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ASPECTOS DO FUNCIONAMENTO DE
PERSONALIDADE DE CODEPENDENTES
Aspects of personality functioning of Family co-dependents
Resumo
Abstract
The study aimed to verify aspects of personality functioning of Family co-dependents. Research
was conducted in a support group for families of drug addicts in a country town of São Paulo,
Brazil, consisting of 15 male and female participants over 18 years of age, who were in constant
contact with chemical dependents. A Sociodemographic and Co-dependency Identification
Questionnaire, as well as the Personality Factors Battery (BFP) were used to assess the
participants. Results of main personality attributes’ quantitative and qualitative analysis showed
9 participants as co-dependents through CODA identification questionnaire. For the BFP
results’ main aspects were reduced self-esteem, anxiety, insecurity, tendency to depression,
vulnerability and emotional instability, as well as difficulty in identifying or expressing feelings,
decision-making and tendency to be manipulated by others. Therefore, the sample presented
characteristics according to literature, and results point to possibilities of therapeutic
intervention with patients and their relatives.
Keywords: drug addiction; dependence; family.
Resumen
Introdução
com outra, evidenciando-se tanto por uma preocupação acentuada com os problemas e a
vida do outro como na forma em que suas ações são dirigidas ao mesmo. Essa condição
traz prejuízos sociais, desequilíbrio emocional e pode afetar a saúde física. Tais aspectos
grupal e sexual e, enfatizar, a codependência familiar como foco deste estudo. Essa é
deprimir quando não elogiado, sentimento de culpa por fazer algo que se beneficie,
do seu convívio apresentam algum problema pode sentir pena, ansiedade ou culpa,
assim como responsabilizar-se por estes e por seus pensamentos, ações, sentimentos e
até mesmo pelo destino das mesmas. O codependente tanto realiza suas tarefas, como
em alguns momentos faz além do que lhe foi proposto, e pode mostrar-se indeciso em
relação ao que quer, ou dizer a si mesmo que não é importante (Beattie, 2010; Mellody,
las. Usualmente abandona sua rotina quando chateados com alguma coisa. Em termos
de controle, apresenta medo de permitir que os outros sejam autênticos e que as coisas
problemas, acreditando que as situações irão melhorar. Além disso, propende a comer
limites.
e raiva, e ao acreditar que será abandonado por se sentir assim, reprime tais sentimentos.
sexuais, transformando o ato sexual em algo apenas técnico (Beattie, 2010; Mellody,
outro como doença e, assim, costuma-se dar justificativas para este comportamento.
ser útil acompanhada de sofrimento e vitimização. Por outro lado, busca excessivamente
Nota-se, ainda, uma dificuldade entre sentir e perceber, assim como uma
personalidade.
indivíduo sentir, se comportar e pensar (Pervin & John, 2004), contemplado aspectos
e culturais diferentes. Dentre elas destaca-se a teoria de traços, cujo modelo teórico
podem ocorrer alterações resultantes das interações dos indivíduos com o meio social.
teoria dos traços é o Modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), que se originou da
entender quais fatores estão associados com as características da personalidade (Hutz &
cols., 1998).
É importante destacar que foram realizados vários estudos com esse modelo
as escalas que compõem cada um dos cinco grandes fatores (Pervin & John, 2004).
Sintomas como depressão e ansiedade também estão ligados a estes altos níveis. Esses
enxergando problemas ou ameaças que não existem (Ávila & Stein, 2006; Nunes, Hutz
atitudes que não as agradam para satisfazer o outro. Além disso, exibem grande
sofrimento em relação à aceitação do outro. Escores baixos podem indicar frieza e falta
de sensibilidade para com os demais e independência emocional (Hutz & Nunes, 2001;
faceta passividade e falta de energia, descreve indivíduos que tendem a adiar suas
tarefas ou planos, necessitando do apoio de outros para dar continuidade. Além disso, se
privam de resolver seus próprios problemas ou defenderem seus interesses, baixo escore
procuram contatos com pessoas. Ainda que tenham pouco conhecimento das mesmas,
confiam e contam fatos íntimos. São ativas e demonstram suas crenças e preferências
(Hutz & Nunes, 2001; Nunes, 2007; Nunes & cols, 2010). A faceta altivez denota
receber e falar sobre si, enquanto níveis baixos apresentam pouca necessidade de
atenção e humildade. A escala interações sociais descreve sujeitos que buscam relações
sociais, atividades em grupos. Alto índice nessa escala indica indivíduos que procuram
manter contato com pessoas que conhece, por outro lado pontuação baixa denota
Pontuação baixa significa que apresentam pouca disponibilidade para com os outros,
regras sociais, moralidade, agressividade. Altos índices nesta escala indicam tendência a
honestidade dos outros, em contrapartida índices baixos indicam pessoas céticas (Nunes
Em contrapartida, indivíduos com níveis baixos tendem a terem baixa motivação para
pouco pontuais, têm planejamento difuso e sem noção clara de como alcançarão as
metas (Nunes & cols, 2010; Santos, Sisto & Martins, 2003). A faceta competência
refere-se à atitude ativa na busca dos objetivos, o quanto a pessoa acredita em sua
objetivos claros. Escore baixo indica percepção desfavorável sobre sua capacidade,
pouca disposição para lutar pelos objetivos e evita tarefas complexas. (Nunes & cols,
2010).
Índice alto denota curiosidade, criatividade, imaginação, gosto por novas ideias e pelo
não convencional. Escore baixo indica tendência a ser convencional, rígida, dogmática e
atividades que usam a imaginação ou fantasia, são curiosas, enquanto índices baixos
tendência a abertura para novos valores morais e sociais (Hutz & cols,1998; Nunes &
cols, 2010).
Indivíduos com pontuações altas na faceta busca por novidades geralmente não
gostam de rotinas, têm baixa motivação para tarefas recorrentes, e ficam enfadados
quando não podem vivenciar fatos novos. Aqueles com níveis baixos expõem que
sentem desconfortáveis com a quebra de rotina, baixo interesse em fazer algo que nunca
fizeram anteriormente, assim como conhecer objetos e lugares novos (Nunes & cols,
condutas. De forma que não foi apontando na literatura encontrada estudos cujo foco foi
descritas na sequência.
composta por 301 indivíduos com idades entre 15 e 60 anos, 100 são do sexo feminino,
compulsivo. O segundo grupo controle foi composto por 150 indivíduos, sendo 83
mulheres.
pelos próprios autores, a saber, uma escala com 19 itens para avaliar a autoestima, duas
entre pais e filhos, sendo que uma das subescalas verificava o controle emocional e a
percebendo também um controle parental durante a infância dos mesmos (Gomez &
Delgado, 2003).
Ainda, Humberg (2005) avaliou a dependência do vínculo por meio dos testes de
necessidades dos pais do que com sua própria vontade continuou assim na fase adulta,
fazendo do cuidado aos outros sua razão de viver, muitas vezes sentindo-se culpado ao
cuidar de si próprio.
usando de projeções para não assumir responsabilidades. Evitam, por vezes, entrar em
necessidade de ter outra pessoa muito próxima para sentirem-se valorizados (Humberg,
2005).
pautou-se na literatura sobre a codependência, e buscou abranger quatro itens, são eles,
atenção para a vida dos consumidores. Além disso, apresentaram uma indicação de
2013).
necessidade de aparentarem que as coisas estavam bem (Salazar & cols., 2013).
funcionamento que pode acarretar prejuízos, visto que um ou mais sujeitos acabam por
viver adesivamente o sofrimento de uma pessoa próxima, e até substituir suas próprias
Balone, 2006). Cabe salientar que se dará ênfase na codependência familiar, visto que,
dependente do dependente.
codependentes.
Método
Participantes
com idade média de 53,4 (DP=12,86). Quanto à escolaridade, 26,7% têm o fundamental
completo; 13,3% nível médio inacabado; 26,7% ensino médio completo; 13,3% nível
Instrumentos
iniciais do nome, idade, sexo, estado civil, escolaridade, se tem convívio com
por 19 questões, as quais o sujeito responde com sim ou não. Considera-se um ponto
para cada resposta afirmativa. Desta forma, a partir de quatro pontos considera-se um
Mundial – Estados Unidos (CoDa Mundial, s.d.), e serviu como uma ferramenta para
Bateria Fatorial da Personalidade (Nunes, Hutz & Nunes, 2010) – foi aplicada
como nos sujeitos sem codependência. O instrumento é composto por 124 afirmações
dos cinco grandes fatores (CGF), que inclui a mensuração das dimensões gerais, a
Procedimentos
de Personalidade.
Resultados e Discussão
convívio com dependente químico, sendo que todos afirmaram conviver com um
elaborado pelo CoDa Mundial que serviu para a inclusão dos indivíduos no grupo de
codependente. Este questionário indicou que 60% dos participantes apresentaram traços
Tabela 1
Análise Descritiva e inferencial dos Resultados da BFP
BFP por facetas Codependente N Média DP t Gl p
e em geral
Vulnerabilidade Sim 9 4,59 0,71 2,78 13 0,03
não 6 2,92 1,34
Tabela 1
Continuação
BFP por facetas Codependente N Média DP t Gl p
e em geral
Competência Sim 9 4,88 0,83 1,55 13 0,14
não 6 4,25 0,74
população normativa. Essa análise foi feita em relação aos cinco fatores gerais.
apresentaram média de 2,99, e no manual do teste a média foi de 3,19, o que indica que
De acordo com o manual a média para o fator Extroversão foi de 4,34 e o grupo de não
codependentes obteve uma média 0,92 menor, revelando-se abaixo da média. Esse dado
indica que são indivíduos mais reservados e necessitam de um convívio frequente para
se tornar íntimo dos demais (Hutz & Nunes, 2001; Nunes, 2007; Nunes & cols., 2010).
normativa e média do grupo sem codependência, mostrando que este está abaixo da
média da população normativa. Tal dado sugere indivíduos com tendência a serem
substâncias psicoativas (Nunes & Hutz, 2007; Nunes & cols., 2010).
Realização foi de 0,65 indicando que estão abaixo da média. Tal resultado denota
permanecerem envolvidos em tarefas (Santos & cols, 2003, Nunes & cols, 2010). No
Tal arranjo indica pouca abertura para fantasia e imaginação, e escolhas mais
dois grupos. No fator Neuroticismo a média geral dos não codependentes é de 2,99,
diferença significativamente menor do que a dos codependentes (t=2,75; p< 0,02). Esse
dado é importante, pois indica que os codependentes tendem a apresentar mais sintomas
de depressão, baixa autoestima e ansiedade (Nunes cols., 2010; Ávila & Stein, 2006).
(t=2,29; p<0,05) para os não codependentes, que obtiveram classificação baixa no teste
BFP (Nunes & cols., 2010). A média para os codependentes no fator Socialização foi de
4,88, valor muito próximo ao encontrado nos participantes sem codependência, desta
forma, a diferença entre as médias não foi significativa. Ambos os grupos pesquisados
manipuladores, hostis e com dificuldade em confiar nos demais (Nunes & Hutz, 2007;
tiveram classificação baixa no teste BFP. Pessoas que possuem escores baixo nesse
objetivos claros para sua vida (Nunes & cols, 2010; Santos & cols, 2003). Ao comparar
os escores gerais dos codependentes e não codependentes pode-se observar que não
houve uma diferença significativa entre as médias no fator Abertura (p=0,50), revelando
que ambos apresentaram classificação baixa. Indivíduos com esse perfil tendem a ser
além de dificuldades em tomar decisões (Hutz & Nunes, 2001; Nunes & cols., 2010).
baixa nesta faceta. O que mostra que esta população estudada, prefere geralmente ficar
que obteve diferença significativa em relação aos sem codependência foi Amabilidade
(t=2,78; p<0,02), estes indivíduos se preocupam menos com o bem estar alheio e
tendem a serem mais indiferentes às necessidades de outros (Nunes & Hutz, 2007;
Por fim, na faceta Busca por Novidades constatou-se uma discrepância (t=2,25;
p<0,04) concernente aos não codependentes, indicando pessoas que tendem a não gostar
os codependentes tiveram classificação média indicando que costumam lidar bem com a
quebra da rotina (Nunes & cols., 2010; Vasconcelos & Hutz, 2008).
diferença de média nos fatores e facetas entre os dois grupos, analisou-se a classificação
dos grupos nas facetas e fatores gerais, buscando pesquisar de forma mais apurada os
alta e alta na faceta Vulnerabilidade, o que pode indicar baixa autoestima e medo de que
pessoas importantes possam deixá-los em decorrência de seus erros (Hutz & Nunes,
2001; Nunes & cols., 2010). Esse dado condiz com a literatura, que relata que o
codependente por vezes faz coisas que não deseja para agradar o outro, por insegurança
e dificuldades em tomar decisões (Beattie, 2010; Goméz & Delgado, 2003; Humberg,
(Ávila & Stein, 2006; Nunes & cols., 2010). Tais resultados confirmam a citação de
Assim como as pesquisas de Gómez e Delgado (2003) e Salazar e cols. (2013) sobre os
codependentes com alto grau de depressão. Já a maioria dos não codependentes está na
vulnerabilidade e instabilidade emocional (Ávila & Stein, 2006; Nunes & cols., 2010).
casos extremos, ocorre pensamentos suicidas. Coincide também com Zampieri (2004),
Beattie (2010) e Humberg (2005) de que o codependente focaliza sua energia nos
classificação baixa e muito baixa, demonstrando assim uma discrepância com o grupo
de codependentes.
classificação muito alta e alta (66,6%). Tal resultado mostra que se trata,
provavelmente, de pessoas que gostam de falar sobre si, em especial sobre suas
receber atenção dos outros e não ostentar suas capacidades (Nunes, 2007; Nunes &
cols., 2010).
lugares que propiciam a interação social (Nunes, 2007; Nunes & cols., 2010).
(55,6%). Os não codependentes obtiveram níveis baixos para este fator (83,3%) o que
convivência para adquirirem intimidade com as pessoas (Hutz & Nunes, 2001; Nunes,
baixa, com tendência a serem mais autocríticas e hostis (Nunes & Hutz, 2007; Nunes &
cols., 2010).
envolverem em situações que os coloquem em perigo ou aos demais (Nunes & Hutz,
2007; Nunes & cols., 2010). Há consonância com a declaração de Beattie (2010) de que
comportamentos se tornar uma compulsão (Humberg, 2005; Salazar & cols., 2013).
leis.
que evidencia disposição a perceber os outros de maneira mais persecutória. Por outro
lado, 83,3% dos não codependentes se enquadram na classificação média, com uma
percepção mais realista e tendência a desenvolver intimidade (Nunes & cols. 2010).
classificação muito baixa; o que sugere que são indivíduos com propensão à hostilidade,
Nunes & cols., 2010). Esses achados coincidem com o relato de Beattie (2010),
inconsciente.
não codependentes apresentaram classificação muito baixa, indicando que são pessoas
(Nunes & cols., 2010). Comparando esses aspectos com a teoria, Beattie (2010) relata
com diferentes valores morais e sociais e a noção de que estes podem ser relativizados
(Nunes & cols., 2010). Os resultados dos participantes sem codependência apresentaram
codependentes (55,6%), o que indica que costumam lidar bem com a quebra da rotina,
apesar de também não se importarem quando essa mudança não ocorre. A maioria dos
manter a rotina, que pode conferir mais segurança (Nunes & cols., 2010; Vasconcelos &
Hutz, 2008).
baixa, com 50%. Indica que são pessoas que tendem a serem conversadoras e
dogmáticas, porém convencionais em suas atitudes e crenças (Nunes & cols., 2010;
A partir dos resultados obtidos pode-se constatar que as características que mais
frequência são capazes de terem atitudes que vão contra sua própria vontade e
Considerações Finais
Diante dos resultados obtidos foi possível observar que as características que
familiares visto que as publicações referentes ao assunto são ainda escassas e o tema
pouco discutido cientificamente. Assim, foi possível contribuir para a área da psicologia
Referências
19 de nov. de 2015.
em 17 de fev. de 2013.
Beattie, M. (2010). Co-dependência nunca mais. (M. Braga, Trad.) Rio de Janeiro: Nova
Hutz, C. S.; Nunes, C. H.; Silveira, A. D.; Serra, J.; Anton, M., & Wieczorek, L. S.
modelo dos cinco grandes fatores. Psicologia: Reflexão e Critica 11 (2), 395-411.
de 2015.
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-04712007000100013&script
o que é, como surge, como prejudica nossas vidas. (C. G. Duarte, trad.). Rio de
<https://eupassarin.files.wordpress.com/2012/11/codependencia-afetiva.pdf>.
Pervin, L. A., & John, O. P. (2004). Personalidade teoria e pesquisa. 8 ed. (R. C. Costa,
Salazar, J. J. A.; Rodríguez, M. D.; Cerón, J. J.; Orjuela, C. R., & Chacón, C. A. R.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-
2015.
Paulo: Ágora.
Submissão: 02/09/15
Última revisão: 02/12/15
Aceite final: 03/12/15