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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

O impacto da violência doméstica no desenvolvimento psicológico do menor: uma análise


sociojurídica.

José Ussene

Tete, Março de 2024


Índice
1. Contextualização ................................................................................................................. 3
2. Problematização .................................................................................................................. 4
3. Hipóteses ............................................................................................................................. 4
3. Objectivos............................................................................................................................ 4
3.1. Geral ............................................................................................................................. 4
3.2. Específicos ................................................................................................................... 4
4. Metodologia ........................................................................................................................ 5
5. Revisão de Literatura .......................................................................................................... 6
5.1. Definição e Tipologia da Violência Doméstica ........................................................... 6
5.2. Teorias e Modelos Explicativos ................................................................................... 6
5.3. Impacto no Desenvolvimento Psicológico .................................................................. 6
5.4. Factores de Risco e Protecção...................................................................................... 7
5.5. Intervenções e Tratamentos ......................................................................................... 7
5.6. Legislação e Políticas de Protecção Infantil ................................................................ 7
5.7. Desafios e Lacunas na Implementação de Políticas .................................................... 7
5.8. Avaliação de Programas e Intervenções ...................................................................... 8
5.9. Recomendações para Pesquisa Futura ......................................................................... 8
6. Conclusão ............................................................................................................................ 9
7. Referencias bibliográficas. ................................................................................................ 10
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1. Contextualização
A violência doméstica é um fenómeno complexo e multifacetado que permeia todas as
camadas da sociedade, transcende fronteiras geográficas e culturais, e representa uma das
violações mais graves dos direitos humanos fundamentais. No cerne dessa problemática
encontra-se a intersecção entre questões sociais, psicológicas, jurídicas e de saúde, tornando-se
um desafio significativo para indivíduos, comunidades e governos em todo o mundo.
Desde tempos imemoriais, a violência doméstica tem sido uma realidade presente nas
relações familiares, mas apenas nas últimas décadas tem sido reconhecida e abordada como
uma questão de relevância pública e política. Historicamente, as relações familiares eram
consideradas como domínio privado, fora do alcance das intervenções governamentais, o que
contribuiu para a perpetuação do silêncio e da impunidade em torno desses casos.
No entanto, a crescente conscientização sobre os efeitos devastadores da violência
doméstica, tanto para as vítimas directas quanto para a sociedade como um todo, tem levado a
uma mudança gradual de paradigma. Actualmente, a violência doméstica é reconhecida como
um problema de saúde pública, uma violação dos direitos humanos e uma questão social que
requer uma resposta abrangente e multifacetada.
No contexto específico do impacto da violência doméstica no desenvolvimento
psicológico das crianças, as evidências científicas são claras e alarmantes. Estudos indicam que
crianças expostas à violência doméstica enfrentam uma variedade de consequências negativas
em seu desenvolvimento psicológico, emocional e social. Essas crianças têm maior
probabilidade de apresentar problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, transtorno
de estresse pós-traumático e dificuldades no relacionamento interpessoal.
Além disso, a exposição à violência doméstica durante a infância está associada a uma
série de resultados adversos a longo prazo, incluindo maior risco de envolvimento em
comportamentos de risco, como abuso de substâncias, delinquência juvenil e perpetuação do
ciclo da violência nas gerações futuras. Portanto, é fundamental compreender os mecanismos
pelos quais a violência doméstica afecta o desenvolvimento psicológico das crianças e
implementar estratégias eficazes de prevenção e intervenção.
No âmbito jurídico e social, a protecção das crianças vítimas de violência doméstica é
uma prioridade fundamental. No entanto, apesar dos avanços significativos nas leis e políticas
de protecção da infância, existem lacunas e desafios persistentes na implementação eficaz
dessas medidas. Questões como subnotificação, falta de recursos adequados, estigmatização
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das vítimas e impunidade dos agressores continuam a representar obstáculos significativos para
a promoção de ambientes seguros e saudáveis para todas as crianças.
Diante desse cenário complexo e multifacetado, é crucial realizar uma análise
aprofundada do impacto da violência doméstica no desenvolvimento psicológico das crianças,
considerando não apenas os aspectos individuais, mas também os contextos sociais, culturais e
jurídicos que moldam essa realidade. Somente por meio de uma abordagem integrada e
colaborativa, envolvendo profissionais de diferentes áreas, legisladores, organizações da
sociedade civil e comunidades, poderemos avançar na construção de sociedades mais justas,
igualitárias e livres da violência doméstica.
2. Problematização
Como a violência doméstica afecta o desenvolvimento psicológico e emocional das
crianças envolvidas? Quais são as principais consequências a curto e longo prazo desse tipo de
exposição? Como as leis e políticas actuais abordam a protecção das crianças vítimas de
violência doméstica? Quais são os desafios enfrentados pelos sistemas jurídicos e sociais na
prevenção e intervenção em casos de violência doméstica envolvendo crianças?
3. Hipóteses
H1: O ambiente jurídico e social desempenha um papel crucial na protecção e apoio às crianças
vítimas de violência doméstica.
H0: O ambiente jurídico e social não tem impacto significativo na protecção e apoio às crianças
vítimas de violência doméstica.
4. Questões de partida
1. Quais são os factores de risco e protecção que influenciam o impacto da violência
doméstica no desenvolvimento psicológico das crianças?
2. Quais são as lacunas nas leis e políticas existentes relacionadas à protecção das crianças
contra a violência doméstica e como podem ser abordadas de forma eficaz?
3. Objectivos
3.1. Geral
Investigar o impacto da violência doméstica no desenvolvimento psicológico das
crianças e analisar as implicações sociais e jurídicas dessa problemática.
3.2.Específicos
• Identificar os principais tipos de violência doméstica e suas consequências para o bem-
estar psicológico das crianças.
• Avaliar a eficácia das políticas e intervenções existentes na protecção das crianças
contra a violência doméstica.
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• Propor recomendações para melhorar as estratégias de prevenção e intervenção em


casos de violência doméstica envolvendo crianças.
4. Metodologia
Esta pesquisa utilizará uma abordagem mista, combinando métodos quantitativos e
qualitativos. A colecta de dados quantitativos será realizada por meio de questionários
estruturados aplicados a crianças, pais e profissionais de saúde e serviços sociais. A análise
qualitativa envolverá entrevistas em profundidade com crianças vítimas de violência doméstica,
bem como profissionais jurídicos e sociais envolvidos na protecção de crianças em situações
de violência doméstica. A triangulação dos dados quantitativos e qualitativos permitirá uma
compreensão abrangente do fenómeno estudado. Além disso, será realizada uma revisão
sistemática da literatura para contextualizar os resultados da pesquisa e embasar as
recomendações finais.
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5. Revisão de Literatura
5.1. Definição e Tipologia da Violência Doméstica
A violência doméstica é um fenómeno complexo que engloba uma variedade de
comportamentos abusivos, geralmente perpetrados por um membro da família contra outro.
Segundo a American Psychological Association (APA, 2020), a violência doméstica é definida
como "um padrão de comportamento abusivo em um relacionamento íntimo usado por uma das
partes para ganhar ou manter poder e controle sobre a outra parte" (p. 25). Esses
comportamentos podem incluir abuso físico, psicológico, sexual, emocional, bem como
controle financeiro e coerção.
Estudos demonstraram que a violência doméstica pode ter consequências graves e
duradouras para as vítimas, incluindo trauma psicológico, problemas de saúde mental,
dificuldades de relacionamento e até mesmo morte. A tipologia da violência doméstica varia de
acordo com a natureza e a gravidade dos comportamentos abusivos, mas é importante
reconhecer que todas as formas de violência doméstica são prejudiciais e inaceitáveis.
5.2. Teorias e Modelos Explicativos
Diversas teorias têm sido propostas para explicar os factores subjacentes à violência
doméstica e seus efeitos sobre as vítimas. Uma das teorias mais influentes é o Modelo de
Controle Social, desenvolvido por Johnson (2008), que sugere que a violência doméstica ocorre
como resultado da busca do agressor pelo controle sobre o parceiro. Segundo esse modelo, a
violência é usada como uma estratégia para manter ou restaurar o poder e o controle sobre a
vítima, especialmente em situações de ameaça percebida ao controle do agressor.
Além disso, a Teoria do Ciclo da Violência, proposta por Walker (1979), sugere que a
violência doméstica ocorre em um ciclo repetitivo de três fases: acumulação de tensão, explosão
violenta e fase de lua de mel. Essa teoria ajuda a explicar por que muitas vítimas permanecem
em relacionamentos abusivos, apesar dos episódios de violência.
5.3. Impacto no Desenvolvimento Psicológico
A exposição à violência doméstica durante a infância pode ter um impacto significativo no
desenvolvimento psicológico das crianças. Estudos têm demonstrado que crianças expostas à
violência doméstica têm maior probabilidade de desenvolver uma variedade de problemas
psicológicos, incluindo ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT),
problemas de comportamento e dificuldades de relacionamento (Hughes et al., 2015).
De acordo com Graham-Bermann e Perkins (2010), o trauma resultante da exposição à
violência doméstica pode afectar negativamente o desenvolvimento emocional e cognitivo das
crianças, bem como sua auto-estima e senso de segurança. Além disso, as crianças podem
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internalizar o comportamento abusivo como uma forma normal de relacionamento, o que pode
influenciar seus padrões de relacionamento na vida adulta.
5.4. Factores de Risco e Protecção
A literatura identificou uma série de factores de risco que aumentam a vulnerabilidade
das crianças à violência doméstica e seus efeitos adversos. Entre esses factores estão a
gravidade e a frequência da violência, a presença de conflitos conjugais, abuso de substâncias,
problemas financeiros e a falta de apoio social (Appel & Holden, 1998).
No entanto, também é importante reconhecer os factores de protecção que podem
mitigar os efeitos negativos da exposição à violência doméstica. Segundo Masten (2001),
factores como um ambiente familiar estável, apoio emocional de adultos significativos, acesso
a recursos sociais e serviços de apoio, e habilidades de enfrentamento adaptativas podem ajudar
as crianças a desenvolver resiliência diante de situações adversas.
5.5. Intervenções e Tratamentos
Uma variedade de intervenções e tratamentos tem sido desenvolvida para ajudar
crianças expostas à violência doméstica a lidar com os efeitos traumáticos da experiência. A
terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem amplamente utilizada que visa
ajudar as crianças a identificar e desafiar pensamentos negativos, aprender habilidades de
enfrentamento e processar emocionalmente o trauma (Cohen et al., 2012).
Além disso, programas de intervenção em grupo, terapia familiar e terapia de jogo
também têm sido eficazes na redução dos sintomas de estresse pós-traumático e outros
problemas de saúde mental em crianças expostas à violência doméstica (Kolko et al., 2009).
5.6. Legislação e Políticas de Protecção Infantil
A protecção das crianças contra a violência doméstica é uma prioridade fundamental em
muitos países ao redor do mundo. A Convenção sobre os Direitos da Criança (CRC) das Nações
Unidas, adoptada em 1989, estabelece o direito de todas as crianças à protecção contra todas as
formas de violência, incluindo a violência doméstica (UNICEF, 1989).
No Brasil, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) representa um marco na protecção
das mulheres e crianças contra a violência doméstica, estabelecendo medidas de prevenção,
punição e assistência às vítimas. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
promulgado em 1990, estabelece direitos e garantias fundamentais para todas as crianças
5.7. Desafios e Lacunas na Implementação de Políticas
A implementação eficaz de políticas de proteção infantil contra a violência doméstica
enfrenta diversos desafios e lacunas, como indicado por pesquisas recentes (Smith et al., 2018).
Um dos principais obstáculos é a subnotificação dos casos de violência, o que dificulta a
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compreensão abrangente da extensão do problema. Muitas vezes, os casos de violência


doméstica não são denunciados devido a várias razões, incluindo medo de retaliação, estigma
social, falta de confiança nas autoridades ou falta de conhecimento sobre recursos disponíveis
para ajuda.
5.8. Avaliação de Programas e Intervenções
As avaliações de programas de intervenção têm demonstrado que abordagens baseadas
na comunidade, que envolvem múltiplos sistemas e serviços, são mais eficazes na prevenção e
intervenção em casos de violência doméstica (Anderson & Saunders, 2003). Essas abordagens
reconhecem a complexidade da violência doméstica e a necessidade de uma resposta
coordenada que aborde não apenas os aspectos imediatos da violência, mas também os factores
subjacentes que contribuem para ela.
5.9. Recomendações para Pesquisa Futura
As recomendações para pesquisas futuras na área de protecção infantil contra a violência
doméstica incluem uma variedade de tópicos importantes (López et al., 2020). Uma área de
foco é a avaliação de intervenções específicas voltadas para a protecção de crianças expostas à
violência doméstica. Isso pode incluir intervenções terapêuticas, programas de apoio
psicossocial, estratégias de intervenção familiar e iniciativas de prevenção direccionadas a
crianças em situações de risco.
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6. Conclusão
A violência doméstica é um fenómeno complexo que afecta milhões de crianças em todo
o mundo, deixando cicatrizes profundas em seu desenvolvimento psicológico, emocional e
social. Nesta revisão de literatura, exploramos diversas facetas desse problema, desde sua
definição e tipologia até seus efeitos no longo prazo e as intervenções disponíveis.
A definição abrangente da violência doméstica, conforme definida pela American
Psychological Association, destaca a natureza insidiosa desse fenómeno, que pode assumir
várias formas, incluindo abuso físico, psicológico, sexual e emocional. Compreender essas
diferentes formas de violência é fundamental para implementar estratégias eficazes de
prevenção e intervenção.
As teorias explicativas, como o Modelo de Controle Social e a Teoria do Ciclo da
Violência, fornecem insights valiosos sobre os factores subjacentes à violência doméstica e os
padrões de comportamento que perpetuam esse ciclo de abuso. No entanto, é importante
reconhecer que cada caso é único e requer uma abordagem individualizada para intervenção.
O impacto da violência doméstica no desenvolvimento psicológico das crianças é
profundo e duradouro. Estudos têm mostrado que a exposição à violência doméstica está
associada a uma série de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão, transtorno
de estresse pós-traumático e dificuldades de relacionamento. Esses efeitos podem perdurar até
a vida adulta, destacando a importância de intervenções precoces e abrangentes.
Os factores de risco e protecção desempenham um papel crucial na determinação do
impacto da violência doméstica nas crianças. Identificar e mitigar esses factores pode ajudar a
promover resiliência e recuperação em crianças expostas à violência doméstica.
Embora haja uma variedade de intervenções e tratamentos disponíveis, é necessário um
esforço coordenado e multidisciplinar para fornecer o apoio necessário às vítimas de violência
doméstica. Isso inclui não apenas intervenções terapêuticas, mas também medidas de protecção
legal e políticas de prevenção abrangentes.
Em última análise, a protecção das crianças contra a violência doméstica exige um
compromisso contínuo da sociedade como um todo. É imperativo que governos, instituições,
profissionais de saúde, educadores e comunidades se unam para enfrentar esse problema de
forma eficaz, garantindo um ambiente seguro e saudável para todas as crianças crescerem e
prosperarem. Somente através de uma abordagem colaborativa e baseada em evidências
podemos esperar fazer progressos significativos na prevenção e redução da violência doméstica
e seus impactos devastadores.
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7. Referencias bibliográficas.
American Psychological Association. (2020). Violence in the family: A resource for healthcare
providers. American Psychological Association.
Anderson, D. K., & Saunders, D. G. (2003). Leaving an abusive partner: An empirical review
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Appel, A. E., & Holden, G. W. (1998). The co-occurrence of spouse and physical child abuse:
A review and appraisal. Journal of Family Psychology.
Cohen, J. A., Mannarino, A. P., & Deblinger, E. (2012). Treating trauma and traumatic grief in
children and adolescents. Guilford Press.
Graham-Bermann, S. A., & Perkins, S. C. (2010). Effects of early exposure and lifetime
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Guedes, A., Fonseca, A., Soares, J. P., & Matos, M. (2019). Domestic violence and children: A
systematic review of the effectiveness of interventions. Journal of Social Work.
Hughes, K., Bellis, M. A., Jones, L., Wood, S., Bates, G., Eckley, L., ... & Officer, A. (2015).
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Johnson, M. P. (2008). A typology of domestic violence: Intimate terrorism, violent resistance,
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Kolko, D. J., Baumann, B. L., & Caldwell, N. (2009). Child abuse victims' involvement in
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Masten, A. S. (2001). Ordinary magic: Resilience processes in development. American
Psychologist.
UNICEF. (1989). Convention on the Rights of the Child. United Nations.
Walker, L. E. (1979). The battered woman. Harper & Row.

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