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Semiologia Psiquiátrica

Rute Lemos
Setembro de 2008
Programa aula de semiologia psiquiátrica. Esc. Sup. Enf. Calouste Gulbenkian (3 horas) 25 de Setembro

I. Introdução à Psicopatologia. Generalidades sobre a elaboração do Diagnóstico.


Aspectos gerais de causalidade. Classificações.

II. Estado mental. Psicopatologias da consciência, da atenção da percepção, orientação,


memória, inteligência, afectividade, pensamento, vontade, psicomotricidade e energia
vital, e da linguagem.

III. Tipos de diagnóstico (psicopatológico, sindromático , e nosológico)

IV. Grandes grupos nosológicos.

V. Exemplos para diagnósticos síndromáticos. Importância da Reabilitação Psico-social.


VI. Exemplo para diagnósticos nosológicos sumários.

VII. Exemplos de interacções medicamentosas – importância do diagnóstico diferencial.

VIII. Exercícios.
I. Introdução à psicopatologia
A semiologia psiquiátrica ocupa-se dos sinais e sintomas que traduzem a psicopatologia, com o
objectivo diagnóstico, cujo fim, é a terapêutica

Diferença entre normal e patológico

 medicina somática > correspondência biunívoca entre causas e sintomas


vs
 psiquiatria> adoecer mental com
etiologia não esclarecida
patogenia plurifactorial
(mesmos f. causais, expressões ≠s, mesmos quadros clínicos,
factores causais ≠s)

Conceitos de normalidade estatística, ou de norma ideal insuficientes (subjectivos, mutáveis, dependentes


de contextos histórico-temporais)

Saúde (OMS) - Estado de completo bem-estar físico, psíquico e social, não somente a ausência de
doença ou enfermidade
(1/2 população sem bem-estar social ?)
Nota:

Normalidade e patologia como continuum > atentar na intensidade, frequência, persistência,


repercusão nas várias esferas da vida, falta de crítica). Contextualização dos sintomas
na história de vida do índivíduo (ex. a depressão é normal no luto de um ente querido - +/- período
de 1 ano)
Em termos gerais, são consideradas doentias, situações que comportem:

 sofrimento psicológico – referido pelo próprio (exemplos: depressão,


ansiedade;)
 desadaptação funcional – com prejuízo de desenvolvimento de actividade
laboral, etc. Incapacidade parcial ou plena para determinadas actividades /esferas
da vida. (exs.: esquizofrenia, atraso mental)
 desadaptação social – o comportamento e atitudes do indivíduo lesam, ou
causam problemas aos outros, embora o próprio possa não referir queixas
(sintoma egossintonico) , e não reconhecer estar "doente".
(exs.: agressividade verbal ou física, conduta desadequada em doentes
psicóticos, atraso mental, esquizofrenia, alcoolismo)

Ou seja, em geral são considerados patológicos os estados que trazem sofrimento e / ou


prejuízo para a pessoa e / ou para a sociedade.
Psicopatologia costuma subdividir-se em :

 Psicopatologia geral Estudo das alterações nas funções mentais :consciência,


percepção, orientação, linguagem, memória, psicomotricidade, vontade, humor, etc)

 Psicopatologia “específica” Estudo das alterações das funções mentais em cada


transtorno. Exemplo : alterações psicopatológicas da depressão

 Exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de alterações no


funcionamento mental. Não deve ser realizado apenas por técnicos de saúde mental,
pelo contrário deve fazer sempre parte de um exame clínico do paciente,
independentemente da sua morbidade. É essencial por permitir não só o despiste de
transtornos psiquiátricos, como também oferecer indícios importantes para o diagnóstico
de transtornos neurológicos, metabólicos, intoxicações, etc.
Com uma finalidade didáctica, divide-se, arbitrariamente, o
funcionamento mental em funções :

 1.Consciência
 2.Atenção
 3.Percepção (psico-sensoriais)
 4.Orientação
 5.Memória
 6.Inteligência
 7.Afectividade e emoção
 8.Pensamento
 9.Vontade
 10.Psicomotricidade e energia vital
 11.Linguagem

A psicopatologia vai estudar a alteração destas funções


Esta ordenação proporciona maior facilidade no diagnóstico de síndromes específicas

O primeiro grupo (CAPOMI) destaca as síndromes cerebrais orgânicas (por exemplo nos
estados de delirium costumam estar alteradas as primeiras quatro funções, e nos casos de
demência , a memória e a inteligência)

O segundo grupo (Afectividade, Pensamento, Vontade,Psicomotricidade, e Linguagem), por


sua vez, altera-se nas síndromes psicóticas, e nos transtornos do humor

Classificações:

DSM-IV (1994) Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (American Psychiatric
Association)- proposta de uma avaliação multiaxial ( I- síndromes clínicos, II- Perturbações de
personalidade e desenvolvimento, III- Presença e gravidade dos factores de stress (agentes patogénico
de natureza psicossocial), V- Nível mais elevado de funcionamento adaptativo alcançado no ano anterior
à doença)perspectiva essencialmente descritiva, evitando presunções etiológicas ou patogénicas

CID-10(entrou em vigor em 1993) Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas


Relacionados (OMS)- Integra diferentes princípios classificativos (sintomatologia, gravidade, evolução, e
a etiologia)O recurso a conceitos tradicionalmente empregues , que contemplam tradições de escolas
muito diversas faz com que a sua utilização seja mais generalizada (nomeadamente na Europa)
II. Estado mental e psicopatologias
Aparência geral - Ao entrarmos em contacto com alguém, imediatamente temos acesso a uma série de
informações: o vestuário utilizado, como se comporta, o seu humor aparente, o modo como reage à nossa
presença. Embora a observação da aparência não seja exactamente uma técnica diagnóstica do
estado mental, fornece-nos importantes informações sobre este, assumindo por vezes, valor
Diagnóstico.
Possibilidades da aparência geral

 aparência adequada: vestuário e comportamento adequados à situação..

 aparência alterada: :
1. Aparência: tipo físico, roupas, adereços, cabelo, sinais de ansiedade – mãos húmidas,
testa suada, inquietação, postura tensa, voz contida, olhos arregalados, etc
2. Comportamento e actividade psicomotora: modo de andar, maneirismos (actos repetitivos), tiques,
gestos, ecopraxia (repetição dos gestos de outra pessoa), rígido, lentificado, agitado, etc
3. Discurso: débito verbal rápido, lento, hesitante, emotivo, monótono, alto, sussurrado, inarticulado,
murmurado, gaguez, ecolália, espontaneidade, tempo de reacção- latência da resposta, vocabulário,
etc
4. Atitude: cooperativa, atenta, interessada, franca, sedutora, defensiva, negativismo, hostil, evasiva,
reservada, empática

Nota : importante é também a reacção que determinada pessoa despoleta em nós, se nos provoca empatia,
desconforto físico ou emocional, etc.(tendemos a empatizar mais facilmente com as patologias menos graves ,
de índole neurótica)
Alterações da consciência:
Estado de lucidez ou de alerta , variando da vigília até ao coma. É o reconhecimento da realidade externa
ou de si mesmo, em determinado momento, e a capacidade de responder aos seus estímulos. Podem ser :
 alterações quantitativas (alterações na vigilidade )
 e alterações qualitativas (modo como os conteúdos da consciência são apreendidos e
vivenciados.
Alterações da vigilidade – percorrem um continuum desde o estado de alerta ao coma, individualizando-
-se graus intermédios como a obnubilação, sonolência (estímulos leves), o torpor (estímulos muito intensos) , o
pré-coma, e o coma.
Turvação da consciência. Perda da acuidade de apreensão do mundo exterior e /ou interior: as representações
dos estímulos e situações tornam-se menos nítidas, e as suas fronteiras menos precisas (embotamento do
sensório)
Estreitamento da consciência: polarização do campo da consciência, como se a apreensão de estímulos se
concentrasse selectivamente sobre um tema restrito ou uma experiência vivida. (ex. estados crepusculares)
Expansão da consciência :o campo da consciência alarga-se a estímulos de natureza e proveniência diversas,
os quais são normalmente apreendidos como mais intensos. (um mesmo doente pode apresentar em períodos
sucessivos estreitamento e expansão da consciência). Pode surgir espontaneamente (esquizofrenia, mania) ou
intencionalmente (meditação, alucinogéneos).

Nota : alterações na consciência como consequência do uso quer de drogas, quer de psicofármacos por
e xe mp lo estad o de ale rta (anfeta min as e cocaína, e a bstinênc ia de be nzodi azepín icos)
Alterações da Atenção

Função psicológica que consiste em focar a actividade consciente num determinado estímulo ou
experiência. Pode tratar-se de um processo activo ou passivo. Chama-se concentração à
capacidade de manter um esforço de atenção ao longo do tempo.

A psicopatologia da atenção inclui a distratibilidade e as perturbações de concentração

 Distratibilidade – perturbação ao nível da capacidade de selecção e valorização dos


estímulos, tornando-se a pessoa incapaz de fixar a atenção em objectos ou acontecimentos
relevantes.

 Nas perturbações de concentração, as dificuldades de atenção correspondem ,


especificamente, a uma incapacidade de aplicar a atenção de um modo continuado.

Muitas vezes estão associadas a distratibilidade e as perturbações de concentração ( no entanto,


nomeadamente em estados ansiosos ou de fadiga muitas vezes está preservada a atenção, mas
não a concentração)
Alterações da atenção / transtornos mais comuns

 As perturbações de atenção ocorrem em numerosas condições psicopatológicas.


Observam-se sempre que há :

 alteração do estado de consciência (síndromes confusionais e psico-orgânicos -


lesões cerebrais, crises agudas de esquizofrenia, demências, etc)

 A capacidade de fixar e manter a atenção (concentração) está, muitas vezes,


comprometida, em determinadas

 perturbações afectivas (mania, e depressão),


 estados ansiosos,
 situações vulgares de conflito e tensão emocional
 e como resultado de efeitos secundários de alguns medicamentos
Alterações da percepção (psico-sensoriais)

 A percepção designa a capacidade de perceber e interpretar os estímulos que se


apresentam aos órgãos dos sentidos.

Os estímulos podem ser: auditivos, visuais, olfactivos, tácteis e gustativos, determinando as


correspondentes alterações

alterações da percepção/transtornos comuns

 Erros perceptivos . Ocorrem na presença de um estímulo real cuja representação é


deformada. Excluindo lesões ao nível dos órgãos sensoriais periféricos, os erros
perceptivos ocorrem tanto como resultado de lesões orgânicas, como pela intervenção
de factores emocionais, afectivos e motivacionais.

 Alucinações. Percepções sem objecto. Ocorrem nas psicoses, em particular na


esquizofrenia. Podem surgir, igualmente, em doentes com lesões ou disfunções
cerebrais.
Erros perceptivos e alucinações (cont.)

 Erros perceptivos

 Ilusões . Percepções deformadas de um ser ou objecto real, geralmente com


carácter inquietante ou assustador. Ex. sombra interpretada como animal
assutador. Distinguem-se das percepções delirantes por implicarem deformação
perceptiva , e não uma percepção normal à qual é atribuído um significado falso.
Observam-se nos estados confusionais, na histeria, na esquizofrenia e
síndromes psico-orgânicos

 Distorções perceptivas . Distorções na intensidade, no tamanho ou na forma de


um estímulo. Podem ser visuais, auditivas, ou representarem distorções da
imagem corporal ( distorções somatognósicas ) que é percepcionada de forma
distorcida. Ocorre em lesões parietais, e em algumas histerias. Ex. duplicação de
membros
Erros perceptivos e alucinações (cont.)
Alucinações. Devem distinguir-se de outros fenómenos alucinatórios que incluem as
pseudo-alucinações (alucinações endo-psiquicas, vividas como vindas do interior ) Ex.
vozes dentro da cabeça) e alucinoses (por causa uma lesão no SNC, vividas como
fenómenos estranhos ao Eu, que critica o sintoma, reconhecendo o seu carácter irreal)

Nas alucinações verdadeiras o fenómeno tem carácter sensorial e é substanciado no


campo perceptivo da pessoa (“fora da cabeça”), o indivíduo não faz crítica do sintoma,
vivendo a alucinação como real. Podem ser envolvidas as várias modalidades sensoriais:

 Alucinações auditivas (elementares, e acústico-verbais- vozes dirigem-se ao pp ou a


uma terceira pessoa. No eco do pensamento, as vozes relatam os pensamentos à medida
que estes ocorrem).
 Alucinações visuais (elementares- ex. figuras, e alucinações cénicas- todo o campo
perceptivo é envolvido pelo fenómeno alucinatório (onirismo) Comum em estados
confusionais, crises epilépticas, e por acção de tóxicos – LSD, mescalina.
Nota para a actividade alucinatória no ‘delirium tremens’ –zoopsias ( representação de
figuras animais com tonalidade terrífica)
 Alucinações olfactivas e gustativas (doentes esquizofrenicos, melancólicos, e
orgânicos)
 Alucinações corporais (tácteis- corpo tocado por animais, sexuais, cinestésicas –
corpo percorrido por electricidade, alucinações álgicas , etc, e vestibulares- sensação de
voar ou rodar no ar, sobretudo em lesões orgânicas)
Alterações da Orientação
Incluem-se neste grupo de alterações as perturbações da capacidade de orientação em
relação ao tempo, ao espaço, à situação , e à própria pessoa.

 Desorientação espacial (ex. ignorar local, cidade ou região onde se encontra)


 Desorientação temporal (ex. erros em relação à data, ou incapacidade de
organizar cronologicamente acontecimentos pessoais)
 Desorientação quanto à situação (ex. incapacidade de apreender situação,
não identificar que está a ser observado em consulta médica)
 Desorientação em relação à própria pessoa (ex. desconhecer a pp
identidade )

Tanto a desorientação alopsíquica (espaço, tempo, situação), como a autopsiquica


(identidade pessoal) observa-se, constantemente, nos estados confusionais , e nas
síndromes psico-orgânicas.
Alterações da Memória
Função complexa que inclui a capacidade de reter, fixar, e recordar experiências .Distinguem-se a
memória a curto prazo (imediata) e de longa duração . As funções mnésicas dependem também
do estado de consciência, atenção, motivação, dos afectos, pelo que as perturbações mnésicas são
observadas num vasto número de transtornos. Distinguem-se:
 Perturbações da memória imediata (dificuldade em recordar estimulo num prazo de 50 ou 60
segundos. Ocorrem
essencialmente, associada à alteração da vigilidade, que compromete a integração sensório-
perceptiva)
 Perturbações de fixação (ex. síndrome de Korsakoff, no alcoolismo). Individuo fica incapaz de
fazer novos registos mnésicos (amnésia anterógrada)
 Perturbações de evocação:
 Défices específicos de evocação (amnésia retrógrada - indivíduo incapaz de evocar
acontecimentos antigos)
 Distorções da evocação e falsas memórias

paramnésias - distorções patológicas resultantes da motivação e estado actual da pessoa –


histeria, depressão, esquizofrenia, mania)
hipermnésias - exaltação patológica da evocação- estados febris, confusionais, tóxicos como
as anfetaminas, stress pós-traumático)
e as distorções de reconhecimento Erros na identificação de pessoas ou evocações.
Falsos reconhecimentos, o ‘já visto, ouvido e vivido’, falsificações retrospectivas, mitomania,
confabulação , e os reconhecimentos delirantes (variante das percepções delirantes. Ex.
Síndrome de Capgras, em que o doente identifica familiares e conhecidos como pessoas
estranhas, a quem atribui geralmente intenções pejorativas)
Alterações da Inteligência
Perturbação das funções intelectuais superiores, i.e, das capacidades de conceputalização,
abstracção, crítica e julgamento. Disitinguem-se das alterações ‘instrumentais’ em que estão
comprometidas actividades ligadas à atenção, memória, linguagem e coordenação motora.
Alterações intelectuais e instrumentais podem surgir associada ou separadamente.

Nas oligofrenias e demências estão sempre implicadas alterações das funções intelectuais
superiores . Distinguem-se por nas demências existir perda de capacidades relativamente a um
nível anterior – deterioração.
Diagnóstico diferencial

As alterações da ‘inteligência’ devem ser diferenciadas dos estados de defeito, observados por ex.
na esquizofrenia crónica, que não têm uma base orgânica evidenciável, e não implicam perdas
irreversíveis (são sensíveis a factores motivacionais e ambientais, e podem ser transitoriamente
interrompidos). Devem diferenciar-se também das perturbações do funcionamento intelectual
observadas durante os estados confusionais que, em regra, cessam com a resolução
da situação.
Alterações da afectividade e emoções
 Alterações da emoção incluem :
Indiferença emocional/anestesia afectiva - perda da capacidade de reagir emocionalmente aos
estímulos (ex.“sinto-me incapaz de sentir’), ausência de ressonância emocional. Ocorre em
situações diversas, certos períodos de crise pessoal (adolescência), depressão, esquizofrenia,
psicopatias, e em certos estados orgânicos. Na esquizofrenia, esta indiferença assume uma
tonalidade especial, configurando uma frieza emocional intensa e bizarra
 Monotonia emocional (monotonia afectiva)- redução da capacidade de modulação emocional. Ex.
ind. Que reage sempre com irritabilidade, independentemente dos estímulos. Ocorre sobretudo
nos doentes deprimidos, mas também em certas síndromes psico-orgânicas.
 Hiperemotividade. Resposta emocional desproporcionada à intensidade dos estímulos. Exagero e
perda de controlo das respostas emocionais. Observa-se na depressão, histeria, estados
ansiosos, e síndromes psico-orgânicos.
 Labilidade emocional. Oscilações frequentes dos estados emocionais, de curta duração e
sofrendo inversões rápidas. Observada na depressão, histeria, alguns estados orgânicos, mas
fundamentalmente na patologia borderline (limite)
 Discordância emocional (afectiva)- indivíduo expressa emoções desadequadas à situação. Por ex.
ri ao recordar aspecto doloroso. Perturbação observada na esquizofrenia, pode ocorrer durante
estados ansiosos, e em algumas depressões, ou resultado de lesões orgânicas.
 Ambivalência.Coexistência acentuada de estados emocionais contraditórios.,frequente nas
esquizofrenias
Alterações da afectividade e emoções (cont.)
 Alterações do humor , incluem :

 Humor depressivo (depressão)- a perturbação nuclear é o sentimento de tristeza, que pode fazer-
se acompanhar de desânimo, abatimento, perda de interesse, iniciativa, incapacidade de
sentir prazer (anedonia), pessimismo, dificuldade em tomar decisões, sentimentos de auto-
desvalorização, etc

 Humor eufórico (elacção)- sentimento excessivo de bem-estar, alegria, prazer, sobrevalorização,


que geralmente se associa a um aumento de actividade e iniciativa. (típico das crises
maníacas, mas pode ocorrer em doenças orgânicas, e por acção de estimulantes (cocaína,
anfetaminas)

 Humor ansioso (ansiedade) Medo sem objecto. Ansiedade psíquica (componente subjectivo de
mau estar e apreensão) e somática (com hiperactivação do sistema vegetativo). Se focada
em determinado estimulo corresponde às fobias (incluidas nas perturbações de controlo do
pensamento)

 Humor disfórico - estado afectivo dominado por sentimentos de irritabilidade, tensão interior,
susceptibilidade exagerada. Formas mais intensas e duradouras ocorrem nos estados
epilépticos, depressivos e em algumas neuroses.
Alterações do pensamento (alterações do curso do pensamento)
Incluem alterações de natureza diversa que podem ocorrer em numerosos transtornos psiquiátricos.
Do ponto de vista descritivo devem distinguir-se:
1. Alterações do curso do pensamento
2. Alterações da forma do pensamento
3. Alterações do conteúdo do pensamento

Pensamento inibido- progressão lenta e irregular. Discurso lento e aumento do tempo de latência das respostas.
Frequente nas depressões
Pensamento acelerado -sucessão de ideias e discurso anormalmente rápidos. Frequente em estados ansiosos,
sem que exista perda da finalidade do pensamento (fuga de ideias)
Pensamento automático (mentismo)-sucessão rápida de ideias e imagens que pode ou não ter correspondência
com as preocupações actuais do indivíduo. Distingue-se por ser vivido de forma incoercível . Observável em
estados de ansiedade intensa
Fuga de ideias- pensamento muda constantemente de objectivo.Frequente na mania, mas também em crises
psicóticas , e estados orgânicos
Pensamento circunstanciado - incapacidade de distinguir essencial do supérfluo. Ocorre em epilepsias, TOC, e
algumas lesões
Pensamento empobrecido- redução de temas e conteúdos. Depressão e síndromes psico-orgânicas.
Perseveração verbal - repetição de palavras ou frases de forma desadequada ao contexto. Síndromes psico
orgânicos
Bloqueio do pensamento: interrupção repentina e imotivada do curso do pensamento. Geralmente observado na
esquizofrenia (passagem rápida de um assunto para o outro)
Pensamento incoerente –passagem de tema para tema sem relações associativas aparentes, o que torna
impossível acompanhar o discurso. Frequente nos estados confusionais, pode observar-se também na mania e
em crises agudas de esquizofrenia
Respostas ‘ao lado’ (para respostas)- resposta sem relação com a pergunta. Comum em esquizofrénicos
Alterações formais do pensamento
Conjunto de perturbações em que estão comprometidas as
capacidades de conceptualização e abstracção

Distinguem-se alterações:

▪ negativas (perturbação da capacidade de abstracção, sem que surjam falsos


conceitos). Pensamento concreto é freuquente nas síndromes psico-orgânicas e
esquizofrenia (nestes, a perda da atitude ‘abstracta’ é transitória)
▪ positivas (implicam erros lógicos, e a formação de falsos conceitos)Fenómenos
muito observáveis na esquizofrenia
1.Dissociação de ideias- disrupção na relação associativa entre ideias, o que faz
com que o indivíduo aceite noções logicamente contraditórias
2.Pensamento assindético- perda de capacidade de excluir elementos
desnecessários, de tal forma que várias ideias se condensam numa só.
3. Pensamento metonímico- utilização de metonímias (frases ou conteúdos
imprecisos. Substituição de conceitos correntes por outros , mais subjectivos e
privados)
4. Hiperinclusividade- inclusão na classe do conceito de elementos que lhe não
pertencem, generalizações abusivas
5. Neologismos- palavras inventadas, ou palavras correntes às quais são
atribuídos novos significados.
Alterações do conteúdo do pensamento
 ideias e crenças irracionais – observadas frequentemente nas neuroses. Exs.fobias,
obsessões, compulsões e hipocondria
 Delírios (ideias delirantes)

Delírios primários (sem nenhuma elaboração psicológica anterior) :

 Percepções delirantes- consistem na atribuição de significados errados e delirantes a


uma percepção ou experiência psicológica normal (por ex. um ruído no ambiente como
indicador de que o indivíduo estaria a ser perseguido
 Humor delirante – sensação de estranheza, de que o mundo exterior se altera, causador
de grande angústia.
 Intuições delirantes - revelações súbitas e imediatas de uma ideia ou sentimento que se
instala no espírito do doente, independentemente de qualquer experiência (ex. “eu sou
Deus”-Fenómeno comum na esquizofrenia
Secundários (com elaboração psicológica anterior. Ex. delírio ciúme)

Relativamente aos conteúdos do delírio, podem ser variados, mas são frequentes os
delírio de auto-referência, de perseguição, de ruína, de grandeza, de culpa (frequente nas
depressões), hipocondríaco, de ciúme (frequente no alcoolismo crónico)

Nota : importante a distinção entre delírio (erro de juízo/alteração do pensamento) e


delirium (alteração de consciência- confusão mental
Alterações de posse e controlo do pensamento . Alterações do Eu
Perturbações que traduzem transtornos da unidade e identidade do Eu, bem como das fronteiras que
delimitam mundo interno e externo, alterações na ideia de que o pensamento é voluntário.
▪ Estranheza : mundo exterior sentido como irreal (desrealização), fantástico, ou estranho. Pode relacionar-
-se com o humor delirante nos doentes esquizofrénicos. De forma menos intensa é observável em algumas
psicopatias, e certos estados neuróticos.
▪ Despersonalização: o doente sente que deixou de ser o mesmo e que algo se passa consigo. Assume
formas particularmente graves em alguns doentes esquizofrénicos, com fenómenos de apropriação –
individuo vivência como seus, acontecimentos que atingem objectos exteriores (ex. agressão a um animal
vivida como agressão ao pp.) e transitivismo – fenómeno inverso, i.e, ind. atribui os seus comportamentos
aos objectos e pessoas circundantes (ex. tendo gritado afirma que alguém à sua volta o fez)
▪ Leitura do pensamento: sentimento de que os outros têm capacidade de adivinhar o pensamento próprio.
▪ imposição do pensamento: convicção de que certos pensamentos e ideias não pertencem ao próprio, e
são introduzidos a partir do exterior
▪Roubo do pensamento : indivíduo sente que os seus pensamentos são roubados ou retirados por alguém
▪ Difusão do pensamento: indivíduo sente que o seu pensamento é do conhecimento de todas as pessoas
Fenómenos de influenciamento (Leitura, imposição, difusão ou roubo do pensamento) são geralmente
observáveis na esquizofrenia (mas podem ocorrer também em síndromes esquizofrénicos da epilepsia
temporal, e nas psicoses anfetamínicas)
Alterações de controlo do pensamento (cont.)

Obsessões: (vivências imperativas e egodistónicas)


Pensamentos obsessivos
Impulsos obsessivos
 Medos (fobias)obsessivos
 Comportamentos obsessivos /rituais obsessivos
 Ideias fixas

Comum nas TOC (transtornos obsessivo-compulsivos)

 Pseudo-obsessões (vivências imperativas, egossintónicas)


Perturbações da vontade. vida instintiva

Apetite
▪ Diminuição (depressão, esquizofrenia, etc)
▪ Aumento (bulimia ansiosa, mania, esquizofrenia. Excluir
causa orgânica (tumores hipotálamo, diabetes, etc)

Sede . Polidepsia - excesso de desejo de ingerir líquidos. (ansiedade,


mania, esquizofrenia, lesões hipotalâmicas, diabetes)

Sexualidade

▪ diminuição /aumento do desejo sexual


▪ insatisfação sexual
▪ impotência/frigidez
▪ desvios sexuais

Sono (insónia, sono agitado/pesadelos, hipersonolência)


Perturbações da psicomotricidade, vontade, e energia vital
Perturbações da vontade, e energia vital
▪ Diminuição da energia vital (estupor – ausência absoluta de energia vital)
▪ Inibição das actividades
▪ Aumento da energia vital
▪ Hipobulia (↓ vontade. Comum em esquizofrénicos avançados)
▪ Abulia (↓ absoluta da vontade. Esquizofrénicos no estado de defeito. Por vezes nos depressivos)
Perturbações da psicomotricidade
▪ Hipercinesia. Crise de agitação psicomotora, movimentos descoordenados e desprovidos de
intencionalidade
▪ Hipocinesia .Inibição dos movimentos, afectando também movimentos espontâneos, e reflexos
▪ Acinesia Estupor (grau extremo de inibição)
▪ Maneirismos /bizarrias (alteração movimentos normais)
▪ Paracinesias expressão motora normal é acentuada, deformada ou substituída por outra
▪ estereotipias- movimentos repetitivos complexos (frequente em alcoólicos)
fenómenos em eco:
▪ ecolalia (palavras)
▪ ecopraxia (gestos)
▪ ecomímia (mímica)
▪ Fixação de atitudes (catalepsia) perseveração da postura, durante longos períodos
▪ Flexibilidade cérea. frequentemente associada à conservação de atitudes, possibilidade de
mobilizar o corpo do doente que vai manter-se rigidamente na posição em que é deixado. Ambas
ocorrem em doentes catatónicos, e em algumas lesões cerebrais que envolvem o tronco cerebral
Perturbações da linguagem
Dividem-se em :

Alterações funcionais (não há lesão orgânica):

▪ Mutismo (ausência total de discurso). Frequente nas depressões graves e esquizofrenia


▪ Afonia (falta de voz). Frequente nas conversões histéricas
▪ Neologismos. Criação de novos conceitos ou significação nova para palavras correntes.
Frequente na esquizofrenia.
▪ Logorreia.loquacidade excessiva do discurso que se torna incompreensível.Frequente
nas TOC, epilepsia do lobo temporal
▪ Ecolália (repetição palavras)
▪ Verbigeração – repetição de frases soltas, ou palavras, aparentemente sem sentido.

Alterações orgânicas (decorrentes de lesões orgânicas):

▪ Afasia motora ou não fluente (há compreensão do que é dito, mas o indivíduo é incapaz
de traduzir pensamento em palavras)
▪ Afasia sensorial ou fluente (incapacidade de compreender linguagem falada ou escrita.
O doente fala, mas o seu discurso não faz sentido)
III.Tipos de diagnóstico
Diagnóstico psicopatológico identificação dos elementos psicopatológicos isolados, descrição e
denominação.
Diagnóstico sindromático agrupamento dos elementos psicopatológicos num âmbito constante,
organizados em constelações clínicas.
Diagnóstico nosológico- Entidade clínica que descreve um quadro de estado, determinantes
etiopatogénicos, prognóstico, e intervenções terapêuticas adequadas.

IV. Grandes grupos nosológicos:

 Psicoses – incluir-se-iam as patologias em que está comprometido o teste /juízo da realidade e


incapacidade de crítica aos sintomas e situação clínica (ex. esquizofrenias, psicoses). Grave perda das
capacidade de adaptação às realidades interna e externa, alterações marcadas do pensamento,
afectividade e pensamento.

 Neuroses - perturbações psíquicas de carácter funcional e duradouras em que indivíduo revela pelo
menos relativa lucidez de consciência em relação ao se estado psíquico. Sintomas causam sofrimento
(egodistónicos), sem compromisso da realidade (Depressões,neuroses ansiosa, fóbica, histérica e
obsessivo-compulsiva)
Grandes grupos nosológicos (cont.)

Não esquecer o continuum entre


Funcionamento Funcionamento
predominantemente ------------------------------------------------------------------------------------- predominantemente
neurótico psicótico
 desorganização e desagregação da personalidade
 fragilidade do vínculo com a realidade

Psicopatias (Transtornos da Personalidade), correspondem a personalidades desarmonicamente


estruturadas, com desadaptação do indivíduo em relação a si memo, ou ao ambiente. Frequentemente, a
sintomatologia é egossintónica (causam mais sofrimento aos demais). Exs. Antisocial, paranóide, histriónico,
depressivo, evitativo. (podem configurar personalidades pré-morbidas, e evoluir para doença psiquica)

Doenças Psíquicas de base somática (a doença física sustenta perturbação psicológica).Incluem-se:

 psicoses sintomáticas (fora encéfalo- febre tifóide, anemia, etc),


 psicoses orgânicas (encéfalo) :
 demências - perturbações funções cognitivas (primárias : doenças degenerativas /+
secundárias, mais reversíveis :alteração vascular, hipertensão, etc)
 epilepsias.

Oligofrenias : atrasos no desenvolvimento, com comprometimento das funções intelectuais


Grandes grupos nosológicos (cont.)
Neuroses
Histéricas Tipo conversivo (tentativa do ind -não totalmente consciente -.de obter alívio de um
sofrimento/stress intolerável pela exposição e vivência de sintomas de doença física), pelo que a
conversão pode ‘imitar’ praticamente qq sintoma da patologia orgânica.
Sintomas motores: movimentos anormais (tremores)
paralisias (mono, hemi, paraplegia)
afonia histérica (p. cordas vocais)
crises catapleticas (manutenção de atitudes
impostas)
Sintomas sensoriais e sensitivos (ex. anestesias cutâneas, surdez e
cegueira)
 Tipo dissociativo, com alteração das funções normalmente integradoras da consciência (ex.
estádio crepuscular é típica a perda de consciência) , identidade (temporariamente esquecida. Pode ser
assumida uma nova) ou comportamento motor
Ansiosas  Pânico (crises agudas, e intensas)
 Ansiedade generalizada (e persistente, sem sintomas específicos de outras
doenças)
Nota : a ansiedade está presente na grande maioria das perturbações mentais
Fóbicas (ao contrário dos estados ansiosos, há estímulos fobogeneos- objectos ou situações reais que
possam desencadear a ansiedade (a que se segue evitamento, e ansiedade antecipatória – só a ideia da
presença potencial do S, a desencadeia)
Obsessivo-compulsivas
Grandes grupos nosológicos (cont.)
Depressões. Várias possibilidades de classificação, mas normalmente as
Depressões graves .bipolares (mania + depressão), Poderão ocorrer ideias delirantes, e suicidas
unipolar (depressão) – sobretudo primavera, e outono.
Depressões muito graves – sintomatologia similar, mas acentuam-se as ideias delirantes,
alucinações e melancolia (+ próxima psicose)
Moderadamente graves. Sintomas psicológicos (tristeza, humor deprimido/disfórico, ansiedade,
irritabilidade, agitação, desinteresse, anedonia, anergia (↓energia),
dificuldades cognitivas, etc, pensamento depressivo (desespero, ideias de
ruína, morte, doença, suicidio, culpa, etc)
Sintomas somáticos: insónia mau humor matinal, amnésia,
emagrecimento, obstipação, amenorreia, ↓líbido, etc.
V. Exemplos para diagnósticos sindromáticos
Síndrome Depressivo : Tristeza (vital ou reactiva), Inibição (pensamento, psicomotricidade). Ideação
depressiva (culpa, ruína, hipocondria, etc), Perturbações dos ritmos (variações diurnas humor, insónia)-
Alterações físicas neurovegetativas (anorexia, emagrecimento, alterações líbido, alterações menstruais,
perturbações digestivas). Ansiedade (se for muito marcada – depressão ansiosa). Podem surgir pensamentos
obsessivos, e situações paranóides.Ideação suicida
Síndrome Maníaco : Euforia. Hiperactividade (muitas xs com logorreia). Fuga de ideias. Megalomania (ideias
delirantes de grandeza. Exs. Faz doações e despesas). Insónia total. Anorexia e emagrecimento
Síndrome paranóide : Ideias delirantes marcadas. Bizarrias ( de influenciamento – difusão, roubo,
imposição do pensamento- de auto-relacionação, de perseguição, de grandeza, religiosas ,ciúme,
etc)
VI Exemplo para construção de diagnósticos nosológicos sumários
Esquizofrenia (qualquer diagnóstico deve basear-se no quadro clínico, evolução da doença, antecedentes
pessoais, personalidade prévia, etc)
Sintomas característicos : Afastamento social. Perda de vontade, iniciativa, comportamentos excêntricos,
aspecto pouco cuidado. Alterações perceptivas (fenómenos alucinatórios).Alterações do pensamento (forma,
curso – bloqueio, pararespostas, conteúdo, posse e controlo – experiências de influenciamento). Alterações
da afectividade (redução da resposta emocional, indiferença afectiva, anedonia – surge sem depressão-
discordância, ambivalência). Alterações da linguagem (incoerência, neologismos, mutismo ) Alterações
psicomotoras (hipocinesia, hipercinesia, fenómenos em eco , negativismo, obediência automática,
catalepsia, flexibilidade cérea), etc
Esquizofrenia paranóide : surge por volta dos 25-35 A, normalmente em indivíduos anteriormente
reservados e circunspectos. Evolução estável ( não evolui para outros quadros)Predominam alterações do
pensamento , e percepção (fenómenos alucinatório).
Esquizofrenia Hebefrénica - + precoce , adolescência, prognóstico mais reservado. Desagregação da vida
psíquica com incoerência ideo-verbal, deterioração da afectividade, e da vontade são caracteristicas.
Esquizofrenia catatónica : Menos comum e a de melhor progbnóstico. Início agudo, com manifestações
psico-motoras, perturbações da vontade e esfera emocional. 2 tipos – catatonia inibida e agitada.
CID 10 – “Síndrome maniforme
 F30 Episódio maníaco
Todas as subdivisões desta categoria se aplicam exclusivamente a um episódio isolado. Um episódio hipomaníaco ou
maníaco em indivíduo que já tenha apresentado um ou mais episódios afetivos prévios (depressivo, hipomaníaco, maníaco,
ou misto) deve conduzir a um diagnóstico de transtorno afetivo bipolar (F31.-).
inclui:
transtorno bipolar, episódio maníaco isolado
F30.0 Hipomania
Transtorno caracterizado pela presença de uma elevação ligeira mas persistente do humor, da energia e da atividade,
associada em geral a um sentimento intenso de bem-estar e de eficácia física e psíquica. Existe freqüentemente um aumento
da sociabilidade, do desejo de falar, da familiaridade e da energia sexual, e uma redução da necessidade de sono; estes
sintomas não são, entretanto, tão graves de modo a comprometer o funcionamento profissional ou conduzir a uma rejeição
social. A euforia e a sociabilidade são por vezes substituídas por irritabilidade, atitude pretensiosa ou comportamento
desadequado. As perturbações do humor e do comportamento não são acompanhadas de alucinações ou de idéias
delirantes.
F30.1 Mania sem sintomas psicóticos
Presença de uma elevação do humor fora de proporção com a situação do sujeito, podendo variar de uma jovialidade
descuidada a uma agitação praticamente incontrolável. Esta elação se acompanha de um aumento da energia, levando à
hiperatividade, um desejo de falar e uma redução da necessidade de sono. A atenção não pode ser mantida, e existe
freqüentemente uma grande distração. O sujeito apresenta freqüentemente um aumento do auto-estima com idéias de
grandeza e superestimativa de suas capacidades. A perda das inibições sociais pode levar a condutas imprudentes,
irrazoáveis, inapropriadas ou deslocadas.
F30.2 Mania com sintomas psicóticos
Presença, além do quadro clínico descrito em F30.1, de idéias delirantes (em geral de grandeza) ou de alucinações (em
geral do tipo de voz que fala diretamente ao sujeito) ou de agitação, de atividade motora excessiva e de fuga de idéias de
uma gravidade tal que o sujeito se torna incompreensível ou inacessível a toda comunicação normal.
Estupor maníaco
Importância da reabilitação psico-social

→ ‘em saúde mental não existem doenças, mas doentes ‘

 Importa sempre atentar nas áreas que ainda estão funcionais, nos aspectos
positivos (família, ocupação, lazer, etc) nos recursos do indivíduo, e potenciá-los.

 Importância do apoio /suporte social

 Importância dos afectos e do toque

 eficácia em patologias graves de tratamento ambulatório /centros de acolhimento vs


internamentos psiquiátricos duradouros
VII. Exemplos de interacções medicamentosas
Quadro I

Fonte : Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Quadro II

Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Quadro III

Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Exercício
Em relação às seguintes histórias clínicas sumárias, refira os
sintomas/perturbações que nelas se evidenciam, tendo em vista o
estabelecimento dos diagnósticos sindromáticos.

 Homem de 26 anos, estudante universitário e funcionário público, casado, tendo sido


sempre considerado por todos com quem convivia como uma pessoa normal, embora
pouco comunicativo, e com tendência para a introversão, começa inexplicavelmente a dizer
à mulher que no emprego, e na faculdade todos o olham de forma estranha, uns como que
troçando, outros como que ameaçando. Particulariza que há, inclusive, professores que
apresentam “data shows” com fundo vermelho, o que para ele significa que o irão reprovar,
e que o seu superior lhe pede que execute trabalhos impossíveis, para ver se ele se esgota
e comete erros graves que impossibilitem a sua pressagiada promoção. Afirma que os
órgãos de comunicação social se referem a ele frequentemente, exemplificando que grande
parte das notícias dos telejornais, são formas camufladas de divulgar o que ele está a
pensar, e que acredita que quase todas as pessoas acabam por saber o que pensa. Diz,
ainda, que os cartazes publicitários móveis são uma espécie de despertadores que alertam
as vozes dentro da sua cabeça para lhe darem ordens, sentindo-se completamente
manietado, mesmo quando opta por não escutar as notícias, ou olhar para os anúncios.
Confia que o seu único vizinho possui um dispositivo para lhe dar choques eléctricos à
distância pois, muitas vezes, sente picadas e uma espécie de corrente eléctrica a percorrer-
lhe o corpo quando se aproxima das paredes de sua casa. Após grande insistência da sua
mulher, acaba por deixar-se observar por um médico para verificar se terá alguma doença
física, mas não lhe é diagnosticada qualquer perturbação corporal.
Exercício

2.Mulher de 30 anos é levada às urgências por ter ficado, subitamente,


sem poder movimentar os membros do lado esquerdo depois de ter
discutido com o marido. Já havia sido observada em outras ocasiões, e
da preenchida ficha clínica constavam episódios em que tinha ficado
incapaz de falar, outros de ver, e alguns em que, como agora, não
conseguia andar, tendo a recuperação sido rápida e total. Tal como
nessas ocasiões, a equipa de saúde verifica a inexistência de qualquer
perturbação neurológica ou doença física que explique os sintomas
apresentados. Apesar da incapacidade física a doente não se mostra,
aparentemente, muito preocupada ou ansiosa. Como em outras
ocasiões, é encaminhada para a psiquiatria onde o médico lhe institui
uma terapêutica tranquilizante, e a apoia psicologicamente, ficando a
paciente completamente boa ao fim de poucos dias
Exercício

3. Mulher de 69 anos que é levada ao médico psiquiatra pela família por


ter começado há cerca de dois anos a revelar, cada vez mais
intensamente, uma perda de memória de fixação, e, de um modo geral,
das capacidades intelectuais, estando incapaz de tomar conta de si
mesma, precisando da ajuda de terceiros para se vestir e executar
actos banais. No decorrer da observação verifica-se que não sabe qual
é a data actual, e ignora os locais onde se encontra e reside. Embora
tenha conseguido fazer com êxito, na idade própria, os estudos
primários, secundários, e tirado o curso de professora primária com
elevada classificação, exercendo a profissão com competência, revela-
se incapaz de compreender um texto muito simples, de escrever uma
frase elementar que lhe é ditada, de reconhecer objectos de uso
corrente, e de repetir pequenas séries de números, não existindo
quaisquer defeitos de audição ou visão. Sujeita a vários exames
médicos físicos, verifica-se que não sofre de doenças somáticas,
incluindo doenças vasculares como arteriosclerose significativa
Bibliografia básica

Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste
Gulbenkian

Fernandes da Fonseca, A (1985) Psiquiatria e Psicopatologia. Lisboa. Fundação


Calouste Gulbenkian

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