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Kathia Marcela Donansan

Psicóloga CRP 12/01066

RELATÓRIO PSICOLÓGICO

Este relatório, solicitado por Ederson Quintino Borges genitor de Gabrielly


Eduarda Rosa Borges de 13 anos, 7° série do ensino fundamental, refere-se a parecer
sobre os aspectos psíquicos envolvidos na regulamentação da guarda de Gabriely com o
pai Ederson, em decorrência de ameaças psicológicas e físicas sofridas da menor pela
mãe, conforme detalhado abaixo.
Podemos salientar que acompanhamos a menor entre o período de 30 de setembro
até o presente momento em psicoterapia, sendo que consultamos o genitor e também a
genitora de forma individual, cada um em um momento distinto.
O genitor nos procurou para que pudéssemos dar início ao atendimento da filha,
pois o mesmo apresentava preocupação de que a convivência com a genitora gerasse
riscos à saúde física e psíquica da menor, motivo pelo qual havia naquele momento, uma
medida protetiva que impedia a genitora de estar com a filha, segundo o genitor se a
convivência com a mãe não fosse interrompida, dadas as circunstâncias, isso poderia
gerar sérios prejuízos físicos e emocionais para a filha.
Posteriormente, convidamos a genitora para uma entrevista, subsidiada
financeiramente pelo genitor, onde houve uma escuta qualificada da genitora e também
para esclarecer à mesma, que faríamos os atendimentos e que a menor estaria então em
processo de psicoterapia.
Concomitante a entrevista inicial com cada um dos genitores, o atendimento de
Gabrielly foi iniciado de forma emergencial, com duas sessões semanais. Nas sessões,
fez-se uso da técnica de ludoterapia, ou seja, uma psicoterapia voltada para o atendimento
específico de crianças, onde o “brincar” é a principal ferramenta diagnóstica, para tanto,
usamos instrumentos como teste HTP, desenho livre, desenho da família e técnicas
expressivas variadas, tais como: pintura, recortes e colagem, desenhos, utilização de jogos
e brinquedos, bem como técnicas projetivas.
Os atendimentos de Gabriely transcorreram de forma tranquila, com bom
estabelecimento de vínculo.
Nas primeiras sessões Gabrielly fez relatos sobre a convivência com a mãe, e em
todos os relatos a menor demonstrava medo e terror, entre outros sentimentos, como
vergonha, baixa autoestima, fragilidade psíquica, sensação de vulnerabilidade e
insegurança, indicando, portanto, que tenha sofrido algum tipo de violência e/ou abuso
psicológico na relação com a mãe. Entre os relatos Gabrielly citou um momento em que
a mãe ameaça “matar a ela e ao seu pai”, em outros em que chama “nomes feios” para
Gabrielly nos momentos em que a mãe estava “louca” e gritava e fazia ameaças de
agressões físicas. Em um de seus relatos Gabrielly cita um momento em que estava no

(47)984414218
Av.Jose Lino de Aviz, 49 – Centro - CEP 88390000
Barra Velha - SC - E-mail: kmdonansan@hotmail.com
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carro com a mãe voltando da escola, e a mãe estava muito brava e que ameaçou mata-las
e então acelerou o carro contra um poste parando o carro de forma abrupta e depois a mãe
saiu do carro e ameaçou se jogar em frente a um caminhão, Gabrielly conta que não teve
reação, ficando aterrorizada e imóvel no banco do carro.
A pediatra Luci Yara Batista Pfeiffer, uma das coordenadoras do Manual de
Atendimento às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência da Sociedade Brasileira
de Pediatria e também mestre e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente relata
que: “O abuso psíquico é particularmente danoso se praticado por pessoas com quem a
criança mantém vínculos afetivos e em quem confia. Se este tipo de violência é praticada
pelos genitores, outros responsáveis ou ainda aqueles que deveriam ter a função de cuidar
e proteger, as consequências são desastrosas para o desenvolvimento tanto físico quanto
psíquico da criança ou adolescente, podendo levar a várias formas de déficits e atrasos e
até a doenças mentais. Não existe como não haver dano psíquico em situações em que
um ser em desenvolvimento, dependente e indefeso, sofre agressões, especialmente se
praticadas pelos seus responsáveis. São crianças e adolescentes vivendo sob o mesmo
teto, com vínculos de dependência e de afetividade, reféns contínuos de seus abusadores”.
Em outro relato Gabrielly cita uma situação em que a genitora a ameaça com uma
faca e a mesma foge apavorada e se abriga na casa de um vizinho, a mãe a busca dizendo
que foi mentira e que nada havia acontecido.
Percebemos que nos jogos e outras atividades lúdicas, Gabrielly apresenta
sentimento de insegurança, baixa autoestima, atitudes temerosas demasiadas, estado de
alerta constante com intensa ansiedade, possivelmente decorrente de um estado de stress
pós traumático. Nas atividades lúdicas e técnicas projetivas que abordavam temas
relativos à família Gabrielly nunca incluía a mãe, restringindo-se a citar o pai, os avós e
tia paterna e tio materno.
É importante que ambos os genitores se esforcem para que não envolvam os
problemas de conflito conjugal na vida da menor, é extremamente necessário diferenciar
o papel de pai-mãe com o de marido-e-mulher. O que segundo os relatos de Gabrielly não
acontece, segundo a mesma, a mãe sempre a envolve nos conflitos conjugais, exigindo
que a menor tome partido e “fosse mais sua amiga” falando sobre as atitudes ou fatos
relacionados ao pai para ela (a mãe).
Nas falas de Gabrielly a mãe só demonstra interesse em assuntos relativos ao pai,
que mesmo após a Medida Protetiva a mãe ligava para o pai, que colocava no viva voz, e
sequer pedia pra falar com ela, ou perguntava dela, mas só falava sobre a relação conjugal
e o rompimento.
Gabrielly relata também que foi solicitado a mãe, pelo genitor, que entregasse as
roupas, objetos pessoais, e também materiais escolares, pois estariam fazendo falta,

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principalmente um livro escolar sobre o qual haveria uma avaliação, segundo a mesma a
mãe não entregou, o que causou prejuízos principalmente nas atividades escolares.
Isso pressupõe que a menor possa ter sofrido algum tipo de abuso psicológico
como também a existência de lesões psicológicas, advindas de relação conflituosa e/ou
abusiva com mãe.
Barus-Michel (2011, p. 20): A violência é, então, multívoca em si mesma,
referindo-se à experiência de um caos interno ou a ações ultrajantes cometidas sobre um
ambiente, sobre coisas ou pessoas, segundo o ponto de vista de quem a comete ou de
quem a sofre. Porém, de um lado ou do outro, ela sempre se manifesta como excesso,

deixando transparecer nossa impotência, pelo menos momentaneamente, dado seu


caráter de exceção, infligindo aos sujeitos, se não a morte, feridas psíquicas ou físicas, de
natureza traumatizante.
Importante considerar que os possíveis efeitos na criança de conviver com
violência psicológica enumerados por vários estudiosos, tais como: incapacidade de
aprender, incapacidade de construir e manter satisfatória relação interpessoal,
inapropriado comportamento e sentimentos frente a circunstâncias normais, humor infeliz
ou depressivo e tendência a desenvolver sintomas psicossomáticos. Bem como que
Guarda é uma palavra que exprime a ideia de zelo, cuidado, amparo, segurança, proteção,
uma obrigação que os pais devem ter com os filhos.
Diante do que foi relatado, podemos afirmar que Gabrielly apresenta indícios de
não ter estruturação familiar, bem como um processo maturacional muito infantilizado
que não corresponde a sua idade cronológica, o que supõe uma imaturidade e fragilidade
identitária, tudo isso em decorrência dos danos psicológicos que a mesma tem sofrido até
o momento e também decorrente da qualidade do relacionamento entre mãe e filha.
Sendo só o que tínhamos para o momento, colocamo-nos a disposição para
eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários.

Atenciosamente
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Kathia Marcela Donansan
CRP 12/01066

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Barra Velha, 16 de novembro de 2021.

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