Você está na página 1de 3

2.

1 Dados do paciente

M., 34 anos, casado, formado em engenharia mas não atua na área.

2.2 Descrição da queixa

M. procurou atendimento na clinica em junho por conta de pensamentos catastróficos


que vinham se tornando recorrentes. Suas queixas principais aparecem quando esta
dirigindo com o filho de 1 ano e surgem pensamentos de que ele pode ser assaltado e
não ter tempo de retirar o filho da cadeirinha atras. Também teme que sua casa seja
invadida a noite e perde o sono com isso. E a queixa que o mais incomoda é a
recorrência de pensamentos violentos em relação ao filho, quando em algumas
situações este provoca raiva nele. E o medo de trazer esses pensamentos para a
realidade.

3.2 Contextualização e histórico do paciente

M. é casado há 5 anos, conheceu sua esposa há mais ou menos 10 anos e teve seu
primeiro filho há pouco mais de um ano, quando o Brasil e o mundo ainda enfrentavam
a pandemia do COVID-19. Ele tem um irmão gêmeo e um irmão 3 anos mais velho.
Não descreveu nenhum problema de saúde, mas disse que faz anos que não fazia um
checkup e reconhece que negligencia a própria saúde. Um fato que ele acha curioso
sobre isso é que sempre diz para profissionais da saúde que pode ter alergia a
penicilina, mesmo nunca tendo feito teste, possivelmente porque seu irmão gêmeo
que sempre teve a saúde mais debilitada tem essa alergia.
Nunca fez uso de nenhum remédio controlado, e se descreve como uma pessoa
calma e tranquila. Essa é a forma como seus pais sempre o descreveram também e
esse é um dos motivos para não saber lidar com as recentes queixas. M. conta com
seus pais e sogros como circulo de apoio, principalmente na criação de seu filho. Mas
um dos motivos das suas queixas é muito cansaço e estresse devido a uma má
distribuição de tarefas com a esposa. Após as 20h apenas ele cuida do filho, pois a
partir desse horário o filho pode “grudar” na mãe e ter dificuldade pra dormir.
Ele participa ativamente de atividades e reuniões da igreja católica como organizador
e gestor desde seus 14 anos mas há pelo menos 2 anos tem diminuído o ritmo de
participação por conta do trabalho e filho. Disse que apesar da proximidade com a
igreja, seu circulo principal de amizades é da época do colegial, tendo com os colegas
da igreja algo mais formal.

3.3 Hipótese psicodiagnóstica


Os sintomas das queixas que M. levou para as sessões parecem se encaixar com o
quadro clinico de Transtorno de Ansiedade Generalizada, de acordo com o DSM-V
(F41.1). Ele apresentou por mais de 6 meses os sintomas: Inquietação ou sensação
de estar com os nervos à flor da pele; Fatigabilidade e Perturbação do sono.

3.4 Análise e Discussão do Caso

O transtorno de ansiedade generalizada pode ser caracterizado como um estado


persistente de medo e ansiedade associado a eventos e atividades cotidianas. Nesse
contexto, a frequência, intensidade e duração dos sintomas são desproporcionais
porque os eventos antecipados são percepções exageradas e não têm tantas
consequências no mundo real. O paciente relatou ter buscado atendimento psicológico
por causa da recorrência de pensamentos agressivos direcionados ao seu filho de 2
anos. Esse sintoma tem o acompanhado já há algum tempo, mas, de 1 ano para cá,
os episódios se tornaram mais intensos e recorrentes.

Foram realizadas, ao todo, 7 sessões e as primeiras 4 tiveram foco maior em


fortalecer o vínculo terapêutico visto que resultados positivos na terapia dependem de
uma aliança terapêutica positiva e que o paciente que nunca havia passado por uma
clínica psicológica mostrava-se resistente diante das possibilidades de se abrir. Para
isso demonstrei compreensão acurada através da escuta ativa de sua fala,
compartilhei os princípios da abordagem cognitiva comportamental, percebi e validei o
sofrimento que ele descrevia e busquei feedbacks.

Isso aconteceu concomitantemente com a exploração da sua queixa, vida familiar,


social, afetiva, profissional e religiosa. Logo ficou claro que seu sofrimento era
característica normativa do estágio de desenvolvimento psicossocial em que se
encontra. M. tem 34 anos, de classe média, mora de aluguel e se tornou pai de
primeira viagem durante a pandemia do COVID-19, quando os níveis de estresse e
ansiedade dessa população alcançou recordes.

Destaco o livro Desenvolvimento Humano (Feldman e Papalia, 2012) como um


material importante para esse trabalho. Através dele foi possível identificar os modelos
teóricos que descrevem o desenvolvimento psicossocial em termos de uma sequencia
definida de mudanças relacionadas à saúde. Dentre eles a concepção sobre o
desenvolvimento da personalidade de Erik Erikson, que aponta que “se os adultos
jovens não conseguem assumir compromissos pessoais profundos com os outros,
eles correm o risco de se tornarem excessivamente isolados e absorvidos em si
mesmos”. O autorrelato cronológico da vida de M. demonstrou tanto à ele quanto ao
estagiário um padrão de relacionamento que levava a demandas conflitantes de
intimidade (nunca teve conversas profundas com seus familiares próximos),
competitividade (a criação e educação sua e de seu irmão gêmeo foi muito mais rígida
do que a de seu irmão mais velho, identificado como “custoso e arteiro” quando
criança) e distância (os conflitos com sua esposa frequentemente não chegam a uma
resolução e são forçosamente legados ao esquecimento).
Assim o trabalho terapêutico com M. seguiu, basicamente esse caminho: (1) descrever
os problemas apresentados, (2) entendê-los em termos cognitivo-comportamentais e
então (3) encontrar maneiras construtivas de aliviar o sofrimento e de desenvolver a
resiliência do cliente. As principais técnicas foram:
Questionamento socrático: por meio do empirismo colaborativo buscamos questionar
crenças e pensamentos automáticos que ele tinha em relação a si e provar que ele era
capaz de enfrentar qualquer situação. Buscou-se principalmente o significado que ele
dava para o casamento e paternidade.
Registro de Pensamento Disfuncional: para intensificar qualitativamente e
quantitativamente as reflexões sobre suas queixas. Atentando-se a situação,
pensamento, emoção e comportamento M. passou a anotar os momentos em que
sentia raiva e pensava cenas de agressão que posteriormente o deixavam triste e com
medo de traze-las para o mundo real.
Psicoeducação: naturalizar o sentimento de raiva, conversar sobre as consequências
de manifesta-la ou suprimi-la e como os padrões de comportamentos podem estarem
ligados a crenças. Diferenciar emoção de comportamento

Você também pode gostar