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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP

UNIDADE JOÃO MEDEIROS


ESCOLA DE SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA

DAYANNA CRISTINA S. MARTINS


DANIELLE DA SILVA T. COSTA
JUCILENE SANTOS DE MACEDO
LUANNA LARISSA CÂMARA O. PEREIRA
LUZIVANIA SANTOS ANDRADE
VITÓRIA VIEIRA L. ABRANTES

INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS

Natal
Junho 2020
DAYANNA CRISTINA S. MARTINS
DANIELLE DA SILVA T. COSTA
JUCILENE SANTOS DE MACEDO
LUANNA LARISSA CÂMARA O. PEREIRA
LUZIVANIA SANTOS DE ANDRADE
VITÓRIA VIEIRA L. ABRANTES

REFLETIR PARA PREVENIR A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Projeto de intervenção apresentado por


exigência da disciplina Intervenções e
Processos Psicossociais do curso de
Psicologia da Universidade Potiguar,
ministrada pelo professor Maurício Cirilo da
Costa Neto.

NATAL
Junho de 2020
SUMÁRIO

1 Apresentação............................................................................................................4

2 Justificativa do projeto de intervenção e objetivos.............................................5


2.1. Situações identificadas na entrevista..........................................5
2.2. Objetivo geral e específicos..............................................................................5

3 Fundamentação teórica....................................................................................6
3.1 Patriarcalismo...................................................................................................6
3.2 Identidade de gênero..........................................................................................8

4 Metodologia............................................................................................................10

5 Referências.............................................................................................................11

6 Anexos: Roteiro de entrevista.............................................................................13


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1. APRESENTAÇÃO
Projeto: Refletir para prevenir a violência doméstica
Local: Centro de referência da mulher Elisabeth Nasser, articulado com o Ministério
Público do Rio Grande do Norte.
Público alvo: Homens de diferentes faixas etárias e classes sociais, envolvidos no
contexto de violência doméstica, que se encontram em processo judicial.
Período: 6 meses.

A violência contra as mulheres é um fenômeno complexo e multidimensional, que


atravessa classes sociais, idades e regiões. O aumento na frequência da violência contra
a mulher, tem uma estreita relação com o início da sociedade patriarcal. Devido a esta,
houve uma dominação masculina em relação às mulheres e, por conseguinte,
repreensões realizadas em forma de agressões físicas e morais tornaram-se comuns.
Hoje este tipo de violência ocorre de forma rotineira, com índices cada vez maiores.

Diante desse cenário é necessário ampliar o atendimento para além da mulher


agredida, sendo preciso estendê-lo ao acusado, pois não adianta institucionalizar o
acusado se não existe no sistema prisional ações ou políticas públicas que promovam a
conscientização do mesmo em prol de uma mudança de atitude frente as suas vítimas e
suas atitudes enquanto sujeito social. Tomando como base essa necessidade, o projeto
propõe uma ação, voltada a essa problemática e consequentemente a esse público
masculino que naturaliza a violência, mas também que carrega consigo parte de
problemas que o fazem adotar tais atitudes.

Segundo a Lei Maria da Penha, em seu artigo 35, inciso V, determina a criação e
promoção de centros de educação e de reabilitação para os agressores, entendendo que,
por meio da reflexão e do diálogo, é possível desmontar o ideário machista que muitos
carregam desde a infância e, dessa forma, servir de instrumento para diminuir a violência
contra as mulheres.
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1. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

1.1. Situações identificadas na entrevista

O centro de referência da mulher, propõe desenvolver ações de prevenção e


combate à violência doméstica. Foi Identificado a necessidade de um acompanhamento
voltado para os agressores, diante da procura de algumas mulheres que lá são atendidas.
O centro é referência no atendimento à mulher, mas promove articulações com
outros equipamentos como por exemplo o Ministério Público. A constituição da rede de
enfrentamento, busca dar conta da complexidade da violência contra as mulheres e do
caráter multidimensional do problema, que perpassa diversas áreas. A violência é o
resultado da complexa interação de fatores individuais, de relacionamento, sociais,
culturais e ambientais. Entender como esses fatores estão relacionados à violência é um
dos passos importantes na abordagem de saúde pública para evitar a violência. (KRUG et
al., 2002, p12)

1.2. Objetivo geral e específicos

Construir um grupo reflexivo de homens, autores de violência doméstica em


processo judicial, a fim que eles reflitam sobre seus comportamentos, entendendo que é
necessário promover mudanças, culturais, educativas e sociais. Como base temos os
seguintes pontos:

 Discutir sobre a lei Maria da penha;


 Refletir sobre o papel do homem na sociedade contemporânea;
 Promover espaço para escuta compartilhada, através das experiências;
 Refletir sobre identidades de gênero;
 Estimular o rompimento do ciclo de violência, bem como trabalhar a
responsabilização frente a violência perpetrada.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. PATRIARCALISMO

A influência do patriarcado na construção e evolução social humana é remota a


Idade Média, segundo Scott, J. (1995), “o patriarcado é uma forma de organização social
onde suas relações são regidas por dois princípios basilares: as mulheres são
hierarquicamente subordinadas aos homens, e os jovens estão subordinados
hierarquicamente aos homens mais velhos, patriarcas da comunidade”. Desta maneira o
patriarcado marcado pela preponderância masculina, desvalorização da identidade
feminina e pelas competências atribuídas ao ser mulher, apenas para procriação.
Apesar das possíveis transformações socioculturais o sistema patriarcal
sobreviveu, pode-se dizer que evoluiu. Tal transição resultou no “patriarcado
contemporâneo”. Nesta conjuntura, o vínculo homem versus mulher, continua herdando
muitas características desiguais, mas estas agora se encontram em menor evidência,
ainda assim presentes tanto em meio social, quanto profissional e familiar, influenciando o
modelo ideal feminino contemporâneo. Na busca pela igualdade todas as vertentes,
encontramos em pequenas atitudes, que em primeira análise não parecem ofensivos ou
preconceituosos, mas de fato representam a forte influência do patriarcado na nossa
formação como indivíduos.
Quanto ao meio social, os inegáveis séculos de total submissão ao gênero dominante,
acabaram imprimindo tanto na sociedade quanto no Estado a ideia de “gênero frágil” o
que acaba por catalisar e intensificar possíveis agressões de toda espécie contra
mulheres. A Lei Maria da Penha nasce em um contexto de combate a violência de
gênero. Mais do que apenas uma violência em âmbito doméstico, a violência de gênero
existe em função da condição feminina da mulher. Logo, a violência de gênero se
diferencia da doméstica por seu caráter amplo e por ser direcionada a mulheres apenas
por sua condição feminina. Buscando prevenir, punir e erradicar a violência contra a
mulher em ambiente doméstico, familiar ou de intimidade.

Das formas de violência a mais indiciada é a física compreendida como qualquer


ato que ofenda a integridade ou saúde corpórea da mulher; a violência psicológica que
incide a dignidade e psique da mesma. Em sua grande maioria, acontece através de
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ameaças, humilhação ou discriminação. É a mais assídua de todas as agressões, porém


a menos denunciada; a violência sexual é toda a ação na qual uma pessoa, em situação

de poder, obriga outrem à realização de práticas sexuais contra a vontade, por meio da
força física, da influência psicológica (intimidação, aliciamento, sedução), ou do uso de
armas ou drogas; a violência patrimonial que configura qualquer ação de retenção,
subtração, destruição total ou parcial de seus objetos pessoais, instrumentos de trabalho,
documentos, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades e a violência moral, entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006).

É compreensível a revolta ocasionada pelo cometimento de algum ato com tais


características. Além disso, crimes como este espalham desconfiança e medo a toda e
qualquer mulher que esteja sendo vítima de violência. A qualificação do Feminicídio,
sancionada no dia 9 de março de 2015, teve como objetivo reforçar a ideia de que
qualquer forma de opressão e subjugação sobre o gênero feminino não pode ser tolerado.
É um assunto ainda muito recente, tanto no campo jurídico quanto no sociológico. As
mulheres estão cada vez mais cientes que as agressões, sejam elas físicas, psicológicas
ou de qualquer outro tipo, especialmente aquelas vindas de parceiros, não são
comportamentos normais e aceitáveis, ao contrário de algumas décadas atrás.

O patriarcalismo precisa ser combatido por meio da educação, legislação,


conscientização e políticas públicas. A Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, são os
principais instrumentos que os movimentos sociais femininos conquistaram para garantir
direitos, combater a violência de gênero e auxiliar ainda mais a desconstrução do
idealismo de inferioridade feminina, levando maior segurança para mulheres em situação
de vulnerabilidade.
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2.2. IDENTIDADE DE GÊNERO

Moralidade e Ética, inserem-se no entre o eu e o mundo (Butler, 2015). Nelas


moldarão na construção de um indivíduo que se insere nas diversas instituições que
regulam o coletivo, seja o Estado, a Família, a Escola, a Igreja, dentro de uma dimensão
dialética formadora da construção de um Eu, aonde a sociedade que por sua vez lhe
ensina e vice-versa,sendo formadora por diversas subjetivações dos indivíduos possuindo
valores morais e princípios éticos de acordo com seu contexto sócio- histórico e cultural
que ensina também ao sujeito.
Dessa forma, a identidade de gênero é definida em sociedade como uma
construção enraizada por uma construção de moralidade e ética que é ensinada e
perpassada de gerações em gerações e que ora são até consideradas normatizadas.
“Incompletos”, somos sujeitos sociais que performatizam relação ao que fomos
construídos a respeitar e estabelecer uma realização moral de nós mesmos (Foucault,
1990; Guanaes- Lorenzi et al., 2014). Compreendemos o quanto desigual é a questão do
gênero, nos quais as diferenciações da genitália que possuímos modela nossos papéis
diante da sociedade construída culturalmente, partindo assim de estereótipos
perpassados e que possibilitam a visão de gênero de cada um de forma natural, na qual
muitas vezes acabam a gerar formas de violências, em especial o homem contra as
mulheres.
A desigualdade de Gênero é vista numa análise de condição social que cada
gênero possui e que diretamente atinge a cada um. A condição da mulher, que caminha
por diversos âmbitos de desigualdade, seja ela nas vulnerabilidades que lhe deixam a
margem da violência, agredidas por seus parceiros, em razão de diversas questões, até
mesmo da sua própria condição financeira e econômica da mulher que ainda ganham
menos que os homens.
O Homem por sua vez, em sua condição que a sociedade lhe ensinou, a sua
posição de masculinidade é observada por uma construção de dominação e de
superioridade em relação ao sexo oposto, no qual proporciona uma visão de aceitação
por sua masculinidade. Os papéis de se tornar homem são ensinados a serem o provedor
do seu lar, tendo uma posição de dominação, controle e virilidade vista como superior,
sendo passadas e construídas por uma ligação que diversas Instituições da sociedade se
correlacionam refletindo na construção da subjetividade masculina.
A Psicologia Social tem por seu papel nortear questões reflexivas para que
conscientizem esses sujeitos e possam diminuir as condições de superioridade e tornar
mais igualitárias as condições de gêneros diminuindo assim condição de agressão e
reflexão de papéis.
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Esses pensamentos e comportamentos que o homem aprende em sociedade,
desde criança, precisa ser modificado. O papel que o homem representa perante a
sociedade de que o homem é forte, não chora, não se emociona e não precisa de ajuda,
produz sofrimentos. Isso interfere na sua relação conjugal, como tantos outros problemas
que podem originar um comportamento agressivo, o uso abusivo de álcool ou de
substâncias psicoativas, estresse, impulsividade, episódios de violência na infância,
dentre outros.
Muitos desses homens têm um histórico de violência familiar, cresceram, por
exemplo, vendo a violência dentro de casa, do próprio pai contra a mãe ou outra eventual
companheira. Atitudes machistas estão impregnadas na nossa cultura. A readaptação
busca atuar dentro da consciência desses homens, porque muitos deles têm uma
dificuldade enorme em lidar com suas falhas. Para romper com o círculo da violência se
faz necessário, olhar para esse homem e enxergar além do agressor, entender que ele
precisa ser compreendido em seu contexto e suas particularidades, que ele também
precisa de intervenções.
As punições que o agressor privado de liberdade enfrenta nas penitenciárias do
nosso Estado, não produz reflexões, ao contrário, são desumanas, fere os seus direitos
enquanto cidadão, não produz ressignificações e não rompe com o círculo da violência.
Pesquisas feitas com homens privados de liberdade que participaram de grupos
reflexivos, e homem que não participaram, apontam que a reincidência de violência é
quase zero dos homens que participaram dos grupos. Fonte (Ministério Público do Rio
Grande do Norte)
Segundo o psicólogo Adriano Beiras, professor do programa de pós-graduação e do
Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), observa
ainda que havia, no passado, um preconceito com os trabalhos relacionados ao agressor.
"Até então, se entendia que trabalhar com os homens era trabalhar contra as mulheres. O
que tem crescido agora é o entendimento de que quando se trabalha com o homem autor de
violência está se trabalhando para a mulher; para ele deixar de bater em outras mulheres.
A lei Maria da Penha passou por alterações, determina agora que agressores de
mulheres, podem ser obrigados a frequentar centros de reeducação, além de receber
atendimento psicossocial (Lei 13.984, de 2020). O juiz pode obrigar eventuais agressores
a participarem de cursos a partir da fase investigatória de cada caso verificado de
violência contra a mulher. Isso porque essas medidas estão no rol da proteção urgente
das vítimas. Fonte (Senado Federal).

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3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesse projeto foi investigação ação participante, por meio
dos instrumentos de entrevista semi-estruturada e consulta de trabalhos bibliográficos, e
grupos reflexivos.
A investigação ação participante, enquanto processo de investigação, e produção
de conhecimentos, e a intervenção social, busca sempre produzir alguma transformação
em determinados aspectos da realidade concreta, pesquisando os fenômenos e/ou
problemas para, somente, depois agir sobre eles. (ROSSI, PASSOS,2014)
A entrevista foi realizada via chamada de vídeo pelo aplicativo WhatsApp, com a
Psicóloga do centro de referência a mulher Elizabeth Nasser. Identificamos uma procura,
por atendimentos psicossociais para os agressores por parte das mulheres agredidas.
Através dessa demanda, foi pensando em um projeto que, articulado com o Ministério
Público do Rio Grande do Norte, pudesse proporcionar aos agressores reflexões sobre
seus modos de agir.
No primeiro momento seria verificada necessidades socioassistenciais e
atendimento psicológico, feita então uma anamnese, para identificar possíveis
dificuldades e problemas que possam interferir a participação no grupo. Seguindo dos
encontros, onde seriam produzidas reflexões com os objetivos, de promover a
desmistificação de alguns papéis impostos a ele, enquanto homem, no sentido de
problematizar e desnaturalizar a violência.
A metodologia de grupos reflexivos, consiste em um trabalho com grupos, cujo
objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos. Aprender
em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma
abertura para as dúvidas e para as novas inquietações. (PICHON-RIVIERE, 2005).
O trabalho de grupos reflexivos com homens agressores é reconhecido como um
método eficaz para coibir, prevenir e reduzir a reincidência da violência doméstica contra
a mulher, sendo esta uma prática regularmente adotada em alguns Juizados do Poder
Judiciário.
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4. REFERÊNCIAS:

Brasil. Conselho Nacional do Ministério Público. Violência contra a mulher: um olhar do


Ministério Público brasileiro / Conselho Nacional do Ministério Público. – Brasília:
CNMP, 2018. 244 p. il. ISBN: 978-85-67311-43-2 1.Ministério Público. 2. Violência
doméstica. 3. Movimento feminista. 4. Direitos fundamentais. I. Título. II. Comissão de
Defesa dos Direitos Fundamentais.

BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm >. Acesso em:
30 de maio 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar:


orientações para a prática em serviço. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

BRASIL, Lei n, 11.984, de 2020. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/hpsenado


> Acesso em :01 jun 2020.

GARCIA, Ana Luíza Cassanta, Beiras, Adriano. A psicologia social no estudo de


justificativas narrativas de homens autores de violência. Psicologia: Ciência e
Profissão 2019 v. 39(n. Spe2), e 225647, p. 45-58. Disponível em: < https://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932019000600306&tlng=pt >. Acesso em: 31
de maio de 2020.

MADUREIRA, Alexandra Bittencourt et al . Perfil de homens autores de violência


contra mulheres detidos em flagrante: contribuições para o enfrentamento.Esc.
Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 18,n. 4,p. 600-606,Dec. 2014. Disponível em:<
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
81452014000400600&lng=en&nrm=iso >. Accesso 29de maio de 2020.

PICHON-RIVIERE, Enrique. O processo grupal. Tradução de Marco Aurelio Fernandes


Velloso. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

ROSSI, André, PASSOS,Eduardo. Análise institucional: revisão conceitual e nuances


da pesquisa-ação no Brasil, Revista EPOS; Rio de Janeiro, vol.5, nº1, jan-jun de 2014;
p.156-181.

SCOTT, J. (1995). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade, 20, 71-99.

SOUZA, Ildérica de Castro, COSTA, Jackeline Leite, Projeto reflexivo para homens;
por uma atitude de paz, Ministério Público do Rio Grande do Norte, Natal,2011.
Disponível em: <http://www.direito.mppr.mp.br/arquivos/File/porumaatitudedepaz.pdf >
Acesso em: 05 jun. 2020
VASCONCELOS, Cristina Silvana da Silva, CAVALCANTE, Lília Iêda Chaves.
Caracterização, reincidência e percepções de homens autores de violência contra a
mulher sobre grupos reflexivos. Psicol. Soc. vol. 31, Belo Horizonte, 2019, Epub, Nov.
04, 2019. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822019000100225&lang=pt >. Acesso em: 31 de maio de 2020.
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VIDAL, Josep Pont. Identificando políticas públicas: Defensoria Pública e homens


infratores da Lei Maria da Penha. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 53, n. 3, p. 628-
639, June 2019. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_isoref&pid=S0034-
73292007000200005&lng=en&tlng=ptAlmeida >Acesso em 29 maio 2020.
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5. Anexos

Intervenções psicossociais
Entrevista

Profissional: Antonimária Bandeira de Freitas


Formação: Possui graduação em Psicologia pela Universidade Potiguar (2005) e
mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2015).
Atualmente é professora da Universidade Potiguar. Tem experiência na área de Saúde
Coletiva, com ênfase em Saúde Pública.
Equipamento: Centro de Referência a mulher Elisabeth Nasser (CREN)
Entrevista semiestruturada

1. Como funciona os atendimentos às mulheres vítimas de violência?


Quais as medidas protetivas que o centro realiza?

“O Centro de Referência a Mulher Elizabeth Nasser é o único serviço do munícipio


em mulheres em situação de violência. Nele podem acessar o serviço de forma
espontânea, na qual qualquer mulher pode buscar o serviço desde que tenham a
maioridade, vindo de livre demanda, mas podem vir mulheres encaminhadas pelas
delegacias especializadas ou promotoria da mulher.
Funcionam no primeiro momento sendo acolhidas no mesmo dia, podendo ser
pessoalmente, na qual acontece de forma mais rotineira, ou mesmo por telefone.
Quando chegam ao serviço elas são recebidas na recepção, aonde a técnica irá
informar a equipe do turno sendo psicólogos e assistentes sociais.
Passando para a próxima etapa, o atendimento psicossocial, nesse atendimento
trabalhamos com instrumento inicial vindo da própria Secretária Municipal de Saúde
que tem vários eixos, no qual trabalha-se: dados gerais, os tipos de violência sofrida,
se identificam de acordo com a Lei Maria da Penha, física, psicológica, patrimonial
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entre outras e no ultimo campo dados mínimos do agressor (ocorrências, estado civil,
se moram no mesmo endereço).
É importante informar que pode chegar a não usar esse instrumento de trabalho, pois
nesse primeiro momento o foco está no acolhimento dessas mulheres. “

2. Sabemos que o centro realiza projetos e cursos para desenvolver autonomia e


autoestima dessas mulheres. Na sua opinião o quais os benefícios desses
projetos?

“Super relevante, pois quando acompanhamos as mulheres por vários meses no


centro identificamos mulheres de todas as classes sociais sejam elas dependentes ou não
dos companheiros. Muitas vezes têm uma grande dependência, tendo o homem como
único provedor e elas acabam sendo as donas de casas, ficando sem estudar na sua
maioria.
O eixo de qualificação profissional permite que algumas mulheres se insiram no
mercado de trabalho, sendo formal ou informal na perspectiva de produção de renda,
mesmo não sendo definidores, mas fará a diferença para algumas ajudando a romper
este ciclo de violência.
Os cursos acontecem em parceria com a SEMTAS(Secretária Municipal de
trabalho e Assistência Social) e são especialistas que dirigem os cursos do próprio Centro
ou de outros equipamentos, como CRAS, sendo de suma importância dialogar com outras
políticas para além do nosso serviço, pois a usuária ela é uma só e nossa partilha se dá
no cuidado, onde geralmente ela passará por outros lugares como a UPA por exemplo e
em algum momento acabara necessitando de um atendimento psicológico do Centro,
assim tendo esse diálogo garantimos a efetivação do direito à qualificação, porque
principalmente as mulheres que tem baixa escolaridade é uma dificuldade maior em voltar
a estudar, onde esses cursos virão de forma imediata através do bordado, da culinária.”
3. Além da violência física, existem outras como: psicológica, patrimonial, moral e
sexual. As mulheres conseguem fazer essa distinção? Ou entendem que violência
só diz de agressões físicas?

“A grande maioria conseguem identificar. Inicialmente identificam a violência física,


moral, as vezes ficando em dúvida a patrimonial, mas com diálogo identificam episódios
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dos cotidianos que confirmam sofrer determinada violência. A violência psicológica as
vezes no primeiro momento não consegue ser identificada, apenas a física ou as demais,
só ao longo das falas que acabam identificando.”

4. Existe algum projeto que atenda aos agressores?

“Não, o Centro ele é especializado a questão do gênero de fato, então é pensado


exclusivamente para a mulher. Quando ocorre casos com solicitações como essas,
referencia-se para um projeto do ministério público que trabalha com os agressores na
possibilidade de redução ao ciclo de violência, numa supervisão necessária.
Nosso serviço não se configura na perspectiva de trabalhar com os homens na qual ela é
exclusiva para as mulheres, apenas podemos referenciar a outros projetos de outras
instituições.”

5. Como ficou o acesso ao serviço de atendimento a essas mulheres durante a atual


pandemia (COVID-19)?

“Mudou um pouco a forma de acesso ao serviço, antes as mulheres vinham, a


gente recebia os encaminhamentos, como eu havia dito, só que hoje tenho recebido
muitas ligações, as mulheres ligam e pedem para falar com o psicólogo do turno
(plantão). Essa modalidade de atendimento tem sido bastante solicitada, este é um
momento que temos muita visibilidade ao preço do aumento da violência doméstica. As
mulheres estão em casa, os agressores também, então percebemos que crianças e
adolescentes, idosos e mulheres, se pensarmos como categoria, essas faixas etárias
estão extremamente vulneráveis.
Isso não são todas as mulheres, são mulheres que já tem histórico de agressão, e
elas têm dificuldade ir na unidade de saúde, dificuldade até mesmo de ir no Centro, por
que o companheiro está em casa o tempo inteiro, ficam extremamente vigilantes, até em
uma posição de cárcere privado, só saem se sair com ele. Algumas mulheres não têm
telefone e dependem do telefone do companheiro. Elas têm ligado muito, pedindo
atendimento por telefone, e temos oferecido essa modalidade, como orientação, às vezes
elas ligam para saber como funciona, quais são os turnos, e conversamos um pouco,
desdobrando o atendimento. Elas ligam para uma informação, mas na maioria dos casos
existe uma demanda para ser escutada e acolhida.”

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