Você está na página 1de 8

Transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos

relacionados.
● A classificação se trata de um espectro da esquizofrenia, isto é, existe uma gama de
possibilidades de manifestação sintomática dentro dessa classe. Existem
particularidades que exigem atenção.

Os transtornos psicóticos são marcados por anormalidades em 1 ou mais dos 5 domínios:


delírio, alucinação, movimento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo
catatonia), pensamento/discurso desorganizado e sintomas negativos.

Cabe explicar cada um deles antes de iniciarmos.

Delírio (alteração do pensamento) : delírio é a crença irrefutável, mesmo que haja a


ausência de evidência que comprove a crença, ou até mesmo várias evidências contrárias.
Os delírios podem ter como tema: persecutório, grandiosidade, ciumento, erotomaníaco,
somático, niilista.
Características:
● Globalidade - o quanto o fluxo da consciência é controlado pela crença ( o quanto a
crença predomina em relação a sua consciência).
● Convicção - o grau de certeza de que a crença é verdadeira.
● Significância - o quão importante é a crença no sistema de significados.
● Inflexibilidade (absolutismo na certeza)- grau de inflexibilidade, quão impenetrável
é a crença é em relação à lógica.

Alucinação (alteração na percepção): é quando o indivíduo tem percepções reais com a


ausência de um estímulo/objetivo. Em um indivíduo normal, a consciência se dirige ao
mundo e produz significações, já na alucinação, ocorre uma anástrofe, em que o mundo
invade a subjetividade do sujeito.
● No espectro da esquizofrenia, a mais comum é a auditiva.
● As alucinações devem ocorrer no contexto de um sensório sem alterações (ex:
rebaixamento de consciência/sono, uso de substâncias, etc.)

Movimento motor grosseiramente desorganizado ou anormal: pode-se manifestar de


várias formas desde o comportamento “tolo e pueril” até a agitação imprevisível,
principalmente dirigida a objetivos (muitas vezes não consegue concluir atividades
cotidianas, dentro do curso ele apresenta comportamentos desorganizados que acabam
prejudicando a execução dessas atividades). Já a catatonia é a diminuição de reatividade
em relação ao ambiente (resistência a instruções, manutenção de postura rígida, até a falta
total de respostas verbais ou motoras, movimentos estereotipados repetitivos, mutismo, eco
da fala, olhar fixo, caretas). É inespecífico e pode ocorrer em outros transtornos mentais.

Pensamento desorganizado: como o nome já diz é a presença do discurso


desorganizado, como mudar de um tópico a outro, respostas com relação oblíqua ou até
sem relação nenhuma e, em casos graves, pode se encontrar de maneira incompreensível.
● Descarrilamento ou afrouxamento das associações: tópicos sem sequência coerente
● Tangencialidade: as respostas ou não tem relação nenhuma ou não são coerentes
com a pergunta/relação oblíqua
● Incompreensível (salada de palavras)
Nota: quando ocorre de forma leve, é considerada comum e inespecífica. Apenas quando
prejudica de forma substancial a comunicação, prejudicando consideradamente o indivíduo
pode ser considerado sintoma.
➔ Precisa levar em consideração o contexto linguístico do paciente.
➔ Pode ocorrer uma desorganização menos grave durante períodos prodrômicos ou
residuais da esquizofrenia

Sintomas negativos: são caracterizados pela expressão emocional diminuída


(manifestação reduzida da expressão emocional, ex: contato visual, entonação da fala,
movimento das mãos,cabeça e da face, emoções pelo rosto, etc) e a avolia (redução das
atividades motivadas). Alogia (produção diminuída do discurso), anedonia (capacidade
diminuída de perceber prazer em estímulos positivos e falta de sociabilidade.

Os transtornos que fazem parte desse espectro são:

➔ Transtorno de personalidade esquizotípica- manifestação crônica dos sintomas (o


paciente tem a manifestação sintomática como seu modo de ser e estar no mundo, é
diferente de um paciente que possui insight (percebe as mudanças antes e depois).
Déficits sociais e interpessoais, reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de
distorções cognitivas ou perceptuais e comportamento excêntrico.
➔ Transtorno delirante- Presença de delírios, mas as alucinações não são
proeminentes.
➔ Transtorno psicótico breve- Presença de sintomas psicóticos (delírios, ou
alucinações, ou desorganização do discurso,ou desorganização do comportamento,
ou catatonia) durante 1 dia a 1 mês.
➔ Transtorno de esquizofreniforme- Sintomas duram pelo menos um mês mas
menos de 6 meses. Presença de pelo menos 2 sintomas positivos ou um sintoma
positivo e desorganização ou sintomas negativos.
➔ Esquizofrenia
➔ Transtorno esquizoafetivo- Ocorrência de sintomas A da esquizofrenia
concomitante a episódio depressivo/maníaco e alucinações e delírio por pelo menos
2 semanas.

Transtorno delirante
Critérios Diagnósticos:
A) Presença de um (ou mais) delírios durante pelo menos 1 mês
B) Não atender para esquizofrenia (caso haja alucinações, o que é raro, o tema precisa
estar de acordo com o tema da alucinação).
C) Não estar presente comportamentos bizarros (para além dos comportamentos
derivados do delírio)
D) Caso tenha episódios maníacos ou depressivos, estes devem ser menores que o
episódio de delírio.
E) Não ser derivado do uso de outros tipos de substâncias ou medicamentos
Especificar-se em relação ao subtipo, conteúdo bizarro, o curso e a gravidade.
Características:
● A presença de catatonia exclui automaticamente a possibilidade de transtorno
delirante, já que a presença de catatonia e delírio é o critério A da esquizofrenia.
● O transtorno delirante é mais comum em homens do que mulheres
● O desenvolvimento e curso é menos prejudicado do que em outros transtornos
psicóticos. Por exemplo, quando na ausência de sintomas de delírio os indivíduos
agem normalmente.

Transtorno psicótico breve

Características diagnósticas:
A) a presença de um (ou mais) características. Pelo menos um deles deve ser 1, 2 ou
3:
● Delírio
● Alucinações
● Discurso desorganizado
● Desorganização motora (ou catatonia)
B) Os sintomas devem estar presentes em 1 dia até 1 mês, mas remitir dentro desse
período a um funcionamento pré-mórbido.
C) Não é mais bem explicado por transtorno depressivo maior, transtorno bipolar
com sintomas de psicose, nem por efeitos de outra substância.

Especificar: com/sem estressores evidentes, com início no periparto ou contatatonia. Além


disso, a gravidade.
Observações: ficar atento se os sintomas estão de acordo com a cultura do paciente.

Esquizofrenia
● Os sintomas da esquizofrenia envolvem uma gama de disfunções cognitivas,
comportamentais e emocionais, mas nenhum sintoma é patognomônico do
transtorno.
● O diagnóstico envolve o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas
associados a um funcionamento profissional ou social prejudicado. Cuidado ao
associar uma característica isolada ao diagnóstico do transtorno.
● Indivíduos com o transtorno apresentarão variações substanciais na maior parte
das características (duração, intensidade, frequência, resposta ao tratamento,
etc), uma vez que a esquizofrenia é uma síndrome clínica heterogênea. A
intervenção precisa respeitar a forma individualizada, precisa ser adaptada ao
paciente.

Critérios diagnósticos
A. Dois ou mais dos itens a seguir cada um presente por uma quantidade significativa
de tempo durante o período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo
menos um deles deve ser o 1, 2, ou 3.
1) Delírios
2) Alucinações
3) Pensamento (discurso) desorganizado
4) Comportamento motor desorganizado ou anormal (incluindo catatonia)
5) Sintomas negativos
B. Por período significativo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento
em uma ou mais áreas importantes do funcionamento está acentuadamente abaixo do nível
alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância, incapacidade de atingir o
nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional).

C. Apresentação contínua dos sinais de perturbação, por pelo menos 6 meses.


Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas que precisam
satisfazer o critério A (sintomas da fase ativa) e podem incluir períodos de sintomas
prodrômicos ou residuais*.
*durante esses períodos os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas
negativos ou por dois ou mais sintomas listados no critério A presentes em uma forma atenuada (ex:
crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns, etc.)

D. O DSM diferencia a esquizofrenia do transtorno esquizoafetivo ou o transtorno bipolar,


quanto a manifestação da alteração do humor em conjunto com o período ativo da doença.

E e F. falam sobre os efeitos fisiológicos de uma substância, além de observar se há história


de transtorno do espectro autistsa ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância,
o diagnóstico da esquizofrenia vai ser realizado somente se delírios ou alucinações
proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão presentes
por pelo menos 1 mês.

Cuidado para avaliar todos os critérios, o tempo de manifestação e nunca caracterizar


de uma forma isolada.

* A prevalência e desenvolvimento e curso estão presentes no DSM.

Associação com pensamentos ou comportamentos suicida

● O comportamento suicida nem sempre está associado a intencionalidade, pode


ocorrer em resposta ao comando das alucinações
● Fatores de risco: sintomas depressivos, desesperança, desemprego, o período após
o episódio psicótico ou alta hospitalar, número de internações psiquiátricas,
proximidade do início da doença e idade avançada do início da doença.

Comorbidade: Uso de substâncias, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo,


transtorno de pânico. A expectativa de vida é reduzida em razão das condições médicas
associadas: ganho de peso, diabetes, doença cardiovascular e pulmonar, síndrome
metabólica.

Intervenção em TCC no espectro da esquizofrenia:

● Psicoeducação: identificação de sintomas prodrômicos (sintomas que antecedem a


fase ativa), adesão ao tratamento farmacológico, diagnóstico, ao tratamento, a tcc,
etc.
● Treino de habilidades sociais: melhora no padrão de interações sociais
● Reestruturação cognitiva: manejo de pensamentos/crenças disfuncionais (atenção
as especificações, como as alterações do pensamento)
● Intervenção em demais repercussões: sintomas depressivos, ansiosos, resolução
de problemas, visando a adequação do tratamento ao indivíduo, manutenção da
rotina/hábitos desejáveis.

Beck propôs três princípios gerais que podem ser abordados desde o início do tratamento:
● Abordagem orientada a recuperação (CTR)
● Técnicas Cognitivas para delírios e alucinações
● Adaptar a formulação com base na sintomatologia, histórico e funcionamento
neurocognitivo (expertise clínica, a eficácia do tratamento depende do raciocínio
clínico em avaliar a condição do paciente e adaptar conforme a necessidade).

Delírio tratamento:
● Psicoeducação e normalização (normalizar crenças delirantes: entender que não é
o fato de ter o pensamento que está relacionado ao sofrimento advindo desse
quadro)
● Familiarizar o paciente ao modelo cognitivo- entender a interrelação dos entre os
elementos do modelo (sentimentos, pensamentos e comportamentos) e com as
interpretações delirantes.
● Aplicar abordagens cognitivas e comportamentais
Estratégias para questionar as evidências em favor das crenças delirantes, construir
crenças alternativas, focar em crenças nucleares não delirantes, consolidar crenças
alternativas, usar experimentos comportamentais, prevenção e manejo de recaídas.

Alucinações tratamento:
● O paciente é incentivado a se distanciar das “vozes” e a questionar afirmações
incorretas que as vozes fazem. O que o paciente discorda daquela voz? tem algum
ponto que ele trouxe? Alguma afirmação que ele não concorda?
Uma das estratégias é trabalhar com o que ele concorda, o que entra em conflito com
a voz. *especificado na aula com exemplos.
● Crenças delirantes e disfuncionais sobre a voz são evocadas e questionadas por
meio de experimentos comportamentais (propor ao paciente a questionar esses
comandos, por meio de vivências e experiências que o resultado questionem essa
voz).
● O paciente começa a perceber que tem controle sobre a voz, o que enfraquece
grande parte da estrutura cognitiva que sustenta as reações emocionais e
comportamentais.
● Crenças desadaptativas e não delirantes (como as que resultam em um sentido de
inutilidade e impotência – reestruturação cognitiva).

Sintomas negativos tratamento:


Objetivo:
● Desenvolver recursos e interesse pelas atividades significativas
● Orientar os pacientes a determinar que tipo de fatores os levam a desenvolver
estratégias de enfrentamento.

CTR:
Visa recuperar o modo adaptativo do paciente. Não depende do diagnóstico
(transdiagnóstico), verifica o que mais tem no repertório do paciente para ser ativado e o
modo adaptativo ficar ativo a maior parte do tempo.
O que existe no paciente além do quadro desafiador? Potencialidades, áreas de interesse,
pontos fortes, aspirações, valores, tudo que com o agravar do quadro vai sendo perdido.

● Acessar (o que mais tem no repertório)


● Energizar (dar vida novamente as potencialidades adormecidas)
● Desenvolver (Visa incitar esperança no paciente: ajudar o paciente a criar
estratégias, clareza do que é significativo, como traçar um caminho para viver
novamente isso que é significativo e que isso possa ser costurado com as crenças
que possa ser costurado com as crenças que estavam permeadas pelo modo
desadaptativo; a medida que ele exerce as atividades significativas fica mais fácil
flexibilizar as crenças)
● Realizar (ações positivas, vivência do que foi planejado; ações positivas associadas
ao senso de propósito – prática cotidiana daquilo que nos leva ao que nos é
significativo, os nossos valores)
● Fortalecimento (prevenção de recaídas)

Você também pode gostar