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Rute Lemos
Setembro de 2008
Programa aula de semiologia psiquiátrica. Esc. Sup. Enf. Calouste Gulbenkian (3 horas) 25 de Setembro
VIII. Exercícios.
I. Introdução à psicopatologia
A semiologia psiquiátrica ocupa-se dos sinais e sintomas que traduzem a psicopatologia, com o
objectivo diagnóstico, cujo fim, é a terapêutica
Saúde (OMS) - Estado de completo bem-estar físico, psíquico e social, não somente a ausência de
doença ou enfermidade
(1/2 população sem bem-estar social ?)
Nota:
1.Consciência
2.Atenção
3.Percepção (psico-sensoriais)
4.Orientação
5.Memória
6.Inteligência
7.Afectividade e emoção
8.Pensamento
9.Vontade
10.Psicomotricidade e energia vital
11.Linguagem
O primeiro grupo (CAPOMI) destaca as síndromes cerebrais orgânicas (por exemplo nos
estados de delirium costumam estar alteradas as primeiras quatro funções, e nos casos de
demência , a memória e a inteligência)
Classificações:
DSM-IV (1994) Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (American Psychiatric
Association)- proposta de uma avaliação multiaxial ( I- síndromes clínicos, II- Perturbações de
personalidade e desenvolvimento, III- Presença e gravidade dos factores de stress (agentes patogénico
de natureza psicossocial), V- Nível mais elevado de funcionamento adaptativo alcançado no ano anterior
à doença)perspectiva essencialmente descritiva, evitando presunções etiológicas ou patogénicas
aparência alterada: :
1. Aparência: tipo físico, roupas, adereços, cabelo, sinais de ansiedade – mãos húmidas,
testa suada, inquietação, postura tensa, voz contida, olhos arregalados, etc
2. Comportamento e actividade psicomotora: modo de andar, maneirismos (actos repetitivos), tiques,
gestos, ecopraxia (repetição dos gestos de outra pessoa), rígido, lentificado, agitado, etc
3. Discurso: débito verbal rápido, lento, hesitante, emotivo, monótono, alto, sussurrado, inarticulado,
murmurado, gaguez, ecolália, espontaneidade, tempo de reacção- latência da resposta, vocabulário,
etc
4. Atitude: cooperativa, atenta, interessada, franca, sedutora, defensiva, negativismo, hostil, evasiva,
reservada, empática
Nota : importante é também a reacção que determinada pessoa despoleta em nós, se nos provoca empatia,
desconforto físico ou emocional, etc.(tendemos a empatizar mais facilmente com as patologias menos graves ,
de índole neurótica)
Alterações da consciência:
Estado de lucidez ou de alerta , variando da vigília até ao coma. É o reconhecimento da realidade externa
ou de si mesmo, em determinado momento, e a capacidade de responder aos seus estímulos. Podem ser :
alterações quantitativas (alterações na vigilidade )
e alterações qualitativas (modo como os conteúdos da consciência são apreendidos e
vivenciados.
Alterações da vigilidade – percorrem um continuum desde o estado de alerta ao coma, individualizando-
-se graus intermédios como a obnubilação, sonolência (estímulos leves), o torpor (estímulos muito intensos) , o
pré-coma, e o coma.
Turvação da consciência. Perda da acuidade de apreensão do mundo exterior e /ou interior: as representações
dos estímulos e situações tornam-se menos nítidas, e as suas fronteiras menos precisas (embotamento do
sensório)
Estreitamento da consciência: polarização do campo da consciência, como se a apreensão de estímulos se
concentrasse selectivamente sobre um tema restrito ou uma experiência vivida. (ex. estados crepusculares)
Expansão da consciência :o campo da consciência alarga-se a estímulos de natureza e proveniência diversas,
os quais são normalmente apreendidos como mais intensos. (um mesmo doente pode apresentar em períodos
sucessivos estreitamento e expansão da consciência). Pode surgir espontaneamente (esquizofrenia, mania) ou
intencionalmente (meditação, alucinogéneos).
Nota : alterações na consciência como consequência do uso quer de drogas, quer de psicofármacos por
e xe mp lo estad o de ale rta (anfeta min as e cocaína, e a bstinênc ia de be nzodi azepín icos)
Alterações da Atenção
Função psicológica que consiste em focar a actividade consciente num determinado estímulo ou
experiência. Pode tratar-se de um processo activo ou passivo. Chama-se concentração à
capacidade de manter um esforço de atenção ao longo do tempo.
Erros perceptivos
Nas oligofrenias e demências estão sempre implicadas alterações das funções intelectuais
superiores . Distinguem-se por nas demências existir perda de capacidades relativamente a um
nível anterior – deterioração.
Diagnóstico diferencial
As alterações da ‘inteligência’ devem ser diferenciadas dos estados de defeito, observados por ex.
na esquizofrenia crónica, que não têm uma base orgânica evidenciável, e não implicam perdas
irreversíveis (são sensíveis a factores motivacionais e ambientais, e podem ser transitoriamente
interrompidos). Devem diferenciar-se também das perturbações do funcionamento intelectual
observadas durante os estados confusionais que, em regra, cessam com a resolução
da situação.
Alterações da afectividade e emoções
Alterações da emoção incluem :
Indiferença emocional/anestesia afectiva - perda da capacidade de reagir emocionalmente aos
estímulos (ex.“sinto-me incapaz de sentir’), ausência de ressonância emocional. Ocorre em
situações diversas, certos períodos de crise pessoal (adolescência), depressão, esquizofrenia,
psicopatias, e em certos estados orgânicos. Na esquizofrenia, esta indiferença assume uma
tonalidade especial, configurando uma frieza emocional intensa e bizarra
Monotonia emocional (monotonia afectiva)- redução da capacidade de modulação emocional. Ex.
ind. Que reage sempre com irritabilidade, independentemente dos estímulos. Ocorre sobretudo
nos doentes deprimidos, mas também em certas síndromes psico-orgânicas.
Hiperemotividade. Resposta emocional desproporcionada à intensidade dos estímulos. Exagero e
perda de controlo das respostas emocionais. Observa-se na depressão, histeria, estados
ansiosos, e síndromes psico-orgânicos.
Labilidade emocional. Oscilações frequentes dos estados emocionais, de curta duração e
sofrendo inversões rápidas. Observada na depressão, histeria, alguns estados orgânicos, mas
fundamentalmente na patologia borderline (limite)
Discordância emocional (afectiva)- indivíduo expressa emoções desadequadas à situação. Por ex.
ri ao recordar aspecto doloroso. Perturbação observada na esquizofrenia, pode ocorrer durante
estados ansiosos, e em algumas depressões, ou resultado de lesões orgânicas.
Ambivalência.Coexistência acentuada de estados emocionais contraditórios.,frequente nas
esquizofrenias
Alterações da afectividade e emoções (cont.)
Alterações do humor , incluem :
Humor depressivo (depressão)- a perturbação nuclear é o sentimento de tristeza, que pode fazer-
se acompanhar de desânimo, abatimento, perda de interesse, iniciativa, incapacidade de
sentir prazer (anedonia), pessimismo, dificuldade em tomar decisões, sentimentos de auto-
desvalorização, etc
Humor ansioso (ansiedade) Medo sem objecto. Ansiedade psíquica (componente subjectivo de
mau estar e apreensão) e somática (com hiperactivação do sistema vegetativo). Se focada
em determinado estimulo corresponde às fobias (incluidas nas perturbações de controlo do
pensamento)
Humor disfórico - estado afectivo dominado por sentimentos de irritabilidade, tensão interior,
susceptibilidade exagerada. Formas mais intensas e duradouras ocorrem nos estados
epilépticos, depressivos e em algumas neuroses.
Alterações do pensamento (alterações do curso do pensamento)
Incluem alterações de natureza diversa que podem ocorrer em numerosos transtornos psiquiátricos.
Do ponto de vista descritivo devem distinguir-se:
1. Alterações do curso do pensamento
2. Alterações da forma do pensamento
3. Alterações do conteúdo do pensamento
Pensamento inibido- progressão lenta e irregular. Discurso lento e aumento do tempo de latência das respostas.
Frequente nas depressões
Pensamento acelerado -sucessão de ideias e discurso anormalmente rápidos. Frequente em estados ansiosos,
sem que exista perda da finalidade do pensamento (fuga de ideias)
Pensamento automático (mentismo)-sucessão rápida de ideias e imagens que pode ou não ter correspondência
com as preocupações actuais do indivíduo. Distingue-se por ser vivido de forma incoercível . Observável em
estados de ansiedade intensa
Fuga de ideias- pensamento muda constantemente de objectivo.Frequente na mania, mas também em crises
psicóticas , e estados orgânicos
Pensamento circunstanciado - incapacidade de distinguir essencial do supérfluo. Ocorre em epilepsias, TOC, e
algumas lesões
Pensamento empobrecido- redução de temas e conteúdos. Depressão e síndromes psico-orgânicas.
Perseveração verbal - repetição de palavras ou frases de forma desadequada ao contexto. Síndromes psico
orgânicos
Bloqueio do pensamento: interrupção repentina e imotivada do curso do pensamento. Geralmente observado na
esquizofrenia (passagem rápida de um assunto para o outro)
Pensamento incoerente –passagem de tema para tema sem relações associativas aparentes, o que torna
impossível acompanhar o discurso. Frequente nos estados confusionais, pode observar-se também na mania e
em crises agudas de esquizofrenia
Respostas ‘ao lado’ (para respostas)- resposta sem relação com a pergunta. Comum em esquizofrénicos
Alterações formais do pensamento
Conjunto de perturbações em que estão comprometidas as
capacidades de conceptualização e abstracção
Distinguem-se alterações:
Relativamente aos conteúdos do delírio, podem ser variados, mas são frequentes os
delírio de auto-referência, de perseguição, de ruína, de grandeza, de culpa (frequente nas
depressões), hipocondríaco, de ciúme (frequente no alcoolismo crónico)
Apetite
▪ Diminuição (depressão, esquizofrenia, etc)
▪ Aumento (bulimia ansiosa, mania, esquizofrenia. Excluir
causa orgânica (tumores hipotálamo, diabetes, etc)
Sexualidade
▪ Afasia motora ou não fluente (há compreensão do que é dito, mas o indivíduo é incapaz
de traduzir pensamento em palavras)
▪ Afasia sensorial ou fluente (incapacidade de compreender linguagem falada ou escrita.
O doente fala, mas o seu discurso não faz sentido)
III.Tipos de diagnóstico
Diagnóstico psicopatológico identificação dos elementos psicopatológicos isolados, descrição e
denominação.
Diagnóstico sindromático agrupamento dos elementos psicopatológicos num âmbito constante,
organizados em constelações clínicas.
Diagnóstico nosológico- Entidade clínica que descreve um quadro de estado, determinantes
etiopatogénicos, prognóstico, e intervenções terapêuticas adequadas.
Neuroses - perturbações psíquicas de carácter funcional e duradouras em que indivíduo revela pelo
menos relativa lucidez de consciência em relação ao se estado psíquico. Sintomas causam sofrimento
(egodistónicos), sem compromisso da realidade (Depressões,neuroses ansiosa, fóbica, histérica e
obsessivo-compulsiva)
Grandes grupos nosológicos (cont.)
Importa sempre atentar nas áreas que ainda estão funcionais, nos aspectos
positivos (família, ocupação, lazer, etc) nos recursos do indivíduo, e potenciá-los.
Fonte : Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Quadro II
Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Quadro III
Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Exercício
Em relação às seguintes histórias clínicas sumárias, refira os
sintomas/perturbações que nelas se evidenciam, tendo em vista o
estabelecimento dos diagnósticos sindromáticos.
Dias Cordeiro, J.C (1986). Manual de Psiquiatria Clínica. Lisboa. Fundação Calouste
Gulbenkian