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Síndromes psicóticas

(quadros do espectro da
esquizofrenia
e outras psicoses).
PROFA. JANARA PINHEIRO
Psicopatologia e semiologia dos
transtornos mentais.
3º edição, 2019.

Paulo Dagalarrondo.
SÍNDROMES PSICÓTICAS
▪ As síndromes psicóticas caracterizam-se por experiências como alucinações e
delírios, desorganização marcante do pensamento e/ou do comportamento ou
comportamento catatônico (Janzarik, 2003; APA, 2014; CID-11, 2018).

▪ A psiquiatria clínica dá ênfase à noção de psicose como


presença de sintomas psicóticos (delírios, alucinações, desorganizações
marcantes de pensamento e comportamento). Tais elementos clínicos são os
parâmetros de identificação e diagnóstico de psicoses sugeridos pela
Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-
11) e pelo Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5).
ESQUIZOFRENIA
▪ Emil Kraepelin (1856-1926), psiquiatra alemão, em 1896, nomeou como
dementia praecox (“dementia” pela noção de que a maior parte dos pacientes
teria evolução muito ruim e “praecox” pelo seu início frequente em jovens e
adultos jovens).
▪ Eugen Bleuler (1857-1939), psiquiatra suíço propôs, em
1911, o termo esquizofrenia, dando ênfase à desarmonia interna do
funcionamento mental e à quebra radical do contato com a realidade que ele
notava nesse transtorno.
ESQUIZOFRENIA
▪ Os psicopatólogos do fim do século XIX e início do XX distinguiram quatro
subtipos de esquizofrenia:
-Forma paranoide: caracterizada por alucinações e ideias delirantes,
principalmente de conteúdo persecutório;
-Forma catatônica: marcada por alterações motoras, hipertonia, flexibilidade
cerácea e alterações da vontade, como negativismo, mutismo e impulsividade;
-Forma hebefrênica: caracterizada por pensamento desorganizado,
comportamento bizarro e afeto marcadamente pueril, infantilizado;
ESQUIZOFRENIA
▪ A identificação de conjuntos de sintomas e comportamentos, que podem se
combinar de formas muito variadas e heterogêneas, nas diversas fases da
esquizofrenia são vistas como:
- Sintomas negativos
- Sintomas positivos
- Sintomas de desorganização
- Sintomas psicomotores/catatonia
- Sintomas/prejuízos cognitivos
- Sintomas de humor
ESQUIZOFRENIA
▪ Sintomas negativos: caracterizam-se pela perda de certas funções psíquicas
(na esfera da vontade, do pensamento, da linguagem, etc.) e pelo
empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo. Os
principais sintomas ditos negativos nas síndromes esquizofrênicas são:
- Distanciamento e aplainamento afetivo ou afeto embotado
- Retração social ou associalidade.
- Alogia ou empobrecimento da linguagem e do pensamento
- Diminuição da vontade (avolição)
- Anedonia, diminuição da capacidade de experimentar e sentir prazer.
ESQUIZOFRENIA
▪ Sintomas positivos: Diferentemente dos sintomas negativos, que se
manifestam principalmente pelas ausências e pelos déficits psíquicos e
comportamentais, os sintomas ditos positivos são manifestações novas, salientes,
do processo esquizofrênico. Os sintomas positivos da esquizofrenia são:

- Alucinações
- Ideias delirantes (delírio)
- Distorção da realidade
ESQUIZOFRENIA
▪ O psicopatólogo alemão Kurt Schneider (1887-1967) propôs que alguns sintomas, que
poderiam ser incluídos junto ao grupo dos sintomas positivos, teriam um peso maior para o
diagnóstico da esquizofrenia (Tandon; Greden, 1987; Schneider, 1992), denominados, então,
“sintomas de primeira ordem”. São eles:
- Percepção delirante.
- Alucinações auditivas características.
- Eco do pensamento
- Difusão, divulgação ou publicação do pensamento.
- Roubo do pensamento.
- Distúrbios da vivência do eu: Vivências de influência sobre o corpo; Vivências do “fabricado”
ESQUIZOFRENIA
▪ Sintomas de desorganização: Essa síndrome tem certa correspondência ou
semelhança com o subtipo classicamente denominado esquizofrenia hebefrênica.
Assim, nas formas desorganizadas da doença, observam-se:
- Pensamento progressivamente desorganizado: afrouxamento das
Associações; descarrilamento do pensamento.
- Tangencialidade e circunstancialidade: neologismos.
- Comportamentos desorganizados.
- Afeto inadequado.
ESQUIZOFRENIA
▪ Sintomas psicomotores e catatonia:
- Alterações psicomotoras também são verificadas na forma de estereotipias de movimentos
(atos, gestos, atitudes mais complexos que os tiques, repetidos de forma mecânica, sem
finalidades), maneirismos (gestos complexos, repetidos, que parecem ter um objetivo e
significado para o indivíduo, mas que são percebidos pelo observador como algo excessivo,
excêntrico e muito bizarro) e posturas bizarras. Alguns pacientes fazem caretas (que não se sabe
por que), vestem roupas e usam adornos bizarros.
- A síndrome catatônica ou catatonia é a manifestação psicomotora mais marcante na
esquizofrenia. Na catatonia, embora os pacientes apresentem o nível de consciência preservado,
podem revelar sintomas de estupor (diminuição marcante até ausência de atividade psicomotora,
com retenção da consciência, mutismo e negativismo; o paciente fica no leito, parado, sem fazer
nada, sem responder a solicitações, sem se alimentar e às vezes sem sair para urinar ou defecar).
ESQUIZOFRENIA
▪ Sintomas/prejuízos cognitivos: Há alterações cognitivas difusas na doença,
que, na maior parte das vezes, precedem mesmo o surgimento dos sintomas
psicóticos e são muito relevantes, pois afetam marcadamente a evolução
funcional dos pacientes.
- Alterações cognitivas: atenção, memória episódica, memória de trabalho,
velocidade de processamento e funções executivas.
- Dificuldades na percepção e no gerenciamento de emoções.
- Viés ou estilo de atribuição.
ESQUIZOFRENIA
▪ Sintomas de humor:
- Pessoas com esquizofrenia apresentam taxas mais altas do que a população em geral de
sintomas ansiosos e depressivos, bem como depressão clínica. Os sintomas ansiosos são
dos diversos tipos: ansiedade generalizada, ataques de pânico, ansiedade/fobia social e
sintomas obsessivo-compulsivos. Os sintomas de humor podem também surgir atrelados
a sintomas da esquizofrenia ou a efeitos colaterais dos antipsicóticos (chamada de
“disforia dos neurolépticos”). Tais sintomas podem ocorrer antes da eclosão dos
sintomas positivos, nos quadros com atividade psicótica, entre os surtos, ou nos períodos
após os surtos (no caso de sintomas depressivos, denomina-se “depressão pós-
psicótica”). Sintomas de humor contribuem significativamente para o sofrimento e as
dificuldades pessoais e sociais que a esquizofrenia implica.
ESQUIZOFRENIA
▪ Outras características e sintomas associados à esquizofrenia:

- Falta de insight.

- Sintomas neurológicos inespecíficos.


(PARANOIA) E
ESQUIZOFRENIA TARDIA
(PARAFRENIA).

▪ Uma forma de psicose próxima à esquizofrenia, mas distinta, é o transtorno


delirante, que se caracteriza pelo surgimento e pelo desenvolvimento de um
delírio ou sistema delirante (vários delírios de alguma forma interligados
tematicamente) com considerável preservação da personalidade, da afetividade,
da cognição e do resto do psiquismo do indivíduo acometido. Não deve haver
pensamento e/ou comportamento francamente desorganizado ou sintomas
negativos marcantes.
TRANSTORNOS PSICÓTICOS
AGUDOS, BREVES
E TRANSITÓRIOS.

▪ Quadros psicóticos, com sintomas mais ou menos semelhantes à esquizofrenia


(pode haver alucinações e delírios, bem como discurso e comportamento
desorganizados), de surgimento bem agudo (geralmente eclodem e alcançam
máxima gravidade em até duas semanas). Entretanto, tais quadros,
diferentemente da esquizofrenia (com curso em geral grave e deteriorante)
revelam remissão relativamente rápida dos sintomas (dias ou semanas) e não
implicam deterioração da vida social ou empobrecimento psíquico em forma de
sintomas negativos ou perdas cognitivas (Castagnini; Berrios, 2009).
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL.

▪ O transtorno psicótico agudo pode confundir-se com transtorno de estresse


pós-traumático ou com quadros graves e prolongados de transtorno dissociativo
(frequentemente denominado na tradição psicopatológica de histeria).
Transtornos ou traços de personalidade do grupo B (sobretudo transtornos da
personalidade borderline e histriônica) e transtorno da personalidade
esquizotípica, além de traços de personalidade do tipo “psicoticismo”, podem
preceder ou predispor as pessoas a apresentar transtorno psicótico
agudo/breve.
TRANSTORNO
ESQUIZOAFETIVO.
▪ O transtorno esquizoafetivo se caracteriza pela presença de proeminentes sintomas
requeridos para o diagnóstico de esquizofrenia em conjunto (no mesmo episódio,
simultaneamente, ou com distância de poucos dias entre eles) com sintomas típicos de um
episódio de depressão maior, de mania ou de episódio misto (para a CID-11,
concomitância com duração de pelo menos um mês). Para o DSM-5, o transtorno
esquizoafetivo se caracteriza pela concomitância de sintomas evidentes de esquizofrenia
(critérios A) associados a sintomas suficientes para o diagnóstico de episódio depressivo
maior ou episódio maníaco. Entretanto, para diferenciar o transtorno esquizoafetivo dos
quadros de depressão ou mania psicótica, o DSM-5 exige que haja pelo menos duas
semanas de delírios ou alucinações na ausência de episódio depressivo maior ou mania.
REFERÊNCIAS:
CASTAGNINI, A.; BERRIOS, G.E. Acute and transient psychotic disorders (ICD-10 F23): a review
from an European perspective. Eur. Arch. Psychiatry Clin. Neurosci., v. 259, n. 8, p. 433-443,
2009.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Artmed Editora,
2018.
JANZARIK, W. Der Psychose-Begriff und die Qualität des Psychotischen. Der Nervenarzt, v. 74, p.
3-11, 2003.

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