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2021 / 2022
LD01PSIC03
Nota de autor:
correspondência relativa a este artigo deverá ser dirigida a: Beatriz Leal, Joana Morais,
beatrizlealtrabalho@gmail.com, joanamoraistg@gmail.com,
valentemarcos13@hotmail.com, pedrorpm2130@gmail.com.
Running Head: “Violência interparental”
Índice
Resumo ______________________________________________________________ 3
Definição do construto e Relevância do fenómeno ____________________________ 4
Fatores de risco e proteção _______________________________________________ 6
Modelos conceptuais ___________________________________________________ 8
Hipótese do Ciclo da Violência ________________________________________________ 8
Hipótese da Disrupção familiar de Jaff, Wolfe e Wilson (1990) ______________________ 9
Modelo Cognitivo- Contextual de Grych e Finchman (1990) ________________________ 10
The Physical Incident Model (Katz, 2016) ______________________________________ 11
Processo de intervenção e avaliação psicológica _____________________________ 12
Caraterização do protocolo de avaliação/processo de intervenção _______________ 14
Reflexão crítica _______________________________________________________ 17
Referências __________________________________________________________ 19
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Resumo
foram anteriormente encaminhadas pelo sistema de justiça. Esta avaliação pode ocorrer
em três moldes diferentes, ou seja, pode ocorrer tanto ao nível individual como ao nível
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físico forçado e violento com um parceiro, a fim de controlar o outro na presença dos
filhos de qualquer dos parceiros, é uma definição inicial acordada na literatura, assim o
O interesse por este tema vem subjacente ao interesse pelos estudos mais
uma relação entre ser testemunha de violência e sofrer maus tratos e abuso. Tem havido,
igualmente, uma maior consciencialização para uma maior perceção de que as crianças
são afetadas por aquilo que experienciam em casa e que existem casos onde as crianças
são ambas testemunhas dos maus tratos enquanto, simultaneamente, vítimas do mesmo
elevado e estudos apontam que 41% das vezes existem casos de violência doméstica em
que houve intervenção por parte de forças policiais e havia crianças a assistir, outros
estudos apontam para valores como 60% a 80% em que as crianças viam ou ouviam os
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episódios de agressão. No entanto, estes números não são suficientes para perceber
quantas crianças são vítimas de maus tratos psicológicos, tanto diretos ou indiretos, por
conta da violência interparental e não existem dados que nos tornem clara a
percentagem de crianças que são vítimas indiretas destes casos de violência (Sani,
2004).
qualificam-se como vítimas de maus tratos porque vivem num ambiente que é
acompanhado de uma figura parental que ameaça ou poderá magoar fisicamente, matar,
sentido, o autor afirma que observar violência pode gerar medo pela segurança da figura
das mães e das crianças no que toca à exposição da criança à violência interparental. As
crianças reportam mais violência do que as mães julgam da mesma situação, bem como
reportam mais violência das mães para os pais do que as mães reportam. Estes
resultados corroboram com a literatura existente, que mostra que os pais têm tendência
para subestimar ou não notar a exposição dos seus filhos a violência interparental, por
exemplo, os pais podem não estar conscientes da presença das crianças durante os
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fatores de risco e proteção que podem influenciar um dado fenómeno, neste caso
criança/adolescente.
Os fatores de risco, por outro lado, são variáveis ambientais ou contextuais que
socialização.
definimos os fatores de risco tendo em conta os “central eight risk factors”, isto é, oito
centrais que são no fundo fatores destinados a identificar as causas que motivam e
perceber que fatores de risco podem estar associados a este comportamento de violência
parental, ou seja, o que pode desencadear o ato violento e os fatores de risco associados
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mantêm ou “defendem” a violência familiar e ter passado por uma experiência passada
violência interparental, tais como: 1. Fator contextual, que diz respeito à frequência,
a ver com educação ou resultados da escola em relação aos filhos, estes parecem sentir
mais vergonha e culpa e isso terá um peso maior na mesma) e o tipo de violência (estar
exposto a violência física parece ter mais peso nas crianças que violência verbal); 2.
3. Família e fatores conjugais, por meio de um fraco suporte social familiar e uma fraca
Neste contexto, existem também inúmeros fatores de proteção que podem servir
de apoio para ultrapassar situações como esta de violência interparental, tais como: 1.
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Modelos conceptuais
simplista, esta acredita que os comportamentos agressivos por parte dos pais podem ser
(Black, Sussman, & Unger, 2010; Carroll, 1977). Neste sentido, violência gera violência
(Osofsky, 1995).
(Hines & Soudino, 2002; O´keefe, 1998; Rosen, Bartle-Harins & Stith, 2001) que
afirma que a violência entre parceiros íntimos é promulgada por pessoas que na sua
família de origem presenciaram atos de violência em criança (Black et al., 2010). Esta
aquilo que é retido através da observação torna-se um guia para futuros acontecimentos
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(Bandura, 1986). Kwong et al. (2003), menciona que estes indivíduos expostos a
da punição física e da exposição à violência entre os pais, que leva à legitimação do seu
uso enquanto meio para resolver problemas e punir maus comportamentos por parte de
Para Minuchin (1990), a família é uma unidade social que se depara com uma
seus membros. Para tal, uma família é um sistema que opera através de padrões
indivíduos.
interparental, faz múltiplos e contínuos esforços para tentar lidar com o modo mais
adequado com as alterações no seu seio familiar resultantes dos conflitos parentais
(Jaffe et al., 1990). Segundo Margolin, Oliver & Medina (2002) o conflito conjugal é,
intimidade, ou por uma rejeição na sua relação e interação pais-criança, bem como,
(Fauber & Long, 1999; Jouriles et al., 1991; cit. Cummings & Davies, 1994), diminui a
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sensibilidade parental para os sinais e necessidades dos filhos (Emery, 1982, cit.
(Dadds, Atkinson, Turner, Blums, & Lendich, 1999; Grych & Fincham, 1990). Este
criança sobre o conflito a decorrer (Dadds et al., 1999; Grynch Fincham 1990; Grych &
construto multidimensional, pois pode ser alterada pela natureza do conflito, do próprio
McDonald & Grych, 2006). A criança à luz deste modelo é definida como um sujeito
ativo, que tenta fazer um esforço para compreender e conseguir lidar com os fatores de
stress, no qual ele observa recorrentemente os conflitos dos progenitores, o que após
do conflito a si próprio ou aos seus pais (Benetti, 2006). No caso da atribuição de culpa
Com este modelo percebemos que o facto do conflito interparental ter impacto
na criança, não é um impacto direto, pois está dependente de como a criança interpreta a
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situação de conflito (Iraurgi, Martinez-Pampliega, Iriarte, & Sanz, 2011). Este modelo
distingue dois tipos de processamentos que a criança enfrenta para lidar e compreender
a para si e após isto, a criança avalia se este conflito é uma ameaça para si. Esta
perceção leva a uma interpretação, o que por consequência gera uma resposta
Langrock, 2001).
ocorrido (Grych & Fincham, 1990), o que proporciona uma reflexão para perceber e
ou seja, ocorrendo apenas num caso específico de agressão física, onde o agressor
restringe qualquer tentativa dos filhos terem contacto com terceiros e anula tentativas de
vínculo emocional entre mãe e filho. No entanto, segundo Stark (2007) as respostas
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simplista da violência doméstica não englobando todos os seus parâmetros, como todos
(Stark, 2007).
com a mãe, visitar avós ou pares, bem como exercer atividades extracurriculares. Este
Stanley (2011) afirma que as crianças podem ter um papel ativo nos mecanismos
ajuda para socorrer a mãe em situações evidentes, onde os filhos têm consciência de
violência física. As crianças têm um papel ativo perante a violência física e não física
(Katz,2016).
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como perícia, que se realiza durante um processo jurídico, ou seja, esta avaliação deve
ser requerida pelo tribunal sobretudo em casos de divórcio ou separação (Almeida et al.,
2014).
interparental que foram anteriormente encaminhadas pelo sistema de justiça. Por outro
Para que esta avaliação seja realizada com eficiência máxima, o psicólogo que
exposição, ou seja, deve ter potencial para realizar a intervenção perante a mesma. Na
prática, estas medidas estandardizadas e observações devem ser feitas com as crianças e
intervenção neste contexto sem que antes a criança seja alvo de um processo de
moldes distintos, isto é, tanto pode ocorrer ao nível individual como ao nível grupal ou
então em conjunto, dado sempre preferência ao nível individual e grupal (Peled &
Davis,1995). Deste modo, o apoio ao nível individual é essencial para que as mesmas
possam ter uma atenção mais focada em si devido ao facto de não possuir tantas fontes
de atenção, por outro lado, o apoio ao nível grupal deve ocorrer para que as mesmas
percebam que não são as únicas que se encontram a passar por aquela situação e assim
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Running Head: “Violência interparental”
insere.
consideração o relato das próprias crianças, mas para que haja uma maior fidedignidade
da recolha dos dados devem ser tido em consideração a informação fornecida pelos
cuidados: efetuar uma entrevista de forma sensível, quando aplicar testes psicométricos
devem ser adequados e apropriados aquilo que ele foi relatado e, por fim, deve ter em
atenção o facto de falar com diversas fontes de informação para efetuar a melhor
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Running Head: “Violência interparental”
avaliação possível da criança, sendo que a mesma deve ser complementada com uma
Esta avaliação inicial deve ser feita tendo em consideração uma entrevista
semiestruturada, de modo a que o perito possa ter a perceção de aspetos como perceber
como é viver no ambiente de violência e todas as etapas seguintes após se dar início o
processo e, deste modo, perceber aquilo que a criança define como violência, como é
que interpreta a saída do agressor de casa e as emoções que sentiu. Por outro lado,
nível do controlo social, i.e., Comissão de proteção de crianças e jovens ou então pelos
com a criança para que se consiga minimizar a sua ansiedade face à situação que se
encontra a decorrer, pois a mesma encontra-se sobre uma elevada pressão emocional
devido ao facto de ser uma vítima. Este contacto deve ser feito tendo em consideração
como desenhos ou jogos, que vai permitir obter uma resposta de uma forma mais eficaz
grau de exposição que ela tem perante aquilo que vivenciou, esta avaliação pode ser
(S.A.N.I.), esta é uma escala que tem como objetivo avaliar o contexto familiar da
mesma constituída por 30 itens onde são abordadas situações de abuso físico,
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ocorre a identificação da vítima (Sani, 2003). Por outro lado, podemos recorrer, por
et al., 2006).
recorrer a duas escalas que foram testadas e validadas para a população portuguesa por
como objetivo a avaliação das crenças das crianças sobre violência, apesar destas
esta escala é cotada tendo em atenção somatório com exceção de três itens da “Etiologia
da Violência” que é contada de forma inversa, assim sendo, a pontuação total pode
variar entre 32 e 128, onde quanto maior a pontuação maior o nível de concordância e
crianças possuem relativamente aos conflitos interparentais, sendo que a mesma foi
48 itens, onde podemos ter uma pontuação máxima de 96 valores (Moura et al., 2010).
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exposição da criança à violência na família (Sani, 2004) e o impacto que a mesma pode
Reflexão crítica
evidentes perante aquilo que as pessoas têm conhecimento. Contudo, apesar dos valores
associados a estes casos, ou seja, não focar apenas nos valores e crenças existentes, mas
igualmente nos fatores/dilemas que estes casos vão intervir nas pessoas em questão.
números mostram-se elevados com uma taxa de 41% (com intervenção de forças
policiais) e com cerca de 60% a 80% de casos em que as crianças assistem a episódios
de agressão. Podemos afirmar que estas crianças são consideradas vítimas desta
apreendido e replicado.
desenvolvimento saudável da criança. Contudo, casos como estes não são ultrapassados
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de forma isolada mas sim com auxílio de ajuda psicológica, através de uma avaliação
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Referências
Almeida T., Sani A., Gonçalves R. (2014). Poster: “Avaliação Psicológica Forense de
George W. Holden (2003). Children Exposed to Domestic Violence and Child Abuse:
Katz, E. (2016). Beyond the physical incident model: How children living with
domestic violence are harmed by and resist regimes of coercive control. Child
GEAV.
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Machado, C., Gonçalves, M., & Matos, M. (2006a). Manual da Escala de Crenças sobre
(I.V.C.).Braga: Psiquilibrios.
Moura, O., dos Santos, R. A., Rocha, M., & Matos, P. M. (2010). Children's Perception
382.
Peled, E., & Davis, D. (1995). Groupwork with children of battered women : a
conflitos interparentais.
Sudermann, M., & Jaffe, P. (1999). A handbook for health and social service providers
van Rooij, F. B., van der Schuur, W. A., Steketee, M., Mak, J., & Pels, T. (2015).
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