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Psiquiatria e

neurofármacos
Relevância: Alta
Todos as aulas da Mentoria possuem relevância moderada, alta ou muito alta,
baseado na incidência nas provas de residência médica dos últimos 5 anos.
Psiquiatria e neurofármacos

Tema com presença variável na parte de clínica médica, com uma carga teórica absurdamente
grande, porém, com limitada relevância para sua prova. Fazemos esta aula pois o conhecimento
será bom para sua prática médica e te levará a acertar preciosas questões com taxa de erro alta.
Não esqueça de complementar o conhecimento com os flashcards e com as questões, hein!
Vamos nessa?

O que você precisa saber?


A psiquiatria na residência
A especialidade psiquiatria apresenta relevância ímpar no cotidiano médico. Muitos dos seus
pacientes chegarão ao consultório com queixas condizentes com quadros depressivos e ansiosos.
É importante reconhecê-los para, ao menos, saber encaminhar este paciente com segurança.
Já na residência médica, o conhecimento da psiquiatria (para fins de aprovação) é quase instrumental,
beirando o diagnóstico das principais síndromes psiquiátricas, os medicamentos utilizados nestas e
as síndromes ocasionadas pelo abuso de substâncias (abordados na aula de intoxicações e na aula
de dislipidemia, tabagismo e alcoolismo).
Portanto, faremos a abordagem escolhida para garantir o seu acerto nas questões e a sua aprovação.

Delirium
Também conhecido como estado confusional agudo ou encefalopatia metabólica, o
delirium consiste em uma síndrome caracterizada por alteração das funções psíquicas com
comprometimento da consciência, atenção e das funções cognitivas. Bastante comum, tem
prevalência importante (até 50% em internações após cirurgias de correção de fratura de fêmur).
O paciente pode apresentar alterações de comportamento (como agressividade), percepção
(ocorrem alucinações visuais e auditivas) e do humor, além de tremor e incontinência urinária.
Classicamente, tem caráter flutuante com início súbito e resolução do quadro após resolução de
fator causal (diversas etiologias, variando desde confinamento a infecções e uso de medicações
anticolinérgicas). Caracteristicamente, apresenta piora da intensidade do episódio ao entardecer
(fenômeno conhecido como sundowning).

Os principais fatores de risco são: idade avançada e lesão estrutural ou funcional cerebral preexistente
(demências, AVE, doenças psiquiátricas). A sua mortalidade em um ano pode ser de até 50% e
tem reconhecido aumento na morbidade pós-internação, causando redução no QI (quoeficiente de
inteligência) a cada episódio.

Seu diagnóstico pode ser feito por meio do emprego do CAM ou do CAM-ICU, este último
utilizado quando em internação em unidade intensiva (Confusion assessment method in a
intensive care unit).

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Característica 1
Início agudo de alterações do estado mental ou curso flutuante
+
Característica 2
Falta de atenção

Característica 3 Característica 4
ou
Pensamento desorganizado Nível alterado de consciência

DELÍRIO

Diagrama de fluxo do método CAM-ICU.

Seu tratamento consiste em manter o paciente em ambientes tranquilos, de preferência com


presença de familiares, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, verificação/exclusão/adequação de
medicação utilizada e exclusão de fator causal. O emprego de benzodiazepínicos deve ser evitado
(exceto em delirium tremens), podendo ser feito para controle da insônia (lorazepam 1-2 mg/dia).
As evidências explicitam preferência para o emprego de antipsicóticos em baixa dose, como o
haloperidol (até 5 mg/dia) para melhor controle do quadro.

Vamos ver uma questão para ilustrar o quadro?

(UNIMED/RJ - 2019) Delirium é considerado uma das mais frequentes complicações durante a
hospitalização de pacientes idosos. Qual das afirmativas abaixo NÃO corresponde a melhor prática
para o controle do Delirium?

(A) Detectar e controlar a DOR.


(B) Estimular o uso de órteses (aparelho auditivo, óculos ou lentes etc.) de uso prévio
(C) Evitar o uso de benzodiazepínicos.
(D) Utilizar no seu tratamento antipsicóticos e anticolinesterásicos.

Para sabermos a resposta, vamos utilizar o bom senso para pensarmos: dor causa delirium.
O controle da dor é um controle causal e ajuda muito na resolução, logo, é algo que devemos fazer.
O uso de órteses previne que o paciente surdo ou com distúrbios da visão diminua os inputs do
ambiente para o cérebro, reduzindo bastante o risco de delirium, logo, devemos estimular seu uso!
O uso de benzodiazepínicos deve ser evitado no delirium e agora vem o ponto mais interessante: você
leu algo sobre anticolinesterásicos no texto explicativo de delirium? Não, não é? Então, não fazemos
isso para pacientes em delirium e, sim, para pacientes com demência. Logo, resposta, letra D.
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Esquizofrenia
A esquizofrenia é considerada uma das doenças mentais mais catastróficas economicamente
e em morbidade segundo a OMS. É um transtorno psicótico grave, heterogêneo, que prejudica
o funcionamento social e é de causa desconhecida. Pode se apresentar associada a quadros
depressivos, ansiosos e ao consumo abusivo de substâncias como o álcool e drogas.
Consiste em um distúrbio do pensamento, da percepção e do afeto.
Antes, vamos explicar o que é afeto.

Afeto
Qualidade emocional que acompanha uma ideia ou uma representação mental.
Pode estar normal (eutimia), exacerbada (hipertimia), reduzida (hipotimia) ou
modificada. Para exemplificar, o paciente apresenta uma resposta exacerbada
a um estímulo quando em hipertimia (como se contasse uma piada simples e
o paciente risse muito mais e por mais tempo do que a média social, dadas as
devidas proporções).

Continuando, o início do quadro clínico costuma ocorrer entre 10 e 25 anos em homens e 25-35 em meninas.
Costuma ser muito heterogêneo, de modo que o paciente pode apresentar:

Personalidade pré-mórbida: retraimento social e emocional, introversão, comportamento desconfiado


com tendência ao isolamento e excentricidade. Dificuldades com trabalho ou escola e com o sexo
oposto podem ser vistos. Em alguns casos, podemos verificar a presença de um comportamento
esquizotípico (comportamento estranho com crenças excêntricas) ou esquizoide (frieza emocional,
introspecção e preferência por isolamento).

Por ausência de insight, o paciente dificilmente reconhece o próprio quadro (anosognosia). O nível de
inteligência, orientação temporoespacial e memória tendem a não ser acometidas (exceto quando em
quadro psicótico) ou serem acometidas com a evolução do quadro.

Os sintomas afetivos mais comuns são embotamento e inapropriação do afeto.

A sensopercepção pode apresentar alucinações cenestésicas (percepção de alteração do corpo, como


“minha cabeça está aumentando”, “minha mão está aumentando”), auditivas (vozes ameaçadoras,
acusatórias ou obscenas), táteis, gustativas e visuais.

Delírios de perseguição, grandeza, religiosos, autorreferentes podem estar presentes no conteúdo do


pensamento, assim como afrouxamento dos nexos associativos e incoerência no discurso (o discurso
não faz sentido lógico).

O uso de cocaína pode simular o quadro, sendo importante diagnóstico diferencial, assim como no
transtorno bipolar.

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Diagnóstico
Não existem sinais ou sintomas patognomônicos, de maneira que o diagnóstico é realizado por análise
do quadro clínico pelo médico e por critérios diagnósticos, como o DSM- V (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders – quinta edição).

DSM-V
a. Dois ou mais dos seguintes sintomas devem estar presentes com duração
significativa, por período de pelo menos um mês (ou menos, se tratado
com sucesso). Pelo menos, deve ter:
1. Delírios;
2. Alucinações;
3. Discurso desorganizado;
4. Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico;
5. Sintomas negativos (expressão emocional diminuída ou avolia);

b. Disfunção sócio ocupacional;

c. Duração de pelo menos seis meses com sinais prodrômicos ou residuais,


incluindo pelo menos um mês dos sintomas acima (ou menos, se tratado
com sucesso);

d. Exclusão do transtorno esquizoafetivo e transtorno do humor;

e. Exclusão do uso de substâncias/condição médica geral.

De maneira mais didática a possível, dividiremos as esquizofrenias por subtipos:

1. Tipo de esquizofrenia que é a mais comum, de início tardio e com menor comprometimento
do paciente: esquizofrenia paranoide.

2. Tipo de esquizofrenia de início precoce, antes dos 25 anos, com comprometimento mais
grave do pensamento e incongruência do afeto: esquizofrenia hebefrênica.

Tratamento
Baseia-se no uso de antipsicóticos típicos (1ª geração) e atípicos (2ª geração). Ver quadro de
medicações mais abaixo.

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Transtornos do humor
O humor é a tonalidade de sentimento predominante e mais constante, que pode influenciar a
percepção de si mesmo e do mundo ao seu redor. Para que você tente entender, o humor é como
se fosse o estado de espírito basal, constante, predominante, enquanto afeto é a expressão que um
observador vê, sendo flutuante.
Durante o atendimento médico, verifica-se o humor do paciente durante a anamnese psiquiátrica,
conferindo a condição de eutimia a quem apresenta o humor normal.
Anteriormente, encaixavam-se nos distúrbios do humor a bipolaridade e a depressão, entretanto, a
partir do DSM-V, houve a mudança deste termo para “transtorno bipolar e relacionados” e “transtornos
depressivos”. Iremos abordar de acordo com essa classificação.

Transtorno depressivo
É o transtorno do humor mais comum no mundo, afetando 4,4% da população mundial e 5,8% dos
brasileiros segundo a OMS. No mundo, mais de 300 milhões de pessoas sofrem deste transtorno.
Em sua epidemiologia, verificamos a prevalência 2 vezes maior em mulheres, independente da cultura
ou país. A idade média de início do quadro é aos 40 anos. A etiologia é multifatorial, apresentando
fatores genéticos, biológicos (bioquímicos, com alterações hormonais ou de neurotransmissores) e
psicossociais (influência do meio, como a presença de agentes estressores). O acontecimento mais
correlato à depressão segundo a literatura é a perda de um dos pais antes dos 11 anos.

Quadro clínico e diagnóstico


Pensamos em acoplar as duas situações, pois o diagnóstico, realizado pela observação clínica e/ou
por critérios do DSM-V já clarifica a clínica quando expusermos os critérios.

Critério para episódio depressivo maior do DSM-V

A. Cinco ou mais dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas
semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior. Pelo menos 1 dos
sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer (conhecido como anedonia).
Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações ou
delírios incongruentes com o humor.

1. Humor deprimido na maior parte dos dias quase todos os dias;


2. Interesse ou prazer acentuadamente reduzidos (anedonia);
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (ex. mais de 5% do peso
corporal em um mês) ou diminuição ou aumento do apetite.
4. Insônia ou hipersonia;
5. Agitação ou retardo psicomotor;
6. Fadiga ou perda de energia;
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7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva/inadequada;


8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão;
9. Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida
recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para
cometer suicídio.

B. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou


ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex. droga de
abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (p. ex. hipotireoidismo).
D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por: transtorno
esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro
transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado, ou transtorno
da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado.
E. Nunca houve um episódio maníaco ou hipomaníaco.

O quadro diagnosticado acima é de episódio depressivo maior. Dura, geralmente, de 3 a 12 meses.


Caso o paciente tenha episódios recorrentes durante a sua vida, classificar-se-á como transtorno
depressivo recorrente.
Lembrar que é essencial que saibamos verificar, por meio do julgamento clínico, condições que possam
simular depressão ou apenas tristeza, como falência, perda de ente querido (luto), separações amorosas,
doença médica grave. O DSM-V afirma que a depressão e o luto podem coexistir, dependendo do
julgamento clínico para diferenciação entre ambos. Vamos falar rapidamente sobre luto.

Luto
O luto é um processo multidimensional de reação a uma perda, seja simbólica ou
concreta, validada ou não pela sociedade a que o indivíduo pertence. Pode durar
por períodos variados, podendo chegar a 10 anos de acordo com estudo realizado
na Alemanha (Kersting A. Prevalence of complicated grief in a representative
population-based sample.).
Segundo Elisabeth Kübler-Ross, existem cinco fases do luto:
1. Negação e isolamento;
2. Raiva (revolta);
3. Barganha: a pessoa negocia, geralmente com Deus, a troca de algo pelo favor.
4. Depressão;
5. Aceitação.
Essas fases já foram cobradas em provas de residência anteriormente, de modo
que recomendo que você busque gravá-las.

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Agora, voltando à depressão...


O CID-10 classifica a depressão em leve, moderada ou grave. Entretanto, dificilmente estas definições
são cobradas em prova, de maneira que tendo uma noção básica do quadro clínico, você acertará
grande parte das questões.

Tratamento
Os critérios de internação hospitalar são os seguintes: evidente risco de suicídio, falta de apoio
psicossocial ao paciente, quando há abuso de substância grave ou o paciente não coopera com
o tratamento.
O tratamento pode ser feito com intervenção psicoterápica associada a terapêutica farmacológica.
Caso haja histórico prévio ou familiar de resposta adequada a antidepressivo, este deve ser
tentado em primeiro lugar. A primeira escolha são os inibidores seletivos da receptação de
serotonina (ISRS). A resposta ocorre, geralmente, dentro de 4 semanas. Eletroconvulsoterapia
pode ser utilizada em caso de transtorno depressivo grave com sintomas psicóticos e refratário
ao uso de antidepressivos.
Os medicamentos, seus efeitos colaterais e suas prioridades como escolha serão vistos na tabela de
medicação mais abaixo.

Imagem do paciente depressivo.

Transtorno bipolar e relacionados


Menos comum que a depressão, o transtorno bipolar tem prevalência similar à da esquizofrenia,
cerca de 1% da população mundial. Seu “surgimento” ou primeiro quadro clínico clássico é aos
30 anos, geralmente. É mais comum em pessoas divorciadas ou solteiras.

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Manifestações clínicas
A síndrome depressiva é semelhante à da depressão citada acima. Já a síndrome maníaca apresenta
euforia, ou alegria patológica, como principal aspecto desta. Ocorrem também: aumento expressivo da
autoestima, intensa satisfação pessoal e bem-estar exagerado, taquipsiquismo (aceleração das funções
psíquicas), elação (sentimento de expansão/engrandecimento do eu), aumento da libido, perda de peso,
diminuição da necessidade de sono, logorreia (fala rápida, fluente e persistente), distraibilidade, irritação,
arrogância, desinibição social e sexual, gastos excessivos (sem controle dos impulsos) e pode apresentar
alucinações auditivas associadas a delírio de grandeza/poder. Dificuldade para se concentrar (hipotenaz)
e fácil dispersão ao surgimento de novos estímulos (hipervigil) também podem estar presentes.
A hipomania é a forma clínica atenuada do quadro de mania, podendo apresentar gastos excessivos,
excesso de ideias, entre muitas outras das apresentações citadas acima. Não produz disfunção
social grave.

Critérios para diagnóstico do episódio maníaco (DSM-V)

A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável,


durando pelo menos uma semana (ou qualquer duração, se a hospitalização é necessária).
B. Durante o período de perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes persistem (quatro
se o humor é apenas irritável) e estão presentes em um quadro significativo:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade;
2. Necessidade de sono diminuída;
3. Mais falante do que o habitual ou pressão por falar;
4. Fuga de ideias ou experiências subjetiva de que os pensamentos estão correndo;
5. Distraibilidade;
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou
sexualmente) ou agitação psicomotora;
7. Envolvimento excessivo em atividades prazerosas com alto potencial para
consequências dolorosas (ex.: estourar o limite do cartão de crédito, indiscrições
sexuais ou investimentos financeiros tolos).
C. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar prejuízo acentuado no
funcionamento ocupacional, nas atividades sociais ou relacionamentos costumeiros com
outros, ou para exigir hospitalização, como um meio de evitar danos a si mesmo e aos
outros, ou existem aspectos psicóticos.
D. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por exemplo:
uma droga de abuso, um medicamento ou outro tratamento) ou de uma condição médica
geral (por exemplo: hipertireoidismo).

O DSM exige apenas um episódio maníaco de maneira que o diagnóstico de transtorno bipolar pode
ser feito neste primeiro episódio. Já o CID-10 exige que haja pelo menos dois episódios maníacos para
que este diagnóstico seja feito. Caso contrário, é dado o diagnóstico apenas de mania.
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Classificação do transtorno bipolar

• Transtorno bipolar tipo I: alterna episódios depressivos leves a graves com normalidade e
fases maníacas.
• Transtorno bipolar tipo II: alterna episódios depressivos leves a graves com período de
normalidade e seguidos de fases hipomaníacas. Não apresenta fase maníaca clássica.
• Transtorno bipolar de ciclagem rápida: episódios maníacos e depressivos alternados,
separados por intervalo de 48-72 horas.

Tratamento
O tratamento do transtorno bipolar é realizado por meio do emprego de estabilizadores de
humos, como o carbonato de lítio (primeira linha no tratamento e na profilaxia de episódios),
o ácido valproico/valproato e carbamazepina (esta última no tipo I de transtorno bipolar). Nos
casos agudos de mania, o tratamento é realizado com o emprego de sedativos, principalmente,
clonazepam e antipsicóticos.
Para informações a respeito das medicações, basta olhar a tabela com os medicamentos mais abaixo.

Bipolaridade.

Transtornos alimentares
Anorexia nervosa
Transtorno alimentar com distúrbio da autoimagem em que a paciente se percebe com imagem
diferente da sua real. É considerado o transtorno alimentar mais comum entre os adolescentes,
sendo uma condição psiquiátrica grave e que pode acarretar óbito do paciente. Mais prevalente em
mulheres do que homens e com prevalência mais alta em diversos grupos sociais/profissionais
(bailarinos, estudantes de moda e modelos).

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Quadro clínico
As apresentações clínicas mais comuns da anorexia nervosa são:

1. Restrição persistente da ingestão de alimentos levando a um peso corporal anormal;


2. Medo intenso de ganhar peso ou ficar em sobrepeso/obesidade.
3. Comportamento persistente que visa a perda de peso.
4. Percepção distorcida do peso e da forma corporais.

Outros achados clínicos são: busca incessante por emagrecimento, preocupação obsessiva com
comida, medo de certos alimentos, cardápio restrito na dieta, preferência por alimentos de baixo teor
calórico, aumentar o número estimado de calorias das suas refeições, rituais ao se alimentar (corta
alimentos muito pequenos ou não mistura cores e sabores), preocupação ao comer em público, libido
baixa e rigidez do pensamento.
A associação com outras doenças psiquiátricas é bem documentada, entre elas depressão, transtorno
de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, transtorno dismórfico corporal e abuso de
substâncias.
À medida que a perda de peso se torna aparente, o paciente vai ao encontro do psiquiatra na maioria
das vezes. Com o agravamento do quadro, surgem sinais e sintomas como hipotermia (< 35ºC),
edema, bradicardia, hipotensão, lanugem (surge cabelo de aspecto neonatal), redução da diurese e
amenorreia.
Entretanto, a diminuição do apetite demora a surgir na anamnese do paciente, sendo que muitas das
vezes, ocorre de maneira escondida de sua família. Inclusive, muitas pessoas que sofrem deste mal
demonstram conhecimento grande e pensamento constante em comida. Podem inclusive realizar
ou se fixar em preparar pratos extremamente elaborados. Costumam apresentar, também, episódios
de extrema voracidade com consumo impulsivo de alimentos, entretanto, após isso, podem realizar
episódio de indução de vômitos ou uso de laxantes (purgação).
Sempre importante verificar diagnósticos diferenciais possivelmente causadores de perda de peso
importante e a presença de marcas nos dedos, principalmente na região metacarpofalangiana ou
nas interfalangianas (pacientes podem apresentar devido ao ato de purgação. Quando vão vomitar,
batem os dedos contra os dentes incisivos, causando lesões naquele local).

Diagnóstico diferencial mais importante: bulimia (ver abaixo no texto).

Classificação
Existem diversas classificações, entre elas:

1. Por tipo de anorexia nervosa:


a. Tipo restritivo: paciente não apresenta episódio de compulsão alimentar ou de purgação.
b. Tipo compulsão periódica/purgativo: apresenta episódios de compulsão e de purgação.

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2. Por massa corpórea de acordo com IMC pelo DSM-V:


a. 2.1 - Leve: IMC entre 17 e 18,49 kg/m²
b. 2.2 - Moderado: IMC entre 16 e 16.99 kg/m²
c. 2.3 - Grave: IMC entre 15 e 15,99 kg/m²
d. 2.4 - Extremo: IMC < 15 kg/m²

Critérios de internação:

1. Instabilidade hemodinâmica, com FC < 40 bpm e/ou PA < 80x 60 mmHg;


2. Hipotensão postural – aumento do pulso em > 20 bpm ou redução na PA sistólica ao
permanecer em ortostase.
3. Arritmia cardíaca (QTc > 0,499 msec) ou qualquer ritmo além de bradicardia sinusal ou sinusal.
4. Comprometimento hepático, renal ou cardiovascular que necessitem de estabilização médica.
5. Desidratação importante.
6. Complicações metabólicas importantes causadas pela desnutrição (distúrbios eletrolíticos,
hipoglicemia ou síncope).
7. Massa corpórea < 15 kg/m².

Tratamento: terapia familiar + psicoterapia + emprego de ISRS em doses mais altas.

Bulimia nervosa
Mais comum que a anorexia nervosa, a bulimia consiste de episódios importantes de compulsão
alimentar (com sensação de perda do controle) seguidos de sentimento de culpa, autodepreciação
e mecanismos compensatórios (purgação, exercício físico em alta intensidade/duração ou uso de
diuréticos). Importante lembrar que estes episódios devem ocorrer pelo menos duas vezes por semana
por três meses. O mais importante no diagnóstico diferencial da anorexia é a presença de peso corporal
normal, pouco reduzido ou aumentado, uma vez que na anorexia, o peso corporal está diminuído.
Esta compulsão alimentar periódica antecede os vômitos, em média, por um ano. Os pacientes
costumam ser sexualmente ativos, diferentemente dos anoréxicos.
A bulimia apresenta alta correlação com transtornos de ansiedade, transtorno bipolar tipo I, transtornos
dissociativos e histórias de abuso sexual.

Tratamento: psicoterapia e uso de antidepressivos.

Os próximos transtornos caem de maneira a serem diagnosticados por meio de um caso clínico na
grande maioria das questões. Desta maneira, iremos te dar as ferramentas para acertar estas questões
sem nos estender por longos textos. Vamos ver uma questão para entender como eles caem?
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(UNESP/SP - 2019) Mulher de 32 anos apresenta, há 8 meses, crises intensas de mal-estar,


caracterizadas por taquicardia, dor no peito, tontura, náusea, tremores, sudorese, formigamento
nas mãos, sensação de desmaio e medo de morrer. As crises não têm fatores desencadeantes
específicos e duram cerca de 20 minutos. Atualmente tem medo de ficar sozinha e só sai de casa
acompanhada, pois teme passar mal e já não consegue viajar. Exame físico e subsidiários: normais.
Os diagnósticos mais prováveis são:

(A) transtorno conversivo-dissociativo e fobia social.


(B) transtorno de pânico e distimia.
(C) transtorno de somatização e agorafobia.
(D) transtorno de pânico e agorafobia.

A resposta virá no texto...

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)


Transtorno mais comum entre pacientes que buscam atendimento na unidade primária.
Mais comum em mulheres na segunda década de vida (2M:1H). O diagnóstico se baseia por ansiedade
ou preocupação excessiva com diversos aspectos da vida, por pelo menos 6 meses. Seus sinais e
sintomas consistem em:

1. Sinais autonômicos: taquicardia, vasoconstricção, sudorese, peristaltismo aumentado,


náusea, midríase, vertigem.
2. Musculares: dores e contraturas.
3. Sensitivos: parestesias (principalmente em extremidades).
4. Respiratórios: sensação de sufocamento e globus faríngeo.
5. Psíquicos: insegurança, apreensão, hipervigilância, despersonalização e desrealização
(sensação de irrealidade referida ao local em que se encontra).

Deve-se ter, pelo menos, três ou mais sintomas acima descritos.

Síndrome do Pânico
Mais frequente em mulheres (2M:1H), com surgimento, em média, aos 25 anos. O único fator ambiental
correlacionado é a presença de divórcio. O paciente refere extremo medo, com pensamentos sobre
morte ou catástrofe nas próximas horas ou dias, despersonalização, desrealização. Os sintomas são
semelhantes aos citados na TAG. Agorafobia pode estar associada (Ágora = “mercado” em grego.
Logo, seria como uma fobia de estar em lugares cheios). O tratamento consiste em psicoterapia e uso
de antidepressivos em doses baixas.

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Agorafobia.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo
O paciente apresenta ideias obsessivas de maneira repetida, necessitando da realização de
atos/pensamentos para redução da ansiedade. Para o diagnóstico, o paciente deve reconhecer
que apresenta os comportamentos de maneira irracional ou excessiva. Lavagem de mãos,
verificação se a porta está trancada, pensamentos obscenos ou agressivos e simetria/
organização são os padrões comportamentais mais comuns. A maioria dos casos surge após
um evento estressante. O tratamento é realizado com antidepressivos em doses altas e terapia
cognitivo-comportamental/psicoterapia.

Transtorno de Estresse Pós-Traumático


Ocorre após a experimentação de uma situação extremamente estressante para o paciente (internação
em UTIs, catástrofes, estupro, guerras, entre outros). O paciente afirma sonhar repetidamente com o
ocorrido e/ou sentir-se novamente na situação na maioria das vezes. Começa a ocorrer cerca de até
3 meses após o ocorrido. Pode haver ideação suicida e comportamento agressivo. Tratamento com
psicoterapia e antidepressivos.

Transtornos de Personalidade
A personalidade consiste nos duradouros padrões de comportamento, percepção, relação e
pensamento acerca do ambiente que nos cerca. Um transtorno de personalidade é diagnosticado
quando a pessoa apresenta traços inflexíveis ou mal adaptados às situações sociais, ocupacionais
e funcionais. Seu pensamento, conjunto de emoções, impulsividade e comportamento interpessoal
devem se desviar de maneira importante do que é esperado como normal pela cultura na qual a
pessoa está inserida.
Na residência médica, são cobrados de acordo com os estereótipos de cada transtorno,
apresentando-se por meio de casos clínicos. Desta forma, colocaremos breves descrições com
estereótipos associados ao agrupamento feito pelo DSM-V visando maior clareza e didática.
O DSM-V apresenta 10 transtornos de personalidade agrupados 3 três grandes grupos (livre tradução
inglês-português):
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Psiquiatria e neurofármacos

Grupo A: diferentes e excêntricos:


• Paranoide: desconfiam das outras pessoas e acham que serão enganados a
todo custo. Podem ser hostis ou emocionalmente desapegadas.

• Esquizoide: acima em esquizofrenia.

• Esquizotípico: acima em esquizofrenia.

Grupo B: dramáticos, emocionais ou erráticos:


• Antissocial: paciente não reconhece sentimento/expectativas de terceiros.
Tende a mentir compulsivamente, realizar furtos/roubos, agredir e se afeiçoa a
comportamentos ilegais.

• Borderline (mais cai em provas): apresenta medo de abandono, relacionamentos


instáveis, impulsivos e intensos. Podem apresentar comportamento
autodestrutivo (inclusive tentativa de suicídio) e sensação crônica de vazio.

• Histriônico: teatral, emotivo e dramático, o paciente histriônico necessita de


atenção e aprovação social de maneira excessiva. Pode utilizar de sua aparência
física para consegui-los.

• Narcisista: autoestima extremamente inflada e necessidade de admiração.


Apresentam fantasias com sucesso, poder e beleza. Costumam ter pouca
empatia/preocupação com os outros.

Grupo C: ansiosos ou com medo:


• Esquiva: evitam interação social e são sensíveis aos julgamentos negativos.
Podem ser tímidas, isoladas e ter sentimento de inadequação social.

• Dependente: apresenta dificuldade de se separar de seus entes queridos ou


tomar decisões de maneira independente. Pode ser bastante submisso, tolerando
relações abusivas.

• Obsessiva-compulsiva: preocupadas com regras e ordem. Valorizam o


trabalho acima de outros aspectos da vida. São perfeccionistas e necessitam
estar no controle.

Agora ficou fácil acertar a questão! Os sintomas de transtorno do pânico estão bem claros. Olhando
as alternativas, verificamos que a melhor resposta é a letra D, apesar da agorafobia estar mal
especificada e pouco clara na questão... Isso me lembra um grande ensinamento das provas de
residência: não briguem com a questão! Deixa para quem brigar, pedir recurso! Acerta, anota o ponto
e passa para a próxima!
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Psiquiatria e neurofármacos

MEDICAMENTOS EMPREGADOS NA PSIQUIATRIA


QUE TÊM RELEVÂNCIA NAS PROVAS DE RESIDÊNCIA

Droga Grupo Farmacológico Efeitos Adversos Observações

Risco de síndrome de
descontinuação,
Escitalopram Drogas de 1ª linha se interrupção abrupta Boa escolha para o
Prolongamento do intervalo QT tratamento inicial da
Inibidores Seletivos da depressão na maioria dos
Recaptação de Serotonina idosos
Risco relacionado com a dose do
Citalopram Efeitos colaterais:
prolongamento do QT
Em especial em idosos incluem
parkinsonismo, acatisia, Sintomas gastrointestinais
anorexia, bradicardia sinusal e (diarreia, naúseas)
Sertralina hiponatremia Síndrome de descontinuação se
interrupção abrupta
SIADH
Pode ser útil para o
Interações medicamentosas tratamento de pacientes
Fluoxetina Drogas de 1ª linha significativas. deprimidos com baixa
Inibidores Seletivos da energia ou hipersonia.
Recaptação de Serotonina
Associado a sintomas de
Paroxetina
descontinuação mais graves.

Venlafaxina Pode causar aumento da pressão


Pode ser útil para o
arterial dependente da dose
tratamento de pacientes
Inibidores de recaptação de (principalmente diastólica) e
deprimidos com baixa
Desvenlafaxina serotonina-noradrenalina (ISRNs) frequência cardíaca. Monitore a
energia ou hipersonia.
pressão arterial regularmente.
Drogas de 2ª linha
Interações medicamentosas
Duloxetina
significativas.

Boa para insônia (em


Mirtazapina especial em doses
Sonolência, ganho de peso.
baixas 15mg), agitação,
Droga de 2ª linha Relatos raros de agranulocitose.
inquietação, anorexia e
perda de peso
A bupropiona é contraindicada
em pacientes com distúrbios Utilizado em pacientes que
Antidepressivos atípicos convulsivos, uso concomitante
Bupropiona buscam parar de fumar.
de benzodiazepínicos ou
outros depressores do SNC, Fazer de dia, estimulante.
desintoxicação do álcool
Trazodona
(mais utilizada para Priapismo em homens
indução de sono)

17
Psiquiatria e neurofármacos

1. Utilizado em status
epilepticus.
Podem causar tontura,
2. Pode causar
Diazepam Benzodiazepínicos hipotensão, cefaleia e aumentam
dependência.
risco de quedas.
Apresentam 5 efeitos possíveis: 3. Causa relaxamento da
musculatura esquelética.
1. Sedativos
2. Hipnóticos Apresenta a 3ª meia vida
mais rápida, perdendo
3. Ansiolíticos
Lorazepam Tontura e sedação apenas para o midazolam
4. Relaxantes musculares e alprazolam. Primeira
escolha em catatonia.
5. Anticonvulsivantes
Apresentam abstinência se
Pode ser utilizado em
retirada abrupta. Tontura, ataxia e transtornos
Clonazepam epilepsia e distúrbios do
comportamentais
Muito cobrados nas provas. movimento

½ vida dura 12 horas, sendo


Alprazolam Sedação
considerado de ação curta.

Questões com jovens com


poliúria, hipernatremia e
Pode causar hipotireoidismo,
alguma clínica psiquiátrica
Lítio (cai muito) diabetes insipidus nefrogênico,
podem perguntar o
tremores e hipernatremia
Estabilizadores de humor diagnóstico (bipolar) ou a
medicação utilizada (lítio)
Antiepilépticos com função de
Ácido valproico/ estabilização do humor Cefaleia, tontura, trombocitopenia
valproato e tremores

Utilizado no transtorno
Carbamazepina Hiponatremia, tontura e vertigem
bipolar tipo I

Antipsicótico típico Bastante utilizado em


Haloperidol Reação extrapiramidal e emergências psiquiátricas,
de alta potência
(cai muito) parkinsonismo é uma droga com ampla
Típicos = bloqueiam receptor D2 janela terapêutica.

Pode ser utilizada para


Clorpromazina Hipotensão e sedação
Antipsicótico típico de baixa curar soluços.
potência Utilizada para insônia e
Levomepromazina Sedação
ansiedade

Risperidona Sedação

Olanzapina Sedação
Antipsicóticos atípicos
Pode causar leucopenia
Clozapina
importante

Quetiapina Sedação

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Psiquiatria e neurofármacos

Antidepressivos É um dos que mais apresenta Utilizado como


Tricíclicos efeitos colaterais, tendo ação profilaxia de migrânea,
Amitriptilina
anti-histamínica e anticolinérgica antidepressivo e para dor
(Todos bloqueiam receptores importante. neuropática.
histamínicos H1, muscarínicos M1
(causando sedação) e receptores Duas vezes mais potente
alfa adrenérgicos, podendo e com menos efeitos
Nortriptilina causar efeitos cardíacos, Menos efeitos colaterais
colaterais que a maioria dos
anticolinérgicos (sendo usado tricíclicos
com cuidado em pacientes
idosos) como boca seca, Utilizado em enurese
Imipramina constipação, turvação visual e noturna (criança que faz
confusão/delirium. diurese na cama).

Utilizado em insônia.
Zolpidem imidazopiridinas
Sem ação psiquiátrica.

A síndrome neuroléptica maligna é uma complicação possível após o uso de neurolépticos e consta
de: mudança do status mental (com mutismo ou outros sinais catatônicos), rigidez muscular,
hipertermia (temperaturas maiores que 40ºC são comuns nessa situação) e intabilidade autonômica
(taquicardia, hipotensão postural, taquipneia e arritmias). Diaforese (sudorese profusa é comum).
O tratamento é feito com suporte clínico, cessação do agente causador e Dantrolene (relaxante
muscular que age na hipertermia com sucesso) e/ou bromocriptina (agonista dopaminérgico que tem
a função de reestabelecer as reservas de dopamina).

#JJTop3

Delirium e seus diagnósticos diferenciais.

Transtornos do humor.

Síndromes ansiosas.

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