brasileiro, nos seus
art. 1723 à 1727. Entretanto, nenhuma foi a qualificação de
provas à comprovação de vínculo, por estes textos normati-
vos, deixando livre o caráter probatório.
Apesar disso, a fundamentação do órgão concessor do
benefício, pauta-se no Decreto 3048/99, qual qualificou uma

220
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

gama de exigências documentais a serem utilizadas para o re-


conhecimento de vínculo. Assim, estipula o art. 16, § 5º da De-
creto 3048/99:

§ 5º As provas de união estável e de dependên-


cia econômica exigem início de prova material
contemporânea dos fatos, produzido em período
não superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior
à data do óbito ou do recolhimento à prisão do
segurado, não admitida a prova exclusivamente
testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de
força maior ou caso fortuito, conforme disposto
no regulamento.

Note-se a especificidade nas demandas probatórias


que deveram ser apresentadas: provas materiais, com prazo
não superior a 24 meses, não admitida prova exclusivamente
testemunhal. Clara é a ilegalidade de tais exigências, onde es-
pecifica-se a qualidade, validade e comprovação limitada.
A título de visualização, se os companheiros tiverem
uma declaração de união estável superior a dois anos, esta
não seria válida? Tal qual, se os mesmos tivessem filhos, mai-
ores de 2 anos, devidamente registrados, seus registros não
teriam validade probatória, por ultrapassar período estipu-
lado?
Inequívoco é entender, que o parágrafo 5° do artigo su-
pracitado, caminha em oposição à disposição da Constituição

221
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Federal, bem como ao Código Civil brasileiro, pois ambos as-


seguram a comprovação de convivência a uma união dura-
doura e com o objetivo de se constituir família por quaisquer
meios de prova, uma vez que não os prevêem. Sobre isso, o
Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário – IBDP (2019) pro-
feriu:

2. Tal exigência em relação à comprovação da


união estável é ilegal e inconstitucional, visto que
o art. 226, da CF, confere à união estável os mes-
mos efeitos do casamento e, em relação às nor-
mas de Direito de Família, o Código Civil não
exige esse tipo de formalidade para a constitui-
ção da união estável (IBDP, on-line).

A exceção da requisição de prova específica à união


estável cabe somente nos casos da companheira, ao registrar
a criança sem a presença do genitor, tentar assim inserir o
nome do mesmo. O provimento 149/2023 do CNJ, no seu art.
512, §1° c/c art. 513, esclarece os documentos probatórios da
união estável indispensáveis ao registro de nascimento. Neste
caso, faz-se necessário a observância de provas específicas,
para posterior deferimento do pedido.
Ainda no âmbito dos meios probatórios, clarificada é a
limitação imposta pelo beneficiador, pois como já discutido, to-
das as normatizações ao tocante da união estável como qua-

222
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

lificador de dependência, resta evidente a liberdade de produ-


ção probatória à comprovação de vínculo e seu findo reconhe-
cimento. Válido é demonstrar a limitação utilizada pelo INSS,
qual também se utiliza o art. 180 da IN PRES/INSS nº
128/2022 como precedente:

Art. 180. Para comprovação de união estável e


de dependência econômica são exigidas duas
provas materiais contemporâneas dos fatos,
sendo que pelo menos uma delas deve ter sido
produzida em período não superior a 24 (vinte e
quatro) meses anterior ao fato gerador, não
sendo admitida a prova exclusivamente testemu-
nhal, exceto na ocorrência de motivo de força
maior ou caso fortuito.

Tem-se por limitação, neste caso, a desqualificação da


prova testemunhal, que somente será utilizada em exceções.
Nesse sentido estava sendo consolidada a jurisprudência do
STJ, manifestada no REsp nº 783.697/GO:

Se a lei não impõe a necessidade de prova ma-


terial para a comprovação tanto da convivência
econômica em união estável como da dependên-
cia econômica para fins previdenciários, não há
por que vedar à companheira a possibilidade de
provar sua condição mediante testemunhas, ex-
clusivamente (STJ - REsp: 783697 GO
2005/0158025-7, Relator: Ministro NILSON NA-
VES, Data de Julgamento: 20/06/2006, T6 -
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJ
09/10/2006 p. 372RSTJ vol. 208 p. 16856)

223
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ainda, em conflito com o seu próprio texto normativo,


cita-se o próprio Decreto n° 3.048/99, no seu art. 22, § 3°, in-
ciso XVII, que corrobora com a livre produção de provas, pois
expressa a possibilidade de constituir a prova de vínculo ma-
rital por qualquer outro documento que possa conduzir a vera-
cidade do fato.

§ 3º Para comprovação do vínculo e da depen-


dência econômica, conforme o caso, deverão ser
apresentados, no mínimo, dois documentos, ob-
servado o disposto nos § 6º-A e § 8º do art. 16, e
poderão ser aceitos, dentre outros:
XVII - quaisquer outros que possam levar à con-
vicção do fato a comprovar.

Assim, outras provas são admitidas, de forma livre,


sendo toda aquela que comprove de fato a estabilidade da re-
lação. Nesse teor, falamos de prints de conversa no What-
sApp, Fotos e declarações em Rede sociais, mesmo que não
formalmente expressas no ordenamento aplicável, tal qual as
provas testemunhais ora limitadas.
Dessarte, finda-se notável a necessidade de regula-
mentação para o impedimento a tentativa de fraude à previ-
dência, e que diante de todo o comentado, destaca-se a falta
de previsibilidade legal que conceda ferramentas a essa ação.

224
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Portanto, resta consolidado a importância das regulamenta-


ções administrativas, quais estabelecem o controle da má-
quina pública e a proteção do direito a quem o tem.
Contudo, tais determinações administrativas, como os
Decretos, Portarias, Instruções Normativas, devem sempre
promover a segurança jurídica àquele que é legitimo, prevale-
cendo o princípio da legalidade, hierarquia das leis e da segu-
rança jurídica.
Sugere-se então, a normatização dessas requisições
através de Emendas Constitucionais, que estabilizem exigên-
cias de forma concernente a legalidade, observadas as espe-
cificidades do ente familiar aqui explanado. Outra possibili-
dade, é que não se delegue a responsabilização do reconhe-
cimento de união estável ao órgão concessor do benefício,
sendo pertinente a ele somente a concessão do requerido
àqueles já qualificados como dependentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sob a égide da análise anteriormente explanada, diante


da verificação legislativa disposta, o presente trabalho buscou
examinar a quantificação do conjunto probatório exigido pelo
órgão instituidor dos direitos à seguridade social, e concer-

225
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

nente a isto, tem-se por propósito a garantia de dignidade mí-


nima atribuída ao ser humano, quando avaliada a necessidade
de apoio à subsistência.
No que tange às delimitações do tema, relaciona-se
pontualmente aos estipulados dependentes relativos à união
estável. Portanto, o instituto da pensão por morte mencionado,
visa nesse contexto, o amparo ao companheiro(a) que em de-
corrência do falecimento do segurado, necessita de resguardo
estatal.
Evidencia-se, por oportuno, que há a facilitação do re-
conhecimento desse instituto familiar, devendo as entidades
administrativas, segundo as regulamentações dispostas, invo-
carem a simplificação de sua comprovação por aquele que as-
sim o alegou. Entretanto, restou evidente o descumprimento a
tais imposições, uma vez que o indeferimento aos requerimen-
tos do benefício é efetuado e justificado por disposições que
ferem a hermenêutica jurídica e a própria legislação manda-
mentária.
Dessa forma, solidifica-se às controvérsias deduzidas,
findando-se clara a ilegalidade dos indeferimentos à requisi-
ção do seguro, em relação a quantificação e a qualificação das
provas exigidas à validação do reconhecimento de dependên-
cia.

226
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Resta elucidar a importância da salvaguarda previden-


ciária em relação à própria sociedade, entendendo assim, que
verificado a integralização dos requisitos conjuntamente as
provas legalmente estipuladas, e ainda advir o indeferimento
do INSS ao recebimento do benefício, insta a judicialização
para a obtenção de direito próprio.

REFERÊNCIAS

ALVES, Hélio Gustavo. Guia prático dos benefícios previ-


denciários: de acordo com a Reforma Previdenciária - EC
103/2019. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.

BRASIL. Ministério da Previdência Social. Instituto Nacional


do Seguro Social. Instrução Normativa nº 128, de 28 de
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Código Civil. Brasília, 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

227
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230
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

7
É JURIDICAMENTE POSSÍVEL A FIXAÇÃO DE PENSÃO
ALIMENTÍCIA E GUARDA COMPARTILHADA PARA
PETS, NA DISSOLUÇÃO CONJUGAL?

IS IT LEGALLY POSSIBLE TO SET ALMONY AND


SHARED CUSTODY FOR PETS DURING
MARITAL DISSOLUTION?

17
Maylon Diniz Morreira
18
Alcides Marini Filho

MOREIRA, Maylon Diniz; FILHO, Alcides Marini. É juridica-


mente possível a fixação de pensão alimentícia e guarda
compartilhada para “pets”, na dissolução conjugal? Tra-
balho de Conclusão de Curso de graduação em Direito – Cen-
tro Universitário UNINORTE, Rio Branco, 2024.

17
Discente do 9 período do curso de Direito do Centro Universitário UNI-
NORTE.
18
Graduado na Universidade Católica Dom Bosco Campo Grande/MS;
Pós-graduação em Direito Civil no Instituto Elpídio Donizete/ MG.

231
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar a viabilidade da con-


cessão de alimentos para animais de estimação no contexto
da dissolução da entidade familiar, especialmente nas chama-
das famílias multiespécies. Estas famílias, baseadas no con-
ceito de eudemonismo, priorizam a busca pela felicidade em
sua constituição, rompendo com modelos sociais matrimoniais
e patriarcais tradicionais. O trabalho abordará temas como a
evolução da família no direito brasileiro, as repercussões do
término da entidade familiar, e especialmente no caso de filhos
menores, e a possibilidade de estabelecer alimentos e a
guarda compartilhada para animais domésticos. Além disso, a
pesquisa investigará a evolução da relação entre seres huma-
nos e seus animais de estimação ao longo da história, desde
os primeiros registros de animais domesticados. Será desta-
cada a lacuna legislativa existente sobre a concessão de ali-
mentos para pets, bem como as estratégias utilizadas pela
doutrina para lidar com essa questão por meio da analogia. O
estudo também incluirá análises de decisões judiciais recentes
relacionadas ao tema para enriquecer a compreensão da
questão. Em última análise, o artigo demonstrará a possibili-
dade de pleitear alimentos e guarda para animais domésticos
nos dias de hoje, argumentando que a relação entre tutores e
pets pode ser equiparada à relação entre pais e filhos, refle-
tindo a evolução das percepções sociais sobre a importância
e o status dos animais de estimação na vida familiar.

Palavras-chave: pensão; cães; direitos; deveres; alimentos.

232
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

This study aims to analyze the feasibility of granting pet food


in the context of the dissolution of the family entity, especially
in so-called multispecies families. These families, based on the
concept of eudemonism, prioritize the search for happiness in
their constitution, breaking with traditional matrimonial and
patriarchal social models. The work will address topics such as
the evolution of the family in Brazilian law, the repercussions
of the end of the family entity, and especially in the case of
minor children, and the possibility of establishing maintenance
and shared custody for domestic animals. Furthermore, the
research will investigate the evolution of the relationship
between humans and their pets throughout history, since the
first records of domesticated animals. The existing legislative
gap regarding the granting of food for pets will be highlighted,
as well as the strategies used by the doctrine to deal with this
issue through analogy. The study will also include analyzes of
recent court decisions related to the topic to enrich the
understanding of the issue. Ultimately, the article will
demonstrate the possibility of claiming food and custody for
domestic animals today, arguing that the relationship between
guardians and pets can be equated to the relationship between
parents and children, reflecting the evolution of social
perceptions about the importance and the status of pets in
family life.

Keywords: pension; dogs; rights; duties; foods.

233
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

O artigo baseia-se na concentração da análise da la-


cuna deixada pelo Código Civil (2002) em relação à tutela e
pensão dos animais domésticos após o término de relaciona-
mentos matrimoniais. Desta forma, o estudo destaca a falta de
legislação específica sobre o tema, uma vez que a sociedade
está em constante evolução e, para manter a harmonia com a
população, o Direito deve acompanhar esses desenvolvimen-
tos.
Ao longo do tempo, o Código Civil (2002) tem procurado
satisfazer os interesses da sociedade civil de maneira ade-
quada. Nesse sentido, ele busca ampliar o conceito de família,
protegendo outros tipos de união que se tornaram comuns na
sociedade atual, como a união estável e a família monoparen-
tal.
Contudo, em meio à evolução da sociedade e à mu-
dança nas percepções sobre o papel dos animais de estima-
ção na vida familiar, surge um questionamento intrigante: seria
juridicamente possível a fixação de pensão alimentícia e
guarda compartilhada para os chamados pets durante o pro-
cesso de dissolução conjugal? Esta indagação não apenas
desafia as concepções tradicionais do direito de família, mas
também levanta importantes reflexões sobre a natureza dos

234
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

laços afetivos entre seres humanos e seus animais de compa-


nhia.
Embora alguns princípios não estejam totalmente explí-
citos nas leis e códigos, como o princípio da proibição do re-
trocesso social e o princípio da afetividade, eles contribuem
para que nosso sistema jurídico atenda às demandas da soci-
edade, promovendo harmonia entre a lei e os sentimentos de
justiça da população.
A instituição familiar se tornou mais ampla ao longo das
gerações, abrangendo diversas culturas e formas diferentes,
como a família multiespécies. Nesse tipo de família, os pais,
optando por não terem filhos, adotam um animal doméstico e
o tratam com afeto como se fosse um filho.
Quando essa família se dissolve, surge a necessidade
de uma abordagem jurídica dos efeitos desse evento. No en-
tanto, devido à lacuna em nossa legislação sobre a tutela ju-
risdicional de animais após a dissolução do relacionamento de
seus donos, o problema se torna evidente. Atualmente, nosso
sistema jurídico tem recorrido a outras fontes do direito, rela-
cionadas a questões envolvendo crianças e adolescentes,
para lidar com esse assunto. No entanto, ainda faltam leis es-
pecíficas sobre o tema.

235
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Portanto, o Estado deve adotar medidas para incluir na


legislação leis e garantias que abordem esse assunto, prote-
gendo e tutelando judicialmente o bem-estar, pensão e guarda
dos animais domésticos. Uma solução a ser considerada é a
aplicação, por analogia, do princípio da afetividade.
A realização deste estudo se justifica pela ausência de
uma tutela jurídica específica para lidar com a guarda compar-
tilhada e a pensão de animais domésticos após a dissolução
matrimonial, dificultando seu tratamento e fundamentação.
Com o objetivo de contribuir para esse debate, este estudo
busca explorar profundamente as questões relacionadas ao
tema, utilizando vários instrumentos para sua análise.
É evidente a importância dos animais domésticos na
estrutura familiar, uma vez que são considerados mais do que
simples animais não humanos, mas sim companheiros de
vida, membros da família e filhos, o que resulta em uma
grande relevância social.

7.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FAMÍLIA

Em primeiro lugar, é importante discutir a etimologia


da palavra família, e seus vários significados. A palavra famí-
lia vem da palavra latina famulus e significa escravo domés-
tico. O nascimento de uma família é considerado amarrado

236
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

desde o umbigo até o sistema patriarcal secular e a dimensão


era o pater familis, onde a figura soberana do pai reinava so-
bre a autoridade da família, que coloca o homem como chefe
absoluto e traz o caráter do homem ditador e reserva parte
da sociedade, deixando as mulheres em um papel submisso
(Engels, 1984).
De acordo com Cunha (2010), a família pode ser vista
como a mais primitiva unidade social humana, que surgiu his-
toricamente antes mesmo da formação de comunidades,
quando os seres humanos se reuniram e constituíram um
grupo. Por outro lado, Aguiar (2018) observou que no antigo
Império Romano surgiram juristas, que reconheciam a família
natural como composta por pai, mãe e filhos, estabelecendo
uma relação jurídica entre o casal no momento do casa-
mento.
Na antiguidade, como nas civilizações assíria, hindu,
egípcia, grega e romana, a família era uma estrutura ampla e
hierárquica, porém atualmente, sua composição se restringe
principalmente aos pais e filhos, como observado pelo doutri-
nador Venoso (2007).
A formação familiar no Brasil tem suas raízes na estru-
tura romana, que por sua vez foi moldada e influenciada pe-
los padrões gregos. Nesse modelo romano, cada membro ti-
nha responsabilidades específicas, predominando o sistema

237
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

patriarcal, onde o homem detinha o papel de líder da família,


exercendo autoridade sobre sua esposa e filhos. As mulheres
desse período assumiam principalmente o cuidado e a ali-
mentação dos membros da família (Nogueira, 2010).
Sobre o mesmo tema, Wald e Fonseca (2023, p. 26):

A família era, então, simultaneamente, uma


unidade econômica, religiosa, política ou ju-
risdicional. Inicialmente havia um patrimônio
só, que pertencia à família, embora adminis-
trado pelo pater. Numa fase mais evoluída
do Direito Romano surgiram patrimônios in-
dividuais, como os pecúlios, administrados
por pessoas que estavam sob a autoridade
do pater.

Sobretudo, o Estado, segundo Noronha e Parron


(2018), deixou temporariamente de lado a questão da inter-
venção e do poder da igreja e passou a tratar do assunto,
focando mais na perspectiva do bem-estar social de prefe-
rência religioso. A partir de então, a ideia dominante patriarcal
e de parentesco começou a declinar, e o modelo afetivo de
família passou a ocupar muito espaço.
Deixando de lado o contexto histórico e envolvimento
de civilizações antigas, no país do Brasil, o assunto relacio-
nado à família ficou em segundo plano na elaboração das
duas primeiras constituições. No primeiro e distante ano

238
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1824 nem mencionou a família, e em 1891 trouxe uma atu-


alização reconhecimento do casamento civil como direito à
constituição de um núcleo familiar, sem mais menções (Oli-
veira, 2002).
Dresch (2015) discute a representação da família no
século XX conforme delineada na Constituição de 1916, ca-
racterizada por sua natureza conservadora e patriarcal.
Essa estrutura familiar se fundamentava nos laços sanguí-
neos, com o pai exercendo autoridade como chefe do lar e
detentor de todos os bens e membros da família. Qualquer
forma de união fora do casamento era considerada tanto ile-
gal quanto imoral, resultando na ilegitimidade dos filhos nas-
cidos dessas relações, os quais não recebiam a proteção do
Estado.
Em decorrência do desenvolvimento social, intelectual
e econômico, o pensamento do modelo familiar começou a
se modificar e se expandir, tornando-se assim mais flexível
do que na época arcaica. Os marcos mais importantes na
mudança dos aspectos familiares ocorreram por influência da
ideia de democracia, valorização igualitária de homens e mu-
lheres na sociedade. Ou seja, os membros da família passa-
ram a ser tratados de forma mais igualitária, com todos os
agregados a tentarem satisfazer as suas necessidades, de

239
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

forma a que uma pessoa deixe de ser responsável pela eco-


nomia, mas todos cumpram o seu papel para o bem do agre-
gando familiar (Augusto, 2015).
Levando em conta a evolução do entendimento sobre
o conceito de família em consonância com o sistema consti-
tucional, é possível afirmar que esse conceito está intrinse-
camente associado à busca pela felicidade, ao afeto e à mo-
ralidade, e que, nesse contexto, está em constante evolução.
Assim sendo, a mudança não deve ser restringida por pre-
conceitos de natureza religiosa ou cultural (Lima, 2016).
Dentro dessa perspectiva, para a ínclita doutrinadora
Maria Helena Diniz (2015), é impossível trazer um conceito
claro e concreto do que seria uma família. Assim, devido ao
dinamismo desta instituição, não se limita a uma forma con-
ceptual, porque vivemos agora sob os auspícios de uma ins-
tituição multifacetada e em constante evolução.

7.1.1 ABORDAGEM DAS VARIAÇÕES DE VÍNCULO MATRI-


MONIAL LEGAIS E SOCIAIS NO CONCEITO DE CASA-
MENTO

As formas de vínculo matrimonial presentes nas legis-


lações e na sociedade contemporânea. Será destacada a di-

240
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

versidade de arranjos matrimoniais reconhecidos pelo ordena-


mento jurídico e como essas variações impactam a compre-
ensão dos direitos e obrigações dos cônjuges.
Após a promulgação da Constituição da República, o
conceito de família patriarcal, monogâmica e centrada na fi-
gura paterna como provedora exclusiva de recursos foi des-
construído. Em resposta aos anseios da sociedade, uma am-
pla gama de formas de constituição familiar, que há muito
tempo já existiam, foram finalmente oficialmente reconhecidas
e legitimadas (Madelano, 2022).
Segundo a visão de Tartuce (2021), a família informal,
representada principalmente pela união estável, é percebida
como um indicativo do progresso da sociedade. Essa perspec-
tiva questiona a necessidade essencial do matrimônio para a
configuração de uma entidade familiar. Rolf Madaleno (2022)
complementa essa análise ao explicar que, durante grande
parte da nossa história, a união informal foi considerada mar-
ginal, especialmente devido à ausência do divórcio. Em vez
disso, predominava o desquite, um instituto que não dissolvia
o matrimônio e carregava consigo diversos estigmas e precon-
ceitos.
De acordo com Tartuce (2021), um exemplo contempo-
râneo da evolução da sociedade é a instituição da família ho-
moafetiva. Essa forma familiar representa uma desconstrução

241
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

gradual da intolerância em relação a novos modelos familiares


e é caracterizada pela união entre pessoas do mesmo sexo.
Os Tribunais Superiores Brasileiros já reconhecem e legali-
zam o casamento homoafetivo. Segundo Paulo Lôbo (2022),
a união homoafetiva é considerada uma entidade familiar
quando preenche os requisitos de afetividade, estabilidade,
ostensibilidade e tem o propósito de constituir uma família.
Após a promulgação da atual Constituição, uma outra
forma de entidade familiar passou a ser reconhecida, conhe-
cida como família monoparental, conforme estabelecido no ar-
tigo 226, § 4º da Carta Magna. Essa configuração familiar é
composta por um dos genitores junto aos seus filhos. Con-
forme explicado por Paulo Lôbo (2021), essa estrutura pode
surgir tanto por escolha deliberada quanto por circunstâncias
fortuitas, como separação de fato, adoção unilateral, viuvez,
divórcio ou concubinato. Não há distinção em termos de efei-
tos jurídicos, pois a análise concentra-se na autoridade paren-
tal e no estado de filiação.
Rolf Madaleno (2022) destaca que, nessa configuração
familiar, o vínculo é fundamentado no afeto, sendo que as re-
lações sexuais não são necessariamente uma condição, como
ocorre nas uniões homoafetivas e nas uniões estáveis.
Tartuce (2021) também aborda a família anaparental,
que se baseia na afetividade familiar, mesmo não contando

242
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

com a presença de pai ou mãe. O termo "anaparental" tem


origem grega, sendo que o prefixo 'ana' traduz a ideia de pri-
vação, como é observado em termos como 'anarquia', que sig-
nifica 'sem governo'. Nesse contexto, o prefixo é utilizado para
criar o termo 'anaparental', que designa uma família sem a pre-
sença de pais.

No contexto das diversas estruturas familiares implicita-


mente reconhecidos pelo sistema jurídico, destaca-se a famí-
lia recomposta ou reconstituída. Este arranjo familiar é uma
consequência da superação do conceito de matrimônio perpé-
tuo que predominava na sociedade do passado.

Com a facilitação do divórcio, especialmente nos casos


em que o casamento não proporcionava mais benefícios aos
cônjuges, homens e mulheres passaram a estabelecer novos
compromissos, seja por meio do casamento ou união estável,
com novos parceiros, incluindo consigo os filhos de relações
anteriores, assim construindo uma nova configuração familiar
(Madelano, 2022).

Esses animais de estimação passaram a integrar os nú-


cleos familiares, demonstrando uma notável capacidade de
desenvolver afeto e conexão com seus tutores. Esse fenô-
meno tem modificado significativamente o papel desses seres
na sociedade, conferindo-lhes um lugar especial equiparado

243
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ao de verdadeiros filhos.

Rolf Madaleno (2022) esclarece que, de acordo com a


interpretação do Superior Tribunal de Justiça, os animais do-
mésticos deixam de ser classificados como semoventes (con-
forme o art. 82 do Código Civil). As decisões judiciais passam
a considerá-los não apenas como objetos de posse e proprie-
dade (conforme o art. 1.232 do Código Civil), mas sim como
seres sencientes, ou seja, sujeitos capazes de experimentar
dor ou sofrimento emocional.

Nessa perspectiva, é possível afirmar que as alterações


na concepção dos animais de estimação ainda são bastante
recentes, gerando uma lacuna jurídica no que diz respeito à
resolução de disputas relacionadas a esse tema que chegam
aos tribunais. Isso se deve ao fato de que a transição do status
de objeto semovente para seres dotados de senciência en-
volve diversas considerações, como exploraremos mais adi-
ante.

Aprofundaremos ainda mais neste universo da família


multiespécies em seções subsequentes. Para uma melhor
compreensão das mudanças no atual Direito de Família brasi-
leiro, nos próximos tópicos, abordaremos o término da enti-
dade familiar e suas vertentes, a definição de guarda e visitas,
bem como a questão da fixação de alimentos.

244
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

7.1.2 FAMÍLIA MULTIESPÉCIE

No cenário internacional, a família recebe proteção es-


pecial do Estado conforme o artigo 17 I, Pacto de San José
da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário (Brasil, 1999).
Desde a antiguidade até os dias de hoje, ao longo dos
séculos, a família passou por grandes mudanças, e principal-
mente na Constituição Federal de 1988 introduziu no ordena-
mento jurídico um novo conceito de família, como o artigo
266, caput aponta "à família, fundamento da sociedade, tem
proteção especial perante o Estado" (Brasil, 1988).
Destaca-se que o texto constitucional incorpora plena-
mente diversos princípios constitucionais pertinentes à famí-
lia, tais como liberdade, igualdade, solidariedade, proteção
integral, afeto e outros princípios estabelecidos na Constitui-
ção Federal.
Podemos dizer que a família multiespécies está inclu-
ída implicitamente na Constituição Federal de 1988 por ser
uma nova forma de constituição familiar e fundamentada prin-
cipalmente na doutrina e jurisprudência do país. Assim, Rosa
(2019, p. 203) afirma que:

Na mesma dinamicidade que a vida requer,


paulatinamente, as varas de família passa-
ram a reconhecer aquilo que para muitos

245
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

leitores pode ser uma realidade, qual seja,


de que animais de estimação passaram a
serem considerados como integrantes das
famílias.

O princípio da maioria determina que se considere o


modelo de família delineado no artigo 226 da Carta Magna
como uma estrutura flexível, complementando, dessa forma, o
princípio do afeto e reconhecendo a diversidade das forma-
ções familiares. A partir disso, é possível concluir que a própria
Constituição reconhece, em seu escopo, a existência de famí-
lias multiespécies.

Por definição, uma família multiespécies é uma família


que consiste em diferentes espécies, incluindo humanos e
outros animais. O pet, como é conhecido o animal de estima-
ção, criado pelo ser humano dentro de sua casa, compartilha
com ele um indiscutível vínculo afetivo, muita das vezes se-
melhante ao afeto tido por um filho.

Evidenciamos também que a mera presença de um


animal de estimação em casa não é suficiente para caracte-
rizar uma família multiespécies, mas o compartilhamento de
afeto é um dos elementos mais importantes desse novo ar-
ranjo familiar. Por exemplo, se determinado animal pretende
apenas exercer a função de guarda da casa, não pode ser
considerado como filho, pois tem uma finalidade específica,

246
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

uma tarefa distintiva, não participa da família e nem das ati-


vidades rotineiras.

Ao caracterizar a estrutura de uma família multiespé-


cies, devem-se levar em conta certos elementos norteadores
da relação humano-animal, principalmente o afeto inerente à
relação entre classes. Dias (2018, p. 01) destaca:

A relevância do surgimento deste novo ar-


ranjo familiar é de tamanha importância
que muitas pessoas, sejam oriundas de
uniões estáveis ou de uniões matrimoniais,
estão optando por não ter descendentes,
dando lugar aos “filhos” de quatro patas,
bem como os donos e tutores estão sendo
substituídos por “mães”, “pais”, “irmãos”,
“tios”, de acordo com a extensão familiar.

Assim, uma transformação na moderna instituição da


família fez com que a lei fosse adaptada a esse novo mosaico
social. Entretanto, várias famílias decidiram trocar fraldas,
mamadeiras e choro por comida, visitas ao veterinário e tra-
tamento. Em suma, cuidar desses novos membros repre-
senta uma verdadeira imersão em um mundo recreativo e
cada vez mais complexa, onde o princípio da ternura encon-
tra proteção: o mundo dos pets.

247
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Acima de tudo, é importante reconhecer as caracterís-


ticas específicas que distinguem os animais a partir da pers-
pectiva única e especial que os torna parte de um todo. Ou
seja, elevando-os à condição de familiares e a ponto de não
serem considerados “coisas” no ordenamento jurídico (artigo
82 do Código Civil). Para tanto, deve-se valorizar esse reco-
nhecimento, cujos requisitos básicos são: reconhecimento fa-
miliar, preocupação moral, afeto, proximidade e participação
na vida cotidiana (Lima, 2018).

7.2 DOS ALIMENTOS E DA NATUREZA JURÍDICA

Como observado anteriormente, a existência da família


é fundamentada nos seus membros, e não o contrário, refle-
tindo a valorização da pessoa humana. Ao analisar os alimen-
tos sob uma perspectiva constitucional, fica evidente que o seu
propósito é proporcionar uma vida digna tanto para aqueles
que necessitam quanto para aqueles que os fornecem.
Além disso, a determinação dos alimentos é fundamen-
tada em uma abordagem solidária, conforme estabelecido no
artigo 3º da Constituição Federal de 1988, pautada pela coo-
peração, igualdade e justiça social, visando concretizar a dig-
nidade da pessoa humana (Farias; Netto; Rosenvald, 2020).

248
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Analisando sob uma perspectiva infraconstitucional, a


obrigação alimentar surge em virtude do princípio da solidari-
edade familiar. Nesse contexto, a partir do momento da disso-
lução do vínculo conjugal, é imperativo amparar aquele que se
encontra desprovido dos meios necessários à sua subsistên-
cia. Essas disposições encontram-se regulamentadas nos
arts. 1.694 ao 1.710 do Código Civil de 2022.
Embora o direito civil não defina o que constitui ali-
mento, essa doutrina é reforçada na prática com a criação do
conceito de alimento de acordo com os dizeres de Orlando
Gomes (1999, p. 427), o qual disserta:

Alimentos são prestações para satisfação


das necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si. A expressão designa medi-
das diversas. Ora significa o que é estrita-
mente necessário à vida de uma pessoa,
compreendendo, tão somente, a alimenta-
ção, a cura, o vestuário e a habitação, ora
abrange outras necessidades, compreendi-
das as intelectuais e morais, variando con-
forme a posição social da pessoa necessi-
tada.

Dessa maneira, esse dispositivo jurídico visa assegurar


a subsistência digna daquele que não possui meios autossufi-
cientes, incluindo todos os elementos essenciais para garantir

249
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

um padrão mínimo de vida digna. Esse padrão abrange as-


pectos como saúde, moradia, vestuário, educação, lazer, en-
tre outros.
Considerando esse dever legal de apoio mútuo familiar,
percebe-se que ele não está limitado apenas aos seres huma-
nos. Baseado na concepção de pluralismo familiar e na impor-
tância do afeto como força propulsora da família, torna-se
plausível afirmar a possibilidade de fornecer alimentos tam-
bém para animais no contexto da dissolução do vínculo conju-
gal.
Os animais de estimação têm o direito de serem reco-
nhecidos como membros da família, uma vez que a essência
familiar é marcada pelo vínculo afetivo. Esse reconhecimento
implica em estender a eles as mesmas prerrogativas garanti-
das aos filhos menores, considerando que os animais, assim
como as crianças, dependem de seus tutores/genitores para
assegurarem sua subsistência.
É crucial destacar que a obrigação alimentar para os
animais nunca se encerrará, pois é essencial considerar que
eles nunca atingirão a independência. Cabe aos tutores não
apenas lidar com aspectos afetivos, mas também com aspec-
tos materiais, como a manutenção da alimentação, despesas

250
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

veterinárias, medicamentos, vacinas, lazer, entre outros. Por-


tanto, essa obrigação é vitalícia, dada a incapacidade do ani-
mal de subsistir por conta própria.
Portanto, a alimentação pode ser definida como algo
absolutamente necessário para uma vida digna, que trans-
cende qualquer compreensão que diminua seu tamanho ou al-
cance, devido à sua indiscutível importância para a dignidade
e o desenvolvimento saudável de todo ser humano.
Antes de analisar a natureza jurídica dos animais de es-
timação, é necessário compreender a classificação legal atri-
buída a cada tipo de animal, seja selvagem, domesticado ou
de estimação. Essa distinção é fundamental para uma análise
precisa da responsabilidade penal nos casos de crueldade
contra animais de estimação, especialmente quando ocorrem
dentro do ambiente familiar, sendo este o foco principal deste
estudo.
O ponto de partida dessa investigação reside numa
questão que desafia a concepção de coisa atribuída aos ani-
mais pelo Código Civil. Essa questão levanta a forma arrai-
gada de antropocentrismo radical que permeia a estrutura his-
tórica do sistema jurídico brasileiro, especialmente no âmbito
da dogmática jurídico-penal (Seguin; Araújo; Cordeiro Neto,
2016).

251
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

De acordo com Seguin, Araújo e Cordeiro Neto (2016),


indagam sobre a possibilidade de os animais serem sujeitos
de direitos penais é indagar sobre os limites de um direito pe-
nal liberal, que aspira ser uma "barreira intransponível da po-
lítica criminal", questionando, assim, as próprias bases de sua
função. Em outras palavras, discutir a viabilidade de proteção
jurídica aos animais implica, neste contexto, desafiar os para-
digmas tradicionais e questionar o fato de que eles não são
abarcados pela política criminal liberal.
A análise da evolução histórica, aliada à proposta de
uma dignidade penal, sugere a necessidade de considerar
rupturas paradigmáticas à medida que a sociedade, que fun-
damenta a justiça, passa a considerar (ou deixar de conside-
rar) algo como sendo de valor ou, nas palavras do autor, do-
tado de dignidade penal. Dessa forma, é possível que os ani-
mais deixem de ser vistos apenas como objetos ou coisas e
sejam reconhecidos como seres dignos de proteção jurídica
penal quando há interesse humano em conceder-lhes tal dig-
nidade.
No entanto, é importante observar que há certa cruel-
dade em limitar a dignidade apenas ao que interessa aos hu-
manos, mas é assim que nosso sistema jurídico opera. As leis
são voltadas para o bem-estar social humano, baseando-se
em normas e princípios que consideram exclusivamente as

252
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

necessidades humanas. Nesse sentido, recorre-se ao pioneiro


do pensamento crítico sobre a noção de bem jurídico, Franz
Von Liszt (2003, p. 139), que defende uma visão centrada no
antropocentrismo radical, afirmando que "todo direito existe
pela vontade dos homens e tem como objetivo a proteção dos
interesses da vida humana".
Assim, seria questionável e até mesmo insensato afir-
mar que a proteção concedida aos animais, mesmo quando
resulta na criminalização da crueldade e no reconhecimento
deles como bens jurídicos-penais, negligência o que seria ver-
dadeiramente melhor para esses seres, privilegiando o inte-
resse humano em sua proteção. Em outras palavras, a prote-
ção é feita de acordo com nossas preferências, sem priorizar
as necessidades reais e os desejos dos animais, embora sua
sensibilidade e dignidade sejam reconhecidas.
Neste momento, é oportuno concluir este comentário e
voltar à discussão sobre a dignidade animal, como observa
Bezerra da Silva (2020) a dignidade da pessoa humana, em
uma perspectiva antropológica, relaciona esse princípio com
aspectos científicos, sendo inegável que os animais também
requerem proteção jurídica. Os animais, assim como os seres
humanos, possuem características que merecem respeito e
consideração. Afinal, eles sentem dor, expressam emoções,

253
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

se comunicam e alguns têm consciência de sua própria exis-


tência. Não é exagero afirmar que existe uma dignidade ani-
mal.
Seguindo a linha de raciocínio delineada e explorando
uma vertente ampliada da teoria antropocêntrica radical, pode-
se concluir que, uma vez que os seres humanos reconhecem
a necessidade de proteção dos animais, há um interesse em
que sejam considerados como bens jurídicos penais. Isso
ocorre porque, como explicado anteriormente, há uma digni-
dade penal que precisa ser tutelada.
No entanto, a doutrina predominante ainda reluta em li-
dar com essa questão. O pensamento expresso aqui está ali-
nhado com uma abordagem progressista de proteção aos ani-
mais, que busca atualizar o direito de acordo com seus pró-
prios princípios fundamentais. Esta abordagem é vista como a
melhor direção a seguir, dada sua relevância para o campo
jurídico e por apresentar uma visão mais justa e precisa da
relação entre o Homem e os Animais.
Bezerra da Silva (2020) oferece percepções que res-
pondem à primeira pergunta levantada neste capítulo. Ela re-
conhece que, embora a capacidade processual dos animais
possa e deva ser suprida por tutores, organizações de prote-
ção animal ou pelo Estado através do Ministério Público, a
doutrina predominante atualmente sustenta que os animais

254
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

não são titulares de direitos fundamentais. Eles são conside-


rados objetos de proteção constitucional, protegidos pelo fato
de serem seres vivos, mas não detentores de direitos. A dis-
tinção entre esses conceitos pode ser bastante confusa. Em
outras palavras, enquanto a carta constitucional de um país se
concentra no ser humano, isso não exclui a legitimidade de
garantir proteção a todos os seres vivos.
Do trecho destacam-se dois pontos importantes. Pri-
meiramente, a autora reconhece a incapacidade processual
dos animais, embora o Estado e a doutrina não os reconhe-
çam como titulares de direitos fundamentais, ainda assim re-
conhecem sua necessidade de proteção. No entanto, essa
proteção muitas vezes é motivada pelo interesse humano em
proteger seus próprios interesses, sejam eles morais, éticos
ou comerciais. Infelizmente, isso reflete a postura atual do sis-
tema jurídico, que prioriza os interesses humanos na relação
homem-animal.
Em seguida, a autora menciona os responsáveis pelos
animais como tutores, porém é fundamental ressaltar que essa
designação não deve ser confundida com a figura do tutor le-
gal, conforme definido no Código Civil. Neste contexto, o termo
tutor se assemelha mais àqueles que cuidam e protegem os
interesses de um incapaz, como um tutor particular ou uma
babá.

255
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Nesse contexto, de acordo com o ordenamento jurídico


atual e a doutrina predominante, a denominação correta para
aqueles que possuem um animal de estimação é a de propri-
etário, ou seja, os pais de animais de estimação são efetiva-
mente considerados donos de seus animais.
No entanto, ao longo deste estudo, foi demonstrado que
essa designação está gradualmente sendo substituída por
uma mais moderna, à medida que os animais domésticos dei-
xam de ser vistos como simples objetos e avançam em direção
a uma dignidade penal, o que pode exigir uma alteração em
sua natureza jurídica.

7.3 DA POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE PENSÃO E DA


GUARDA COMPARTILHADA PARA "PETS" SOBRE
A SUSTENTAÇÃO FINANCEIRA DE ANIMAIS DE
ESTIMAÇÃO APÓS A DISSOLUÇÃO CONJUGAL

Este capítulo tem como objetivo central analisar a via-


bilidade e fundamentação jurídica da fixação de pensão e
guarda compartilhada para pets em situações de dissolução
conjugal. Serão abordados aspectos éticos, legais e práticos
relacionados à responsabilidade financeira contínua para o
sustento de animais de estimação após o término do matrimô-
nio.

256
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Conforme observado por Dias (2020), é factível a deter-


minação de alimentos em benefício de animais domésticos,
incluindo disposições relacionadas à guarda, ao regime de
convivência e à provisão alimentar.

Assim, quando da separação de casal, sur-


gem de forma frequente grandes embates,
sobre quem irá ficar com eles. A disputa
chega aos tribunais, a quem definir quem fi-
cará com a guarda, sendo estipulado o re-
gime de convivência. Como animais de com-
panhia geram custos, há a imposição da
obrigação alimentar. Com a sofisticação dos
cuidados assegurados ao chamado mundo
pet, os custos são consideráveis. Desse
modo, nada justifica impor a somente um
dos donos o encargo de arcar sozinho com
esses gastos (Dias, 2020, p. 74).

A preocupação central, tanto para os seres humanos


quanto para os animais domésticos, nos casos de separação
dos tutores, é o sentimento de falta, abandono e possível de-
pressão que pode surgir. Nesses cenários, surge a discussão
sobre quem ficará com o animal de estimação.

Em algumas situações mais harmoniosas, os cuidados


com o animal são acordados entre os tutores, com um sistema
de revezamento de tempo, visitas, passeios e custeio, refle-
tindo uma efetiva divisão de responsabilidades dos tutores em

257
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

relação ao bem-estar e desenvolvimento do animal, de ma-


neira análoga à guarda dos filhos em casos de divórcio ou dis-
solução.

O objetivo é minimizar os efeitos da separação e priori-


zar o bem-estar de todos os envolvidos, incluindo os animais.
No entanto, há também situações menos amigáveis, em que
os ex-casais disputam a posse exclusiva do animal, gerando
conflitos prejudiciais não apenas para eles, mas também para
os animais envolvidos (Wisniewski, 2019).

Segundo Zwetsch (2015), é crucial encarar com serie-


dade e sem preconceitos a definição da guarda de um animal
de estimação que fez parte de uma família que se desfez. Isso
não se justifica apenas pelo fato de ser uma questão cada vez
mais comum a ser resolvida pelos profissionais do direito nos
tribunais, mas também pelo envolvimento de sentimentos e in-
teresses tanto de seres humanos quanto de seres não huma-
nos, que são capazes de sofrer.

Nas disputas judiciais relativas à guarda de animais, se-


ria ideal conciliar os interesses tanto dos animais quanto dos
tutores, porém, nem sempre isso é viável. Quando não é pos-
sível atender aos interesses de ambas as partes, é necessário
priorizar o melhor interesse do animal, o qual prevalecerá so-
bre um dos proprietários por determinadas razões. Isso ocorre

258
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

devido à vulnerabilidade do animal, considerando que o outro


proprietário está em uma posição mais favorável para lidar
com a não realização completa de seu interesse (Eithe; Akers,
2011).

Conforme discutido anteriormente, em certas famílias,


os animais domésticos ocupam um lugar significativo no nú-
cleo familiar, sendo considerados e/ou tratados como mem-
bros, embora do ponto de vista jurídico sejam classificados
como bens móveis por analogia, e estejam sujeitos à qualifi-
cação como patrimônio.

É incontestável que, dada sua importância na vida fa-


miliar, nos casos de dissolução de união estável ou matrimô-
nio, os animais têm direito à definição de guarda e tutela legal.
Isso ocorre porque não podem ser tratados como objetos a
serem divididos como se fossem meras posses, dado o vín-
culo emocional entre as partes envolvidas. Portanto, é crucial
respeitar tanto os direitos dos donos quanto os dos animais.

Observa-se uma profunda relação de afeto entre huma-


nos e animais, que pode ser evidenciada em situações con-
cretas por meio de atitudes típicas de quem cuida de um filho
ou de um ente querido, tratando o animal como um membro
integral da família.

259
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Um exemplo claro disso é quando o animal adoece, mo-


mento em que é possível testemunhar famílias mobilizando re-
cursos financeiros ou lançando campanhas em redes sociais,
tudo em prol do bem-estar do animal. Este esforço é motivado
unicamente pelo amor ao animal e o temor de perdê-lo, sem a
expectativa de qualquer retorno financeiro.

Diante dessa realidade, torna-se evidente que não seria


justo permitir que apenas uma das partes de um casal tenha o
direito exclusivo de conviver com o animal em caso de sepa-
ração, considerando que ambos compartilham um vínculo afe-
tivo com o mesmo. Portanto, concluiu-se que o modelo de
guarda que melhor atende aos interesses tanto do animal
quanto dos donos é a guarda compartilhada.

Nesse arranjo, o animal pode conviver com ambos os


donos, que são responsáveis por decidir em conjunto sobre
questões relacionadas ao seu bem-estar, reduzindo assim o
risco para sua vida, garantindo uma alimentação consistente,
cuidados médicos adequados e outras necessidades.

É importante ressaltar que na guarda compartilhada, ao


contrário da modalidade alternada, todas as decisões são to-
madas em conjunto previamente acordadas, promovendo uma
convivência harmoniosa e compartilhando tanto os momentos
de convívio como os gastos financeiros, o que resulta em uma
melhor qualidade de vida para o animal.

260
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

7.3.1 DA FIXAÇÃO DE PENSÃO PARA PETS NO ORDENA-


MENTO JURIDÍCO BRASILEIRO

Este último capítulo será discutido aspecto como a


quantificação dos valores, a fiscalização da destinação dos re-
cursos e outros desafios logísticos que podem surgir ao con-
siderar essa inovação jurídica.

Cabe elucidar que através do Enunciado


607 da VII Jornada de Direito Civil, vem re-
gulamentar que a guarda compartilhada não
implica no não-pagamento de pensão ali-
mentícia – ao contrário, ambas as partes te-
rão a incumbência do pagamento de 32 va-
lores à título de alimentos ainda que sob o
regime de guarda compartilhada (Marinho,
2019, p. 56).

Em relação ao direito de visita, de acordo com Dupret e


Pessoa (apud Marinho, 2019, p. 57), "os laços entre o animal
e os tutores devem ser mantidos, não apenas pelo aspecto
afetivo, mas também para evitar episódios de exclusivismo.
Além disso, o pagamento da pensão alimentícia também é in-
contestável".
Na guarda unilateral, o detentor tem responsabilidade
tanto física quanto jurídica, convivendo com o animal e to-

261
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mando decisões relacionadas a ele. Ao outro tutor cabe o di-


reito de visita, supervisão e contribuição financeira. Nesse for-
mato de guarda, observa-se uma desigualdade evidente (Pé-
ricard, 2018).
Por outro lado, a guarda compartilhada promove um
equilíbrio nas relações entre os tutores e o animal. Nesse tipo
de guarda, ambos os tutores têm a oportunidade de participar
ativamente da vida do animal de estimação, incluindo visitas
ao veterinário, acompanhamento de seu crescimento e todas
as demais questões relacionadas ao animal, incluindo a pen-
são.
Na guarda compartilhada de animais, é fundamental
que os tutores mantenham uma boa relação, pois neste cená-
rio o tutor que não detém a guarda tem o direito de visitar o
animal e participar de suas atividades, como consultas veteri-
nárias e passeios (Péricard, 2018). Essa boa relação é essen-
cial, conforme estipulado pelo artigo 1.583, parágrafo 1º, que
requer uma "responsabilização conjunta", pressupondo que
ambos os tutores estão aptos a conviver harmoniosamente
para garantir o bem-estar do animal de estimação.
Segundo Dias (2020), o modelo de guarda mais apro-
priado é o compartilhado, pois assegura ao animal a continui-
dade do relacionamento com ambos os tutores, o que é de
extrema importância, especialmente em contextos de divórcio,

262
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que podem ser difíceis para os animais. Por esses motivos, a


guarda compartilhada é considerada a regra, podendo ser de-
terminada pelo juiz independentemente do consentimento dos
pais.
Uma tendência emergente nos tribunais, que visa aten-
der às necessidades dos animais, é a concessão de pensão
alimentícia para animais domésticos. Um caso pioneiro ocor-
reu na 7ª Câmara Cível da comarca do Rio de Janeiro, onde
uma ex-parceira entrou com uma ação buscando assistência
financeira do ex-parceiro para as despesas de seis cães e um
gato. Em uma decisão liminar, o desembargador Ricardo
Couto de Castro determinou que o ex-parceiro deveria contri-
buir com R$ 1.050,00 por mês, o equivalente a R$ 150,00 por
animal (Nóbrega, 2018).
No âmbito do Direito Civil, a pensão alimentícia abrange
não apenas a alimentação, mas também aspectos como edu-
cação, vestuário, moradia, lazer e assistência médica. O pro-
pósito da pensão é melhorar as condições de vida de quem a
recebe. Portanto, considerando as necessidades dos animais,
não é descabido pensar na divisão das despesas.
As circunstâncias podem variar de acordo com as par-
ticularidades do animal, como sua idade avançada ou pre-
sença de doenças, por exemplo (Matos, 2018). Nesse sentido,
a pensão alimentícia deve ser examinada tendo em vista os

263
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

interesses específicos do animal em questão, levando em con-


sideração suas necessidades individuais.
As disposições relativas aos alimentos podem ser apli-
cadas por analogia aos animais, fundamentadas na relação de
afeto entre os tutores e os animais. Os tutores têm o dever de
cuidar de seus animais, portanto, a prestação de alimentos é
justificável, considerando que os animais também têm neces-
sidades básicas, como moradia, alimentação e cuidados mé-
dicos.
Na ausência de um acordo sobre a provisão de alimen-
tos, é possível iniciar uma ação legal para buscar uma solu-
ção. Quando solicitado, o judiciário deve ordenar ao tutor não
guardião que pague uma quantia determinada com base nas
necessidades do animal, levando em consideração também a
capacidade financeira do tutor não guardião (Silva, 2015).
É perfeitamente viável e razoável atribuir deveres aos
cônjuges em relação aos animais de estimação no contexto do
divórcio. Se a responsabilidade de cuidar do animal de estima-
ção cabe aos tutores, então as despesas com alimentação,
vacinação, cuidados veterinários e outras necessidades de-
vem ser suportadas e compartilhadas de forma proporcional
aos ganhos de cada um, levando em consideração as neces-
sidades do animal. Para o cônjuge-tutor que não detém a

264
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

guarda do animal de estimação, é legal estabelecer uma pen-


são alimentícia para cobrir tais despesas (Silva, 2015).
Os alimentos fornecidos aos animais durante o período
da união eram responsabilidade de ambos os cônjuges, por-
tanto, o juiz pode determinar o pagamento de alimentos para
garantir que o animal continue sendo cuidado pelos ex-com-
panheiros (Chaves, 2016). Também é possível impor direitos
de alimentos, visto que não apenas as pessoas têm necessi-
dades de sobrevivência (Dias, 2020).
Ao determinar o valor da pensão, o juiz deve considerar
os interesses do animal em questão, incluindo questões bási-
cas de saúde e alimentação, bem como lazer e cuidados pes-
soais. Por exemplo, se ambos os cônjuges eram ocupados, e
uma pessoa contratada pelo casal levava o animal para pas-
sear todos os dias, ou se o animal era levado ao pet shop a
cada duas semanas para cuidados básicos. Nessas situações,
seria adequado que o juiz considerasse tais fatores ao deter-
minar o valor da pensão, visando manter o estilo de vida do
animal. Portanto, os alimentos devem contribuir para manter o
padrão de vida do animal, de forma que os custos não recaiam
apenas sobre uma das partes.
A definição do valor da pensão alimentícia dependerá
do tipo de guarda. Na guarda unilateral, em que as decisões
são tomadas pelo guardião, a outra parte pode contribuir com

265
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

uma ajuda financeira. Na guarda compartilhada, em que am-


bos os ex-companheiros têm responsabilidade conjunta, a me-
lhor opção seria dividir os custos igualmente. Na guarda alter-
nada, cada um arcará com as despesas do animal durante o
período em que ele estiver sob sua responsabilidade (Matos,
2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dos anos, observou-se uma progressiva apro-


ximação entre o homem e o animal à medida que a convivên-
cia aumentava, transitando de uma relação de superioridade
para uma de afeto mútuo. Esta mudança acompanhou a evo-
lução do conceito e reconhecimento das diversas formas de
família, culminando na contemporaneidade, em que a família
já não se define por interesses econômicos ou necessidades,
mas sim pela afetividade. Nesse contexto, emerge a família
multiespécies, onde o afeto desempenha um papel central na
validação deste modelo familiar, composto por indivíduos de
diferentes espécies, humanos e animais.
Atualmente, as relações amorosas conjugais tendem a
ser fluidas, o que pode levar à dissolução familiar. Diante
desse cenário, as famílias que possuem animais de estimação

266
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

enfrentam dilemas sobre a guarda do animal doméstico, mui-


tas vezes levando o conflito aos tribunais quando não há
acordo prévio. Como não há uma legislação específica para
essas situações, cabe ao juiz tomar a decisão, frequentemente
aplicando princípios similares aos da guarda de filhos no di-
reito de família, dependendo das circunstâncias do caso, como
a guarda compartilhada ou alternada.
Ao analisar os precedentes judiciais relacionados, foi
evidente que o afeto tem desempenhado um papel significa-
tivo nas decisões dos juristas, abandonando por completo a
noção antiquada de que decidir sobre a guarda de animais se-
ria trivial. Ficou claro que a relação entre os animais e seus
tutores é baseada em companheirismo e afeto, não em inte-
resse.
Embora alguns juízes, desembargadores e relatores
ainda fundamentem suas decisões na ideia ultrapassada de
que os animais são meros objetos, apesar de a ciência reco-
nhecê-los como seres sensíveis, é notável que a maioria tem
considerado o cuidado e o amor envolvidos na relação entre o
humano e seu animal de estimação. Isso inclui até mesmo o
reconhecimento do direito de visita para aqueles que não são
os proprietários do animal, mas mantiveram uma ligação afe-
tiva com ele durante algum período. Essa abordagem contribui

267
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

para que a dissolução matrimonial não seja uma sentença de


desapego para todas as partes envolvidas.
Nesse contexto, após a análise da pesquisa, torna-se
evidente a necessidade de criação e aprovação de uma norma
reguladora para casos como os mencionados anteriormente.
Isso se deve ao crescente reconhecimento dos direitos dos
animais, especialmente no âmbito do direito de família, como
evidenciado no aspecto da guarda discutido. Espera-se que o
sistema jurídico evolua e se adapte em consonância com a
sociedade, buscando estabelecer um entendimento consoli-
dado sobre a guarda compartilhada de animais em casos de
dissolução matrimonial, evitando soluções discrepantes para
conflitos semelhantes.

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E-book
TOMO 3

Vol. I

ISBN Nº 978-65-00-96020-4

Este livro reúne sete artigos, na


área de Ciências Jurídicas,
redigidos por concludentes do
Curso de Direito da UNINORTE –
Ac, sob a supervisão do Prof.
Alcides Marili Filho
EAC
Editor .
.

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