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ESTUDO DE CASO 1 - TOC

Márcia fica muito incomodada ao tocar em maçanetas. Utiliza de diversas artimanhas


para não encostar nas mesmas. Pensa que as maçanetas podem contaminá-la e tem medo
de passar os germes para os móveis da casa.
Toda vez que toca em algo que julga estar sujo, vai direto a pia e lava suas mãos
repetidamente, esfregando bem entre os dedos, tornando isto um ritual.
Também não gosta de tocar em dinheiro, evita banheiros públicos e locais como teatro,
ônibus, cinema e parques causam nela ansiedade paralisante. O risco de contaminação,
para Márcia, é presença constante. E seus pensamentos constantes são de que está
correndo riscos sérios de contaminação.
Márcia iniciou a psicoterapia on-line por perceber que estas situações estavam
prejudicando sua vida social, pessoal e profissional.
Nos primeiros encontros identificamos seus medos e seus comportamentos de segurança
e evitação, através de formulários de trabalho específicos.
Em seguida, junto com a psicoeducação sobre seu diagnóstico, fomentamos a motivação
para mudança. Neste momento as sessões de psicoterapia tiveram por objetivo verificar
qual nível de disposição à mudança Márcia encontrava-se.
Ao verificar que Márcia se encontrava com nível satisfatório para a mudança, iniciamos
atividades com o objetivo de mudar sua relação com os rituais (obsessão). E junto
desenvolvendo novas formas de pensar, e encarar estes rituais.
Começamos então as atividades de exposição, onde, na vida real, Márcia iniciou, de forma
gradual, exercícios de tocar em objetos que considerava sujos.
Esta atividade inicia pela ação menos difícil até a mais difícil, conforme lista de hierarquia
criada com a Márcia. Nestas atividades há um monitoramento dos seus sentimentos e
pensamentos, que são analisados em sessão.
Márcia está em tratamento há um ano e reduziu significativamente seus sintomas. Sua
vida social e pessoal está bastante equilibrada. Já consegue ir aos locais públicos e sente-
se confortável.

Estudo de Caso 2- Tag

B.S.K.D., 23 anos, homem cis, heterossexual, branco, solteiro, espírita, estudante do 6º


ano do curso de medicina, brasiliense.

“Eu não consigo fazer nada direito, passo o dia preocupado, engordei, não consigo
dormir e estou cansado”.

Paciente buscou atendimento no pronto-socorro do Hospital Regional da Asa Norte –


HRAN -, após sair de uma palestra em sua faculdade. Ao encontro do médico, relata que
há 8 meses não está conseguindo concentração suficiente para estudar e tem estado muito
tenso. Afirma que está bem preocupado em relação às provas de residência e, no contexto
da pandemia, tem ficado muito ocioso e, atrelado a isso, come de forma compulsiva o que
o levou a um aumento de peso ponderal, 6Kg em 3 meses. Recentemente, perdeu sua avó
a qual foi responsável pela sua criação. Voltou a roer as unhas, hábito que havia deixado
de lado há mais de 4 anos. Refere não estar conseguindo dormir bem, pois fica durante
horas pensando em vários afazeres, preocupações. Sente-se desconfortável e irritado
quando é questionado em seu rodízio de internato, visto que afirma ter sensações de
“branco”. Buscou atendimento com o psicólogo de uma Unidade Básica de Saúde onde
tem estágios de Medicina de Família e Comunidade, mas não se sentiu confortável com
a abordagem do profissional, abandonando o tratamento após a segunda sessão.

Paciente relata nascimento por parto natural, sem intercorrências na gestação, a


termo. Possuía alimentação saudável com acompanhamento nutricional, antes de
começar a aparecer os sintomas. Atualmente, tem aumentado a ingesta de açúcar e
gordura. Nega uso de drogas ilícitas e refere ingesta alcóolica socialmente.

Possui vida sexual ativa com parceira exclusiva – ambos utilizam métodos de barreira.
Não apresentou o cartão de vacinas, todavia refere estar atualizado.

Estudo de Caso 3- TPOC


O estudo de caso se fez através dos atendimentos clínicos realizados no período de
27/01/03 a 12/12/03, ao longo de 25 atendimentos. As sessões aconteceram
semanalmente nas instalações da clínica-escola da Universidade Federal do Paraná, sendo
acompanhadas através do espelho unidirecional por outro integrante da equipe.

A cliente atendida, que aqui será chamada de “ O.” , é uma senhora casada e mãe de três
filhas (também casadas). O. é dona de casa, mas também vende bombons. No início do
tratamento, sua filha mais nova ainda residia com a cliente por ser a única filha ainda
solteira. Posteriormente se casou, mudando-se para outra residência.

Queixas

Problemas com o Cônjuge: O cônjuge - que será aqui chamado de A. - está aposentado
há oito meses e por isso passa quase que todo o seu tempo em casa. A. é descrito pela
esposa como sendo alguém que não tem iniciativa alguma. O. conta que o parceiro não
arruma as coisas dentro de casa, deixando-a toda bagunçada. Quando tenta fazer algum
serviço doméstico, passa horas intermináveis trabalhando, finalizando em um serviço
muito “ mal” feito. Mais do que isso, suja toda a casa tentando fazê-lo. Traz também que
evita ficar na presença do marido o tanto quanto pode. No 5º atendimento, foi proposto à
cliente que preenchesse uma lista com as suas atividades semanais. Durante a análise
conjunta, foi concluído que a maior parte de seu tempo ao longo da semana era gasta com
os serviços domésticos e com a venda de bombons, guardando somente quatro horas
semanais para estar com o marido.

Problemas com os genros: Expressa seu descontentamento com os genros. O marido de


sua filha mais velha é descrito como alguém que não tem raízes, uma pessoa que não
possui uma “ boa” ligação com a sua família de origem. Segundo a cliente, o genro não
consegue emprego estável e ainda omitiu para a esposa o fato de que já tinha tido um
filho com outra mulher. Por sua vez, a filha do meio casou-se com alguém com problemas
semelhantes - além de não ter raízes e emprego estável, este genro não cuida
adequadamente da sua esposa enferma. Destas constatações, O. tenta direcionar as
decisões das filhas em detrimento dos genros, chegando a empregar grande esforço para
convencer uma das filhas a pedir a separação.

Problemas com o estado de saúde da filha enferma: O. apresenta preocupação crescente


com uma das filhas. A família prontamente desaprova a intensidade de suas
preocupações. Embora tenha uma doença crônica (deficiência de imunoglobina), a filha
vem honrando todos os seus deveres. Trabalha de dia em período integral e cursa
faculdade à noite. A cliente afirma que a doença logo irá consumir a vitalidade da filha,
pontuando que esta é também a percepção do médico especialista. Quando é questionada
sobre o parecer do médico a respeito do curso e prognóstico da doença, responde que este
nada lhe disse a respeito. O profissional apenas se limitou a afirmar que o problema era
sério.

Ataques de Pânico: A cliente relata ter ataques de pânico recorrentes. Os ataques ocorriam
no momento em que despertava do sono e embora estivessem circunscritos a este
contexto, não ocorriam invariavelmente em todas as situações. O curso dos ataques teve
seu crescimento gradativamente interrompido com o progresso da terapia. Apenas no 4º
atendimento relatou ter tido outro ataque, logo após uma piora no estado de saúde da filha.

Problemas com o trabalho: Na época em que começaram os atendimentos, foi


confeccionada uma lista de suas atividades diárias. Durante sua análise, foi verificado
que, subtraído o limitado tempo que reservava para si, todo o restante da semana era
destinado ao serviço. O. trabalhava desde o momento em que acordava até a hora de
dormir. Relata no 5º atendimento que por mais que gostasse de novelas, só se sentava na
frente da televisão duas vezes por semana e logo saía, porque tinha que costurar para as
filhas.

No 20º atendimento, expressa que deseja mudar seu cotidiano, mas que não consegue
porque se sente mais calma quando trabalha. Nesta sessão, fala ainda que sempre que
termina um serviço, já começa a pensar em possíveis outros trabalhos para fazer, como
rebocar uma parede, arrumar um portão, varrer a casa, etc.

Obsessões: Mais tarde, no 24º atendimento, relatou que no auge de sua ansiedade era
acometida por pensamentos que lhe “ diziam” que algo ruim estaria para acontecer com
sua família e/ou que teria um derrame ou um ataque do coração. Segundo a cliente, os
pensamentos pareciam “ avisos” . Ocorriam-lhe ao menos cinco “ avisos” por dia.

Estudo de Caso 4- Transtorno de Perosonalidade Dep

Será relatado o caso de uma jovem universitária, sexo feminino, 24 anos, filha mais nova
de uma família de classe média, atendida no Serviço de Orientação Psico-Pedagógica a
Alunos (SOPPA), da Faculdade de Medicina de uma cidade de médio porte do interior
do Estado de São Paulo, com diagnóstico de Transtorno de Personalidade Dependente.

Queixa principal: sintomas de ansiedade em situações sociais e quando sozinha; baixa


auto-estima, angústia intensa quando se sentia só; solicitação de amigas para quase todas
as atividades do dia-a-dia; necessidade de falar constantemente sobre seus problemas;
preocupação excessiva com desempenho em atividades diárias e escolares; necessidade
irracional em desculpar-se; pensamentos persecutórios (acreditava que as pessoas
falavam mal dela); solicitação do namorado e mãe todos os dias, várias vezes, pelo
telefone para reassegurar que gostavam dela; dificuldade de adaptação à cidade e
dificuldades com amiga da república.

História de vida: nunca brincava sozinha quando criança – a mãe ou alguma amiga sempre
participavam; gagueira leve desde os 11 anos; sempre foi uma das primeiras alunas da
classe e a mãe enfatizava isso para as amigas e familiares; teve um único namorado, com
quem está até hoje; ansiosa em situações sociais (quase nunca lia textos em público,
quando a professora pedia, pois tinha medo de gaguejar); baixa auto-estima, sintomas de
desvalia e depressivos; fez cinco anos de cursinho até entrar na faculdade; esquivava-se
sempre em situações de decisões (mãe sempre tomava a frente em todas as situações e
com todos os membros da família); ansiedade em situações novas; necessidade da família
em situações diárias; medo de não ser aceita; poucas amigas.

História familiar: relacionamento conjugal dos pais estável (embora a mãe tomasse
sempre as decisões); funcionamento biopsicossocial dos irmãos normal; pai muito
passivo e mãe excessivamente atenciosa e ativa na relação conjugal, profissional e
familiar. Pai apresentou uma história de Depressão há alguns anos atrás; o que, segundo
a paciente, foi importante para ela identificar sintomas parecidos na sua história atua

Estudo de Caso 5- Bulimia Nervosa


Kátia, negra, 38 anos, bissexual, nasceu prematura, filha mais velha de prole de três,
divorciada, ensino superior completo, professora de Ensino Fundamental, mãe de dois
filhos (um de 17 e outro de um ano), classe média-baixa. Reside com seus dois filhos em
um bairro da periferia da capital paulista. Reportou prisão de ventre severa desde a
infância. Apenas conseguia evacuar na presença da mãe, com quem mantinha uma relação
conflituosa e distante. Quando sua mãe passou a trabalhar fora de casa, em três turnos,
ficou, aos 10 anos, 15 dias sem evacuar e precisou ser submetida à lavagem retal. Foi
sexualmente molestada aos 13 anos por uma pessoa próxima à família, com diferença de
idade aproximada de 20 anos. Nunca reportou o ocorrido aos familiares ou amigos.
Iniciou comportamentos de restrição alimentar aos 14 anos porque “não queria ter peito
nem bunda” (sic). Tinha medo de que o corpo chamasse atenção de homens e, por isso,
“não queria ter curvas e gostava de usar roupas largas” (sic). Teve a primeira compulsão
alimentar aos 15 anos. Ainda com a mesma idade, teve o primeiro episódio de purgação,
por vômito autoinduzido. Aos 16 anos, começou a fazer uso abusivo de laxantes. Com
índice de massa corporal (IMC) mínimo de 16,7 kg/m2 , aos 18 anos, a paciente preenchia
os critérios diagnósticos para Anorexia Nervosa do subtipo purgativo. Dos 16 até 38 anos,
fez uso de laxante para provocar diarreia aproximadamente três vezes por semana, e
induzia vômito aproximadamente quatro vezes por semana. Teve períodos de melhora
durante a gravidez dos dois filhos, mas nunca deixou de ter compulsões alimentares e
comportamentos compensatórios. Procurou tratamento porque recentemente descobriu
que sua filhamais velha tambémapresenta comportamentos de compulsão alimentar e
purgação. Katia apresentou relatos de culpa e manifestou desejo de se tratar para poder
ajudar a filha. Posteriormente, relatou que apresentava vômitos sanguinolentos, o que a
fez perceber que precisava de tratamento. Disse ainda que sua mãe também tinha uma
relação difícil com a comida e com o corpo, evitando alimentos calóricos e fazendo
exercícios físicos de maneira vigorosa e com comportamentos de purgação eventuais.
Nunca foi atendida por profissionais da área da saúde mental. Iniciou o tratamento
eutrófica (54,5kg, IMC=20,2 kg/m2).

Estudo de Caso 6- Transtorno Dismorfico COrporal

C., 39 anos, sexo feminino, solteira, de nível universitário. Refere que há dez anos
apresentou, sem motivo aparente, vários episódios seqüenciais nos quais tinha tontura,
opressão no peito, insônia, medo de ficar sozinha, insegurança para dirigir e sensação de
que lhe faltava o ar. Nessa época, foi medicada com clomipramina obtendo melhora dos
sintomas. Havia cerca de dois meses, ao achar que a musculatura da face se tornara
flácida, iniciou uma seqüência de exercícios físicos para reforçá-la. Colocava na boca um
dispositivo metálico, como se fosse uma mola que distendia suas bochechas, e fazia
diariamente uma série de exercícios durante mais ou menos 15 minutos.
Concomitantemente, começou a se sentir insegura, não saía à rua desacompanhada,
deixou de dirigir, permanecendo a maior parte do tempo trancada em seu quarto. Nessa
mesma época, notou contrações faciais involuntárias, a tal ponto que, às vezes,
apresentava dificuldade para falar. Passou a se olhar constantemente ao espelho com a
nítida impressão de que suas faces esta- vam caídas. Pergunta insistentemente aos
familiares sobre sua própria aparência e sente-se inconformada com o fato de que seus
familiares “se recusam a enxergar” as alterações que lhe ocorrem no corpo. Está
firmemente convencida de que a musculatura da face está flácida e de que as bochechas
desabaram. Toca constantemente o rosto, repetidas vezes durante a consulta, como se
quisesse manter os músculos elevados. Refere também insônia e incapacidade de se
relacionar com pessoas do sexo masculino. Queixa-se de que já teve algumas relações
amorosas frustradas e de que “tudo o que começa não vai pra frente”. Cursou engenharia
química, mas não exerceu a profissão. Refere ter dificuldade nos relacionamentos
pessoais; afastou-se do convívio social, apresenta falta de motivação e medo do futuro.
Não há antecedentes mórbidos psiquiátricos entre os familiares. A paciente refere com
insistência que não só a face está flácida e caída, mas também os seios e as nádegas.
Refere também ter-se submetido à psicoterapia há dez anos, durante três meses. A
motivação para a procura desse tipo de tratamento foi timidez, insegurança e crises de
pânico, além de dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Não conseguia tomar
nenhuma decisão relativa a seu futuro. Nega ter obtido qualquer benefício com a
psicoterapia. Nega ter feito uso de qualquer droga ou medicamento à época em que os
sintomas corporais apareceram. Ainda não se submeteu a nenhum tipo de tratamento
medicamentoso para o problema atual, exceto tomar alprazolam 0,5 mg/dia na tentativa
de reduzir sua ansiedade e insônia. O exame clínico mostra uma mulher jovem de boa
aparência, bem vestida, comunicando-se normalmente, orientada têmporo-espacialmente
e alopsiquicamente. O exame da face não mostra alterações na pele, o tônus muscular é
normal, os movimentos faciais são normais e simétricos, a sensibilidade cutânea da face
é normal, o reflexo córneo-palpebral está presente bilateralmente, não há evidência de
atrofias ou outras alterações de qualquer natureza. Não há também nenhuma evidência de
que tenha alterações nos seios ou nádegas. Mini Mental State Examination (MM) =30
pontos. Foram realizados os seguintes exames laboratoriais: hemograma, glicemia, uréia
e creatinina, T3, T4, TSH, EEG, TC de crânio, cujos resultados foram normais. Optou-se
por medicá-la inicialmente com 75 mg de venlafaxina/dia. No final da primeira semana
de tratamento, a paciente referia nítida melhora dos sintomas corporais. Houve redução
da ansiedade e melhora do sono. Havia reduzido o número de vezes em que se olhava ao
espelho, porém admitia que o desânimo e a falta de motivação, bem como o isolamento,
não haviam sofrido melhora significativa. Foi decidido aumentar a dose de venlafaxina
para 75 mg duas vezes ao dia. Nova avaliação foi realizada 30 dias depois, quando, então,
a paciente estava assintomática. Dormia bem, não se sentia depressiva, havia melhorado
o contato com os familiares, saía desacompanhada à rua, dirigia e não se olhava ao
espelho de forma compulsiva. Foi sugerida a manutenção do esquema terapêutico, com
revisões periódicas mensais. Seis meses depois do início do tratamento, a paciente
permaneceu assintomática.

Estudo de Caso 7- TCAP E TOC

Identificação: A., masculino, 26 anos, natural do Rio de Janeiro, pardo, solteiro, terceiro
grau incompleto, católico. Queixa principal: “Como compulsivamente”. História da
doença atual: paciente conta que, há oito anos, começou a ter pensamentos absurdos e
sem sentido, com conteúdo predominantemente sexual. “Vinham frases em minha. mente,
como: ‘meu pai quer transar comigo’, ‘eu tenho seios’, assim como imagens minhas
fazendo sexo oral com homens”. Esses pensamentos só podiam ser dissipados depois de
repetidos exaustivamente ou após a execução de atos motores. Considerava os
pensamentos como seus, mas não conseguia evitá-los, tentando, em várias ocasiões,
resistir à execução dos atos , sempre sem sucesso. O tempo gasto com os sintomas passou
a repercutir em seus estudos e relacionamentos interpessoais. Fez uso regular de
clomipramina (300 mg/dia), fluoxetina (80 mg/dia), paroxetina (20 mg/dia), risperidona
e tioridazina, administrados isolada ou associadamente, por tempo adequado, sem
melhora clínica significativa. Há dois anos iniciou o uso de olanzapina (10 mg/dia), com
diminuição acentuada do tempo gasto com os sintomas obsessivo-compulsivos. Após
dois anos do início do XXXX, começou a apresentar episódios em que ingeria, num
tempo médio de até duas horas, uma quantidade de comida definitivamente maior do que
a maioria das pessoas comeria num mesmo período, com perda do controle sobre a
ingesta. “Certa vez, comi, em uma hora, três sanduíches, um milkshake, dois sacos de
pipoca e uma barra grande de chocolate, sem conseguir me controlar”. Durante esses
episódios, comia de forma rápida, mesmo sem fome, chegando a causar grande
desconforto físico e sentimento de culpa após a ingesta. Apresentava uma freqüência de
três episódios/dia, num total de vinte e um episódios/semana. Negava comportamentos
compensatórios regulares com o intuito de controlar as conseqüências da ingesta calórica
excessiva. Chegou a ganhar vinte e um quilogramas num período de três anos. Negava
outros antecedentes mórbidos familiares ou pessoais, incluindo períodos de duas ou mais
semanas de tristeza ou perda de interesse continuados. Foram solicitados hemograma e
bioquímica completos, função hepática e tiroidiana (sem alterações), além da aferição
antropométrica do paciente, com o cálculo de IMC de 31,3 kg/m². Foi iniciada a
sibutramina na dose de 15 mg/dia, visando o controle dos sintomas do XXXX

ESTUDO DE CASO 8- BORDER


Batista era um menino que se considerava feliz até os 4 anos, época de muitas brigas entre
seus pais. Sua mãe, após trair seu pai, apanhou do mesmo e foi expulsa de casa. O paciente
disse que não conseguia sentir nada ao lembrar de tudo isso, mas pensava que deveria
sentir. Após esse fato, sua infância mudou bastante, para pior. Seu pai conheceu uma
outra mulher, que veio a ser sua madrasta.

O paciente tinha o costume de brincar com insetos mortos, os quais gostava de enterrar.
Quando criança ajudava seu pai no trabalho, a quem gostava muito de fazer perguntas.
Batista era chamado de "CDF" pelos colegas e outros garotos da escola, fato que odiava.
Até uma certa idade, urinava na calça, o que fazia-o sentir-se inferior ao seu irmão. Nesta
época, seu pai penteava o seu cabelo com bastante força, para que ele não fosse
discriminado na escola por sua ascendência materna negra.

Morava numa cidade do litoral e trabalhava numa discoteca. Quando expressou vontade
de prestar vestibular, não foi estimulado pelos seus familiares. Na ocasião, tinha
problemas de relacionamentos com as pessoas e sentia a falta de uma namorada. Há
alguns anos, seu pai sofreu um derrame e ficou com os membros paralisados.

Quando Batista sentia-se deprimido queria ficar sozinho e parado, sem fazer coisa
alguma. Quando sentia-se assim com os amigos, só escutava. Irritava-se quando estes lhe
perguntavam a razão daquele estado; ele dizia que estava cansado, que estava com dor de
cabeça, ou algo parecido. Gostava de fazer tudo por prazer. Às vezes, fazia gestos e sentia
coisas estranhas: tremedeira, inquietude, sentimento de caos e vazio, batia em sua própria
cabeça ou plantava bananeira e perdia a noção do passado e só tinha consciência do
presente. Sentia-se muito inseguro e superficial. Cursava a universidade e tinha uma
namorada (Débora), há cerca de três anos.

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