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AMBULATÓRIO LONGITUDINAL DE ENSINO EM PSIQUIATRIA

Exercício de Psicopatologia

Paciente do sexo masculino, 36 anos de idade, casado há 6 meses, sem filhos, gestor de
políticas públicas, nível superior completo (graduado em administração pública), ateu,
natural e procedente de São Paulo, vive com a esposa, com quem tem boa relação.

Comparece em primeira consulta com queixa de procrastinação desde a época da


faculdade.

Paciente refere procrastinação importante para afazeres acadêmicos há


aproximadamente quatorze anos. Na época, cursava história em uma universidade
particular. Relata que começou a apresentar dificuldade para realizar tarefas específicas
relacionadas ao seu projeto de iniciação científica. O quadro se iniciou com dificuldade
para responder seu orientador por e-mail e evoluiu progressivamente com perdas de
prazos importantes, reprovações em algumas disciplinas e, por fim, trancamento da
matrícula no curso. Refere que, após grande período de frustração por não ter
conseguido concluir sua primeira graduação, iniciou curso de administração pública e
logrou finalizá-lo, embora não visse muito sentido na carreira. Refere que atualmente
trabalha como gestor de políticas públicas no setor privado e mantém padrão
procrastinador na realização de tarefas, sobretudo quando precisa falar com seu chefe
por mensagem de whatsapp. Além de trabalhar, está matriculado em uma pós-
graduação em gestão pública, mas sente-se constantemente desmotivado, o que o tem
levado a reduções sensíveis do desempenho. Quando perguntado ativamente sobre a
procrastinação no domínio do contato com figuras de autoridade, refere que sente
grande desconforto todas as vezes em que precisa se comunicar por escrito com seu
chefe e que o mesmo acontecia no passado com seu antigo orientador de iniciação
científica. Esse desconforto é uma sensação paralisante que leva a uma série de
pensamentos angustiantes sobre a possibilidade de ser inadequado na forma e no
conteúdo de suas mensagens. A impossibilidade de se comunicar por escrito com o
chefe leva a sentimentos de culpa e reduz sua produtividade. As tarefas laborais têm
sido importante fonte de angústia para o paciente, devido à possibilidade de contato
com o chefe. Quando perguntado sobre sentimentos de inadequação em outras esferas
da vida, o paciente pondera que sempre se sentiu de certa forma estranho e que chegou
a sofrer bullying na escola, por causa de seu peso. Sente que costuma se preocupar com
facilidade e que frequentemente “se cobra em excesso e se culpa quando as coisas não
dão certo” (sic). Entretanto, a dificuldade de comunicação e o medo de julgamento não
ocorrem nas situações em que pode se comunicar pessoalmente com as mesmas figuras
de autoridade. O paciente refere bom convívio interpessoal com amigos, esposa e
família. Aos finais de semana, dedica-se a atividades diurnas de lazer. Não evita lugares
públicos e contato com desconhecidos. Participa como voluntário de uma companhia
de teatro e se apresenta periodicamente para público de diferentes faixas etárias. No
momento, está pleiteando, como segundo emprego, vaga de professor assistente em
uma instituição privada de ensino. Nega tristeza e anedonia. Nega sintomas maniformes
e psicóticos, Nega ideação suicida.

AP: uso eventual de álcool e maconha, nega tratamentos psiquiátricos prévios, nega
comorbidades clínicas e uso de medicações.

AF: nada digno de nota.

Ao exame: apresentação: vestes comuns, autocuidado preservado; contato fácil; atitude


ativa colaborativa; consciência: vigil e lúcido; orientação: orientado auto- e
alopsiquicamente; atenção: normoproséxico; pensamento: de curso normal, minucioso,
sem delírios, sem ideação suicida; humor: algo hipotímico e algo ansioso; afeto:
congruente, normomodulante, normotônico, estável e ressoante; psicomotricidade:
sem alterações; sem sinais indiretos de alterações da sensopercepção; crítica e noção
de doença preservadas.

Com base nas informações fornecidas no relato de caso acima, responda, por escrito e
de forma detalhada:

1) Qual é o diagnóstico sindrômico?

2) Qual(is) é(são) a(s) principal(is) hipótese(s) diagnóstica(s) etiológica(s)?


Justifique com elementos do relato e com base em seus conhecimentos de
psicopatologia.

3) Quais são os diagnósticos diferenciais possíveis? Discuta os termos que


justifiquem dúvida razoável em relação a cada um deles, bem como os
elementos que possivelmente permitem seu descarte.

4) Comente os achados de exame psíquico e sua correlação com a história e as


hipóteses diagnósticas aventadas.

5) Descreva a provável dinâmica envolvida na gênese da queixa de procrastinação.


De que forma ela se reforça ou refuta suas principais hipóteses diagnósticas?

6) Há traços de personalidade que reforçam ou refutam as principais hipóteses


diagnósticas? Justifique.

7) Descreva a melhor conduta de primeiro atendimento do caso.

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