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RELATÓRIO PSICOLÓGICO

1.0 Identificação
1.1 Autor (as):

Tamires Araújo Silva, acadêmica do 10º período do curso de Psicologia


sob registro de matrícula número ESGR212680.
Mayara Sanazário Neves – Psicóloga e professora no Colegiado do
Curso de Psicologia do Centro Universitário São Camilo registrado no CRP/16
sob número 4827.

1.2 Interessado:

Maria Eduarda Moreira Cabelino, 16 anos, solteira, residente em


Cachoeiro de Itapemirim - ES, estudante.

1.3 Assunto:

Este relatório visa informar sobre o atendimento psicológico realizado


entre os dias 15 de setembro ao dia 29 de novembro de 2022 da paciente
acima descrito.

2.0 Descrição da demanda:

A demanda da elaboração do presente relatório é decorrente do


encaminhamento da psiquiatra da paciente em questão, a queixa apresentada
é referente as tentativas de suicídio e crises de ansiedade da mesma, sua
responsável Sra. Luciana (mãe), relata que a menor tem feito uso de
entorpecentes, a paciente ME trouxe em sua demanda também ter sido
molestada por seu pai e sua mãe ter sido omissa no caso. E ainda para o

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cumprimento do requisito para a conclusão do estágio em Atendimento Clínico
II, onde será avaliado a habilidade bem como os conhecimentos para
construção de documentos tais como este.

3.0 Procedimento:

Nos atendimentos foram utilizados o método de Associação Livre, que


para Laplanche & Pontalis, a associação livre é o “método que consiste em
exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito,
quer a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho,
qualquer representação), quer de forma espontânea”. Dessa maneira ME,
trouxe relatos sobre suas vivências com seus pais, discorreremos um pouco
dessa narrativa.
A paciente trouxe nos primeiros atendimentos, o abuso sofrido pelo pai,
relatado pela menor, seu responsável tocava em partes intimas de seu corpo
(seios) o que a deixava extremamente desconfortável com a situação. Sua
mãe, chegou a presenciar algumas situações que o companheiro molestava a
filha, no entanto ao questionada, no atendimento de ME, a genitora diz ser
“brincadeira de pai e filha” e que “com as outras filhas ele também brincava
assim”, explicando ainda que “quando elas estavam ficando mocinhas e os
peitos começando a crescer, ele tocava brincando falando que marimbondo
picou”, além disso a paciente traz também que muitas vezes teve que
presenciar seu pai andando nu pela casa, fazendo com que a mesma se
sentisse vulnerável e desrespeitada dentro de casa.
Seus pais se divorciaram no ano de 2019, a paciente optou por não
revelar, entretanto deixa bem claro que seu genitor não era bom para sua mãe,
e que muitas vezes fazia uso de bebidas alcoólicas se tornando muito
inconveniente e até mesmo agressivo, não relata sofrerem agressão física, sim
verbal. A paciente ME relata sentir alivio, com a separação dos pais e saída do
seu genitor de casa, por não precisar mais vivenciar todo abuso sofrido pelo
pai. No entanto sua relação com sua mãe acabou regredindo, nesse período a
paciente estava descobrindo sua orientação sexual, se identificando como
homossexual, seus responsáveis não souberam lidar com a escolha da filha.

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A menor, tem uma irmã mais velha de 23 anos, cursa faculdade
particular, paga pelos pais. ME atualmente não possui uma boa relação com a
irmã. A observação citada se faz importante pois, de acordo com a paciente
sua primeira tentativa de suicídio se sucedeu, pois de acordo com ela “não é
justo meus pais terem que cuidar financeiramente de mim e ainda pagar a
faculdade da minha irmã”, que no dia do ocorrido pensou “se eu sumisse eles
poderiam bancar somente minha irmã”. As demais tentativas, ME não soube
dizer o fator que a motivou, ou o gatilho que a motivou, entretanto sempre
relacionado a questões familiares. No total, a paciente teve 7 tentativas de
suicídio, sendo a última tentativa realizada no início do ano em curso.
Seu círculo social se limita a 2 amigas, sendo 1 morando em outro
estado, 1 relacionamento afetivo virtual e sua mãe e irmã. A menor diz se sentir
mais segura com a amiga que mora em Cachoeiro do que na própria casa, por
haver muitas brigas e discussões não se sente segura nesse ambiente, na
verdade o considera o local menor segurança.
As últimos consultas da paciente, foram envoltas da denúncia da
paciente em relação ao abuso sofrido pelo pai, entretanto a mesma deixa claro
não querer dar continuidade judicialmente. Com o ato da paciente, seu pai
optou por não manter contato com a menor, mantendo vínculo com a filha mais
velha, irmã de ME, somente.

4.0 Análise:

Com base no que paciente apresenta nos atendimentos, é notável o


quão presente é o sofrimento tanto pelo abuso, quanto pela displicência da
mãe em saber do que a filha viveu. A paciente se cobra bastante, muitas
vezes, chegando a expressar que começava a acreditar ter sido “coisa da
própria cabeça”, no entanto é perceptível também que, o ato de denunciar o pai
libertou a mesma da dor. A menor enquanto relatava tudo o que a afligia,
deixava claro que o que gostaria era de que alguém com autoridade explicasse
aos responsáveis que o ato de tocar o corpo da adolescente sem seu
consentimento era errado, crime, mesmo sendo o pai o autor, e ao sentir
coragem e realizar a denuncia a paciente se sentiu bem mais aliviada.

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Pode-se observar que o vínculo conturbado, de ME com o pai, reflete
nas relações interpessoais da menor, a mesma expressão não sentir confiança
nas pessoas, relata que a qualquer momento podem abandoná-la, traí-la e
magoá-la. A adolescente apresenta ter uma auto estima muito baixa, diz a
alguns anos ter tido problemas alimentares (bulimia), não se sente digna de ser
amada e não acredita que outras pessoas a ame de fato. O relacionamento
com sua mãe é bastante complicado, tendo muitos autos e baixos, no último
encontro ambas estavam conversando, mantendo uma boa relação, no entanto
não é algo constante.

5.0 Conclusão

Conclui-se que a partir do que foi relatado pela paciente através do


método de associação livre, que é necessário ser trabalhado a questão de
confiança em si própria, relações interpessoais, o relacionamento com os pais.
Este documento não poderá ser utilizado para fins diferentes do
apontado no item de identificação. O mesmo possui caráter sigiloso, trata-se de
um documento extrajudicial e, sendo assim, não me responsabilizo pelo uso
indevido dos dados presentes por parte do paciente ou outrem após a entrega
durante a entrevista devolutiva.

6.0 Encaminhamento:

Paciente encaminhada para dar continuidade ao tratamento clínico no


CEPROSS no primeiro semestre do ano de 2023.

7.0 Referências:

Laplanche, J. & Pontalis, J. -B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins


Fontes (1967/2004)

Martins, BC.; Silva, WR.; Maroco, J.; Campos, JADB.: Escala de Depressão,
Ansiedade e Estresse: propriedades psicométricas e prevalência das
afetividades. J. bras. psiquiatr. 68 (1) - 2019.

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Watson D, Clark LA. Afetividade Negativa: a disposição para experimentar
estados emocionais aversivos. 1984;96(3):465-90

Cachoeiro de Itapemirim – ES, 29 de Novembro de 2022.

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Tamires Araujo Silva
Matrícula – ES212680

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Mayara Sanazário Neves
Professora / Supervisora
Psicóloga CRP 16/4827

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