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A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NA SAÚDE PÚBLICA FRENTE AOS

IMPACTOS CAUSADOS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES


VÍTIMAS OU TESTEMUNHA DE VIOLÊNCIA: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA NA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA1

Aline Moura Jardim2


Beatriz Hering Faht3

RESUMO

A presente pesquisa aborda o tema que versa sobre atuação da psicologia na saúde pública com crianças e
adolescentes vítimas ou testemunha de violência. O objetivo geral deste trabalho é de avaliar os impactos causados
às crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência direta ou indiretamente, na perspectiva da
psicologia sócio-histórica. Os específicos são: verificar as principais demandas na saúde pública que envolvem
crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência de forma direta ou indireta no período que compreende
março a junho de 2023; reconhecer as contribuições da psicoterapia sócio-histórica na tentativa de minimizar os
impactos causados pela violência; e refletir sobre os desafios existentes na saúde pública no atendimento de
crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência. Esta pesquisa classifica-se com abordagem qualitativa,
descritiva, bibliográfica e documental, por meio da análise do relatório de estágio vivenciado pela acadêmica
pesquisadora no primeiro semestre de 2023. Com relação aos resultados nota-se que a atuação da psicologia, sob
a perspectiva sócio-histórica na saúde pública, tem apresentado importantes contribuições na minimização dos
impactos gerados em crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência, uma vez que auxilia esse público
na ressignificação dos processos de violência apesar dos desafios existentes nesse âmbito como é o caso da
dificuldade de comunicação entre a rede de proteção e as filas extensas de atendimento.

Palavras-chave: Violência. Criança. Adolescente. Sócio-histórica. Psicologia.

THE ROLE OF PSYCHOLOGY IN PUBLIC HEALTH FACING THE


IMPACTS CAUSED ON CHILDREN AND ADOLESCENTS VICTIMS
OR WITNESSES OF VIOLENCE: AN ACCOUNT OF EXPERIENCE
FROM THE SOCIO-HISTORICAL PERSPECTIVE

ABSTRACT

This research addresses the role of psychology in public health concerning children and adolescents who are
victims or witnesses of violence. The general objective of this work is to evaluate the impacts on children and
adolescents who are victims or witnesses of violence, either directly or indirectly, from the perspective of socio-
historical psychology. The specific objectives are to: assess the main demands in public health involving children

1
Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Psicologia do Uniavan, 2023/2.
2
Acadêmica do curso de Psicologia. E-mail: alinemourajardim@hotmail.com
3
Psicóloga, Pedagoga e Mestre em Educação. E-mail: beatriz.hering@uniavan.edu.br
2

and adolescents who are victims or witnesses of violence, both directly and indirectly, during the period from
March to June 2023; recognize the contributions of socio-historical psychotherapy in an attempt to minimize the
impacts caused by violence; and reflect on the existing challenges in public health in providing care for children
and adolescents who are victims or witnesses of violence. This research is classified as qualitative, descriptive,
bibliographical, and documentary, through the analysis of the internship report experienced by the academic
researcher in the first semester of 2023. Regarding the results, it is noted that the role of psychology, from the
socio-historical perspective in public health, has presented significant contributions to minimizing the impacts on
children and adolescents who are victims or witnesses of violence, as it assists this population in redefining the
processes of violence despite the challenges in this context, such as the difficulty of communication between the
protection network and the extensive queues for assistance.

Keywords: Violence. Child. Adolescent. Socio-historical. Psychology.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência caracteriza-se como o


ato de usar o poder e a força física, de forma real ou ameaça, sobre si, o outro ou grupos; o qual
resulta em lesões, morte, danos no desenvolvimento físico e/ou psicológico, privação, entre
outros. Ainda de acordo com a referida organização, existem tipos de violência, sendo eles:
abuso sexual, físico, emocional, agressão verbal, punição, negligência física e psicológica
(OMS, 2002).
A estes fatores, a violência contra crianças e adolescentes pode ser compreendida como
a utilização do poder sobre o outro, como ato de dominação, seja em razão dos aspectos
culturais, sociais ou econômicos. Em virtude de a família ser o primeiro meio socializador de
uma criança e preparar o adolescente para a vida adulta, ela também deve promover segurança
e bem-estar. Quando há ausência de proteção, situações como a de violência podem impactar
no indivíduo pelo resto de sua vida (MADALENA; FALCKE, 2020).
Embora as crianças e adolescentes não fossem vistos socialmente como indivíduos que
detinham direitos até o ano de 1990, o paradigma mudou com a criação do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), passando a preconizar que crianças, adolescentes e jovens, tem o
direito à vida, saúde, alimentação, educação, cultura, lazer, profissionalização, dignidade,
respeito e liberdade para conviver com a família e comunidade, sem que sejam explorados,
discriminados, negligenciados, violentados e oprimidos (COSTA; SILVESTRE, 2020).
Considerando a saúde pública no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), o
atendimento de crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência acontece através do
acolhimento do relato espontâneo, por qualquer profissional de saúde, e através de
encaminhamentos realizados pelo Centro de Referência Especializado em Assistência Social
3

(CREAS), Conselho Tutelar, Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e Ministério


Público (MP), para atendimento especializado (BRASIL, 2019).
O sistema com fluxos de atendimentos e encaminhamentos entre órgãos municipais,
acontece por meio da Lei nº. 13.431, de 4 de abril de 2017, que “normatiza e organiza o sistema
de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, criando
mecanismos para prevenir e coibir a violência” (BRASIL, 2017).
Frente a essa perspectiva, a motivação pelo tema surgiu em razão de a pesquisadora ter
vivenciado a prática de estágio no contexto do SUS, com atendimentos psicológicos a crianças
e adolescentes vítimas ou testemunha de violência, encaminhadas pelo CREAS. Sendo assim,
o presente trabalho se trata de um relato de experiência com base no estágio específico
supervisionado, sob a perspectiva sócio-histórica, vivenciado no semestre 2023/1 que
corresponde aos meses de março a junho de 2023.
Baseado nisso, o estudo busca responder a seguinte problematização: Qual é a atuação
da psicologia na saúde pública, especificamente com crianças e adolescentes vítimas ou
testemunha de violência?
A partir deste espera-se com o presente trabalho demonstrar o funcionamento do fluxo
de encaminhamentos entre as políticas públicas em casos de crianças e adolescentes vítima ou
testemunha de violência até o atendimento psicológico, as fragilidades referentes a
comunicação entre essas redes e sobrecarga nas filas de atendimento em saúde, bem como, as
inseguranças que permeiam a atuação de estagiários de psicologia nas esferas das violências, já
que é uma temática pouco aprofundada durante a graduação.
Dessa forma o objetivo geral o de avaliar os impactos causados às crianças e
adolescentes vítimas ou testemunhas de violência direta ou indiretamente, na perspectiva da
psicologia sócio-histórica. E objetivos específicos são: verificar as principais demandas na
saúde pública que envolvem crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência de
forma direta ou indireta no período que compreende março a junho de 2023; reconhecer as
contribuições da psicoterapia sócio-histórica na tentativa de minimizar os impactos causados
pela violência; e refletir sobre os desafios existentes na saúde pública no atendimento de
crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência.
Cabe observar que no ano de 2021, em apenas 7 meses, o Brasil registrou mais de 119
mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes, somente pelo Disque 100. Referente
a esses dados, a maioria das denúncias eram de violências cometidas pela mãe e em segundo
lugar pelo pai e/ou padrasto, assim a preocupação com o aumento das denúncias sugere a
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necessidade de fortalecer o Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente, a


fim de conscientizar as famílias e a comunidade (BRASIL, 2022).
Embora pesquisar o tema “violência em crianças e adolescentes” não é considerado
inédito, faz-se necessário ampliar as discussões na temática tanto no âmbito da atuação da
psicologia na saúde pública quanto da perspectiva sócio-histórica, que busca compreender o ser
humano em seus diversos contextos históricos e culturais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nas seções seguintes serão contextualizados, com auxílio de autores clássicos e


contemporâneos, acerca das temáticas de: violência contra crianças e adolescentes, direito da
criança e do adolescente, políticas públicas e a abordagem sócio-histórica.

2.1 VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Compreende-se por família quando há grau de parentesco ou consideração, aos quais se


compartilham afetos, sentimentos de pertencimento, gerando laços afetivos positivos, pontuam
Antoni e Koller (2012). Entretanto, por ser uma instituição social em que se estabelecem
relações, existem funções que a família precisa reconhecer, dentre elas: a função econômica,
socializadora da criança e do adolescente, e de reprodução ideológica; com fins de promover o
desenvolvimento saudável e da cooperação. Porém, tais funções não são impedimentos para
existência de violências e desajustes.
Em razão da hierarquização e ameaças existentes dentro de uma família, a violência se
torna naturalizada e a vítima nem sempre percebe que sofre a violência. Dessa forma, surgem
os prejuízos emocionais e sociais, o comprometimento de outros membros da família que são
atingidos por essa violência, aumentando as fragilidades e as relações abusivas. Com crianças
e adolescentes, esse padrão de violência tende a ser um método punitivo, já que eles são vistos
como indivíduos submissos e que precisam de controle (ANTONI; KOLLER, 2012).
Com relação a violência, Santos, Pelisoli e Dellaglio (2012) citam que existem
diferentes tipos, como: abuso sexual, psicológico/emocional, físico, negligência, abandono,
entre outros; envolvendo sempre uma relação de poder e de necessidade sobre o outro.
Corrobora-se com o significado trazido por Bueno (2016, p. 841) no Minidicionário da Língua
Portuguesa, quando define “Violência s.f. Qualidade de violento; ato violento; ato de violentar;
agressão”.
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A estes fatores, entende-se por abuso sexual qualquer tipo de contato da criança ou
adolescente a atividades sexuais, desde o assédio, incesto, estupro, toques físicos, e outros. O
abuso psicológico/emocional está envolvido em todas as demais formas de violação, já que a
vítima é sempre silenciada com chantagens, terrorismo e exploração. O abuso físico caracteriza-
se pela violência mais comum, já que deixa marcas dos instrumentos utilizados e é justificado
como punição. A negligência e o abandono estão ligados as necessidades básicas da criança e
do adolescente que são negadas, envolvendo os potenciais cuidadores (MAYER; KOLLER,
2012).
Quando discutido sobre os prejuízos da violência há controvérsias nos estudos
apresentados por Azevedo, Guerra e Vaiciunas (2015), em que analisam a violência sob duas
perspectivas, a da criança/adolescente, partindo do pressuposto que não causam consequências,
já que crianças e adolescentes não entendem a violência como uma forma de violação dos seus
direitos. A outra perspectiva estudada é que a violência traz consequências quando, após a
intervenção profissional a criança/adolescente entende que os seus direitos foram violados, e
que o fato ocorrido não é algo saudável e correto, surgindo questionamentos sobre si.
Entretanto, Azevedo, Guerra e Vaiciunas (2015) relatam também que a perspectiva de
estudo, sobre não haver prejuízos tem sido remodelada, pois não se leva em consideração a
relação de poder adulto-criança/adulto-adolescente. Dessa maneira há entendimento de
prejuízos a curto e longo prazo, tanto orgânicos quanto psicológicos.
Do ponto de vista orgânico, se encontra tanto a gravidez quanto a ruptura do ciclo da
sexualidade e da infância. Além disso, os prejuízos psicológicos caracterizam-se pela
dificuldade em se relacionar com pessoas de forma geral, dificuldades no âmbito sexual, medo
da figura masculina, em sua grande maioria meninas, receio de intimidades, sentimento de
culpa, ideias sobre morte, e dificuldades no ensino-aprendizagem como a falta de concentração
(AZEVEDO; GUERRA; VAICIUNAS, 2015).
Madalena e Falcke (2020) ainda citam outras consequências no desenvolvimento de
crianças e adolescentes violentados, como anormalidades neurológicas, já que situações de
violência podem causar impactos em algumas regiões cerebrais, bem como, o desenvolvimento
na idade adulta de transtornos depressivos, ansiosos, de pânico, alimentares e outros. Cabe
salientar que, a reprodução do ciclo de violência também se caracteriza como uma consequência
na vida adulta das vítimas.
Baseando-se nisso, entende-se a necessidade do fortalecimento dos direitos, da criança
e do adolescente, que apesar de ser um processo lento no percurso histórico das políticas
públicas e na capacitação de profissionais para realização dos atendimentos, visa o rompimento
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do ciclo de violência e o menor prejuízo no desenvolvimento das crianças e adolescentes


vítimas de violência (MADALENA; FALCKE, 2020).
Assim, no próximo tópico será apresentado os direitos da criança e do adolescente,
desde o contexto do seu surgimento, até as presentes atualizações no quesito de leis. Serão
discutidos a criação dos fluxos da rede de proteção para garantir que as crianças e adolescentes
tenham os seus direitos garantidos e os avanços conquistados para além do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA).

2.2 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Os direitos da criança e do adolescente começaram a ser pensados após diferentes


evoluções históricas e sociais, com bases nas guerras mundiais e estudos da época, já que eles
não eram vistos como indivíduos que poderiam ser compreendidos dentro do seu
desenvolvimento e suas necessidades. Com a adoção da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH), em 1948 houve significativo avanço no quesito de direitos da criança e do
adolescente, já que a DUDH preconiza que todas as crianças e adolescentes estão incluídos nos
30 artigos dispostos na referida declaração (BRASIL, 1948).
Diante dessa realidade, houve também outro avanço nos direitos da criança e do
adolescente, de maneira mais individualizada e pontual, não sendo tão generalista como a
DUDH; diz respeito a Constituição da República Federativa do Brasil que dispõe em seu artigo
227 os seguintes deveres:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao


jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,
1988, Art. 227).

Compreende-se que há um salto de 40 anos entre a Declaração Universal dos Direitos


Humanos e a Constituição Federal, caracterizando-se por um processo lento na luta pelos
direitos das crianças e adolescente, sendo impulsionado em grande parte por profissionais da
saúde e movimentos sociais. Assim, após a regulamentação do Art. 227, desenvolveu-se o
Estatuto da Criança e do Adolescente no ano de 1990 (COSTA; SILVESTRE, 2020).
Portanto, a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e contém 267 artigos no total, onde são encontradas informações sobre os
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direitos à vida e à saúde, liberdade, respeito, dignidade, convivência familiar, comunitária,


direito a escola, cultura, esporte, lazer, profissionalização, trabalho, entre outros capítulos sobre
a prevenção de violação de direitos, medidas de proteção e medidas socioeducativas (BRASIL,
1990).
O ECA instituiu princípios importantes com relação a dignificação da criança e do
adolescente, já que garante a proteção integral e prioridade absoluta. Dessa forma família,
comunidade e Estado dividem as responsabilidades de fornecer o pleno desenvolvimento dessas
crianças e adolescentes, bem como, a de garantir que a proteção deles seja garantida por meio
da execução das normas e leis conquistadas (MELLO; SILVA, 2021).
A estes fatores, Mello e Silva (2021) compreendem que ao ser reconhecida a
importância de mudar a forma de tratar crianças e adolescentes pela sociedade, houve-se
também a ampliação e criação de novas leis que tornassem cada vez mais rígidas as
consequências para aqueles que não cumprirem com os direitos e deveres que o ECA instituiu.
Para aqueles que descumprem esses direitos, pode-se praticar as seguintes penalidades: Lei da
Palmada de 2014, Lei da Escuta Protegida de 2017 e a Lei Henry Borel de 2022.
A Lei n° 13.010, de 26 de junho de 2014, popularmente conhecida pela Lei da Palmada
ou Lei Menino Bernardo, estabelece que crianças possuem o direito de não serem tratadas com
violência física, psicológica ou crueldade. A Lei ainda leva o nome do menino Bernardo, em
razão de ser uma vítima fatal de violência infantil no ano de 2014. Dessa forma, se encontrou
mais uma forma de proteger crianças e ainda combater a violência doméstica infantil (SÁ,
2017).
A Lei da Escuta Protegida ou Lei n° 13.431, de 4 de abril de 2017, normatiza que
crianças e adolescentes tem o direito a escuta especializada e ao depoimento especial em casos
de testemunharem ou serem vítimas de violência, criando mecanismos para a prevenção da
revitimização, que é o processo da criança/adolescente ter de repetir em diferentes locais e com
diferentes profissionais a situação vivenciada. A Lei também determina a criação de protocolos,
fluxos de atendimento nas políticas públicas e disposições gerais para cada uma dessas políticas
(DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2018).
Com relação a Lei n° 14.344, de 24 de maio de 2022, é a mais recente em comparação
as outras e conhecida por Lei Henry Borel, caracterizando outro caso em que uma criança perde
a vida por razão da violência. A presente Lei estabelece mecanismos mais rígidos com relação
a notificação da violência por testemunhas tornando obrigatório a denúncia ao Disque 100,
Conselho Tutelar, autoridades policiais ou Ministério Público. Também estabelece medidas
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protetivas com prazo máximo de 24 horas em favor da criança, visando o menor risco a sua
vida (CRUZ, 2022).
Pondera a mesma autora que as Leis na prática ainda precisam de melhorias que visem
a comunicação assertiva entre as políticas públicas, e que a política do encaminhamento seja
repensada, já que parecem empurrar o “problema” adiante, esquecendo que a criança ou
adolescente que vivenciou a violência é quem sofre nesse processo, destaca Cruz (2022). Em
razão disso, no próximo tópico serão discutidos os caminhos das políticas públicas na oferta
dos atendimentos, como são realizados os fluxos e a comunicação entre elas.

2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS

As políticas públicas de atendimento à criança e ao adolescente vítima ou testemunha


de violência são previstas de acordo com o ECA, sendo elas: Conselho Tutelar, Educação,
Assistência Social, Assistência Jurídico-Social e Saúde. Essas políticas públicas em ação
conjunta são denominadas rede de proteção, ou seja, realizam todo o encaminhamento
necessário para que vítima tenha segurança, após relato espontâneo ou suspeita da violência, e
seja preservada enquanto recebe os devidos atendimentos pela rede (SANTOS; IPPOLITO;
MAGALHÃES, 2014).
O Conselho Tutelar (CT) é o órgão que recebe a denúncia referente as violações de
direitos da criança e do adolescente e atua na certificação dos fatos; responsável também por
iniciar o processo de proteção enquanto as informações são encaminhadas a polícia para que
sejam investigadas. Assim, os conselheiros tutelares têm a função, caso o fato seja confirmado,
de orientar os responsáveis sobre a realização do boletim de ocorrência (BO) e encaminhar a
criança/adolescente para serviços de Assistência Social e Saúde (SANTOS; IPPOLITO, 2014).
De acordo com Santos e Ippolito (2014) o Conselho Tutelar ainda deve acompanhar as
informações sobre a verificação dos fatos, pois caso sejam confirmados é necessário que seja
feito notificação ao Ministério Público (MP) para as devidas tratativas. Além disso, o órgão
também acompanha se as medidas aplicadas estão sendo aderidas pelos responsáveis e se os
serviços da rede de proteção estão disponibilizando os atendimentos.
A educação/escola dentro da rede de proteção é a instituição que mais se aproxima na
formação de vínculo com a criança/adolescente, já que eles passam grande períodos nela, sendo
também um ambiente socializador passível de observação de comportamentos e discursos
apresentados. Em razão da confiança que as crianças/adolescentes desenvolvem por
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professores, merendeiras e auxiliar de serviços gerais, eles podem sentir segurança para relatar
de forma espontânea as situações de violência vivenciadas (IPPOLITO; WILLE, 2014).
Nesse sentido, a escola deve realizar denúncia ao CT, que conforme descrito
anteriormente seguirá seu fluxo e deverá acompanhar a criança mais atentamente no ambiente
escolar. Também podem ser desenvolvidas ações e atividades que visem educar crianças e
adolescentes sobre contextos violentos, estimulando a denúncia. Em razão disso, a escola é um
dos agentes principais na rede de proteção, já que contribui com notificações e identificação da
violência (IPPOLITO; WILLE, 2014).
Outro importante componente na rede de proteção é a Assistência Social, que pode ser
compreendida sob dois aspectos: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, como
discutem os autores:

A Proteção Social Básica, por sua vez, tem por atribuição a prevenção de situações de
risco e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. O equipamento público
responsável pelo atendimento à população é o Centro de Referência de Assistência
Social (Cras) [...] A Proteção Social Especial, por intermédio de medidas
socioeducativas ou medidas de proteção, tem por atenção potencializar a capacidade
de proteção da família e dos indivíduos que vivenciam violações de direitos por
ocorrência de violência física, psicológica, sexual (abuso ou exploração) ou de
negligência. O equipamento público responsável por esse tipo de proteção é o Centro
de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) (ROMEU; ELIAS; SILVA,
2014, p. 169).

Os atendimentos no CREAS, correspondem ao primeiro contato da criança/adolescente


com o serviço especializado, sendo feito primeiramente o acolhimento da família, em seguida
o atendimento e acompanhamento. Assim, essa política pública faz articulação através de
relatórios para o Conselho Tutelar e Ministério Público, bem como realiza encaminhamentos
para a saúde pública solicitando atendimento médico, psicológico, entre outros serviços
especializados, para a criança/adolescente e seus responsáveis, se for identificado à
necessidade. Ou seja, o CREAS é um serviço que estabelece comunicação com os demais
agentes da rede de proteção (ROMEU; ELIAS; SILVA, 2014).
Entende-se por Assistência Jurídico-Social os órgãos de Defensoria Pública, Ministério
Público e Poder Judiciário, que são destinados a oferecer assistência judiciária de maneira
gratuita se a criança/adolescente necessitar. Os referidos órgãos podem ainda solicitar o
depoimento especial, da criança/adolescente vítima ou testemunha de violência, em que na
maioria dos casos de abuso sexual são realizados por profissional psicólogo, com objetivo de
revelar o abuso e penalizar o abusador. Também possui autonomia para realizar pedidos de
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atendimento e acompanhamento na rede de proteção e acolhimento institucional, via despacho


ou decisão (CALDAS; PERROTA, 2014).
Já em relação a Saúde Pública, se responsabiliza pelo acolhimento e atendimento de
demandas encaminhadas, pela notificação de casos novos ao CT e a Vigilância Epidemiológica.
Além disso, deve contribuir e colaborar com o Ministério Público em casos de interrupção da
gestação e pela emissão de relatórios que ampliem a comunicação da rede de proteção. A estes
fatores, a Saúde Pública realiza atendimentos através da Equipe de Saúde da Família (ESF),
Equipes Multiprofissionais (eMULTI) antigo Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF),
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), e Atenção Especializada (AE), com atendimentos de
média e alta complexidade (ambulatorial e especializada hospitalar) para cirurgia, psiquiatria,
psicologia, fonoaudiologia, entre outros (SERRA; CARVALHO; MAGALHÃES, 2014).
Destaca-se dentre os serviços de Saúde Pública, o atendimento e acompanhamento
psicológico, realizado com crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência, em
razão das diferentes consequências que a violência traz para o indivíduo. Assim, o papel do
psicólogo é o de propor reflexões acerca da autonomia e dos direitos do indivíduo que ali se
encontra, proporcionando uma construção de superação da violência sofrida (MACEDO;
CONCEIÇÃO, 2017). Diante disso, na próxima seção será abordado sobre o atendimento
psicológico sob a perspectiva da abordagem sócio-histórica.

2.4 ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA

A teoria Sócio-Histórica, também conhecida por histórico cultura ou sociocultural, tem


destaque no ano de 1962, quando Lev Semyonovitch Vigotski apresenta suas contribuições para
a Psicologia ao publicar a obra “pensamento e linguagem”. Diante do cenário de uma Rússia
Pós-revolucionária e a insatisfação com as correntes da Psicologia que eram estudadas na época,
Vigotski desenvolve sua própria teoria que, segundo ele, contempla o que as demais correntes
não conseguem explicar em conjunto (COLE et al., 2007).
A partir de então, Cole et al. (2007) acrescenta que a teoria de Vigotski tem influência
da teoria de Karl Marx, do materialismo histórico e da dialética de Friedrich Engels, por se
tratar de métodos que analisam a sociedade. Vigotski utiliza-se do materialismo histórico
dialético para compreender as mudanças materiais e sociais que afetam as pessoas, mudando
também sua natureza humana relacionada ao comportamento e consciência. Assim, ao
transformar o ambiente em que vive o homem transforma a si mesmo no processo.
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Baseando-se nisso, a perspectiva Sócio-Histórica não deve ser vista apenas como uma
abordagem clínica, mas como uma concepção nova sobre a forma de solhar o ser humano. Rey
(2007) destaca que o terapeuta faz parte do processo de diálogo existente na psicoterapia, que
tem influências da subjetividade de ambos. Assim, ela é orientada para a produção de novos
sentidos subjetivos e novas emoções diante da demanda trazida. Todavia, esses processos só
acontecem quando o paciente consegue se identificar como sujeito presente e passível de
mudança em suas relações e construção social.
Por ser compreendida como diálogo, a psicoterapia na visão da Sócio-Histórica,
compreende que o terapeuta deve encontrar instrumentos que facilitem a comunicação com o
paciente e o faça se encontrar como sujeito no processo. Tal instrumento pode vir a ser a
utilização de hipóteses, dentro da subjetividade daquilo que o paciente relata, como formador
de construção de assuntos significantes para o paciente, permitindo o desenvolvimento de
reflexões e gerenciamento de emoções (REY, 2007).
Ainda de acordo com Rey (2007) a abordagem Sócio-Histórica não se centra na
patologização, visto que isso define um normal e anormal. Considera-se nesse caso os danos
que a pessoa tem sofrido por não estar em seu local de sujeito, e definido pelo autor como
consciente em seu processo de mudança. Sendo assim, o subjetivo também faz parte desse
processo, entendendo pela perspectiva da pessoa ao qual vivencia o sofrimento.
Ao fazer a articulação da psicologia Sócio-Histórica com o contexto das violências,
entende-se que a atuação deve acontecer de forma ampliada e proporcionando o foco nas
potencialidades do sujeito, pois as consequências geradas decorrentes da violência podem
assumir diferentes aspectos como fragilidade, revolta, reprodução da violência e indiferença.
Bem como, é preciso que haja compreensão dos padrões socioculturais e condições de vida do
indivíduo violentado, para que assim consiga romper com esses padrões promovendo novas
concepções subjetivas (MACHADO; LIMA, 2022).
Frente a todas essas colocações, espera-se que os estudos apontados na fundamentação
teórica possibilitem o suporte necessário para se atingir o objetivo da pesquisa, que está em
avaliar os impactos causados às crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa é de natureza básica, visto que, ela se propõe a ampliar um


conhecimento existente e até mesmo testar os conhecimentos já adquiridos sobre um fenômeno.
Assim, a pesquisa básica não tem por objetivo mudar a vida das pessoas e nem solucionar
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problemas, mas entender os processos testando teorias e formulando novas hipóteses


(SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012).
Caracteriza-se como abordagem qualitativa, o que segundo Sampieri, Collado e Lucio
(2013) é a abordagem que considera as subjetividades existentes no meio social da pesquisa e
no pesquisador, para além disso, a realidade é passível de interpretações de maneira que os
resultados surgem com base nas experiências geradas pelos participantes junto ao pesquisador.
Quanto aos objetivos descritivos, buscam compreender atributos que se destacam
quando analisados, podendo ser de pessoas, grupos, entre outros fenômenos. Dessa forma a
precisão dos estudos descritivos são caracterizados pelas variáveis referente ao que se analisa,
ao qual o pesquisador deve descrevê-las em suas diferentes dimensões (SAMPIERI;
COLLADO; LUCIO, 2013).
Com relação aos procedimentos técnicos, o estudo é considerado como pesquisa
bibliográfica e documental, visto que, a pesquisa bibliográfica destina-se a dados teóricos como
livros, e-books, artigos, entre outros (SEVERINO, 2013). Enquanto a pesquisa documental se
utiliza de fontes primárias, ou seja, documentos que não foram analisados especificadamente,
como relatórios de atendimento, fotos, filmes, entre outros, sendo de responsabilidade do
pesquisador desenvolver uma análise minuciosa dos documentos selecionados (LEMOS, 2015).
A coleta de dados foi realizada por meio da leitura do relatório de estágio específico
supervisionado III vivenciado pela acadêmica no primeiro semestre de 2023. Dessa maneira o
foco do estudo está voltado para a melhoria de um processo da atuação profissional, já existente
no setor, visando entender as práticas de gestão do ambiente. Compreende-se que, nestes casos,
o objeto de avaliação não é o ser humano, de forma direta ou indireta, mas sim informações
administrativas do local a ser analisado. Assim, não serão mencionados dados de identificação
dos sujeitos, já que não são o foco do estudo, mas sim os processos, técnicas e práticas no
ambiente em ocorreu a vivência da prática de estágio, ou seja, na saúde pública.
A análise de dados foi realizada com base no relatório de estágio curricular que segundo
Prodanov e Freitas (2013) contém experiências vivenciadas pela estagiária, assim, há no
relatório o detalhamento das atividades realizadas, correlacionando teoria e prática, objetivos e
conclusões, de forma que possa ser avaliado o aproveitamento do estágio, desenvolvimento na
área de atuação e dificuldades, gerando recomendações tanto para o curso quanto para a
organização.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na presente seção apresentar-se-ão os resultados e discussões dos impactos causados às


crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência direta ou indiretamente, na
perspectiva da psicologia sócio-histórica. Na coleta documental, foi utilizado com base o
relatório de estágio específico supervisionado III, ao qual a pesquisadora teve contato direto
com a prática profissional da psicologia no campo externo no semestre 2023/1.
Para tal, foi realizada uma análise minuciosa e utilizados recortes do relatório em que
se tratava dos processos, técnicas e práticas da psicologia sócio-histórica, visando a
compreensão da atuação profissional. Num primeiro momento se pretende apresentar as
principais demandas na saúde pública que envolvem crianças e adolescentes.

4.1 PRINCIPAIS DEMANDAS NA SAÚDE PÚBLICA QUE ENVOLVEM CRIANÇAS E


ADOLESCENTES VÍTIMAS OU TESTEMUNHAS DE VIOLÊNCIA

Como primeiro objetivo específico, a seguir consta ilustrado no Quadro 1, as principais


demandas na saúde pública que envolvem crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de
violência de forma direta ou indireta, no período que compreende março a junho de 2023. Tais
informações constam descritas nos encaminhamentos para atendimento psicológico e
agendados para entrevista inicial com responsáveis.
As informações estão delimitadas conforme demanda, tipo de violência e idade das
crianças ou adolescentes que foram encaminhadas para atendimento psicológico.

PACIENTES DEMANDA TIPO DE VIOLÊNCIA IDADE


Pessoa 1 mudanças de comportamento testemunha de violência 10 anos
Pessoa 2 dificuldade de se comunicar testemunha de violência 14 anos
Pessoa 3 agressividade testemunha de violência 7 anos
Pessoa 4 ansiedade, crise de pânico testemunha de violência 12 anos
Pessoa 5 mudanças de comportamento testemunha de violência 12 anos
Pessoa 6 dificuldade de se comunicar vítima de violência 5 anos
Pessoa 7 dificuldade de se relacionar vítima de violência 15 anos
Pessoa 8 dificuldade de se relacionar vítima de violência 16 anos
Quadro 1: Demandas na saúde pública de encaminhamentos no período de março a junho de 2023
Fonte: Jardim e Faht (2023).
14

Como pode ser observado no Quadro 1, ao total foram atendidas oito (8) crianças e/ou
adolescentes, de idades entre 5 e 16 anos. Dentre elas cinco (5) foram testemunhas de violência
e três (3) foram vítimas de violência. Cabe destacar que os responsáveis pela “Pessoa 2”,
“Pessoa 3” e “Pessoa 4” não compareceram a entrevista inicial; enquanto a responsável pela
“Pessoa 5” compareceu, porém informou que a adolescente já estava em acompanhamento no
CAPS.
Dessa forma, seguiram para o acompanhamento psicológico na unidade em questão a
“Pessoa 1”, “Pessoa 6”, “Pessoa 7” e “Pessoa 8”. Durante os atendimentos, se compreendeu
que a atuação da psicologia se deu na identificação das seguintes demandas: dificuldade para
reconhecer e expressar emoções, dependência emocional, dificuldade na aprendizagem,
autoestima baixa, afastamento emocional e dificuldade de relacionamento familiar.
Segundo Azevedo, Guerra e Vaiciunas (2015) todos os tipos de violência trazem
consequências imediatas ou tardias, assim a probabilidade de desdobramentos complexos após
crianças e adolescentes vivenciarem uma situação de violência tornam as relações familiares e
até consigo mesmo vulneráveis, uma vez que as consequências não podem ser medidas ou
previstas. Portanto, compreende-se que as mudanças no comportamento, a dificuldade de se
relacionar e comunicar são evidentes tanto em crianças quanto em adolescentes após vivenciar
uma situação de violência, e em diferentes idades como apresentado.

4.2 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOTERAPIA SÓCIO-HISTÓRICA

Para iniciar as discussões sobre as contribuições da psicoterapia sócio-histórica, na


tentativa de minimizar os impactos causados pela violência, a seguir tem-se ilustrado no Quadro
2, o controle de presença dos pacientes que seguiram com acompanhamento psicológico. É
importante ressaltar que, a quantidade de atendimentos diz respeito a aqueles em que houve o
comparecimento do paciente.

PACIENTES QUANTIDADE DE ATENDIMENTOS


Pessoa 1 11
Pessoa 6 8
Pessoa 7 10
Pessoa 8 8
Quadro 2: controle de presença dos pacientes ao atendimento
Fonte: Jardim e Faht (2023).
15

Diante da demanda inicial apresentada pela Pessoa 1 como sendo “mudança de


comportamento” e a Pessoa 6 como “dificuldade de comunicação” deu-se início aos
acompanhamentos psicológicos. Durante os atendimentos iniciais para formação de vínculo
com as crianças utilizou-se de desenho para compreender as dinâmicas familiares e sociais,
como mostra a Figura 1, o desenho da família realizado pelo paciente.

Figura 1. Desenho dos vínculos familiares.


Fonte: relatório de estágio (2023).

Para além disso observou-se que a Pessoa 1 apresentava também dificuldades na


aprendizagem e na maneira de expressar suas emoções, e a Pessoa 6, dificuldades no
reconhecimento de emoções, assim foram utilizados recursos e práticas que facilitassem o
desenvolvimento de ambos os pacientes. De acordo com Rey (2007) o profissional terapeuta
deve buscar instrumentos que facilitem o processo de estabelecer comunicação com o paciente,
uma vez que esses instrumentos contribuirão para o encontro do sujeito com ele mesmo no
processo.
Quanto aos recursos utilizados para auxiliar as crianças na compreensão das emoções
optou-se pelo lúdico e a contação de história com o livro “O monstro das cores”, sendo
desenvolvidos pela pesquisadora monstros em E.V.A colorido, que representam as emoções
existentes no decorrer da história, para facilitar o entendimento, como mostra na Figura 2.
16

Figura 2. Recuso lúdico em E.V.A.


Fonte: relatório de estágio (2023).

Assim, conforme a história avançava e novos monstros surgiam, as crianças conseguiam


visualizar e memorizar, além de permitir a experiência sensorial com os personagens/emoções.
Ao final da história utilizou-se do diálogo com a Pessoa 1 e Pessoa 6 sobre quais emoções já
havia sentido e quais havia percebido a sua volta, em seus responsáveis e em contextos
diferentes do consultório.
Com isso é possível compreender que ter conhecimento das emoções básicas auxilia a
criança em contextos sociais e familiares, uma vez que ela se torna consciente do que de fato
acontece consigo mesma, quando sente esses sentimentos antes desconhecidos. Cole et al.
(2007) comentam que, para a psicologia sócio-histórica o ser humano ao transformar o local
onde o vive também transforma a si mesmo, ou seja, quando adquire um novo conhecimento a
criança/adolescente além de transformar a si mesmo ainda conseguirá transformar os demais
ambientes em que está inserida, mesmo que sejam transformações sutis, uma vez que ela
enquanto sujeito, ao tornar-se consciente, produzirá novos sentidos.
17

Outro recurso utilizado com a Pessoa 1 e a Pessoa 6, ainda explorando as emoções de


ambos, foram solicitados desenhos sobre seus gostos: comida, locais de passeio, familiares e
ambientes que tragam segurança; enquanto a estagiária e o paciente dialogavam. Assim, ao
mesmo tempo que a criança desenha e expressa emoções referente a atividade, ela também toma
consciência de si, de suas emoções e do seu ambiente. Rey (2007) comenta que, durante o
processo do paciente é relevante que o terapeuta participe do diálogo, uma vez que para a
psicologia sócio-histórica a linguagem e o pensamento são as funções mais importantes do
processo, pois não se sabe onde um começa e o outro termina, sendo assim capazes de gerar
novas perspectivas.
Nos atendimentos com a Pessoa 7 e Pessoa 8, por apresentarem demandas iniciais
semelhantes, utilizou-se recursos focados na subjetivação de todo o processo que é ser
adolescente na perspectiva das relações sociais. Dessa forma, foram explorados os diálogos
iniciais de construção de vínculo, em que permitiu observar as demandas individuais da Pessoa
7 como a dificuldade nos relacionamentos familiares e a baixa autoestima; já na Pessoa 8, o
afastamento emocional familiar e a dependência emocional se sobressaíram como demanda
inicial dos encaminhamentos.
Os recursos iniciais utilizados com a Pessoa 7 e Pessoa 8 foi também a leitura do livro
“O Monstro das Cores”, em razão de que ambas as pessoas apresentavam não ter conhecimento
claro das emoções básicas e o que isso gera no cotidiano, desde o episódio de violência até nos
atuais atendimentos. Diferente do realizado com a Pessoa 1 e Pessoa 6, procurou-se dar voz a
Pessoa 7 e a Pessoa 8 na sua subjetividade com relação as emoções, ou seja, ao ler cada parte
da história elas precisavam verbalizar quais momentos haviam presenciado essas emoções em
suas vidas e quais emoções observavam dentro dos seus ambientes sociais.
Sob esse prisma, Rey (2007) destaca a importância da psicoterapia Sócio-histórica ao
ouvir indivíduo, já que ele é o detentor do saber sobre si mesmo, sendo o profissional o
mediador do processo, levando-se em consideração que existem duas subjetividades presentes
no atendimento, a do paciente e a do terapeuta.
A estes fatores, utilizou-se com a Pessoa 7 e a Pessoa 8 o recurso de complementação
de frases, pois permite que sejam avaliadas diferentes áreas sociais. Assim, pode-se
compreender questões de relacionamento amoroso, com pais e irmãos, e amizades no contexto
escolar, além da visão sobre si mesmo. O recurso auxiliou a Pessoa 7 e Pessoa 8 na questão da
perspectiva que as relações estavam sendo construídas cotidianamente e no empoderamento de
si, principalmente para a Pessoa 8 que demonstrava dependência emocional em
18

relacionamentos amorosos. Com a Pessoa 7, o recurso permitiu uma avaliação da rede de apoio
e a possibilidade de se abrir para novas relações.
Diante dos recursos utilizados com a Pessoa 1, Pessoa 6, Pessoa 7 e Pessoa 8, pode-se
observar que, mesmo que os atendimentos sejam encaminhados para a saúde pública e não
sejam pautados na violência, já que a rede que procura intervir no sofrimento decorrente da
violência é o CREAS, os pacientes conseguem utilizar daquilo que foi desenvolvido no
atendimento psicológico clínico para ressignificar os processos de violência num todo, assim
como compreender muito do que foi vivenciado e sentido, possibilitando a superação das
demandas.
Frente a isso a abordagem Sócio-histórica demonstra êxito no que se propõe, já que sob
essa perspectiva a pessoa é colocada novamente em seu local de sujeito, como protagonista,
sem deixar de lado as mudanças socioculturais que afetam e mudam a vida dos indivíduos a
todo momento.

4.3 DESAFIOS EXISTENTES NA SAÚDE PÚBLICA NO ATENDIMENTO DE


CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS OU TESTEMUNHA DE VIOLÊNCIA

De acordo com Serra, Carvalho e Magalhães (2014) a saúde pública realiza todos os
atendimentos de urgência e emergência necessários em saúde, com crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência, o inclui desde uma profilaxia até a uma possível
interrupção de gestação. Além de disponibilizar acompanhamento em psicologia, psiquiatria,
entre outros, principalmente quando a demanda não é superada em outros serviços existentes
dentro da rede de proteção como CREAS, CRAS e CAPS.
Para além das demandas citadas a saúde pública ainda precisa fornecer atendimentos
para os demais usuários que se encontram em filas únicas de brevidade e eletivas aguardando
atendimento. Dessa forma, crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência ao
entrarem nas filas únicas são percebidos como casos que merecem atenção e acompanhamento
de forma urgente, se comparado a outras demandas, assim acabam por passar na frente dos
demais usuários.
Em razão de a saúde pública contar com filas extensas para atendimento, e não haver
profissionais nem para suprir a demanda de fila única, nem para atendimento de casos de
violência, o serviço acaba por se sobrecarregar. Por consequência, as pessoas ficam reféns de
atendimentos urgentes, sem que os demais usuários tenham acesso ao serviço antes de um (1)
19

ou dois (2) anos, havendo casos em que mesmo identificada urgência, esses levam seis (6)
meses para serem atendidos.
Outra dificuldade existente na saúde pública é a comunicação com a rede de proteção,
visto que, com o déficit em muitos serviços há também encaminhamentos errôneos e
dificuldade de outros órgãos como o Conselho Tutelar e escolas, de esgotarem as possibilidades
dentro do seu espaço no atendimento, no que diz respeito, especificamente a investigação de
casos de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência. Contudo, todas as
demandas, em regra, são destinadas para a saúde.
Com relação aos atendimentos psicológicos Macedo e Conceição (2017) destacam que,
o psicólogo é aquele que deve propor reflexões e proporcionar autonomia do paciente, seja por
meio da compreensão dos seus direitos ou na superação da violência sofrida ou testemunhada.
Todavia, na prática, a falta de profissionais capacitados para tais atendimentos acaba por
prejudicar o sistema, uma vez que não se sentem preparados para absorver demandas que
envolvam crianças e adolescentes nessas condições. E nem sempre há recursos disponíveis para
proporcionar capacitação aos profissionais.
Além das dificuldades explanadas pode-se ainda observar o pouco aprofundamento do
assunto nos cursos de graduação, aonde muitos profissionais chegam até a saúde pública sem
de fato terem conhecimento do que é a ficha de notificação/investigação individual de violência
doméstica, sexual e outras violências interpessoais, e de como proceder em casos de suspeita
ou confirmação de violência. Portanto, é comum identificar o despreparo, fruto de uma cadeia
que começa na graduação, bem como a indisponibilidade de se proporcionar capacitações de
qualidade para os profissionais, seguindo da baixa procura de profissionais pela temática que
envolve as violências.
Mediante a tudo o que fora proposto nesse estudo, procurou-se apresentar as principais
demandas na saúde pública que envolvem crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de
violência de forma direta ou indireta, reconhecendo as contribuições da psicologia na tentativa
de minimizar os impactos causados pela violência e refletindo acerca dos desafios existentes na
saúde pública em atendimento ao referido público.
Como reflexões finais pode-se compreender que os impactos causados a crianças e
adolescentes na perspectiva da psicologia sócio-histórica estão intrinsecamente ligados à
cultura, já que existe a naturalização da violência em diferentes contextos, mas principalmente
no ambiente familiar, ficando evidente isso nos encaminhamentos realizados, já que em sua
maioria eram crianças e adolescentes que testemunharam violência. Todavia, para compreender
os reais impactos a longo prazo é necessário acompanhamento psicológico com maior duração,
20

uma vez que atendimentos no curto período de meses tendem a ser mais direcionados as
demandas com maior evidência e que geram impactos mais visíveis no curto prazo.
Quanto a contribuição da psicoterapia sócio-histórica, entende-se que ela é uma possível
abordagem para se trabalhar com a temática de violência, mas que por olhar o indivíduo num
todo dentro da cultura e suas relações, consegue através de pontos reflexivos, recursos
terapêuticos e atividades junto o paciente, torná-lo mais consciente da sua história e dos padrões
que os amarram, gerando um movimento de protagonismo que irá refletir em seu meio social.
Em razão da psicologia sócio-histórica estar em constante construção, conforme as
transformações na sociedade, é importante que o profissional esteja sempre buscando
aperfeiçoamento teórico.
Em relação a saúde pública, considera-se um campo que apresenta inúmeros desafios e
fragilidades, tanto em atendimento quanto em estrutura, mas é também aquela que acolhe todas
as demandas enviadas pela rede de proteção da criança e do adolescente, e para além disso,
tantas outras demandas que não envolvem nenhum tipo de violência. Dessa maneira é preciso
se ter um olhar diferenciado para os atendimentos em saúde pública, principalmente nos casos
de violência já que nela que se faz todo suporte ao paciente, desde o encaminhamento até
mesmo na busca ativa dessas crianças e adolescentes.
Já a atuação do psicólogo no quesito violências, ainda é visto profissionais sem
capacitação adequada para realizar os atendimentos, o que gera insegurança. Todavia, dentro
das suas possibilidades os profissionais vêm desempenhando papel fundamental na constituição
dos sujeitos, que passam por atendimento psicológico e são vítimas ou testemunhas de
violência.
Corrobora-se assim com o comentado por Madalena e Falcke (2020) de que é preciso
uma rede de proteção qualificada, que desempenha entre si uma comunicação assertiva, visando
o rompimento do ciclo de violência tão naturalizado, pois a prioridade para além da criança e
do adolescente, tem de ser no fortalecimento dos seus direitos, já que basta uma mudança ou
acontecimento para que esses direitos sejam revistos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática de violência contra crianças e adolescentes ainda gera desconforto,


principalmente quando acontece no ambiente familiar, já que esse ambiente é o que deveria
trazer proteção e segurança para o bom desenvolvimento desses indivíduos. Entretanto, quando
se pesquisa sobre crianças e adolescentes testemunhas ou vítimas de violência, se fortalece os
21

seus direitos em diferentes contextos e também se abrem possibilidades de discussões acerca


da temática. Sob essa perspectiva fez-se necessário compreender a atuação do psicólogo na
saúde pública, sob a perspectiva da psicologia sócio-histórica, com relação a minimização dos
impactos em crianças e adolescentes, que testemunharam e/ou vivenciaram a violência.
Nesse sentido, afirma-se que os objetivos foram atingidos quando constam descritas as
principais demandas na saúde pública que envolvem crianças e adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência de forma direta ou indireta no período que compreende março a junho
de 2023, e além disso, os estudiosos corroboraram com o que fora apontado pela acadêmica
com relação as contribuições da psicoterapia sócio-histórica e os desafios existentes na saúde
pública no atendimento de crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violência.
Quanto as hipóteses previamente delimitadas, se reconhece que todas foram
confirmadas, haja visto que há fragilidades na comunicação entre as redes de proteção o que
compromete o fluxo de encaminhamentos entre as políticas públicas até o atendimento
psicológico, bem como a sobrecarga nas filas únicas de atendimento e as inseguranças que
envolvem a atuação de estagiários de psicologia frente as demandas que envolvem violência.
Entende-se assim que, a temática de violência, seja a criança e/ou adolescente vítima ou
testemunha dela, deva permanecer em constante discussão, principalmente no quesito
atendimento psicológico em saúde pública, pois ainda se identifica que profissionais se sentem
confusos quanto ao delineamento dos encaminhamentos e práticas de atendimento. Como já
explicitado anteriormente, a temática não é considerada inédita, porém quanto mais se pesquisa
e discute sobre, há maiores possibilidades de avanços no que tange a conscientização da
sociedade sobre formas de prevenção e também sobre o rompimento de ciclos de violência.
Além de estimular a discussão, no sentido de proporcionar avanços quanto a capacitação de
profissionais, já que as notificações de violência têm aumentado e o preparo profissional se faz
necessário.
Todavia, a presente pesquisa também apresentou fragilidades em relação a busca por
materiais relacionados a abordagem sócio-histórica com a temática de crianças e adolescentes
vítimas ou testemunha de violência, bem como, materiais atualizados, que em sua maioria eram
artigos acadêmicos, ou seja, localizou-se poucos livros datados na atualidade sobre a temática
de violência especificadamente com o público infanto-juvenil. Sugere-se assim que o tema seja
explorado em novas pesquisas, tanto no viés da criança e/ou adolescente, quanto pelo viés que
envolve a abordagem sócio-histórica, correlacionados a violência.
Ressalta-se que o relato de experiência trouxe significativo aprendizado, já que se pode
correlacionar a prática com a teoria, ou seja, aplicar conhecimentos adquiridos durante todo o
22

percurso acadêmico, assim como experienciar a o atendimento psicológico clínico frente a uma
temática tão desafiadora. Também proporcionou à acadêmica o desenvolvimento de habilidades
direcionadas a esse público e a compreensão das suas limitações e vulnerabilidades pessoais no
atendimento, quanto a temática da violência envolvendo crianças e adolescentes e seus ciclos.
Considera-se que o curso de Psicologia permite a ressignificação de novos paradigmas e
conhecimentos, desconstruindo muitas vezes os pré-conceitos que se estabelecem durante o
desenvolvimento pessoal e acadêmico.

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