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Hipertensão
Arterial
Sistêmica

Universidade Federal da Grande Dourados


Profª. Flávia Marin- 1o Semestre de 2020
Conceituação:

 Pressão arterial (PA): força exercida na parede


das artérias por unidade de área:

- PAS (sistólica): PA durante a fase de


contração do ciclo cardíaco.

- PAD (diastólica): PA durante a fase de


relaxamento do ciclo cardíaco.
Conceituação:

 Hipertensão arterial (HA): condição clínica


multifatorial caracterizada por elevação sustentada
dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg;

- Associada a distúrbios metabólicos,


alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos
(coração, rins e vasos sanguíneos).

- Agravada pela presença de outros fatores de


risco (FR): dislipidemia, obesidade abdominal,
intolerância à glicose e diabetes melitus (DM).

VII Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2016


 Associação independente: eventos como morte súbita,
acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do
miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença
arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC),
fatal e não fatal

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O PROBLEMA

“O seu primeiro sintoma


pode ser o último, sem
despedidas...”

J Am Coll Cardiol. 2011 Feb 15;57(7):794-801.


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EPIDEMIOLOGIA

 Brasil:HA presente em 32,5% de adultos, mais de


60% dos idosos, contribuindo direta ou
indiretamente para 50% das mortes por doença
cardiovascular (DCV)

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Mortalidade por HA e DCV no Brasil:

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 Prevalência
de HA varia de acordo com o método
e a população estudada;

 Piconet al., (2013): meta-análise (n=13.978 idosos)


de estudos brasileiros, prevalência de HA de 68%.

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ETIOPATOGENIA

 De origem primária ou secundária

 Cerca de 90 a 95% apresentam hipertensão


essencial ou primária.

- Causa multifatorial;

- Combinação de GENÉTICA e fatores


ambientais (especialmente estilo de vida).

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Idade: relação direta e linear da PA, prevalência de HA
superior a 65% acima de 60 anos;

Etnia: HA mais prevalente em indivíduos de cor preta


afro-americanos (possivelmente < eficiência na excreção
de Na, comparados aos brancos);

Excesso de peso/ obesidade/ adiposidade abdominal:


incremento no IMC acarreta aumento do risco HA,
hiperinsulinemia.
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Inflamação crônica: elevação de marcadores


inflamatórios, como PCR, que inibe a formação de
óxido nítrico, gerando vasoconstrição.

Sedentarismo: prevalência de 75,8% na HA

Estresse: aumento da atividade


simpática
Ingestão alcoólica prolongada: consumo
diário a partir de 30g (ambos os sexos)

Ingestão excessiva de (Na):


principalmente em indivíduos com
sensibilidade ao Na (predisposição
genética)

Excesso de Na  eleva a PA por


aumento da volemia  aumento do
débito cardíaco.
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 Hipertensão secundária: decorrente de outra


doença (5%)

As principais doenças relacionadas a esse tipo


de hipertensão são:

• Hiperaldosteronismo (tumores de supra-renal);


• Síndrome de Cushing;
• Doença renal crônica.
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FISIOPATOLOGIA

 HA: resultado do aumento do débito cardíaco e /ou


resistência periférica

 Osprincipais reguladores são o sistema nervoso


simpático (SNS) e o rim.

- SNS (para controle a curto prazo):

Em resposta a Age nos vasos: 


uma queda na PA, resistência vascular  PA
o SNS secreta periférica
norepinefrina (vasoconstrição)
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- Rim (para controle a longo prazo):

Volume
RIM do fluido SRAA
Regulação EC
Sistema renina- 16
angiotensina-aldosterona
(SRAA)
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Mecanismos fisiopatológicos

• GENÉTICA
- Superativação do SRAA (retenção de Na e
produção de angiotensina II- vasoconstrição);
- Disfunção endotelial: hipertrofia e hiperplasia da
parede vascular; excesso de endotelina.

• AMBIENTAIS
- Superativação do sistema nervoso simpático
- Níveis elevados de marcadores inflamatórios
- Hiperinsulinemia
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Efeito antinatriurético
da insulina

Atividade HIPERINSULINEMIA
aumentada do  Vasoconstrição
x
sistema nervoso  Vasodilatação
simpático HAS

Estímulo do
crescimento do
músculo liso vascular
Fatores de risco para HA

 Idade (homem > 55 e mulheres > 65 anos)


 Sexoe etnia (discretamente > em mulheres e pessoas
de raça negra/cor preta (estudos populacionais)
 Excesso de peso e obesidade
 Ingestão de sal (excede mais de 2x o recomendado)
 Ingestão de álcool
 Sedentarismo

 Fatores socioeconômicos (< nível escolaridade


apresentam > prevalência HA)
 Genética

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DIAGNÓSTICO

Classificação de acordo com a medida casual


no consultório* (>18 anos) de PA
Classificação Pressão Sistólica Pressão Diastólica
(mmHg) (mmHg)

Normal ≤ 120 ≤ 80
Pré-hipertensão 121-139 81-89
Hipertensão estágio 1 140-159 90-99
Hipertensão estágio 2 160-170 100-109
Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110

*validado por medidas repetidas, em condições ideais

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Estratificação de risco

 Para a tomada da decisão terapêutica é necessária a


estratificação do risco cardiovascular global.

 Para isso, deve-se levar em conta, além dos valores de


PA, a presença de fatores de risco e de lesões em
órgãos-alvo e/ou doenças já estabelecidas.
Avaliação laboratorial na HA 22

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Fatores de risco CV adicionais

 Tabagismo

 Dislipidemias: TG>150mg/dL; LDL-C>100mg/dL; HDL-


C < 40mg/dL

 Diabetes Mellitus (DM)

 História
familiar de DCV (homens < 55 anos e
mulheres < 65 anos)

 Novos FR: glicemia em jejum entre 100mg/dL e


125mg/dL (intolerância à glicose), hemoglobina
glicada (Hba1c) anormal, obesidade abdominal,
história de pré-eclâmpsia e história familiar de HA

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Estratificação de risco

 Pacientes com diabetes melitus e lesões em órgão-alvo


são considerados de alto risco cardiovascular

Independente dos valores de PA: PA na faixa de pré-


hipertensão ou PA normal

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Estratificação do risco CV global:

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TRATAMENTO

 Objetivo: reduzir a mortalidade e a morbidade por


AVE, doença cardíaca (IAM) associada à hipertensão
e DRC.

 2 tipos de abordagem:

- não-medicamentoso: mudanças de estilo de


vida (MEV), como terapia nutricional.

- medicamentoso: drogas anti-hipertensivas.


DECISÃO TERAPÊUTICA

Recomendações para início de terapia anti-


hipertensiva farmacológica e MEV

 Indivíduos com PA 130-139/85-89 mmHg e DCV


preexistente ou alto risco CV e todos estágios da HÁ
tem indicação de drogas anti-hipertensivas;

Exceção: poderá aguardar 3 a 6 meses pelo efeito


de MEV: HA em estágio 1 e risco CV baixo ou
moderado.
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Medicações usuais

Diuréticos: tiazídicos (hidroclorotiazida); diuréticos de alça,


(furosemida); poupadores de K (espirolactona).

Inibidores adrenérgicos: ação central (alfametildopa,


clonidina); betabloqueadores (atenolol, propranolol,
carvedilol);

Vasodilatadores diretos: hidralazina, minoxidil

Bloqueadores de canais de Ca: nifedipino, anlodipino,


felodipino

Inibidores da ECA: captopril, enalapril

Bloqueadores da AT1 da angiotensina II: candesartana,


valsartana, losartana
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Interações droga-nutriente

Diuréticos:

- Tiazídicos e diuréticos de alça: elevam o risco de


hipopotassemia

- Diurético poupador de K em pacientes com redução


da função renal poderão acarretar hiperpotassemia.

- A hipopotassemia pode estas acompanhada por


hipomagnesemia (arritimias ventriculares)
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Tratamento não-medicamentoso (MEV)

Padrão alimentar
saudável • Consumo controlado de
sódio

• Controle do peso e
• Controle do estresse prática de atividade
física

• Cessação ao tabagismo
e alcoolismo
Medidas de avaliação e acompanhamento
nutricional

 Antropometria

- Peso atual (kg)

- Altura (m)

- IMC (kg/m2)

- Circunferência abdominal: recomendados pela


International Diabetes Federation (IDF) de 2006): ≥ 90 cm para
homens e ≥ 80 cm para mulheres
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Controle de peso

 Relação: aumento de peso e da PA é linear (adultos e


crianças);

 Gordura visceral (circunferência abdominal/cintura-CC):


fator de risco para a HA;

 Perda de peso e da CC correlacionam-se com reduções


da PA e melhora de alterações metabólicas associadas.
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 As metas antropométricas:

IMC < 25kg/m2 (adultos) e demais de acordo com a faixa


etária.

- Circunferência da cintura (IDF, 2006)

 Ingestão energética: suficiente para manter ou alcançar


adequado estado nutricional.

 Padrão alimentar saudável e sustentável: avaliado na


totalidade (sinergismo entre nutrientes)
Dietas sugeridas 34

• Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension): enfatiza o


consumo de frutas, hortaliças e laticínios com baixo teor de
gordura; inclui a ingestão de cereais integrais, frango, peixe e
frutas oleaginosas; preconiza a redução da ingestão de carne
vermelha, doces e bebidas com açúcar.

 Benefícios (da DASH sobre a redução da PA): associados ao alto


consumo de K, Mg, Ca e fibras, e à baixa ingestão de colesterol, gordura
total e saturada.

• Dietas vegetarianas: rica em frutas, hortaliças, grãos integrais,


leguminosas, oleaginosas; associada aos menores valores de PA

• Dieta do Mediterrâneo: rica em frutas, hortaliças, cereais integrais,


óleo de oliva, oleaginosas e peixes, e vinho (moderado).
Limitação de estudos, mas parece ter efeito hipotensor.

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Controle do sódio

 Recentemente a OMS considerou a quantidade


máxima saudável para ingestão diária de sal:

 5g de cloreto de Na (corresponde a 2g de Na).

 Em termos práticos: reduzir a ingestão de Na para 2 g


(ou 5 g de Na Cl/dia) = 3 colheres de café rasas de sal
= 3 g + 2 g de sal dos próprios alimentos
Tratamento não-medicamentoso (MEV)

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Minerais importantes na prevenção e
tratamento da HA

Mineral* Efeito na PA Alimento-fonte

Potássio - Efeito natriurético; Verduras folhosas verdes,


4700 mg - Inibição da liberação de renina; frutas e raízes. Ex.: laranja,
-  vasodilatação e  batata inglesa, beterraba,
vasoconstrição feijão, banana etc.

Cálcio - Efeito natriurético. Leite e derivados e


1000 mg vegetais folhosos.

Magnésio -  contratilidade vascular; Verduras folhosas verde-


320 mg -  a produção de prostaglandina escuras, castanhas, cereais
I2 (vasodilatador). integrais.

* Atender as DRIs.
Alimentos/nutrientes que auxiliam na 38

redução da PA
 Fibras: solúveis presentes em farelo de aveia, pectina (frutas) e
gomas (aveia, cevada, leguminosas: feijão, grão-de-bico,
lentilha e ervilha) e insolúveis (farelo de trigo, grãos integrais,
hortaliças). Redução da PA (destaque beta-glucano da aveia).

 Oleaginosas: consumo de diferentes tipos de castanha reduzem


a PA (estudo de meta-análise).

 Alho: componentes bioativos (alicina, s-alil-cisteína); discreta


redução na PA.

 Chocolate amargo: com 70% de cacau, discreta redução


(polifenóis)

 Café e chá verde: devido aos polifenóis, pode ter efeito positivo
no consumo moderado (cafeína)
Ácidos graxos insaturados

 Ácidos graxos ômega-3 provenientes dos óleos de peixe


(eicosapentaenóico – EPA e docosaexaenóico - DHA):
associados com redução modesta da PA.

 Estudos recentes indicam que a ingestão ≥ 2g/dia de


EPA+DHA reduz a PA e que doses menores (1 a 2 g/dia)
reduzem apenas a PAS.

 O consumo de ácidos graxos monoinsaturados também


tem sido associado à redução da PA.
American Heart Association (AHA) para tratamento e
+ prevenção secundária da DCV

Terapia Nutricional

Nutrientes Ingestão recomendada

Ácido graxo (AG) saturado < 7% do valor energético total - VET

AG poli-insaturado Até 10% do VET

AG monoinsaturado 10 a 15% do VET

Lipídios totais Até 30% do VET


Carboidrato 50-60% do VET
Proteína 15% do VET
Fibra alimentar 25-30 g/dia (25% solúveis)
Colesterol < 200 mg/dia
Energia Manutenção do peso saudável
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 Orientação nutricional a pacientes hipertensos deve


preconizar:

- a não ingestão de produtos processados, como


enlatados, embutidos, conservas, molhos prontos, caldos de
carne, temperos prontos, defumados, bebidas isotônicas;

- preparar as refeições com pouco sal ou sem sal


(acréscimo de 1 a 2g por refeição) e não utilizar saleiro à
mesa; usar em abundância temperos naturais: alho, cebola,
salsinha, cebolinha, manjericão.
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Exercício físico

 Benefícios:

- reduz diretamente a PA;

- diminui o peso corpóreo;

- possui ação coadjuvante no tratamento das


dislipidemias/ DCV e da resistência à insulina;

- auxilia no controle do estresse.

 Prescrição e acompanhamento do educador físico.


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Caso clínico
P. F. G., sexo feminino, 47 anos, professora ensino fundamental
público, divorciada.
DADOS CLÍNICOS
- Queixa: no atendimento ambulatorial referiu estar insatisfeito com
sua imagem corporal e aumento da PA (150x90mmHg).
- História da doença pregressa: relatou ganho de peso acentuado
nos últimos 6 meses (cerca de 10kg) e em tratamento para HÁ há 1
ano, porém com picos hipertensivos nos últimos 2 meses.
- História familiar: pai hipertenso e diabético; mãe falecida por
infarto agudo do miocárdio.
- Sedentária, ex-fumante, interrompido o tabagismo há 12 anos,
trabalha em 2 turnos, 2x/semana e 3 turnos, 3x/semana.

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Captopril e hidroclorotiazida (café da manhã)
Caso clínico 44

 HISTÓRIA DIETÉTICA
Relata não ter aversões nem intolerâncias alimentares.
Consumo elevado de gordura saturada e sódio, baixo em
fibras, com reduzida ingestão de hortaliças. Refere realizar três
refeições ao dia (café da manhã, almoço e jantar).

 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA

Peso atual (kg) 92,5


Peso habitual (kg) 75,0
Estatura (m) 1,59
CC (cm) 114,0
Caso clínico 45

 PEDE-SE:
1) Diagnóstico nutricional
2) Fisiopatologia da doença apresentada
(esquematizada)
3) Fatores de Risco HA e adicionais para DCV (classificar
o risco CV)
4) Diretrizes do tratamento dietoterápico
5) Prescrição dietética: energia, macronutrientes e
micronutrientes de interesse.
6) 5 orientações nutricionais individualizadas

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