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ROTEIRO PARA A INVESTIGAÇÃO

SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO


LEI 9.613/98 * *

Secretaria Especial de Políticas Criminais


Secretaria Especial de Políticas Cíveis e de Tutela Coletiva
GAECO – Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime
Organizado
CAOPP - Centro de Apoio de Patrimônio Público
CAEX - Centro de Apoio Operacional à Execução
AGRADECIMENTO

Agradecemos o empenho e a colaboração: a) do Promotor de


Justiça do GAECO, Núcleo de Ribeirão Preto, Dr. Frederico
Francis Mellone De Camargo; b) do Dr. Felipe Bertolli, Promotor
de Justiça do GAECO, Núcleo Campinas; c) do CAEX, por meio do
Núcleo de Inteligência e Gestão do Conhecimento, Dr. Leonardo
Romanelli, e Dra. Leila Araújo. E, finalmente, ao Coordenador
Geral do GAECO/MPSP, Dr. Amauri Silveira Filho, responsável por
colocar em prática a política criminal de enfrentamento à lavagem
de dinheiro e recuperação de ativos no GAECO.
MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

OCULTAR OU DISSIMULAR A...

NATUREZA/ORIGEM: introdução ou colocação (placement).

MOVIMENTAÇÃO: ocultação ou transformação (layering).

LOCALIZAÇÃO/DISPOSIÇÃO/PROPRIEDADE: integração (integration ou recycling).

DE BENS/DIREITOS/VALORES PROVENINTES DE INFRAÇÃO PENAL:


PRODUTOS OU PROVEITOS

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NATUREZA/ORIGEM: introdução ou MOVIMENTAÇÃO: ocultação e LOCALIZAÇÃO/DISPOSIÇÃO/PRO


colocação (placement). transformação (layering). PRIEDADE: integração (integration
ou recycling).

• Natureza/origem: a infração antecedente • Operações comerciais ou financeiras que • Etapa final do processo de lavagem.
necessariamente deve ser lucrativa. Ex. visam dissimular os vestígios da obtenção do
roubo é uma atividade lucrativa, desacato produto/proveito. • Incorporação do produto/proveito, já
não. • Dificultar o reconhecimento da conexão desfigurado, ao patrimônio de fato do
dos bens com o fato criminoso. destinatário, livre para desfrute e alienação.
• Identificar o produto que deve ser o
proveito de fonte ilícita. • Transações comerciais ou movimentações • Conversão em ativos lícitos (veículos,
financeiras que afastam o produto/proveito imóveis, embarcações etc).
• Desnaturar as características criminosas. da origem ilícita.
• Reintrodução no mercado lícito.
• Repasses (simples tradição) de dinheiro, • Conferir um disfarce para dar uma feição
veículos, bens de valor. lícita. • Registros de bens em nomes de terceiros.
• Lançar mão de subterfúgios para escoar
• Depósitos em contas bancárias. • Procuração entre o real proprietário e o
valores de ascendência criminosa.
laranja (para assegurar o poder sobre o
• Transferência de imóveis. • Movimentar valores em contas de terceiros. bem).

• Contratos simulados ou notas frias (valores • Não transferência formal do bem


ou bens não correspondentes). (manutenção em nome do antigo
proprietário, p.ex. veículo).
• Uso de empresas de fachadas.
• Mesclar recursos ilícitos na atividade lícita. • Contratos particulares ou “de gaveta”
(não averbados em registros públicos).
• Fragmentar valores em depósitos ou
saques menores.

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TIPOS MISTOS DE CONTEÚDOS VARIADOS

• A teoria dos estágios da colocação, transformação e integração é uma criação da doutrina norte-americana, que não foi
tecnicamente adotada nos tipos penais da Lei 9.613/98.

• Pela estrutura típica dos crimes da Lei 9.613/98, desnecessária a coexistência das três etapas (colocação, transformação e
integração) para caracterizar a lavagem de dinheiro.

• A lavagem pode ocorrer por intermédio de técnicas simples, sem a adoção de tipologias complexas. Não são necessárias a
segmentação e a distinção das etapas.

• Nem sempre a lavagem se concretiza com a presença de todas as etapas, pois muitas se sobrepõem ou não podem ser
separadas de forma lógica.

• A realização de qualquer das condutas atinentes a qualquer fase pode caracterizar o crime de lavagem.

• O crime de lavagem pode ser praticado por etapas, por diversos comportamentos, não se aplicando, necessariamente, a teoria
consagrada para o crime de ação múltipla.

• Todas as condutas são penalmente relevantes e autônomas.

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CONCURSOS DE CRIMES

• Constata-se, por vezes, a multiplicidade de comportamentos, a envolver várias fases.

• Todas elas são penalmente relevantes e autônomas, o que afasta a compreensão de crime habitual ou aplicação do princípio
da alternatividade no conflito de crimes.

• Para a Lei 9.613/98, prescinde da conclusão do processo de lavagem (integração ou recycling), com a efetiva reintrodução no
mercado, bastando a simples manobra de ocultação ou dissimulação.

• Trata-se de crime formal, que se consuma quando o agente pratica um dos verbos descritos no tipo, ainda que não consiga
concretizar o resultado desejado.

• Em certas práticas, embora coincidentes quanto à primeira fase da lavagem de dinheiro (colocação, introdução ou placement),
podem se diferenciar quanto às fases seguintes (ocultação ou layering e integração ou recycling), marcadas por técnicas,
mecanismos e instrumentos peculiares e distintos entre si.

• Exemplo: depósito de dinheiro do tráfico em conta de terceiro. Terceiro paga a aquisição de um imóvel. Imóvel é vendido e
trocado por dois veículos. São quatro crimes de lavagem (depósito + imóvel + veículo + veículo).

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INFRAÇÃO ANTECEDENTE
• Produtos e proveitos de infração penal (art. 1º, caput, da Lei 9.613/98).

• Infração penal: crimes e contravenções. Necessário que exista a vantagem financeira ao agente criminoso.

• A lavagem de capitais é delito autônomo em relação ao crime antecedente (relação de acessoriedade).

• Possui estrutura típica independente.

• Não constitui uma forma de participação post delictum.

• Bastam indícios suficientes da existência da infração penal antecedente para o oferecimento da denúncia (art. 2º, § 1º).

*Não há posição consolidada da jurisprudência sobre isso. Porém, prevalece na doutrina o entendimento que, para condenação,
é necessário prova convincente, ainda que indireta, acerca da ocorrência da infração penal antecedente. É o que dispõe a
Exposição de Motivos da Lei 9.613/98: “a suficiência dos indícios relativos ao crime antecedente está a autorizar tão somente a
denúncia, devendo ser outro o comportamento em relação a eventual juízo condenatório”.

• A lavagem será punível ainda que desconhecido ou isento de pena o autor ou, ainda, extinta a punibilidade da infração penal
antecedente (art. 2º, § 1º).

• Prescinde de condenação pelo crime antecedente para que se impute ao agente a prática do delito de lavagem.

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INFRAÇÃO ANTECEDENTE

• Não há necessidade de comprovação cabal da conduta anterior, sendo necessária apenas a existência de indícios suficientes
de que tenha efetivamente ocorrido.

• Basta produção probatória convincente relativamente ao crime antecedente.

• “A simples existência de indícios da prática de infração penal' já autoriza o processo para apurar a ocorrência do delito de
lavagem de dinheiro" (STJ, RHC 72.678/BA)

• “A denúncia não precisa trazer prova cabal acerca da materialidade do crime antecedente ao de lavagem de dinheiro. (...)
Bastando que a denúncia seja ‘instruída com indícios suficientes da existência do crime antecedente’, mesmo que o autor deste
seja ‘desconhecido ou isento de pena’.” (STF, HC 94958/SP)

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DOLO – CONSCIÊNCIA e VONTADE

• O dolo não está atrelado ao conhecimento pleno e detalhado da origem ou da natureza criminosa.

• Basta demonstrar que o autor do crime de lavagem dotava de informações e circunstâncias suficientes para compreender a
origem ilícita do produto/proveito.

• O agente não precisa ter conhecimento específico dos elementos e circunstâncias da infração antecedente.

• Age com dolo quem movimenta por etapas, em nome de terceiros, por vários caminhos.

• Registra em seu nome bem que não lhe pertence de fato.

• Não exerce de fato os atributos da propriedade (usufruto, disposição e reivindicação).

• Movimenta em sua conta dinheiro de pessoas sabidamente criminosas.

• Recebe ou efetua sucessivos e fracionados depósitos em dinheiro.

• Serve de passagem para triangular a movimentação de dinheiro.

• Se dedica como profissional à lavagem de dinheiro (doleiro).

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DOLO – CONSCIÊNCIA e VONTADE

• Recebe e dá passagem a vultosas quantias em espécie em circunstâncias e formas atípicas.

• “Cegueira deliberada” (willful blindness): teoria norte-americana que infere o dolo para quem:

(a) tem conhecimento da elevada probabilidade de que os valores ou bens envolvidos provinham de crime;

(b) age de modo indiferente a esse conhecimento;

(c) deliberadamente mantém em estado de ignorância quando possível revertê-lo.

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CONCEITOS
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• Técnica: ação ou modo particular dentro do processamento da lavagem, como a realização de um depósito em conta, uma
transferência ou uma transação comercial.

• Mecanismo: sistema ou estrutura na qual se desenvolve o crime de lavagem, como uma instituição financeira, um cassino ou
uma empresa de fachada.

• Instrumento: produto ou proveito objeto do crime de lavagem, como dinheiro, cheque ou bem imóvel.

• Método: procedimento de lavagem que envolve uma técnica, um mecanismo e um instrumento.

• Esquema: procedimento que combina vários métodos.

• Tipologia: representa uma série de esquemas congregados voltados à eficiência do procedimento de lavagem de dinheiro.

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TÉCNICAS, MECANISMOS E INSTRUMENTOS
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DINHEIRO
• Depósito de valores em conta de terceiros.

• Apreensão de comprovantes (ou imagens em aparelhos) de depósitos/saques em contas de terceiros sugere o uso de
interpostas pessoas para movimentar dinheiro ilícito.

• Apreensão de cartões de débito de terceiros na posse do investigado.

• Registros de depósitos/saques em espécie. Em vigor desde 01/07/2020, a Circular BCB nº 3.978/20 revogou as
Circulares nºs 3.461/09, 3.517/10, 3.583/12, 3.654/13, 3.839/17, 3.889/18 e artigos das Circulares nºs 3.680/13, 3.691/13,
3.727/14. 3.780/16 e 3.858/17. A Circular nº 3.978/20 prevê o registro de operações com utilização de recursos em
espécie de valor individual superior a R$ 2.000,00 (dois mil reais), devendo conter: tipo, valor, CPF/CNPJ do titular e
beneficiário e canal utilizado, além do nome e CPF do portador dos recursos. E para operações com valor individual ou
superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), além desses registros é necessário no caso de depósitos: I) nome e
CPF/CNPJ do proprietário dos recursos; II) nome e CPF do portador dos recursos; e III) origem dos recursos depositados
ou aportados. No caso de saques, inclusive realizados por meio de cheque ou ordem de pagamento: I) nome e CPF/CNPJ
do destinatário dos recursos; II) nome e CPF do portador dos recursos; III) finalidade do saque; e IV) número do protocolo
de provisionamento.

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As transações anteriores a 1/7/2020 seguem a normas determinadas pela Circular BCB nº 3.461/09 (valores superiores a
R$ 100.000,00), posteriormente, alterada pela Circular 3.839/17 (valores superiores a R$ 50.000,00).

• Smurfing ou pitufeo: pulverizar um volume de dinheiro de origem ilícita com depósitos fracionados, em conta própria
ou de terceiro, de modo a tirar sua visibilidade e impedir a detecção de operações em espécie, com o objetivo de evitar
a comunicação pela instituição financeira e burlar os mecanismos de controle pelo COAF. Caracteriza-se, na maioria das
vezes, por depósitos fracionados em valores abaixo de R$ 10.000,00 para evitar o registro e comunicação das operações
ao COAF (artigo 11 da Lei 9.613/98 e artigo 13, inciso I, da Carta Circular 3.461/09).

• As instituições financeiras têm o dever de identificar (art. 9º, § 1º, I) e de comunicar (art. 12, II) ao Conselho de Controle
de Atividades Financeiras – COAF as operações em espécie de valor igual ou superior a R$ 50 mil ou as transações que,
considerando as partes envolvidas, os valores, as formas de realização, os instrumentos utilizados ou a falta de
fundamento econômico ou legal, possam configurar a existência de indícios dos crimes previstos na Lei 9.613/98 –
Lavagem de Capitais (art. 13, I). A Circular BCB nº 3978/20 definiu também que as instituições devem comunicar ao
COAF, além das operações de depósito ou aporte e saque em espécie (igual ou superior a R$ 50.000, 00), as seguintes
situações: I) operações relativas a pagamentos, recebimentos e transferências de recursos, por meio de qualquer
instrumento, contra pagamento em espécie; e, II) solicitação de provisionamento de saques em espécie (mínimo três

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dias úteis de antecedência), para os valores iguais ou superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Cabe ao MP zelar
pelo cumprimento de tais normas e comunicar ao COAF e BACEN sobre eventual descumprimento.

• Dólar-cabo: técnica de lavagem em que um doleiro estrangeiro disponibiliza, em conta no exterior, o equivalente em
dólar do valor ilícito recebido por outro doleiro no país de origem. Esse tipo de operação não implica saída física do
dinheiro envolvido, nem transferência bancária para conta no país de destino. O doleiro estrangeiro faz um depósito
correspondente na conta indicada pelo interessado no exterior, compensando o valor depositado com o crédito anterior
do doleiro contratado no país de origem. Os doleiros assim o fazem em uma “via de mão dupla”, mediante compensação
de créditos e débitos entre si.

Onde e como pesquisar RIF/COAF: NIGC

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IMÓVEIS

• Imóveis adquiridos com recursos ilícitos registrados em nome de terceiros.

• O verdadeiro proprietário usa, explora, reivindica e dispõe do imóvel como bem lhe aprouver.

• Procuração entre o proprietário de fato e o laranja. As procurações públicas podem ser pesquisadas, a partir dos nomes
dos envolvidos, por intermédio do CENSEC – Central Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados.

• O estilo de vida do destinatário do imóvel (Facebook, Instagram, WhatsApp, Linkedin, fotografias, e-mails etc.) revela
os atributos típicos da propriedade e o desfrute como se dono fosse.

• Convites para visitas, autorização de terceiros para o uso, a solução de problemas estruturais, contratação de
funcionários, o pagamento de contas de água/luz/internet/tv, pertences pessoais, negociação direta de venda e preço são
atividades típicas de quem, de fato, é proprietário do imóvel.

• A apreensão de documentos que indicam o exercício da propriedade de fato: (a) contrato particular de compromisso
de compra e venda ou “contrato de gaveta”; (b) contratos particulares de aluguel ou arrendamento; (c) posse de carnês
de IPTU/ITR; (d) boletos de condomínio; (f) contas de água, luz, gás de imóveis; etc.

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• No extrato de movimentação bancária do beneficiário pode conter pagamentos regulares e mensais de “títulos”. Isso
pode ser pagamento de contas do imóvel, parcelas de IPTU ou taxas de condomínio. Por intermédio dos dados do título,
que podem ser obtidos junto aos bancos, é possível identificar o imóvel.

• Pode ocorrer do imóvel, em nome de terceiro, ter contas de água/luz/internet/tv em nome do proprietário de fato ou de
pessoa próxima. A partir do endereço do imóvel, as empresas podem oferecer os dados do cliente.

• O verdadeiro proprietário é o destinatário dos rendimentos do imóvel. O inquilino (diligenciar no local) e as imobiliárias
(oficiar) podem fornecer contratos de aluguel e os dados da conta bancária em que estão sendo feitos os pagamentos
do aluguel.

• Identificação do vendedor e/ou do corretor de imóveis: o verdadeiro proprietário escolhe o bem e negocia o valor
pessoalmente.

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• Imóvel registrado em nome do beneficiário: embora a técnica de lavagem não esteja na integração (localização,
disposição, propriedade), é possível que a origem e a natureza criminosa do recurso utilizado tenham sido mascaradas
para a aquisição do bem, como, por exemplo, uso de quantia em espécie, pagamento por contratos simulados, por
interpostas pessoas ou empresas etc. Nesses casos, é importante ouvir os vendedores do imóvel ao investigado e obter
os respectivos documentos que, por vezes, demonstram pagamentos em espécie, realizados por “laranjas”, utilização de
contas bancárias ainda não identificadas, dentre outras circunstâncias suspeitas.

Onde e como pesquisar

➔ Propriedade de imóveis: ARISP

Emitentes e beneficiários de procurações: CENSEC

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VEÍCULO

• Adquiridos em nome de terceiros ou simplesmente mantidos em nome do proprietário anterior (transferência por mera
tradição).

• O ATPV – Autorização para Transferência de Propriedade de Veículo assinado em branco no campo


“proprietário/vendedor” possui efeitos semelhantes a um título ao portador. É uma garantia ao verdadeiro proprietário.

• Autos de infração, apólice de seguro e até chave reserva, encontrados com o investigado, sugerem a real propriedade
sobre o veículo.

• O estilo de vida do destinatário do veículo (Facebook, Instagram, WhatsApp, fotografias, e-mails etc) revela os atributos
típicos da propriedade e o desfrute como se dono fosse.

• Em diligências veladas, o uso frequente e o encontro habitual do veículo na garagem do investigado também são
indicativos da propriedade.

• O formal proprietário, aquele que consta no certificado de registro, o laranja, não usa o veículo e não possui renda
compatível para adquiri-lo.

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• Identificação do proprietário anterior: o verdadeiro proprietário escolhe o bem e negocia o valor pessoalmente.

Onde e como pesquisar propriedade de veículos: INFOSEG/SINESP

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EMBARCAÇÕES

• Os mesmos indícios mencionados para veículos.

• Inscrições e registros das embarcações são feitas pela Capitania dos Portos de cada estado.

• Para pesquisa, fornecer o nome da embarcação e/ou a inscrição (visível na popa).

• O arresto/sequestro é feito pelo Tribunal Marítimo do Comando da Marinha.

• A ostentação da propriedade ocorre em redes sociais próprias, de amigos ou parentes.

• As embarcações de veraneio costumam ficar em marinas particulares, nas quais se mantém fichas de cadastro para
controle de pagamento e manutenção, normalmente feitas em nome do verdadeiro proprietário.

• Os funcionários das marinas conhecem o verdadeiro proprietário por receber orientações quanto à limpeza, retirada,
abastecimento etc.

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• Onde e como pesquisar propriedade de embarcações:

Enviar e-mail para o endereço: cpsp.secom@marinha.mil.br - (13) 3221-3454 e


agparati.secom@marinha.mil.br - (24) 3371-1583

➔ Se souber o nome da embarcação é possível pesquisar através do link.

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AERONAVES

• Propriedade de aeronaves

• Planos de voo

• Anotações/registros de gastos com manutenção (hangares, combustíveis, pilotos, oficinas etc.)

• Onde e como pesquisar propriedade de aeronaves: ANAC

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CARTÕES DE CRÉDITO E BOLETOS

• Pagamento da fatura/título por terceiros: o corruptor particular poder pagar as faturas do agente corrupto.

• Confrontar valores da fatura/título do corrupto com as transações bancárias do corruptor.

• Nas contas do corrupto não haverá pagamento do valor equivalente.

• Pagamento da fatura/título sempre com dinheiro: o banco pode identificar a forma de pagamento consultando a “ficha
de caixa” a partir dos dados constantes da “autenticação mecânica”.

• As instituições financeiras devem manter registro específico de recebimentos de boleto de pagamento pago com
recursos em espécie; bem como, a instituição boleto de pagamento que não seja de sua emissão deve remeter à
instituição emissora a informação de que o boleto foi pago em espécie (Circular 3.978/20 – Bacen).

• Obter informações da Polícia Federal sobre a entrada e saída do investigado do país para viagens e, em seguida, obter
informações sobre a forma de pagamento das passagens, aquisição de moedas estrangeiras, pagamento da fatura de
cartão de crédito, etc.

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Nota:

- A obtenção de faturas de cartões de crédito está contemplada na quebra de sigilo bancário pelo SIMBA. No entanto,
caso não haja necessidade da quebra de sigilo bancário, as faturas podem ser solicitadas separadamente ao Juízo
competente. Para essa solicitação deve acionar os emissores dos cartões de créditos (geralmente os bancos).

- Outra forma de se obter informações de cartões de crédito é através da quebra de sigilo fiscal (DECRED – Declaração
de operações com cartão de crédito). Neste caso consta tão somente o volume mensal pago, mas é interessante para se
saber em quais instituições o averiguado possui cartões de crédito para melhor direcionar a solicitação das faturas.

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CHEQUES

• Cheques ainda são utilizados como técnica de introdução ou colocação (placement) de valores ilícitos no mercado.

• Cheques não nominais, com cláusula “à ordem” em branco. O depósito ou levantamento do título pode ser feito por
qualquer pessoa que o apresentar ao banco. Com isso, evita que o verdadeiro beneficiário – o que recebera a cártula a
título de propina – fosse anotado no título. Com o depósito de cheque “ao portador” na conta de terceiros, dá-se a
aparência de que foi transacionado pelo titular emitente. A Resolução n° 2090/94 do Conselho Monetário Nacional proibiu
às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, o recebimento de
cheques ao portador de valor superior a R$ 100,00 (cem reais).

• Cheques nominais a terceiros. Podem ser endossados sem identificar o endossatário, com uma simples assinatura no
verso, o que se denomina por “endosso em branco”. Na posse do cheque endossado “em branco”, o beneficiário pode
apresentá-lo ao banco para convertê-lo em espécie ou depositá-lo em conta. Nesse caso, após a quebra do sigilo bancário,
pedir a microfilmagem do cheque para analisar eventual endosso. A microfilmagem é importante, pois por vezes no
extrato detalhado constará o beneficiário sendo o próprio emitente do cheque, além disso, o verso do cheque poderá
conter outras informações anotadas pelo caixa do banco que podem auxiliar na investigação, por exemplo, telefone,
documento, etc. A depender dos valores transacionados em cheque solicitar microfilmagens com valor de corte afim de
celeridade na obtenção dos referidos documentos.

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• Cheques avulsos. São úteis para a lavagem de dinheiro, dada a praticidade e a precariedade de sua emissão. São
formulários bancários que são preenchidos à mão, na própria agência, sem identificação nominal do emitente, que acaba
tendo, para todos os efeitos, natureza de um cheque, para facilitar a conversão em espécie. Também denominados
“recibos de retirada”.

• Cheque administrativo. Emissão de cheque administrativo no período próximo ao fim do ano e depósito na próxima
conta no ano subsequente para que, na declaração do imposto de renda, os valores de origem ilícita não sejam detectados
pela Receita Federal. Ressalvamos, contudo, que atualmente é pouco usado para essa finalidade em razão da Receita
Federal acompanhar a movimentação das contas bancárias pela e-financeira – antiga DIMOF. Importante solicitar ao
banco os dados do correntista que adquiriu o cheque administrativo, pois a sua emissão é feita pelo banco (assinada por
funcionários habilitados) e constará tão somente o nome do beneficiário. Antigamente era usado para aquisições que
exigiam dinheiro em espécie e o comprador não queria transitar com grandes valores e ainda não existia as TEDs.

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EMPRESA DE FACHADA

• Verificar participações societárias: INFOSEG/SINESP e JUCESP.

• Verificar in loco a estrutura física da empresa.

• Levantar o perfil econômico e patrimonial dos sócios.

• RAIS / CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregado. Informa a quantidade de vagas e funcionários
efetivamente contratados. Ajuda a detectar se algum funcionário, sem condições financeiras ou salários anteriores que
justificassem, passou a ser titular de sociedade com capital incompatível (indicativo de se tratar de um laranja).

• Receita Federal - Atividade fiscal da empresa. Empresas de fachada não produzem, logo não emitem notas fiscais
regularmente e não recolhem tributos. A Receita também informa se houve ou não a efetiva integralização do capital
social.

• CADESP/SEFAZ

Atividade fiscal da empresa, com informações sobre as empresas paulistas contribuintes de ICMS. Empresas de fachada
não produzem, logo não emitem notas fiscais regularmente e não recolhem tributos.

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• Data da constituição da empresa. Deve-se suspeitar de uma empresa recém-criada ter assinado vultosos contratos
públicos ou com fornecedores da administração pública - INFOSEG/SINESP e JUCESP.

• Confrontar o objeto social (p.ex. obras e engenharia) com a estrutura e a qualificação técnica dos sócios e funcionários
- JUCESP.

• Movimentação bancária. Empresa de fachada não faz transações bancárias variadas, com diversidade de
fornecedores e clientes, recolhimento de tributos, folha de pagamentos etc.

• Quebra de sigilos fiscais para obtenção de informações das Receitas Municipais e Estaduais, notadamente
a obtenção de notas fiscais de pessoas jurídicas sobre operações simuladas de prestação de serviços
(ISS) ou circulação de mercadorias (ICMS). Com base em operações financeiras simuladas, é possível
constatar o pagamento de vantagens indevidas ou outras movimentações de valores de origem criminosa
com base nas notas fiscais, inclusive recolhimento de impostos, o que dá aparência de ilicitude aos
pagamentos. Empresas com capital aberto, por serem alvo de fiscalizações da CVM, também dependem
dessas notas fiscais para realizarem pagamentos, inclusive ilícitos. Além disso, há casos de empresas que
compram essas notas fiscais frias para abatimento tributário e realizam os depósitos na conta bancária de
corruptos, que lhes entregam as notas e dinheiro em espécie, que, por vezes, é destinado ao “caixa dois”.
Modelo de ofício (clique aqui); Modelos no site do CAOCrim (clique aqui);

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• Onde e como pesquisar empresas de fachada:

➔Participação societária: INFOSEG/SINESP e JUCESP

➔ Vínculos empregatícios: RAIS/CAGED

➔Capital e atividades societárias: JUCESP, Receita Federal e CADESP/SEFAZ

➔Atividade econômica da empresa: CADESP/SEFAZ e Receita Federal

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CAÇA NÍQUEIS E JOGOS DE AZAR


• É comum que o pagamento das apostas seja feito por intermédio de “maquininhas” de cartão de débito/crédito. É ágil,
é prático e evita manejo de vultosas quantias em espécie.

• As máquinas de cartão são vinculadas e credenciadas pelas operadoras ao contratante, pessoa física ou jurídica, e a
uma conta bancária, para onde serão destinados os pagamentos. Algumas operadoras disponibilizam ao contratante um
cartão pré-pago, onde são creditados os pagamentos. Importante, para tanto, a apreensão das máquinas e consequente
quebra de sigilo bancário

• As operadoras mantêm o registro dos dados do contratante e da respectiva conta bancária.

• As casas de jogos utilizam máquinas de cartão credenciadas em nome e na conta bancária de terceiros.

• É possível que a máquina de cartão esteja credenciada em nome de uma empresa de fachada ou existente de fato (em
atividade). Neste último caso, há mescla de dinheiro ilícito e lícito numa única conta bancária.

• Objetivo principal: apreensão física da máquina de cartão, seja na própria casa de jogos ou na posse do
gerente/caixa/administrador.

• A maioria das máquinas possui a identificação da operadora do cartão e o número de registro (como regra, gravado no
verso do aparelho), este vinculado ao contratante e a uma conta bancária ou cartão pré-pago.

• Também é possível identificar o beneficiário a partir do comprovante impresso, se for apreendido.

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OBRAS E REFORMAS

• Construir ou reformar prédios e casas com recursos ilícitos.

• Mecanismo eficaz e discreto de lavagem de dinheiro.

• Identificar engenheiro e arquiteto da obra. O verdadeiro proprietário faz questão de definir pessoalmente o tipo de casa,
a forma, o acabamento e a decoração. O laranja sequer toma conhecimento desses detalhes.

• Os profissionais e os fornecedores da obra também mantêm contato com o proprietário de fato.

• Os envolvidos na empreita podem explicar a forma (dinheiro, cheque, transferência etc) e o responsável pelo pagamento.

• É possível identificar lavagem de dinheiro em reformas de casas adquiridas licitamente. Neste caso, há incorporação
(mescla) de recursos ilícitos em um ativo originalmente lícito.

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FERRAMENTAS DE PESQUISA/
QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO E FISCAL
COAF - CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS
• O COAF recebe, examina e identifica ocorrências suspeitas de atividade ilícita e comunica às autoridades competentes
para instauração de procedimentos.

• Bancos, corretoras, joalherias, concessionárias de automóveis e lojas de bens luxos são obrigados a comunicar ao
COAF as operações feitas em espécie ou que sejam suspeitas.

• As instituições financeiras são as principais fornecedoras de informação, pois estão obrigadas a reportar todas as
operações em espécie, como saques e depósitos, acima de R$ 50 mil. Esse valor era de R$ 100 mil até o fim de 2017.

• Circular Bacen nº 3.978/20: regula as comunicações obrigatórias das instituições financeiras (depósitos/saques em
espécie, pagamentos, recebimentos e transferências contra pagamento em espécie e provisionamentos de saques em
espécie).

• Verificar decisão do Min. Dias Toffoli do STF no Recurso Extraordinário 1.055.941

• Onde e como pesquisar RIF/COAF: NIGC


MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

CENSEC – CENTRAL NOTARIAL DE SERVIÇOS ELETRÔNICOS COMPARTILHADOS

• A CENSEC é um banco de dados dos registros notariais de todos os cartórios do Brasil (procurações, escrituras públicas,
divórcios etc).

• Onde e como pesquisar propriedade de imóveis: CENSEC / ARISP

ARISP – ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES IMOBILIÁRIOS DE SÃO PAULO

• A ARISP, por intermédio do SEREI – Serviço de Registro Eletrônico de Imóveis, disponibiliza todos os documentos e
registros imobiliários do Estado de São Paulo.

• Onde e como pesquisar propriedade de imóveis: ARISP

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

SINTER – SISTEMA NACIONAL DE GESTÃO DE INFORMAÇÕES TERRITORIAIS

SINTER – Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais

• Instituído pelo Decreto 8.764/2016, o SINTER recepcionará em um ambiente nacional único as informações relacionadas
à titularidade dos imóveis enviadas pelos cartórios brasileiros, tais como as operações de alienações, doações e garantias
que são objeto de registro público.

• Por ora, esse banco de dados está em construção.

RAIS/CAGED – RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS E CADASTRO DE


EMPREGADOS

• O banco de dados do RAIS/CAGED, controlado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, disponibiliza relações trabalhistas
atuais e o histórico de vínculos entre empregados e empregadores (física e jurídica).

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

CCS/Banco Central – Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro

• Por intermédio do CCS (cf. Circular 3.347/2007 – BACEN) é possível identificar as instituições financeiras com as quais
o investigado (pessoa física ou jurídica) mantém relacionamento (contas bancárias, poupança, contas em corretoras de
investimento etc).

• A partir Convênio de Cooperação BCB/CNMP 01/2013, foi disponibilizada consulta aos membros do Ministério Público
aos dados do CCS/BACEN sem necessidade de autorização judicial.

• O cadastro contém a natureza, a agência e o número da conta; nome dos titulares e dos respectivos representantes;
data da abertura e, se for o caso, do encerramento;

• O cadastro não contém dados de valor, de movimentação financeira ou de saldos de contas/aplicações.

• • Onde e como pesquisar titularidade de contas bancárias/CCS: Sei/LAB-LD/CAEX

Pesquisa CCS-BC

Formulário Pesquisa CCS-BC

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Nota: O Banco Central também possui o REGISTRATO – relatório de dívidas, operações de câmbio e outros. Fornece
consultas a chaves PIX; empréstimos e financiamentos (limites de crédito, cartão de crédito à vista ou parcelado e cheque
especial, empréstimos e financiamentos em geral); CCS (contas e relacionamentos em bancos); e, câmbio e
transferências internacionais. Destina-se a consulta pelo próprio titular dos dados, a quem cabe avaliar eventual solicitação
por terceiros (p.e. bancos) e, se for o caso, consentir com o repasse desses dados. Como é protegido por sigilo bancário,
sua requisição em investigações deve ter o deferimento judicial.

Requisição Direta de Dados Cadastrais – Lei 9.613/98

• O art. 17-B da Lei 9.613/98 conferiu ao Ministério Público requisição direta, sem intermediação judicial, de
dados cadastrais do investigado mantidos em bases da:

• Instituições financeiras;

• Administradoras de cartões de crédito;

• Companhias telefônicas; e

• Provedores de internet.

• Modelo de ofício: (clique aqui)

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

SIMBA – Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias

• É um conjunto de processos, módulos e normas para tráfego de dados bancários entre instituições
financeiras e órgãos governamentais com arquivos criptografados por código “hash”, após deferimento da
quebra de sigilo bancário pelo Juízo Competente. A ferramenta foi desenvolvida pela SPPEA/PGR –
Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise da Procuradoria-Geral da República e disponibilizada ao Ministério
Público de São Paulo em 2011, através de Convênio de Cooperação Técnica. A utilização do SIMBA é
amparada pelo Conselho Nacional de Justiça: Instrução Normativa nº 003/2010 e, posteriormente, pela
Decisão de abril/2015.

Esta solução atende de forma automatizada todo o processo de afastamento do sigilo bancário, que vai do
requerimento judicial feito pelos membros do MPSP, passando pela determinação judicial e o atendimento
pelas instituições financeiras, observando a padronização de arquivos, de validação e de transmissão, à
disponibilização dos registros bancários dos investigados às autoridades solicitantes, na forma de relatórios
parametrizados, pelo LAB-LD/CAEX.

O cadastramento da Cooperação Técnica junto ao LAB-LD/CAEX precede o requerimento judicial, pois a


petição já deve constar o número de caso SIMBA (individualizada para cada procedimento investigatório).

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

A solicitação de cadastramento da quebra de sigilo bancário para obtenção do número Caso SIMBA deve ser
efetuada em formulário específico no Sei, conforme link abaixo e assinada pelo Promotor de Justiça
solicitante: Formulário SIMBA

A quebra de sigilo bancário pode ser requisitada de todas as contas bancárias mantidas no Sistema Financeiro
Nacional (SFN), neste caso preencher os dados de CPF/CNPJ dos averiguados; ou, de contas específicas,
neste caso preencher com nome, CPF/CNPJ, banco, agência, conta e tipo de conta.

O LABLD, após o cadastramento no sistema SIMBA, encaminhará pelo SEi a minuta-padrão, devidamente
preenchida com o número do Caso SIMBA. Os procedimentos padrão SIMBA são:

• Quebra de sigilo bancário de TODAS AS CONTAS BANCÁRIAS mantidas no SFN, no período da quebra:
requer a expedição pelo Juízo Competente de ofício endereçado ao Banco Central, para que este efetue a
pesquisa no CCS – Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro, transmita ao SIMBA/MPSP e circularize a
decisão judicial às instituições financeiras pertinentes. O próprio LAB-LD protocoliza o ofício judicial, por meio
do Protocolo Digital do BACEN, após o envio a remessa pelo Judiciário ou pelo Promotor de Justiça. A
transmissão do CCS pelo Banco Central ao SIMBA é imprescindível para a conciliação e monitoramento
automático do prazo e das contas a serem enviadas pelos bancos. Pode ocorrer de o Juiz indeferir a
expedição de ofício ao Banco Central e efetuar a tramitação da quebra de sigilo bancário pelo SISBAJUD.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

O que é o SISBAJUD → Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário (sistema que substituiu o
BACENJUD), em vigor desde 04/09/2020. Segundo informação constante no site CNJ, o SISBAJUD foi criado
a partir de “Acordo de Cooperação Técnica entre o Conselho Nacional de Justiça, Banco Central e
Procuradoria da Fazenda Nacional, visando desenvolvimento de novo sistema para substituir o BacenJud e
aprimorar a forma do Poder Judiciário transmitir suas ordens às instituições financeiras. Além do envio
eletrônico de ordens de bloqueio e requisições de informações básicas de cadastro e saldo, já permitidos
pelo Bacenjud, o novo sistema permitirá requisitar informações detalhadas sobre extratos em conta corrente
no formato esperado pelo sistema SIMBA do Ministério Público Federal, e os juízes poderão emitir ordens
solicitando das instituições financeiras informações dos devedores tais como: cópia dos contratos de abertura
de conta corrente e de conta de investimento, fatura do cartão de crédito, contratos de câmbio, cópias de
cheques, além de extratos do PIS e do FGTS. Podem ser bloqueados tanto valores em conta corrente, como
ativos mobiliários como títulos de renda fixa e ações”.

Uma das suas funcionalidades é o módulo de afastamento de sigilo bancário, que pode ser efetuado por duas
formas: extrato mercantil (simples – sem origem/destino) e SIMBA (layout 3454/2010). No entanto,
infelizmente, o SISBAJUD não possibilita a requisição e a consequente transmissão do CCS pelo Banco
Central, o que impossibilita o monitoramento e conciliação automática efetuada hoje pelo SIMBA. A PGR,
detentora da tecnologia SIMBA e ciente dessa problemática está trabalhando junto ao BACEN para solução

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

alternativa. Enquanto isso, continuamos com o pedido da expedição de ofício ao BACEN, que se determinado
pelo Juízo deve cumprir a decisão e continuará transmitindo o CCS ao SIMBA/MPSP.

Além desse problema, por vezes a requisição aos bancos é feita somente quanto ao extrato mercantil
(simples), talvez por erro no momento do preenchimento de aba SISBAJUD. Essa modalidade de extrato visa
atender o próprio Judiciário, mormente a Justiça Trabalhista, e que não atende a maioria das investigações
do MPSP. E isso tem ocasionado o envio desses extratos diretamente aos Judiciário (formato STA que não
se comunica com SIMBA). Assim, caberá ao Promotor de Justiça o convencimento e, consequente,
acompanhamento da forma como o Juiz deferiu a quebra de sigilo bancário, de preferência com a emissão
de ofício ao Banco Central da forma que vem sido feita, até que PGR e BACEN disponibilizem solução
alternativa.

• Quebra de sigilo bancário de CONTAS ESPECÍFICAS: requer a expedição de ofício endereçado aos bancos
pertinentes e remeter ao LAB-LD/CAEX para o encaminhamento (recomendável apenas quando envolver
poucos bancos e poucas contas bancárias). O envio desse deferimento judicial também pode ser efetuado
pelo próprio Judiciário através do SISBAJUD, uma vez que não dependerá de transmissão do CCS pelo Banco
Central.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• Quebra de sigilo bancário AUTORIZADO PELO INVESTIGADO: neste caso deve-se colher autorização do
investigado com mesma assinatura constante nos documentos de abertura de contas dos bancos pertinentes.
Interessante constar a autorização geral de todas as contas mantidas no SFN e em determinado período de
quebra. Neste caso, deve-se solicitar a pesquisa CCS, para de antemão saber quais contas possui e depois
obter a autorização do investigado. Após o Promotor de Justiça solicitará o cadastramento do Caso SIMBA,
expedirá o ofício individualizado a cada banco, anexando a referida autorização. O envio poderá ser efetuado
pelo LAB-LD/CAEX.

Após todo o gerenciamento da quebra de sigilo bancário pelo LAB-LD/CAEX (cadastramento,


acompanhamento, recepção de cargas, conferências e emissão dos relatórios), é efetuado o fechamento
Caso SIMBA, com envio do Relatório de Informação SIMBA e respectivos relatórios extraídos do sistema,
cinco relatórios em “pdf” e o extrato detalhado em excel (Rel_T4_ExtratoDetalhado.xls), este sem necessidade
de inserir nos autos pois serve para facilitar a análise pelo MPSP.

Relatórios SIMBA

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

RECEITA FEDERAL/SECRETARIAS ESTADUAIS DA FAZENDA

• Quebra de sigilo Fiscal endereçada à Receita Federal do Brasil (RFB)

A análise das informações fiscais é feita para se verificar eventual incompatibilidade patrimonial de
determinado averiguado, no caso de pessoas físicas; e, receitas, despesas, quantidade de funcionários,
regime de tributação, lucro ou prejuízo, distribuição de lucros aos sócios, no caso de pessoas jurídicas. Para
tanto, a quebra de sigilo fiscal deverá contemplar além das declarações de ajuste anual da pessoa física
(DIRPF), o dossiê integrado (base de dados migrando para o SPED) e algumas declarações acessórias
contidas no SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), p.e., e-financeira e declarações de pessoa
jurídica. A título de sugestão segue link para modelo-minuta de quebra de sigilo fiscal: Modelos SIMBA

Notas:

1. INFOJUD – Disponível no TJ desde 2007 o sistema de Informações ao Judiciário (INFOJUD), que tem
por objetivo permitir aos juízes (e servidores por eles autorizados) o acesso, on-line, para solicitação de
dados cadastrais (CPF e CNPJ), de declarações de pessoas físicas (DIRPF e DITR), de pessoas jurídicas
(DIPJ, PJ Simplificada e DITR) e de Operações Imobiliárias. Trata-se de forma simplificada e rápida de
obter informações fiscais, contudo, não contempla todas as declarações fiscais contidas no dossiê

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

integrado. Ou seja, a depender do que se busca pode ser uma alternativa mais célere, mas não para se
levantar eventual patrimônio a descoberto, este deve considerar o máximo de declarações possíveis.

2. Notas Fiscais Eletrônicas – A Receita Federal possui as notas fiscais de todos os estados, assim, o
pedido das NFes de venda não canceladas contra as pessoas físicas e NFes emitidas contra pessoas
jurídicas podem ser direcionadas para a RFB.

Ressalta-se que as informações podem ser volumosas, portanto, sugere-se estipular um valor de corte
(p.e, acima de R$ 10mil), além disso por não possuirmos software específico de análise para esse tipo
de informação, solicitar os dados no formato “.xls” (excel), incluindo os seguintes campos: descrição
CFOP (serão todos de venda, mas é sempre bom ver o tipo de venda); CNPJ/CPF do emissor da Nfe;
nome emissor da nfe; endereço completo do emissor da nfe (com CEP, Cidade e UF) ; data de emissão
da nfe; chave da nfe; número da nfe; série; número do item; observações; endereço completo do
comprador (contra quem a nfe foi emitida); descrição da mercadoria/Serviço; descrição complementar
da mercadoria/serviço; descrição NCM; CPF/CNPJ do transportador; nome do transportador; placa do
veículo (esses itens de transporte não é de preenchimento obrigatório, assim pode ser que não tenha

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

em todas as nfes); tipo de frete (emitente: quem paga é o emitente; destinatário: frete por conta do
destinatário); valor da nota proporcional (valor global da nota, inclui tudo: o valor das mercadorias +
impostos + despesas acessórias); Vista/Prazo; Cobrança (Y01): número da fatura; número da parcela;
valor da parcela e data do vencimento.

• FORMULÁRIO DE MOVIMENTAÇÃO EM DINHEIRO

A Receita Federal do Brasil editou a Instrução Normativa RFB nº 1761, de 20 de novembro de 2017 que
dispõe sobre a obrigatoriedade de prestação de informações à Secretaria da Receita Federal do Brasil
(RFB) relativas a operações liquidadas em espécie.

A Declaração de Operações Liquidadas com Moeda em Espécie (DME) é uma obrigação que trata de
informações relativas a uma operação liquidada, total ou parcialmente, em espécie, decorrente de alienação
ou cessão onerosa ou gratuita de bens e direitos, de prestação de serviços, de aluguel ou de outras
operações que envolvam transferência de moeda em espécie, prestada à Secretaria da Receita Federal do
Brasil (RFB) por meio de formulário eletrônico.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Importante ressaltar que a obrigação relativa a DME não se aplica a operações realizadas em
instituições financeiras, tampouco em outras instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central
do Brasil.

As demais operações realizadas - sejam com pessoas físicas ou jurídicas - que envolvam liquidação com
moeda em espécie devem ser informadas por meio da DME.

São obrigadas à entrega da DME as pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no Brasil que, no
mês de referência, tenham recebido valores em espécie cuja soma seja igual ou superior a R$ 30.000,00
(trinta mil reais), ou o equivalente em outra moeda, decorrentes das operações descritas no item 1,
realizadas com uma mesma pessoa física ou jurídica.

O pedido dessa declaração está contemplada na modelo-minuta de quebra de sigilo fiscal disponibilizada
pelo LAB-LD/CAEX.

Maiores informações dessa declaração podem ser obtidas no site da RFB: Receita Federal - MBE

• MICROFILMAGENS

• As microfilmagens, geralmente, de cheques compensados/emitidos servem para se verificar o verdadeiro


beneficiário dos recursos e/ou se determinado cheque foi utilizado para diversas transações. Isto porque os

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

cheques podem ser endossados (emitente e beneficiário mesma pessoa) e utilizados para diversas outras
transações. Se a quebra de sigilo bancário foi efetuada pelo SIMBA esta requisição pode ser efetuada apenas
com um ofício assinado pelo Promotor de Justiça, não necessitando de novo deferimento judicial.

• FITAS DE CAIXA

• As fitas de caixa, também chamadas de “Fita detalhe de Caixa” ou “Log de Caixa”, servem para elucidar
aquelas transações individualizadas, mas que se desmembram em várias transações, p.e, um saque ou um
cheque utilizado para saque em dinheiro, pagamento de contas, depósitos em outras contas, etc. Para tanto,
deve-se requisitar ao banco a cópia da fita de caixa referente a determinada transação bancária, para não
incorrer em quebra de terceiros. Se a quebra de sigilo bancário foi efetuada pelo SIMBA esta requisição pode
ser efetuada apenas com um ofício assinado pelo Promotor de Justiça, não necessitando de novo deferimento
judicial.

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MEDIDAS PROCESSUAIS
CAUTELARES

Institutos processuais penais eficazes para retirar da


esfera de disponibilidade dos agentes os bens obtidos
direta ou indiretamente com a ação criminosa, bem como
para o bloqueio de bens de valor equivalente, com o
objetivo de viabilizar o confisco e a reparação do ofendido
quando da condenação.
BLOQUEIOS

• Sequestro (artigos 125 e seguintes do CPP)

Ficam sujeitos a esse sequestro especial os bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuízo para
a fazenda pública, ou por crime definido no Livro II, Títulos V, VI e VII da Consolidação das Leis Penais desde
que dele resulte locupletamento ilícito para o indiciado.

(art. 1º). Recai sobre todos os bens móveis ou imóveis do acusado e/ou bens doados após o crime, assim
como bens em poder de terceiros que os tenham adquirido dolosamente.

Orientações do CAOCRIM:

Medidas assecuratórias

• Sequestro (artigo 4º da Lei 9.613/98)

• Arresto (artigos 1º e 4º do Decreto-lei 3.240/41)

Arresto prévio ou preventivo de bens imóveis para hipoteca legal (CPP, art. 136) e arresto de bens móveis
(CPP, art. 137).

• Julgados: STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1530872/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 4.8.2015.
STJ, 5ª Turma, REsp 1133763/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 23.8.2011.
MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

DESTINOS

• SISBAJUD (antigo BacenJud): créditos e aplicações bancárias, por intermédio de instituições bancárias,
cooperativas de crédito e corretoras de investimentos, ações de capital aberto, valores mobiliários e títulos
públicos/privados.

Nota: A depender da investigação (p.e. deflação de operação e bloqueio simultâneo), para maior efetividade
no bloqueio de valores, sugere-se a requisição de ordem judicial diretamente aos bancos pertinentes com a
entrega diretamente ao gerente da instituição no dia da operação. Isto porque a efetivação do bloqueio pelo
SISBAJUD não é imediata.

• Central de Indisponibilidade de Bens do CNJ: bens imóveis

• Renajud: veículos

• Caixa Econômica Federal: penhores e depósitos de jóias

• BMF&Bovespa [B³]: ações de capital aberto, valores mobiliários e títulos públicos/privados.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

ALIENAÇÃO ANTECIPADA

Previsão legal: § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/1998 (redação da Lei nº 12.683/2012), § 4º do art. 62 da Lei nº
11.343/2006 – Lei de Drogas; art. 12 da Lei de Terrorismo (Lei nº 13.260/2016); e atual art. 144-A do Código
de Processo Penal (redação da Lei nº 12.694/2012), que se aplica a toda sorte de crimes que tenham bens
apreendidos.

• Modelo de Representação

• Resolução Nº 356 de 27/11/2020 do CNJ

• A alienação antecipada dos bens arrestados é perfeitamente plausível, haja vista que se encontra amparada
pela legislação vigente, conforme artigo 144-A do Código de Processo Penal e artigo 4º, § 1º, da Lei 9.613/98,
que dá conta de uma possível – e quase certa – dificuldade para a manutenção dos bens aprendidos, a
prejudicar futura e eventual liquidez, seja para ressarcir o Poder Público, em caso de condenação, ou restituir
os acusados proprietários, se absolvidos forem.

• O prejuízo causado somente poderá ser revertido com a manutenção da restrição da disponibilidade
patrimonial e com imediata alienação dos bens apreendidos, pois, sem tais providências, não haverá meios
de controle da administração e manutenção do patrimônio por parte dos averiguados, nem medidas práticas
e eficazes para evitar o perecimento e o desgaste dessas garantias.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• Não por falta de interesse, mas pela absoluta dificuldade de manutenção por ausência total de estrutura e
efetivo especializado, o Estado não tem condições de colocar em prática um plano para gerir esses bens
enquanto os processos não se findam.

• Não há garantias de que os imóveis bloqueados permaneçam física e administrativamente incólumes até o
trânsito em julgado. São dezenas de ativos imobiliários e dos mais variados segmentos (residencial, comercial,
rural etc.), localizados em diversas cidades. Sequer há informações acerca do estado em que se encontram,
de como e por quem estão sendo usados. A ausência de vigilância e administração os torna expostos a
qualquer tipo de adversidade e malversação. Também não se tem controle dos encargos tributários e das
taxas de condomínio, cuja inadimplência pode levar à perda total do bem.

• Apenas pela quantidade de bens, a particularidade de cada um (residencial, comercial, rural etc.) e a
localização dispersa, é possível deduzir a tamanha dificuldade do juízo de primeiro grau de manter rigoroso
acompanhamento do estado da coisa. A manutenção correta desses imóveis demanda conhecimento e um
plano de gestão específico para cada ativo, atributos totalmente distantes do juízo da causa, que se ocupa
atualmente a lidar, ao mesmo tempo, com o volumoso expediente do dia-a-dia e com as intrincadas
discussões processuais das operações do GAECO.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• As restrições patrimoniais dificultam a manutenção voluntária e suficiente dos imóveis pelos proprietários
implicados. Alguns até mesmo perdem o interesse em conservá-los, seja pela falta de esperança em reavê-
los incólumes ou por se julgarem irremediavelmente perdidos.

• O não pagamento dos encargos tributários e das taxas de condomínio. É pacífico e praticamente unânime o
entendimento que a inadimplência desses dois tipos de encargos é cumulativa e podem levar à constrição
total do bem – o que seria um desastre para as principais garantias do processo.

• A alienação antecipada não acarretará prejuízo às partes, uma vez que, frutífero o leilão, e com a
transferência do valor apurado em um fundo específico, o juízo estará seguro pela prestação de caução, que
vigorará até decisão final dos autos principais, levando-se em conta, ainda, que, em caso de improcedência
da ação penal, a quantia auferida será restituída aos respectivos proprietários.

• A alienação antecipada, apesar do aparente prejuízo aos acusados, se demonstra mais vantajosa a todas as
partes, porquanto impedirá a deterioração e a má administração dos bens, aproveitando que ainda são
negociáveis e conversíveis em dinheiro (liquidez), cujo valor ficará depositado sub judice, protegido contra a
ação do tempo e do homem, até o desfecho do processo.

• Note-se que a previsão legal contida no artigo 144-A do CPP e no artigo 4º, § 1º, da Lei 9.613/98 não
caracteriza norma incriminadora, muito menos tem por escopo a perda definitiva do patrimônio dos
implicados. Pelo contrário, a finalidade da norma é exatamente a preservação do patrimônio, seja para

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

eventual decreto de perda em favor do ente público lesado, seja para a sua devolução aos réus. Tanto em um
caso, quanto em outro, o valor do bem sujeito à deterioração será preservado, com a manutenção de depósito
em conta à disposição do Poder Judiciário.

• Por tratar-se de medida cautelar aplicada no curso da ação penal, a alienação cautelar não implica a
antecipação dos efeitos da condenação, já que seu objetivo não é satisfazer ou exercer o jus puniendi do
Estado, mas, precipuamente, manter a integridade dos bens apreendidos e a liquidez de mercado, livrando-
os das consequências implacáveis do decurso do tempo.

• Antevendo eventual objeção a respeito, o próprio § 3º do artigo 144-A do CPP resguarda a expectativa
patrimonial do implicado.

• Julgados: STJ, 6ª Turma, AgRg no Recurso no MS 48.684 – SC, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
j. 13.10.15. TRF 4ª Região, 8ª Turma, ACR 5005900-46.2018.4.04.7000, Rel Desembargador Federal João
Pedro Gebran Neto, j. 26.04.18. TRF 4ª Região, 7ª Turma, ACR 50261849620144047200 SC, Rel.
Desembargador Federal Márcio Antônio Rocha, j. 28.04.15. TRF 3ª Região, 1ª Seção, MS 0001306-
96.2011.4.03.0000, Rel. Juiz Convocado Adenir Silva, j. 16.06.11.

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CASOS E MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO
MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 1

• Luciano é traficante de drogas especializado no transporte de entorpecentes por avião monomotor. No curso da
investigação apurou-se que a aeronave por ele utilizada estava em nome de terceiro, Rodnei. A aeronave foi
apreendida em um hangar de Americana.

Linha de Investigação

Oitiva do antigo proprietário da aeronave que confirmou que a aeronave havia sido vendida para uma pessoa que se
apresentou como Luciano, o qual havia dado como pagamento do negócio uma BMW X6 e o restante em dinheiro.

• Pesquisa no RAIS/CAGED revelou que Rodnei, cuja última função havia sido serralheiro, não tinha capacidade econômica
para aquisição do bem.

• COAF relatou movimentação suspeita nas contas bancárias de Luciano incompatíveis com a renda informada.

Providenciar o sequestro da aeronave. Modelo: (clique aqui)

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 2

• Marco juntamente com seu irmão Carlos lideravam organização criminosa voltada à exploração de jogos de azar.
Durante cumprimento de ordem de busca e apreensão foi identificado em um imóvel pertencente à organização
criminosa um veículo Chevrolet S10, zero Km, em nome da empresa MAT. A empresa MAT tinha como sócios Marco e
a mãe dele, uma senhora que residia a maior parte do ano no Quatar alheia aos negócios da empresa.

Linha de Investigação

• Levantamento de dados relativos à empresa: apurou-se que a empresa não desenvolvia atividade econômica.

• A quebra do sigilo fiscal com o dossiê integrado demonstrou que embora a empresa não desenvolvesse atividade
econômica houve trânsito de quantias consideráveis de dinheiro na conta bancária da empresa.

• Oitiva da mãe de Marco

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 3

• Saulo foi preso e processado por receber propina de um escritório de advocacia, dentro de um esquema de desviou
R$ 45 milhões da Prefeitura de Ribeirão Preto. A propina foi paga com cheques do escritório. Esses cheques foram
depositados na conta de terceiros, que devolviam em dinheiro ou repassavam para contas de parentes de Saulo.

Linha de Investigação

• Consultar tabela Excel do SIMBA da conta do escritório. Filtrar cheques emitidos acima de R$ 10 mil.

• Relacionar os cheques acima de R$ 10 mil e solicitar ao banco a microfilmagem para saber os dados do
endossante/endossatário e a conta em que se apresentou para pagamento.

• Investigar e ouvir as contas destinatárias dos cheques.

• Verificar se houve uma segunda movimentação a partir dessas contas.

• Essas contas serviram de intermediárias para converter os cheques em dinheiro ou transferir o equivalente para contas
da mãe e da filha de Saulo.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 4

• Marcus Paulo, superintendente do departamento de águas de Ribeirão Preto (Daerp), foi preso e processado por
receber propina para direcionar um contrato público a uma empresa denominada GEO No cumprimento dos mandados
de busca, foram apreendidos documentos e aparelhos celulares, incluindo o da amante Talita.
Linha de Investigação
• No celular de Talita foram encontradas mensagens de WhatsApp entre ela e um contado denominado “Petrônio Corretor
Riviera”. Também foram encontradas várias mensagens, ao longo de 2016, com “Cleuza Faxina Riviera”.
• Pelo cadastro do número, “Petrônio” foi identificado. De fato, era um corretor de imóveis. Ele foi ouvido. Disse que Marcus
Paulo e Talita compraram um apartamento em Riviera, porém em nome de uma empresa chamada MPP Consultoria. O corretor
mantinha guardado o contrato particular (de gaveta).
• O antigo proprietário foi ouvido. Disse que vendeu o apartamento e recebeu por transferência da empresa MPP.
• Pesquisa CENSEC: foi encontrada uma procuração pública em que Marcus Paulo recebe amplos poderes do sócio
administrador da MPP sobre o apartamento.
• A conta bancária da MPP foi quebrada. Na conta, havia mais de R$ 2 milhões de depósitos da GEO, empresa corruptora e
vencedora do contrato de Ribeirão Preto.
• MPP foi instituída no mesmo ano dos repasses. Estava estabelecida em uma modesta casa em Mauá.
• RAIS/CAGED informou que MPP não tinha funcionários cadastrados.
• Receita Federal informou que MPP não recolhia tributos típicos de uma empresa em atividade.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 5

• Wagner, agente público, recebeu mais de R$ 2,5 milhões de propina para viabilizar o desvio de R$ 69 milhões da
Prefeitura Municipal. Parte da propina foi paga em espécie.

Linha de Investigação

• Ao consultar tabela Excel do SIMBA, verificou-se que, de 2013 a 2017, nas contas bancárias de Wagner foram realizados
mais de 250 depósitos fracionados em dinheiro, muitos de R$1mil num único dia. No total, foram R$ 1,1 milhão em
depósitos.

• Vários depósitos de pequeno valor, operados em caixas de autoatendimento (envelope).

• Média de R$ 23 mil por mês de depósitos.

• Quebra de sigilo fiscal. A Receita Federal forneceu as últimas DIRPFs de Wagner

• Constatou-se que Wagner, como servidor municipal, possuía rendimentos líquidos mensais não superiores a R$ 3 mil.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 6

• Teodoro, agente público, foi investigado e processado por corrupção. Ao longo das investigações, constatou-se que
ele utilizava um Jeep Compass. O veículo estava no nome de José Augusto, primeiro proprietário. No cumprimento
das buscas, foi encontrado a ATPV – Autorização para Transferência de Propriedade de Veículo do Jeep Compass
assinado em branco no campo “proprietário/vendedor” por José Augusto.

Linha de Investigação

• José Augusto foi ouvido.

• A forma de pagamento foi identificada. Parte do pagamento foi feita em dinheiro vivo, entregue pessoalmente por
Teodoro. O restante, mediante transferência de uma empresa chamada Axuil.

• Um dos sócios da Axuil também é proprietário da empresa Luex.

• Luex foi favorecida por Teodoro para vencer uma licitação fraudada.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 7

• Cristiano foi investigado, preso e processado por organização criminosa e tráfico de drogas. Na garagem de sua
residência foi encontrado um Audi A3, registrado em nome da genitora.

Linha de Investigação

• RAIS/CAGED da genitora. Negativo para emprego formal recente.

• Oitiva da genitora. Faxineira.

• Oitiva do proprietário anterior. Negociação feita diretamente com Cristiano. Pagamento em dinheiro.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 8
• O Romário foi investigado por chefiar um grupo de traficantes de drogas. Durante as investigações, constatou-se que
Romário morava com sua família e uma residência num condomínio de luxo de Ribeirão Preto. Pelas conversas com
parentes e amigos, Romário se comportava como se fosse dono da casa. Nada se mencionava a respeito de aluguel. O
imóvel estava em nome de André, que possuía um emprego modesto e morava no subúrbio da cidade. Romário também
conversava com um sujeito de Rifaina, dizendo que iria usar a lancha e que queria a embarcação limpa e abastecida.
Linha de Investigação
• NET, água, gás e telefone em nome da genitora de Romário.
• IPTUs pagos na residência de Romário.
• Fotos do Facebook das amigas da esposa de Romário ostentavam a casa e a lancha do traficante.
• Numa das fotos aparece o número de registro da embarcação.
• Capitania dos Portos informa que a lancha está no nome de Suzano.
• Pesquisa RAIS/CAGED: André possui emprego incompatível com a propriedade dos bens. Suzano estava formalmente
desempregado há cinco anos.
• Pesquisa de endereços. André e Suzano moram em residências modestas.
• Receita Federal. André e Suzano não possuem renda anual compatível.
• Sujeito de Rifaina. Funcionário de uma marina, onde foi encontrado e apreendido o cartão de cadastro de cliente em nome
de Romário vinculado à lancha.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 9

• Rosana, prefeita de Ribeirão Preto, foi presa e processada por corrupção e peculato. Seu aparelho celular foi
apreendido e analisado. O conteúdo do WhatsApp revelava conversas a respeito de uma reforma que a prefeita estava
fazendo em sua residência. As conversas eram com pessoas envolvidas na obra (engenheiro, eletricista, loja de
acabamentos, móveis etc).

Linha de Investigação

• A partir das mensagens e número de telefone, foram identificados os fornecedores de materiais e prestadores de
serviços envolvidos na reforma.

• Todos foram ouvidos. Receberam em dinheiro, dentro de envelopes, diretamente da secretária da prefeita.

• Secretária da prefeita foi ouvida e confirmou.

• No celular da prefeita tinha fotos da reforma e do material utilizado. As fotos deram uma dimensão do tamanho da
reforma.

• Fotos da casa antes da reforma foram encontradas em matérias da imprensa local.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 10

• No cumprimento de mandado de busca, foi apreendida a carteira do traficante Carlos Alberto. Na carteira do investigado,
além dos documentos pessoais dele, foi encontrado um cartão de débito em nome de Silas.

Linha de Investigação

• No celular de Carlos Alberto foram encontradas fotos de comprovantes de depósito em dinheiro na conta do cartão de débito.

• Na conta bancária do cartão havia vários depósitos e saques em dinheiro.

• Alguns depósitos foram feitos em cidades de outro estado (o banco consegue informar).

• RAIS/CAGED de Silas. Possuía emprego e renda fixa numa determinada empresa.

• A empresa foi oficiada. Informou que o salário de Silas é pago mediante transferência bancária, em conta diversa da do
cartão de débito apreendido.

• Oitiva de Silas. Não utilizava a conta bancária do cartão apreendido. Não quis explicar a posse e o uso do cartão com Carlos
Alberto.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 11

• Na residência do vereador Mauro, investigado por corrupção, foi encontrado um compromisso particular de compra e
venda (contrato de gaveta). Pelo documento, o vereador Mauro adquiriu uma pequena propriedade rural em Minas Gerais.
A data do contrato remete ao período das investigações. O imóvel continuava registrado em nome do proprietário
anterior/vendedor Reginaldo.

Linha de Investigação

• Quebra do sigilo bancário. Nas contas bancárias de Mauro não havia nenhum pagamento ou transferência para o vendedor
da propriedade rural Reginaldo.

• Funcionário da propriedade. Evitou de mencionar o nome de Mauro como o atual patrão, mas informou o nome da cooperativa
que recebia a produção da propriedade (café).

• Foi oficiado à cooperativa, que informou que os pagamentos eram depositados na conta de Renata, esposa de Mauro.

• Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. Mediante autorização judicial, enviou o comprovante de inscrição estadual de produtor
rural – IEPR de Renata. A inscrição de Renata estava vinculada à propriedade em questão.

• O proprietário anterior, Reginaldo, foi ouvido. Disse que parte do pagamento foi feita em espécie, entregue pelo próprio
Mauro, dentro de sacolas. O restante foi financiado (mescla de dinheiro ilícito com lícito).

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 12
• Dezenas de imóveis adquiridos pelos líderes da organização criminosa, cujos contratos de compra e venda estavam em nome deles ou de
suas empresas e que foram registrados em seus nomes. Não haveria, em tese, ocultação ou dissimulação da propriedade. Empresas dos
líderes existiam de fato e realizavam as atividades lícitas para as quais foram criadas. No entanto, com base em investigação anterior era
sabido que a maior parte dos recursos dos investigados provinha das atividades ilícitas.
Linha de Investigação
• As empresas e pessoas físicas não teriam condição de adquirir o patrimônio com sua receita lícita.
• Receita Federal: levantamento da receita escriturada das empresas, feito a partir do Dossiê Integrado e do SIMPLES (valores que foram
tomados como lícitos).
• Informação fiscal do SIMPLES: foi necessária a obtenção específica desse dado, pois normalmente não é apresentado por meio do Dossiê
Integrado, e algumas empresas adotavam esse regime.
• Quebra de sigilo bancário: ao consultar tabela Excel do SIMBA, foi possível levantar todos os créditos realizados nas contas pessoais e
empresariais do grupo, em especial os depósitos em dinheiro.
• Confronto dos valores declarados à Receita Federal com os valores que ingressaram nas contas. Demonstrou que cerca de 2/3 dos créditos
não tinha origem conhecida.
• Somente os valores referentes a dinheiro em espécie que ingressaram nas contas era equivalente a todos os valores declarados à Receita
Federal.
• Construtoras/incorporadoras/imobiliárias: forneceram os contratos particulares de compra e venda.
• CENSEC. Escrituras públicas. Valores subdimensionados.
• Confronto dos valores dos bens adquiridos com os valores das receitas declarados à Receita Federal. Valores dos bens superiores aos das
receitas.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 13

• Dois irmãos traficantes, presos por comandar e gerenciar tráfico de cocaína. Figuravam como sócios de quatros
pessoas jurídicas.

Linha de Investigação

• JUCESP ou INFOSEG. Pesquisa a partir dos investigados. Levantamento dos cadastros das empresas em que figuravam
como sócios.

• Pertinente que se faça levantamento também em nome de parentes ou pessoas próximas.

• Empresas de fachada.

• RAIS/CAGED. Não possuía funcionários cadastrados.

• Endereços. Estruturas incompatíveis com a atividade em tese desenvolvida.

• Mais de uma empresa estabelecida em um único endereço.

• Em buscas nos endereços das empresas verificou-se que o “estabelecimento” estava fechado ou não oferecia condição
de ali se prestar a atividade à qual empresa se destinava.

• CENSEC e ARISP. Imóveis registrados em nome das empresas.

• SIMBA. Não tinham movimentação bancária apesar de ter bens de valor adquiridos em seu nome.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 14

• Investigado pela prática do crime de corrupção, José Renato, que exercia cargo comissionado na Prefeitura, deslocava-se
utilizando uma motocicleta de alto valor econômico, incompatível, em princípio, com a sua remuneração. O veículo foi adquirido
mediante um consórcio e as parcelas deste eram adimplidas com o dinheiro oriundo da corrupção.

Linha de Investigação

• Durante o monitoramento telefônico, apurou-se que o investigado transitava com a referida motocicleta, que estava registrada em seu
nome;

• Mediante pesquisas ao registro do veículo, obteve-se a informação da concessionária onde foi adquirida a motocicleta. Mediante
requisição, obteve-se a informação de que o veículo foi adquirido pelo investigado, através de um consórcio de determinada instituição
financeira.

• Requisitou-se informação à instituição financeira da forma de pagamento das parcelas do consórcio, sendo informado o pagamento
em espécie dos boletos.

• Com a quebra de sigilo bancário, verificou-se que não havia qualquer registro de movimentação na conta bancária do investigado
relacionado ao pagamento das parcelas do consórcio, evidenciando a utilização de dinheiro em espécie não oriundo da sua remuneração
oficial, que transitava pela conta

• A investigação sobre corrupção demonstrou que o investigado recebia dinheiro de propina em espécie, o que tornou certo que parte
do valor da corrupção foi usado para adquirir o veículo.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 15

• Secretária Municipal, investigada por crimes de peculato e corrupção, utilizava o dinheiro de origem ilícita para
aquisição de produtos e serviços. Valendo-se de técnica de “smurfing” e de terceiros, depositava na sua conta
bancária valores oriundos dos crimes.

Linha de Investigação

• Quebra de sigilo bancário demonstrou uma movimentação financeira superior aos rendimentos de origem lícita da
investigada. Pelo apurado, aproximadamente R$ 600 mil ao longo do ano transitaram na sua conta bancária sem qualquer
lastro de origem lícita.

• Foram realizadas pesquisas sobre a remuneração das pessoas que realizavam os depósitos na conta da investigada,
verificando-se que os valores eram incompatíveis com a remuneração dos depositantes.

• Ouvidos, os responsáveis pelos depósitos não tinham justificativa plausível para a operação em favor da investigada,
demonstrando que eram “laranjas” utilizados para depositar ou transferir valores de origem ilícita para a conta da
investigada.

• A Receita Federal informou que, no período dos depósitos, a Secretária investigada declarou, como única fonte de renda,
o salário da Prefeita Municipal, que se dava por pagamento eletrônico.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 16
• Investigava-se organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro, tendo como infração antecedente a exploração do jogos de
azar, ocultando-se à movimentação e origem do dinheiro por meio de empresas de fachada.

Linha de Investigação
• Busca e apreensão em casa de jogos. Vias de canhotos (“via estabelecimento”) de cartão de crédito/débito e as respectivas máquinas
foram apreendidos.
• A partir dos canhotos e das máquinas, identificou-se a empresa laranja e a conta bancária correlata.
• RAIS/CAGED da empresa. Inexistência de funcionários registrados.
• Receita Federal e Estadual. Ausência de recolhimento de tributos atinentes a uma atividade empresarial regular.
• Sócios formais (JUCESP) da empresa. Análise patrimonial (IRPF, veículo, residência, emprego etc). Vida modesta, incompatível com
a estrutura da casa de jogos. Sócios formais laranjas.
• As “casas” possuíam os mesmos “funcionários”, mesmos padrões de cardápio e de controle de contabilidade, mesmos fornecedores
de materiais descartáveis, mesmos fornecedores de câmeras de segurança e de aplicativo de controle das máquinas-caça níqueis.
• As empresas de fachada possuíam os mesmos advogados, que atuavam na cobrança judicial dos cheques recebidos nas jogatinas.
Cheques emitidos em favor das empresas de fachada e endossados aos verdadeiros donos dos estabelecimentos.
• As empresas de fachada possuíam os mesmos endereços como sede. Os endereços de internet e energia elétrica também.
• Quebra de sigilo bancário. Vultosa movimentação financeira sem prova de atividade empresarial. Não condizente com o patrimônio
dos sócios laranjas.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 17

• O Secretário Municipal investigado por crimes de corrupção passiva e organização criminosa. Mandado de busca e
apreensão. Verificou-se que, no aplicativo WhatsApp, que o Secretário havia “vendido” um cargo em comissão a uma
pessoa. As mensagens indicavam que o “Rachid” (parte do salário) era pago pela empresa de tal pessoa como
“honorários advocatícios” para o Secretário.

Linha de Investigação

•Quebra de sigilo bancário do Secretário Municipal. Na conta foi verificada transferência da empresa da “funcionária-
fantasma” ao tal Secretário justamente nas datas conversadas pelo aplicativo.

• Foi aberta investigação autônoma para apuração dos fatos relacionados à “compra e venda de cargos” comissionados e
com o fim de obter prova cabal da dissimulação dos valores recebidos à título de propina.

• Busca e apreensão na residência de outros “funcionários-fantasmas”. Localização de contratos de honorários


advocatícios.

• Inexistência de serviços jurídicos efetivamente prestados.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

Caso 18

• Secretário Municipal investigado por corrupção na cobrança do ISS/Habite-se. Empresa de fachada. Simulação da prestação
de serviços. Expedição de notas fiscais frias, inclusive com recolhimento do ISS. Constatação da comercialização ilícita de notas
fiscais e entrega de dinheiro em espécie à empresa compradora. Utilização dessas notas fiscais frias para redução do lucro da
empresa compradora e obtenção de benefícios fiscais. Contrapartida de transferências para empresa de fachada, com base nas
notas fiscais, sob aparência do pagamento pelos serviços simulados.

Linha de investigação

• Investigação que procura verificar se o agente público corrupto mantém “empresa de fachada” em nome de familiares ou
terceiros (pesquisas via CRC JUD, JUCESP, Receita Federal e RAIS);
• Quebra dos sigilos bancário e fiscal.
• Análise da planilha Excel encaminhada pelo SIMBA que pode demonstrar sucessivos depósitos de uma mesma pessoa jurídica
na conta bancária da “empresa de fachada”;
• Requisição, com base na quebra de sigilo bancário, para que as Receitas Municipal e Estadual encaminhem todas as notas
emitidas pela “empresa de fachada”;
• Cruzamento das informações fiscais (notas fiscais) e bancárias que permitem identificar o pagamento dos serviços simulados.
• Oitiva do contador da empresa de fachada, que, confrontado sobre as demais provas de que os serviços do seu cliente nunca
foram prestados, pode informar que as notas fiscais são emitidas com base em pedidos do corrupto.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• Oitiva dos destinatários das notas fiscais, que supostamente se relacionam com o contator e, ao tomar ciência que a empresa
emitente pertence a um agente público corrupto, pode admitir a aquisição das notas fiscais para fins de abatimento do imposto
de renda e obtenção de benefícios fiscais.
O contexto pode resultar em confissão dos crimes tributários perante o Fisco e, com o consequente recolhimento dos créditos
tributários para a obtenção da extinção da punibilidade.
• Importante verificar se o corruto entrega as notas fiscais frias e dinheiro em espécie à empresa destinatária, que, em troca,
deve depositar os valores na conta bancária da “empresa de fachada”.
• O dinheiro em espécie provavelmente é destinado ao “caixa dois” da empresa;

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EXEMPLOS DE TERMOS
E EXPRESSÕES

Utilizados em denúncias de casos reais do GAECO.

Sugestão: em denúncia só de lavagem fazer um capítulo introdutório sobre


o crime antecedente, com menção ao processo criminal – se houver.
DINHEIRO

• Os envolvidos nos crimes anteriores lançaram mão de subterfúgios para escoar os valores provenientes desse esquema de
fraude e corrupção e, com isso, dissimular a origem ilícita e conferir uma roupagem de licitude ao produto e ao proveito dos
crimes praticados.

• A dinâmica dessa movimentação financeira deturpou a estrutura e a procedência dos valores de tal forma que demandou
complexa e demorada investigação, com quebra de sigilo bancário e profissional, confronto de dados fiscais, análise de
microfilmagem de títulos, pesquisa e qualificação de envolvidos, colheita de depoimentos, dentre outras diligências, tudo para
rastrear e identificar a natureza e os caminhos traçados pelo dinheiro integrado pelos denunciados.

• Para dificultar o rastreamento da propina e torná-la disponível e com aspecto lícito, o Beneficiário ajustou-se com o
Intermediário, um jovem consultor de sistema, então com 24 anos de idade, para que este recebesse formalmente os repasses
da empresa por intermédio da conta bancária de uma pessoa jurídica criada apenas para esta finalidade.

• O subterfúgio consistiu em permear a propina destinada ao Beneficiário pela conta bancária da Empresa de Fachada e, com
isso, conferir uma aparente transação comercial com a Empresa Corruptora, de modo a camuflar a ascendência ilícita e a
aplicação dos valores transferidos.
MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• O dinheiro do crime saiu de uma única fonte, da conta da Empresa Corruptora, por intermédio de sete cheques. O
Beneficiário, como destinatário do suborno, conluiado com sua amante, dispersou todos os cheques em contas bancárias de
terceiros, com o nítido propósito de mascarar a movimentação e a disposição do dinheiro ilícito.

• O Beneficiário realizou variedade absurda de depósitos fracionados, num curto período, muitos até num único dia, com
características evidentes de uma estruturação de lavagem denominada smurfing, comumente utilizada para impedir a
identificação de operações em espécie, sobretudo aquelas de comunicação compulsória pelas instituições financeiras ao
COAF.

• Com o intuito de desfigurar as características da propina e despistar os dispositivos de fiscalização financeira, o Beneficiário
utilizou-se de várias contas pessoais para pulverizar expressiva quantidade de dinheiro sujo em pequenos depósitos bancários,
a adotar uma técnica de lavagem denominada smurfing (ou pitufeo).

• No caso, o Beneficiário manteve, durante os anos de 2013 a 2017, cinco contas bancárias em diferentes instituições, período
em que a esquema de corrupção se destacava pelos vultosos pagamentos de propina aos envolvidos. Foi justamente nesses
quatro anos que o Beneficiário realizou 249 depósitos em dinheiro, que somados chegam a R$ 1.131.433,54.

• Essa técnica de branqueamento permitiu que o Beneficiário diluísse um volume milionário de dinheiro de origem ilícita, de
modo a tirar sua visibilidade e, mais do que isso, impedir a detecção de operações em espécie, com o objetivo de burlar os

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

mecanismos de controle pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, órgão responsável pela inteligência
financeira e proteção dos setores econômicos contra a lavagem de dinheiro.

• A depender do valor e das circunstâncias, os depósitos em dinheiro geram o dever de comunicação pelas instituições
financeiras. Conforme determina o Banco Central, por intermédio da Circular 3.461/09 (alterada pela Circular 3.839/17), as
instituições financeiras têm de identificar (art. 9º, § 1º, I) e de comunicar (art. 12, II) ao Conselho de Controle de Atividades
Financeiras – COAF as operações em espécie de valor igual ou superior a R$ 50 mil ou as transações que, considerando as
partes envolvidas, os valores, as formas de realização, os instrumentos utilizados ou a falta de fundamento econômico ou
legal, possam configurar a existência de indícios dos crimes previstos na Lei 9.613/98 – Lavagem de Capitais (art. 13, I).

• A técnica de branqueamento adotada pelo Beneficiário, caracterizada pela fragmentação e diluição dos valores da propina,
impediu a detecção dos depósitos em espécie, com o objetivo de burlar os mecanismos de controle dos órgãos de inteligência
financeira. Mais do que isso, tirou a visibilidade e afastou os recursos recebidos pela prefeita de sua origem ilícita, de modo
a dificultar o reconhecimento da conexão com o fato criminoso.

• Destaque também para a inexistência de registro dos responsáveis pelos depósitos, nem dos motivos pelos quais foram
feitos. No entanto, a ênfase principal foi a descomunal variedade de depósitos fracionados, feitos num curto período, muitos
até num único dia,

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• O Beneficiário providenciou numerosas transações bancárias, incompatíveis com seus rendimentos, a utilizar-se de
depósitos fragmentados, com o intuito óbvio de distanciar a origem ilícita do dinheiro transacionado e de não despertar a
atenção dos agentes financeiros, uma vez que tais operações estruturadas, se analisadas de forma individual, não ultrapassam
o valor limite da comunicação automática ao órgão de inteligência bancária.

• Com isso, o Beneficiário pulverizou a natureza sub-reptícia dos valores que tinha a receber, de modo a tirar sua visibilidade
e, mais do que isso, impedir a identificação das operações bancárias, pois, a depender do valor transacionado, deveriam ser
comunicadas ao COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras, com o objetivo de burlar os mecanismos de registro
e controle.

• Afeiçoado à vida criminosa, o Intermediário não se restringiu a atividades ilícitas meramente particulares, mas habituado
também a manter relações com outros delinquentes, notadamente com pessoas envolvidas com tráfico de drogas e roubo,
sobretudo para movimentar cifras oriundas dos negócios ilícitos. E para dificultar a identificação e o rastreamento de valores
de origem criminosa, o intermediário aliou-se a dezenas de pessoas que se propuseram a receber e a depositar quantias
fracionadas em diversas contas bancárias, próprias ou de terceiros, e, na sequência, triangular a disposição do crédito, seja
com saques em dinheiro ou transferências para outras contas, a adotar uma técnica de lavagem denominada smurfing (ou
pitufeo).

• O Intermediário conseguiu desfigurar as características de R$ 702.137,00 de origem ilícita, de modo a torná-los disponíveis
e com aspecto lícito, isso sem chamar atenção dos dispositivos de controle financeiro. Ou seja, em pouco mais de oito meses,

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

centenas de milhares de reais foram movimentados, a despeito da falta de ocupação e de rendimentos para justificar tais
transações, muitas das quais tratando-se de créditos/transferências, tendo o Intermediário como passagem, replicadas em
pequenos valores em contas de terceiras pessoas.

• Esse mecanismo de lavagem perdurou na clandestinidade por anos, e somente veio à tona quando as instituições financeiras
comunicaram ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF das movimentações suspeitas. Foram várias
comunicações, de bancos de localidades distintas, que, compiladas e organizadas pelo órgão de inteligência, deram dimensão
dos valores e dos métodos utilizados pela organização criminosa, conforme Relatórios de Inteligência Financeira – RIFs.

• Entre janeiro de 2011 e julho de 2015, o Intermediário, para ocultar os vestígios da obtenção de dinheiro ilícito e dispersar
sua movimentação, manteve em seu nome sete contas bancárias e em quatro instituições distintas (Itaú, Bradesco, Banco do
Brasil e CEF). Naquele período, nas contas da denunciada, entre depósitos em dinheiro, saques e transferências, foram
realizadas 801 operações, que permearam o total de R$ 376.794,91.

• Em pouco mais que quatro anos, foram depositados R$ 188.395,35 em dinheiro nas contas do Intermediário. Na sequência,
R$ 188.399,56, sacados ou transferidos para contas de terceiros em pequenas quantias, isso tudo com o intuito de desfigurar
as características da origem e despistar os dispositivos de fiscalização financeira.

• Não bastasse o sabido envolvimento do Intermediário com a prática de crimes, analisando-se o teor do Relatório de
Inteligência LAB-LD 065/2017 (fls. 611/622), observa-se total incompatibilidade entre os valores movimentados e a capacidade

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

financeira dela, que sequer apresentou declarações de imposto de renda nos anos de 2011 e 2015 (fls. 572/577).
Autodeclarado como vendedor autônomo, o denunciado recebia R$ 550,00 por mês. Com esta renda, deveria auferir, em
cinco anos, não mais do que R$ 33.000,00, ou seja, uma diferença considerável de 570% em relação ao que, de fato, fora
creditado em suas contas bancárias.

• Por essas circunstâncias, não resta dúvidas de que no período compreendido entre os anos de 20xx e 20xx, o Intermediário,
com a clara e inequívoca intenção de ocultar a dissimular a origem ilícita e a real propriedade destes valores, se prestou a
branquear vultosa soma em espécie para terceiros, proveniente de práticas criminosas, a receber depósitos fracionados,
seguidos de saques em dinheiro ou transferências para contas de outros criminosos, muitos dos quais envolvidos e
condenados por tráfico de drogas e roubo.

• O Intermediário não dispunha de emprego ou fonte de renda legal para fundamentar a propriedade e posse daqueles bens,
do que surgia a necessidade de disfarçar e ocultar a origem marginal dos recursos que lhe permitiram suas
compras/aquisições, o que também visava evitar viessem a ser sequestrados.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

IMÓVEIS
• Para tirar proveito do dinheiro e integrá-lo no mercado, o Beneficiário, contando com a assistência do Intermediário 1,
providenciou um investimento imobiliário no litoral de São Paulo, valendo-se de transações paralelas e do Intermediário 2, de
modo a viabilizar o desfrute do bem sem que fosse reconhecida sua conexão com o fato criminoso.

• Quando da formalização da transação, pode ter sido feito um contrato particular entre o vendedor e a Empresa de Fachada,
que figurou como compradora formal do apartamento por indicação do próprio Beneficiário, com o propósito de mascarar a
disposição dos recursos ilícitos e, por consequência, a propriedade do próprio bem

• Por meio do chamado “contrato de gaveta”, o Beneficiário buscou evitar que o negócio fosse publicado nos registros
imobiliários e notariais para, dessa forma, mantê-lo na clandestinidade. Além disso, procurou fosse lavrado em nome de
terceiro para ocultar a ascendência criminosa, a propriedade e a disposição do numerário indevido.

• Uma fração da propina valor foi aplicada na aquisição do imóvel do litoral paulista, por meio de um contrato particular,
assinado em março de 2016, lavrado em nome da Empresa de Fachada, não apenas para ocultar ainda mais a ascendência
criminosa e a disposição do numerário indevido, mas, sobretudo, para manter o negócio na clandestinidade

• Por meio do chamado “contrato de gaveta”, o Beneficiário buscou evitar que o imóvel de Riviera de São Lourenço fosse
mencionado como objeto da negociação nos registros notariais, para, dessa forma, mantê-lo na clandestinidade. Além disso,

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

procurou fosse o documento lavrado em nome de terceiro para ocultar ainda mais a ascendência criminosa e a disposição do
numerário indevido.

• Depois, quando dissociado o vínculo negocial entre o apartamento do litoral e o da capital, o Intermediário providenciou a
lavratura de uma escritura pública ideologicamente falsa, a declarar ao escrevente notarial do 22º Tabelião de São Paulo/SP
ser o comprador da unidade 103 do edifício Villa Funchal Bay Apartments, com o propósito de alterar a aparência e a verdade
formal acerca a propriedade do imóvel e, com isso, mascarar o real domínio do Beneficiário sobre o bem.

• Para dificultar o rastreamento dos valores consignados nos títulos e para reintegrá-los no mercado, o Beneficiário, então
secretário da Administração de Ribeirão Preto/SP, providenciou um investimento imobiliário, valendo-se de transações
paralelas e pessoas interpostas para, ao final, incorporar o ativo ao patrimônio de uma amante sua.

• O imóvel, finalmente, foi transferido e registrado, em dezembro de 2013, em nome da Intermediária, a qual, como amante,
não tinha qualquer vínculo formal ou socialmente reconhecido com o Beneficiário, garantindo total desvinculação formal entre
o recebedor da propina e o bem conquistado ilicitamente.

• Em vez do Beneficiário registrar este imóvel em nome de algum parente, optou por, simplesmente, fazer com que o antigo
proprietário e vendedor, lhe outorgasse uma procuração, a qual conferia e lhe dava amplos e totais poderes para transacionar
o bem, demonstrando que passou a ser, de fato, seu único, legítimo e real proprietário.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• O elevado valor agregado de três propriedades imobiliárias, em completo descompasso com a falta de trabalho ou profissão
lícita do denunciado, condiz com suas lucrativas atividades ilícitas de atacadista do tráfico de drogas, da associação ao tráfico
e de organização criminosa.

• Assim agindo, o Beneficiário dissimulava e ocultava a origem do dinheiro de seus crimes e a propriedade formal daqueles
bens, ao deixá-los e mantê-los registrados em nome de terceiros, permitindo-lhe aproveitar-se dos mesmos sem o
constrangimento de ostentar sua origem ilícita.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

VEÍCULOS/EMBARCAÇÕES

• Outra técnica utilizada pelo Beneficiário para resgatar o dinheiro ilícito permeado pelo Intermediário foi a simulação de
aquisição onerosa de veículos, para, com isso, dificultar o reconhecimento da conexão dos recursos movimentados com os
fatos criminosos outrora praticados e encobrir o destino de suas aplicações.

• Para reintroduzir parte dos valores que se propôs a intermediar, o Intermediário transferiu, sem ônus, quatro veículos para
o Beneficiário e para pessoas de seu relacionamento, a consignar valores e informações em documentos para conferir aspecto
legítimo e oneroso na transação.

• Uma vez mesclados a outros com aspecto lícito, os créditos de origem criminosa foram integrados formalmente no sistema
econômico mediante revendas simuladas de veículos automotores da empresa do Intermediário para o Beneficiário.

• Analisando as movimentações bancárias das contas correntes do Beneficiário, não se verificou saque equivalente ou
pagamento do valor consignado no documento de transferência para a empresa do Intermediário ou para a pessoa constante
do certificado de registro, o que comprova que o recebimento do veículo naquelas circunstâncias não passou de uma forma
sub-reptícia de converter valores provenientes de peculato e corrupção em ativo lícito.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• Muito embora o Beneficiário fosse o proprietário de fato de três veículos automotores, os quais deixava estacionados em
sua casa, um dos quais de elevadíssimo valor de mercado, os matinha registrados em nome de terceiras pessoas.

• O Beneficiário registrou a VW/Amarok, para sua maior segurança, em nome de sua amásia, a Intermediária, a mesma a
quem confiara a propriedade formal de dois outros imóveis seus e a mesma que, assim como ele, não dispunha de nenhuma
atividade lícita a justificar a propriedade de veículo de tal preço.

• Este valioso não apenas era da efetiva propriedade do Beneficiário, como era aquele que ele se utilizava em seu uso diário,
incluindo para o tráfico de drogas, no caso, foi exatamente o veículo de que se valeu para atuar como “batedor” do tráfico de
7kg de cocaína descrito do processo do crime anterior.

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CHEQUES E TÍTULOS
• O Beneficiário, em particular, depositou incalculáveis cheques da Empresa Corruptora na conta de terceiros e de outras
empresas – muitos dos quais clientes seus –, chegando a cifras milionárias, porém, sem escrituração contábil e fiscal dessas
transações bancárias, nem justificativa formal, revelando que foram manobras tendentes a ocultar origem ilícita e a disfarçar
a destinação dos valores movimentados.

• O Beneficiário, como destinatário dos repasses ilícitos, dispersou parte dos cheques em contas bancárias de terceiros, com
o nítido propósito de mascarar a movimentação e a disposição do dinheiro ilícito, e os aplicou, por vias transversas, no referido
ativo imobiliário.

• No entanto, para dificultar o rastreamento dos valores consignados nos títulos e torná-los disponíveis e com aspecto lícito,
o Beneficiário fez uso de contas bancárias de outras pessoas, físicas e jurídicas, alheias ao estratagema criminoso, para
converter os cheques-propina em crédito e, na sequência, triangular o recebimento do equivalente em benefício próprio.

• O núcleo de pessoas ligadas ao Beneficiário se prestou a colocar em prática estratagema para lavagem dos valores
repassados pela Empresa Corruptora. O Beneficiário remeteu cheques da Empresa Corruptora a pessoas de sua confiança;
estas, por sua vez, passado algum tempo e/ou após sucessivas operações bancárias, simplesmente sacaram os valores para
restituir diretamente ao Beneficiário ou os transferiam a outras pessoas também indicadas por ele. Com essas movimentações
fragmentadas, os valores acabavam sendo reintegrados com aparência “limpa”.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• O Beneficiário confiou cinco cheques-propina para o Intermediário 1 , que, sabendo tratar-se de produto de corrupção, e
com o propósito de mascarar a origem e a movimentação, entregou os títulos para o Intermediário 2, residente em São
Paulo/SP, que os depositou em sua conta bancária e noutra controlada pelo sócio.

• Todos os títulos da Empresa Corruptora foram repassados pelo Beneficiário com cláusula “à ordem” em branco, o que
implica dizer que o depósito ou levantamento do cheque poderia ser feito por qualquer pessoa que o apresentasse ao banco
e, com isso, evitar que o verdadeiro beneficiário – o que recebera a cártula a título de propina – fosse anotado no título, a
camuflar a origem e a natureza do dinheiro ilícito. Assim, com o depósito desses cheques “ao portador” na conta de terceiros,
deu-se a aparência de que foram transacionados pelo titular emitente, ou seja, pela Empresa Corruptora, e não pelo
Beneficiário, numa manobra tendente a ocultar a ascendência ilícita dos valores declarados no título.

• A estratégia consistiu em permear os cheques pela conta do Intermediário 1, para que fossem convertidos em espécie com
operações fracionadas. Em seguida, o dinheiro deveria escoar para as mãos do Intermediário 2 para, sabendo da origem
criminosa, dissimular sua disposição com despesas e aplicações variadas.

• A transitar os cheques por essas vias, o Beneficiário e o Intermediário conseguiram desfigurar as características da propina
paga pelo Corruptor, valendo-se de um método de lavagem que viabilizou a reintrodução dos valores no mercado sem revelar
sua origem ilícita e, por conseguinte, camuflar sua movimentação e localização.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• Constatou-se que os envolvidos nos crimes anteriores lançaram mão de subterfúgios para escoar os valores provenientes
desse esquema de fraude e corrupção e, com isso, dissimular a origem ilícita e conferir uma roupagem de liceidade ao produto
e ao proveito dos crimes praticados.

• Uma das técnicas de lavagem foi a utilização de cheques avulsos, dada a praticidade e a precariedade de sua emissão. Trata-
se de formulários bancários que são preenchidos à mão, na própria agência, sem identificação nominal do emitente, que
acaba tendo, para todos os efeitos, natureza de um cheque, para facilitar a conversão em espécie. Quatro desses títulos foram
emitidos pela Empresa Corruptora, por intermédio da agência 4411 do Sicoob Cooperac, no total de R$ 280 mil, que foram
nominados ou endossados ao Beneficiário, que os apresentou para pagamento e sacou tudo em dinheiro.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

EMPRESAS DE FACHADA
• Foi constituída a Empresa de Fachada, com capital social de R$ 100 mil, para prestação de serviços de engenharia e
administração. Sua sede foi estabelecida no mesmo endereço residencial do Intermediário, na cidade de Mauá/SP, onde
se encontra uma modesta casa, sem estrutura que possa viabilizar o efetivo cumprimento de seu objeto social.

• A Empresa de Fachada também não possui funcionários, pois, segundo o RAIS/CAGED – Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados, nunca criou uma vaga de trabalho sequer desde sua criação.

• A Receita Federal informou, ainda, que a empresa do Intermediário tem como única despesa o pagamento de tributos
correlatos tão somente a transferências bancárias, sem qualquer menção a gastos com folha de pagamento de
funcionários (até porque, segundo o CAGED, não os possui), insumos, manutenção, circulação de produtos, serviços,
atividade meio etc.

• Trata-se de uma sociedade empresarial de fachada, que nunca produziu ou circulou bens ou serviços, com transações
legítimas e escrituradas, tanto que não possui funcionários registrados e bens para o desenvolvimento de sua atividade
econômica.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• A Empresa Corruptora depositara mais de R$ 2 milhões na conta bancária da Empresa de Fachada, uma pessoa jurídica
sem atividade empresarial, criada pelo Intermediário para triangular e movimentar o dinheiro ilícito do Beneficiário,
justamente para distanciá-lo de sua origem criminosa.

• Sem lastro de uma efetiva venda mercantil ou prestação de serviço, e ocultando-se a identificação do operador
depositante, os títulos circularam incólumes nas contas bancárias dessas empresas, sem chancela de sua procedência
criminosa, de modo a viabilizar a movimentação e a livre disposição sem qualquer conjectura ou desconfiança.

• Os cheques transitaram pelas contas das empresas e, na sequência, o equivalente era repassado para os implicados
em cheques ou em dinheiro em espécie, desnaturando sobremaneira a origem e a disposição do suborno.

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OBRAS E REFORMAS

• Para pagar as etapas da obra sem revelar a origem do valor aplicado, o Intermediário optou por fazê-las com os oito
cheques da Empresa Corruptora, os quais seu pai o Beneficiário recebera a título de propina. Mais do que isso, todos os
títulos foram entregues com cláusula “à ordem” em branco, o que implica dizer que poderiam ser preenchidos com nome
diverso do primeiro portador – entenda-se, daquele que recebe a vantagem indevida – e, com isso, evitar que o verdadeiro
beneficiário seja anotado no título, a camuflar a origem e a movimentação do dinheiro ilícito.

• Para dificultar o rastreamento dos valores recebidos e para reintegrá-los no mercado com aspecto lícito, o Beneficiário
fomentou uma reforma em sua residência com dinheiro da propina, valendo-se de transações paralelas e pessoas
interpostas para, ao final, incorporar acessões e novas benfeitorias ao imóvel, sem, com isso, revelar a origem criminosa
dos valores aplicados.

• Por dois anos, entre 2014 e 2016, o imóvel foi amplamente reformado, com refazimento da fachada, construção de
uma nova área de lazer, com espaço para uma nova cozinha e piscina, com acabamentos modernos, substituição total
dos pisos internos, instalação de armários embutidos e uma transformação da suíte principal.

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MPSP: Roteiro para a investigação sobre lavagem de dinheiro

• Embora não se tenha, por ora, elementos suficientes para esquadrinhar com exatidão o material aplicado e os valores
pagos para concluir a empreita em questão, foram encontradas, nos celulares do Beneficiário, algumas fotografias tiradas
durante a execução da obra que revelam, de imediato, que a arquiteta tem razão quanto à dimensão da reforma.

• Conforme as etapas da empreitada avançavam, os profissionais envolvidos e as fornecedoras de material de construção


eram pagos em dinheiro, proveniente dos subornos recebidos pelo Beneficiário. Os pagamentos foram feitos em espécie,
em quantias fracionadas, sem registro fiscal e contábil, com o propósito de ocultar não apenas a fonte de custeio, mas,
sobretudo para camuflar a aplicação da propina.

• Com isso, o Beneficiário conseguiu incorporar centenas de milhares de reais de propina em sua residência, a dissimular
um capital criminoso em um ativo não maculado, tornando-os indissociáveis na aparência, de modo a conferir aspecto
lícito ao dinheiro sujo aplicado na obra, valendo-se de manobras típicas de lavagem de dinheiro.

São Paulo, julho de 2021.

Secretaria Especial de Políticas Criminais

Secretaria Especial de Políticas Cíveis e de Tutela Coletiva

GAECO – Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime


Organizado

CAOPP – Centro de Apoio de Patrimônio Público

CAEX – Centro de Apoio Operacional à Execução

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