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Ícaro Maia Chaim

mostra de artigos
(organizador)

CIÊNCIAS JURÍDICAS
na Amazônia Sul-Ocidental

EAC
Editor
Copyright © by autoras, 2023.
All rigths reserved.

Todos os direitos desta edição pertencem aos autores. Nenhuma


parte desse livro poderá ser reproduzida por qualquer
meio ou forma sem a autorização prévia do organizador pelo e-
mail <icarochaimadv@gmail.com>. A violação dos direitos auto-
rais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo art. 184
do Código Penal. As informações contidas em cada capítulo são
de inteira responsabilidade dos autores, bem como a adequação
ortográfica às normas gramaticais vigentes.

EDITOR GERAL,
CAPISTA E DIAGRAMADOR
Eduardo de Araújo Carneiro
eac.editor@ gmail.com

CONSELHO EDITORIAL DA OBRA


Dr. Eduardo de Araújo Carneiro
Dr. Elyson Ferreira de Souza
Esp. Arthur Braga de Souza
Esp. Williane Tibúrcio Facundes

C434c CHAIM, Ícaro Maia (Org.).


Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental: mostra de
artigos / Ícaro Maia Chaim (organizador). – 1. ed. – Rio
Branco: EAC Editor, 2023. 196 p.; il. 14,8x21 cm.
Tomo I; Vol.4 (E-book)
ISBN: 978-65-00-69186-3
1. Ciências Jurídicas; 2. Direito; 3. Amazônia ; I. Título.
CDD 340.07
SUMARIO

APRESENTAÇÃO 06
Williane Tibúrcio Facundes

1. DIREITO SISTÊMICO: A PSEUDOCIÊNCIA E 08


A APLICAÇÃO DAS PRÁTICAS NA SOLUÇÃO
DE CONFLITOS JUDICIAIS NA CONSTELAÇÃO
FAMILIAR
Vitor Machado de Oliveira e
Alynne Jandayra Eliamen da Costa

2. UMA ANÁLISE SOBRE A INEXISTÊNCIA DE 47


REGULAMENTAÇÃO DA LEI COMO MEIO DE
EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
DOS TELETRABALHADORES
Adriele Oliveira da Costa e
Ícaro Maia Chaim

3. DOS CRIMES CONTRA À FAUNA NO ORDENA- 84


MENTO JURÍDICO BRASILEIRO: A LEI DE
CRIMES AMBIENTAIS
Rebecca Maradey Hassem
Glauco Ferreira de Souza Ribeiro
4. FURTO EM ESTACIONAMENTO: UMA ANÁLISE 122
ACERCA DA RESPONSABILIDADE
Francisco Cordeiro do Nascimento
Ícaro Maia Chaim

5. A TERCEIRIZAÇÃO COMO FATOR DE 152


PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
Walisson Iris da Silva
Ícaro Maia Chaim
“Quem não luta pelos seus

direitos não é digno deles".

Rui Barbosa
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

APRESENTAÇÃO

A
presente obra reúne 05 (cinco) artigos de con-
cludentes do curso do direito do Centro Univer-
sitário Uninorte, sob a organização do profes-
sor especialista Ícaro Maia Chaim, tendo também a colabora-
ção do professor mestre Glauco Ferreira e da profª. Especia-
lista Alynne Jandayra Eliamen da Costa dos quais foram es-
critos em coautoria com o organizador e abordam relevantes
temas jurídicos, a saber.
Dentre os textos aqui presentes, aborda-se sobre os cri-
mes contra à fauna no ordenamento jurídico brasileiro: a lei de
crimes ambientais A ideia central deste trabalho é fazer uma
análise dos crimes ambientais no ordenamento brasileiro, em
especial dos crimes contra à fauna, uma vez que o meio am-
biente é considerado um direito fundamental para existência
humana desde a Constituição Federal de 1988.
Outra temática estudada é a análise sobre a inexistên-
cia de regulamentação da lei como meio de efetivação dos di-
reitos fundamentais dos teletrabalhadores. Em vista disso, o
texto destaca a insegurança jurídica no teletrabalho, dessa
forma, o artigo destaca a importância de se definir critérios cla-
ros para o teletrabalho, a fim de evitar ambiguidades e prote-
ger os direitos dos trabalhadores.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Segue tratando acerca da terceirização como fator de


precarização das relações de trabalho, tendo como um dos in-
tuitos principais desse tema é demonstrar para a sociedade
como um todo que é necessário nos atermos mais sobre os
direitos trabalhistas.
Prossegue abordando sobre furto em estacionamento
onde será feita uma análise acerca da responsabilidade jurí-
dica, advinda da relação entre o proprietário de um veículo e
um estacionamento que nem sempre está muito clara perante
os operadores do direito, uma vez que, em nosso ordena-
mento jurídico, não há lei impondo o dever de guarda, vigilân-
cia ou custódia no caso dos estacionamentos.
Trata-se de uma obra coletiva e plural, que debate te-
mas interessantes à sociedade e, sem esgotar os assuntos,
promove reflexões a respeito de situações vivenciadas diaria-
mente em nosso corpo social. Daí se extrai a sua relevância.

Profa. Williane Tibúrcio Facundes


Especialista em Psicopedagogia pela Universidade
Varzeagrandense (2004). Graduada em Letras/
Vernáculo pela Universidade Federal do Acre (2000)
e em Direito pela Faculdade da Amazônia Ocidental
FAAO (2010). É professora da UNINORTE (Ac).

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1
DIREITO SISTÊMICO: A PSEUDOCIÊNCIA E A APLICA-
ÇÃO DAS PRÁTICAS NA SOLUÇÃO DE CONFLITOS
JUDICIAIS NA CONSTELAÇÃO FAMILIAR

SYSTEMIC LAW: PSEUDOCIENCE AND THE APPLICA-


TION OF PRACTICES IN THE RESOLUTION OF JUDICIAL
CONFLICTS IN THE FAMILY CONSTELLATIONS

Vitor Machado de Oliveira1


Alynne Jandayra Eliamen da Costa2

OLIVEIRA, Vitor Machado de. Direito sistêmico: a pseudo-


ciência e a aplicação das práticas na solução de conflitos
judiciais na constelação familiar. Trabalho de Conclusão de
Curso de graduação em Direito – Centro Universitário UNI-
NORTE, Rio Branco, 2023.

1
Discente do 9º Período Curso de Bacharel em Direito pelo Centro Univer-
sitário UNINORTE.
2
Advogada, Docente do curso de Direito, pós graduada em Advocacia Tra-
balhista pela Universidade Anhanguera/SP, Pós Graduada em Ciências
Forense pela Uninorte/AC. Diretora-Geral Adjunta da Escola Superior da
Advocacia da OAB/AC.
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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O presente artigo possui como temática a análise acerca da


aplicação do Direito Sistêmico nas práticas de solução de con-
flitos judiciais na constelação familiar. Devido litígios perten-
cem inerentemente à sociedade, o Código de Processo Civil
de 2015, com o intuito de atender as necessidades das famí-
lias e dar maior celeridade nos procedimentos civis proporcio-
nou a extensão do ordenamento infraconstitucional, incluindo
recursos como da constelação familiar. Ocorre que recente-
mente o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recebeu denún-
cias – em sua maioria de mulheres, no qual as supostas víti-
mas alegam ter sofrido humilhações e revivendo traumas, de
modo que o método vem trazendo mais prejuízos do que be-
nefícios. Isso porque, durante as constelações familiares, as
partes precisam encontrar-se pessoalmente em busca de sa-
narem a problemática existente. Desta feita, objetivou-se com-
preender acerca da efetividade ou (in)efetividade da utilização
da prática de constelação familiar em conflitos judiciais, pos-
suindo como objetivo maior tecer esclarecimentos acerca da
temática, utilizando-se da metodologia de pesquisa bibliográ-
fica.

Palavras-Chaves: direito sistêmico; constelação familiar; so-


luções de conflitos.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

This article has as its theme the analysis of the application of


Systemic Law in the practices of judicial conflict resolution in
the family constellation. Due to litigation inherently belong to
society, the Civil Procedure Code of 2015, in order to meet the
needs of families and speed up civil procedures, provided the
extension of the infraconstitutional order, including resources
such as the family constellation. It so happens that recently the
National Council of Justice (CNJ) received complaints – mostly
from women, in which the alleged victims claim to have suf-
fered humiliation and reliving trauma, so the method has
brought more harm than good. This is because, during family
constellations, the parties need to meet in person in order to
solve the existing problem. This time, the objective was to un-
derstand about the effectiveness or (in)effectiveness of the use
of the practice of family constellation in judicial conflicts, with
the main objective of providing clarifications on the subject,
using the methodology of bibliographic research.

Keywords: systemic law; family constellation; conflict solu-


tions.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Tendo em vista que litígios pertencem inerentemente


à sociedade, o Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL,
2022a) surgiu da ideia de atender as necessidades das
famílias e dar maior celeridade nos procedimentos civis.
Logo, em sua decorrência proporcionou a extensão do
ordenamento infraconstitucional, focando na
democratização de soluções de conflitos por meios
alternativos visando alcançar uma advocacia mais justa,
efetiva e humanizada.
De acordo com a Secretaria de Atenção Primária à
Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), a
constelação familiar constitui as denominadas Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), de modo
que correspondem à recursos terapêuticos que visam
prevenir doenças e recuperar a saúde dos pacientes através
de uma escuta acolhedora, no qual se desenvolve um
vínculo terapêutico e integra-se o paciente com o meio
ambiente e a sociedade.
Ainda de acordo com a SAPS, a referida prática pode
ser encontrada em todos os pontos da Rede de Atenção à
Saúde, sendo que para que haja sua indicação precisa-se
considerar os aspectos psíquicos, físicos, emocionais e
sociais do paciente, estando elencada no Plano Nacional de
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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Práticas Integrativas Complementares (PNIC) do Sistema


Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2022b).
A prática da constelação familiar vem sendo
amplamente difundida entre os métodos de solução
harmônica de conflitos existentes no judiciário, em especial
nas que tramitam nas varas de família do país, pois uma
parte dos juristas acredita que esta é capaz de facilitar a
resolução das relações, de modo a alcançar a solução
harmônica entre as partes (STORCH, 2014).
Ocorre que recentemente o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) recebeu denúncias – em sua maioria de
mulheres, no qual as supostas vítimas alegam ter sofrido
humilhações e revivendo traumas, de modo que o método
vem trazendo mais prejuízos do que benefícios. Isso porque,
durante as constelações familiares, as partes precisam
encontrar-se pessoalmente em busca de sanarem a
problemática existente. Insta salientar que muitas mulheres
sofreram violência pelos seus companheiros, motivo pelo
qual pontuam ser tão prejudicial precisar estar cara-a-cara
com seu agressor (SCHUQUEL, 2021).
Nesse contexto, o presente estudo busca responder
a seguinte questão: aplicabilidade do direito sistêmico na
aplicabilidade da constelação familiar na legislação
brasileira vem sendo eficaz?

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Partindo dessa premissa, o tema foi desenvolvido


trazendo no primeiro capítulo do artigo o conceito do
princípio de acesso à justiça e os três métodos de resolução
de conflitos existentes no ordenamento brasileiro:
arbitragem, mediação e conciliação, trazendo conceitos
básicos, fundamentação jurídica e sua aplicabilidade. Desta
forma, no segundo capítulo é oportuno explicar o surgimento
da teoria das constelações familiares e como a mesma é
aplicada e guiada pelo constelador. E, por fim, no terceiro
capítulo, consiste na explicação do surgimento e aplicação
do método no Brasil, bem como as denúncias trazidas ao
Conselho Nacional de Justiça.
A aplicação da Constelação Familiar no ramo do
Direito pode gerar conflitos com os princípios e regras do
sistema jurídico brasileiro. O método pode ser considerado
inadequado para solucionar conflitos que exigem uma
análise jurídica e técnica detalhada, visto que pode gerar
riscos éticos e morais para os profissionais envolvidos,
especialmente se o método for utilizado de maneira
inadequada ou sem os cuidados necessários. Isso pode
levar a problemas como a violação do sigilo profissional (art.
154, CP), a falta de capacitação dos profissionais envolvidos
e a manipulação das dinâmicas familiares.
A Constelação Familiar envolve a exposição de

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

questões pessoais e familiares de maneira pública, o que


pode gerar constrangimento e humilhação para os
envolvidos. Além disso, a utilização de representantes para
atuar como membros da família pode levar a uma distorção
da realidade e à manipulação das dinâmicas familiares, o
que pode afetar negativamente a percepção do sujeito
passivo na parte do processo, visto que existe a
possibilidade de imparcialidade, como a Constelação
Familiar é baseada em uma abordagem terapêutica e
fenomenológica, a postura do facilitador pode ser
influenciada por suas próprias crenças e valores, o que pode
afetar a percepção do sujeito passivo na parte do processo
e comprometer a imparcialidade do processo.
Por fim, é importante destacar que existem outras
práticas e métodos mais adequados para solucionar
conflitos no ramo do Direito, que são baseados em
evidências científicas e que seguem os princípios e regras
do sistema jurídico brasileiro. Portanto, a utilização da
Constelação Familiar como solução de conflitos judiciais
deve ser avaliada com cuidado e crítica pela comunidade
científica e jurídica, ja que a aplicação da constelação
familiar pode comprometer a segurança jurídica e a
efetividade das decisões judiciais.
O estudo foi elaborado por meio da revisão das

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

bibliografias nacional e estrangeira, além da análise de


documentos legais. Devido a isso, o presente artigo torna-
se tão importante para que haja o debate acerca da
efetividade ou (in)efetividade da utilização da prática de
constelação familiar em conflitos judiciais, possuindo como
objetivo maior tecer esclarecimentos acerca da temática.

1.1 DO ACESSO À JUSTIÇA E OS MEIOS ADEQUADOS DE


RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIREITO BRASILEIRO

1.1.1 DO PRINCÍPIO DE ACESSO À JUSTIÇA

Acesso à Justiça é uma garantia constitucional que


assegura de um lado a igualdade de acesso às pessoas
para reivindicar seus direitos e solucionar seus litígios; e, por
outro que as soluções dentro da esfera individual e social
sejam justas. Nesse sentido, Cappelletti e Garth (1998, p.
182) elucidam que:

As palavras "acesso à justiça",


reconhecidamente, não são facilmente
definidas, mas servem para se concentrar em
dois propósitos básicos do sistema legal - o
sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar
seus direitos e/ou resolver suas disputas sob os
auspícios gerais do Estado.

15 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Tal previsão existe no mundo jurídico porque por um


longo período o judiciário só acessível por pessoas que
detivessem de poder econômico para bancar os altos custos
processuais. Foi então, por meio da Constituição de 1946
(BRASIL, 2022b), que ficou assentado o princípio que
assegura a possibilidade de acesso amplo ao Poder
Judiciário (OLIVEIRA, 2021).
A Constituição Federativa de 1988 (BRASIL, 2022c),
por sua vez, traz no artigo 5º, XXXV, que: a lei não excluirá
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Essa garantia, por desdobramento, visa proteger os demais
princípios, vez que é o poder judiciário o último a se
pronunciar sobre lesões ou ameaças aos mandados ali
postos. Pinho e Stancati (2016, p.03) trazem ainda quatro
dados elementares que julgam como viés aplicável ao direito
de acesso à Justiça, senão vejamos:

(a) o direito à informação e perfeito


conhecimento do direito substancial e à
organização de pesquisa permanente, a cargo
de especialistas e orientada à aferição
constante da adequação entre a ordem jurídica
e a realidade socioeconômica do País; (b)
direito de acesso à Justiça adequadamente
organizada e formada por juízes inseridos na
realidade social e comprometidos com o
objetivo de realização da ordem jurídica justa;
(c) direito à preordenação dos instrumentos
processuais capazes de promover a efetiva
tutela de direitos; (d) direito à remoção de todos
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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

os obstáculos que se anteponham ao acesso


efetivo à Justiça com tais características.

Esse é um princípio sobre o qual está assentado o


Estado de Direito, pois “de nada adiantariam leis
regularmente votadas pelos representantes populares se,
em sua aplicação, fossem elas desrespeitadas, sem que
qualquer órgão estivesse legitimado a exercer o controle de
sua observância”. (TAVARES, 2017, p. 22).
Ainda, de acordo com Sadek (2014, p. 57), o direito
de acesso à Justiça “implica a possibilidade de que todos,
sem distinção, possam recorrer à justiça, e tem como
consequência atuar no sentido de construir uma sociedade
mais igualitária e republicana”, envolvendo diversas
instituições estatais e não estatais, de modo a traçar
mecanismos voltados à plena execução e garantia dos
direitos dos cidadãos brasileiros.

Com efeito, o acesso à Justiça é um princípio


essencial ao funcionamento do Estado de
direito. Isso porque um Estado que se organiza
sob esse postulado deve assegurar, em todas
as suas funções, isonomia substancial aos
cidadãos. No campo da jurisdição, esse dever
de igualdade se demonstra, exatamente, pela
garantia de acesso à Justiça. (PINHO;
STANCATI, 2016, p. 02).

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É função do Poder Judiciário as decisões que versem


acerca de lesões ou ameaças ao direito. Assim, o acesso à
justiça pode ser feito através do poder judiciário que
administra o conflito e impõe uma decisão, ou,
alternativamente, por meio de decisões negociadas em
solução pacífica da controvérsia (OLIVEIRA, 2021).

Desta maneira, o princípio de acesso à Justiça se


perfaz de forma fundamental, vez que sem que este exista,
coloca em risco todos os demais direitos a ele interligado e
quaisquer formas de ameaças a sua plena garantia impõe
sérios danos aos preceitos da igualdade e da prevalência da
lei.

1.1.2 DOS MEIOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE


CONFLITOS NO DIREITO BRASILEIRO

Três são os métodos alternativos de resolução de con-


flitos existente no ordenamento jurídico brasileiro: a mediação,
a conciliação e a arbitragem. Desta forma, de modo a tornar
claro a diferenciação entre os métodos, o presente capítulo
visa elucidar as principais características destas.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.1.2.1 Conciliação

O Código de Processo Civil (BRASIL, 2022a) trouxe o


conceito de conciliação através de seu artigo 165, parágrafo
2º, conforme colacionado in verbis:

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários


de solução consensual de conflitos, responsá-
veis pela realização de sessões e audiências de
conciliação e mediação e pelo desenvolvimento
de programas destinados a auxiliar, orientar e es-
timular a autocomposição.
[...]
§ 2º O conciliador, que atuará preferencialmente
nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes, poderá sugerir soluções para o
litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo
de constrangimento ou intimidação para que as
partes conciliem.

Desta maneira, a conciliação é o método utilizado para


resolver conflitos em que não haja vínculo preexistente entre
as partes, de modo a buscar a conciliação entre elas, proibindo
qualquer forma de constrangimento ou de intimidação entre os
envolvidos.
O principal intuito do Código de Processo Civil de 2015
(BRASIL, 2022a), ao incluir e instigar a pacificação entre as
partes processuais, para que estas encontrem uma solução

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

consensual para seus conflitos por meio da conciliação foi fa-


cilitar as grandes demandas existentes nos Tribunais de todo
o país por meio de audiências singulares antecipadas.
Para que tais audiências de conciliação aconteçam,
existem profissionais que são instruídos e contratados pelos
próprios tribunais, para que estes incentivem as partes proces-
suais, no ato de uma audiência própria, para discutirem acerca
da possibilidade de se resolver o litígio por meio de uma com-
posição que seja vantajosa para ambas as partes.
O Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2021d) de-
fine a conciliação como uma negociação preliminar que acon-
tece com a ajuda de um terceiro imparcial, neste caso a figura
do conciliador, de modo a auxiliar o diálogo entre as partes e,
caso ache necessário, poderá trazer sugestões para que a so-
lução para a problemática.

1.1.2.2 Arbitragem

O processo de arbitragem teve início há mais de quinze


anos no âmbito jurídico brasileiro, podendo ser aplicada às
questões que envolvem direitos patrimoniais, ou seja, tudo
aquilo que puder ser litígio de negócios e transações. Tal
forma de solução de conflitos foi implantada por meio da Lei

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

9.307/96 (BRASIL, 2021e), conhecida como Lei de Arbitra-


gem, tendo sido consolidada constitucionalmente pelo Su-
premo Tribunal Federal no ano de 2001.
No ano de 2015 houveram duas grandes modificações
importantes para a referida lei, primeiro por conta da Reforma
da Lei de Arbitragem e, posteriormente, com a promulgação
do Código de Processo Civil (BRASIL, 2022a), conforme pre-
leciona Mengatti (2020, p. 15):

[...] a reforma da Lei de Arbitragem, trouxe impor-


tantes inovações a começar pela autorização
para submissão de conflitos envolvendo a Admi-
nistração Pública ao processo arbitral. Ainda,
previu-se a carta arbitral, que consiste em um
procedimento específico de cooperação entre a
jurisdição arbitral e estatal, garantindo a confi-
dencialidade e a cooperação do Poder Judiciário.

A Arbitragem corresponde a um mecanismo de resolu-


ção de conflitos que percorre o Poder Judiciário sem qualquer
interferência do Estados. Têm como essência principal a auto-
nomia privada e poder de decisão, onde o Estado não pode
interferir de nenhuma maneira no objeto que está sendo dis-
cutido entre as partes, devendo tão somente dar efetividade
ao que for escolhido (MENGATTI, 2020).
O árbitro deve ser escolhido em comum acordo entre
as partes, possuindo pleno e livre exercício. Ato contínuo, as

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

partes decidem qual será o procedimento adotado, em obedi-


ência ao caput do artigo 21 da Lei de Arbitragem (BRASIL,
2022e).
A arbitragem é um método de resolução de con-
flitos, no qual as partes definem que uma pessoa
ou uma entidade privada irá solucionar a contro-
vérsia apresentada pelas partes, sem a participa-
ção do Poder Judiciário. Caracterizada pela in-
formalidade, embora com um procedimento es-
crito e com regras definidas por órgãos arbitrais
e/ou pelas partes, a arbitragem costuma oferecer
decisões especializadas. (PODER JUDICIÁRIO
DE MATO GROSSO, 2021).

Insta mencionar que a sentença arbitral é irrecorrível,


ou seja, o que o árbitro decidir não poderá sofrer nenhum tipo
de contestação, sendo tal ato prescindir de homologação judi-
cial. Tal ato gera ainda o efeito vinculante entre as partes, de
modo a afastar a possibilidade de que o Poder Judiciário trate
a mesma questão de mérito novamente, seja via recursal, seja
por ação judicial. Percebe-se, portanto, que a sentença arbitral
faz coisa julgada material (MORAIS; SPENGLER, 2008).

1.1.2.3 Mediação

A mediação é um instrumento eficaz para que haja a


diminuição da ocorrência da Alienação Parental, mesmo que

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

no momento não seja possível acabar com todo o conflito fa-


miliar. Tal procedimento visa uma harmonização, aproximação
e um ambiente saudável na família e na vida da vítima alie-
nada, gerando resultados positivos e satisfatórios para ambas
as partes (SPENGLER, 2016).
O Código de Processo Civil (BRASIL, 2022a), por meio
de seu artigo 165, § 3º, aponta quais as funções e a atuação
do mediador, façamos a leitura:

§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente


nos casos em que houver vínculo anterior entre
as partes, auxiliará aos interessados a compre-
ender as questões e os interesses em conflito, de
modo que eles possam, pelo restabelecimento
da comunicação, identificar, por si próprios, solu-
ções consensuais que gerem benefícios mútuos.

Com o intuito de alcançar um acordo que obtenha con-


tentamento para as partes envolvidas em um conflito, a medi-
ação é um método de suma importância para a resolução de
uma problemática, onde uma terceira pessoa imparcial é utili-
zada como instrumento para resolver uma situação conflitu-
osa, que é o mediador. Segundo Bolzan de Morais e Fabiana
Spengler (2016, p. 35):

[...] a mediação é um método alternativo que não


há adversários, apenas consiste na intermedia-

23 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ção de uma pessoa distinta das partes, que atu-


ará na condição de mediador, favorecendo o di-
álogo direto e pessoal. O mediador facilita a co-
municação sem induzir as partes ao acordo, e
quando este existe, apresenta-se total satisfação
dos mediados.

A mediação é uma forma de resolver conflitos, diferente


das demais, pois nesse método as partes têm total controle
sobre todas as fases do processo meditativo, até o resultado
final. Sua duração vai depender do tipo do conflito e de sua
complexidade (MENGATTI, 2020). Conceitualmente, o estudo
doutrinário é bem amplo, legal e principiológico sobre o tema.
Para Neves (2016, p. 06), a mediação: “é uma forma alterna-
tiva de solução de conflitos fundada no exercício da vontade
das partes, o que é suficiente para ser considerada espécie de
forma consensual do conflito, mas não deve ser confundida
com a autocomposição”.
O processo inicia-se com a pré-mediação, onde o me-
diador explica detalhadamente aos mediados, o significado da
mediação, avalia o caso que o trouxeram a mediação, explica
suas etapas e se as partes têm vontade própria de participa-
rem do processo. Em caso de ambas as partes tiverem a
mesma vontade, a solução final de um processo pode ter sen-
tença, se caso seja homologada por um juiz, podendo ter tam-
bém um contrato jurídico de valor legal (MENGATTI, 2020).

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Para que a mediação de certo, depende do mediador e


da sua postura neutra e imparcial, para dar seguimento à me-
diação de forma coerente e correta, buscando sempre o diá-
logo e no final o entendimento entre as partes, para que no
encerramento das sessões, o método da mediação seja con-
siderado aceitável.
Em sua sessão o mediador não poderá permitir nenhum
tipo de influência de fora e muito menos ofensas. Também
será inaceitável decisões que não sejam ligadas ao direito. O
profissional da mediação é devidamente treinado e terá sem-
pre prioridade a ética da sua profissão e aos bons costumes,
agindo de forma parcial e flexível. Ouvir atentamente as partes
com paciência e ter a capacidade de reparar as situações que
não são esperadas. De acordo com Roberto Portugal Bacellar
(2012, p. 22):

Saber escutar com atenção é muito importante.


O mediador deve ter cautela para não intervir
sem necessidade. Quando a comunicação for
restabelecida, a participação do mediador deve
apenas orientar o espaço dialógico, ressaltando
os pontos convergentes que resultarem da con-
versa (BARCELAR, 2012, p.22).

É importante salientar que os mediadores não são juí-


zes e nem árbitros, pois não estabelecem decisões, o papel

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

deles é auxiliar as partes a encontrarem uma solução satisfa-


tória para a problemática. É necessário que o mediador tenha
conhecimento do direito material e do caso concreto que está
mediando, para poder analisar cada caso com segurança e
habilidades pessoais que se associam ao trabalhador que está
sendo analisado (SPENGLER, 2016).
O processo da mediação é feito, de início com informa-
ções acerca da família e a conflitualidade existente entre eles,
envolvendo assim os aspectos emocionais, psicológicos, psi-
canalíticos e sociais da criança ou adolescente, lembrando
também do contexto jurídico, legal e de valores, que atinge o
que tem de mais precioso, o ser humano em sua concepção,
acertando crianças e adolescentes, onde os direitos são prio-
ridades, especialmente em assunto constitucional (NEVES,
2016).

1.2 ASPECTOS PRIMORDIAIS ACERCA DA CONSTELA-


ÇÃO SISTÊMICA FAMILIAR

Bert Hellinger nasceu na Alemanha, no ano de 1925,


tendo exercido o papel de padre durante mais de vinte anos.
Durante este período, foi missionário na África do Sul, ocasião

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em que conviveu com os povos da tribo Zulus, o que proporci-


onou a ele grandiosas experiências ligadas, principalmente, a
simplicidade da vida e a essência de hábitos (ONUKI, 2019).
Ao retornar para a Alemanha, Bert abandonou a batina,
casou-se e deu início à sua formação acadêmica em psicaná-
lise. Foi durante os anos 80 em que, considerando toda a ex-
periência que adquiriu com os anos de estudos e vivências,
que resolveu desenvolver seu próprio método terapêutico, de-
nominado Constelação Sistêmica Familiar (SILVA, 2021).
De acordo com Lopes e Costa (2018), a expressão
constelação familiar tem origem da palavra alemã familie-
naufstellung, cuja tradução literal significa “Colocação Fami-
liar”, sendo utilizado o termo Constelação Familiar no Brasil.
Acerca da referida terapia, Onuki (2019) elenca que se trata
da consciência da alma familiar, senão vejamos:

Em poucas palavras, Constelação Familiar é: a


consciência da alma familiar. A constelação traz
consciência e um novo olhar para as relações. É
cortina que se abre para que possamos enxergar
o que sempre esteve ali, mas o que não estáva-
mos conseguindo ver com clareza.

Desta forma, em atenção ao que é defendido por Bart,


o método em comento busca na família e na ancestralidade o
cerne da problemática que há de ser solucionada. Ou seja,

27 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

têm-se a crença de que as gerações passadas influenciam di-


retamente o ser humano e, por conta disso, devem ser traba-
lhadas.
Storch (2017) ressalta tal método objetiva compreender
o problema, buscando novas possibilidades para resolver es-
ses conflitos sistêmicos de equilíbrio. Para isso, todos são con-
siderados parte do sistema maior, como um grupo conectado
de pessoas, cada membro exercendo influência sobre outros.

Em que pese algumas pessoas considerarem as


constelações familiares um ritual, esse conceito
não corresponde efetivamente a prática desen-
volvida através das constelações. Para Hellinger,
o trabalho com constelações corresponde a um
método, isso porque existe uma sequência que
sempre se repete, através de um grande círculo,
composto por pessoas (no caso, o cliente e/ou as
pessoas que estão representando seus entes
queridos), onde o terapeuta (aplicador do mé-
todo) fará perguntas sobre a família do indivíduo
que estiver constelando, após as indagações, o
cliente “coloca” (posiciona as pessoas) a conste-
lação familiar, a partir disso, o terapeuta interroga
os representantes, os muda de lugar e, depen-
dendo das circunstâncias e da energia do
campo, são formuladas frases libertadoras para
que o cliente possa se libertar. (SILVA, 2022, p.
18).

Em outro diapasão, o direito sistêmico trata as partes


em conflito como membros de um mesmo sistema, ao mesmo

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tempo em que considera cada uma delas vinculada a outros


(família, categoria profissional, raça, religião etc.), no qual pro-
cura encontrar uma solução (STORCH, 2017).
Para tanto, o indivíduo passa por uma análise, havendo
de falar acerca de suas relações e sistemas subjetivos, que
podem ser “as relações familiares, seu ambiente de trabalho,
os laços de amizade e relacionamentos” (SANTANA, SAN-
TOS, 2020, p. 1355).
Ainda, de acordo com Schneider (2007, p. 15) o tera-
peuta solicita que o cliente dê estas informações sobre suas
relações visando “seu “peso anímico” e saber com que perso-
nagens poderá começar a constelação. Quanto menos soube-
rem os representantes, tanto mais convincente será para o cli-
ente o saber que partilharem na constelação”.
Souza (2018) elucida que o facilitador que irá atuar
como constelador é tido como crucial para que as memórias
que o indivíduo possui sejam afloradas, de modo que se trata
de um modelo atemporal, onde vivos e não vivos possuem o
mesmo grau de importância. Ainda, segundo o autor, a princi-
pal influência advém da Teoria dos Campos Morfolgenétivos
do biólogo Rupert Sheldrake, que se aprofundou na temática.
Santana e Santos (2020, p. 1356) pontuam que durante
a sessão de constelação podem ser apresentados “os maios
diversos conflitos, sejam eles pessoais, ou entre mais de uma

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pessoa. Conforme apresentado anteriormente, até mesmo a


perda de alguém que se ama pode ser objeto de análise”.
Após isso, o constelador solicita que os representantes
relatem quais são os sentimentos e percepções que estão
tendo, bem como seus impulsos, abrangendo questões volta-
das à autoestima, insatisfação com a carreira ou a falta dela,
ansiedade, depressão, etc., de modo a buscar que os conflitos
sejam resolvidos (SANTANA; SANTOS, 2020).
Para tanto, as partes que estão envolvidas no processo
recebem o convite do conciliador para que participem da ses-
são, nos moldes tradicionais da conciliação, porém, durante
seu decorrer, estas passam a ser envolvidas pelas técnicas
das constelações familiares, de modo a passar a ter novas vi-
sões, mais aprofundadas e desenvolvidas, de modo a buscar
que haja a consolidação do acordo em audiência (BERTASI;
FERREIRA, 2019, p. 06).
Apesar dos fundamentos e da possibilidade de contri-
buir com os resultados das sessões de conciliação, deve-se
ter atenção em sua aplicação no âmbito jurídico, vez que trata
de relacionamentos interpessoais e questões não resolvidas,
podendo influenciar significativamente na vida dos envolvidos.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.3 DA PRÁTICA DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES NO


ÂMBITO JURÍDICO BRASILEIRO

No Brasil, a expressão “Direito Sistêmico” foi trazida por


Sami Storch, Juiz de Direito do Tribunal de Justiça da Bahia,
no qual associou o direito e a psicologia, usando como base a
Teoria das Constelações Sistêmicas Familiares. Sabe-se que
os conflitos tratados nas varas de família possuem origem in-
terpessoal, de modo que Sami Storch (2017) utiliza-se do mé-
todo das constelações familiares desenvolvido por Bert, de
modo a trazer para o mundo jurídico uma nova sistemática.
Foi por meio desta utilização que se formou o direito sistêmico,
onde, nas palavras do doutrinador:

A expressão “direito sistêmico”, no contexto aqui


abordado, surgiu da análise do direito sob uma
ótica baseada nas ordens superiores que regem
as relações humanas, segundo a ciência das
constelações familiares sistêmicas desenvolvida
pelo terapeuta e filósofo alemão Bert Hellinger
(STORCH, 2010).

Storch é magistrado no estado da Bahia, tendo cursado


diversos treinamentos voltados para a prática de Constela-
ções Sistêmicas Familiares, tendo coordenado e lecionado o
“Curso de Pós-graduação Hellingerschule de Direito Sistê-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mico” pela Faculdade Innovare. No ano de 2012, passou a in-


troduzir o referido método no judiciário, sendo um multiplicador
deste em diversas comarcas brasileiras (STORCH, 2010).

[...] A intenção da utilização da técnica criada


pelo psicólogo alemão Bert Hellinger no Judiciá-
rio é buscar esclarecer para as partes o que há
por trás do conflito que gerou o processo judicial.
Os conflitos levados para uma sessão de cons-
telação, em geral, versam sobre questões de ori-
gem familiar, como violência doméstica, endivi-
damento, guarda de filhos, divórcios litigiosos, in-
ventário, adoção e abandono. Um terapeuta es-
pecializado comanda a sessão de constelação
(BANDEIRA, 2016, p. 29).

Passados alguns períodos, o magistrado passou a in-


troduzir a técnica das constelações familiares em crianças e
adolescentes, na Vara Criminal de Infância e Juventude da ci-
dade de Amargosa no Estado da Bahia, ocasião que tratava
de dilemas familiares, afastando-se da questão infracional
(LOPES; COSTA, 2017).
Storch destacou que um jovem que está diante de tor-
mentas e problemáticas que envolvem a família pode passar
a ter atitudes violentas e ficar propício a ter atos agressivos
com outras pessoas, de modo que defende que não basta tão
somente prender o menor problemático, pois, caso este tenha

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filhos, seus dilemas pessoais serão transmitidos de forma fácil


aos seus filhos (BANDEIRA, 2016).

A Constelação Familiar se difere das demais téc-


nicas tradicionais previstas no ordenamento jurí-
dico, porque nela se procura a cura real do parti-
cipante. E, desde o momento em que este mé-
todo foi introduzido e esta sendo aplicada no
país, sua repercussão está sendo considerado
não somente como adequado, mas ideal no ce-
nário atual (BERTASI; FERREIRA, 2019, p. 07).

Isso demonstra que ao aplicar a Constelação Familiar


no âmbito jurídico brasileiro, Storch buscou tornar o processo
mais humano e sintonizado com a necessidade de mudança
da sociedade, sendo este algo inovador e moderno para o
atual momento jurídico (STORCH, 2017).
Porém, de acordo com Santana e Santos (2021), os re-
sultados não aconteceram de forma homogênea no Brasil, vez
que cada estado, município e comarca estão obtendo resulta-
dos diferentes, devido ao tempo e dedicação dos profissionais
da área jurídica, a cultura local que deve estar aberta para mu-
danças e suscetíveis a realização de acordos, que é o foco
principal da utilização das Constelações Familiares.
Nessa vertente, o Estado do Mato Grosso é um dos pi-
oneiros e que mais abraçou o movimento, tendo a juíza da a

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3ª Vara Especializada de Família de Várzea Grande, Jaque-


line Cherulli a responsável por trazer a incorporação das cons-
telações familiares no Judiciário do Estado visando atuar como
alternativa eficaz na resolução dos litígios que envolvem famí-
lia (LOPES; COSTA, 2018).
Importante frisar que a Constelação Familiar está pre-
vista no Sistema Único de Saúde (SUS), através da Portaria
nº 702 de março de 2018 (BRASIL, 2022f), do Ministério da
Saúde, vejamos:

Desenvolvida nos anos 80 pelo psicoterapeuta


alemão Bert Hellinger, que defende a existência
de um inconsciente familiar-além do inconsciente
individual e do inconsciente coletivo -atuando em
cada membro de uma família. Hellinger deno-
mina “ordens do amor” as leis básicas do relaci-
onamento humano -a do pertencimento ou vín-
culo, a da ordem de chegada ou hierarquia, e a
do equilíbrio -que atuam ao mesmo tempo, onde
houver pessoas convivendo. Segundo Hellinger,
as ações realizadas em consonância com essas
leis favorecem que a vida flua de modo equili-
brado e harmônico; quando transgredidas, oca-
sionam perda da saúde, da vitalidade, da realiza-
ção, dos bons relacionamentos, com decorrente
fracasso nos objetivos de vida. A constelação fa-
miliar é uma abordagem capaz de mostrar com
simplicidade, profundidade e praticidade onde
está a raiz, a origem, de um distúrbio de relacio-
namento, psicológico, psiquiátrico, financeiro e
físico, levando o indivíduo a um outro nível de

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consciência em relação ao problema e mos-


trando uma solução prática e amorosa de perten-
cimento, respeito e equilíbrio. A constelação fa-
miliar é indicada para todas as idades, classes
sociais, e sem qualquer vínculo ou abordagem
religiosa, podendo ser indicada para qualquer
pessoa doente, em qualquer nível e qualquer
idade, como por exemplo, bebês doentes são
constelados através dos pais.

A Portaria supracitada tem como viés a identificação da


raiz de qualquer problema de cunho emocional, físico, de dis-
túrbio de relacionamento, psiquiátrico, psicológico e até
mesmo psicológico, visando evitar a negligência ao ser reali-
zado o atendimento da saúde (BANDEIRA, 2016).
Ocorre que inexiste regulamentação específica para
que este método seja praticado, tampouco comprovações de
que um jurista possui competência para assumir a posição de
constelador – indivíduo responsável por ser o direcionador do
método (SILVA, 2022). Ainda de acordo com a autora, a prá-
tica vem sendo integrada em mais de 14 estados do Brasil,
onde, de acordo com dados fornecidos pelo Conselho Nacio-
nal de Justiça, a utilização do método vem se expandindo ra-
pidamente nas comarcas.
Ora, se não há regulamentação específica para que
este método seja praticado, tampouco comprovação científica
de sua eficácia, havendo ainda denúncias de sua má utilização

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

nos tribunais do país, por que ainda há destinação de verbas


públicas para este fim?
Ainda, no ano de 2021, o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) recebeu denúncias – em sua maioria de mulheres, no
qual as supostas vítimas alegam ter sofrido humilhações e re-
vivendo traumas, de modo que o método vem trazendo mais
prejuízos do que benefícios. Isso porque, durante as constela-
ções familiares, as partes precisam encontrar-se pessoal-
mente em busca de sanarem a problemática existente. Insta
salientar que muitas mulheres sofreram violência pelos seus
companheiros, motivo pelo qual pontuam ser tão prejudicial
precisar estar cara-a-cara com seu agressor (SCHUQUEL,
2021).

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Se-


nado Federal promoveu na data de 24 de março
de 2022, uma audiência pública para debater as
práticas da Constelação Familiar e a denomi-
nada “cura sistêmica”, bem como a sua adoção
como política pública, tanto no contexto do Sis-
tema Único de Saúde (SUS), quanto no Judiciá-
rio. Essa audiência foi convocada pelo senador
Eduardo Girão (Podemos/CE). Uma audiência
pública que, peremptoriamente, deveria ter sido
um palco institucional para legitimar e dar credi-
bilidade à “Constelação Familiar Sistêmica” (RI-
BEIRO; NASCIMENTO, 2022, p. 1192).

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Nota Técnica CRP-PR - 003/2022 é um documento


emitido pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná que
trata da utilização da técnica da Constelação Familiar no con-
texto da atuação de psicólogos e psicólogas.
De acordo com a nota, a Constelação Familiar é uma
técnica que se apresenta como uma alternativa para a com-
preensão e solução de conflitos familiares, porém, carece de
fundamentação científica e de validação empírica para ser
considerada uma prática terapêutica. Além disso, a nota des-
taca que a técnica da Constelação Familiar pode apresentar
riscos éticos e morais para as pessoas atendidas, pois pode
levar a interpretações equivocadas, culpabilização indevida de
pessoas envolvidas e até mesmo à revitimização.
A nota técnica também aponta para a necessidade de
os profissionais da Psicologia adotarem práticas baseadas em
evidências científicas e em consonância com as diretrizes éti-
cas e técnicas da profissão, e de se absterem de utilizar práti-
cas que não tenham validação científica, como é o caso da
Constelação Familiar.
Dessa forma, a nota técnica do CRP-PR reforça a im-
portância de os profissionais da Psicologia se pautarem por
critérios éticos e científicos em suas práticas, visando sempre
à promoção da saúde mental e ao bem-estar das pessoas
atendidas.

37 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ato contínuo, no dia 24 de março de 2022, a Comissão


de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal promoveu uma
audiência pública visando o debate da utilização das conste-
lações familiares e sua adoção no SUS e no judiciário. Na oca-
sião, foram convidados como praticantes Sophie Hellinger – a
viúva de Bert Hellinger, Renato Shaan – presidente do Instituto
Brasileiro de Constelação Familiar (IBCF), Inácio Junqueira –
diretor da Faculdade Innovare, Daniela Migliari – jornalista e,
por fim, Sami Storch – magistrado do TJBA. Noutra senda,
teve como críticos à prática Marcelo Yamashita – diretor cien-
tífico do IQC, Tiago Tatton – psicólogo e diretor científico da
Iniciativa Mindfulness no Brasil e Daniel Gontijo – psicólogo
fundador da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em
Evidências. (BRASIL, 2022g).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve por intuito realizar um estudo


acerca do método da constelação familiar e sua aplicação
como um meio alternativo nas soluções de conflito no Direito
de Família, apresentando aspectos necessários para se
utilizar o método nos Tribunais. Nesse sentido, foi
necessário abordar as questões familiares na sociedade
brasileira, e como as divergências deste assunto chega até
38 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o judiciário. Pois, diante da situação atual de


congestionamento processual, o poder judiciário juntamente
com a sociedade tem percorrido ao encontro destas técnicas
de ação, para resolverem o problema de uma maneira
rápida e eficaz.
O método da constelação familiar, como
demonstrado neste artigo, pode ser utilizado para auxiliar
pessoas a identificar a origem do problema e a partir disso
solucionar o conflito apresentado, chegando a um possível
acordo.
Existem três técnicas de resolução de conflitos
aplicadas atualmente no sistema jurídico brasileiro:
mediação, arbitragem e conciliação. Uma das técnicas que
vem obtendo um crescimento satisfatório no país é a
arbitragem, que tem como principal fundamento a vontade
das partes.
Há também a conciliação e a mediação, que são
métodos voluntários de solução de disputa, nos quais uma
terceira pessoa conduz a negociação de maneira neutra,
sem o poder de decisão. O objetivo da mediação é que as
partes fiquem em paz entre si. O mediador tem o papel de
ajudar na comunicação, não propõe soluções, mas sim,
neutraliza emoções.
Todavia, cautela há de ser levada em consideração,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

com o incremento da prática chamada de “constelação


familiar sistêmica”. É um método sem comprovação
científica para resolução de conflitos. Uma prática que pode
gerar danos psicológicos de difícil reparação ou irreparáveis.
É uma prática cuja amplitude das repercussões emocionais
negativas não se conhece, porque não testada
cientificamente.
Após análise desses meios, do surgimento do Direito
Sistêmico, e, principalmente, das Constelações Familiares e
sua aplicabilidade para o tratamento de conflitos, restou
demonstrado que sua utilização está crescendo cada vez
mais nos tribunais brasileiros, proporcionando um elevado
índice de acordo para os litígios, principalmente, no âmbito
do Direito de Família.
A utilização da constelação familiar no processo
judicial pode ter algumas consequências negativas no
desenvolvimento do processo, especialmente quando se
trata de questões de família. Embora a abordagem possa
ser considerada mais "humanizada" por alguns, ela é
baseada em teorias pseudocientíficas que não possuem
comprovação empírica.
Além disso, a constelação familiar pode ter o efeito de
desviar o foco das questões legais objetivas que precisam
ser resolvidas, em vez de ajudar a solucionar os conflitos de

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

forma mais profunda. muitas vezes não permite a


participação efetiva das partes envolvidas no processo,
principalmente no que diz respeito à produção de provas.
Ademais, a busca pelo aumento de índices de acordo
nas varas de família pode ser vista como uma vantagem,
mas é importante lembrar que a solução de conflitos não
pode ser feita a qualquer custo. A busca pela solução
consensual dos conflitos não deve comprometer a aplicação
justa e imparcial da lei, nem deve levar à perpetuação de
situações de abuso ou desigualdade.
O papel do sistema judiciário é garantir que os direitos
das partes sejam protegidos, e isso nem sempre pode ser
alcançado através de acordos extrajudiciais baseados em
métodos pseudocientíficos. Essa busca pode acabar por
sacrificar os direitos da parte mais fraca em prol de uma
solução rápida e aparentemente consensual, mas que pode
ser injusta.
Do que se conclui, no presente momento, pela não
recomendação do uso dessa terapia no judiciário e da não
destinação e recursos financeiros para sua utilização, por se
tratar de uma pseudociência.
Ela possui limitações, dada às consequências
incomensuráveis e a imprevisibilidade de resultados. Os
dados do Conselho Nacional de Justiça demonstram, ao

41 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

contrário, que as práticas da conciliação e mediação têm


sido eficientes nesse sentido.

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2
UMA ANÁLISE SOBRE A INEXISTÊNCIA DE
REGULAMENTAÇÃO DA LEI COMO MEIO DE EFETIVAÇÃO
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS TELETRABALHADORES

AN ANALYSIS ON THE INEXISTENCE OF REGULATION OF


THE LAW AS A MEANS OF EFFECTIVENESS OF THE FUNDA-
MENTAL RIGHTS OF TELEWORKERS

Adriele Oliveira da Costa3


Ícaro Maia Chaim4

COSTA, Adriele Oliveira. Uma análise sobre a inexistência da re-


gulação da Lei como meio de efetivação dos Direitos Funda-
mentais dos Teletrabalhadores. Trabalho de Conclusão de Curso
de graduação em Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio
Branco, 2023.

3
Discente do 8º Período do Curso de Bacharel em Direito pelo Centro Uni-
versitário Uninorte
4
Docente, graduado em Direito pela Faculdade Barão do Rio Branco. Pós-
graduado em Direito Processual Civil pela Universidade Anhanguera. Ad-
vogado. Assessor Jurídico na Procuradoria Geral do Estado do Acre. Co-
ordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Uninorte.
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RESUMO

O presente artigo aborda o conceito de teletrabalho, que foi introdu-


zido na lei trabalhista brasileira em 2017. De acordo com a legisla-
ção, o teletrabalho é caracterizado pelos serviços prestados princi-
palmente fora das dependências do empregador, utilizando tecno-
logias de informação e comunicação. O texto também explica a di-
ferença entre teletrabalho e trabalho externo, bem como entre tele-
trabalho e trabalho em domicílio. Embora ambos sejam trabalhos
remotos, o teletrabalho é realizado principalmente por meio de tec-
nologia e meios eletrônicos, enquanto o trabalho em domicílio é re-
alizado em casa ou em uma oficina próxima, paga pelo empregador.
O artigo destaca a relevância do tema em 2020, em meio à pande-
mia da COVID-19, quando o teletrabalho se tornou uma das moda-
lidades de trabalho mais utilizadas no mundo todo, incluindo o Bra-
sil. Em vista disso, o texto destaca a insegurança jurídica no teletra-
balho em relação ao Projeto de Lei 5581/2020, que prevê alterações
na legislação trabalhista brasileira relacionadas ao teletrabalho. Por
fim, o artigo destaca a importância de se definir critérios claros para
o teletrabalho, a fim de evitar ambiguidades e proteger os direitos
dos trabalhadores.

Palavras-chave: direito do trabalho; direitos fundamentais; teletra-


balho.

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ABSTRACT

This article addresses the concept of telecommuting, which was in-


troduced into Brazilian labor law in 2017. According to the legislation,
telecommuting is characterized by services mainly provided outside
the employer's premises, using information and communication
technologies. The text also explains the difference between telecom-
muting and external work, as well as between telecommuting and
home-based work. Although both are remote jobs, telecommuting is
mainly carried out through technology and electronic means, while
home-based work is carried out at home or in a nearby workshop,
paid for by the employer. The article highlights the relevance of the
topic in 2020, amidst the COVID-19 pandemic, when telecommuting
became one of the most widely used forms of work worldwide, in-
cluding in Brazil. In view of this, the text emphasizes the legal uncer-
tainty in telecommuting in relation to Bill 5581/2020, which proposes
changes in Brazilian labor law related to telecommuting. Finally, the
article emphasizes the importance of defining clear criteria for tele-
commuting in order to avoid ambiguities and protect workers' rights.

Keywords: labor law; fundamental rights; telework.

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INTRODUÇÃO

A tecnologia tem sido uma força motriz na evolução da hu-


manidade, permitindo que as pessoas criem e descubram coisas
que eram antes inimagináveis. Nos últimos anos, a tecnologia evo-
luiu de forma exponencial, permitindo que a sociedade se conecte e
trabalhe juntas de formas que antes não eram possíveis. A inteli-
gência artificial é um dos avanços mais notáveis no campo da tec-
nologia, prometendo revolucionar a maneira como vivemos e traba-
lhamos.
A inteligência artificial é uma área da ciência da computação
que se concentra no desenvolvimento de máquinas que são capa-
zes de realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência hu-
mana. Os algoritmos de aprendizado de máquina permitem que es-
sas máquinas aprendam com a experiência, melhorando continua-
mente sua capacidade de realizar tarefas.
A inteligência artificial tem aplicações em muitas áreas,
desde a saúde e a educação até os negócios e a indústria. A tecno-
logia pode ajudar a diagnosticar doenças, melhorar o atendimento
ao paciente e reduzir os custos de assistência médica. Na educa-
ção, a inteligência artificial pode ajudar a personalizar o aprendizado
para cada aluno, permitindo que eles aprendam no seu próprio ritmo
e estilo.
Nos negócios e na indústria, a inteligência artificial pode aju-
dar a otimizar a produção e a reduzir os custos, além de melhorar a

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eficiência e a produtividade. A tecnologia pode ajudar a prever a de-


manda do mercado, melhorar o gerenciamento da cadeia de supri-
mentos e até mesmo criar produtos e serviços.
No entanto, a inteligência artificial também apresenta desa-
fios e preocupações. Algumas pessoas temem que a tecnologia
possa substituir empregos humanos, aumentar a desigualdade eco-
nômica e até mesmo ameaçar a segurança nacional. Além disso, há
preocupações sobre a ética e a responsabilidade por decisões to-
madas por máquinas.
Apesar dessas preocupações, a inteligência artificial é uma
das tecnologias mais promissoras do nosso tempo. À medida que
se continua a explorar as possibilidades da tecnologia, devemos ga-
rantir que estamos trabalhando de forma ética e responsável para
maximizar seus benefícios e minimizar seus riscos.
O uso excessivo da tecnologia também pode trazer impactos
negativos para a saúde mental e física das pessoas. Com a cres-
cente dependência de dispositivos eletrônicos, muitas vezes as pes-
soas passam longos períodos do dia sentadas em frente a uma tela,
o que pode levar a problemas como obesidade, insônia e dores
musculares. Além disso, o uso excessivo de redes sociais pode le-
var a comparações constantes com a vida de outras pessoas, o que
pode gerar ansiedade e baixa autoestima.
Apesar dos desafios e preocupações, é importante ressaltar
que a tecnologia também traz inúmeros benefícios. Desde o avanço
da medicina e da ciência até a simplificação de tarefas cotidianas,
como pagar contas ou pedir comida, a tecnologia tem transformado

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positivamente a vida das pessoas. O importante é buscar um equi-


líbrio no uso das tecnologias, aproveitando seus benefícios sem ig-
norar seus riscos e desvantagens. Nesse contexto, se objetivou re-
alizar uma análise sobre a inexistência da regulação como meio de
efetivação dos direitos fundamentais dos teletrabalhadores.

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO TELETRABALHO

O trabalho remoto ganha elevada notoriedade e mais rele-


vância na sociedade, principalmente, em um contexto pós pandêmi-
cos, sendo considerado como tendência de modo de trabalho mun-
dial. A substituição do deslocamento dos funcionários de para o ato
laboral é proveniente por meio de telecomunicações e/ou tecnologia
da comunicação e da informação (SERRANO, 2021, p.98).
As duas principais formas de teletrabalho são nas residên-
cias ou home offices dos funcionários e nos centros de atendimento
remoto, os chamados escritórios virtuais. A infraestrutura de redes
de telecomunicações, internet e computadores conecta trabalhado-
res remotos com escritórios centrais para se manterem conectados.
O teletrabalho é o processo de trazer trabalho para os funci-
onários no lugar de trazê-los para o local onde exercem suas fun-
ções, fazendo assim, um processo inverso do tradicional. Isso sig-
nifica substituir todo ou parte do deslocamento diário com o auxílio
da tecnologia de informação e telecomunicações (TICs). Nesse con-
texto, o teletrabalhador é um funcionário da empresa que trabalha
em casa em um ou mais dias da semana, usando um dispositivo

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conectado para se comunicar com a empresa e com outros funcio-


nários.
A economia virtual exige que as organizações trabalhem em
rede, e o trabalho remoto vai ao encontro do desenvolvimento des-
sas organizações produtivas. O teletrabalho é uma nova maneira de
os trabalhadores continuarem suas atividades em momentos adver-
sos, pois criam uma relação de trabalho nova e diferente com seu
empregador.
O teletrabalho, segundo um dos seus significados de traba-
lhar em sua residência, teve origem nas sociedades pré-industriais.
A Revolução Industrial caracterizou-se pela introdução de máquinas
e pela centralização da organização da produção, que, ao contrário
do que se esperava, proporcionou sustento aos empregos fabris do-
mésticos e se consolidou como uma forma de atividade produtiva
descentralizada. No entanto, com o desenvolvimento da sociedade
industrial, trabalhar em casa tornou-se uma forma incomum de em-
prego em sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento (DEL-
GADO, 2019, p. 12).
O impacto da revolução da informação vai muito além da in-
dústria. Inclui serviços, finanças, comércio e relações industriais. O
setor de serviços, e até mesmo o setor financeiro, tem experimen-
tado grande crescimento devido à utilização de mão de obra exce-
dente na indústria e no comércio. Nesse contexto, não seria dife-
rente da ordenação jurídica também de toda jurisprudência que re-
gem as relações de trabalhos.
No início dos anos 2000, a internet de alta velocidade entrou

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nas casas das pessoas, e o mesmo ocorreu no Brasil. À medida que


o custo dos equipamentos telemáticos e necessários para realiza-
ção do teletrabalho caiu, mesmo levando em conta a crise financeira
global de 2008, o trabalho remoto tornou-se uma grande parte das
relações de trabalho nos Estados Unidos e em diversos locais da
Europa (FONSECA; LEITE, 2015).
Os funcionários com telefones celulares, computadores e in-
ternet de alta velocidade com acesso à Internet em casa podem re-
alizar as mesmas tarefas de quando trabalham no escritório. Essas
ferramentas possibilitam fazer chamadas de celular com colegas,
realizar reuniões com várias pessoas, conectar-se à sede por meio
de voucher eletrônico e entregar trabalho aos supervisores por e-
mail. Atualmente, os aplicativos de mensagens também auxiliam na
troca rápida de informações, envio de fotos, vídeos e documentos.
O teletrabalho ressurgiu na economia da informação como
uma nova qualificação para trabalhar em casa. As telecomunica-
ções e a tecnologia da informação estão começando a impactar as
relações industriais e permitem que o teletrabalho ocorra em qual-
quer lugar, inclusive nas casas dos trabalhadores. O teletrabalho
também pode ocorrer em outros lugares (MARTINS; FABRIZ, 2021
p.145).
O teletrabalho inclui o uso da telemática para receber, pro-
cessar e enviar informações de um local selecionado pelo teletraba-
lhador. É uma fórmula que remonta a algumas manifestações do
trabalho doméstico tradicional, acrescentando um salto qualitativo
distinto nas ferramentas de trabalho. O teletrabalho torna-se uma

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estratégia de RH para empresas que estão alinhadas com a ade-


quação da sociedade da informação.
O trabalho remoto não é novidade na história da economia
mundial. Originalmente coberto pelo artesanato, evoluiu à medida
que a economia mudava em cada período. No entanto, é somente
com o avanço da telemática que veremos sua importância e contri-
buição para a economia contemporânea. Seguindo os contornos da
evolução histórica para a sociedade da informação, o conceito de
trabalho remoto migrou do home office para o trabalho remoto.
Especificamente no Brasil, na década de 1990, foram esta-
belecidas as condições de infraestrutura para a sociedade da infor-
mação. A privatização de todo o sistema de telecomunicações bra-
sileiro e a criação da ANATEL (agência reguladora) são essenciais
para modernizar e injetar o capital necessário para o desenvolvi-
mento da sociedade contemporânea (ROCHA, 2013 p. 35).
A Internet brasileira ganhou enorme impulso, primeiro na co-
munidade científica e depois como serviço aberto já em 1995. Os
negócios que utilizam a internet ganharam grande expressão, res-
pondendo por quase metade das transações no mercado latino-
americano em número e volume de usuários (SOUZA, 2022). O país
possui uma base tecnológica instalada pronta para o desenvolvi-
mento, incluindo mão de obra qualificada.
Na década de 1980, com o uso do telefone e do fax, o tele-
trabalho foi ainda mais estimulado e, na década de 1990, com o ad-
vento da Internet, o teletrabalho assumiu de vez um lugar de desta-

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que nas relações de trabalho e, desde então, multiplicou-se pelo au-


mento. Dessa forma, o trabalho remoto tem sido claramente uma
medida econômica desde o início e, apesar de seu óbvio viés sedu-
tor contra os funcionários, representa uma opção para os emprega-
dores reduzirem custos (SOUZA, 2022).
O programa Sociedade da Informação do Brasil visa a cons-
trução de uma sociedade mais justa, preservando a identidade cul-
tural do país, o desenvolvimento sustentável que respeite as dife-
renças e os equilíbrios regionais e a participação social efetiva, que
são os fundamentos da democracia brasileira. Dessa forma, é res-
ponsável por adequar as novas relações de trabalho às novas de-
mandas econômicas. Portanto, fica claro que essa nova economia
exigirá trabalhadores com novos conhecimentos de TICs.
A nova economia exige cada vez mais trabalhadores que
atendam às necessidades de conexões mais flexíveis com os em-
pregadores. Segundo a Associação Brasileira de Teletrabalho e Te-
leatividade, mais de 3 milhões de pessoas no Brasil já trabalham
remotamente de alguma forma (ALVES, 2017).
Empregabilidade e empreendedorismo são conceitos que a
cada dia convergem cada vez mais, e o teletrabalho é uma manifes-
tação disso. Assim como o trabalho remoto é uma das soluções para
aumentar a empregabilidade na sociedade da informação e na rea-
lidade nacional, o empreendedorismo é uma atitude que os traba-
lhadores remotos podem adotar na gestão do seu quotidiano.
A elaboração das origens do trabalho remoto continua avan-
çando no entendimento de sua evolução e de sua viabilidade nas

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realidades de trabalho. Depois de explicar os diferentes conceitos,


várias empresas optaram pelo teletrabalho, com o objetivo de redu-
zir o “trabalho pendular” na fase inicial e depois aumentar a produti-
vidade do ponto de vista económico, como pontuado por Resende
(2020, p. 169).

Teletrabalho é um trabalho realizado longe dos


escritórios empresariais e dos colegas de traba-
lho, com comunicação independente com a sede
central de trabalho e com outras sedes, através
de um uso intensivo das tecnologias da comuni-
cação e da informação, mas que não, necessari-
amente, sempre de natureza informática”. (Re-
sente, 2020 p. 204)

De acordo com a definição da Organização Internacional do


Trabalho (OIT), o teletrabalho pode ser entendido como "uma forma
de trabalho realizada fora de um escritório central e/ou centro de
produção que permite a separação física e implica o uso de novas
tecnologias. Comunicação". Teletrabalho. é O produto da sociedade
contemporânea, que surgiu no contexto do colapso do sistema ma-
nufatureiro tradicional, enfrentou as mudanças trazidas pela nova
revolução industrial. (OLIVEIRA, LEMOS JUNIOR, 2018).
Por meio da virtualização, as empresas estão encontrando
maneiras de superar as limitações associadas às estruturas buro-
cráticas tradicionais. Ele também aponta que a razão pela qual as
pessoas estão tão interessadas em teletrabalho não é o fascínio por
novas tecnologias, mas para maximizar o impacto benéfico que
essa nova maneira de trabalhar pode ter nas empresas.
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As empresas devem estar preparadas para entender quando


e onde adotar o teletrabalho, e quando não o adotar, pois ainda falta
a visão gerencial necessária para gerenciá-lo. Vale destacar que,
especialmente na área de recursos humanos, o teletrabalho ainda é
um conceito novo e pouco conhecido no Brasil, assim como em ou-
tras áreas do conhecimento administrativo (OLIVEIRA, LEMOS JU-
NIOR, 2018).
Os conceitos de minimização de custos e maximização de
lucros aliados ao uso de tecnologia, mas ainda incipientes, como a
telefonia, permitem que as empresas incentivem os funcionários a
trabalhar remotamente, economizando deslocamentos e instala-
ções industriais (BASSO; BARRETO JÚNIOR, 2020).
Como em qualquer medida de custo-benefício, o teletrabalho
se difundiu do setor industrial, e seu uso em outros setores mostrou-
se igualmente ou mais vantajoso. Inicialmente limitado a vendedo-
res e representantes, outros profissionais logo passaram a trabalhar
remotamente, principalmente profissionais de setores estratégicos,
como técnicos qualificados, que passaram a trabalhar sem a neces-
sidade de deslocamento.
O teletrabalho ganhou destaque com a promulgação da Lei
nº 13.467, de 13 de julho de 2017, que alterou a CLT e entrou em
vigor em 11 de novembro de 2017. Sabemos que essa forma de
trabalho já é adotada na prática, porém, foi apenas recentemente
que essa forma foi prevista na legislação brasileira, porém, a forma
dada pela regulamentação não é suficiente, pois não consegue pro-
teger de um modo profundo o método de trabalho remoto não

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abrange algumas questões importantes que podem surgir na prática


(BASSO; BARRETO JÚNIOR, 2020).

2.2 CONTEXTO JURÍDICO DO TELETRABALHO NO BRASIL

A Lei nº 13.467 de 2017 trouxe o conceito de teletrabalho


para o artigo 75-B. Pela nova legislação, considera-se teletrabalho
os serviços prestados principalmente fora das dependências do em-
pregador, utilizando tecnologias de informação e comunicação que,
por natureza, não constituam trabalho externo (artigo 75-B CLT)
(FONSECA; LEITE, 2020).
Dos dispositivos legais são extraídos pelo menos dois ele-
mentos caracterizadores do teletrabalho, sem os quais se exclui o
enquadramento legal da situação real, a saber: (a prestação de ser-
viços ocorre principalmente fora das instalações do empregador; in-
formação e comunicação de tecnologia não constitui uma relação
como fora do trabalho (AMORIM, 2020).
Na verdade, a lei faz uma distinção entre trabalhadores ex-
ternos e trabalhadores remotos. Ambos são trabalhadores remotos,
mas como o nome sugere, um outsider é alguém que trabalha fora,
geralmente sem um local fixo para realizar suas atividades. Por
exemplo, podemos citar vendedores externos, motoristas, intercam-
bistas, assistentes de viagem etc.
E os trabalhadores remotos costumam ter um local fixo para
realizar suas atividades. Por exemplo, pode ser um café, uma lan
house, sua própria casa etc. (LIMA JÚNIOR, 2021). Como resultado,

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eles passam a maior parte do tempo – principalmente – fora das


instalações do empregador, mas não precisam se deslocar para de-
sempenhar suas funções como trabalhadores externos.
Do mesmo modo, existe uma diferença entre o teletrabalho
e o trabalho a domicílio, entendido como “trabalho realizado em
casa do trabalhador ou em oficina ao domicílio por conta do empre-
gador que lhe paga” (artigo 83.º do Código do Trabalho). Como você
pode ver, ambos são trabalhos remotos e são semelhantes, mas
têm uma diferença. Especialmente no que diz respeito ao trabalho
remoto, o trabalho é feito por meio de tecnologia e meios eletrônicos
(GUERRA et al., 2020).
Notadamente, o comparecimento às instalações do empre-
gador para atividades específicas que exijam a presença do empre-
gado nas instalações não derroga o regime de teletrabalho, previsto
no parágrafo único do artigo 75-B. O fato de os colaboradores se
apresentarem esporadicamente em estabelecimentos comerciais
para reuniões, conferências ou qualquer outro evento específico é
absolutamente comum e não é fator de descaracterização do traba-
lho remoto (NOGUEIRA; SILVA, 2020). Para tanto, além de investi-
gar os padrões de teletrabalho anteriores à promulgação da Lei nº
13.467/2017, propomos analisar se as possíveis alterações legisla-
tivas previstas na Lei nº 5.581/20 trarão alguma mudança para a
realidade atual do tema.
Por isso, realizamos uma análise do Projeto de Lei 5.581/20
para verificar se tais projetos trazem avanços legislativos de forma
a permitir que trabalhadores remotos acreditem em uma mudança

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de paradigma, e se os projetos mencionados respondem a algumas


das questões ainda não fundamentadas. no Brasil e casos de aci-
dentes envolvendo trabalhadores em trabalho remoto (BELLINETTI;
SORGI, 2021).
O projeto se torna cada vez mais urgente em um momento
em que os trabalhadores precisam se ajustar a uma realidade ainda
precária e os empregadores não têm muito embasamento para
construir relacionamentos com seus funcionários. Se aprovada, a
Lei definirá as responsabilidades de ambas as partes na relação de
trabalho e trataria de questões práticas do dia a dia, trazendo pontos
relacionados à ergonomia e saúde mental, além do foco na garantia
da saúde do trabalhador.
Trazendo um recorte histórico é importante pontuar que
houve uma alteração do artigo 6º da CLT por meio da lei 15.551 de
2011, e, trazendo uma cerca relação de igualdade entre os trabalhos
que fossem realizados a distância ou presencialmente. Nesse
cerne, Rocha (2018, p. 155) versa a importância do meio para a de-
finição dos critérios de inclusão nessas classificações.

Art. 6º Não se distingue entre o trabalho realizado


no estabelecimento do empregador, o executado
no domicílio do empregado e o realizado a dis-
tância, desde que estejam caracterizados os
pressupostos da relação de emprego. Parágrafo
único: Os meios telemáticos e informatizados de
comando, controle e supervisão se equiparam,
para fins de subordinação jurídica, aos meios
pessoais e diretos de comando, controle e super-
visão do trabalho alheio (ROCHA, 2018, p. 155).

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Mesmo que essa regulação fosse bem-vista por aqueles que


defendiam o teletrabalho, é importante pontuar que a regulamenta-
ção é vista como carente, pois, apenas é uma garantia de que am-
bas as modalidades possuíssem o mesmo tratamento jurídico, po-
rém, pelas especificidades do teletrabalho, principalmente relacio-
nada ao controle da jornada de trabalho, de direitos recebidos mui-
tas vezes diferentes, sendo assim, não sendo apenas resolvido com
o mesmo tratamento jurídico.
Portanto, muitas dúvidas permanecem, principalmente sobre
o controle do trabalhador sobre viagens de longa distância e se ele
tem direito ao recebimento de horas suplementares trabalhadas.
Pontos que requerem tratamento mais específico, onde fica claro
que essas grandes lacunas, em parte devido aos avanços tecnoló-
gicos, exigem a modernização e atualização da lei, o que levou os
legisladores a acompanhar as reformas trabalhistas.
No contexto da lei de nº 13.467/2017, já abordada anterior-
mente, ter criado uma previsão legal para a realização do teletraba-
lho nos seus artigos 75 A e E nas legislações trabalhistas nacional.
Com o advento da reforma trabalhista, em todas suas recomenda-
ções percebe-se que elas foram realizadas de uma maneira mais
abrangente, e, mesmo que se acarretou uma maior segurança jurí-
dica para esses trabalhadores, trazendo também uma maior possi-
bilidade de implementação desse regime de trabalho para as em-
presas. Porém, mesmo com esses avanços, muito se investiga a
suficiência dessa lei para abarcar todas as especificidades das re-
lações trabalhistas no teletrabalho (FINCANTO, 2019).

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Portanto, é importante se analisar, com a base doutrinária,


como realizado por Fincato (2019, p. 63) dos artigos 75-A e B da lei
13.457/17 em vistas ao direito comparado.

Art. 75-A. A prestação de serviços pelo empre-


gado em regime de teletrabalho observará o dis-
posto neste capítulo. Art. 75-B. Considera-se te-
letrabalho a prestação de serviços preponderan-
temente fora das dependências do empregador,
com a utilização de tecnologias de informação e
de comunicação que, por sua natureza, não se
constituam como trabalho externo. Parágrafo
único. O comparecimento às dependências do
empregador para a realização de atividades es-
pecíficas que exijam a presença do empregado
no estabelecimento não descaracteriza o regime
de teletrabalho (BRASIL, 2017).

Como percebido no trecho apresentado, percebe-se que se


superou a equiparação realizada de maneira genérica pela Lei
12.55/11, se apresentando como uma nova regulamentação mais
específica para o teletrabalho. Já o artigo 75-B, mostra que, mesmo
sendo mais específico ainda é passível de crítica sobre como o tema
foi abordado.
Um exemplo de autor que pontuou a linha de pensamento
que a lei de 2017 não foi suficiente para abarcar o tema do teletra-
balho foi Bettiago (2017, p. 48), que pontuou a superficialidade com
o que tema foi abordado ao se limitar na definição de características
onde local está sendo realizado.

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Comparando com Leis de outros países, visto que, o Tele-


trabalho é uma tendência mundial, a lei italiana faz uma abordagem
extremamente mais ampla, ao ponto que não define apenas o con-
ceito, trazendo também os objetivos do teletrabalho, determinando
o aumento da competitividade, da melhor conciliação de tempo, e
da importância da definição da temporalidade do trabalho para que
o trabalhador possa conciliar a sua vida pessoal com a profissional
(FONSECA; LEITE, 2020).
O exemplo da Itália entra com consonância mundial de uma
legislação específica para o teletrabalho, com um lastro da legisla-
ção dos Estados Unidos que foi pioneira no tema. Porém, na Amé-
rica Latina, também já se possuem legislações específicas para o
teletrabalho, como exemplo da Costa Rica (FONSECA; LEITE,
2020).
Porém, essa necessidade de uma lei específica não é um
consenso na literatura, Fincato (2019, p. 63), em contrapartida, vê
de maneira positiva a abordagem simples da Lei de 2017, ao ponto
que apresenta o teletrabalho apenas como uma prestação de ser-
viço e não como uma categoria a parte. De uma maneira objetiva,
existe um elogio do trabalhador em regime de teletrabalho continuar
com a proteção das leis de trabalho, assim como, se estivesse rea-
lizando um trabalho presencial.
Mundialmente, encontra-se uma legislação próxima ao artigo
75B, que não versa determinações específicas para o regime de te-
letrabalho, só o definindo, e é a de Portugal, no artigo 165 do seu

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código trabalhista. Tal código considera o teletrabalho com uma re-


alização de prestação laboral com subordinação jurídica fora da em-
presa, associando ao uso de TICs, como pontuado pelo autor Beni-
atto, em 2017.

Por meio da Reforma Trabalhista, através de seus efeitos,


se comprometeu alguns direitos trabalhistas ao se possibilitar a fle-
xibilização de diversos pontos da legislação trabalhista, prevendo
assim, diversas alternativas de negociação coletiva, através da cri-
ação da figura do trabalhador como hiper suficiente no âmbito da
ampliação da autonomia e da vontade individual.

Em processo anterior a Reforma Trabalhista, se analisava


sob a judicie da CLT de 1947, regulava de forma genérica os temas
nos artigos 6 e 83, ocorrendo o marco de 2011, pela Lei nº 12.551,
porém não distinguindo o trabalho realizado no estabelecimento do
empregador, do executado no domicílio do empregado e realizado
à distância, portanto, com esse histórico pode-se perceber que a Lei
de 2017 foi um avanço, mesmo que, como abordado por diversos
autores, ainda existem especificidades que precisam ser observada
pela ótica jurídica (CHAQUIME; MILL, 2116).

O ponto chave é que se tem a relação de emprego caracte-


rizada, no teletrabalho, pelo vínculo entre empregado e emprega-
dor, como uma prestação de serviço de caráter não eventual por
parte do trabalhador, onde, se recebe uma contrapartida monetária
de acordo com o artigo 3 da CLT.

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Art. 3.º. Considera-se empregada toda pessoa fí-


sica que prestar serviços de natureza não even-
tual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário. Parágrafo único - Não haverá
distinções relativas à espécie de emprego e à
condição de trabalhador, nem entre o trabalho in-
telectual, técnico e manual. (BRASIL, 2017).

Portanto, observa-se que para realização do teletrabalho é


necessário diversos instrumento imprescindível para seu dia a dia e
rotina de trabalho, como computadores, tablets, celulares, tendo a
possibilidade de eles serem realizados no contexto do domicílio do
empregado, sendo esse realizado em centros de trabalhos ou mó-
veis.

Tentando se investigar sobre o cerne da duração do teletra-


balho, a lei 13.467/17, e, ao introduzir um novo inciso III no art. 62
da CLT buscando estabelecer uma ressalva aos empregados em
regimes de teletrabalho, salvando que os empregados nesse regime
não são abrangidos nesse capítulo que trata dessa duração (CHA-
QUIME; MILL, 2116).

Porém, alguns autores, como Beniatto (2017) e Fincanto


(2019) pontuam que foi criada uma presunção jurídica, ou seja, a
que os empregados não estejam submetidos a fiscalização e o con-
trole de horário.

Portanto, se em casos concretos existirem provas de ônus


do empregado que é submetido a fiscalização e controle em um
contexto cotidiano relacionado a prestação de serviços, a presunção
legal instituída incide na relação de trabalho as regras normais de
66 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

relação de duração de trabalho estabelecidas.

Nesse contexto específico é importante se atentar que os


modos de controle e vigilância do trabalho em domicílio, seja ele em
regime de distância ou de teletrabalho, sendo levados a efeito do
empregador, em um contexto que em nenhuma hipótese deverá le-
sar ou ameaçar os direitos fundamentais de privacidade, de intimi-
dade e de imagem do empregado, tento também sua proteção no
contexto da automação que pode ser considerado como um direito
fundamental social.

Dessa maneira, por mais que a lei expressa que o teletraba-


lho não seja encaixado nos moldes de um trabalho presencial,
sendo esse controle da jornada de trabalho com um maior ponto de
divergência, na prática, se percebe que essa realidade é bem dife-
rente do que na teoria.

Nesse sentido, a Reforma Trabalhista trouxe inovação no


contexto como foi versado, bem como, em seus artigos passaram a
regulamentar o teletrabalho. Todavia, se verifica que existe uma li-
mitação da legislativa, excluindo os teletrabalhadores das regras de
controle de duração de trabalho.

Isso abre todo um norte para que muitos empregadores ha-


jam de uma forma danosa sobre seus empregados, onde, com muito
controle realizas cobranças, abusos e excessos de jornada de tra-
balha, sem caracterizar assim, uma sobre jornada.

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2.3 A INSEGURANÇA JURÍDICA NO TELETRABALHO EM VIS-


TAS DO PROJETO DE LEI 5581/2020

Com a Lei 13.467/17 alterando o status quo da igualdade


genérica que tinha sido anteriormente estabelecida pelo artigo 6 da
consolidação das leis de trabalhos e já pontuada nesse artigo sobre
o trabalho a distância e o trabalho presencial. Foi abordado que se
abriu um capítulo, mesmo que tímido visando acomodar uma nor-
matização para teletrabalho, a exemplo do que aconteceu no código
de trabalho português, como pontuado por Amorim (2020).
Também aconteceu outras duas referências em seu texto
normativo reformado em 2017 pela CLT, sendo eles os artigos 63,
em seu inciso terceiro, e o 611, no seu inciso VIII. O primeiro deles
localiza o teletrabalho como forma de prestação de serviço que está
excluído a subordinação de controle de duração de jornada, sendo
permissível, através do segundo, uma negociação em ambas as
partes (AMORIM, 2020).
No contexto nacional, mesmo o teletrabalho sendo admitido
apenas em 2011, e, sendo um tema que está em evidência nos úl-
timos anos, o reconhecimento da reforma trabalhista em 2017 foi
um marco. Porém, com a pandemia do Covid-19, tendo seu pico no
ano de 2020, o tema ganhou popularidade por ter se tornado, em
um tempo muito curto, um dos regimes de trabalhos mais utilizados
em contexto nacional, sendo relacionado também como uma ten-
dência de regime de trabalho em todo o mundo.

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Pela sua relevância nesse momento pandêmico, foi enfati-


zado na medida provisória de número 927/2020, que teve vigência
de alguns meses, confirmando que se trata de uma modalidade es-
pecial trabalhista, a distância, sendo específica e contida na medida
(BELLINETTI; SORGI, 2021).
Foi colocado, os requisitos específicos e formalidades rela-
cionadas a contratação, sendo elas, o que determinava um contrato
de tipo especial para o teletrabalho. Nele, se conjugam elementos
muitos e específicos que permitem identificar a determinação do te-
letrabalho de fato, sendo distinguido de um simples trabalho fora da
sede física do empregador.
Portanto, têm-se a presença obrigatória de algum TCIs no
processo de trabalho, como uma verdadeira ferramenta, ou seja, ela
é mediadora de distância, criando até um próprio espaço virtual de
trabalho, este, individual e interagindo com outros trabalhadores.
Os sujeitos da relação de trabalho trabalham, na maioria das
vezes, por mecanismos telemáticos, mantêm o distanciamento fí-
sico e a verificação da presença das TIC é um elemento incontorná-
vel da sua concepção e verificação. O trabalho remoto não eliminou
a afiliação, como suspeitava no início dos estudos acerca do tema.
Alguns autores afirmam que a legislação foi resolvida ainda
na legislativa de 2011, admitindo-se a mesma eficácia de gerência
do comando e da supervisão no trabalho de forma remota, da ma-
neira em que se iguala as duas modalidades de trabalho no contexto
de gênero, como Belinnetti e Sorgi (2021) e Amorim (2020).
Essa igualização em um contexto legal e formal não satisfez

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as peliculares idades de uma modalidade laboral específica, de uma


maneira em que, no meio produtivo e na indústria se continue cla-
mando sobre melhores definições em formas legais. Por enquanto
elas não viam, se apostaram algumas políticas regulamentadoras
empresariais e instrumentais coletivos para suprimir a lacuna apre-
sentada legalmente.
Ao seguir o exemplo das organizações estrangeiras como foi
apontado na sessão dois, ocorreu a preocupação em se pontuar o
conceito de teletrabalho e o identificar de maneira diferenciada de
uma diferente simples prestação de serviço. Dessa maneira, se
afastou o conceito de que os teletrabalhadores fariam parte de uma
categoria profissionais específica. Nesse cerne, foi interessante
visto que qualquer transmissão de informações poderia ser consi-
derada um meio de teletrabalho pelo uso das TICs como instru-
mento de trabalho ou facilitador de processos.
Dessa maneira, se levanta um dos pontos mais importantes,
e que é considerado insipiente por muitos juristas no meio de debate
jurisprudencial e doutrinário como atribuição legal aos sujeitos rela-
cionados no contexto empregatício do direito e do dever, dispondo
sobre a aquisição, a manutenção e fornecimento dos mais diversos
equipamentos e infraestrutura voltados para o teletrabalho, devendo
então ter cláusulas obrigatórios nos contratos específicos.
Deixando essa responsabilidade para as parte, se elas não
dispuserem, entra no contexto da lógica protetiva laboral, e, aliado
ao fato que de uma maneira genérica pertence ao empregador o
dever de também ressarcir os custos, estes, eventualmente sendo

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acercados pelo teletrabalhador, o que deve ser questionário, visto


que esses instrumentos são de extrema relevância como composi-
ção da infraestrutura necessária para prestar o serviço de maneira
remota, nesse contexto, se incluindo a aquisição e também a manu-
tenção de diversos equipamentos informáticos para conseguir reali-
zar suas atividades básicas.
Mesmo que muitos juristas brasileiros, a exemplo de Fon-
seca e Leite (2021), entrem em consonância com o ponto onde in-
tegram a ideia de ter se criado uma lei que trate especificamente
acerca das características do trabalho remato, com a reforma traba-
lhista de 2017, onde se passou a denominar o conceito de teletra-
balho nos artigos abordados anteriormente, bem como sobre os re-
quisitos inerentes a essa modalidade de trabalho, ainda se critica a
falta de definições que protejam o trabalhador nesse modelo de tra-
balho.
Portanto, alguns pontos são satisfatórios e foram completos
com os artigos 75 -A, 75-B e 75-E, como a exigência de trabalho de
maneira preponderante fora das residências da empresa, a formali-
zação contratual com especificação de atividades, bem como, um
aditivo contratual para futuras alterações de contratos vigentes
como meio relacionado a integração do teletrabalho e sua formali-
zação, como abordado por Amorim (2020).
Dessa maneira, também pode-se pontuar a importância de
os empregadores fornecerem (bem como a manutenção dos mes-
mos) os equipamentos tecnológicos necessários, além da infraes-

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trutura necessária e adequada para a prestação de serviço acor-


dado em contrato, bem como, as orientações de prevenção para
adoecimentos e acidentes de trabalho.
No entanto, durante a pandemia de Covid-19 e 2020, o re-
gime de teletrabalho tornou-se a forma mais comum de trabalhar,
evidenciando a necessidade de pontos específicos e inerentes que
não se refletiram nas reformas de 2017. Apresentado entre profissi-
onais do direito do trabalho em diálogo com a sociedade civil.
Os regimes de trabalho remoto tornaram-se necessários para a so-
brevivência de inúmeras empresas em 2020. Alguns profissionais
com eventos presenciais exclusivos tiveram que adotar um regime
de trabalho remoto, o que permeia um contexto de extrema incer-
teza e estresse pessoal, principalmente no contexto da própria do-
ença (GUERRA; 2020).
É importante pontuar que diversas medidas provisórias so-
bre o tema do teletrabalho foram aprovadas. Dentre elas, Medidas
Provisórias nº 927/2020, republicada na MP nº 1.046/2020, MP nº
936/2020, republicada na MP nº 1.045/20, posteriormente conver-
tida na Lei nº 14.020/2020. As medidas temporárias preveem facili-
tar a transição do regime de trabalho presencial para o remoto, re-
duzindo o período de aviso prévio para os empregadores para 48
(quarenta e oito) horas, autorizam também o regime de trabalho re-
moto para estagiários e aprendizes, mantendo a CLT fornecer os
meios técnicos e a base para a execução das atividades tomadas
pela instalação, como expresso por Lima Júnior, 2021.

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Nesse contexto, com o intuito de encontrar diversas soluções


possíveis para esse paradigma do teletrabalho, o projeto de lei
610/21 de Confúcio Moura, propusera a alteração da legislação bra-
sileira trabalhistas em vista a regulamentar o home office, buscando
assim, diminuir os conflitos jurídicos e trabalhistas no contexto da
pandemia do Covid-19 nos novos ambientes de trabalho, visando
mitigar possíveis explorações trabalhistas.
As principais justificativas e objetivos desses projetos de lei
estavam permeados na ideia de dar continuidade às atividades co-
merciais, a empresa possui funcionários trabalhando remotamente
de casa. Diante disso, novas regulamentações são necessárias,
pois as regulamentações atuais são insuficientes para reger todas
as situações decorrentes. Devido à pandemia de Covid-19, existem
diversas ramificações legais para que milhares de trabalhadores se
desloquem de locais de trabalho, empresas para residências ou re-
sidências dos próprios funcionários, a maioria dos quais são novos
sem ação disciplinar na CLT.
No contexto dos proponentes esse projeto se tornava neces-
sário em vistas do contexto pandêmico que acarretou um novo ce-
nário para o mercado de trabalho, trazendo assim, o intuito de con-
tinuar as atividades laborais, e de uma nova regulamentação visto
que as disposições atuais não eram suficientes para disciplinar as
situações de decorrência.
São diversas as consequências jurídicas resultantes da
transferência de milhares de trabalhadores dos seus locais de tra-

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balho, das empresas, para a própria residência ou domicílio do em-


pregado, por força da pandemia da Covid-19, não estando a maior
parte dessas novidades disciplinadas na CLT, como expresso por
Guerra (2020).
Também é relevante pontuar o projeto de Lei 5581/2020, que
possui algumas especificidades, pois, ao contrário de outros proje-
tos sobre o tema que pretendem apenas alterar alguns pontos e/ou
regular algumas questões específicas, o projeto de lei acima visa
regulamentar todo o sistema de teletrabalho. O projeto de lei trata
do ambiente de teletrabalho e da saúde e segurança dos teletraba-
lhadores desde o início, propondo conceitos, princípios e diretrizes
para a saúde física e mental dos teletrabalhadores, bem como a
responsabilidade civil por acidentes de trabalho e doenças ocupaci-
onais, como trazido por Lima Júnior (2021).
A proposta alteraria o artigo 75-B das novas leis trabalhistas
a remover a expressão preponderantemente ao relacionar os ele-
mentos que caracterizam o teletrabalho, dessa maneira, com essa
possível alterações, todos os serviços prestados fora das depen-
dências da empresa, sendo eles de forma preponderante ou não e
que se utilizasse as TICs para a sua execução seriam classificados
como teletrabalho, contanto que a sua natureza não fosse classifi-
cada como trabalho externo, como expresso por Amorim (2020).
Esse projeto também impões diversas obrigatoriedades ao
empregador no contexto de implementação de condições de bem-
estar psicossocial e físico de seus teletrabalhadores. Portanto, um
dos principais objetivos relacionados é o de prevenir a deterioração

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do ambiente de trabalho; proteger adequadamente contra os efeitos


nocivos da fadiga, duração prolongada, ritmo, controle, estresse psi-
cológico ou estresse causado por padrões de gestão do trabalho
humano; ajustar o local de trabalho, inclusive em casa (home office),
incluindo suas instalações adequados às características e capaci-
dades físicas e mentais dos trabalhadores; divulgação adequada e
adequada de informações e documentação trabalhista de interesse
para a sociedade como um todo, em particular categorias profissio-
nais ou trabalhadores individuais.
Essas proposições ao contrário do que está preconizado
pelo artigo 75-D das leis trabalhistas de 2017, deixa obrigatório e
não a cargo de previsão contratual o ato de dispor sobre a aquisição,
manutenção e fornecimentos de TICs que sejam imprescindíveis
para a realização do trabalho em um contexto de infraestrutura,
como expresso por Nogueira e Silva (2020).
Também é inédito o fato de prever e ao estipular que a res-
ponsabilidade de fazer cumprir as condições de saúde física e men-
tal dos trabalhadores remotos é do empregador, o empregador tam-
bém deve tomar medidas para evitar danos e evitar a deterioração
do ambiente de trabalho, e o empregador é obrigado a se adaptar
ao local de trabalho, incluindo o home office, incluindo suas instala-
ções, máquinas, métodos e ferramentas, com base nas caracterís-
ticas e habilidades físicas e mentais dos trabalhadores.
Porquanto, foi possível perceber que a pandemia trouxe exi-
gências que não estavam previstas para o conceito do teletrabalho,
trazendo desafios para o contexto da viabilização de negociações

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de nível coletivo, sendo assim, um meio de garantir e viabilizar um


mínimo de segurança jurídica para as relações empregatícias,
sendo alinhados com órgãos de fiscalização sanitárias.
Toda essa legislação visa alcançar um mínimo de previsibi-
lidade jurídica para subsidiar decisões que afetem as relações tra-
balhistas entre empregados e empregadores, sem contar a segu-
rança da saúde e a proteção da saúde de todas as partes. Como
mencionado anteriormente, antes da pandemia, o trabalho remoto
era regulamentado, embora tal regulamentação se limitasse ao tra-
balho realizado fora das instalações do empregador usando tecno-
logia de informação e comunicação, sem a necessidade de configu-
rar trabalho externo. Outras possibilidades, como a produção de ar-
tesanato, vestuário, etc., não são abordadas, muito menos o traba-
lho intelectual.
Portanto, fica claro que a pandemia exigiu que existisse uma
promoção e uma viabilização de negociações coletivas, visando tra-
zer uma maior segurança jurídica para relação de emprego, de ado-
ção de normas internas no contexto empresarial, bem como, nos
órgãos de fiscalização sanitária. Portanto, tem-se a objetivação e
motivação de adoção de uma previsibilidade jurídica para respaldar
as maiores decisões que afetem a relações laborais entre emprega-
dores e empregados.
É importante pontuar que é de papel da sociedade é exigir
ações de seus representantes políticos para garantir que existam
leis para regular essas novas situações, nas quais os direitos da

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sociedade devem ser incorporados. Assim, um estudo sobre a pro-


dução dessa produção constatou que a atual regulamentação sobre
o trabalho remoto está efetivamente desatualizada, mas, em contra-
partida, um projeto de lei em tramitação já demonstrou preocupação
do Senado com as possíveis consequências da pandemia, nas re-
lações laborais e no trabalho remoto.
Além disso, o papel do poder executivo é conscientizar as
pessoas sobre seus direitos fundamentais para que não se calem
quando sofrerem com essas situações desumanas, para que pos-
sam procurar as instituições judiciárias para reparar os danos sofri-
dos, contribuindo assim para o respeito da sociedade, visando que
ela sena considerada como mais justa e igualitária baseada nos di-
reitos trabalhistas, principalmente para um conceito tão atual como
o do teletrabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O teletrabalho é uma forma de prestação de serviço que se


caracteriza pela realização de atividades principalmente fora das
instalações do empregador, utilizando tecnologias de informação e
comunicação que não constituam trabalho externo. Apesar da Lei nº
13.467 de 2017 ter incluído o conceito de teletrabalho na CLT, não
há regulamentação específica para garantir a efetivação dos direitos
fundamentais dos teletrabalhadores.
A lei distingue entre trabalhadores externos e trabalhadores
remotos, sendo que estes últimos têm um local fixo para realizar

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suas atividades, mas passam a maior parte do tempo fora das ins-
talações do empregador. Há também diferenças entre o teletrabalho
e o trabalho em domicílio, sendo que o primeiro é realizado por meio
de tecnologia e meios eletrônicos.
Embora a pandemia do Covid-19 tenha aumentado a popu-
laridade do teletrabalho, ainda há insegurança jurídica em relação a
essa forma de trabalho, especialmente diante da falta de regulamen-
tação específica para garantir os direitos dos trabalhadores remo-
tos. Portanto, é necessário que sejam tomadas medidas para regu-
lamentar o teletrabalho e garantir a proteção dos direitos dos tele-
trabalhadores.
Em conclusão, a falta de regulamentação da lei para a efeti-
vação dos direitos fundamentais dos teletrabalhadores é um tema
que merece atenção e análise. Embora a Lei nº 13.467 de 2017 te-
nha trazido uma definição para o teletrabalho, ela não estabeleceu
regras claras para garantir a proteção desses trabalhadores. A falta
de regulamentação pode gerar insegurança jurídica para os teletra-
balhadores, bem como dificuldades para as empresas que precisam
se adaptar às mudanças trazidas por essa modalidade de trabalho.
Nesse sentido, é importante que o poder legislativo e demais
órgãos responsáveis pela fiscalização do trabalho avancem na ela-
boração de uma regulamentação para o teletrabalho. Essa regula-
mentação deve garantir os direitos dos trabalhadores, como a jor-
nada de trabalho, o direito à desconexão, a proteção à saúde e se-
gurança no trabalho, além de garantir a igualdade de tratamento em
relação aos demais trabalhadores.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Além disso, é importante que as empresas adotem boas prá-


ticas de gestão e ofereçam condições adequadas para o teletraba-
lho. Isso inclui o fornecimento de equipamentos e tecnologia ade-
quados, bem como a garantia de um ambiente de trabalho saudável
e seguro.
Portanto, é fundamental que haja um esforço conjunto de tra-
balhadores, empresas e poder público para garantir a proteção dos
direitos dos teletrabalhadores e promover uma transição justa para
essa modalidade de trabalho, que veio para ficar e deve ser regula-
mentada de forma adequada para garantir a proteção dos trabalha-
dores e a sustentabilidade das empresas.

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Branco – ACRE, 2023.

5
Discente do 9° Período do Curso de Bacharel em Direito do Centro Uni-
versitário Uninorte.
6
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Estadual da Paraíba; Mestre em Direito pela Universidade Fe-
deral da Paraíba.
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RESUMO

A ideia central deste trabalho é fazer uma análise dos crimes


ambientais no ordenamento brasileiro, em especial dos crimes
contra à fauna, uma vez que o meio ambiente é considerado
um direito fundamental para existência humana desde a Cons-
tituição Federal de 1988. Todo crime é uma violação ao direito,
seja ele qual for, isso ocorre também com o meio ambiente.
Considera-se crime ambiental todo dano ou prejuízo causado
aos elementos que compõe a flora, fauna, patrimônios cultu-
rais e recursos naturais. O artigo tem como objetivo trazer as
inovações trazida7s pela Lei nº 9.605/98 nos crimes contra
fauna, demonstrar os novo tipos penais incriminadores, que
anteriormente eram considerados como simples contraven-
ções penais, a pesquisa busca ainda analisar a efetividade das
penas aplicadas. Para tanto, será realizada uma análise do
dispositivo constitucional que protege os animais, bem como
as leis esparsas.

Palavras-Chave: crime ambiental; Constituição Federal;


fauna; lei 9.605/98.

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ABSTRACT

The central idea of this work is to analyze environmental cri-


mes in the Brazilian legal system, especially crimes against
fauna, since the environment has been considered a funda-
mental right for human existence since the Federal Consti-
tution of 1988. Every crime is a violation to the right, whatever
it may be, this also occurs with the environment. Any damage
or loss caused to the elements that make up the flora, fauna,
cultural heritage and natural resources is considered an envi-
ronmental crime. The article aims to bring the innovations
brought by Law nº 9.605/98 in crimes against fauna, to de-
monstrate the new incriminating criminal types, which were
previously considered as simple criminal misdemeanors, the
research also seeks to analyze the effectiveness of the applied
penalties. To do so, an analysis of the constitutional provision
that protects animals will be carried out, as well as the sparse
laws.

Keywords: environmental crime; Federal Constitution; fauna;


law 9.605/98.

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INTRODUÇÃO

A globalização econômica e o status de país em desen-


volvimento acaba influenciando na proteção ao meio ambi-
ente, sendo, muitas vezes, negligenciado em prol do lucro e
dos interesses individuais. Um dispositivo importante para o
Direito Ambiental brasileiro é o artigo 225 da Carta Magna de
1988, que regulamenta de forma central o meio ambiente, atri-
buindo a este o status de direito fundamental. Além disso, dis-
ciplina a proteção à fauna, vendando, na forma da lei, práticas
que provoquem a extinção de espécies ou sujeitem os animais
a crueldade.
Dessa forma, é perceptível que o legislador infraconsti-
tucional tem a obrigação de criar meios que coíbam efetiva-
mente condutas lesivas à fauna. Diante dessa necessidade, a
Lei Nº 9.605/1998 surgiu para regulamentar a matéria, criando
os crimes e suas respectivas penas. O objetivo principal do
respectivo trabalho é fazer uma análise da eficácia desta
norma em relação ao que foi proposto pela Constituição Fede-
ral de 1988.
No que se refere a legislação, a pesquisa fará uma aná-
lise sobre os aspectos da legislação penal ambiental e suas
influências no cotidiano das pessoas físicas e jurídicas sob o
enfoque da Lei dos Crimes Ambientais, que dispõe sobre as

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sanções penais e administrativas derivadas de condutas e ati-


vidades lesivas ao meio ambiente. O artigo ainda fará uma
análise da eficácia da norma em relação à finalidade determi-
nada pela Constituição Federal, especificamente no que se re-
fere as penas abstratamente cominadas e seus delitos e pro-
porcionalidade entre os dispositivos.
Para tanto, o artigo fará uma abordagem inicial sobre o
direito ao meio ambiente e a sua evolução histórica, que vai
desde o descobrimento do Brasil em 1500 até a promulgação
da Constituição de 1988 que serviu como base para elabora-
ção das lei esparsas, como por exemplo, a Lei Nº 9.605 de
1998, lei de crimes ambientais que é objeto de estudo desse
trabalho. Além disso, no segundo capítulo, será feita uma aná-
lise sobre o que é a fauna e a sua proteção legal.
No terceiro capítulo será feito um estudo sobre a apli-
cabilidade jurídica do direito ambiental à fauna, os aspectos
penais e processuais. Adentrando ao tema em questão, far-
se-á uma análise crítica dos crimes contra os animais previs-
tos na Lei 9.605 de 1998, principalmente no que tange suas
penas e aplicabilidade do princípio da insignificância. Para
concluir será analisado a responsabilidade penal da pessoa
jurídica em relação aos crimes ambientais.
Para isso, a técnica de pesquisa utilizada foi a bibliográ-

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fica e documental, foram consultados livros, artigos publica-


dos, documentos eletrônicos pertinentes ao tema, assim como
a legislação vigente que dispõe sobre a matéria em estudo.

3.1 DIREITO AO MEIO AMBIENTE E SUA EVOLUÇÃO


HISTÓRICA NO BRASIL

Por muito tempo a ignorância da humanidade impediu


a proteção ao meio ambiente. No decorrer da história, o ego-
ísmo humano sempre prevaleceu, ou seja, nada tem importân-
cia se não o atinge de forma crucial. O Direito Ambiental,
como é concebido hoje, não existia nas primícias do desenvol-
vimento econômico mundial, só quando o homem sente na
própria pele os efeitos de uma exploração desenfreada é que
a proteção ao meio ambiente adquire importância mundial.
O Direito Ambiental tem como princípio organizar a
forma pela qual a sociedade faz uso dos recursos ambientais.
Dessa forma, estabelece métodos, critérios, proibições e per-
missões, assim definindo o que pode ou não ser apropriado
de forma econômica. De acordo com os ensinamentos de Luís
Paulo Sirvinskas (2018), a proteção ao meio ambiente pode
ser dividida em três períodos, conforme discorremos a seguir.
O primeiro período se inicia com o descobrimento do

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Brasil (1500) e termina com a chegada da Família Real Portu-


guesa em 1808. É nesse período que as regulamentações são
feitas através das ordenações, que são divididas em três: a
Ordenações Afonsinas (1446 até 1514), onde vai existir a pro-
teção das árvores, dos animais e das águas; Ordenações Ma-
nuelinas (1521 até 1595), aqui, por exemplo, era proibido a
caça a coelhos e determinava que houvesse respeito às crias
em determinados meses do anos, condenando o caçador que
descumprisse a lei ao pagamento de um mil reais; e as Orde-
nações Filipinas (1603 até 1916), como exemplo, aqui pode-
se destacar a proteção das águas, dessa forma, quem poluí-
sse a água ou causasse morte de peixes, receberia punição
de multa. (NAZO, MUKAI, 2001).
O segundo período se inicia com a chegada da Família
Real e finaliza-se com a criação da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente em 1981. Esse período foi marcado pela ex-
ploração desenfreada dos recursos naturais, sendo necessá-
rio intensificar a proteção ao meio ambiente. A principal lei
desse período foi a Lei nº 601, promulgada em 1850, que ficou
conhecida como a Lei das Terras: aqui existia a obrigação do
registro de todas as terras ocupadas e ainda se tinha o impe-
dimento da aquisição das terras devolutas.
Já o terceiro período, visa proteger de maneira integral

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o meio ambiente, sendo assim, passa a ser utilizado um sis-


tema ecológico integrado, protegendo as partes a partir de um
todo. É nesse período que surge a Constituição Federal de
1988, que passa a reconhecer que a proteção ambiental está
intimamente ligada à proteção da qualidade de vida humana
(SILVA, 2015).
De forma geral, o Direito Ambiental é uma ciência que
busca regular as relações entre o homem e a natureza, que
tem como objetivo a proteção e conservação para as presen-
tes e futuras gerações. Entre os vários conceitos em leis es-
parsas, doutrina e jurisprudência, pode-se destacar o que está
previsto na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº
6.938/81, in verbis:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-


se por: I - meio ambiente, o conjunto de condi-
ções, leis, influências e interações de ordem fí-
sica, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas; (BRASIL,
1981).

Dessa forma, partindo da leitura do artigo acima, per-


cebe-se que os animais passaram a ocupar um cenário dentro
da proteção ambiental. Ao serem definidos como coisas e ins-
trumentos a serviço do homem, a fauna foi vítima de inúmeros
casos de abandono, crueldade e maus-tratos. Com o passar
dos anos e com o surgimento da consciência ambiental, os
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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

animais passaram a ser tutelados pela legislação brasileira


(TUNES, 2022).
Dentre as leis especificas podemos destacar o Decreto
nº 16.590, de 10 de setembro de 1924, que contava sobre o
funcionamento dos estabelecimentos de distração pública e
proibia as rinhas de galo e canário, corridas de touros, novilhos
e garraios (SENADO FEDERAL, 2022). Na década de 1930,
surge o primeiro marco legal de proteção aos animais com o
Decreto nº 24.645/34.
Esse decreto dispunha que todos os animais deveriam
ser tutelados pelo Estado e passou a constar com um rol de
condutas consideradas como maus-tratos. Nos anos seguin-
tes, da década de 60, foi publicada a Lei de Proteção à Fauna
ou Código de Caça (Lei nº 5.197/67), onde, por exemplo, era
proibido a caça profissional, mas fomentava-se a estimulação
de clubes amadoristas de caça, ou seja, era permitido o abete
de animais como prática esportiva.
Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, o meio am-
biente ganhou enfoque e relevância com a Constituição de
1988, elencando vários dispositivos relacionados ao tema. In-
discutivelmente, a Carta Magna de 1988 é um marco de
grande importância para a tutela da fauna, atribuindo ao meio
ambiente conjuntura de direito fundamental e vedando a prá-
tica de crueldade contra os animais.

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Importante destacar que além da regulamentação cons-


titucional, existem diversas lei esparsas, entre as quais estão:
a Lei nº 9.605 de 1998, Lei de Crimes Ambientais, objeto de
estudo deste trabalho; a Lei nº 11.794 de 2008, que estabe-
lece procedimentos para o uso científico de animais; Lei nº
10.519 de 2002, que passou a disciplinar sobre a realização
de rodeios, proibindo o uso de apetrechos que causem injúria
ou ferimentos aos animais.

3.2 FAUNA: CONCEITO E PROTEÇÃO LEGAL

Fauna pode ser definida como um conjunto de animais


que convivem em um determinado espaço geográfico ou tem-
poral. De acordo com a Carta Magna de 1988, art. 255, §1º,
VII, tanto a fauna como a flora são reputadas como bens am-
bientais e difusos, no entanto, a Constituição não fez um defi-
nição taxativa para o termo fauna e deixou para que o legisla-
dor infraconstitucional pudesse conceituá-la, nestes termos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
[...]

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VI - promover a educação ambiental em todos os


níveis de ensino e a conscientização pública para
a preservação do meio ambiente (BRASIL,
2022);

De acordo com os ensinamentos de Barros (2008),


fauna pode ser conceituada como um conjunto de espécies e
animais de determinada região, mas não se trata de um agru-
pamento acidental porque possui uma lógica rigorosa, perso-
nalidade e características próprias. No Brasil existe uma
grande diversidade de espécies, dessa forma a Portaria nº
93/1998, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-
sos Naturais Renováveis – IBAMA, conceitua a fauna como
silvestre brasileira, silvestre exótica e doméstica, vejamos:

Art. 2º - Para efeito desta Portaria, considera-se:


I - Fauna Silvestre Brasileira: são todos aqueles
animais pertencentes às espécies nativas, mi-
gratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terres-
tres, que tenham seu ciclo de vida ocorrendo
dentro dos limites do Território Brasileiro ou
águas jurisdicionais brasileiras.
II - Fauna Silvestre Exótica: são todos aqueles
animais pertencentes às espécies ou subespé-
cies cuja distribuição geográfica não inclui o Ter-
ritório Brasileiro e as espécies ou subespécies in-
troduzidas pelo homem, inclusive domésticas em
estado asselvajado ou alçado. Também são con-
sideradas exóticas as espécies ou subespécies
que tenham sido introduzidas fora das fronteiras
brasileiras e suas águas jurisdicionais e que te-
nham entrado em Território Brasileiro.
III - Fauna Doméstica: Todos aqueles animais
que através de processos tradicionais e sistema-

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tizados de manejo e/ou melhoramento zootéc-


nico tornaram-se domésticas, apresentando ca-
racterísticas biológicas e comportamentais em
estreita dependência do homem, podendo apre-
sentar fenótipo variável, diferente da espécie sil-
vestre que os originou (BRASIL, 2022).

Diante do exposto, a proteção ambiental abrange todas


as espécies de animais, ou seja, inclui tantos os animais sil-
vestres como os animais domésticos de forma legitima, sendo
um modo para evitar que estes animais recebam tratamento
cruel.
Em se tratando de legislação pertinente a proteção ani-
mal, a fauna é um bem de valor jurídico a ser protegido, dessa
forma foram criadas várias normas internacionais relativas à
proteção dos animais. Nos anos 1970 devido as grandes alte-
rações no meio ambiente provocadas pela sociedade, foi rea-
lizada, em Estocolmo, uma conferência onde foi redigida a De-
claração sobre o Meio Ambiente Humano, propondo as na-
ções a elaboração de legislação a favor do meio ambiente com
a inclusão dos animais porque são essenciais para que a vida
seja ecologicamente equilibrada (LEVAI, 1998).
Anos depois, a convenção da Biodiversidade, que foi
um acordo firmado com 156 países durante a Conferência
Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecido
como ECO-92, estabeleceu os seguintes objetivos: conserva-
ção da biodiversidade, uso sustentável de seus componentes
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e a divisão justa dos benefícios gerados com a utilização de


recursos genéticos, sendo ratificada pelo Congresso Nacional
Brasileiro e entrou em vigor em dezembro de 1993 (SILVA,
2022).
No ano de 1978 a UNESCO, editou a Declaração Uni-
versal dos Direitos dos Animais, estabelecendo em seu art. 7º
que “animais destinados ao abate devem sê-lo sem sofrer an-
siedade e nem dor”, ratificou ainda sobre a possibilidade de
violação de um direito básico, que é a integridade física. O úl-
timo artigo desta Declaração esclarece ainda que “os direitos
do animal devem ser definidos por lei, como os Direitos dos
homens.
A Declaração prevê ainda que nenhum animal deverá
ser maltratado e nem submetido a atos cruéis. Se a morte do
animal foi inevitavelmente necessária, deverá ser instantânea,
sem provocar dor. Diante dessa declaração entende-se, por-
tanto, que todos os animais são sujeitos de direitos e estes
direitos devem ser preservados, ao longo da leitura dos artigos
percebe-se uma nova ética biológica que contém uma postura
de respeito com a fauna. Mas infelizmente o Brasil não assinou
o acordo, ou seja, esta norma não possui efeito de lei no terri-
tório brasileiro, apenas é utilizado para o direito comparado
(SILVA, 2022).
Na legislação brasileira podemos destacar a Lei nº

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5.197/67 que trata sobre a proteção da fauna e em seu art. 1º


dispõe sobre a proteção dos animais selvagens e a Lei nº
9.605/98 que dispõe sobre as sanções penais e administrati-
vas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, co-
nhecida como Lei de Crimes Ambientais.
O art. 225, incisos I ao VI da CF/88, estabelece que a
fauna passa a ser um bem de uso comum do povo e merecer
especial atenção do Estado, ao estabelecer uma série de de-
veres ao Poder Público, ou seja, todos os animais, indepen-
dentemente de serem ou não da fauna brasileira, passam a
contar com garantia constitucional, todas as situações jurídi-
cas devem estar em conformidade com os princípios constitu-
cionais. Assim fica ao Poder Público a tarefa de proteger a
fauna e a flora, sendo vedado na forma da lei as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica e a extinção das es-
pécies, ou submeter os animais à crueldade (SILVA, 2022).

3.3 APLICABILIDADE JURÍDICA DO DIREITO AMBIENTAL


À FAUNA

3.3.1 ASPECTOS PENAIS E PROCESSUAIS, E EFETIVI-


DADE DA LEI Nº 9.605/1998

A Lei nº 9.605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais) é um

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos instrumentos hábeis de tutela do meio ambiente. Diante


da delimitação temática do presente trabalho, atenção será
voltada para o capítulo do diploma legislativo referente aos cri-
mes contra fauna, ocasionalmente, para comparação, os de-
mais capítulos serão abordados.
É de conhecimento geral que a lei foi inovadora em vá-
rios aspectos, o caput do art. 29 da Lei n° 9.605/1998 os ele-
mentos do tipo, que por sua vez dizem respeito aos elementos
normativos da antijuricidade, in verbis:

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar


espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e
multa. (BRASIL, 2022).

Pode-se concluir então que, se trata de uma conduta


dolosa que se consuma com a prática de qualquer um dos ver-
bos acima elencados. Caracteriza-se como um crime comum,
doloso, não exige especial fim de agir, misto, alternativo ou de
conteúdo variado. Importante destacar que não há previsão de
delito culposo justamente por se constituir em crime de ação
múltipla.
Outra questão importante é quanto ao elemento norma-
tivo do tipo “sem a devida permissão, licença ou autorização”,

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ou seja, para a caracterização do crime é necessário a exis-


tência ou não de um ato de natureza administrativa previsto
em legislação específica.
Ainda na Lei nº 9.605/1998, art. 37, constam ainda cau-
sas especificas de exclusão da ilicitude nos casos dos crimes
contra a fauna, aplicando-se a todos os delitos previstos no
art. 29, vejamos:

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando


realizado:
I - em estado de necessidade, para saciar a fome
do agente ou de sua família;
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos
da ação predatória ou destruidora de animais,
desde que legal e expressamente autorizado
pela autoridade competente;
III – (VETADO)
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim ca-
racterizado pelo órgão competente. (BRASIL,
2022).

Ao analisar o artigo notamos que o inciso I discorre so-


bre o estado de necessidade como causa de exclusão de ilici-
tude, para saciar a fome do agente ou da sua família, esta pre-
visão também pode ser encontrada descrita no art. 24 do Có-
digo Penal. Já o inciso II discorre sobre o abate autorizado de
animais em virtude da necessidade de proteger as lavouras,
pomares ou rebanhos da ação predatória ou destruidora, essa
definição também pode ser encontrada no art. 23 do Código
Penal.
99 | P á g i n a
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Destaque-se que, mesmo diante da ausência de previa


caracterização do animal como nocivo, a existência de con-
creta ameaça ao homem ou as suas posses, justifica a ocor-
rência do estado de necessidade, pois o § 1° do art. 29 da Lei
n° 9.605/1998 estabelece que:

§ 1º Incorre nas mesmas penas:


I - quem impede a procriação da fauna, sem li-
cença, autorização ou em desacordo com a ob-
tida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho,
abrigo ou criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou ad-
quire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, uti-
liza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da
fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem
como produtos e objetos dela oriundos, proveni-
entes de criadouros não autorizados ou sem a
devida permissão, licença ou autorização da au-
toridade competente. (BRASIL, 2022).

Dessa forma, a existência de autorização, permissão ou


licença para a comercialização torna a conduta atípica.
Quando não existe uma autorização da autoridade compe-
tente é que está tipificado o crime. A respeito dos §2º e §3º,
temos que:

Lei nº 9.605/1998:
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar
espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida:
100 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Pena - detenção de seis meses a um ano, e


multa.
[...]
§2º No caso de guarda doméstica de espécie sil-
vestre não considerada ameaçada de extinção,
pode o juiz, considerando as circunstâncias, dei-
xar de aplicar a pena.
§3° São espécimes da fauna silvestre todos
aqueles pertencentes às espécies nativas, mi-
gratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terres-
tres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de
vida ocorrendo dentro dos limites do território
brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
(BRASIL, 2022).

Isso significa que, o parágrafo segundo trata da hipó-


tese de perdão judicial, para os casos de guarda doméstica de
espécie doméstica não ameaçada de extinção, hipótese em
que, nesses casos, o magistrado pode optar por não aplicar a
pena. O perdão judicial não é um direito subjetivo do réu, mas
sim uma faculdade do magistrado. O juiz deverá considerar as
particularidades do caso, não sendo possível determinar quais
sejam os requisitos necessários para a concessão do benefí-
cio.
O parágrafo terceiro traz que o objeto material dos deli-
tos são as espécimes da fauna silvestre, nativas ou migrató-
rias e que tenham em todo ou em parte do seu ciclo de vida
ocorrendo em território nacional. Todavia, quanto a majoração
da pena dos crimes praticados contra a fauna, os § 4°, § 5° e
§ 6° do art. 29 da Lei n° 9.605/1998 determinam que:
101 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar


espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida:

Pena - detenção de seis meses a um ano, e


multa.
[...]
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime
é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada
de extinção, ainda que somente no local da infra-
ção;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos
capazes de provocar destruição em massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime
decorre do exercício de caça profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam
aos atos de pesca. (BRASIL, 2022).

Nesses termos, as causas de aumento de pena são ti-


das como circunstâncias agravantes. Verifica-se no §4°, que a
pena será aumentada de metade, enquanto no §5°, a pena
poderá ser aumentada até o triplo, se o crime provém do exer-
cício da caga profissional. No mais, para que haja incidência
do inciso primeiro e necessário que a espécie seja conside-
rada rara ou em extinção no local da infração, não importa se
em outro local ela e encontrada em abundância.
Além das condutas tipificadas como crime no art. 29, o
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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

art. 30 da Lei n° 9.605/1998, ainda determina outras condutas


criminosas: "Exportar para o exterior peles e couros de anfí-
bios e repteis em bruto, sem a autorização da autoridade am-
biental competente: Pena - reclusão, de um a três anos, e
multa". Trata-se de proteção aos animais répteis e anfíbios,
especialmente quanto ao seu envio como mercadoria ao exte-
rior.
São considerados também como crime: o abuso, os
maus-tratos e, a mutilação dos animais, conforme disposto no
art. 32 da Lei n° 9.605/1998. Os tipos protegidos por este dis-
positivo referem-se aos animais silvestres domésticos ou do-
mesticados, nativos ou exóticos.
O art. 33 do mesmo diploma legal, versa também como
crime o perecimento da fauna aquática, o artigo trata sobre a
tutela penal dos seres que habitam na água e aborda as for-
mas especificas de poluição que acabam resultando no pere-
cimento de espécies, vejamos:

Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou


carreamento de materiais, o perecimento de es-
pécimes da fauna aquática existentes em rios, la-
gos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicio-
nais brasileiras:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou
ambas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:
I - quem causa degradação em viveiros, açudes
ou estações de aqüicultura de domínio público;

103 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

II - quem explora campos naturais de invertebra-


dos aquáticos e algas, sem licença, permissão
ou autorização da autoridade competente;
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos
de qualquer natureza sobre bancos de moluscos
ou corais, devidamente demarcados em carta
náutica. (BRASIL, 2022).

No artigo 34 da mesma lei, encontra-se a punição para


pesca predatória, a redação do artigo determina que caberá
detenção de um a três anos ou multa, ou ambas, se o sujeito
ativo pescar em período no qual a pesca for proibida, ou em
lugares interditados pelo órgão competente. Já o art. 35 versa
que caberá reclusão de um a cinco anos para aquele que pes-
car fazendo uso de explosivos ou substâncias que ao entrar
em contato com a água, produzam efeito semelhante a subs-
tâncias tóxicas.
Entende-se por tanto, que ao analisar esses artigos o
legislador deixou a critério do magistrado competente as pe-
nas a serem cominadas, que deveram ser feitas de acordo
com a gravidade da conduta, podendo ser feito uma escolha
entre a aplicação de multa ou detenção, como também de am-
bas.
No que se diz respeito aos aspectos processuais da Lei
9.605/98, na maioria das vezes os crimes praticados contra a
fauna brasileira são processados nos Juizados Especiais Cri-
minais. O art. 27 do diploma legal estabelece que a transação

104 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

penal só poderá ser proposta pelo Ministério Público após uma


prévia composição dos danos ambientais, in verbis:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor poten-


cial ofensivo, a proposta de aplicação imediata
de pena restritiva de direitos ou multa, prevista
no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995, somente poderá ser formulada desde que
tenha havido a prévia composição do dano am-
biental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo
em caso de comprovada impossibilidade. (BRA-
SIL, 2022).

Entende-se que, para aplicação de pena restritiva de di-


reitos nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, não
é necessário à efetiva reparação, exige-se apenas que o
agente delituoso formule uma forma de recuperação ade-
quada aquilo foi danificado (SILVA, 2022).
A proposta de recuperação também pode ser feita em
audiência. Sendo assim, se faz necessário que seja transcrita
no termo de audiência, com todas as suas clausulas e deter-
minações.
Em se tratando da suspensão condicional do processo,
a Lei de Crimes Ambientais determina em seu art. 28 que a
extinção de punibilidade poderá ser declarada apenas com a
comprovação da reparação do dano ou se ficar comprovado
que essa reparação é impossível de ser feitas, vejamos:

105 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099,


de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos cri-
mes de menor potencial ofensivo definidos nesta
Lei, com as seguintes modificações:
I - a declaração de extinção de punibilidade, de
que trata o § 5° do artigo referido no caput, de-
penderá de laudo de constatação de reparação
do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade
prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;
II - na hipótese de o laudo de constatação com-
provar não ter sido completa a reparação, o
prazo de suspensão do processo será prorro-
gado, até o período máximo previsto no artigo re-
ferido no caput, acrescido de mais um ano, com
suspensão do prazo da prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão
as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do
artigo mencionado no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á
à lavratura de novo laudo de constatação de re-
paração do dano ambiental, podendo, conforme
seu resultado, ser novamente prorrogado o perí-
odo de suspensão, até o máximo previsto no in-
ciso II deste artigo, observado o disposto no in-
ciso III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a
declaração de extinção de punibilidade depen-
derá de laudo de constatação que comprove ter
o acusado tomado as providências necessárias
à reparação integral do dano. (BRASIL, 2022).

Importante observar que o texto normativo deixa bem


claro que para se concretizar a suspensão condicional do pro-
cesso a infração dever ser classificada como de menor poten-
cial ofensivo, ou seja, pena máxima não superior a dois anos.
Os requisitos para suspensão processual estão previstos no
art. 89 da Lei nº 9.099/95, quais sejam: pena mínima igual ou
inferior a 01 (um) ano; não estar o acusado respondendo ou já
106 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ter sido condenado por outro crime; adimplemento dos requi-


sites da suspensão condicional da pena, conforme art. 77 do
CP. A ausência de reparação do dano ou a instauração de ou-
tro processo por infração criminal em desfavor do beneficiado
são causas de extinção da suspensão.
Ao analisar os artigos mencionados, fica claro que a
aplicabilidade das sanções penais nos crimes contra a fauna
no Brasil, ainda precisa passar por melhorias, apesar de existir
a tutela penal, ainda assim, essa tutela poderia e deveria gerar
efeitos mais gravosos para aqueles que cometem crimes con-
tra a fauna. Vejamos o julgamento do Tribunal Regional Fede-
ral – TRF da 3ª Região no qual avalia-se à materialidade de
crime contra a fauna:

EMENTA PENAL. CRIME CONTRA A FAUNA.


AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVA-
DAS. ART. 3º DA LEI N. 5197/67. HABITUALI-
DADE PARA COMPROVAÇÃO DO COMÉR-
CIO. IRRELEVÂNCIA. DOLO. CONFIGURA-
ÇÃO. PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. EX-
TINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 1. Autoria e materi-
alidade delitiva comprovadas. Perante a Autori-
dade Policial, o réu revelou os preços pagos pe-
los ANIMAIS SILVESTRES e os valores pelos
quais pretendia revende-los, a evidenciar o nítido
intuito de lucro. 2. A conduta de comercializar
animais (Lei n. 5.197/67, art. 3°) consiste em atos
de intermediação entre produtor e consumidor,
abrangidas a venda e a exposição a venda de
animais. 3. A simples exposição a venda de ani-
mais pertencentes a fauna silvestre realiza o tipo

107 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

penal do art. 3° da Lei n. 5.197/67. A comprova-


ção da habitualidade poderia ter relevância para
configuração da pratica de atos do comercio,
mas não para ensejar a responsabilidade penal.
4. Não cabe ao Poder Judiciário deixar de aplicar
a lei diante do alegado insignificante potencial
ofensivo do dano causado, uma vez que é função
do Poder Legislativo a seleção dos bens jurídicos
tutelados pelo Direito Penal. 5. Esta prescrita a
pretensão punitiva do Estado se após o recebi-
mento da denúncia houver transcorrido tempo
superior ao prazo prescricional, considerada a
pena concretamente aplicada, inexistindo causa
interruptiva da prescrição posterior aquela deci-
são. 6. Apelação do Ministério Público Federal
provida e decretada, ex officio, a extinção da pu-
nibilidade. (ACR - APELAÇÃO CRIMINAL - 7399,
Quinta Turma, TRF 3°, Relator JUIZ ANDRE NE-
KATSCHALOW, Publicado em 29/03/2005).

Diante do que foi demonstrado, apesar de existir uma


tutela penal, as penas são muito irrisórias para uma país que
possui uma grande diversidade ambiental como o Brasil. É
inegável que após a criação da Lei de Crimes ambientais, o
Brasil avançou bastante nas quesito de proteção ao meio am-
biente, determinando quais as condutas que serão punidas e
quais as sanções que devem ser aplicadas, responsabili-
zando, inclusive, a pessoa jurídica. Mas ainda existe uma ne-
cessidade de aperfeiçoamento da leis e regulamentação com
novos critérios para que os infratores sejam penalizados.

108 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3.3.2 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E SUA POSSÍVEL


APLICABILIDADE

A origem do princípio da insignificância possui algumas


discussões, isso porque existem duas vertentes relacionada a
este tema, uma, na qual sustenta que a origem deste princípio
começou no Direito Romano, em que havia a minima non curat
praetor, ou seja, onde o pretor não julgava casos de bagatela,
no entanto, era aplicado somente em casos privados, e era
somente por suposição.
A segunda vertente nega a origem deste princípio, pelo
Direito Romano, pois somente havia a aplicação em casos de
direito privado, desta maneira, o princípio somente começou a
ser aplicado na Europa, com a 1ª Guerra Mundial.
Este princípio é norteado por diversos outros princípios,
no entanto, dois deles são mais importantes, o princípio da
proporcionalidade, tem como objetivo garantir a liberdade in-
dividual frente aos interesses administrativos, assim a pena
aplicada deve ser proporcional à gravidade da infração; e da
intervenção mínima, esse princípio é utilizado para garantir a
proteção do indivíduo frente às sanções penais, ou seja, as
sanções somente devem ser aplicadas em caso de grandes
violações sofridas, em bens jurídicos relevantes e com maior
gravidade social.

109 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

De acordo com os ensinamentos de Nucci (2020), para


que seja aplicado o princípio em causa penais deve-se ficar
atento a três regras, quais sejam: a consideração do valor do
bem jurídico, consideração da lesão do bem jurídico na visão
global e a consideração particular dos bens jurídicos imateriais
que possuem valor expressivo social.

É necessário muito cuidado ao definir um conceito para


o princípio da insignificância, uma vez que este não é concei-
tuada em lei, mas apenas definido em doutrinas e jurisprudên-
cias. Partindo disso, o princípio da insignificância determina
que nem toda agressão merece uma ser reprimida pelo direto
penal, mas somente aquela que afetar os bens jurídicos de
forma relevante para que se posso justificar uma intervenção
penal (JUNQUERIA, VANZOLINI, 2021).

No que tange ao Direito Ambiental, a aplicação deste


princípio possui controvérsias na doutrina. A primeira corrente
defende a não aplicação desse princípio em questões ambi-
entais, uma vez que toda lesão provocada no meio ambiente
é significante para o desequilíbrio ambiental, podendo provo-
car uma série de outros danos ambientais. Esse é o entendi-
mento de Romeu Faria Thomé Silva (2015), que expões qua-
tro motivos para não aplicação do princípio, vejamos:

110 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É incompatível com o cunho preventivo conferido


à tutela penal ambiental; o bem jurídico ambien-
tal é insuscetível, ao menos diretamente, de ava-
liação econômica; a aplicação do princípio da in-
significância na seara ambiental afrontaria os
princípios da precaução e prevenção; não se
pode afirmar que exista um dano ambiental irre-
levante, pois existem danos ainda desconheci-
dos pela própria Ciência. (SILVA, 2015).

A segunda corrente esclarece que a lei ambiental não


deve ser aplicada em casos de ações que são “insignifican-
tes”, ou seja, de menor potencial ofensivo ao meio ambiente.
Segundo essa corrente o direito penal deverá incidir somente
em casos que não é possível a aplicação em sanções nas de-
mais instâncias, como civil e administrativa. No entanto, o STF
já admitiu a aplicação do princípio em determinadas causas
ambientais, como veremos no caso abaixo:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HA-


BEAS CORPUS. PENAL CRIME AMBIENTAL.
PESCA EM LOCAL PROIBIDO. APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PRECE-
DENTES. ORDEM CONCEDIDA. AGRAVO RE-
GIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I -
Nos termos da jurisprudência deste Tribunal, a
aplicação do princípio da insignificância, de
modo a tornar a ação atípica exige a satisfação
de certos requisitos, de forma concomitante: a
conduta minimamente ofensiva, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a lesão ju-
rídica inexpressiva. II – Paciente que sequer es-
tava praticando a pesca e não trazia consigo ne-
nhum peixe ou crustáceo de qualquer espécie,

111 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

quanto mais aquelas que se encontravam prote-


gidas pelo período de defeso. III - “Hipótese ex-
cepcional a revelar a ausência do requisito da
justa causa para a abertura da ação penal, espe-
cialmente pela mínima ofensividade da conduta
do agente, pelo reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento e pela inexpressividade da le-
são jurídica provocada” (BRASIL, HC 181235
AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI,
Segunda Turma, julgado em 29/05/2020, PRO-
CESSO ELETRÔNICO DJe-161 DIVULG 25-06-
2020 PUBLIC 26-06-2020).

Entende-se assim que, é possível a aplicação do prin-


cípio da insignificância, mas esta deve ser feita de maneira
cuidadosa observados todos os critérios, de modo que venha
a proteger o meio ambiente.

3.3.3 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

A Constituição Federal dispõe, no §5º do art. 225,


acerca da possibilidade de responsabilização criminal da pes-
soa jurídica. Dessa forma, as pessoas jurídicas só podem ser
alvos de penas restritivas de direito e multa, vejamos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.
[...]

112 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

§3º As condutas e atividades consideradas lesi-


vas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obriga-
ção de reparar os danos causados. (BRASIL,
2022).

Outra forma de proteção ao meio ambiente é definição


de responsabilidade pelo dano. A súmula nº 623 do Superior
Tribunal de Justiça – STJ, define que as obrigações ambien-
tais têm natureza propter rem, ou seja, segue o bem, assim é
admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou
dos anteriores, à escolha do credor. Além disso, a Lei nº
6.938/81, Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, estabe-
lece que a responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva,
ou seja, independe de culpa.
Após a regularização da responsabilidade da pessoa ju-
rídica pela Lei Nº 9.605/98, se tornou mais solido a ideia do
concurso de pessoas, e confirmou a responsabilidade tríplice
da pessoa jurídica. Importante lembrar que, para que não
fosse suscitada dúvidas ao se fazer a interpretação da lei, o
parágrafo único do art. 3º, prevê que a responsabilidade penal
da pessoa jurídica não exclui a da pessoa física. Vejamos:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para


a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide
nas penas a estes cominadas, na medida da sua
culpabilidade, bem como o diretor, o administra-
dor, o membro de conselho e de órgão técnico, o
113 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de


pessoa jurídica, que, sabendo da conduta crimi-
nosa de outrem, deixar de impedir a sua prática,
quando podia agir para evitá-la.
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabili-
zadas administrativa, civil e penalmente con-
forme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu repre-
sentante legal ou contratual, ou de seu órgão co-
legiado, no interesse ou benefício da sua enti-
dade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pes-
soas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
(BRASIL, 2022).

No entanto, apesar da tipificação, existe uma grande di-


vergência ao se falar em penalização para pessoa jurídica.
Inúmeros relatos demonstram que as denúncias efetuadas
contra pessoas jurídicas, por crimes ambientais, deixam de ser
acatadas, sob argumento de quem a responsabilidade é in-
constitucional.
Mas de acordo com os ensinamentos de Lopes (2000),
a responsabilização da pessoa jurídica é graças ao avanço na
história do direito, ou seja, os conceitos penais tradicionais,
baseados na culpabilidade, são teorias arcaicas que se con-
trapões à criatividade e à proteção efetiva da qualidade de vida
do planeta.
Na concepção de Almeida (2009), é necessário que
aconteça a responsabilização da pessoa jurídica, no entanto,
a legislação precisa passar por inovações para conter sanções
114 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

especificas sobre o tem. Para o autor, a responsabilização da


pessoa jurídica não é possível porque os princípios fundamen-
tais da legalidade, da responsabilidade pessoal, da culpabili-
dade, da presunção de inocência e o da individualização da
pena não podem ser aplicados, ou seja, a responsabilidade da
pessoa física é individual e a responsabilidade da pessoa jurí-
dica é coletiva.
Ainda, segundo Lopes (2000), a própria constituição
classifica o meio ambiente como bem de uso comum do provo,
dessa forma a interpretação da lei sempre deve levar em conta
à tutela do bem jurídico para o qual foi dada tamanha impor-
tância. Sendo assim, quando tratamos o meio ambiente como
bem de uso comum do povo, conferimos a este a natureza de
direito público subjetivo, ou seja, é exigível e exercitável em
face do próprio Estado, tendo este a missão de protegê-lo.
A proteção ao meio ambiente se justifica, como menci-
onado várias vezes durante o trabalho, pela necessidade, de
toda a humanidade poder desfrutar dos recursos naturais, as-
sim como do patrimônio cultural.
A exploração de forma excessiva e degradação do meio
ambiente, usando como justificativa a sustentabilidade do ser
humano, é uma discrepância. A condenação tem como obje-
tivo, além de punir, que seja feito a reparação do dano, se-

115 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

gundo as normas de direito penal. A função preventiva da le-


gislação é punir o responsável pelo dano para que este não
volte a incidir na prática de condutas de caráter delituoso.
No entanto, é predominante o entendimento de que a
pessoa jurídica não tem vontade própria e essas é uma das
razões pelas quais alguns discorrem sobre a não aceitação da
responsabilidade penal da pessoa jurídica, pois lhe falta a cul-
pabilidade. De acordo com Rocha:

O fato do modelo dogmático tradicional de culpa-


bilidade não se moldar ao ente coletivo não ex-
clui sua responsabilidade. Explicando melhor,
aduz que não se deve falar em culpabilidade
para pessoa jurídica. Este é um princípio aplicá-
vel somente às pessoas naturais, e serve para
limitar eventuais abusos cometidos pelo Estado.
Nesse sentido, deve ser criado um novo princípio
que atenda essa função, dirigido, porém, às pes-
soas jurídicas. (ROCHA, 2002)

Do outro lado, para Milaré (2009), por exemplo, a cul-


pabilidade da pessoa jurídica não se define a partir do Direito
Penal tradicional, mas por uma reprovabilidade da conduta,
assim a pessoa jurídica não pode alegar que desconhecia as
normas cujo conhecimento, devido ao seu grau técnico, é pre-
sumido.
A responsabilidade, nesse caso, tem como elemento a
exigibilidade de outra conduta. Dessa forma, o que podemos
tirar como entendimento, que o crime é praticado pela pessoa
116 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

jurídica quando houver, na prática do delito, interesse institu-


cional, o que pode ser verificado através do interesse econô-
mico.
Pode-se concluir, portanto, que a responsabilização da
pessoa jurídica é feita a partir do momento em que, dada as
circunstâncias de suas ações, tornou-se esta impessoal, ou
seja, sendo impossível a determinação dos responsáveis de
forma individual, sendo assim a responsabilização da pessoa
jurídica é uma forma de garantir que a justiça será feita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente trabalho depreende-se que o direito ao


meio ambiente é uma garantia do povo. Dessa forma, o legis-
lador, o poder público, o judiciário e a coletividade passam a
ter o dever constitucional de preservá-lo para presentes e fu-
turas gerações. Devido à importância trazida pela Constituição
ao meio ambiente, o definindo como direito fundamental, a tu-
tela deste bem passou a ser protegida pelo Direito Penal.
Isso se deve ao fato de que o Direito Penal é um instru-
mento hábil de tutela dos bens jurídicos relevantes por prever
sanções que resultam na privação de liberdade. Foi dentro
deste contexto que o legislador elaborou a Lei nº 9.605/71998,
Lei de Crimes Ambientais, regulamentando o mandamento
117 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

constitucional previsto no artigo 225 e dando enfoque criminal


a condutas que são lesivas ao meio ambiente.
A Lei de Crimes Ambientais foi de fundamental impor-
tância para a tutela ambiental, trazendo previsões inovadoras,
como responsabilização penal da pessoa jurídica, bem como
incriminou condutas nocivas às mais diversas espécies de ele-
mentos componentes do meio ambiente. Além disso, centrali-
zou o sistema jurídico das normas penais ambientais, antes
disseminadas por várias leis esparsas.
A análise crítica do tipo penal realizada nesse trabalho
mostrou que a lei em comento não foi de toda satisfatória, uma
vez que não cumpriu com o fim constitucional da sua obriga-
ção, impondo penas muito brandas para condutas que são ex-
tremamente reprováveis. É injustificável ou aceitável que ani-
mais que são maltratados, feridos, mutilados, sejam ampara-
dos penalmente da mesma forma que se tutela uma única flor
ornamental.
Observa-se que, efetivamente, a lei posta em analise
não atende à ordem constitucional, uma vez que não é eficaz
na proteção a fauna visto que sua reprimenda não é ade-
quada, não é proporcional. Pode-se concluir que a proteção
ao bem jurídico ambiental é deficiente, violando o princípio da
proporcionalidade.
Em relação ao defeitos observados após análise do tipo

118 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

penal na Lei de Crimes ambientais, é preciso que seja feita


uma reforma substancial, um projeto que aumenta a pena dos
crimes previstos, majorantes mais onerosas e adequadas à
gravidade dos fatos, além disso, é bem interessante que seja
previsto a criação de um sistema nacional de proteção aos ani-
mais, preconizando pelo bem-estar animal e a vedação efetiva
à crueldade.
Diante do objetivo do trabalho percebesse que alcançar
uma sociedade mais justa também inclui a forma em que se
trata os animais, é preciso agir para que se possa evoluir, re-
formando os tipos penais, reajustando as margens da penas à
gravidade de cada infração. Sendo o homem diferente dos de-
mais seres, é preciso ter um olhar humano e piedoso com os
demais seres que habitam o planeta terra, os animais mere-
cem respeito pela sua própria natureza de ser vivo.

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121 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4
FURTO EM ESTACIONAMENTO:
UMA ANÁLISE ACERCA DA RESPONSABILIDADE

THEFT IN PARKING:
AN ANALYSIS OF RESPONSIBILITY

Francisco Cordeiro do Nascimento7


Ícaro Maia Chaim8

NASCIMENTO, Francisco Cordeiro do. Furto em estaciona-


mento: uma análise acerca da responsabilidade. Trabalho
de Conclusão de Curso de graduação em Direito – Centro Uni-
versitário UNINORTE, Rio Branco, 2023.

7
Discente do 9º Período do Curso de Bacharel em Direito pelo Centro Uni-
versitário Uninorte.
8
Graduado em Direito. E pós-graduada em Direito Processual Civil pela
Universidade Anhanguera. Assessor Jurídico na Procuradoria Geral do Es-
tado do Acre. Coordenador do curso de Direito do Centro Universitário
Uninorte.

122 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO
O presente artigo trata sobre a responsabilidade de furto em
estacionamento. A responsabilidade civil possui várias classi-
ficações, estas se baseiam quanto à sua origem, quanto à
culpa, quanto à causa, quanto ao perigo e quanto a causa no
perigo. Os serviços oferecidos pelos estacionamentos comer-
ciais, sobretudo os remunerados, aplica-se o código de defesa
do consumidor quanto á chamada responsabilidade objetiva,
ou seja, quando não se tem culpa, onde a intenção não é pro-
var a culpa do ofensor, mas sim responsabilizá-lo pelo dano
oriundo do risco decorrente da atividade lucrativa que pratica.
A figura jurídica advinda da relação entre o proprietário de um
veículo e um estacionamento nem sempre restou muito clara
perante os operadores do direito. Como em nosso ordena-
mento jurídico não há lei impondo o dever de guarda, vigilância
ou custódia no caso dos estacionamentos
Palavras-chave: furto; estacionamento; responsabilidade.

ABSTRACT
This article deals with the responsibility for parking theft. Civil
liability has several classifications, these are based on their ori-
gin, on fault, on the cause, on the danger and on the cause of
the danger. The services offered by commercial parking lots,
especially paid ones, apply the consumer protection code re-
garding so-called strict liability, that is, when one is not at fault,
where the intention is not to prove the offender's guilt, but to
hold him accountable. him for the damage arising from the risk
arising from the lucrative activity he practices. The legal figure
arising from the relationship between the owner of a vehicle
and a parking lot has not always been very clear to operators
of law. As in our legal system, there is no law imposing the duty
of custody, surveillance or custody in the case of parking lots.
Keywords: theft; parking; responsibility.

123 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Este artigo aborda a responsabilidade de furtos em es-


tacionamento. A responsabilidade civil é um dos temas mais
dinâmicos referentes ao direito privado, e faz uma junção entre
o desenvolvimento conceitual da tradição história do direito ci-
vil e as exigências de um mundo que se transforma a todo
momento.
Diariamente o uso de veículos automotores está muito
mais presente, o sonho de possuir um veículo, a comodidade
e independência móvel levam cada vez mais pessoas a adqui-
rirem um veículo. Mas, como tudo o que se dá em exagero,
surge os efeitos e problemas como congestionamentos, aci-
dentes, perda de tempo útil e a dificuldade de se encontrar
uma vaga de estacionamento nas áreas de maior concentra-
ção do fluxo de pessoas.
O furto é um ato ilícito e é tratado no direito penal. To-
davia, se o infortúnio ocorre no interior de um espaço privado,
como nos casos de estacionamento aflora a possibilidade de
ressarcimento dos danos sofridos na esfera cível. Pelos preju-
ízos sofridos, alguns buscam o Poder Judiciário para o ressar-
cimento dos danos, pois, entendem que ao pagarem pelo es-
tacionamento, estão colocando seu bem sob a proteção e
guarda do ente regulador.

124 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Essa questão ainda causa muita discussão e não há


consenso nos tribunais sobre qual resposta deve ser dada e,
em decurso dessa incerteza sobre se há ou não direito ao res-
sarcimento dos prejuízos sofridos, muitos particulares vão ao
Judiciário para obter uma resposta concreta.
A responsabilidade civil quanto à culpa pode ser obje-
tiva, nos casos em que as ações praticadas pelos indivíduos
públicos acarretam prejuízos ou danos a terceiros, ainda que
não exista culpa. Ela pode ser também subjetiva, nos casos
em que necessita demonstrar a culpa, para que assim possa
ser pedido uma reparação por danos.

4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL

A origem da palavra responsabilidade vem do latim


spondeo, que está conectada ao devedor, solenemente, nos
contratos verbais do direito romano. Existem muitas variações
de definições, algumas instituídas na doutrina do livre-arbítrio,
outras em motivações psicológicas, destacando à noção de
responsabilidade como aspecto da realidade social (OLI-
VEIRA, 2020).
A palavra responsabilidade é aplicada juridicamente
nos casos em que uma pessoa deve arcar com as consequên-
cias de um ato, fato ou negócio que gerou dano a outrem.

125 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Logo, podemos dizer que o princípio da reparação do dano é


o Centro da responsabilidade civil. Em síntese, a responsabi-
lidade civil nasce do pressuposto de que todo o dano deve ser
reparado, ou seja, a indenização é a chave para o equilíbrio
das relações sociais afetadas por algum dano.
O termo responsabilidade é utilizado nas mais variadas
áreas da ciência, exibindo características próprias com base
no contexto, sendo de suma importância para uma sociedade
organizada. Segundo o autor César Fiuza, juridicamente este
trata de o agente responder pelos atos que praticou, necessi-
tando suportar então, um dever, uma sanção, uma imposição
decorrente daquele ato (FIUZA, 2016).
A responsabilidade civil relaciona-se com o senso de
justiça que sempre permeou a história do homem. Domina,
também, o fato de que cada ação humana se encontra envol-
vida com a questão da responsabilidade, independente se
considerada a esfera jurídica ou não (DA SILVA, 2011, p. 11).
A responsabilidade civil está classificada em três moda-
lidades: primeiro ao gerador, que se subdivide em responsa-
bilidade contratual e extracontratual; segundo quanto ao
agente, que se subdivide em direta, em que é a responsabili-
dade proveniente de ato do próprio agente direto do dano, e
em indireta, que decorre de ato de terceiro; e terceiro que se
subdivide em responsabilidade subjetiva e objetiva (SILVA;

126 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RODRIGUES, 2015).
Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2008. p. 26), a
responsabilidade contratual pode ser demostrador na seguinte
forma:

Quem toma um ônibus tacitamente celebra um


contrato, chamado contrato de adesão, com a
empresa de ônibus. Esta, implicitamente, as-
sume a obrigação de conduzir o passageiro ao
seu destino, são e salvo. Se, no trajeto, ocorre
um acidente, e o passageiro fica ferido, dá-se o
inadimplemento contratual, que acarreta a res-
ponsabilidade de indenizar as perdas e danos,
nos termos do art. 389, do Código Civil.

A responsabilidade civil possui várias classificações,


estas se baseiam quanto à sua origem, quanto à culpa, quanto
à causa, quanto ao perigo e quanto a causa no perigo. Quando
se fala em responsabilidade civil quanto à origem, direciona-
se a classificação para responsabilidade contratual e extra-
contratual.
A contratual se encontra nos casos em que a obriga-
ção que deixou de ser cumprida por uma das partes provém
de um contrato, logo para que se configure necessita de um
acordo prévio entre as partes. Possui sua previsão no artigo
389 do CC.
Quanto a responsabilidade civil extracontratual, conhe-
cida também por aquiliana, ela se diferencia da contratual,

127 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pois, não existe um contrato que vincule as partes, contudo,


existe o vínculo da lei que obriga que as partes observem o
ordenamento jurídico para não o descumprir gerando assim
danos para outra pessoa.
A responsabilidade extracontratual é aquela que se origina de
um ilícito extracontratual, ou seja, da realização de um ato ilí-
cito de um certo agente, em que não haja vínculo obrigacional
anterior entre os contraentes, por não haver envolvimento por
uma relação contratual (SILVA; RODRIGUES, 2015).
A responsabilidade civil quanto à culpa pode ser obje-
tiva, nos casos em que as ações praticadas pelos indivíduos
públicos acarretam prejuízos ou danos a terceiros, ainda que
não exista culpa. Ela pode ser também subjetiva, nos casos
em que necessita demonstrar a culpa, para que assim possa
ser pedido uma reparação por danos.
Relacionada ao agente a responsabilidade pode ser
classificada ser direta e indireta. Ela configura-se direta
quando for resultado da própria pessoa imputada, nesse caso,
o agente deverá responder pelo seu próprio ato danoso.
Quanto a indireta, ela também é denominada complexa, po-
dendo ser compreendida por ato de terceiro, desde que o
agente possua ligação com e essa pessoa seja responsável
por esse terceiro agente, exemplo: fato de animal.

128 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A responsabilidade civil dos estabelecimentos de esta-


cionamento é tema bastante debatido pela jurisprudência bra-
sileira, de modo que o entendimento que vem sendo adotado
pelos tribunais segue no sentido de responsabilizar as empre-
sas e a administração por danos causados aos usuários do
serviço (ZAMPROGNO et al., 2018).
O não cumprimento de algo numa relação jurídica acar-
reta responsabilidade civil podendo ser considerada um ato ilí-
cito. Acerca de assunto o doutrinador Lisboa (2008, p. 133)
dissertou e esclareceu alguns pontos:

E toda conduta pessoal que infringe o ordena-


mento jurídico, causando danos a outra pessoa.
É um ato ilícito de procedimento violento do de-
ver jurídico primário que tinha de ser observado
pelo agente, mas acabou por descumprir aquilo
a que se comprometeu por meio de declaração
unilateral de vontade, negócio jurídico ou, ainda,
por força da lei.

O dano é qualificado como algum tipo de prejuízo so-


frido pela vítima, sendo classificado como patrimonial ou ex-
trapatrimonial. O dano patrimonial é de natureza econômica, o
prejuízo que a vítima sofre pode ser mensurado matematica-
mente, averiguando assim qual o montante a ser pago pelo
dano. O dano extrapatrimonial é titulado dano moral, baseado
na violação de um direito da personalidade (LISBOA, 2008, p.
137).
129 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O dano ao valor relativo está de acordo com a jurispru-


dência. A reparação poderia ser superior ao dano sofrido, caso
a coisa perdesse a importância. A partir daí nasceu a ideia de
cumulação de pedidos entre dano material, o que realmente
se perdeu, e o dano moral, ainda que não com essa nomen-
clatura, uma vez que surgia a probabilidade de majoração na
indenização a ser recebida (SILVA; RODRIGUES, 2015).

A teoria da reparação do dano só passou a ser aplicada


quando os juristas de antigamente sugeriram que a ideia de
que a responsabilidade civil nascia da culpa e a partir daí de-
ram início a novos entendimentos, assinalando como verda-
deiro fundamento a existência de um dano efetivo.

O artigo 927, do Código Civil de 2002, norteia as hipó-


teses da responsabilidade civil a antijuridicidade, a culpabili-
dade, o nexo de causalidade e o dano sofrido.

Os pressupostos da obrigação de reparar o dano são:


a realização de uma conduta pessoal, comissiva ou omissiva;
a violação de um dever jurídico definido pelo negócio jurídico
ou pela legislação existente; o fato de ter um dano patrimonial
ou extra patrimonial causado pelo agente; e o nexo de causa-
lidade entre a conduta e o dano (PREVIATTO, 2012).

130 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E OS FURTOS


DE VEÍCULOS EM ESTACIONAMENTOS COMERCIAIS

Imagem 01:

Fonte: https://novaorion.com.br/sinalizacao-de-vagas-de-estacionamento-
sumare-sp/

Os serviços oferecidos pelos estacionamentos comer-


ciais, sobretudo os remunerados, aplica-se o código de defesa
do consumidor quanto á chamada responsabilidade objetiva,
ou seja, quando não se tem culpa, onde a intenção não é pro-
var a culpa do ofensor.
Mas sim responsabilizá-lo pelo dano oriundo do risco
decorrente da atividade lucrativa que pratica, nesse caso, não
se investiga a acerca da prova da culpa, determinando que o
ofendido prove o dano que sofreu e ponha o nexo de causali-
dade entre si e aquele a quem acusa de lhe ter praticado o
131 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dano (GARCIA, 2014).


O furto é um ato ilícito e suas consequências estão no
âmbito do direito penal. Se um furto ocorre no interior de um
espaço privado, como nos casos de estacionamento de esta-
belecimentos comerciais, é cabível a possibilidade de ressar-
cimento dos danos sofridos na esfera cível (OLIVEIRA, 2020).
Nas relações de consumo, os sujeitos em evidência são
o fornecedor e consumidor, por isso o CDC, em seus artigos
2º e 3º traz de forma respectiva suas conceituações:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurí-


dica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final. Parágrafo único. Equi-
para-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo
nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurí-
dica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que de-
senvolvem atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto
é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial. (BRASIL, 1990).

Enquanto no Direito Civil, geralmente, usa-se a respon-


sabilidade subjetiva, em que nestas precisa-se demonstrar
culpa, nos casos de relações consumeristas tende-se a usar a
objetiva. Entender o porquê dessa diferença é simplesmente
levar em consideração a relação desigual entre consumidor e
132 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

fornecedor, logo, observa que o consumidor se encontra em


situação de vulnerabilidade diante do poder e controle do for-
necedor. Pode-se fundamentar esse pensamento supracitado
por meio do artigo 4º, I, CDC:

A Política Nacional das Relações de Con-


sumo tem por objetivo o atendimento das ne-
cessidades dos consumidores, o respeito à
sua dignidade, saúde e segurança, a prote-
ção de seus interesses econômicos, a me-
lhoria da sua qualidade de vida, bem como
a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios
I - reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor no mercado de consumo. (BRA-
SIL, 1990).

No código de defesa do consumidor os estacionamen-


tos de veículos são tratados como prestadores de serviço, de
forma gratuita ou onerosa. Mediante isso, a responsabilidade
pela guarda e vigilância do veículo, presentes no estabeleci-
mento comercial, compete a este, quando da ocorrência de
furto o consumidor deve ser indenizado.

O fornecedor de serviços responde, inde-


pendentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consu-
midores por defeitos relativos à prestação
dos serviços (CDC, art. 14, caput).

133 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A responsabilidade é objetiva, independente de culpa,


reforçando o posicionamento do Código de Defesa do Consu-
midor, não importando se oneroso ou gratuito, o estaciona-
mento faz parte do estabelecimento comercial (VENOSA,
2012, p. 288).
Nos estabelecimentos comerciais que oferecem o es-
tacionamento de forma gratuita como uma forma de atração
ao cliente, pela lógica, que o serviço oferecido deve ocorrer
de maneira efetivo e eficiente, com isso as pessoas deixam
o seu veículo no local e consideram que ele estará em segu-
rança, de modo que qualquer furto ali causado deve ser re-
parado.
Segundo a Súmula 130 do STJ, o furto de veículo em
estacionamento privativo de empresa gera a obrigação de in-
denizar. Mas isso só é valido se o cliente retornar ao estacio-
namento onde deixou seu veículo, não encontrar o mesmo,
seus bens no interior dele ou encontrá-lo danificado seja uma
lataria riscada ou até mesmo um vidro quebrado, terá direito à
reparação dos danos sem que seja necessária a prova da
culpa por parte da empresa.
A responsabilidade do estacionamento será objetiva, de
acordo com o Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 14
responsabiliza, sem culpa, os prestadores de serviço.

134 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.2.1 APONTAMENTOS SOBRE ESTACIONAMENTOS

Imagem 02:

Fonte: Sincor-SP

Os estacionamentos privados possuem como caracte-


rística principal a oferta de mais comodidade e conforto para
seus clientes, pois são produzidos com estrutura adequada e
específica para receber os veículos de seus clientes.
Entretanto, as ofertas não se resumem apenas em in-
fraestrutura, esses lugares possuem gestão de entrada e sa-
ída, bem como monitoramento por sistemas de controle, lei-
tura de placas e câmeras de segurança, para que assim se
torne mais difícil a prática de roubos e furtos nestes ambientes.

135 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.2.1.1 Estacionamento de clube recreativo

Aos associados dos clubes recreativos que comumente


possuem a obrigação de pagar determinado valor para poder
integrar a sociedade. Quando não, ao menos paga mensali-
dade para manutenção dos benefícios.
Todas as pessoas que compõe o corpo desse clube re-
creativo deverão obedecer a seus estatutos sociais e esperam
da sociedade confiança e segurança, mormente nos dias ho-
diernos, em que a segurança cada vez mais está na pauta de
prioridades das famílias.
STOCO define que a obrigação de guarda deve estar
inclusa no próprio valor da mensalidade ou contida nos preços
dos diversos serviços postos à disposição dos associados.
Logo, o fato de o clube manter uma área privativa de estacio-
namento, acaba por despertar o desejo nas pessoas de se tor-
narem associadas, pois, subtende-se que traga maior segu-
rança.

4.2.1.2 Estacionamento de edifício em condomínio

Quando se fala em responsabilidade dos edifícios em


condomínios não há em que se falar nas ocasiões em que ve-
ículos são furtados ou até mesmo objetos neles contidos, isso

136 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

porque entende-se que ao deixar o veículo na vaga de gara-


gem do prédio, não há transferência de guarda, pois essas ga-
ragens integram a própria residência do usuário.

Entretanto, obrigação de guarda só poderá prevalecer


se estiver expressa nas cláusulas contratuais prevista na con-
venção ou no regulamento interno do condomínio, ou se o pró-
prio condomínio mantiver vigia ou guarda com o fim específico
de protege ou salvaguardar a incolumidade dos veículos esta-
cionados na garagem do prédio.

Nesse sentido é a Jurisprudência:

Somente cláusula expressa na conven-


ção condominial tocante à guarda e vigi-
lância de coisa dos condôminos, em es-
paços comuns, pode imputar ao condo-
mínio a responsabilidade por furto daque-
les bens ou dano. Civil. Condomínio. Res-
ponsabilidade. Furto. Não tendo assu-
mido explícita ou implicitamente o dever
de guarda e vigilância, o condomínio não
pode ser responsabilizado por furto de
veículo ocorrido na garagem do edifício.
Silente a convenção do condomínio, no
que tange a responsabilidade pela
guarda de veículos nas garagens e pela
guarda dos bens no interior das unidades
habitacionais e inexistindo culpa do con-
domínio e de seus prepostos, não res-
ponde ele por eventuais furtos ali ocorri-
dos.

137 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.2.1.3 Estacionamento da empresa em relação ao empre-


gado

Nos casos em que a empresa possui estacionamento e


permite que seus empregados o utilizem, e sendo este dotado,
mesmo que precariamente, de segurança e/ou vigilância, as-
sume o dever de guarda, tornando-se civilmente responsável
pelos furtos dos automóveis de seus empregados.

4.2.1.4 Estacionamento de hospital

Quanto a responsabilidade de estacionamentos de hos-


pitais, doutrina e jurisprudência proclamam a necessidade de
verificação da conotação comercial ou empresarial do estabe-
lecimento para caracterização de sua responsabilização civil.
Assim, havendo intuito de lucro na atividade do hospital,
responderá este segundo a regra geral de responsabilidade
dos estacionamentos, ou seja, de acordo com as regras do
contrato de depósito (responsabilidade objetiva) e com a inci-
dência das regras consumeristas.
Por outro turno, se o hospital não detiver finalidade lu-
crativa, ou seja, funcionar sem qualquer intuito econômico ou
de lucro, não será responsabilizado civilmente pelas eventuais
avarias ou furtos ocorridos nos veículos que utilizarem seu es-
tacionamento.

138 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Assim, independentemente da situação fática existente


em cada caso, o que importa para delinear a responsabilidade
dos hospitais pelos danos ocorridos em seus estacionamentos
é tão somente sua finalidade social.

4.2.2 INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

Atualmente furtos de veículos em dependências dos


estabelecimentos privados ou comerciais estão no cotidiano
dos consumidores, na maioria das vezes os consumidores se
sentem lesados e correm atrás dos seus direitos. Relatam
aos responsáveis do estabelecimento o fato ocorrido e pro-
curam apura a obrigação de ser restituído, muitas das vezes
recebem uma resposta negativa por parte do estabeleci-
mento privado, causando frustração (SABBADINI et al.,
2017).
Independentemente de o estacionamento ser público
ou privado, o estabelecimento comercial não se desobriga
em nenhuma responsabilidade. No caso dos estacionamen-
tos públicos por não haver cobrança diretamente e não haver
vigilância no local, e a responsabilidade que incide neste
caso é a objetiva, não precisando a vítima provar a culpa do
ofensor, precisando apenas demonstrar o dano que sofreu.

139 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Quando um veículo é furtado dentro de um estaciona-


mento comercial, alguns buscam o Poder Judiciário para o res-
sarcimento, pois, na sua compreensão, ao pagarem pelo es-
tacionamento, estão colocando seu bem sob a proteção e
guarda do ente regulador (GIRARDI et al., 2013, p. 8)
Os furtos, segundo os tribunais de justiça seguem a te-
oria da reparação integral. Todos os danos materiais compro-
vados como os furtos devem ser ressarcidos, de forma integral
e efetiva, pois a indenização é medida pela extensão do dano,
segundo preconiza o art. 944, caput, do Código Civil
(LGL\2002\400), verbis: “A indenização mede-se pela exten-
são do dano.”
Em furtos do veículo automotor, a avaliação do valor
devido a título de danos materiais deve se dar com base na
tabela FIPE (CARMAGO, 2021).

4.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTACIONAMEN-


TOS COMERCIAIS

A figura jurídica advinda da relação entre o proprietário


de um veículo e um estacionamento nem sempre restou muito
clara perante os operadores do direito. Como em nosso orde-
namento jurídico não há lei impondo o dever de guarda, vigi-
lância ou custódia no caso dos estacionamentos, a doutrina e

140 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a jurisprudência procuraram justificar a existência deste dever


através das circunstâncias em que o estabelecimento (seja um
estacionamento seja uma sociedade empresária que disponha
de serviço/local para o cliente estacionar) voluntariamente se
investiu.
Em relação ao estacionamento, como sociedade em-
presária cujo objeto social seja a guarda de veículos, não se
torna difícil verificar sua responsabilidade sob a coisa guar-
dada, até porque essa guarda e proteção resumem-se em seu
próprio fim. Aqui, inclusive, resta simplificada a tarefa de ca-
racterização da relação jurídica existente como contrato de de-
pósito.
Já em relação aos estabelecimentos comerciais que
oferecem local ou serviço para a deixa do veículo, tem-lhes
sido atribuído esses deveres de guarda e proteção em razão
de lograrem interesse econômico no oferecimento e manuten-
ção do estacionamento, como por vincular aos usuários do es-
tacionamento uma impressão razoável de segurança, seja por
serem murados ou cercados, seja pela existência de vigias, ou
ainda por outros fatores que criem essa impressão de segu-
rança.
Violados esses deveres, resta então configurada a res-
ponsabilidade civil dos estabelecimentos comerciais, através
das considerações acerca da relação jurídica existente, de

141 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

forma a abrandar os prejuízos das vítimas através da presun-


ção de culpa daqueles estabelecimentos. Enfim, a própria ten-
dência da responsabilidade civil, atualmente, é de que, se não
abandonada à noção de culpa, reste ao menos suavizada/mi-
tigada, o que proporcionará às vítimas maiores possibilidades
de terem reparados os prejuízos sofridos.
O próprio conceito de culpa na obrigação de guarda
está ligado a concepção objetivista, pois, para a sua configu-
ração, basta o fato de não ser restituída a coisa guardada, a
que se estava obrigado de modo expresso ou tácito, não se
investigando sobre a existência ou não da culpabilidade.
A responsabilidade civil dos estacionamentos, sob o en-
foque da teoria objetiva do risco do empreendimento, reside
no fato de que, se o empresário colhe os benefícios de sua
atividade econômica, seja por sua própria atividade fim a
guarda de veículos, seja por ser ínsito ao negócio comercial,
seja pelo lucro auferido direta ou indiretamente da guarda do
veículo, surge o seu dever de suportar o ônus decorrente do
risco criado aos consumidores, de forma que, se algum veículo
é furtado ou danificado, deve o empresário arcar com o preju-
ízo.
A aceitação da teoria objetiva do risco implica no reco-
nhecimento da obrigação de indenizar em um maior número

142 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de casos, independentemente de ser o estacionamento gra-


tuito ou pago, ou de haver ou não vigias, ou ainda de haver ou
não controle de entrada de saída de veículos (com emissão
de tíquetes, por exemplo).
Embora a jurisprudência já viesse reconhecendo a res-
ponsabilidade dos estabelecimentos comerciais nesses ca-
sos, mesmo sem haver lei imperativa que o estabelecesse, a
matéria ganhou novos contornos com o Código de Defesa do
Consumidor. Este diploma determinou a responsabilidade in-
dependente de culpa dos prestadores de serviço por quais-
quer defeitos ocorridos.
E nesse conceito de prestadores de serviço se enqua-
dram os estacionamentos e estabelecimentos comerciais que
oferecem área de parqueamento a seus clientes, cuja respon-
sabilidade será objetiva. A efetiva reparação do dano, aliás,
também está de acordo com o princípio da confiança e da boa-
fé, que devem nortear todo o tipo de contrato, em especial os
de estacionamento.
É muito importante falar que a segurança pública é uma
responsabilidade do Estado, desta forma, ela não poderá ser
transferida integralmente aos particulares que possuem esta-
belecimentos. O fato deve ser avaliado, pois, existem vários
casos no qual há notoriedade da ausência estatal em relação

143 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a insegurança pública sofrida. Nesses termos, o nexo de cau-


salidade entre o dano e a conduta que irão definir se a respon-
sabilidade civil está dentro das obrigações do empresário.

4.3.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL ESTACIONAMENTOS


GRATUITOS

Em caso de desinteresse por parte do mesmo, a res-


ponsabilidade nessa situação é a subjetiva, que está prevista
nos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil de 2002, visando
que lesionado prove a culpa do ofensor.
Muitos estabelecimentos não costumam cobrarem ta-
xas ou outro tipo de pagamento pelo uso de seus estaciona-
mentos, logo, não em que se falar em vantagem econômica
ganha por esses lugares, apenas fornecer ao cliente um lugar
mais confortável para estacionar seu veículo. Em caso de de-
sinteresse por parte do mesmo, a responsabilidade nessa si-
tuação é a subjetiva, que está prevista nos artigos 186, 187
e 927 do Código Civil, visando que lesionado prove a culpa
do ofensor.
Como acima citado, esses estabelecimentos acabam
se sobressaindo, em relação aos outros, pelo fato de fornecer
uma maior comodidade do cliente, logo, pode-se observar um
benefício econômico, ainda que de forma indireta, por meio
desse serviço prestado.
144 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Por esses meios, o estabelecimento não se esquiva da


obrigação em relação a responsabilidade, ainda que não
faça cobranças diretas e não possuir vigilante no local, logo,
a responsabilidade que recai neste caso é a objetiva, sendo
aquela que não possui a necessidade da vítima comprovar a
culpa daquele que lhe ofendeu, necessitando somente apre-
sentar o dano que sofreu, juntamente com o nexo de causa-
lidade entre este dano e a conduta do ofensor.
É imprescindível falar a respeito do posicionamento do
Superior Tribunal de Justiça, em relação ao cliente que fez
uso de um estacionamento público externo do estabeleci-
mento comercial, não considerando a responsabilidade deste
por furto ou danos ao veículo, entretanto apontando o Estado
como possuidor desta responsabilidade privada, pelo fato de
se tratar de local público. Isto é, não cabe responsabilidade
civil aos veículos estacionados e nas proximidades.
Seguem Jurisprudências:

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPE-


CIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
FURTO DE VEÍCULO EM ESTACIONA-
MENTO PÚBLICO QUE SERVE CENTRO
COMERCIAL (" SHOPPING CENTER ").
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE VIGILÂN-
CIA. RESPONSABILIDADE DO ESTADO.
PROVIMENTO.
I. Restando inequívoco o fato de que o au-
tor se utilizou do estacionamento público

145 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

externo ao centro comercial, não há que se


falar em responsabilidade deste pelo furto
de veículo, sob pena de se responsabilizar
todo aquele que possua estabelecimento
próximo a estacionamento público, ainda
que sem qualquer ingerência em sua admi-
nistração ou responsabilidade legal por sua
segurança. II. Recurso especial provido
para restabelecer a sentença e julgar im-
procedente o pedido da ação indenizatória.
(STJ - REsp: 883452 DF 2006/0195997-8,
Relator: Ministro ALDIR PASSARINHO JU-
NIOR, Data de Julgamento: 01/12/2009, T4
- QUARTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 18/12/2009)”

CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGI-


MENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ES-
PECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
FURTO DE VEÍCULO EM ESTACIONA-
MENTO PÚBLICO VIZINHO A CENTRO
COMERCIAL (" SHOPPING CENTER
"). INEXISTÊNCIA DO DEVER DE VIGI-
LÂNCIA. RESPONSABILIDADE DO ES-
TADO. PRECEDENTE.1. Tendo sido regis-
trado pelo tribunal de origem que o estacio-
namento externo ao centro comercial é pú-
blico e não utilizado somente por pessoas
que frequentam o referido estabelecimento,
não há que se falar em responsabilidade
deste pelo furto de veículo, eis que se trata
de dever do Estado, responsável legal por
sua administração e segurança. Prece-
dente do STJ. 2. Inviável a invocação da
Súmula 130 do STJ, uma vez que expres-
sado no acórdão o caráter de estaciona-
mento público. 3. Agravo regimental a que
se nega provimento.

146 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

(STJ - AgRg no AREsp: 188386 DF


2012/0120059-1, Relator: Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, Data de Julgamento:
21/05/2013, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 29/05/2013)”

4.3.2 O QUE FAZER APÓS SOFRER ALGUM DANO NOS


ESTABELECIMENTOS?

Imagine seguinte situação: você foi ao shopping pas-


sear com sua família ou ao supermercado comprar carne para
assar no fim de semana, ao voltar para estacionamento, en-
contra seu carro quebrado, ou pior ainda, nem está onde você
estacionou.
Bem, como já explicado a Justiça entende que a res-
ponsabilidade é dos estabelecimentos comerciais, entretanto,
é importante tomar alguns cuidados como, sempre guardar o
comprovante de estacionamento, nos casos em que o estabe-
lecimento não entregar o comprovante de estacionamento, é
importante que se guarde os comprovantes das coisas com-
pradas naquele local.
Outro ponto importante é que após identificar que seu
carro foi danificado, seja por um arranhão ou por algo pior, co-
munique imediatamente a administração do estabelecimento,
pois muitas vezes eles mesmo já arcam com as despesas do
seu prejuízo, sem a necessidade de ingressar em uma ação

147 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

judicial. Nos casos mais graves, aonde vai muito além de um


arranhão, caso em que ocorre um crime, como de furto, é im-
prescindível que se faça um boletim de ocorrência, além da
comunicação administração do estabelecimento. Por fim, vive-
se a era da tecnologia, onde praticamente toda pessoa possui
um celular, então, registrar por meio de fotos e vídeos a situa-
ção do veículo também é de grande importância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema abordado ainda não possui um posicionamento


definido, principalmente quando se refere ao critério da obri-
gação dos estacionamentos de repararem os prejuízos expe-
rimentados pelas vítimas, que têm seus patrimônios furtados
em estacionamentos.

A responsabilidade civil objetiva como regra geral, ou


mesmo como forma mais ampla de se conceber o instituto da
responsabilidade civil, se harmoniza com o moderno posicio-
namento do processo civil de se conferir maior efetividade ao
provimento jurisdicional.
A Teoria do Risco em atualmente é de suma importân-
cia diante do aumento desmesurado dos fatores de risco, que
são causados pela mudança de valores econômicos, sociais e

148 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

também pelo avanço tecnológico de modo que embora a res-


ponsabilidade objetiva não seja considerada como regra geral
no direito brasileiro, é ferramenta jurídica que se reconhece
em favor daquele que se encaixa na previsão legal.
A tendência da responsabilidade civil é não abandonar
a culpa, resta ao menos amenizar e proporcionar as vítimas
uma possível reparação dos danos. A aceitação da teoria do
risco reconhece uma obrigação a indenização na maioria dos
casos.

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caso de furto de veículo em estacionamentos. Revista de di-
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151 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5
TERCEIRIZAÇÃO COMO FATOR DE
PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO

OUTSOURCING AS A FACTOR OF THE


PRECARIOUS WORKING RELATIONSHIP

Walisson Iris da Silva9


Ícaro Maia Chaim10

SILVA, Walisson Íris da. Terceirização como fator de


precarização das relações de trabalho. Trabalho de
Conclusão de Curso de graduação em Direito – Centro
Universitário UNINORTE, Rio Branco, 2023.

9
Discente do 9° Período do Curso de Bacharel em Direito pelo Centro Uni-
versitário Uninorte.
10
Docente Graduado em Direito pela Faculdade Barão do Rio Branco. Pós-
graduado em Direito Processual Civil pela Universidade Anhanguera. Ad-
vogado. Assessor Jurídico na Procuradoria Geral do Estado do Acre. Co-
ordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Uninorte.
152 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

A precarização do trabalho se apresenta como um processo


multidimensional de institucionalização da instabilidade,
caracterizado pelo crescimento de diferentes formas de preca-
riedade e de exclusão. Ela se apoia na diminuição dos custos
de produção a partir da flexibilização do trabalho, que se ins-
taura pela via da precarização do emprego e da precarização
do trabalho. O presente artigo trata da terceirização como fator
de precarização das relações trabalhistas. Iniciando-se com o
histórico do surgimento dessa ferramenta de gestão, acober-
tando sua evolução até os dias atuais. Um dos intuitos princi-
pais desse artigo é demonstrar para a sociedade como um
todo que é necessário nos atermos mais sobre os direitos tra-
balhistas. Busca-se aqui, demonstrar através de posiciona-
mento de doutrinadores que essa talvez não seja a melhor fer-
ramenta para a continuidade da permanência de muitos direi-
tos que foram conquistados ao longo da história da humani-
dade. Ressalta-se que há pontos positivos, que inclusive são
ressaltados no discorrer do Uni norte trabalho, mas que os
negativos atualmente superam em muito os referidos pontos.

Palavras-chave: terceirização; trabalhador; pontos negativos;


redução de direitos.

153 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

The precariousness of work presents itself as a multidimen-


sional process of institutionalization of instability, characterized
by the growth of different forms of precariousness and exclu-
sion. It is based on the reduction of production costs from the
flexibility of work, which is established through the precarious-
ness of employment and the precariousness of work. This arti-
cle deals with outsourcing as a precarious factor in labor rela-
tions. Starting with the history of what evolved from this man-
agement tool, covering its evolution until the present day. One
of the main objectives of this article is to demonstrate to society
as a whole what is needed in terms of labor rights. The aim
here is to demonstrate behind the positioning of scholars that
this may not be the best tool for the continued permanence of
many rights that have been conquered throughout human his-
tory. It should be noted that there are positive points, which are
even highlighted in the work's discourse, but that the negatives
currently far outweigh the referred points.

Keywords: outsourcing; worker; negative points; reduction of


rights.

154 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Este artigo busca primordialmente fazer uma retratação


da evolução histórica que o fenômeno da terceirização trouxe
para a sociedade brasileira, desde seu surgimento até os dias
atuais, logicamente, não deixando de desconectar-se do resto
do mundo, tendo em vista que boa parte da história da huma-
nidade não se iniciou aqui em Pindorama, como os indígenas
que aqui habitavam inicialmente chamavam o que hoje conhe-
cemos como Brasil.
Esse fenômeno atual de terceirizar os serviços, de
uma forma sucinta, nada mais seria do que uma prestação
de determinado serviço por terceiro não integrante de deter-
minada instituição ou pessoa, visando-se uma redução nos
custos e/ou agilização no processo de produção.
Os exemplos de terceirização mais comuns relacio-
nam-se com a prestação de serviços específicos, tais como
limpeza e segurança. Quando você vai ao banco, por exemplo,
pode notar que os vigilantes não são empregados do próprio
banco, mas de uma empresa especializada em segurança, o
que também é bastante comum em edifícios comerciais, esco-
las, fábricas e outros.
As causas do aumento da terceirização no Brasil e no

155 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mundo têm relação com a diminuição dos custos com funcio-


nários. Afinal, para as empresas, sai mais barato que parte de
sua mão de obra seja contratada por terceiros, em vez de
mantê-los sob a sua tutela, o que eleva os gastos com direitos
trabalhistas e eventuais problemas de segurança do trabalho,
como indenizações e outras questões.
No Brasil, no entanto, existem determinadas restrições
à prática da terceirização. A principal delas é a proibição da
terceirização para atividades-fim, sendo permitidas apenas as
atividades-meio, ou seja, uma fábrica de doces, por exemplo,
pode destinar serviços de limpeza, segurança e ordenamento
para empresas terceirizadas, mas não pode fazer o mesmo
para o intuito principal da empresa, que é a produção de doces
industriais. Nesse caso, todos os funcionários que atuam na
linha de produção devem estar legalmente vinculados à
fábrica em questão, e não a uma outra empresa, com carteira
assinada e todos os direitos correspondentes.
Desde o ano de 2004 tramita no Congresso Nacional
uma proposta para alterar a regulamentação da terceirização
no Brasil. Recentemente, essa proposta passou a ser bas-
tante discutida ao ganhar prioridade no tratamento de sua
votação, levantando uma série de pontos polêmicos sobre o
processo em questão."
A partir deste desdobramento, focamos em entender

156 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

melhor um pouco desse fenômeno, expondo seus pontos posi-


tivos, em seguida, os negativos, para que o leitor possa em
concluir o com o seu saber adquirido de outras áreas e ramos,
concretizar ou formar seu entendimento e pensamento crítico
a respeito desse tema tão abrangente que é a terceirização.
Um tema tão atual como este precisaria de um maior
aprofundamento por parte do leitor, mais inicialmente aqui já
servirá de base para a compreensão de boa parte do que esse
vasto tipo de ferramenta de gestão impacta na vida e na eco-
nomia da sociedade atual.

5.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO

A evolução histórica do trabalho em nossa sociedade é


fator altamente necessário para que possamos compreenda-
mos o que as sociedades passadas puderam nos propiciar ao
longo dos anos até a atualidade, para que possamos evoluir
mais em direitos e obrigações mais humanitários, não tendo
mais visões defasadas como era na fase obscura da socie-
dade na época da escravidão do ser humano. É a partir disso,
que nos debruçaremos no surgimento das relações de traba-
lho até os dias atuais, com o intuito de desbravar o surgimento
do instituto da terceirização e suas possíveis consequências.
Comecemos pela antiguidade, nos perfazemos do que

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o autor CIAMPA, (2014, P. 17) relata em seu livro, onde “Na


antiguidade, passamos pelo trabalho entendido como uma ati-
vidade impura, desprezível, e que, portanto, só caberia ser
realizado pelos escravos”.
Ele retratou justamente o que foi dito na inicial, indu-
zindo-nos a compreender que durante a formação das primei-
ras civilizações como a de Roma, Grécia e Egito, onde tais
civilizações se perfaziam do trabalho escravo com os mais
variados objetivos, dentre os quais podemos citar a divisão de
tarefas ocorridas entre homens e onde as mulheres, crianças
e senhores escravizados. Boa parte da mão de obra mais
fraca como eram as crianças, mulheres e idosos em decorrên-
cia de sua condição física ou de vigor, quase sempre eram
utilizados para a fabricação dos mais variados utensílios de
fins cotidiano ou culturais, bem como em afazeres domésticos
ou em funções que demandassem menos vigor físico.
Contudo, boa parte dos homens, quando não empre-
gados nos campos e minas, era aproveitada em espetáculos
nas grandes e famosas arenas, como gladiadores. Mas enga-
nasse quem pensa que os escravos também não eram apro-
veitados em outras áreas importante da sociedade da época.
Muitos desses deles, em decorrência de seu envolto físico ou
cognitivo, foram aproveitados em diversas áreas importantes

158 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

da sociedade naquela fase obscura da sociedade, principal-


mente como na área da filosófica, da música e até mesmo
para fins da literatura da época como é o caso dos poetas.
Em tal período, o trabalho era visto como algo impuro,
que em nada dignificava o homem, por isso, utilizava-se prin-
cipalmente os prisioneiros de guerra como escravos, mas não
somente estes, pois havia também questões raciais e culturais
envolvidas na escravização de seres humanos. Contudo,
parte-se daqui o velho preceito que infelizmente ainda vemos
nem nossa sociedade atual, onde, para uma pessoa ser culta,
seria necessário ter além de condições financeiras boas, a dis-
ponibilidade de tempo.
A escravidão não durou pouco tempo como retratada
de forma estruturada nos ensinos, mas sim, persistiu durante
boa parte da idade medieval e idade média, muito embora, não
na mesma intensidade na que foi utilizada em época mais
remota. O feudalismo predominante na Idade Média, encarre-
gou-se perfeitamente dessa função, haja vista que a relação
de trabalho escravista se passou a se chamar de servidão, que
assim como a escravidão, continuou a retirar do trabalhador o
seu bem mais preciso, que era a liberdade e o poder de esco-
lher.
Esse termo que designou a forma de trabalho naquela
época, continuou a retirar a dignidade humana. Os vassalos,

159 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como eram chamados os trabalhadores, possuíam várias res-


trições ainda, inclusive, a de não poder trocar de Feudo, como
eram chamados os senhores proprietários de consideráveis
hectares de terra que ditavam boa parte das relações sociais
e econômicas da fase da humanidade.
Contudo, essa relação discrepada de trabalho, vai
muito além, visto não existir nessa fase um lapso temporal de
termino do tempo de trabalho, o que em muitas vezes se per-
petuavam por jornadas exorbitantes, se perfazendo do que
hoje se chama de dedicação integral. Essa forma de trabalho,
nada mais era, que uma troca de favores entre os feudos e os
vassalos. Estes, trabalhavam nas terras dos grandes proprie-
tários de terras (senhores feudais) em troca da garantia de
favorescomo moradia, alimentação e até mesmo de vestimen-
tas para sua família.
Na fase da Idade Moderna, houve as chamadas expan-
sões marítimas, onde oseuropeus iniciaram a exploração por
novas terras, a começar pelo litoral da África, por conseguinte,
a então descoberta do “novo mundo”, a América. Foi nesse
período onde a utilização de mão de obra escrava, decorreu
principalmente dos povos africanos e indígenas.
Por fim, a ideia de trabalho nesse período passou a ser
vista com outros olhares, afinal, superou-se a de seres inferi-
ores ou impuros, bem como a superação da visão alimentícia

160 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

da relação de trabalho, e buscou-se a imposição de um novo


olhar introduzido pela Igreja Católica sobre a pobreza e a abdi-
cação de bens materiais,o que acabou possibilitando a passa-
gem para a prosperidade econômica.
A ideia de trabalho nessa fase da humanidade, passou
a envolver além da produção de alimentos, o comércio e a
exploração de novos territórios, o que acaboucriando várias
formas de trabalho, desde a agricultura até a construção e
comércio.
Foi nessa fase que a indústria mais se desenvolveu,
principalmente na Inglaterra, nos meados do século XVIII, o
que acabou ficando conhecido como Revolução Industrial.
Aos poucos as fábricas foram tomando parte do cotidiano das
cidades, e com os avanços tecnológicos, acabou -se exigindo
mais do mercado como um todo, bem como da contratação de
mão de obra. Criou-se a partir daqui o efeito contrário do que
ocorrerá na idade Média, tendo em vista que, as pessoas pas-
saram a voltar para os centros urbanos, com o intuito de
melhorias e mais liberdade em suas vidas.
Isso fez com que o trabalho começasse a ganhar outros
contornos, dentre os quais, a forma assalariada da relação,
ou seja, os trabalhadores passaram a receber um salário fixo
pelo trabalho realizado em prol da venda de parte do seu
tempo. Vale destacar que, o “tempo” de trabalho nessa época,

161 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

era bem expressivo, afinal, um trabalhador poderia laborar por


até dezoito horas por dia, tendo sido nessafase, que boa parte
das mulheres e as crianças eram exploradas até o máximo de
suas forças físicas e psíquicas.

5.2 HÁ DIFERENÇA ENTRE TRABALHO E EMPREGO?

Para a maioria dos autores que abordam a temáticas,


sim, há diferenças, dentre as quais abordaremos de forma
sucinta e necessária ao desenrolar de nosso estudo. Para
CIAMPA, (2014, P. 17):

(...). Na verdade, isso pode não nos causar


nenhum problema, a menos que desvalorize-
mos o trabalho daqueles que não trabalham
com um contrato com uma pessoa física ou jurí-
dica que, tendo os meios de produção, paga
pelo trabalho realizado por outras pessoas.
Isso mesmo, esta é a principal diferença entre
trabalho e emprego: uma relação formal entre
quem organiza e quem realiza o trabalho.

Como vimos, essa diferenciação nada mais seria que


uma questão burocrática, criada pela necessidade de separa-
ção histórica das relações de trabalho que ocorrem no pas-
sado e que perduram no presente. A palavra “emprego”, ape-
nas conceituou de uma forma nova a relação contratual criada
pela modernidade, mas que também, se viu necessária ao
162 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mundo jurídico, visto que, ela acabou acobertando toda forma


de labor daquelas pessoas que por meio de contrato, vincula-
vam-se a uma pessoa física ou jurídicas para fins de obriga-
ções e direitos.
Abraçando agora a Consolidação das Leis do Trabalho,
mais especificadamente em seu artigo 3°, ele preceitua que
há necessidade do preenchimento de alguns requisitos para
haver a relação de emprego no viés jurídico, quais sejam: A
pessoalidade, subordinação jurídica, não eventualidade e a
onerosidade. Vejamos:

Art. 3º - Considera-se empregada toda pessoa fí-


sica que prestar serviços de natureza não even-
tual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário.
Parágrafo único - Não haverá distinções relativas
à espécie de emprego e à condição de trabalha-
dor, nem entre o trabalho intelectual, técnico e
manual. (BRASIL, 1943)

Ou seja, essas características são essenciais na contem-


poraneidade para se firmar o elo jurídico de uma relação de
trabalho, tendo em vista que delas decorreram direitos e obri-
gações recíprocas. Logicamente, beneficiando o elo mais
fraco na reção, que é o empregado.
Já com relação ao termo “trabalho”, por remontar todo um
conjunto de atividades, produtivas ou criativas do homem,

163 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que remonta desde as civilizações mais remotas, ela englo-


bou todo o restante, ou seja, todo aquele que desempenha
alguma relação de trabalho não formal, se encaixaria perfei-
tamente nesse conceito.
Contudo, a luz da legislação trabalhista em vigor, bastaria
não haver um dos requisitos elencados acima, quais seja, a
pessoalidade, subordinação jurídica, não eventualidade e a
onerosidade para o desfazimento da relação de emprego e o
surgimento de uma relação de trabalho.
Tal relação baseia-se em uma obrigação de fazer,
objetivando uma relação de igualdade de direitos e obriga-
ções, não havendo aqui uma relação de desigualdade como
é vista nas relações de emprego.

5.3 O QUE É A TERCEIRIZAÇÃO

Inicialmente, para entendermos melhor sobre o que


é a terceirização, precisamos falar sobre dois sistemas, quais
sejam: Fordismo e o Toyotismo. O primeiro, teve como precei-
tuador o senhor Henry Ford, que buscava além de tudo uma
produção em massa, que nada mais seria, uma forma de
estratégia mercantilista, cujo objetivo primordial era totalmente
voltado para o estoque da empresa.
Ford foi um dos maiores nomes do século XX, tendo em

164 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vista que ele foi o precursor de tal sistema e influenciador para


que boa parte das empresas implantassem em suas fábricas
o modelo Ford de produção. Isso se deu devido ao sucesso
que ele conseguiu alcançar em suas linhas de produção apli-
cadas nas fábricas Ford. Inicialmente a produção em massa
deu-se em decorrência das linhas de montagens, por meio da
utilização de esteiras rolantes.
Tais esteiras, acabavam, de certa forma, de ditar um
ritmo de produção para o trabalhador, bem como para o ritmo
de produção em si. Foi a partir daqui, que se exigiu da classe
proletarizada da época, uma especialização, justamente em
decorrência das linhas de montagens, ou seja, o trabalhador
não precisa mais conhecer todo o sistema de produção, mas
apenas aquele em qual desempenhava seu trabalho ao longo
do dia.
Contudo, não foi apenas com o modelo de produção
que ele contribuiu, mas com ideias voltadas para conquistas
de direitos dos trabalhadores. Tais ideias mesmo que confli-
tassem com o objetivo de conseguir abaganhar um público
bem maior de consumidores, acabou beneficiando e muito a
classe trabalhadora com novos direitos até então não conquis-
tados.
Dentro suas lutas, Ford defendia que os trabalhadores

165 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

deveriam ter direito de consumir mais, contudo, eles precisa-


riam de um maior salário para atender a essas necessidades,
por isso, não apenas defendeu a ideia, como a plicou na prá-
tica quando por conta própria decidiu dobrar o salário de seus
funcionários na época. Contudo, não parou por aí, ele também
defendeu a necessidade de liberação por parte do sistema
financeiro de uma linha de crédito para o trabalhador e a redu-
ção da jornada de trabalho, visando dar uma melhor qualidade
de vida.
Foi através desse sistema de produção que buscou-se
ter o produto sempre a pronta entrega ao cliente, mas para
isso, boa parte da qualidade perdia-se ao longo de sua fabri-
cação, visto que, a qualidade não era o foco desse sistema,
em decorrência da grande necessidade crescente da
demanda por produtos.
Partindo agora para o Telotismo, o seu criador foi o
engenheiro mecânico Tapichi Ono, que desenvolveu e aplicou
juntamente com Fiji Toyota nas Fábricas da Toyota o referido
sistema de produção que daria um viés para o surgimento
ainda maior da terceirização.
Esse sistema surgiu como uma alternativa ao modelo
Fordista que já era aplicado em muitas empresas espalhadas
pelo mundo e inclusive nas próprias Fábricas da Toyota. Isso
por que, a segunda guerra mundial trouxe grandes prejuízos

166 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

não somente para o japão como também para o mundo e seu


grande mercado consumidor.
Ohno percebeu que o até então sistema vigente na mai-
oria das fábricas, precisa ser atualizado, pois com menos mão
de obra e a grande dificuldade na obtenção dos insumos da
matéria prima em decorrência da segunda guerra mundial, não
poderiam ser motivos suficientes para a estagnação da produ-
ção e a consequência falência da empresa. Esse foi seu obje-
tivo, empenhar-se em buscar alguma forma de melhorar a efi-
cácia da produção, com o intuito de evitar o desabastecimento
do mercado e a consequente colapsarão da empresa.
Foi em busca desse objetivo que Ohno obteve como
fonte inicial de inspiração o Fordismo, mais especificadamente
o sistema fundamental de produção publicado por Henry Ford
em seu livro. A outra fonte na verdade, partiu mais de uma
observação feita por ele próprio ao passar por alguns super-
mercados dos Estados Unidos e perceber que os meios de
vendas utilizado baseava-se basicamente em recolocar as
mercadorias nas prateleiras a partir do momento em que os
consumidores as secavam (compravam).
Foi justamente essa perceção que o fez começar a apli-
car certos princípios nas grandes Fábricas da Toyota, visando
a busca por uma eficácia que atendesse as infinidades de
anseios e demandas que o mercado consumidor exigia na

167 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

época. Ele buscou compatibilizar essas demandas de con-


sumo através da ideia de não formação de acúmulos de maté-
rias-primas em grandes quantidades nos estoques, bem como
sua perca por sinistros diversos, além de reduzir ao máximo o
desperdício.
Nesse sistema, o emprego da mão de obra altamente
qualificada e preparada para tarefas diversas viu-se em cres-
cimento, justamente com o emprego de uma maior rigidez e
controle na qualidade que acabou culminando em um aumento
significativo na burocratização do referido sistema.
Contudo, salienta-se que a qualidade e a confiança no
produto aumentaram, bem como as diversidades solicitadas
pelo público consumidor da época.
Foram essas inovações que fizeram com houvesse a
fragmentação da produção, uma espécie de terceirização da
mão de obra e a partir daqui o surgimento de um sistema que
logo seria aplicado em todo mundo, beneficiando em alguns e
em outros utilizados como meios de bur lamento de leis con-
quistadas pela classe trabalhadora.

5.3.1 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

É sabido que em países subdesenvolvidos, não como


regra absoluta, mas como uma tendência quase que sempre,
168 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de acabarem sendo os últimos a implementarem ou recebe-


ram benfeitorias em seu mercado ou em sua sociedade. Par-
tindo dessa premissa, é que podemos afirmar que, esse fenô-
meno chegou tardiamente no Brasil, já que, tal fenômeno já
era uma tendência do mercado de trabalho em escala mun-
dial ao chegar aqui.

Foi entre os meados dos anos 50 e 60, com as primei-


ras indústrias de automóvel que se viu surgir a terceirização
no Brasil. Entretanto, a terceirização aqui,mesmo tendo sida
introduzida pela indústria automobilística, ela mais se base-
ava em serviços de conservação, limpeza e vigilância. Foi
com o passar dos anos, que aos poucos ela acabou se rami-
ficando para os demais setores, principalmente para o setor
público.
De lá para cá, a terceirização sofreu inúmeras regula-
mentações, a começar pela Lei nº 6.019/1974 (Lei do Traba-
lho Temporário nas Empresas Urbanas), mais tarde, pela Lei
nº 7.102/1983 (Dispõe sobre segurança para estabelecimen-
tos financeiros, estabelece normas para constituição e funci-
onamento das empresas particulares que exploram serviços
de vigilância e de transporte de valores).
Por fim, temos a Lei nº 8.987/1995 que dispõe sobre o
regime de concessão e permissão da prestação de serviços

169 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

públicos previsto na arte. 175 da Constituição Federal. Con-


tudo, nenhumas dessas regulamentações tratavam de
maneira específica sobre a terceirização, foi então onde o
Tribunal Superior do Trabalho (TST), acabou pacificando o
entendimento através da súmula 331, ante a ausência de lei
específicasobre a questão.
Mesmo diante dessas previsões legislativas, o que
inclui a súmula 331 do TST,a terceirização no Brasil, somente
foi de fato regulada e consolidada quando o país passava por
uma crise econômica iniciada em meados de 2014, mais espe-
cificadamente em seu auge em 2017. Foi nesse ano que ocor-
reu a aprovação daLei da Terceirização, que possibilitou que
as empresas passassem a terceirizar seus funcionários não
somente relacionadas a atividades-meio, como também das
atividades-fim, logo em seguida, veio a aprovação da Reforma
Trabalhista.

5.4 PONTOS IMPORTANTES SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO

A terceirização hoje em dia, ainda muito discutida,


tanto por doutrinadores, sociedade, quanto pelo judiciário,
principalmente sobre seus possíveis benefícios e malefícios
para a economia, quanto para a população. Dentre alguns
benefícios encontrados, podemos citar: Um melhor foco no
170 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

core business da empresa e no modelo de negócio, o


aumento da produtividade, a otimização e economia por
parta da empresa.
Já com relação ao malefício que esse tipo de sistema
pode trazer, podemos destacar a falta de legalidade do pro-
cesso de terceirização; falta de qualidade no serviço; depen-
dência financeira de outra empresa, além do receio de demis-
sões e a ameaça à segurança e confidencialidade das
empresas. Esses serão os pontos descritos logo a seguir,
entretanto, ressalta-se que, ainda há muitos outros pontos
negativos que serão discutidos mais a frente, como o
aumento dos acidentes de trabalho, redução salarial, dificul-
dade de pagamento das verbas rescisórias, bem como a ins-
tabilidade contratual decorrente da tentativa de enfraqueci-
mento dos sindicatos.

5.4.1 PONTOS POSITIVOS DA TERCEIRIZAÇÃO

Essa ferramenta de descentralização das atividades


empreendedoras, mais conhecida como terceirização, pode
ser entendida como a contratação de uma ou mais empresas,
bem como de profissionais autônomos para a realização de
atividades específicas.
Essa ideia de terceirizar, ou melhor, de atribuir certa

171 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tarefa a um terceiro, veio primordialmente com o intuito de agi-


lizar a forma de produção daquela época, visto que, ela foi
implantada em meio ao início da segunda guerra mundial. Exi-
gia-se naquele período uma rápida produção de material
bélico, entretanto, esse instituto nos dias atuais vai muito além
de uma otimização de produção, visto que, busca-se também,
uma redução de custos burocráticos e uma agilização dos obje-
tivos e metasda empresa. Isso tudo, com o objetivo de se evi-
tar sobrecargas desnecessárias no sistema de produção.
Diante disso, as empresas de uma forma geral, aca-
bam economizando muito mais que somente na produção,
mas também no tempo e no dinheiro das contratações e trei-
namento com pessoal. Assim, a terceirização aparece como
facilitadora na rotina empreendedora.

5.4.2 MELHOR FOCO NO CORE BUSINESS E NO MODELO


DE NEGÓCIO

No mundo corporativo, há vários termos que são utili-


zados para definição de estratégia e objetivos organizacio-
nais, dentre elas, temos “O CORE BUSINESS”, que nada
mais é que, uma ferramenta para se compreender a essência
de determinado empreendimento, ou seja, a parte central do
negócio.

172 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Já o modelo de negócio, simplificadamente seria a


forma como o negócio ou empreendimento será posto em
prática. São Termos completamente diferentes, entretanto,
são processos que quando aplicados de forma acertada na
prática, acabam que, por consequência, conduzindo a
empresa rumo ao sucesso.
Com um melhor foco no Core Business, a empresa
consegue abraçar melhor as oportunidades, visto que, por
meio de um direcionamento mais acertado do tempo e dos
recursos da empresa, objetivando a otimização de desperdí-
cios desnecessários, os resultados por consequência aca-
bam sendo mais satisfatórios, especialmente quando falamos
em objetivos e metas de longo prazo.
Outro fator importante, seria um melhor conhecimento
do mercado, tendo em vista que, ao conhecer a atividade
principal do empreendimento, consegue-se traçar melhores
estratégias e direcionamento para o rumo do empreendi-
mento.
A também, um melhor direcionamento das prioridades
dos recursos do empreendimento, posto que, ao conhecer o
empreendimento e seu núcleo, consegue-se filtrar quais são
os setores e as forma de atuações mais benéficas financeira-
mentefalando, ao empreendimento, e a partir disso, a direci-
onar mais esforços nesses setores.

173 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5.4.3 AUMENTO DA PRODUTIVIDADE

À burocracia e os vários níveis hierárquicos das


empresas, geravam muitas barreiras para as empresas, prin-
cipalmente quando falamos de eficiência. Os gastos com pes-
soal, bem como a demasiadas camadas de comando, mais
atrapalhavam doque ajudavam, na maioria dos casos.
Foi principalmente a partir desse fato que, que se come-
çou a ver a terceirizaçãocom outros olhos, posto que, com a
redução dos níveis da cadeia de comando e da especialização
do serviço, o mercado percebeu um aumento no ritmo de tra-
balho e em produtividade o que fez melhorar ainda mais a
qualidade do serviço oferecido.

5.4.4 OTIMIZAÇÃO

Imagine uma multinacional tendo que fabricar cada


tipo de borracha para o veículo de sua produção, ainda mais,
contratar pessoas para a manutenção de seu prédio. São
tarefas desse tipo que, desfocam da atividade principal do
empreendimento, bem como aumenta o custo da produção,
o que torna algo muito mais caro e dispendioso do que deve-
ria ser, tanto monetariamente como humanamente.
Foi pensando nesses fatos que, a terceirização ganhou

174 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ainda mais força, postoque, haveria uma possibilidade de oti-


mizar a produção, gerando a possibilidade aindade oportuni-
dade para o surgimento de novas empresas ou mão de obras
especializadas.
Uma pessoa sobrecarregada em demasiadas tarefas
esparsas, ao invés de trazer lucro, pode acabar mais errando
e afetando negativamente o olhar do cliente sobre aquela
empresa. Indo um pouco mais além, precisaria haver uma
subchefia para comandar àquela e outros funcionários do
setor, bem como uma chefiageral para centralizar os coman-
dos.
Quando a empresa pega essas funções, tanto de exe-
cução e de comando e transfere para uma empresa especia-
lizada nesse tipo de execução, além da descargacom deman-
das que não são foco principal da empresa, ainda se cria uma
economia no setor e um melhor retorno financeiro do investi-
mento. Podemos ver tal fato, nos estudos do livro de KUP-
FER e HASENCLEVER, (2020, P. 262):

Destaca-se, nesse sentido, a tendência, por


parte das montadoras, de transferência (ou
terceirização) para fornecedores da produ-
ção de componentes e sistemas maiores e
mais complexos, bem como uma maior parti-
cipação de fornecedores no design e constru-
ção, execução e montagem de sistemas auto-
motivos. Consolida-se, desse modo, um pro-
cesso de estruturação de redes de subcontra-

175 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tação que contemplam uma diferenciação hie-


rárquica entre fornecedores.

Posto isso, ao contratar uma empresa para a fabrica-


ção de suas borrachas, bem como para fornecimento de
atendimento telefônico a empresa consegue focar melhor no
seu objetivo principal que é a fabricação e venda de veículos,
eliminando camadas de comando desnecessárias, e redu-
zindo o tempo e dinheiro investido na fabricação das borra-
chas necessárias ao processo de industrialização de seus
produtos, bem como na contratação e treinamento de aten-
des e de suas chefias.

5.4.5 ECONOMIA

A consequência por obvio de todo essa redução e


transferência de demandas,seria obviamente uma maior eco-
nomia dos gastos e uma maior possibilidade de investimen-
tos em outras áreas.
Um outro fator também muito percebido desde a
implementação da terceirização, foi que, muitos serviços que
haviam sido terceirizados, não necessariamente precisam
ser desenvolvidos dentro da própria empresa. Ao pegarmos
o exemplo do item anterior, percebe-se que a empresa con-
tratada para produção das borrachas da linha de produção,
176 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

precisava ter seu próprio ambiente, e instalações, visto que


assim, conseguiria produzir para várias outras empresas,
com isso, a empresas que as contratavam reduziam a utiliza-
ção do próprio espaço do ambiente de suas empresas. Com
mais espaços, a linha de produção gana havia mais metros
quadrados para novos maquinários.
Nessa mesma visão, ao terceirizar os serviços de tele-
fonia, não necessariamente elas precisavam ser desenvolvi-
das dentro da empresa, por que não,em um Cal Center, espe-
cialista nesse tipo de demanda. Aqui já se percebe uma eco-
nomia na mão de obra, nos gastos com luz, aparelhos telefô-
nicos, materiais de escritório e com mão de obra. Com menos
contratações e um melhor aproveitamentodo espeço corpora-
tivo os investimentos em estrutura, tornaram a terceirização
ainda mais apetitosa aos olhos dos investidores.

5.5 PONTOS NEGATIVOS DA TERCEIRIZAÇÃO

Nem tudo são flores, e não seria diferente com a tercei-


rização. Ela trouxe várias mudanças positivas, entretanto, o
seu lado negativo afete mais de fato quem realmente mais
deveria ser protegido, que é o trabalhador. Pesquisas da
Central Única dos Trabalhadores e do DIEESE nos retrata

177 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

isso, onde ficou constatado na referida pesquisa que os ter-


ceirizados chegam a trabalhar até três horas a mais por
semana, ou seja, percebe-se um retrocesso a partir desse
ponto. Logo mais, veremos o que mais é afetado por esse
fenômeno da terceirização.

5.1 A FALTA DE LEGALIDADE DO PROCESSO DE TER-


CEIRIZAÇÃO

Muito embora o Brasil já traga com sigo a informali-


dade, isso parece que pegouno mundo da terceirização. Mui-
tas empresas contratam outras sem muito das vezes se ate-
rem a formalização desse tipo de empreitada.
A grande problemática da falta de observância da
devida documentação, pode gerar prejuízos diversos, inclu-
sive para as relações de trabalho, afinal, sem registro esem
acompanhar a legislação trabalhista vigente, a longo prazo,
pode causar a responsabilização na via judicial de responsa-
bilidades que até então, seriam da terceirizada.
Isso implica numa crescente demanda de ações tra-
balhistas, bem como de maior rigorosidade nas fiscalizações
promovidas pelo Ministério do Trabalho.
Diante dessa problemática, é que se faz necessária
um olhar mais maduro da empresa que pretender terceirizar,
178 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

principalmente por parte do setor público, onde a inobservân-


cia das burocracias necessárias para o processo de terceiri-
zação acabamgerando grandes consequências, não somente
para a empresa que está realizando o processo, como para
toda a sociedade.
O lucro não deve mais ser o único objetivo do empre-
endimento, afinal, se mal aplicada, os processos trabalhistas
logo os torrarão, sem contar com a crescente demanda de
processos que crescerão.

5.2 A FALTA DE QUALIDADE NO SERVIÇO

Talvez esse seja um assunto muito atual, a globaliza-


ção passou a exigir muitodas empresas, e com isso, um fator
muito importante pode ter começado a ficar para trás, como é
o caso da qualidade.
Muitas vezes, para se ter preço, precisa-se reduzir a
qualidade, mas não seriauma regra absoluta. Essa problemá-
tica vem crescendo mais a cada dia, pois cada vez mais,
cresce a dificuldade para se encontrar empresas e pessoas
que consigam ofertar além de um preço competitivo, uma
qualidade exigida pelo mercado.
Quando alguém resolve entregar parte do seu empre-
endimento a outro, isso, mas isso, pode custar caro, quando
179 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a escolha ou seleção não é bem feito ou guiada por pontos


mais técnicos.
Isso implica diretamente na falta da qualidade na pres-
tação do serviço contratado. Além do prejuízo financeiro,
ainda há a implicação direta na carteia de cliente da empresa,
com uma redução drástica pela falta de confiança do mercado.

5.3 DEPENDÊNCIA FINANCEIRA DE OUTRA EMPRESA

Essa problemática é mais comum nos dias de hoje, afinal,


muitas empresas pequenas e até mesmo familiares depen-
dem do governo. Não é à toa que, vemos rotineiramente aque-
les famosos toma lá dá cá, onde trabalhadores ficam por
meses sem receber de sua empresa, a qual, é prestadora de
serviços para determinada entidade governamental.

Essa dependência financeira traz consequências gra-


víssimas para o mercado, visto que, afeta toda uma cadeia
produtiva, gerando endividamentos aos trabalhadores e
perca de poder de compra, desconfiança do mercado interno
e externo.

180 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5.5 O RECEIO DE DEMISSÕES E A AMEAÇA À SEGU-


RANÇA E CONFIDENCIALIDADE DA EMPRESA

Um outro fator bastante criticado desde a implementa-


ção desse modelo de gestão, foi o aumento do receio de
colaboradores que já possuem algum tempo de dedicação
para aquela determinada empresa.
Geralmente, o termo de confidencialidade estabelece
as condições para o uso, o compartilhamento e o armazena-
mento das informações confidenciais, assim como as penali-
dades aplicáveis no caso de violação do acordo.
O termo de confidencialidade serve para estabelecer
as obrigações de confidencialidade e as medidas de segu-
rança que devem ser tomadas pelos envolvidos. Ele é
usado sempre em situações em que informações sensíveis
ou estratégicas precisam ser compartilhadas entre duas ou
mais partes, como em acordos comerciais, parcerias ou
contratos de prestação de serviços.
Ele também pode ser usado em relações empregador
e empregado, em que o funcionário deve manter a confiden-
cialidade das informações do empregador sobre algum pro-
jeto em que esteja trabalhando ou sobre alguma informação
que tenha tido acesso.

181 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O medo da demissão, se tornou algo muito mais imi-


nente na atualidade, dadosas recentes crises que o mercado
vem sofrendo. Muitos funcionários temem perder seu traba-
lho para uma pessoa terceirizada, e essa concepção não
parece estar muitolonge da realidade, afinal, o barateamento
do custo da mão de obra é o que justifica esse sistema. Isso
traz ainda outro grande problema, que é o adoecimento do
trabalhador, frente a essa insegurança.
Essa talvez seja a maior preocupação de se imple-
mentar uma terceirização, que é justamente a possível ame-
aça à segurança e confidencialidade da empresa, afinal, o
barateamento da mão de obra acaba gerando uma queda no
poder de comprado trabalhador, que em tempos de crise eco-
nômica, mal conseguem comprar o básicopara se manter.

5.6 A HISTÓRIA POR TRÁS DO SINDICALISMO

Foi com as corporações de ofício que se começou a


idealizar as primeiras formas de organização das relações de
trabalho. Ao longo de sua evolução, essas formas associati-
vas que almejavam a intermediação entre os trabalhadores e
o Estado, passaram por séries de altos e baixos. Um dos
exemplos é destacado no livro dos autores CHOHFI e
CHOHFI, (2011, p. 06):

182 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Com a Revolução Francesa (1789) veio libera-


lismo, em oposição às f ormas associativas
intermediárias entre o individuo e o Estado.
A ideia d e liberalismo, portanto, veio como um
freio para o desenvolvimento de quaisquer
entidades de caráter coletivo, já que estas influ-
enciariam na liberdade de atuação e regulação
do próprio mercado.

Como depreende-se do destacado, o liberalismo foi


uma das primeiras ideologias a frear o avanço do sindica-
lismo, dado que, elas influenciariam na regulação e atuação
do mercado. Entretanto, a evolução Industrial que ocorreu no
século XVIII, fortaleceu novamente a atuação dos sindicatos,
dados as condições precárias de trabalho e o anseio do tra-
balhador por melhores condições de trabalho.
O surgimento do sindicalismo está ligado ao contexto
da industrialização e consolidação do capitalismo na Europa
a partir do século XVIII, quando ocorreu a Revolução Indus-
trial. A época foi marcada pelas péssimas condições de vida
e trabalho às quais estava submetida boa parte da popula-
ção europeia.
As relações sociais nessa época atingiram uma
enorme polarização, com a sociedade dividida em duas
grandes classes: a burguesia e o proletariado. É nesse
momento que fica evidente o antagonismo de interesses
entre elas.

183 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Com o tempo, trabalhadores passaram a se organi-


zar como meio de confrontar empregadores e questionar a
situação da época. Os primeiros indícios de união entre tra-
balhadores aparecem com a quebra de máquinas fabris
como forma de resistência, movimento conhecido como
ludismo. A motivação era a visão dos trabalhadores de que
estariam sendo substituídos pela maquinaria nas indústrias.
Mais tarde, o Parlamento Inglês aprovou em 1824
uma lei estendendo a livre associação aos operários, algo
que antes era permitido somente às classes sociais domi-
nantes. Com isso, começam a ser criadas as trade unions,
organizações sindicais equivalentes aos atuais sindicatos.
As trade unions passam então a negociar em nome
do conjunto de trabalhadores, unificando a luta na busca por
maiores direitos e salários. A ideia era evitar que os empre-
gadores pudessem exercer pressão sobre trabalhadores
individualmente.
Outras medidas das trade unions foram a fixação de
salário para toda a categoria, inclusive regulamentando-o em
função do lucro (assim, o aumento da produtividade industrial
resultava também em aumento no salário dos trabalhadores),
criação de fundos de ajuda para trabalhadores em momentos
de dificuldades, além da reunião das categorias de uma
região em uma só federação.

184 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ressalta-se, inclusive que, durante a ditadura militar


aqui no Brasil, os sindicatos chegaram a fazer parte do
estado, como se unificados fossem, como vemosno destaque
do livro de CHOHFI e CHOHFI, (2011, p. 06).

Já no corporativismo do Estado Novo, o inter-


vencionismo nas associações de classe foi
pleno. A Constituição Federal de 1937 lançava
à organização sindical uma f unção delegada
do Poder Público, como se braço do Estado
fosse.

Como se vê ao longo dos anos, a ideia de sindicato foi


se moldando ao passardas épocas. Atualmente, a constitui-
ção de 1988, trouxe uma série de inovações e solidificações
desse ideal, mas que atualmente vem sofrendo ameaças de
várias formas.

5.6.1 O ENFRAQUECIMENTO DOS SINDICATOS E A


PIORA DA SAÚDE DOTRABALHADOR

Com o advento da Consolidação das Leis do Trabalho


e da Constituição federal, esperava-se uma maior proteção
do trabalho, o que de fato vem se consolidando a cada dia.
Contudo, a terceirização está se tornando uma vilã da histó-
ria.
O sindicato que até então havia ganhado forças com
185 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o advento dessas duas leis, está atualmente sendo usada


como uma forma de burlar direito e deveres contratuais.
Vemos a perca quase que diária da força sindicalista, inclu-
sive, por culpados próprios trabalhadores, que muitas vezes,
acabam não buscando essas instituições como forma de lutar
pelos seus direitos.
O assédio, o medo e aumento demasiado da carga
sem o devido pagamento dos direitos trabalhistas tem sido
rotineiro e acabaram se tornando uma das maiores preocu-
pações do judiciário na atualidade, visto que, isso influência
muito além da vida financeira do trabalhador, mas também
em sua saúde, conforme destaque do livro deSANTOS, et al
(2019, p. 61)

Doenças relacionadas ao trabalho estão dire-


tamente ligadas às condições em que o traba-
lhador está inserido no meio laboral, assim
como às atividades desempenhadas por ele.
Quando o ambiente de trabalho não está ade-
quado às características funcionais do indiví-
duo, esse meio torna-se perigoso, acarre-
tando o surgimento de diferentes tipos de
doenças.

5.6.2 O SETOR PÚBLICO E O PRIVADO E SUAS CON-


TRIBUIÇÕES PARA ADECADÊNCIA DO TERCEIRIZADO

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,


186 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tem muita dificuldade em reunir dados sobre esses temas,


visto que, há vários níveis de terceirização e subcontratação,
que envolvem não somente empresas, como pessoas tam-
bém. Dados desse instituto, indicam que uma protege apro-
ximada de 22% dos trabalhadores formais são terceirizados.
Ou seja, concretiza-se o que tem sido discutido ao longo
desse trabalho, o exponencial crescimento desse fenômeno
aqui no brasil.
No quadro atual de transformações do trabalho, em
que a terceirização ocupa lugar central, faz-se necessário
analisar como os processos de globalização, de reestrutura-
ção produtiva e de hegemonia neoliberal se manifestaram no
âmbito do trabalho do servidor público.
Para isso, é necessário fazer referência, mesmo que
este não seja objeto principal deste capítulo, às transforma-
ções pelas quais o Estado passou. No plano mais geral, há
uma mudança radical no tipo de Estado que prevaleceu
durante todo o período de hegemonia fordista, principalmente
nos países europeus que viveram a experiência dos Estados
de bem-estar social, com políticas públicas de caráter univer-
sal, de pleno emprego e de distribuição de renda, fruto do
pacto social estabelecido no pós-Guerra.
Com isso, indaga-se se os setores públicos e privados
têm ajudado na melhoria da condição de trabalho dos seus

187 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

funcionários. Para essa reposta, parece que temosum não.


O setor público parece estar entre os que mais dão
maus exemplos. Por não observar de perto a saúde finan-
ceira de boa parte de suas terceirizadas, acabamos vendo,
quase que rotineiramente nos noticiários matérias de protes-
tos por parte de trabalhadores terceirizados do setor público
com seus salários, férias ou rescisões contratuais atrasadas.
Não que isso não implique de certa forma também no
setor privado, haja vista que, na maior parte, é ele quem
presta os serviços para o setor público. Para o trabalhador,
além de sofrer com baixos salários, proporcionando uma

5.7 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

Na atualidade, muito se tem discutido sobre as condi-


ções do trabalho. Várias conquistas foram consolidadas, isso
de certa maneira é notório. Contudo, é sabido que em tempos
de resseção econômica, grandes crises financeiras como a
que o mundo inteiro vem sofrendo, inclusive o Brasil, de certa
forma, acaba interferindo nãosomente na vida da sociedade
como um todo, mas na remuneração e na qualidade de tra-
balho.
Atualmente, similar ao que ocorreu com o surgimento
da terceirização em meados da segunda guerra mundial, ela

188 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

está novamente em ascensão, mas não devido a uma guerra


mundial, mas devido a umas séries de fatos, incluindo uma
guerra entre dois países. Por haver essa anormalidade, o
mercado passou a exigindomuito aquém de uma época nor-
mal.
A precarização do trabalho é um processo internaci-
onal que tem se verificado com intensidades distintas em
vários países. Inúmeros indicadores sociais demonstram a
centralidade da categoria “precariado”: contratos terceiriza-
dos e/ou informais, baixos salários, alta rotatividade e expo-
sição extrema ao risco social do trabalho.
Aos que puderam se isolar, o home office se tornou
realidade que, na prática, transferiu os custos do trabalho
aos trabalhadores. Com o crescimento das demandas pelo
trabalho uberizado e a flexibilização dos contratos em vários
setores, diversas faces da precarização do trabalho se
manifestam, mas é na relação entre desalento e pejotização
que é possível observar uma massa de trabalhadores
migrando para a vulnerabilidade.
A sua publicação, redistribuição, transmissão e rees-
crita sem autorização prévia é proibida.
É a partir daqui que se percebe, que muitas empresas,
para tentarem sobreviver estão passando a informalidade ou
até mesmo buscando meios de tentar burlar a lei, com o

189 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

intuito de aumentarem o lucro e se manterem no mercado.


Essa prática foi descrita por POSSÍDIO e MARTINEZ, (2020,
p. 102):

Isso porque sempre se entendeu que essa


modalidade de contratação tinha por escopo
disfarçar a existência de um verdadeiro con-
trato de emprego, travestido em terceirização
apenas como forma de reduzir custos tributá-
rios, encargos e cumprimento das normas tra-
balhistas em favor do tomador dos serviços.

Ou seja, não é uma prática nova, mas sim, algo que já


vem sendo combatida no decorrer do tempo, inclusive por
sindicatos. Outro ponto interessante, que abordaremos logo
em seguida, é a questão remuneratória que, acaba prejudi-
cando emuito o trabalhador.

5.7.1 ALÉM DA FUNÇÃO REMUNERATÓRIA

Em uma sociedade em que o trabalho ocupa posição de


centralidade, é precisoreconhecer que o trabalho não tem fun-
ção somente remuneratória, apesar de ser extremamente
essencial. Trabalhar não nos deve remeter somente ao
dinheiro propriamente dito, visto que, ele sozinho não supre
toda as necessidades do ser comopessoa, sobretudo, quando

190 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tocamos em questão de ambiente de trabalho, chefia, des-


caço, bem como ao lazer e ao bem-estar do trabalhador.
Em tempos de crise, como a que estamos vivendo, a
sociedade passa a viver uma a série de mudanças de para-
digmas e conceitos. Isso implica em uma nova
mudança contratual e até mesmo em falência de jurisprudên-
cia ou em decadência normativas, como vemos no tredo logo
em seguida de Guilherme, Luiz Fernando do Vale de Almeida
(2015. p. 223)

A atual crise financeira ref lete a quebra de um


sistema contratual. A f alência do instrumento o
qual mantêm a avença no molde que se evi-
dencia é mais um alerta para a necessidade
de alteração substancial que alicerça o
mecanismo contratual.

É por essa e outras temáticas que muitos autores pas-


saram a defender a função social que o trabalho desempe-
nha na sociedade. Isso porque, um ambiente de trabalho que
não proporciona o mínimo de condições dignas de trabalho,
acaba gerando grandes problemas ao trabalhador, muito
além de sua saúde financeira, como bem colocado pelo escri-
tor SANTOS, Sérgio Valverde Marques dos, et al (2019.P.61)

Doenças relacionadas ao trabalho estão dire-


tamente ligadas às condições em que o traba-
lhador está inserido no meio laboral, assim
191 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como às atividades desempenhadas por ele.


Quando o ambiente de trabalho não está ade-
quado às características funcionais do indiví-
duo, esse meio torna-se perigoso, acarre-
tando o surgimento de diferentes tipos de
doenças.

Foi pensando em tudo isso, que esse presente traba-


lho se debruçou, com intuito de esclarecer juntamente com o
pensar crítico do leito, o que a terceirização tem trazido para
a nossa sociedade, suas implicações na sociedade atual,
seus malefícios e benéficos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como ressaltado, a terceirização é o principal pro-


duto do modelo toyotista de produção, que se fez notar a
partir da crise capitalista de 1970.
No Brasil, o modelo toyotista tornou-se largamente
difundido no cenário sócio-econômico a partir da década de
1990, com a abertura do país para o mercado externo
somada ao ideário preponderante neoliberal do governo de
então.
A disseminação do toyotismo trouxe consigo a tercei-
rização de serviços - principal estratégia de gestão do tra-

192 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

balho do referido modelo de produção -, causando perplexi-


dade aos operadores do direito, que se viram diante do
desafio de absorver tal fenômeno sócio-econômico e disci-
plinar seus principais efeitos jurídicos.
Os contornos do instituto, até a promulgação da Lei
nº 13.429, de 31 de março de 2017, eram preponderante-
mente traçados pela Súmula nº 331 do C. TST, além de leis
específicas a respeito do tema.
A Lei nº 13.429/2017 - que dispõe sobre as relações
de trabalho na empresa de trabalho temporário e na
empresa de prestação de serviços a terceiros - pouco avan-
çou no sentido de melhorar a qualidade de vida dos traba-
lhadores terceirizados. Ao contrário, aprofundou a precari-
zação do trabalho, ao difundir a terceirização de serviços,
de forma irrestrita, para todas as atividades da empresa.
A permissão legal à terceirização de atividade-fim do
contratante trata-se de inegável retrocesso social.
Com efeito, a subcontratação de atividades essenci-
ais e inerentes à dinâmica do empreendimento, tal como
disciplinado pela Lei nº 13.429/2017, esvazia completa-
mente a justificativa técnica que tem sido atribuída à tercei-
rização desde os primórdios de sua inserção no sistema
capitalista, qual seja, a de aumentar a produtividade e qua-
lidade dos produtos e serviços ofertados ao consumidor,

193 | P á g i n a
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pela dedicação da empresa a sua atividade principal.


A transferência de atividade-fim da tomadora de servi-
ços não encontra outra motivação que não seja a obtenção
de lucro com a exploração agressiva do trabalho humano, em
nítida locação de mão-de-obra.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Painel de indicadores. https://www.ibge.gov.br/indi-


cadores.html. Acessadoem 07 de nov. 2022.

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1° de maio de 1943. Aprova


a consolidação das leis do trabalho. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm.
Acessado em 06 de nov. 2022.

BRASIL, Lei n° 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre


o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras
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196 | P á g i n a
Vol. 4

Este livro reúne cinco artigos, na


área de Ciências Jurídicas,
redigidos por concludentes do
Curso de Direito da UNINORTE –
Ac, sob a supervisão do Prof. Esp.
Ícaro Maia Chaim.
EAC
Editor

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