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Estelionato e outras fraudes

“Nem tudo que reluz é ouro”.


William Shakespeare
Digressão histórica
 A palavra estelionato parece derivar da palavra Stellio,
que seria um lagarto que muda de cor, para se
camuflar.
 O Brasil adotou a nomenclatura que remonta ao
império romano stellionatus, vale ressaltar que este
crime era confundido com o próprio furto sendo
apenas uma forma de cometê-lo. Destaque-se que
Stellio no latim transmite o sentido de impostor.
 No Brasil adotamos um tipo que parece elaborar um
junção da formula francesa (induzir alguém em erro) e
da alemã (manter alguém em erro).
estelionato
 Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
 Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
   § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o
juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. <=
Repetição da formula genérica do art. 170 do CP.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido
em detrimento de entidade de direito público ou de instituto
de economia popular, assistência social ou beneficência. <=
majorante
§ 4º estelionato contra idoso aplica-se a pena
em dobro.
ANÁLISE
• Paulo José da Costa Jr. Nos ensina que o elemento
preponderante no estelionato é a conduta ardilosa,
subreptícea, fraudulenta de que se vale o agente para atingir
o seu intento.
• Damásio ensina que “Artifício é engodo empregado por
intermédio de aparato material.... ....Ardil é o engano
praticado por intermédio de insídia”.... Lembrando que a
fraude deve ser avaliada de acordo com as condições
pessoais da vítima.
• A vantagem percebida deve ser econômica, indevida.
• Alheio aqui pode ser no todo ou em parte. (há discordância)
• Sendo crime comum pode ser praticado por qualquer pessoa.
ANÁLISE
• Os doutrinadores ensinam que não se confundem a fraude civil e a
fraude penal. Costumam apontar que a diferença não seria de
substância mas de grau (é como se afirmassemos que fraudes
mais leves seriam civis e fraudes mais pesadas seriam
penais). Pois algumas afirmações no âmbito do direito empresarial,
mesmo que falsas, constituem-se no que a doutrina denominou de
“dolus malus” que considera-se ilícito civil, ensejando a nulidade do
negócio. Se a fraude se caracteriza em um negócio simulado
<(arrastamento) neste caso temos estelionato.
• O advogado de regra não responde por estelionato quando pratica
honorários abusivos, contudo se há uma cobrança extorsiva o STF
já decidiu que pode se configurar.
• A cola eletrônica divergência doutrinária e jurisprudencial. Pra
concurso sim.
ANÁLISE
• Falsificação de dinheiro => se a falsificação for imperfeita
grosseira capaz de enganar apenas incautos. < = estelionato.
• A captação de recursos de um número indeterminados de
pessoas temos crime contra a economia popular.
• Falsas curas => há julgados classificando alguns casos como
estelionato.
• Curso falso => estelionato.
• Fraude dentro de processo para a obtenção de vantagem indevida
(fraude processual art. 347).
• Há decisões condenando por falsa identidade, quando o sujeito
consegue apenas pequenas vantagens se fazendo passar por
membro de policia secreta, ou por assistente de médico etc.
Estelionato por equiparação
Estelionato por equiparação § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria       
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa
alheia como própria; <=Não há crime se o adquirente está ciente do
fato. Destaque-se que nesse caso não pode haver posse legítima.
  Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu
vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando
sobre qualquer dessas circunstâncias; <=Pune-se a omissão de
situação juridicamente relevante sobre a coisa.
  Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto
empenhado; Acreditamos que esse crime ocorre quando o penhor é
realizado com a “clausula constituti”.
Estelionato por equiparação
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a
alguém; A substância é a essência da coisa(ex. ouro de tolo), Quantidade
refere-se a peso dimensão, Qualidade se refere ao estado (coisa pior como se
fosse a melhor). Destaque-se que se for alimentícia vai para o 272 CP
  Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
     V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro; <= A doutrina entende tratar-se
de crime formal. Devendo já haver contrato de seguro vigente. Não se pode
confundir o dolo de fraudar com a simples agravação do risco.
   Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou
lhe frustra o pagamento. Cheque é uma ordem de pagamento a vista. Assim
emissão por si só não configura crime se não houver a demonstração do
“animus fraudulentis”
Estelionato?
• Já havia algumas
decisões de juízes e
tribunais e mais
recentemente O STF
já obrigou a
devolução do bem
havido de forma
fraudulenta, todavia
o procedimento foi
decidido no âmbito
civil.
Legislação comparada
Código Penal x o art. 6° da Lei 7.492/86 (crimes contra o sistema financeiro
nacional) => induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública
competente, relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe
informação ou prestando-a falsamente.
Código Penal x Lei 11.101105 (lei de falência): o art. 168 da Lei 11.101/2005,
quem praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder
a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato
fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim
de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem.
Código Penal x da Lei 10.671103 (Estatuto do Torcedor): o art. 41-E pune
fraudar, por qualquer meio.
Código Penal x o art. 251 do Decreto-lei 1.001/69 (Código Penal Militar): no art.
9º pune a prática do estelionato cometido na forma daquela lei.
Código Penal x LEI No 10.741, (Estatuto do Idoso) o art. 106 do pune, aquele
que induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente.
 Duplicata simulada
 Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda
que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço
prestado. 
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
multa.  

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá


aquele que falsificar ou adulterar a escrituração
do Livro de Registro de Duplicatas.
Duplicata simulada
• A duplicata é um título de crédito que seria
essencialmente uma cópia da fatura. A fatura
é um documento que discrimina um contrato
de compra e venda mercantil.

• Lembrando que a escrituração da duplicata é


obrigatória.
antecedentes
• Na Roma antiga era comum haver nas casas
uma cofre onde eram guardados os
documentos que estipulavam os direitos face
a devedores. {podemos vislumbrar nessa
relação um antecedente remoto dos
modernos títulos de créditos}. Na idade média
haviam os títulos emitidos pelos reis. No EUA
temos a figura das cartas de crédito emitidas
pelos presidentes.
classificação
• Crime formal {doutrina majoritária} independe
de causar prejuízo, unissubjetivo,
unissubsistente {doutrina majoritária}, crime
comum, doloso, de dano.
• OBS: a triplicata tem o mesmo valor da
duplicata.
Abuso de incapazes

Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de


necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou
da alienação ou debilidade mental de outrem,
induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível
de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou
de terceiro:
  Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
análise
• Segundo Bento de farias "Deve se entender
debilidade mental não somente a loucura,
propriamente dita, como toda a enfermidade
mental, quando anula a inteligência ...“
• Magalhães Noronha defende que “o menor
emancipado não é um incapaz”.
• Também defende que a necessidade, de
demonstração da paixão e a inexperiência se
referem exclusivamente ao menor.
• Não é obrigatória a interdição no caso de alienados
e débeis mentais, pois a prova pode ser produzida
no próprio feito criminal, através de perícia.
Induzimento à especulação
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou
aposta, ou à especulação com títulos ou
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a
operação é ruinosa:
        Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Induzimento a especulação análise
• Para Cleber Masson => inexperiente (principiante, ou seja,
sem vivência prática nas situações indicadas no tipo penal),
simples (ingênua, que facilmente deixa se enganar), ou
com capacidade mental inferior (dotada de qualquer tipo de
distúrbio ou com desenvolvimento mental incompleto, com
capacidade de discernimento abaixo da normalidade) <=
Não se exigindo nas Palavras de Mirabeti que a vítima seja
incapaz. No mesmo sentido Maximiliannus.
• A mens legis é no sentido de proteger a pessoa rude
simplória, que pode ser mais facilmente enganada. <=
nesse sentido Fernando Capez.
análise
• Trata-se de crime formal, pois a consumação ocorre com
a prática da conduta, dispensando a lesão ao patrimônio
da vítima.

• Operação ruinosa => é aquela que pode levar a vítima a


insolvência.

• O agente deve ter conhecimento da ruinosidade da


operação. (que trata-se de operação temerária)

• Sabe => dolo direto, deve saber => dolo eventual.


Consumação: “Com a efetiva prática do jogo,
aposta ou especulação, independentemente da
obtenção de real proveito pelo agente ou
terceira pessoa ou mesmo que a vítima não fique
insolvente. Para a maioria da doutrina, o crime
estará consumado, ainda que a vítima obtenha
lucro com o ato.
Tentativa: admite-se.
Ação penal: Pública incondicionada.
 OBS: abrangência da expressão devendo saber,
entendemos que trata-se de dolo.
Fraude no comércio: Art. 175
Art. 175. Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou
consumidor:
I – vendendo como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou
deteriorada;
II – entregando uma mercadoria por outra:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
QUALIFICADORA
§ 1º. Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de
metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por
outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de outra qualidade:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.
FIGURA PRIVILEGIADA => § 2º. É aplicável o disposto no artigo
155, § 2º.
 Sujeitos: a) ATIVO: comerciante ou comerciário (crime
próprio) para a maioria da doutrina. Divergência=> Segundo
Bento de Faria: “sujeito ativo pode ser todo aquele que
realize tais práticas no exercício de atividade comercial,
pouco importando seja ou não estabelecido, tenha ou não
licença, pague ou não impostos”. Posição minoritária
 b) passivo: qualquer pessoa desde que não indeterminada.
Nesse caso pode se configurar crime contra o consumidor
lei 8078/90.
 Tipo objetivo: A figura principal (caput) é iludir, de dupla
maneira: A primeira conduta típica é “vender” mercadoria
falsificada ou deteriorada como se fosse verdadeira ou
perfeita, ( a permuta ou doação não foram alcançadas pelo
tipo).
 Para parte da doutrina Hoje em dia seria difícil de imaginar
situação que não esteja revogada pelo art. 7º da Lei 8.078/90,
que trata dos crimes contra a relação de consumo. Não
pensamos assim.
 O inciso III do mencionado artigo, refere-se a hipóteses de
mercadoria falsificada ao punir com detenção, de dois a cinco
anos, ou multa “quem misturar gêneros e mercadorias de
espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como
puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades
desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço
estabelecido para os de mais alto custo” <= entendemos que
é preciso prudência na adoção desse posicionamento, pois
sempre pode haver uma aplicação residual do dispositivo
legal. Pode ser que o comerciante iluda alguém em apenas
um negócio.
 A segunda conduta prevista no tipo simples do
artigo 175 consiste em entregar uma mercadoria
por outra enganando o consumidor.

• Mercadoria: pode ser qualquer coisa móvel ou


semovente e apropriável que se negocie.

• Tratando-se de crime patrimonial é obvio que a


vítima deve sofrer prejuízo. (embora haja
discordância)
• FORMA QUALIFICADA
• O § 1º prevê a fraude no comércio de metais ou
pedras preciosas, com quatro figuras alternativas:
• a) alterar a qualidade ou peso de metal, em obra
encomendada;
• b) substituir pedra verdadeira por falsa ou de menor
valor, também em obra encomendada;
• c) vender pedra falsa por verdadeira;
• d) vender,como precioso,metal de outra qualidade.
Tipo subjetivo: Dolo genérico.
Não há forma culposa.
Admite-se a tentativa.
Consuma-se com a entrega pelo agente e
aceitação pela vítima.
Classificação: crime próprio quanto ao sujeito
ativo, doloso, material, de dano,
plurissubsistente, unissubjetivo, de ação simples,
de ação vinculada.
Outras fraudes: Art. 176
ART.176. Tomar refeição em restaurante, alojar-se em
hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois)
meses, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante
representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

PERG: SE AGENTE ENTRA CLANDESTINAMENTE NO


MEIO DE TRANSPORTE?
Sujeitos: a) ativo: qualquer pessoa;
b) passivo: quem presta o serviço.
Tipo objetivo: Três fraudes previstas:
a) tomar refeição em restaurante sem dispor de
recursos para efetuar o pagamento. =>
 Refeição inclui bebidas (há divergência)
 Restaurante é qualquer estabelecimento que
sirva refeições: bares, lanchonetes, pensões etc.
Em face da expressão: tomar refeição em
restaurante, fica fora do tipo, aquela
encomendada “para viagem”.
b) alojar-se em hotel, sem dispor de recursos para
efetuar o pagamento. Hotel com significação
ampla: hospedarias, motéis, pensões, etc.
c) utilizar-se de meio de transporte sem dispor de
recursos para efetuar o pagamento. Relaciona-se
com o transporte pessoal, em que não se exige
pagamento antecipado: táxis, ônibus etc.
Não haverá, portanto, a tipificação se esqueceu o
dinheiro em casa, ou não quiserem aceitar seu
cheque ou cartão de crédito ou ainda se tendo
recursos no momento, discordar da conta
apresentada, por conter erro.
Tipo subjetivo: dolo genérico. Não há forma
culposa. O estado de necessidade é excludente de
ilicitude.
Consuma-se com a efetiva tomada, alojamento ou
utilização.
Delito comum quanto ao sujeito, doloso, material,
de dano.
• Para alguns autores, havendo falsificação do bilhete
de passagem, o crime seria de estelionato ou
falsidade; e caso de transporte clandestino também
seria estelionato.

• Ação penal: Pública condicionada à representação


do ofendido.

• “Para configurar-se o crime, é necessário que o


agente faça a refeição sem ter dinheiro para pagá-
la; se tem recursos, mas não paga, o ilícito é só civil
e não penal”.
Fraudes e abusos na fundação ou administração de
sociedade por ações

Art. 177 Promover a fundação de sociedade por


ações, em prospecto ou em comunicação ao
público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a
constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa, se o fato não constitui crime contra a
economia popular. < subsidiariedade expressa.
 § 1º. Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
contra a economia popular: <= ATENÇÃO
 I – o DIRETOR, O GERENTE OU O FISCAL DE SOCIEDADE
POR AÇÕES que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou
comunicação ao público ou à assembléia, faz afirmação falsa
sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta
fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
 II – O DIRETOR, O GERENTE OU O FISCAL que promove, por
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da
sociedade;
 III – O DIRETOR OU O GERENTE que toma empréstimo à
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens
ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembléia geral;
IV – o diretor ou o gerente que compra ou vende,
por conta da sociedade, ações por ela emitidas,
salvo quando a lei o permite;

 V – o diretor ou o gerente que, como garantia de


crédito social, aceita em penhor ou em caução
ações da própria sociedade;

VI – o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,


em desacordo com este, ou mediante balanço
falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;
 VII – o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta
pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a
aprovação de conta ou parecer;
 VIII – o liquidante, nos casos dos nº I, II, III, IV, V e VII;
 IX – o representante da sociedade anônima estrangeira,
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos
mencionados nos nº I e II, ou dá falsa informação ao
Governo.

 § 2º. Incorre na pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2


(dois) anos, e multa, o acionista que, a fim de obter
vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas
deliberações de assembléia geral.
 PUNE INSTITUIDORES de sociedade anônima que divulguem
informações falsas ou ocultem fraudulentamente fatos
relevantes a ela relativos.
 PUNE QUEM PROMOVE, por qualquer artifício, falsa cotação das
ações ou de outros títulos da sociedade.
 PUNE QUEM TIRA PROVEITO INDEVIDO: quer cooptando
indevidamente ou enganando os sócios, quer tergiversando com
o patrimônio da empresa.
 PUNE ACIONISTA que negociar seu voto nas deliberações da
assembléia geral. Esta última figura perdeu importância
prática depois que o art. 118 da Lei nº 6.404/76 permitiu o
acordo de acionistas, inclusive quanto ao exercício do direito
de voto. Dessa forma, somente existe esta última modalidade de
infração penal se a negociação envolvendo o voto não estiver
revestida das formalidades legais ou contrariar texto de lei.
Damásio de Jesus entende que ‘o fato incide na
Lei de Economia Popular (Lei n. 1.521/1951), art.
3º, incs. VII a X) quando atinge um número
indeterminado de pessoas; caso em que a
sociedade por ações é organizada por subscrição
pública, apresentando-se com natureza popular;
aplica-se o Código Penal (art. 177) quando lesa
ou expõe a perigo de lesão uma pessoa ou um
número determinado e pequeno de pessoas.
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou “warrant”: Art. 178

Emitir conhecimento de depósito ou “warrant”,


em desacordo com disposição legal:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.
Warrant, palavra inglesa, significa em
português: fiança ou garantia.
São dois títulos de crédito, mas, com
finalidades diferentes.
• O endosso do conhecimento de depósito
transfere a propriedade da mercadoria
depositada e o endosso do warrant significa
que a mesma foi dada em garantia de um
empréstimo ou de alguma obrigação.

 Quem possui ambos os títulos tem a plena


propriedade da mercadoria em depósito no
armazém geral emitente.
Sujeitos:
a) Ativo: qualquer pessoa que emite em desacordo com
a lei;
b) passivo: portador ou endossatário que recebe o
título com ilegalidade.
 Tipo objetivo: Circulação desses títulos em desacordo
com disposição legal.
 Tipo subjetivo: O dolo, ou seja, a vontade livre e
consciente de emitir os títulos, ciente da sua
irregularidade. Inexiste forma culposa.
 Consumação: com a circulação dos títulos, sem
dependência de efetivo prejuízo. A tentativa é
admissível.
Classificação: Comum quanto ao agente, doloso,
formal e ou de perigo, unissubjetivo,
plurissubsistente.

Ação penal: pública incondicionada.


FRAUDE À EXECUÇÃO
Art. 179. Fraudar execução, alienando,
desviando, destruindo ou danificando bens, ou
simulando dívidas:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, ou multa.

Parágrafo único. Somente se procede mediante


queixa. < - ação penal privada
RAIZES
Há relatos que no império romano havia uma forma bem simples de
se forçar o devedor a honrar os seus débitos, permitindo que o
credor surpreendesse o devedor fora de casa com gritarias e
galhofas contra o credor lembrando a dívida não paga, pois um dos
bens mais preciosos para o romano era a reputação. O devedor
malicioso, para tentar se desvencilhar do constrangimento, fingia
desolação (deixava o cabelo crescer, vestia-se de luto).
Posteriormente o direito romano mudou, permitindo a execução
sobre os bens, desta forma o crime de fraude a execução tomou
configurações semelhantes a atual. As ordenações Filipinas
considerava aquele que fraudava a execução ocultando patrimônio
ou falseando o “livro razão” como ladrão público, punindo
severamente. As legislações atuais se dividem algumas consideram
fraude a execução como crime contra a administração da justiça e
há outras como a do Brasil que elenca entre os crimes contra o
patrimônio.
 Tipo objetivo: É imprescindível à tipificação que haja uma ação judicial
cobrando o agente. Fraudar a execução é frustrar a execução de
sentença judicial ou fundada em título executivo pré constituído, pela
inexistência provocada ou simulada de bens pela alienação, desvio,
destruição, danificação dos bens, ou, ainda, simulando dívidas.
 Parte da doutrina costuma apontar que a conduta somente se
enquadra neste tipo penal, quando o ato for configurado como fraude
de execução, conforme os termos do:
 artigo 393 do Código de Processo Civil: Considera-se em
fraude de execução a alienação ou oneração de bens:
 I – quando sobre eles pender ação fundada em direito real;
 II – quando ao tempo da alienação ou oneração, corria
contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência;
 III – nos demais casos expressos em lei.”
Tipo subjetivo: O dolo; (dolo específico)
 Consumação: No momento em que a execução torna-
se irrealizável pela alienação, desvio, destruição.
 Note que a doutrina defende que este crime se torna
factível, quando o agente toma conhecimento do
processo de execução.
Tentativa: Admite-se.
 Classificação: Delito próprio quanto ao sujeito,
doloso, material, de conduta e resultado.
 Ação penal: Privada (art. 179, parágrafo único)
processa-se mediante queixa do querelante
(credor/vítima) contra o querelado (devedor/agente).
Notas especiais
 A alienação de bens insuscetíveis de constrição judicial
não constitui fraude a execução.
 O depositário que aliena o bem não comete fraude a
execução, podendo incidir eventualmente em fraude
processual do art.347 CPB.
 No caso da dívida ser inexequível não há que se falar em
crime.
 Fraude contra credores (alienação de bens que causam
a insolvência do devedor). não é crime é ilícito civil.
 O devedor em execução de alimentos não comete fraude a
execução quando se coloca em insolvência, podendo ser
responsabilizado, em tese, por abandono material.
Crime de fraude processual
Fraude processual
        Art. 347 - Inovar artificiosamente, na
pendência de processo civil ou administrativo, o
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim
de induzir a erro o juiz ou o perito:
      Pena - detenção, de três meses a dois anos, e
multa.
    Parágrafo único - Se a inovação se destina a
produzir efeito em processo penal, ainda que não
iniciado, as penas aplicam-se em dobro.
Receptação
Art. 180. Adquirir, receber, transportar,
conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime,
ou influir para que terceiro, de boa fé, a
adquira, receba ou oculte:
 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e
multa.
Breves considerações históricas
• No código de Hamurabi quem fosse pego de posse de mercadoria
subtraída tinha a obrigação de apresentar o vendedor ao juiz sob
pena de ser considerado ladrão (punível com pena de morte). A lei
das XII tábuas determinava que se o dono da casa fosse
surpreendido com itens roubados dentro de sua casa deveria ser
preso por furto manifesto. Só no império Romano surgiu o “crimen
receptatorum” que surgiu a noção inicial de receptação, mesmo
assim o receptador era considerado um cúmplice do ladrão e
recebia as mesmas penas. Posteriormente o direito Germânico (lei
dos burgúndios), reconheceu certa autonomia a receptação, todavia
nas legislações de um modo geral prevalecia a ideia de
cumplicidade que só foi superada pela influência de Feuerbach, foi a
partir de então que o direito reconheceu que não pode haver
participação pós consumação.
 Receptação dolosa própria (art. 180, primeira parte).
Consiste na aquisição de coisa que o agente sabe ser
produto de crime, ou na prática de conduta equiparada
(receber, transportar, conduzir ou ocultar coisa que sabe
ser produto de crime). Comete o crime quem recebe coisa
que sabe ser furtada, em dação em pagamento.

 Consuma-se na receptação dolosa própria, com a


aquisição da coisa ou com a prática de conduta equiparada
no tipo. Cabe tentativa.
análise
• Adquirir é a obtenção da propriedade independe se a
aquisição foi onerosa ou se o preço pago seja irrisório
ou justo.
• Receber significa ingressar na posse do bem.
• Transportar consiste em levar um objeto de um local
para outro.
• Conduzir diz respeito à situação em que alguém dirige
um veículo, automotor ou não, para levá-lo a algum
outro local.
• Ocultar equivale a esconder o objeto material.
análise
• Cleber Masson aponta que A receptação é crime
acessório, de fusão ou parasitário, pois não tem
existência autônoma, reclamando a prática de um
delito (crime )anterior. <destaque nosso
• Questão controversa se refere a questão da isenção de
pena do autor da conduta anterior. Acreditamos que
doutrinariamente a melhor forma de se dirimir esta
questão é na compreensão que a receptação é um crime
acessório. Desta forma mesmo havendo extinção da
punibilidade do autor do crime de origem (salvo por
anistia ou abolitio criminis), poderá o receptador ser
responsabilizado criminalmente.
 Receptação dolosa imprópria (art.180, segunda parte
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,
receba ou oculte) Consiste em influenciar para que
terceiro de boa fé adquira, receba ou oculte a coisa.
destacando-se aqui a intermediação criminosa.
Consuma-se com a ação de influenciar, ou intermediar.

 – Receptação qualificada (art.180, § 1°). É a praticada


por comerciante ou industrial, mesmo irregular,
clandestino ou até exercido em residência (art.180, §
2°). Alcança o ramo de desmanche de veículos, com
outras formas próprias como ter em depósito,
desmontar, montar, vender e expor à venda etc.
• Receptação qualificada:
• § 1°. Adquirir, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de
qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser produto de
crime: Pena – reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
• § 2°. Equipara-se à atividade comercial, para
efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o
exercício em residência.
RECEPTAÇÃO CULPOSA
§ 3°. Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida
por meio criminoso: Pena – detenção, de 1 (um) mês a
1(um) ano, ou multa, ou ambas as penas.
§ 4°. A receptação é punível, ainda que desconhecido ou
isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
§ 5°. Na hipótese do § 3°, se o criminoso é primário,
pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-
se o disposto no § 2° do art. 155.
 – Receptação culposa (art. 180, § 3°). Ocorre quando
o agente adquire ou recebe coisa sem saber que se
trata de produto de crime, havendo, porém,
elementos que lhe permitiriam perceber esse fato,
pela natureza da coisa, pela desproporção entre o
valor e o preço ou pela condição de quem oferece.

 Na receptação culposa, se o agente é primário pode


(deve) o juiz conforme as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena – perdão judicial (art. 180, § 5°).
“Pratica ad exemplum” receptação culposa quem
adquire coisa de menor de idade, desconhecido,
pagando menos de 10% do valor da coisa”
 Forma privilegiada 1 § 5º - Na hipótese do § 3º, se o
criminoso é primário, pode o juiz, tendo em
consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a
pena.
 Forma privilegiada 2 Na receptação dolosa aplica-se o
disposto no § 2º do art. 155
 Majorante (doutrina dominante) § 6°. Tratando-se de
bens e instalações do patrimônio da União, Estado,
Município, empresa concessionária de serviços
públicos ou sociedade de economia mista, a pena
prevista no “caput” deste artigo aplica-se em dobro.
 Nova qualificadora: art. 18O-A receptação de abigeato.
Privilegiada (art. 180, § 5°) Aplica-se o
disposto no artigo 155, § 2° (primário e coisa
de pequeno valor).

Receptação agravada (art. 180, § 6°). Refere-


se à receptação dolosa própria quando se
tratar de bens da União, Estado ou Município e
outras entidades previstas no artigo 180, § 6°,
com o aumento do dobro da pena prevista no
caput –Reclusão, de 1 a 4 anos e multa.
Art. 181. É isento de pena quem comete
qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo: I – do cônjuge, na constância da
sociedade conjugal; II – de ascendente ou
descendente, seja o parentesco legítimo ou
ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182. Somente se procede mediante
representação, se o crime previsto neste título
é cometido em prejuízo: I – do cônjuge
desquitado ou judicialmente separado; II – de
irmão, legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou
sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois
artigos anteriores: I – Se o crime é de roubo
ou de extorsão, ou, em geral, quando haja
emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa; II – ao estranho que participa do
crime; III – se o crime é praticado contra
pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos.
BOA SEMANA

• DEUS SEJA LOUVADO!

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