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FAMÍLIA E VIOLÊNCIA: MAUS TRATOS EM CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Ana Paula de Alcino Mendonça


Jéssica Bizinoto
Juliana Mara Goia Zéfer
Glória Lúcia Alves Figueiredo

RESUMO
Esse estudo objetivou conhecer os maus tratos em crianças e adolescentes que ocorreram em
um município do estado de São Paulo, caracterizando a vítima, o agressor e a natureza das
agressões com vistas a contribuir para o olhar atento no cotidiano dos profissionais de saúde.
Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, os dados do Conselho Tutelar do município
foram coletados em instrumento próprio. Utilizou-se como referencial para análise o VIVA-
MS de 2007 a 2009. Entre as 98 notificações, identificou-se prevalência nos casos de
violência física seguido de negligência, envolvendo crianças de 6 a 17 anos de ambos os
sexos, sendo a mãe o principal agente agressor. A proximidade do grau de parentesco impõem
à vitima cronicidade ao problema, pelo fato de residirem no mesmo domicílio e serem
dependentes do seu amor, educação e cuidados. A violência não deveria, mas aparece
justificada como modo para educar. No Brasil, contamos com leis de proteção à criança e
adolescente, entretanto, seria necessário maior envolvimento da sociedade para garantia de
sua efetivação. Visando promover um atendimento integral, os profissionais deveriam ficar
atentos às histórias dos responsáveis, contradições e achados durante o atendimento,
principalmente no exame físico. O olhar crítico diante de um caso suspeito poderia suscitar o
reconhecimento dos sinais de violência, do contexto desfavorável e do provável agressor.
Frente à alguma suspeita, investigar, ouvir a vítima e utilizar-se da notificação poderiam ser
instrumentos de garantia aos direitos da criança e do adolescente.

1. Introdução

Embora existam alguns documentos históricos que mostrem, desde a Antiguidade,


uma preocupação da sociedade em regular a subministração de castigos e maus tratos na
infância, é nos anos 60 do século passado, que profissionais de saúde se voltam às questões da
violência contra crianças e adolescentes, articulando sua influência negativa para o
crescimento e desenvolvimento das vítimas (MINAYO, 2007).
Em toda a sociedade ocidental, e mais particularmente no Brasil, é na década de 1980
que o tema da violência entra com mais vigor na agenda de debates políticos e sociais e no
campo programático da saúde. A história do enfrentamento da violência familiar no Brasil é
recente. A fase de estabelecimento do conceito teve início na década de 80, mas ainda se faz
necessária ampla sensibilização, face à diversidade de conhecimentos nos diferentes grupos
regionais e culturais (MINAYO, 2007; BRASIL, 2001; 2005).
Em sua origem e manifestações, a violência é um fenômeno sócio - histórico e
acompanha toda a experiência da humanidade. Suas manifestações são aprovadas ou
desaprovadas, segundo normas sociais mantidas por costumes ou por aparatos legais da
sociedade. Entretanto, transforma - se em problema quando afeta a saúde individual e coletiva
e exige, para sua prevenção e tratamento, formulação de políticas específicas e organização de
práticas e de serviços peculiares ao setor (BRASIL, 2001; 2005).
No âmbito da proteção à infância, profissionais comprometidos com a saúde e com o
desenvolvimento integral de crianças e de adolescentes participaram ativamente de um forte
movimento em prol da cidadania deste grupo, que redundou na criação do Estatuto da Criança
e da Adolescência (ECA), promulgado em 1990 (MINAYO, 2007; BRASIL, 2005; BRASIL,
1990a).
Com a implementação do (ECA), além de ficarem assegurados direitos especiais e
proteção integral à criança e ao adolescente, também, tornou compulsória a notificação de
casos suspeitos ou confirmados de maus tratos contra crianças e adolescentes atendidos no
sistema público de saúde ou em consultórios particulares, por parte dos profissionais de saúde,
segundo a Portaria 1968/2001 (PIRES; MIYAZAKI, 2005; BRASIL, 1990b).
A notificação deve ser compreendida como um instrumento de garantia de direitos e
de proteção social de crianças e de adolescentes, permitindo aos profissionais de saúde,
educação, assistência social, assim como os Conselhos Tutelares e a justiça adotarem medidas
imediatas para enfrentar a violência (BRASIL, 2001).
Em 1998, o Ministério da Saúde (MS) fundamentado em estudos e bases
epidemiológicas instituiu um grupo de trabalho para assessorá-lo na formulação da Política
Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, com desdobramentos
em todas as áreas de atenção à saúde e informação em saúde (BRASIL, 2010).
Atualmente, a violência, é entendida como um fenômeno social que, também, afeta a
saúde. As unidades de serviços, antes muito mais orientadas para as enfermidades de origem
biomédica, são hoje chamadas para dar respostas às vítimas de lesões e traumas físicos e
emocionais, devendo equipar-se para isso (BRASIL, 2001; 2005).
O documento da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e
Violência foi aprovado por portaria do (MS) em maio de 2001, trata o tema como um
problema social e histórico e o situa nos marcos da promoção da saúde e da qualidade de vida.
Faz um diagnóstico geral do problema, das formas como ele afeta o setor saúde e como este
próprio, também a gera e a reproduz. Apresenta as várias formas de manifestação do
problema (agressão física, abuso sexual, violência psicológica, omissões, violência
interpessoal, institucional, social, no trabalho, política, estrutural, cultural, criminal e de
resistência). Propõe, também, ampla articulação interna do setor para o atendimento das
vítimas, monitoramento das situações de risco, capacitação dos profissionais e para o apoio ao
desenvolvimento de pesquisas (MINAYO, 2007; BRASIL, 2005).
O Brasil, de fato, registra avanços nas leis, nas normas e nas diretrizes nacionais.
Entretanto, é de conhecimento geral que toda e qualquer política para não ficar restrita ao
papel e para que se torne realidade depende da vontade política, conscientização e
mobilização social (BRASIL, 2010).
Na perspectiva em dar suporte aos profissionais que trabalham com as questões da
violência, o (MS), em conjunto com especialistas lançou duas importantes publicações:
Violência Intrafamiliar, um guia teórico-prático com instrumentos para capacitação de
profissionais que atuam nos serviços; e o intitulado Notificação de Maus-Tratos contra
Crianças e Adolescentes pelos Profissionais de Saúde - Um Passo a mais na Cidadania em
Saúde, ratificando o que determina o (ECA), que tornou compulsória para toda a rede de
saúde, a notificação aos conselhos tutelares e às Secretarias Municipais de Saúde quaisquer
formas de violências contra crianças e adolescentes (BRASIL, 2001; 2005).
Apesar do grave impacto da violência à saúde física e mental de mulheres, crianças e
adolescentes, ainda há resistência e necessidade de maior preparo das diversas categorias
profissionais para abordar situações de violência e em lidar com as pessoas vitimizadas no
âmbito do sistema de saúde (BRASIL, 2002).
Em casos de suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes, além
da notificação aos Conselhos Tutelares e autoridades competentes o Sistema Único de Saúde
(SUS) prevê, o preenchimento da Ficha de Notificação Compulsória que integra o Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN) da Secretaria de Vigilância em Saúde, que
por sua vez encaminha ao Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) do
Ministério da Saúde (BRASIL, 2005; BRASIL, 1990a; PIRES; MIYAZAKI, 2005; BRASIL,
1990b; BRASIL, 2004).
Os dados e as informações coletados pelo (VIVA), permitem aos gestores
identificarem a dimensão dos acidentes em geral, os principais tipos de violência e maus
tratos contra crianças, adolescentes, mulheres e pessoas idosas, assim como o perfil do
possível autor da agressão, entre outras informações, dando subsídios para o planejamento de
ações de prevenção e de intervenção (BRASIL, 2001).
A infância é uma fase da vida extremamente delicada e importante, requerendo
grandes investimentos afetivos e de suporte social. Os cuidados prestados à criança pela
família, por outros grupos sociais e instituições influenciarão sobremaneira sua possibilidade
de sobrevivência e de qualidade de vida. Servirão também como um espelho de valores no
qual ela vai se mirando e formando suas idéias sobre si e sobre o mundo (BRASIL, 2001;
2005).
No Artigo 227, a Constituição Brasileira, coloca-nos a seguinte afirmativa: É dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança a ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e
opressão (BRASIL, 1990a; BRASIL, 2011a).
Inúmeros são os fatores que desencadeiam, facilitam e perpetuam a violência contra
crianças e adolescentes. Há, no entanto, um fator comum a todas as situações: o abuso do
poder do mais forte – o adulto – contra o mais fraco – a criança e o adolescente. Pelos dados
relacionados, pode-se perceber que a violência contra crianças e adolescentes, no Brasil,
necessita de uma atenção voltada não só às questões do âmbito familiar, mas também àquelas
referentes à estrutura socioeconômica do País (BRASIL, 1988; 2011b).
Independentemente dos termos usados para nomeá-la, a violência contra as crianças
está representada em toda ação ou omissão capaz de provocar lesões, danos e transtornos a
seu desenvolvimento integral. Tais eventos geralmente envolvem uma relação assimétrica e
desigual de poder manifestada pela força física, pelo poder econômico ou político, pela
dominação e opressão familiar ou geracional. Esse fenômeno se configura também de forma
estrutural na aplicação de políticas educacionais, sanitárias ou econômicas que mantêm as
condições que impedem ou não promovem o seu crescimento e desenvolvimento (BRASIL,
2001; 2005).
Para esse estudo utilizaremos a denominação para a natureza da violência seguindo o
Documento Impacto da Violência na Saúde dos Brasileiros, exposto na Tabela 1.

Tabela 1. Classificação da violência segundo modalidade de expressão e conceito.


Modalidade Definição
Abuso Físico Uso da força para produzir injúrias, feridas, dor ou incapacidade em
outrem.
Abuso Nomeia agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar,
Psicológico rejeitar, humilhar a vítima, restringir a liberdade ou ainda, isolá-la do
convívio social
Abuso Sexual Diz respeito ao ato ou ao jogo sexual que ocorre nas relações hetero ou
homossexual e visa a estimular a vítima ou utilizá-la para obter excitação
sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais impostas por meio de
aliciamento, violência física ou ameaças.
Abandono, Privação de cuidados, ausência, recusa ou a deserção de cuidados
Negligência necessários a alguém que deveria receber atenção e cuidados.
Fonte: BRASIL, 2005.

Esse estudo objetivou conhecer e caracterizar os maus tratos em crianças e


adolescentes que ocorreram em um município do estado de São Paulo, caracterizando a
vítima, o agressor e a natureza das agressões com vistas a contribuir para o olhar atento no
cotidiano dos profissionais de saúde e para que sejam implementadas medidas de prevenção
mais efetivas a esse problema social e de saúde pública.

2. Metodologia

Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca,


protocolo nº 0082/11 os dados foram coletados a partir da documentação fornecida pelo
Conselho Tutelar de um município do estado de São Paulo, utilizando um instrumento próprio
para esse estudo.
A análise documental busca identificar informação nos documentos, também, a partir
de questões de interesse, pois há que considerar que os documentos constituem fonte rica e
estável de dados (GIL, 2002).
Utilizaram-se como referencial para análise, os dados do VIVA-MS de 2007 a 2009.
Para a revisão de literatura utilizaram-se como descritores: violência contra criança e
adolescente; enfermagem.
O município de estudo possui 46.512 habitantes. A rede municipal de saúde é
composta por uma Unidade Básica de Saúde, cinco Núcleos de Saúde da Família e um Pronto
Socorro Municipal. O município conta com um Centro de Referência que atende somente aos
conveniados da União dos Médicos (UNIMED). O Conselho Tutelar do município funciona
desde 1997, com eleições de seus titulares a cada três anos (PREFEITURA MUNICIPAL DE
SÃO JOAQUIM DA BARRA, 2005-2012).

3. Resultados e Discussão

Para análise relativa à idade e sexo das vitimas, os dados do VIVA entre 2007 e 2008
consideraram 8.766 notificações, destas, 24% foram casos registrados entre crianças de 0 a 9
anos, 27% dos casos ocorreram entre adolescentes de 10 a 19 anos. Relacionado aos casos de
violência notificados por sexo, independente da faixa etária, houve predomínio entre as
mulheres (71,1%) seguida dos homens (28,9%) (BRASIL, 2010).
Nesse estudo, coletaram-se os dados em 98 prontuários, sendo 51 menores do sexo
feminino (52,04%) e 47 do sexo masculino (46,06%). Observa-se compatibilidade aos dados
do VIVA, no que se refere à prevalência da violência entre o sexo feminino. Entretanto, ao se
considerar a idade os resultados se contrapõem. Constatou-se que 69,81% dos meninos entre
0 a 9 anos sofreram algum tipo de agressão, sobre 29,79% entre 10 e 17 anos. O mesmo se
repetiu com as meninas, sendo novamente mais freqüente entre 0 a 9 anos (54,9%) do que
entre 10 e 17 anos (45,10%), conforme Tabela 2.

Tabela 2 - Número e porcentagem do total de casos distribuídos por faixa etária e


pelo sexo, entre 2009 a 2010.
Feminino Masculino TOTAL
Idade das vítimas (N = 51) (N = 47) (N = 98)
Nº % Nº % Nº %
0 – 29 Dias 1 1,96% 0 0 1 1,02%

30 Dias – 2 Anos 3 5,88% 4 8,51% 7 7,14%

3 Anos – 5 Anos 12 23,53% 14 29,79% 26 26,53%

6 Anos – 10 Anos 12 23,53% 15 31,51% 27 27,55%

11 Anos – 17 Anos 23 45,10% 14 29,79% 37 37,76%


Fonte: Elaborada pelos autores.
A violência doméstica que ocorre, na maioria das vezes, dentro dos lares ou no convívio
familiar, costuma prolongar-se por muito tempo, uma vez que a família, considerada o agente
protetor da criança, tende a acobertar ou silenciar o ato de violência, seja pela cumplicidade
dos adultos e /ou pelo medo que as vítimas têm de denunciar o abusador (PIRES;
MIYAZAKI, 2005).
Dados coletados pelo VIVA apontam que a residência foi o local de maior incidência de
maus tratos (58%) seguido pela via pública (20%) e escola (13,6%) (BRASIL, 2010).
Entre os dados coletados nesse estudo, a residência, também, foi o local de maior
incidência para ambos os sexos, atingindo 90,38% em meninas e 89,13% meninos. Seguido
pelo espaço público, aqui considerado, praça, ruas e avenidas; serviço de saúde e a Escola,
conforme Tabela 3.

Tabela 3 - Número e porcentagem do total de casos distribuídos pela localidade da


agressão e sexo das vítimas entre 2009 a 2010.
Feminino Masculino TOTAL
Local da Agressão (N = 52) (N = 46) (N = 98)
Nº % Nº % Nº %

Residência 47 90,38% 41 89,13% 88 89,80%


Espaço Público 3 5,70% 4 8,70% 7 7,14%
Serviço de Saúde 1 1,92% 1 2,17% 2 2,04%
Escola 1 1,92% 0 0 1 1,02%
Fonte: Elaborada pelos autores.

As marcas indicativas do abuso incluem hematomas, escoriações, lacerações,


contusões e queimaduras. O grau da violência física varia consideravelmente, de beliscões e
tapas até agressões que podem conduzir à morte. As agressões mais freqüentes incluem tapas,
beliscões, chineladas, puxões de orelha, chutes, cintadas, murros, queimaduras com água
quente, brasa de cigarro e ferro elétrico, intoxicação com psicofármacos, sufocação, mutilação
e espancamentos (PIRES; MIYAZAKI, 2005).
Um estudo realizado em Curitiba por Pascolat e colaboradores indicou que a mão
é a mais usada, seguida pela cinta. O hematoma está presente em diversos segmentos do corpo
e o motivo principal para o abuso físico era a necessidade de educar e colocar limites (PIRES;
MIYAZAKI, 2005).
Evidenciam-se nos dados coletados um agravante para a violência doméstica, uma vez
que, verificou-se no município de estudo, independente do sexo, que a maioria das vítimas
(89,8%) residem com o agressor, conforme Tabela 4.

Tabela 4 - Número e porcentagem do total dos casos segundo moradia ou não com o
próprio agressor, 2009 a 2010.
Feminino Masculino TOTAL
Mora com o (N = 52) (N = 46) (N = 98)
Agressor Nº % Nº % Nº %

Sim 47 90,38% 41 89,13% 88 89,80%


Não 5 9,62% 5 10,87% 10 10,20%
Fonte: Elaborada pelos autores.

Quanto à caracterização do tipo de violência, nos dados do VIVA houve predomínio


dos casos decorrentes de agressão física (55,8%), seguidos pela violência psicológica (41,2%)
e sexual (31,7%). No sexo masculino, destacam-se a agressão física (65,1%) e a negligência
(19,6%) como formas de violência com maior proporção. Entre as mulheres, além da agressão
física (52%), foram violências psicológica (49,5%) e sexual (39%) os tipos que apresentaram
maior ocorrência (BRASIL, 2010).
No município de estudo, independente do sexo, também foi encontrado maior
prevalência nos casos de violência física (38,11%), em segundo os casos de negligência
(34,38%), seguidos pela violência psicológica (16,25%) e sexual (6,88%). Para o sexo
masculino o mais freqüente foi os casos de negligência (41,1%) e para o sexo feminino foi o
abuso físico (39,1%). Vale destacar a ocorrência de casos de violência sexual, apenas, entre as
meninas com 12,64%.
Tabela 5 - Número e porcentagem do total de casos segundo tipo de violência e sexo
das vítimas entre 2009 a 2010.
Feminino Masculino TOTAL
Tipos de Violência (N = 87) (N = 73) (N = 160)
Nº % Nº % Nº %
Física 34 39,10% 27 36,98% 61 38,11%
Negligência 25 28,73% 30 41,10% 55 34,38%
Psicológica 14 16,09% 12 16,44% 26 16,25%
Sexual 11 12,64% 0 0 11 6,88%
Outros 3 3,44% 4 5,48% 7 4,38%
Fonte: Elaborada pelos autores.
Nota: O total de casos segundo o tipo de violência supera o número de casos do estudo, em razão da
ocorrência de mais de um tipo de violência com a mesma criança ou adolescente.

Observa-se prevalência da violência física em diferentes contextos. No VIVA, este


tipo de violência foi caracterizada com a vítima apresentando lesões do tipo corte/laceração
(50,3%) e contusão (13,9%), bem como lesões localizadas na região da cabeça/face (32,3%),
membros superiores (20,7%) e em múltiplas regiões (14,1%) (BRASIL, 2010).
Nesse estudo investigaram-se a localização das lesões. O local mais freqüente,
também, foi a região da cabeça e pescoço com 55,56%, sendo 66,67% em meninas e 44,44%
em meninos. Os membros superiores (16,67%) coincidiram com os inferiores, independente
do sexo. E, houve duas notificações de lesões localizadas no abdômen das vítimas, conforme
Tabela 6.

Tabela 6 - Número e porcentagem do total de casos de agressão física distribuídos pela


região corporal das lesões e sexo das vítimas entre 2009 a 2010.
Feminino Masculino TOTAL
Local da Lesão ( N = 9) (N = 9) (N = 18)
Nº % Nº % Nº %
Cabeça e Pescoço 6 66,67% 4 44,44% 10 55,56%
Membros Superiores 1 11,11% 2 22,22% 3 16,67%
Membros Inferiores 1 11,11% 2 22,22% 3 16,67%
Abdômen 1 11,11% 1 11,12% 2 11,10%
Fonte: Elaborada pelos autores.

Embora o instrumento de coleta de dados desse estudo buscasse a idade do agressor,


não foi possível a sua verificação, uma vez que o referido dado não consta nos prontuários da
instituição pesquisada.
Resultados do VIVA trazem dados relativos ao provável/autor da agressão. Na maior
parte dos casos de vítimas do sexo masculino, o agressor era, também, do sexo masculino
(56,6%) que mantinha uma relação de proximidade com a vitima, geralmente um
amigo/conhecido (15,7%) a mãe (13,6%) ou o pai (9,8%). No caso das mulheres, a violência
foi cometida por um único indivíduo (75,5%) do sexo masculino (70,3%) e que mantinha
relação próxima com a vítima numa relação conjugal (18,7%) ou amigo (13,3%), embora
tenham surgido pessoas desconhecidas na autoria dos eventos violentos (BRASIL, 2010).
Diferentemente dos dados nacionais, nos dados desse estudo a mãe da vítima apareceu
como o agressor mais freqüente (56,78%) independente do sexo das vítimas. Seguidos por
agressores do sexo masculino, e que guardam relativo grau de parentesco com as vítimas.
Apenas dois casos não tinham grau de parentesco (1,69%), conforme Tabela 7.

Tabela 7 - Número e porcentagem do total de casos de violência distribuídos pelo


grau de parentesco com o agressor e sexo das vítimas entre 2009 a 2010.
Feminino Masculino TOTAL
Grau de Parentesco (N = 63) (N = 55) (N = 118)
do Agressor Nº % Nº % Nº %
Mãe 34 53,97% 33 60% 67 56,78%
Pai 12 19,40% 16 29,14% 28 23,74%
Padrasto 10 15,87% 1 1,81% 11 9,32%
Avó 2 3,17% 1 1,81% 3 2,54%
Namorado da Mãe 1 1,59% 1 1,81% 2 1,69%
Primo 1 1,59% 1 1,81% 2 1,69%
Madrasta 0 0 1 1,81% 1 0,85%
Tia 1 1,59% 0 0 1 0,85%
Tio 1 1,59% 0 0 1 0,85%
Nenhum 1 1,59% 1 1,81% 2 1,69%
Fonte: Elaborada pelos autores.

4. Considerações finais

Os casos de violência contra crianças e adolescentes, no município de estudo, são


notificados diretamente e/ou pessoalmente ao Conselho Tutelar Municipal. Podendo ser
efetivado por qualquer morador ou profissional de saúde que se deparar com a ocorrência.
Após o atendimento com o conselheiro as vítimas foram referenciadas para outros serviços e
profissionais.
Visando promover um atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, a
enfermagem poderia desenvolver um olhar critico diante de um caso suspeito, seja no
reconhecimento dos sinais dos diversos tipos de violência, como na identificação do agressor.
Identificou-se prevalência nos casos de violência física, seguido de negligência, envolvendo
crianças de 6 a 17 anos de ambos os sexos e tendo a mãe como principal agente agressor.
A proximidade do grau de parentesco impõe a vitima cronicidade ao problema, pelo fato
de residirem no mesmo domicílio e serem dependentes do seu amor, educação e cuidados. A
violência não deveria ser justificada como modo para educar.
Sobre a evolução dos casos, atendidos constam nos prontuários pesquisados que o
Conselho Tutelar do Município notificam os pais ou responsáveis pela vítima para
comparecerem ao local para esclarecimento e resolução do problema. Porém em alguns casos,
se faz necessário a realização de visitas no local da agressão, em geral, nas residências dos
agressores e vítimas para orientações e verificação das condições de convívio.
Há pais ou responsáveis que não são encontrados, pois antes mesmo da visita mudam de
cidade ou endereço. Denúncias falsas ou lugares inóspitos são encaminhados solicitam apoio
da Policia Militar, Delegacia da Mulher, Promotores, Advogados e Juízes. Há relatórios de
encaminhados para tratamentos psicológicos, de prisão em flagrante, perda da guarda tanto
pela mãe ou pelo pai, a depender do caso, ou até mesmo por ambos conduzindo a criança ou
adolescente vítima encaminhada para abrigos ou parentes mais próximos para aguardarem a
resolução do problema.
Os profissionais de saúde deveriam ficar atentos às histórias dos responsáveis, contradições e
achados durante o atendimento e principalmente no exame físico. Tudo é importante, se
houver suspeita de algo, deve-se investigar e sempre que possível ouvir a vítima. O olhar
crítico diante de um caso suspeito poderia suscitar o reconhecimento dos sinais de violência,
do contexto desfavorável e do provável agressor. Não se pode omitir diante de um caso,
mesmo suspeito deve-se utilizar a notificação como instrumento de garantia aos direitos da
criança e do adolescente.

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