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Como vimos, as primeiras aldeias sedentárias surgiram quando certas comunidades
neolíticas se estabeleceram em um território, dedicando-se, predominantemente, à atividade
agrícola. Com isso, ampliou-se a oferta de alimentos, a população cresceu, e a vida social foi se
tornando cada vez mais complexa. Uma das consequências desse processo foi a ampliação
gradativa da divisão do trabalho. Uma pessoa com habilidade para fazer cerâmica, por
exemplo, podia empregar a maior parte do seu dia nessa atividade, para depois trocar seus
potes por alimentos. Esse escambo aconteceu com outras atividades, o que permitiu o
surgimento de funções sociais específicas, como a de tecelão, sacerdote, soldado, ceramista,
metalúrgico etc.
Algumas dessas aldeias em expansão também foram incorporando às suas estruturas físicas
novos elementos, como muralhas, templos religiosos, casas para moradia, armazéns para
estocar alimentos e ruas.
Esse processo faz parte do surgimento das primeiras cidades. Entre as cidades mais antigas
conhecidas, podemos citar Jericó (8000 a.C.), Beidha (7200 a.C.) e Çatal Huyük (6500/6700
a.C.).
O termo civilização pode ser utilizado nos estudos históricos para referir-se a uma forma
própria de organização social.
Formação do Estado
O termo Estado deriva do latim status = estar firme e significa a permanência de uma
situação de convivência humana ligada à sociedade política.
Certamente o Estado nem sempre existiu ao longo da história. Diversas sociedades
organizaram-se sem ele. Nelas, as funções políticas não estavam claramente definidas e
formalizadas em determinada instância de poder. No entanto, em dado momento da história
da maioria das sociedades, supõe-se que, com o aprofundamento da divisão social do
trabalho, certas funções político-administrativas e militares acabaram sendo assumidas por um
grupo social específico, que passou a deter o poder de impor normas à vida coletiva. Assim
teria surgido o governo, por meio do qual se desenvolveu o Estado.
Mesopotâmia
Berço de civilizações
O nome Mesopotâmia, que significa "terra entre rios", foi atribuído à região pelos antigos
gregos devido à sua localização, entre os rios Tigre e Eufrates. Ali viveram diferentes povos que
se confrontaram em vários momentos.
As áreas próximas dos grandes rios eram muito importantes na Mesopotâmia, região
caracterizada pelo clima árido e pela escassez de chuvas. Essas áreas atraíram grupos nômades
e seminômades, das montanhas e do deserto, que atacavam as populações sedentárias dos
vales e das planícies, onde havia terras férteis para plantar e criar rebanhos.
Revolução agropastoril
Os povos mesopotämicos cultivavam muitos produtos, como cevada, trigo, linho,sésamo,
tàmaras e legumes. Também criavam ovelhas, cabras, porcos, bois e asnos.
Alguns grupos dedicaram-se mais a certos oficios e técnicas ligados à agricultura, enquanto
outros se especializaram na fabricação de instrumentos de metal,na produçào da cerâmica, na
construção de canais e barragens, na confecçao de tecidos, nas atividades do comercio etc.
Os historiadores supõem que, no periodo que vai da formação das aldelas e vilas até o fim
do IIl milênio a.C., o trabalho coletivo baseava-se na cooperação entre pessoas de familias
diversas.
No entanto, essa situação não mais ocorria por volta do inicio do Il milênio a.C. Muitas
familias já controlavam os próprios campos e plantações, e algumas delas negociavam com
outras ,trocando,por exemplo, alimentos por objetos de cerâmica e instrumentos de metal.
Ao realizarem essas trocas, uns acumularam mais bens do que outros. O acúmulo de poder
econômico propiciou que certas famílias tivessem maior influência nós processos de tomada
de decisão entre os moradores de aldeias, e posteriormente ,das cidades.
Surgimento de cidades
A junção de algumas aldeias mesopotâmicas deu origem às primeiras cidades,como Ur,
Uruk, Nippur, Kish, Lagash e Eridu, por volta de 4 mil anos atrás. Essas cidades eram formadas
por construçôes como casas, templos, pontes, palacios e muralhas.
Uma das explicações para o surgimento das primeiras cidades é que o aumento e a
concentração das pessoas nas aldeias, aliados ao crescimento do intercambio econômico e
social, impulsionaram novas formas de organização do trabalho, da justiça, da religião, da
segurança dos habitantes e da proteção dos bens econômicos.
Grande parte das cidades da Mesopotâmia não se uniu para formar um reino único. Eram
cidades independentes, por isso foram chamadas de cidades-Estado pelos historiadores.
Centros de poder
No contexto dessas mudanças, alguns grupos sociais se fortaleceram e passaram a formar
centros de poder. Os sacerdotes controlavamo templo, eo rei, com sua corte, controlava o
palácio.
Os sacerdotes e os templos
Os povos mesopotâmicos eram politeístas, isto e, adoravam diversos deuses, muitos dos quais
relacionados a elementos da natureza. Além disso, costumavam acreditar que, depois da
morte, o espirito das pessoas ia para um mundo inferior, um lugar sem retorno. Não havia
possibilidade de vida melhor após a morte. Por isso, as pessoas queriam aproveitar ao maximo
sua exiIstência e consideravam a juventude a mais bela fase da vida.
Além das funções religiosas, os sacerdotes do templo exerciam atividades econômicas. Devido
às oferendas recebidas, acumularam grande património em terras, rebanhos, plantações e
artigos artesanais, o que lhes propiciou desenvolver um ativo comércio com as regiões
vizinhas. Muitos deles tambem teriam exercido grande influência politica na Mesopotâmia
Para controlar tudo Isso e tazer a contabilidade do templo (relação de produtos, recebimentos,
pagamentos, empréstimos), os sacerdotes desenvolveram um sistema de escrita e numeração.
O rei e o palácio
Ao longo do lIl milênio a.C., já existia a figura do rei nas cidades mesopotâmicas. O soberano se
tornaria o principal centro do poder político, superando,muitas vezes, a força dos sacerdotes
do templo. Por volta de 2500 a.C., o rei, sua famlia e seus funcionários moravam no palácio
real – uma nova estrutura arquitetônica que se destacava, além do templo.
Há várias hipóteses que explicam a origem e o crescimento do poder real. Segundo uma delas,
à medida que as cidades passaram a crescer e acumular riquezas, sua defesa passou a ser uma
preocupação para seus habitantes. Diante do risco de guerras, invasões e pilhagens, tropas
militares foram organizadas e um comandante foi escolhido. Com o tempo, esse comandante
ampliou seus poderes e tornou-se uma autoridade permanente, dando origem à figura do rei.
Além do poder politico, o rei e seus funcionários controlavam uma razoável parcela da
atividade econômica. Possuiam oficinas onde eram produzidos instrumentos de metal, objetos
de cerâmica, tecidos mobiliário etc. Exigiam o pagamento de tributos, arrecadados na forma
de bens materiais, como alimentos rebanhos e sementes.
Política e religião
Mesmo havendo uma separação entre rei (palacio) e sacerdotes (templo), a religião sempre foi
utilizada para justificar o poder do rei, que, desse modo,exercia também liderança religiosa.
Pela mentalidade dominante na Mesopotâmia, o rei seria um representante direto dos deuses,
alguém predestinado a concretizar a vontade divina entre os seres humanos.
Assim, de acordo com a política e a religião, o rei ocupava um lugar especial na sociedade:
entre os deuses e os homens.
Domínio babilônio
Apesar da independência das cidades-Estado da Mesopotâmia, as mais fortes e poderosas,
como Acad, Babilônia e Assur, impuseram seu domínio sobre as demais e sobre as regiões
vizinhas. Foi o caso,por exemplo, da expansão e unificação política da Mesopotâmia, que
ocorreu por volta de 1763 a.C sob o governo do rei babilônio Hamurábi.
Hamurábi consolidou seu poder tomando medidas marcantes em diferentes aspectos sociais.
Entre elas, estava a imposição do deus babilônio Marduk aos povos vencidos e a repartição da
propriedade da terra entre o Estado, os templos e os particulares. Ele também consagrou a
divisão da sociedade local em três grandes categorias:
escravos→prisioneiros de guerra ou pessoas que não conseguian pagar suas dívidas e, por isso,
se tornavam propriedade do credor. Normalmente, a escravidão por dívida durava certo
periodo, estipulado pelo juiz da questão.
De acordo com essa divisão, um mesmo crime podia ser punido de forma diferente,
dependendo da categoria social à qual pertenciam o réu e a vítima. Assim, uma ofensa contra
os awilum tinha, geralmente, pena mais severa do que um crime praticado contra os
mushkenum.
Até por vota do ano 3000 a.C., os veiculos utilizados pelos sumérios eram trenós puxados por
bois ou outros animais. A necessidade de transportes mais eficientes levou-os a utilizar a roda
nos veiculos. O uso da roda representou uma revolução na locomoção terrestre e contribuiu
para acelerar as comunicações.
Escrita
Para muitos historiadores, a "invençāo da escrita" não foi realização de um único povo. Em
várias regiões do mundo, diversas sociedades inventaram o próprio sistema de escrita. No
entanto, o sistema do qual possuímos o mais antigo registro é o dos sumérios, povo que
constituiu a primeira civilização mesopotâmica. O que teria levado os sumérios a desenvolver a
escrita?
Conforme vimos, a vida nas cidades mesopotâmicas tornava-se cada vez mais complexa,
trazendo dificuldades para a normatizaçāo das relações sociais.
A fala e a memorização já nāo davam conta dos inúmeros dados e das interações da vida
cotidiana.
Esse problema ocorria principalmente nos templos sumérios. Neles, formaram-se, como
vimos, corporações com grande patrimônio. Esse patrimônio era administrado pelos
sacerdotes, que realizavam diversas transações econômicas: empréstimos de animais e
sementes, pagamento a construtores de barcos e comerciantes, controle de produtos
estocados em seus armazéns etc.
Supõe-se que, com o tempo, oS sacerdotes perceberam que não podiam confiar apenas em
sua memória para registrar tantas operações. Para resolver esse problema, teriam
desenvolvido uma escrita, isto é, um sistema de sinais pelo qual a linguagem verbal pudesse
ser fixada, entendida e transmitida para outras pessoas.
Utilização da escrita
A partir de 3000 a.C., a escrita começou a ser utilizada não só para fazer a contabilidade dos
templos,mas também para registrar ensinamentos religiosos,literários, normas jurídicas etc.
Assim, os mesopotâmicos puderam escrever histórias que até então eram transmitidas apenas
de forma oral.
Bom exemplo disso é a Epopeia de Gilgamesh,que, registrada em blocos de argila por meio da
escrita cuneiforme, narra as aventuras de amor e bravura de um herói (Gilgamesh) que
desejava descobrir o segredo da imortalidade.
Transformação da escrita suméria
pictográfico →os primeiros sinais criados eram pictográficos, isto é, consistiam em desenhos
figurativos do objeto representado. Assim, tazia-se um desenho simplificado de um boi, uma
cabeça, uma semente ou um jarro, por exemplo,quando se queria expressar um desses
elementos;
fonográfico→ por fim, os sinais passaram a ser menos figurativos e mais abstratos, tornando-
se fonográficos, isto é, representando os sons da fala humana, significando conceitos ou ações
cada vez mais complexos. Como esses sinais eram impressos com uma espécie de estilete em
forma de cunha na argila ainda molhada, a escrita suméria recebeu o nome de cuneiforme.
A escrita suméria tinha, no início, mais de 2 mil signos, que, aos poucos, foram sendo
simplificados e se reduziram a cerca de 300 signos mais usuais.
Essas normas foram recolhidas, em grande parte, dos costumes juridicos já praticados na
Mesopotâmia, mas, ao organizá-las em um código, Hamurábi reafirmou a importância da
função do rei como ordenador da vida social.
No Código de Hamurábi, não encontramos a definição das características gerais dos crimes.
Seus artigos descrevem casos específicos que serviam como padrão a ser aplicado em
questões semelhantes.
•Se um filho agredir seu pai com as mãos, terá a sua mão cortada.
•Se um construtor edificar uma casa para um homem livre, e a casa desabar, matando o
proprietário, esse construtor será morto.
•Se um homem roubar um boi, uma ovelha, um asno, um porco ou um barco, e esses bens
pertencerem a um templo ou a um palácio, o ladrão terá de devolver trinta vezes o valor
roubado.
Princípio de talião
Em muitas sociedades antigas, a pena aplicada ao criminoso concretizava-se nos mais variados
tipos de revide à ofensa cometida. Muitas vezes, esse revide se transformava em violência sem
fim entre grupos rivais.
No Código de Hamurábi, encontramos um meio para limitar esses excessos: é o princípio (ou
lei) de talião, pelo qual a pena não seria uma vingança arbitrária e desmedida, mas
proporcional à falta cometida ("olho por olho, dente por dente"). Em outras palavras, fazia-se
justiça por meio de uma retribuição proporcional ao crime praticado. Assim, por exemplo, se
alguém furasse o olho de outro, seu olho também seria furado; se alguém arrancasse os
dentes de outro, seus dentes também seriam arrancados.
Quando analisamos hoje as penas do Código de Hamurábi, elas podem parecer brutais. No
entanto, para a época, o princípio de talião era considerado a expressão da justiça. O Código
de Hamurábi também estabelecia a possibilidade de a pena ser paga na forma de recompensa
econômica (gado, armas, moedas etc.).