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Intervenção Psicológica com Crianças

e Jovens no âmbito da Violência


Doméstica

25/08/2023
CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

Contributo Científico OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da


Violência Doméstica, publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A informação que consta deste documento, elaborado em Agosto de 2023, e na qual se baseia foi obtida
a partir de fontes que os autores consideram fiáveis. Esta publicação ou partes dela podem ser
reproduzidas, copiadas ou transmitidas com fins não comerciais, desde que o trabalho seja
adequadamente citado, conforme indicado abaixo.

Sugestão de citação: Ordem dos Psicólogos Portugueses (2023). Contributo Científico OPP –
Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da Violência Doméstica. Lisboa.

Para mais esclarecimentos contacte Ciência e Prática Psicológicas:


andresa.oliveira@ordemdospsicologos.pt

Ordem dos Psicólogos Portugueses Av. Fontes Pereira de Melo 19 D 1050-116 Lisboa T: +351 213 400 250
www.ordemdospsicologos.pt

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

Contributo Científico OPP


Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da Violência
Doméstica

O presente documento surge como iniciativa da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e com
o objectivo geral de reunir evidência científica acerca de intervenções psicológicas utilizadas na
prática profissional junto de crianças e jovens no âmbito da violência doméstica.

A OPP é uma associação pública profissional que representa e regulamenta a prática dos
profissionais de Psicologia que exercem a profissão de Psicólogo em Portugal (de acordo com a
Lei nº 57/2008, de 4 de Setembro, com as alterações da Lei nº 138/2015, de 7 de Setembro). É
missão da OPP exercer o controlo do exercício e acesso à profissão de Psicólogo, bem como
elaborar as respectivas normas técnicas e deontológicas e exercer o poder disciplinar sobre os
seus membros. As atribuições da OPP incluem ainda defender os interesses gerais da profissão
e dos utentes dos serviços de Psicologia; prestar serviços aos membros em relação à informação
e formação profissional; colaborar com as demais entidades da administração pública na
prossecução de fins de interesse público relacionados com a profissão; participar na elaboração
da legislação que diga respeito à profissão e nos processos oficiais de acreditação e na avaliação
dos cursos que dão acesso à profissão.

Neste sentido, o presente contributo científico, inclui uma revisão de literatura dos possíveis
impactos da violência doméstica na Saúde Psicológica de crianças e jovens e, também, de
intervenções psicológicas com evidências de efectividade no âmbito da intervenção clínica,
procurando informar melhores práticas neste contexto de actuação.

1. Violência Doméstica: Breve Definição

A definição de violência doméstica engloba a existência de comportamentos violentos (i.e.,


agressão, humilhação, coacção, etc.) exercidos por uma ou mais pessoas sobre outra(s) que,
geralmente, pertencem à mesma família ou as quais detêm uma relação íntima e de
proximidade. Estes comportamentos violentos, intencionais e que podem ocorrer de forma
isolada ou continuada, causam danos físicos, emocionais, sexuais e/ou psicológicos nas pessoas
que sofrem ou presenciam estes comportamentos (APAV, 2011).

Ainda que, socialmente, aquilo que é considerado violência doméstica possa variar em função
de crenças culturais, religiosas e/ou aspectos político-legais, o fenómeno da violência
intencional contra pessoas, geralmente mulheres, que vivem no mesmo contexto familiar é,
mais ou menos, prevalente na maioria das sociedades (Sardinha et al., 2022). Neste sentido, a
Violência Doméstica, enquanto termo amplo, afecta pessoas de diferentes idades, géneros e
orientações sexuais e, também, de diferentes contextos socioeconómicos, raciais, étnicos e
culturais – traduzindo-se em sofrimento para as pessoas vitimadas e para as comunidades.

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Violência Doméstica

A família é considerada o primeiro e principal espaço de afecto e de desenvolvimento das


crianças e jovens. Desta forma, os comportamentos violentos que ocorrem neste contexto
detêm impactos na sua segurança e bem-estar (APAV, 2011) e, inclusive, na eventual
perpetuação da violência na família (Harries et al., 2022). Ainda que práticas educativas que
utilizem castigos corporais possam não constituir violência doméstica, estas apresentam
consequências para o desenvolvimento da criança ou jovem – a este respeito, sugere-se a
consulta do documento ‘A violência no quotidiano das crianças’. No que se refere à violência
doméstica que envolve crianças ou jovens, apresenta-se, em seguida, uma breve revisão sobre
os potenciais impactos na sua Saúde Psicológica e desenvolvimento.

Quando se fala em violência doméstica contra crianças ou jovens, esta pode ser exercida
directamente, através de agressões físicas, psicológicas e/ou sexuais e, também, através de
negligência, privando direitos e a satisfação de necessidades (APAV, 2011). Neste sentido, e
ainda que os comportamentos explícitos (e.g. bater, ameaçar, tocar nos genitais com intuito
sexual, etc.) sejam os mais evidentes, também a restrição do contacto com familiares
significativos, por exemplo, pode constituir uma situação de violência (Lloyd, 2018). A violência
doméstica contra crianças e jovens pode ainda acontecer indirectamente, quando ouvem ou
presenciam episódios de violência física, psicológica e/ou sexual na sua família, quando
observam as sequelas desses episódios (e.g. hematomas, mobília ou objectos partidos,
presença da polícia, etc.) ou, inclusive, quando existe violência na família, mas não têm
consciência da situação (Walker-Descartes et al., 2021).

Ainda que as definições conceptuais “violência directa” e “violência indirecta” encerrem


diferentes tipos de exposição a comportamos violentos, é importante esclarecer que,
fenomenologicamente, a criança/jovem vive e interpreta os episódios de violência na sua
integridade, sendo um agente do contexto familiar e, consequentemente, uma vítima activa e
directa desses episódios (Callaghan et al., 2018). Neste sentido, uma criança ou jovem é vítima
de violência doméstica quando vive numa casa na qual existem comportamentos violentos e
se instala um clima de medo e insegurança (APAV, 2011). Esta exposição à violência pode,
inclusivamente, representar situações traumáticas para a criança/jovem.

2. Impactos da Violência Doméstica nas Crianças e Jovens

A violência doméstica, ademais exercida por pessoas próximas e significativas da criança ou


jovem, detém impactos nefastos no seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional e na
sua Saúde, física e psicológica. Estes impactos podem fazer-se sentir de forma imediata, a médio
ou a longo prazo, variando com a existência de factores protectores (e.g. relação próxima com
familiares e pares; envolvimento escolar) e de factores de risco (e.g. isolamento social; viver em
situação de pobreza) que amenizam ou agravam as consequências de vivenciar
comportamentos violentos (Skafida & Devaney, 2023).

Os impactos psicológicos da violência doméstica nas crianças e jovens variam com a idade, o
género, o tipo de violência (i.e., física, psicológica ou sexual), a frequência e intensidade dos
episódios e, ainda, com a relação existente entre estes/as e o/a agressor/a. Geralmente, quanto

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maior a proximidade relacional com o/a agressor/a, maior o impacto emocional e mais
nefastas as repercussões na sua Saúde e desenvolvimento (Elsaesser et al., 2020).

Impactos em Crianças em Idade Pré-escolar

As crianças pequenas dependem de uma vinculação segura que satisfaça as suas necessidades
de segurança e protecção. A satisfação destas necessidades é essencial para que consigam
estabelecer relações de confiança com os outros, adultos e pares, assim como para se
envolverem em comportamentos de exploração que, progressivamente, permitem maior
autonomia. Quando as crianças pequenas experienciam violência, tendem a manifestar
irritação e choro excessivo, comportamentos de regressão (e.g. chuchar no dedo), dificuldades
em dormir e, ainda, medo quando se sentem sozinhas (Mueller & Tronick, 2019).

Em idade pré-escolar, as crianças tendem a manifestar sintomas psicossomáticos, por exemplo,


dores de cabeça ou de estômago, podem também sentir medo desproporcional face às
situações, dificuldades em dormir, pesadelos, enurese e, entre outras consequências, acessos
de raiva (Lloyd, 2018; Walker-Descartes et al., 2021). Estas crianças estão também sujeitas a
danos físicos como repercussões secundárias da violência entre os/as adultos (APAV, 2011).
Quando as dificuldades descritas são acentuadas, podem representar sintomas de trauma.

Por terem as suas necessidades de vinculação, protecção e segurança comprometidas, as


crianças em idade pré-escolar podem sentir dificuldades em relacionar-se com os pares,
tenderem a isolar-se, a envolver-se mais em brincadeiras repetitivas e podem, ainda,
experienciar ansiedade de separação do pai ou mãe que não é agressor/a (Lloyd, 2018). De
uma perspectiva desenvolvimental, os recursos da criança que, normalmente, estariam
direccionados para a exploração, encontram-se direccionados para a autoprotecção,
dificultando o desenvolvimento cognitivo e social e, consequentemente, a aprendizagem de
novas competências de autorregulação (Mueller & Tronick, 2019).

Impactos em Crianças em Idade Escolar

Em idade escolar, normativamente, as crianças procuram explorar e dominar os contextos nos


quais participam, sobretudo no contexto familiar e escolar, envolvendo-se em brincadeiras livres
com os pares. No entanto, quando uma criança é vítima de violência doméstica, esta pode
sentir pouco interesse nas actividades sociais e demonstrar um humor instável (Artz et al.,
2014). Viver episódios de violência na família, sobretudo recorrentes, interfere com a regulação
das emoções, molda as crenças que a criança detém sobre os outros, as relações e sobre a
violência, condicionando o seu comportamento (Llyod, 2018).

Neste sentido, as crianças que experienciam episódios de violência doméstica podem sentir-se
inseguras e ansiosas, com dificuldades em confiar nos outros, afastando-se dos pares (Walker-
Descartes et al., 2021). Podem encontrar-se continuamente vigilantes e sensíveis a pistas
sociais de violência, podendo evitar situações de contacto físico ou, por outro lado, sentir a
necessidade de intervir quando vêem pares em lutas/brigas (Lloyd, 2018). É também comum
apresentarem humor disfórico e sentirem-se desproporcionalmente culpadas quando

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cometem erros ou quando se envolvem em brigas – inclusive, podem interpretar os episódios


de violência familiar como consequência do seu comportamento (Children’s Commissioner,
2018). Dependendo do seu temperamento, características e experiências familiares, as crianças
podem ainda sentir-se irritadas e exibir comportamentos agressivos e de oposição (Walker-
Descartes et al., 2021). Em alguns casos podem, inclusivamente, ser perpetradoras de bullying
(Lee et al., 2022). Entre géneros, os rapazes parecem exibir mais comportamentos de
externalização (i.e., agressividade e oposição) e as raparigas mais comportamentos de
internalização (i.e., evitamento, humor disfórico e/ou ansioso), quando são vítimas de violência
doméstica (Evans et al., 2008).

No contexto escolar, as crianças vítimas de violência doméstica tendem a faltar mais às aulas, a
ter maiores dificuldades em concentrar-se e a sentir pouca confiança nas suas capacidades
(Orr et al., 2023), o que condiciona negativamente o desenvolvimento de competências
cognitivas e linguísticas e contribui para o insucesso escolar.

Impactos em Adolescentes e Jovens

Na adolescência, em termos desenvolvimentais, os/as jovens vivem uma exploração contínua


da sua identidade, procurando também estabelecer relações íntimas mútuas, sejam estas de
amizade ou amorosas (Branje, 2022). Para os/as jovens que viveram – ou vivem – episódios de
violência doméstica, esta fase do desenvolvimento pode ser marcada pela consolidação de
crenças de vulnerabilidade ou hostilidade, com repercussões na sua identidade e no
estabelecimento de relações significativas – podendo envolver-se, como vítimas ou
agressores/as, em situações de bullying (Lee et al., 2022) e/ou de violência no namoro
(Taquette & Monteiro, 2019).

Os/as adolescentes vítimas de violência doméstica podem experienciar sintomas depressivos


e/ou ansiosos, falta de motivação, desinteresse na escola, humor disfórico ou irritável, hiper
vigilância e/ou preocupações excessivas com o futuro (Walker-Descartes et al., 2021).
Nalguns/as jovens, é possível identificar comportamentos de risco, de oposição e agressão,
assim como delinquência, por exemplo, envolvimento em brigas e pequenos crimes (Lloyd,
2018). Geralmente, por sentirem dificuldades em confiar inteiramente nos outros, estabelecem
relações menos significativas com pares e professores/as, contribuindo para a manutenção de
estratégias de evitamento e de acting-out – com impactos negativos no envolvimento e sucesso
escolar (Orr et al., 2023). A literatura sugere evidências mistas quanto ao género, alguns
estudos indicam que as raparigas adolescentes são mais propensas a exibir comportamento de
internalização do que os rapazes, mas, outros estudos, indicam o contrário, que as raparigas
adolescentes podem exibir mais comportamentos de externalização comparativamente ao
género oposto (Artz et al., 2014).

A perpetuação de episódios de violência na família, ou a ocorrência de situações graves de


abuso (e.g. abuso sexual sob a forma de toque e/ou violação), ao longo do desenvolvimento,
podem resultar em stress traumático (Skafida & Devaney, 2023). Diferentes tipos de violência
podem manifestar-se em diferentes dificuldades psicológicas, para um conhecimento mais
detalhado sobre possíveis sinais e impactos dos abusos sexuais em crianças e jovens, sugere-se

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a consulta do documento ‘Vamos falar sobre: Abuso sexual’. A dor psicológica que deriva dos
episódios de violência e/ou abuso, exacerbada por dificuldades em expressar-se e confiar nos
outros, pode contribuir para a manutenção de estratégias de regulação menos adaptativas,
por exemplo, consumo abusivo de substâncias ou comportamentos auto-lesivos (Lloyd, 2018).
No decorrer da adolescência, podem também evidenciar-se sintomas de condições clínicas mais
graves como ansiedade generalizada, perturbações do comportamento alimentar ou
perturbação de stress pós-traumático (PSPT) (Artz et al., 2014).

Destaca-se, ainda, a escassez de literatura que descreva as experiências e os impactos da


Violência Doméstica em crianças e jovens que vivem com deficiência – o que evidencia a
necessidade de metodologias de investigação colaborativas que permitam escutar as suas
perspectivas, num sentido de desenvolver intervenções adaptadas (Robison et al., 2023).

Impactos na Família de Jovens Agressores/as

No âmbito da violência doméstica, também os/as jovens podem ser agressores/as e exercer
comportamentos violentos contra elementos do contexto familiar, sejam estes pais, mães, avós,
avôs ou outros/as cuidadores/as. Na literatura científica, o termo ‘Adolescent-to-Parent
Violence’ refere-se aos comportamentos violentos que, deliberadamente, os jovens exercem
contra cuidadores/as, seja de forma reactiva – como resposta a uma provocação real ou
percebida – ou com o propósito instrumental em obter algo desejado (Harries et al., 2022).

Diferentemente de episódios normativos de irritação ou zanga contra os pais e mães durante a


adolescência, que, geralmente, visam a exigência e a negociação de limites e maior autonomia,
a violência de adolescentes contra cuidadores/as é marcada por comportamentos de agressão
física, verbal, psicológica ou financeira (e.g. roubar dinheiro, compras sob coacção), com intuito
de controlo e domínio (Contreras et al., 2020).

A distância afectiva entre os/as jovens e os pais/mães (Cano-Losano et al., 2020), a utilização de
castigos corporais como prática educativa, a exposição a episódios de violência entre os
pais/mães e, ainda, a existência continuada de abuso físico (Harries et al., 2022) são
identificados como factores do contexto familiar associados à expressão da violência de
adolescentes contra cuidadores/as. Outros factores individuais e sociais são identificados,
nomeadamente, baixa empatia, esquemas de grandiosidade ou autocontrolo insuficiente
(Fernández-González et al., 2022), envolvimento num grupo de pares desviante, o uso
problemático das redes sociais, atitudes negativas face à autoridade e positivas face à
transgressão de normas (Del Moral et al., 2019; Ibabe, 2019).

Os impactos na família podem variar com a tipologia de família e com o género da vítima. As
mães – ou outras cuidadoras – são as vítimas mais frequentes da violência dos/as jovens
(Contreras et al., 2020). Os impactos nas mães podem incluir stresss e sintomas de depressão e
ansiedade, isolando-se mais, afastando-se de família e amigos/as, e faltando mais vezes ao
trabalho, com consequências financeiras (Fitz-Gibbon et al., 2021). Ambos os pais/mães podem
sentir dificuldades na procura de ajuda, sobretudo por receios de retaliação, por sentimentos
de impotência, culpa e vergonha, por terem a sensação de serem “maus pais” e poderem ser

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julgados por isso, ou, ainda, por preocupações relativas às consequências judiciais ou
envolvimento de serviços de protecção de menores (Toole-Anstey et al., 2023).

A violência de jovens contra pais/mães é uma área de estudo que tem ganho relevância nos
últimos anos, sobretudo pelo aumento das ocorrências relativas a este tipo de violência (Ibabe
et al., 2018). Sendo um tema complexo e um tipo de violência estigmatizado, os pais e mães
sentem dificuldades acrescidas em pedir protecção face ao comportamento de um/a jovem que,
socialmente, seria expectável protegerem (Ibabe, 2019).

3. Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da Violência Doméstica

O facto de uma criança ou jovem vivenciar episódios de violência doméstica não implica,
necessariamente, que o seu desenvolvimento e bem-estar esteja irremediavelmente
comprometido ou que este/a se torne um/a agressor/a. As crianças e jovens possuem
competências de resiliência, auto-regulação e florescimento que lhes permitem encontrar
significado e sentido nas experiências adversas, desenvolver-se e superar adversidades (Zolkoski
& Bullock, 2012). As crianças e jovens vítimas de violência doméstica parecem, inclusivamente,
manter um sentido de autodeterminação, preservando relações próximas com familiares não-
agressores (Callaghan et al. 2016), mantendo-se seguras/os nos contextos e envolvendo-se em
momentos de brincadeira e criatividade (Fellin et al. 2018) e, ainda, tomando decisões sobre
com quem e como partilhar as suas experiências Callaghan et al. 2017). Esta sua agência e
competência permite que consigam lidar com emoções complexas (Callaghan et al., 2019).

Neste sentido, é importante estabelecer contextos e práticas – incluindo intervenções


psicológicas – que diminuam o sofrimento e que facilitem a sua agência e competência,
promovendo oportunidades de desenvolvimento adequadas.

Existem diferentes intervenções psicológicas que se destinam a crianças e jovens vítimas de


violência doméstica. A avaliação das características, sobretudo do seu estádio de
desenvolvimento, do risco psicológico associado aos episódios de violência, da sintomatologia e
dificuldades sentidas (e.g. comportamentos de externalização e/ou internalização,
sintomatologia de PSPT, etc.) permitem ponderar sobre que intervenção psicológica poderá ser
adequada para determinada criança ou jovem (Urban et al., 2020).

Independentemente do tipo de intervenção, a criança ou jovem deve ser considerada/o como


uma pessoa em desenvolvimento, com direitos, necessidades e características próprias na
interacção com pessoas significativas nos diferentes contextos de vida (i.e., na família, na
escola e na comunidade alargada). As intervenções psicológicas junto de crianças e jovens
podem ser breves ou prolongadas, incluindo, por vezes, elementos da família. A inclusão de
familiares no processo de intervenção depende das conceptualizações teóricas que sustentam
a intervenção, considerando o desenvolvimento da criança ou jovem e a sua capacidade em
compreender e comunicar os seus sentimentos e pensamentos relativos à sua experiência
enquanto vítima (APAV, 2011) – ou enquanto agressor/a (Ibabe, 2019). Para um conhecimento

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detalhado sobre a intervenção em contextos de violência doméstica, sugere-se a leitura das


Linhas de Orientação para a Prática Profissional no âmbito da Violência Doméstica.

A melhor forma de promover o desenvolvimento e bem-estar das crianças ou jovens que se


encontram expostas a violência doméstica é terminar os episódios de violência na família. No
entanto, não existem evidências consolidadas sobre quais as intervenções psicológicas que
permitem uma erradicação eficaz da violência no contexto familiar (Wathen & MacMillan,
2013; Latzman et al., 2019).

Apresentamos, em seguida, uma revisão de Intervenções Psicológicas, para as quais existem


evidências de eficácia, junto de crianças e jovens que foram vítimas de violência doméstica,
sofrendo directamente abusos ou presenciando violência contra um dos/as seus/suas
cuidadores/as – geralmente, a mãe.

Intervenções Psicológicas Centradas na Relação Criança-Cuidador/a

Uma vez que o desenvolvimento da criança depende da relação estabelecida com pessoas
significativas que possam atender às suas necessidades, a intervenção com crianças pequenas
inclui um trabalho interventivo com os pais/mães ou cuidadores/as. As intervenções que
incluem os pais/mães não-agressores/as, e que são realizadas em contexto domiciliário,
parecem ser mais efectivas (Latzman et al., 2019).

Enquanto intervenção breve, a Intervenção ABC (do inglês, Attachment and Biobehavioral
Catch-up) é utilizada junto de crianças até aos 2 anos e do seu/sua cuidador/a não-agressor/a,
ocorrendo, geralmente, em dez sessões domiciliárias (Valentino, 2017). A intervenção ABC
utiliza pressupostos da teoria da vinculação e das teorias da aprendizagem, visando promover
no/a cuidador/a comportamentos orientados para uma vinculação segura. Em três
componentes distintas, o/a cuidador/a aprende a identificar o comportamento da criança que
sinaliza necessidades (A); reconhece as suas próprias dificuldades de vinculação e aprende
comportamentos concretos para responder às necessidades da criança (B) e; aprende a criar um
contexto previsível e responsivo, promovendo a regulação emocional da criança (C) (Timmer &
Urquiza, 2014). Neste processo, utilizam-se imagens de vídeo da interacção entre o/a cuidador/a
e a criança para dar feedback e consolidar progressos.

Na literatura, identificam-se ensaios clínicos randomizados com cuidadoras/es de diferentes


etnias que consolidam evidências de eficácia (Grube & Liming, 2018). A intervenção ABC parece
reduzir padrões de vinculação desorganizada entre a criança e o/a cuidador/a, facilitar uma
melhor responsividade do/a cuidador/a e, consequentemente, uma vinculação mais segura,
comparando antes e após a intervenção (Valentino, 2017). Os efeitos positivos na regulação
fisiológica e ajustamento emocional da criança, proporcionados por uma maior sensibilidade
do/a cuidador/a, parecem manter-se três anos após a intervenção (Bernard et al., 2015).

A Psicoterapia Cuidador-Criança (PCC) (do inglês, Parent-Child Psychotherapy) é utilizada junto


de crianças dos 0 aos 6 anos e do seu/sua cuidador/a, tipicamente aquele/a que foi vítima de
violência doméstica. A PCC é uma intervenção diádica, focada na relação entre o/a cuidador/a

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e a criança, e que utiliza modelos psicodinâmicos e evidências sobre desenvolvimento,


vinculação e aprendizagem social (Urban et al., 2020). O objectivo principal da PCC é promover
a vinculação segura, focando-se também nas dificuldades intrapessoais do/a cuidador/a que
interferem com a regulação das necessidades e com o comportamento da criança (Timmer &
Urquiza, 2014) – dificuldades estas que podem estar associadas a episódios potencialmente
traumáticos de violência doméstica. A PCC inclui ainda sessões de aconselhamento parental
(Reyes et al., 2017). As sessões ocorrem com a criança e o/a cuidador/a, geralmente a mãe, em
simultâneo, podendo ocorrer em contexto domiciliário ou em respostas residenciais de
protecção de vítimas (i.e., casas-abrigo).

As evidências sugerem que esta intervenção psicológica pode reduzir sintomas de trauma e
problemas comportamentais de crianças pequenas que vivenciaram episódios de a violência
doméstica, assim como diminuir o evitamento das responsabilidades parentais por parte da
mãe (Lieberman et al., 2005) – mantendo-se seis mês após a intervenção (Lieberman et al.,
2006). De acordo com Urban e colegas (2020), a PCC é uma psicoterapia baseada em
evidências.

Tendo como base modelos de aprendizagem social, vinculação e estilos parentais, a Psicoterapia
de interacção Criança-Cuidador/a (PICC) (do inglês, Parent-Child interaction Terapy) é utilizada
junto de crianças dos 3 aos 7 anos e de um/a cuidador/a e é, sobretudo, direccionada para
comportamentos de externalização. O objectivo geral da PICC é promover uma melhor
comunicação entre a criança e o/a cuidador/a, assim como desenvolver, no/a cuidador/a,
competências de responsividade e estratégias de parentalidade positiva através de reforços
comportamentais (Thomas & Herschell, 2013).

Na literatura científica, existem evidências consolidadas da PICC em proporcionar uma redução


do stresse parental – relacionado com competências parentais e com reacções da criança – e
dos comportamentos de externalização da criança, sendo a sua efectividade menor em
crianças que apresentem comorbilidades do neuro-desenvolvimento, como perturbações do
espectro do autismo (Thomas et al., 2017). Numa meta-análise, Phillips e Mychailyszyn (2023)
concluem que a PICC é uma intervenção efectiva junto de crianças em idade pré-escolar,
apresentando melhoria nos seus comportamentos de externalização e na responsividade do/as
cuidador/as aos comportamentos agressivos e de oposição do/a filho/a.

A principal diferença entre a PCC e a PICC consiste num foco no estabelecimento de uma relação
segura e responsiva, na primeira, e num foco no comportamento da criança e nas práticas
parentais que permitem a regulação emocional, na segunda.

Considerando as intervenções referidas, a intervenção psicológica com crianças pequenas ou


em idade pré-escolar no âmbito da violência doméstica, entre outros objectivos, visa (Austin et
al., 2020; Timmer & Urquiza, 2014):

• Promover uma relação segura entre a criança e o/a cuidador/a, facilitando uma melhor
responsividade do/a cuidador/a às necessidades da criança, inclusive em momentos de
stresse ou situações de crise relacionadas, ou não, com violência doméstica;

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
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• Construir significados sobre os episódios de violência e sobre os sentimentos associados à


experiência da parentalidade, permitindo uma narrativa comum e adaptativa para o/a
cuidador/a e para a criança;

• Facilitar a expressão dos sentimentos da criança face às experiências de violência


doméstica, assim como a melhorar a comunicação entre esta e o/a cuidador/a sobre
experiências difíceis, relacionadas, ou não, com episódios de violência;

• Desenvolver competências parentais positivas, explorando e consolidando


comportamentos adaptativos e práticas educativas face a eventuais comportamentos de
externalização e internalização da criança, em diferentes contextos;

• Facilitar o estabelecimento de redes de suporte e contacto em contextos próximos (i.e.


com familiares e amigos) e em contextos formais (i.e. serviços de apoio social).

A maioria das intervenções Psicológicas centradas na relação criança-cuidador/a são


sustentadas por evidências de estudos com mulheres vítimas de violência doméstica e
cuidadoras de crianças até aos 12 anos de idade (Austin et al., 2020), existindo lacunas na
literatura sobre a efectividade destas intervenções junto de cuidadores homens, assim como
de cuidadores/as que pertencem a minorias étnicas, que vivem com deficiência ou com
dificuldades psiquiátricas graves ou, ainda, cujas crianças apresentem perturbações do neuro-
desenvolvimento, que sejam adoptadas ou que vivam com deficiência.

Intervenções Psicológicas Individuais

As intervenções psicológicas individuais destinam-se a crianças e jovens que consigam


comunicar verbalmente ou através do brincar. Ainda que, geralmente, estas intervenções
ocorram directamente com a criança ou jovem, é importante considerar a família, o grupo de
pares e outros contextos mais alargados, como a escola e a comunidade, nos quais estes/as
participam no seu dia a dia – e onde podem existir factores protectores ou de risco.

A Ludoterapia Centrada na Criança (LCC) (do inglês, Child Centered Play Therapy) é utilizada
junto de crianças com idades entre os 3 e os 10 anos e que manifestam comportamentos de
internalização (e.g. isolamento social, humor disfórico e ansiedade) e/ou de externalização (e.g.
agressão e oposição) manifestos na relação com pais/mães e/ou com pares (Urban et al., 2020).
A LCC considera o brincar como uma forma de comunicação das crianças, baseando-se no
pressuposto que, num contexto de suporte responsivo e onde a expressão emocional é
facilitada, existe uma tendência natural para a auto-actualização (Ritzi et al., 2017). Esta
Intervenção Psicológica pode incluir, em algumas sessões, os cuidadores/as, sobretudo quando
existem níveis de stresse parental que condicionam os progressos.

De acordo com os pressupostos da LCC, a intervenção psicológica com crianças, no âmbito da


violência doméstica, visa, entre outros objectivos:

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
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• Utilizar o brincar para construir significados sobre episódios de violência, permitindo a


expressão emocional e a integração de memórias difíceis e, também, a regulação de
comportamentos de internalização;

• Facilitar, através do brincar, a exploração dos limites de comportamentos agressivos e


desafiantes, promovendo competências de regulação das emoções associadas a estes
comportamentos;

• Explorar, através do brincar, estratégias de comunicação com os outros, desenvolvendo


competências verbais que facilitem a construção de narrativas adaptativas sobre memórias,
pensamentos e sentimentos associados a episódios de violência;

A LCC é considerada uma intervenção psicológica com evidência moderada mas com resultados
promissores (Urban et al., 2020), sendo efectiva em problemas comportamentais de
internalização e externalização (Lin & Bratton, 2015). Ainda, os resultados da utilização de uma
intervenção breve de LCC demonstram uma redução nos comportamentos de externalização,
sobretudo agressivos e na transgressão de regras (Ritzi et al., 2017). A idade da criança, a sua
raça e etnia assim como o envolvimento dos pais parecem ser moderadores da eficácia desta
intervenção (Lin & Bratton, 2015), implicando que se reconheça as preferências de brincadeira,
se considere aspectos socioculturais envolvidos no brincar e, também, o nível e a influência do
stress parental na responsividade dos cuidadores/as no contexto familiar.

A Terapia Cognitivo-Comportamental focada no Trauma (TCC-FT) (do inglês, Trauma-Focused


Cognitive Behaviour Therapy) é utilizada junto de crianças e jovens com idades dos 3 e aos 18
anos que manifestam sintomas de trauma e tenham memória verbal dos episódios de violência
doméstica e/ou abusos, incluindo sexuais. Esta intervenção utiliza prossupostos de teorias da
aprendizagem e cognitivas, focando-se nas crenças relacionadas com os episódios e no
desenvolvimento de estratégias de coping para lidar com dificuldades psicológicas e
interpessoais (Cohen & Mannarino, 2017). É comum existirem sessões paralelas com o/a
cuidador/a com o intuito de este/a suportar os progressos da criança ou jovem e, ainda, caso
necessário, sessões conjuntas (Cohen et al., 2017). A TCC-FT pode ser utilizada no seu formato
breve, em serviços de protecção a vítimas de violência doméstica (Cohen et al., 2011).

Entre outros objectivos, a intervenção psicológica em TCC-FT, junto de crianças e jovens que
viveram episódios potencialmente traumáticos associados a violência doméstica, visa (Child
Welfare Information Gateway, 2018):

• Facilitar o processamento de experiências traumáticas, através de métodos de exposição


ou narrativos, com o objectivo de integrar memórias, pensamentos e sentimentos
associados aos episódios de violência/abuso;

• Facilitar a restruturação de crenças pouco adaptativas sobre si, os outros e sobre a


utilização da violência, num sentido de regular emoções e reduzir comportamentos de
vigilância, evitamento ou agressivos;

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

• Desenvolver competências interpessoais e estratégias de regulação emocional (e.g.


relaxamento, grounding; auto-apaziguamento) úteis no dia-a-dia;

• Facilitar educação psicológica deliberada sobre situações de abuso e violência,


promovendo, junto do/a cuidador/a, a aprendizagem de estratégias de comunicação e de
práticas parentais positivas;

• Prevenir dificuldades futuras em relações interpessoais e com respeito à sexualidade,


sobretudo em crianças e jovens que foram vítimas de abuso sexual.

A literatura científica indica que a TCC-FT produz melhorias em sintomas de PSTP, de depressão
e ansiedade, assim como melhorias nas relações interpessoais (Cohen et al., 2017; Lenz &
Hollenbaugh, 2015). As mães e/ou pais também parece beneficiar a nível emocional e na
qualidade do suporte parental (Deblinger et al., 2015). A efectividade da TCC-FT para crianças
e jovens que foram vítimas de violência doméstica parece ter evidências sólidas (Thielemann
et al., 2022; Urban et al., 2020). Numa meta-análise, Wang e colegas (2022) concluem que a
TCC-FT, quando utilizada junto de crianças e jovens vítimas de abuso físico e/ou sexual, parece
mais efectiva em adolescentes e na redução de sintomas de PSPT e depressão, e menos efectiva
em crianças e na diminuição de sintomas de ansiedade, comportamentos sexualizados e na
promoção de práticas parentais.

Outras intervenções individuais, como a Psicoterapia Interpessoal para Adolescentes (PIT-A) e


a Terapia Comportamental Dialéctica para Adolescentes (TCD-A), podem garantir uma
resposta efectiva junto de jovens que experienciem sintomas depressivos (Duffy et al., 2019)
e/ou que manifestem comportamentos auto-lesivos (Kothgassner et al., 2021),
respectivamente. No entanto, os estudos que suportam a efectividade destas terapias não
especificam a inclusão de jovens que viveram episódios de violência doméstica.

Intervenções Psicológicas em grupo

As Intervenções Psicológicas em grupo ocorrem, geralmente, em programas de intervenção e


podem ter a vantagem de construir um contexto de pertença e partilha entre crianças ou
jovens que viveram episódios de violência doméstica, facilitando a sua regulação emocional e
comportamental (Thompson & Trice-Black, 2012). Alguns destes programas, sobretudo aqueles
que se dirigem a crianças em idade escolar, podem incluir intervenções juntos de cuidadoras/es
(e.g. Graham-Bermann et al., 2007).

Um exemplo internacional de intervenção em grupo, é o programa Kid’s Club & Moms


Empowerment, dirigido a crianças dos 5 aos 12 anos e a cuidadores/as, em dois grupos distintos
– um de crianças, outro de cuidadores/as – de cinco a sete participantes e que ocorre,
geralmente, em 10 sessões. O Kid’s Club visa a intervenção junto de crianças, facilitando
educação deliberada sobre violência doméstica e promovendo o ajustamento emocional e as
relações interpessoais. Por sua vez, o Moms Empowerment, procura suportar os/as
cuidadores/as que vivem situações de violência, desenvolvendo competências parentais e

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

estratégias de segurança e protecção, inclusive em situações de maior stresse (Graham-


Bermann et al., 2007).

Na Europa, o programa DART – Domestic Abuse Recovering Together (em português,


“Recuperar Juntos da Violência Doméstica”) – é um programa breve de 10 sessões em grupo,
direccionado a crianças dos 7 aos 14 anos e às suas mães. O DART visa fortalecer a relação
entre a criança e a mãe, facilitando a partilha conjunta das suas experiências enquanto vítimas
de violência doméstica e uma melhor compreensão pela mãe das dificuldades da criança
(Stokes, 2017). Além de aconselhamento parental, o DART também inclui sessões que permitem
às crianças construírem significados sobre os episódios de violência doméstica.

O National Institute for Health and Care Excellence (NICE, 2021) apresenta algumas evidências
da efectividade do programa DART quando se compara os participantes antes e após a
intervenção e, inclusive, com um grupo controlo. Os resultados sugerem que o programa
promove uma melhor relação entre as mães e os/as filhos/as, resultando ainda, nas mães, em
maior auto-estima e confiança nas competências parentais e, nas crianças, numa redução de
dificuldades emocionais e comportamentos de internalização (NICE, 2021).

Implementada em quatro países europeus (Grécia, Itália, Espanha e Inglaterra), a intervenção


MPOWER é uma intervenção breve em grupo, com 10 sessões, e direccionada a criança e jovens
dos 11 aos 18 anos que experienciaram violência doméstica (Callaghan et al., 2019). Esta
intervenção visa facilitar a manutenção de relações positivas e a integração das competências
e recursos que as crianças e jovem desenvolveram durante as suas experiências de violência
doméstica. A utilização de intervenções narrativas e focadas nas emoções – através actividades
expressivas, criativas e focadas no corpo (e.g., contar estórias, desenhar, dança, teatro) e
discussões em grupo – permitem às crianças e jovens construir significados sobre os episódios
de violência e consolidar estratégias de coping.

Os resultados do estudo do impacto da intervenção MPOWER demonstram uma melhoria no


bem-estar subjectivo das crianças e jovens, assim como evidenciam, pelas perspectivas das/os
participantes, o potencial terapêutico do grupo na promoção da confiança nos outros e na
regulação emocional (Callaghan et al., 2019). Estudos controlados por grupo controlo, assim
como uma melhor compreensão dos efeitos a longo-prazo, são necessários para consolidar
evidências de efectividade.

Em Portugal, e com o objectivo de criar uma resposta à necessidade de intervir junto de crianças
e jovem que viveram episódios de violência doméstica, Alves e colegas (2019) desenvolveram
um programa de intervenção breve, em grupo, e com 7 sessões, para crianças e adolescentes
dos 8 aos 16 anos. A educação psicológica deliberada sobre violência e sobre os seus impactos,
assim como o desenvolvimento de competências de comunicação, estratégias de coping e
planos de segurança são as intervenções psicológicas utilizadas no programa. No entanto, ainda
não existem estudos sobre a sua efectividade.

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

Geralmente, e ainda que exista variação entre programas, as intervenções psicológicas em


grupo com crianças ou jovens que viveram episódios de violência doméstica, visam (Thompson
& Trice-Black, 2012; Alves et al., 2018):

• Facilitar um sentimento de pertença e um lugar seguro para crianças e jovens que viveram
episódios de violência doméstica;

• Contruir significados sobre as experiências de violência doméstica, facilitando narrativas


empoderadoras da sua agência e competências, por vezes, narrativas conjuntas entre
as/os cuidadoras/es e as crianças;

• Facilitar a expressão de sentimentos de culpabilização que possam estar associados aos


episódios de violência doméstica na família, utilizando discussões em grupos para
reestruturar crenças pouco adaptativas sobre si e sobre os outros;

• Promover a expressão emocional, através de métodos de expressão criativa e artística ou


de partilha em grupo, que facilitem a discussão sobre a violência doméstica, os seus
impactos e o desenvolver de estratégias de regulação emocional;

• Facilitar educação psicológica deliberada sobre situações de violência e de abuso, físico,


psicológico e sexual e sobre formas não-agressivas de expressarem as suas emoções –
prevenindo a perpretação de comportamentos violentos com pares ou no namoro;

• Desenvolver competências interpessoais e de comunicação, através de jogos e role-play,


que diminuam o isolamento e a utilização de estratégias de evitamento, estas
competências podem, por exemplo, incluir o verbalizar de dificuldades e necessidades;

• Desenvolver competências de segurança e estratégias de protecção – por exemplo, pedir


ajuda de adultos, reconhecer espaços seguros, conhecer linhas de emergência e apoio,
discutindo a sua pertinência em diferentes situações de violência e risco.

Numa meta-análise recente, Davis e colegas (2023) concluem que as intervenções em grupo
que utilizam pressupostos da terapia cognitivo comportamental (i.e. TCC; TCC-FT; ‘Teaching
Recovery Techniques’) são efectivas na redução de sintomas associados a trauma e, ainda que
com menor efectividade, na redução de sintomas depressivos – algo que se verifica em ensaios
controlados em diferentes países e em diferentes realidades socioeconómicas.

Quando realizadas em contextos escolares, as intervenções em grupo devem considerar a


privacidade e a protecção da identidade das crianças e jovens (Thompson & Trice-Black, 2012),
uma vez que a identidade conhecida de vítima pode contribuir como factor adicional de
discriminação, sobretudo em jovens que pertencem a minorias étnicas ou raciais, de género ou
de orientação sexual.

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

Intervenção Dirigida a Jovens Agressores/as

No que respeita à intervenção dirigida a adolescentes agressores/as no âmbito da violência


doméstica, são identificados alguns programas de intervenção, no entanto, são escassas as
evidências de eficácia ou encontram-se ainda em consolidação (Ibabe et al., 2018; 2022; Curtis
et al., 2019). As intervenções identificadas na literatura inserem-se em programas que incluem
os/as jovens e os/as cuidadores/as e que visam a redução da violência no contexto familiar
(e.g. Ibabe et al., 2018) e/ou a promoção de competências que permitam aos pais/mães
lidarem e resistirem de forma não-violenta (e.g. Coogan, 2014).

Outros programas, por exemplo, o Stop Now and Plan (em português, “Pára Agora e Planeia”),
visam a prevenção e diminuição dos comportamentos agressivos em crianças e jovens mas não
especificam a violência no contexto familiar (Burke & Loeber, 2015).

Considerando a escassez de intervenções empiricamente validadas, Curtis e colegas (2019)


consideram que as intervenções psicológicas dirigidas a jovens perpetuadores/as de violência
no contexto familiar devem, entre outras recomendações, incluir:

• Desenvolvimento de competências de metacognição e mentalização, visando o contínuo


desenvolvimento de empatia;

• Componentes de reforço positivo na manutenção dos comportamentos desejados,


evitando castigos e punições;

• Restruturação de crenças de vulnerabilidade, hostilidade e grandiosidade, explorando


alternativas a comportamentos agressivos – reforçando comportamentos alternativos pró-
sociais e as respectivas consequências;

• Desenvolvimento de estratégias de regulação de emoções, como a tristeza ou a raiva, e de


sentimentos, como a frustração ou a rejeição, associadas aos comportamentos agressivos;

• Promoção de relações familiares positivas, através de competências de comunicação,


resolução de conflitos e de prática educativas não-agressivas;

• Adaptação da linguagem e dos métodos da intervenção à fase do desenvolvimento e


características do/a jovem, privilegiando actividades práticas sobre actividades verbais.

Mais recentemente, Ibabe e colegas (2022) procuraram validar um programa de intervenção


para jovens agressores/as, o Early Intervention Program in Situations of Youth-to-Parent
Aggression (EI-YPA) (em português, “Pograma de Intervenção Precoce em Situações de
Agressão de Jovens contra Cuidadores/as). O EI-YPA é um programa de longa duração, com
sessões individuais com adolescentes dos 12 aos 17 anos, com sessões em grupo para
adolescentes e, separadamente, para cuidadoras/es e, ainda, com sessões de família. O
objectivo do programa visa a redução dos comportamentos agressivos na família e da
sintomatologia depressiva dos seus elementos através de intervenções de educação psicológica
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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

deliberada e restruturação de crenças sobre violência, do desenvolvimento de estratégias


apropriadas de regulação emocional e de resolução de conflitos (Ibabe et al., 2018; 2022).

Os resultados da implementação do EI-YPA junto de 39 famílias (40 adolescentes, 39 mães e 22


pais) – identificando-se uma taxa de desistência de 15% e, ainda, três casos de aumento dos
comportamentos agressivos – sugerem que a agressão entre os elementos da família diminuiu
significativamente, existindo uma maior diminuição dos comportamentos de externalização
dos pais comparativamente aos/às jovens. A agressão física diminuiu menos do que a
agressão psicológica por parte dos/as adolescentes, sobretudo contra os pais (Ibabe et al.,
2022). As/os adolescentes, apresentaram melhorias nos sintomas depressivos, menos crenças
irracionais e maior empatia e satisfação com a vida – mantendo-se as melhorias seis meses
após o programa.

Os resultados da investigação acima descrita evidenciam alguma efectividade mas, tal como se
verifica nas intervenções junto de jovens agressoras/es, o facto de não existirem estudos
controlados e randomizados dificulta a generalização das intervenções.

Neste sentido, o desenvolvimento de intervenções breves dirigidas a jovens agressores/as e o


estudo da sua efectividade em estudos controlados e randomizados – considerando variáveis
como o género, a idade de intervenções e a tipologia de família –, é uma necessidade urgente
no âmbito da prática clínica em contextos de violência doméstica.

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CONTRIBUTO CIENTÍFICO OPP – Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens no âmbito da
Violência Doméstica

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