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ESQUIZOFRENIA E OUTROS

TRANSTORNOS PSICÓTICOS
Prof. Eugênio de Moura Campos
FAMED/UFC
ESQUIZOFRENIA (S) ?
• Uma doença com várias apresentações sindrômicas?

• Várias doenças com manifestações clínicas semelhantes?

• ...A esquizofrenia é um transtorno de causas múltiplas,


sintomatologia diversa, curso variado, evolução clínica incerta e
respostas terapêuticas diferenciadas.
TRANSTORNOS PSICÓTICOS

OMS, 1993
 “Psicótico é um termo que indica a presença de
alucinações, delírios ou de um número limitado de várias
anormalidades de comportamento, tais como excitação e
hiperatividade grosseiras, retardo psicomotor marcante e
comportamento catatônico.”
TIPOS DE TRANSTORNOS PSICÓTICOS
(CID 10)

Esquizofrenia

Transtornos delirantes persistentes

Transtornos delirantes induzidos

Transtornos psicóticos agudos e transitórios

Transtornos esquizoafetivos

Transtornos psicóticos decorrentes do uso de substâncias
psicoativas

Transtornos psicóticos decorrentes de lesão e disfunção
cerebrais e de doença física
ESQUIZOFRENIA
EPIDEMIOLOGIA

Prevalência de 1% na população geral

Incidência: 1,5 novos casos por ano a cada 10.000 habitantes
(predominantemente adultos jovens 20-30 anos)

Diferenças entre os sexos:
 Em homens:

Levemente mais prevalente (1,4 : 1,0)

Idade de início mais precoce

Pior prognóstico

5% dos pacientes cometem suicídio durante a vida
(Abel, Drake e Goldstein, 2010; Grossman et al., 2008; Usall et al. 2003; Hor e Taylor, 2010)
ETIOLOGIA

Fatores genéticos → Provável herança poligênica
 Estudos com famílias

Risco quando um dos pais é esquizofrênico: 10 a 15%
 Estudos com gêmeos

Concordância em monozigóticos: 40 a 50%

Concordância em dizigóticos: 10 a 15%

Porém, 85% das pessoas com esquizofrenia não têm parentes de


primeiro grau com a doença
FISIOPATOLOGIA

Teorias bioquímicas
 Dopamina

Bloqueio dopaminérgico por antipsicóticos atenua os sintomas
da esquizofrenia

Sintomas semelhantes aos da esquizofrenia podem ser
induzidos por drogas dopaminérgicas (ex.: anfetamina)

 NMDA
• Antagonistas como fenciclidina e ketamina podem produzir
sintomas psicóticos, negativos e cognitivos
FISIOPATOLOGIA

Alterações estruturais
 Processo patológico que acontece no início da vida e
resulta em desenvolvimento neurológico anormal
 Evidências de anormalidades cerebrais:

Alargamento dos ventrículos

Redução no volume cortical

Assimetria em lobos temporal, frontal e occipital
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS (CID 10 –
F20)
G1: Pelo menos um dos sintomas e sinais das síndromes listados abaixo no item (1) ou pelo
menos dois dos sintomas e sinais listados no item (2) devem estar presentes durante a maior
parte do tempo de um episódio de doença psicótica, durando pelo menos um mês (ou pelo
menos algum tempo durante grande parte do dia).
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS (CID 10 –
F20)
(1) Pelo menos um dos seguintes:

a) eco do pensamento, inserção ou roubo do pensamento, e irradiação do pensamento;

b) delírios de controle, influência ou passividade claramente referindo-se ao corpo ou


movimentos dos membros ou pensamentos específicos, ações ou sensações; percepção
delirante;

c) vozes alucinatórias fazendo comentários o comportamento do paciente, ou discutindo sobre


o paciente entre elas ou outros tipos de vozes alucinatórias vindas de alguma parte do corpo;

d) delírios persistentes de outros tipos que são culturalmente inapropriados e completamente


impossíveis, tais como identidade religiosa ou política, ou poderes e capacidades sobre-
humanas (ex.: ser capaz de controlar o tempo ou comunicar-se com seres extraterrenos);
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS (CID 10 – F20)
(2) Ou pelo menos dois dos seguintes:
e) alucinações persistentes de qualquer modalidade, quando acompanhadas por delírios
“superficiais” ou parciais, sem claro conteúdo afetivo, ou por ideias sobrevalorizadas persistentes
ou quando ocorrem todos os dias durante semanas ou meses continuamente;
f) interceptações ou interpolações no curso do pensamento resultando em discurso incoerente,
irrelevante ou neologismos;
g) comportamento catatônico, tal como excitação, postura inadequada ou flexibilidade cérea,
negativismo, mutismo, estupor;
h) sintomas “negativos”, tais como apatia marcante, pobreza do discurso e embotamento ou
incongruência de respostas emocionais, usualmente resultando em retraimento social e
diminuição do desempenho social;
i) uma mudança significativa e consistente da qualidade global de alguns aspectos do
comportamento pessoal, manifestada por perda de interesse, falta de objetivos, inatividade, uma
postura voltada para si mesmo, retraimento social.
TIPOS CLÍNICOS

Paranoide
 Alucinações e idéias delirantes, principalmente de conteúdo
persecutório

Hebefrênica
 Pensamento desorganizado, comportamento bizarro e afeto pueril

Catatônica
 Alterações motoras, hipertonia, flexibilidade cérea e alterações da
vontade

Indiferenciada
 Pacientes que satisfazem os critérios para esquizofrenia mas não
satisfazem os critérios para os subtipos acima
TIPOS CLÍNICOS

Depressão pós esquizofrênica
 Após um episódio psicótico agudo até 25% dos pacientes
podem evoluir com um episódio depressivo e aumento do
risco suicida

Residual
 Embotamento afetivo, retraimento social, pensamento ilógico,
perda de associações

Simples
 Lento e progressivo empobrecimento psíquico e
comportamental com perda da vontade e da ambição
SÍNDROME AGUDA
(PREDOMÍNIO DE SINTOMAS POSITIVOS)

Aparência e comportamento
 Preocupado, inativo, isolado
 Inquieto, barulhento, inconsistente

Humor
 Mudança de humor
 Embotamento
 Incongruência

Pensamento
 Pensamento vago
 Alteração da forma do pensamento
 Alteração do curso do pensamento
SÍNDROME AGUDA
(PREDOMÍNIO DE SINTOMAS POSITIVOS)

Alucinações
 Auditivas
 Visuais
 Táteis, olfativas, gustativas

Delírios
 Especialmente persecutórios

Orientação: normal

Atenção: prejudicada

Memória: normal

Insight: prejudicado
SÍNDROME CRÔNICA
(PREDOMÍNIO DE SINTOMAS NEGATIVOS)

Falta de energia e atividade

Isolamento social

Alterações do pensamento (semelhantes à síndrome aguda)

Alterações do movimento
 Estupor e excitação
 Movimentos anormais
 Tônus anormal

Fala
 Diminuição da quantidade
 Evidência de alteração do pensamento
SÍNDROME CRÔNICA
(PREDOMÍNIO DE SINTOMAS NEGATIVOS)

Alteração do humor
 Embotamento
 Incongruência
 Depressão

Alucinações e delírios (semelhantes à síndrome aguda)

Orientação: desorientação em relação à idade

Atenção: normal

Memória: normal

Insight: variável
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Síndromes orgânicas
 Jovem: psicose induzida por drogas, epilepsia lobo temporal
 Idoso: delirium, demência


Outros transtornos psicóticos
 Transtorno delirante persistente
 Transtorno delirante induzido
 Transtorno esquizoafetivo
 Transtornos psicóticos agudos e transitórios
CURSO E PROGNÓSTICO

Curso variável, frequentemente crônico com recaídas

Fatores que predizem mau prognóstico
 Aparecimento insidioso
 Primeiro episódio longo
 História psiquiátrica prévia
 Sintomas negativos
 Início precoce
 Sexo masculino
 Personalidade pré-mórbida alterada
 Pouco suporte social e familiar
 Má adesão terapêutica
TRATAMENTO

Terapia farmacológica
 Drogas antipsicóticas → Bloqueio dopaminérgico
 Efeito sedativo imediato seguido de efeito antipsicótico
 Iniciar em dose baixa e aumentar gradualmente
TRATAMENTO

Antipsicóticos de primeira geração ou típicos
 Haloperidol, Clorpromazina, Tioridazina, Sulpirida,
Pimozida, Levomepromazina
 Efeitos colaterais mais comuns:

Sedação

Efeitos extrapiramidais (distonia, parkinsonismo)

Efeitos anticolinérgicos (boca seca, visão turva, constipação)
TRATAMENTO

Antipsicóticos de segunda geração ou atípicos
 Clozapina, Olanzapina, Quetiapina
 Risperidona, Paliperidona, Ziprasidona
 Aripiprazol
 Efeitos colaterais mais comuns

Cardiovasculares (taquicardia, hipotensão)

Metabólicos (diabetes, dislipidemia)

Ganho de peso
TRATAMENTO

Pacientes refratários à terapêutica usual
 Clozapina
 Eletroconvulsoterapia

Pacientes com sintomas afetivos proeminentes
 Antidepressivos
 Lítio
TRATAMENTO

Terapia psicossocial
 Psicoeducação e terapia de família
 Terapia cognitivo-comportamental
 Terapias de orientação psicodinâmica
 Treinamento de habilidades sociais

Meta de reabilitação social (APA, 1997)
 “Otimizar a recuperação dos pacientes, tentando melhorar o
desempenho em papéis sociais, ocupacionais, educacionais e
familiares a fim de conseguir o mais alto nível de qualidade de
vida alcançável por cada um”
TRATAMENTO

Tratamento multidisciplinar
 Equipe mínima: psiquiatra, psicólogo, enfermeiro,
terapeuta ocupacional, assistente social

Programas
 Internação hospitalar a curto prazo
 Hospital dia
 CAPS
 Ambulatório
 Residências terapêuticas
OUTROS TRANSTORNOS
PSICÓTICOS
TRANSTORNO DELIRANTE
PERSISTENTE

Principal característica
 Presença de um delírio isolado ou de um conjunto de
delírios relacionados entre si geralmente persistentes

Conteúdos delirantes mais frequentes
 Persecutório
 Ciúmes
 Erotomaníaco
 Somático
 Grandiosidade
TRANSTORNO DELIRANTE
PERSISTENTE

Epidemiologia
 Prevalência: 0,2 a 0,3%
 Incidência anual: 1 a 3 casos por 100.000 habitantes
 Idade média de início: 40 anos
 Diferenças de gênero

Discreta predominância no sexo feminino

Homens → Conteúdo persecutório

Mulheres → Conteúdo erotomaníaco
TRANSTORNO DELIRANTE
PERSISTENTE

Após o tratamento a longo prazo
 50% apresentam remissão total
 20% apresentam melhora parcial
 30% não exibem quaisquer mudanças

Fatores de bom prognóstico
 Sexo feminino
 Alto nível social e ocupacional
 Início súbito e precoce (antes dos 30 anos)
 Episódio de duração reduzida
TRANSTORNO DELIRANTE
PERSISTENTE

Tratamento farmacológico
 Drogas antipsicóticas
 Iniciar com doses baixas e aumentar gradualmente
 É frequente a má adesão terapêutica, pois os pacientes
podem incluir o tratamento no sistema delirante.
TRANSTORNO DELIRANTE INDUZIDO

Transtorno raro em que um delírio é partilhado por duas pessoas
que mantêm laços emocionais íntimos (folie à deux).

O caso primário (indutor) em geral sofre de um transtorno
psicótico genuíno e possui uma personalidade dominante.

O caso secundário (induzido) normalmente é sugestionável e
possui um atitude passiva.

Quando promove-se a separação do casal, o delírio tende a
desaparecer no paciente que foi induzido.

O tratamento do caso primário normalmente deve ser feito com
drogas antipsicóticas.
TRANSTORNOS PSICÓTICOS AGUDOS
E TRANSITÓRIOS

Caracterizam-se por início agudo seguido de recuperação completa
em até três meses.

Frequentemente encontra-se um estresse agudo associado
 Luto
 Divórcio
 Perda do emprego
 Traumas psicológicos diversos

Em todos os casos não há evidência de causa orgânica

O tratamento deve ser realizado com drogas antipsicóticas e
psicoterapia
TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO

Principais características
 Ocorrem conjuntamente manifestações de esquizofrenia e
de transtorno do humor
 Tanto os sintomas psicóticos quanto os sintomas afetivos
são proeminentes simultaneamente dentro do mesmo
episódio da doença
 Subtipos

Bipolar

Depressivo
TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO

Epidemiologia
 Prevalência < 1% (0,5 a 0,8%)
 Diferença entre os sexos (H : M)

Subtipo bipolar 1 : 1

Subtipo depressivo 2 : 1
 Diferença entre as faixas etárias

Subtipo bipolar → Jovens

Subtipo depressivo → Idosos
 Frequentemente ocorre erro ou confusão diagnóstica
TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO

Fatores de mau prognóstico
 História familiar de esquizofrenia
 Predominância de sintomas psicóticos
 Pobre funcionamento pré-mórbido

Em geral o prognóstico é melhor que nos transtornos
psicóticos e pior que nos transtornos afetivos.
TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO

Tratamento farmacológico dirigido à sintomatologia
 Antipsicóticos
 Antidepressivos
 Estabilizadores do humor

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