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ANTROPOSOFIA
APLICADA À SAÚDE
2
abordagens novas, inspiradas nesse conhecimento. A nomenclatura PICS
corresponde, no Brasil, ao termo, recorrente na literatura internacional,
Traditional Medicine/Complementar and Alternative Medicine (TM/CAM), que
recentemente foi alterado para Traditional Complementary and Integrative
Medicine (TCIM), pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Sobre as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), é
importante ressaltar que abrangem os sistemas médicos complexos e os
recursos terapêuticos. A sociológica Madel Luz (2000; 2005), desenvolveu o
conceito de Racionalidades Médicas, e descreveu o fenômeno da “crise da
saúde”, como um dos fatores relacionados ao aumento da demanda pelas
medicinas integrativas e complementares. Por considerarem o indivíduo em sua
totalidade, as abordagens integrativas e complementares são consideradas mais
eficientes, gerando satisfação e bem-estar.
Barros (2000; 2008) pesquisou os referenciais que compõem o modelo
integrativo de cuidados em saúde, destacando que são fundamentados no
vínculo e na empatia, no conceito de que o paciente deve estar no centro do
cuidado, em uma visão ampliada do processo de saúde e doença, com base em
evidências científicas. As profissões da saúde estão construídas sobre o modelo
biomédico, que valoriza a dimensão biológica dos fenômonos, a fragmentação e
a especialização do conhecimento.
3
fenomenologia proposta por Goethe (Johann Wolfgang von Goethe, 1749-1832).
Além de poeta e escritor, Goethe era também cientista natural, e seus estudos
sobre a natureza apontavam para as metamorfoses presentes nas espécies
vegetais e animais. Observar a natureza com o olhar desenvolvido por Goethe é
um recurso muito utilizado para o estudo das plantas medicinais, por exemplo.
Na filosofia, Steiner destacava a riqueza de possibilidades presentes no
pensamento humano, e sobretudo a liberdade humana. Os seres humanos são
parte integrante da natureza, porém estão em uma condição diferente de
minerais, vegetais e animais, por seu pensar, sentir e agir. Essa qualidade do
pensar sobre si e sobre o mundo é resultado da presença, em nós, de uma
essência (espiritual) denominada “Eu” humano, responsável também pela nossa
individualidade.
Em relação ao sentir, outro aspecto de grande relevância para a
Antroposofia é a inclusão das diferentes formas de arte na vida humana:
desenho, pintura, música, canto, teatro, movimentos. A arte fala diretamente à
nossa alma, nosso sentir, nossas emoções. Uma forma artística especialmente
desenvolvida no âmbito da Antroposofia é a Euritmia. Em relação ao “agir”,
Steiner ressaltou que o mais importante é que o conhecimento pudesse
influenciar áreas práticas e campos do conhecimento. Assim, diversos saberes
foram influenciados pela Antroposofia: a Pedagogia Waldorf, a Agricultura
Biodinâmica e a Medicina Antroposófica são apenas algumas dessas áreas.
Crédito: CC/PD.
4
Na Medicina, o desenvolvimento da “arte médica ampliada pela
Antroposofia” ou Medicina Antroposófica, origina-se do trabalho conjunto da
médica holandesa Ita Wegman (1876 – 1943) com o doutor Rudulf Steiner. Os
conceitos e princípios da Medicina Antroposófica serão desenvolvidos mais
adiante.
Ita Wegman foi a médica responsável pelo desenvolvimento das bases da
Medicina Antroposófica em conjunto com Steiner. Escreveram juntos o livro
Elementos fundamentais para uma ampliação da arte de curar. Propôs
aplicações para enfermagem, massagem e diversas terapias antroposóficas.
Saiba mais
5
vezes viajou para outros estados como no Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e, também, outros países como o Chile, para tratar de
pacientes com câncer. (Benevides, 2017)
6
São Paulo (SP), com ações de atenção primária a saúde (APS) realizadas por
profissionais com perfil generalista:
7
Entre os códigos que a Portaria nº 85/2006 criou, o código 134-007
possibilita a identificação de serviços com PICS orientadas pela
Antroposofia no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
(CNES). Isso representou um avanço quanto ao registro da presença
desse tipo de serviço e dos profissionais em atuação nos mesmos.
8
REFERÊNCIAS
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IVAA – International Federation of Anthroposophic Medical Associations. The
System of Anthroposophic Medicine. Brussels: IVAA, 2014.
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AULA 2
ANTROPOSOFIA APLICADA À
SAÚDE
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A Antroposofia resgata alguns conceitos desenvolvidos na Grécia Antiga
para descrever uma imagem ampliada do ser humano e de sua relação com a
natureza e o universo: um microcosmo em relação com o macrocosmo. Um
desses conceitos, muito conhecido e presente na obra de Hipócrates (460 – 370
ac), é o dos quatro elementos constituintes do universo e de todas as criaturas:
3
calor, é responsável pela individualização de cada ser humano, pela
dimensão da identidade e da autoconsciência. Representa o pensar lógico,
a criatividade e a dimensão da espiritualidade. Os seres humanos são
representantes desse reino.
Individualidade ou
organização do “Eu”
Organização anímica ou
corpo astral
Organização vital ou corpo
etérico
Corpo físico, mineral
5
expressões linguísticas (ex: O amor não se vê com os olhos mas com o coração
– Willian Shakespeare).
6
se que os quatro níveis de forças formativas se inter-relacionam
diferentemente nesses três subsistemas. No sistema neurossensorial,
os dois níveis superiores de forças (alma, espírito) estão relativamente
separados dos dois outros níveis inferiores, e isso provê as condições
que originam os processos de autoconsciência, de percepções
conscientes, e de pensamento consciente. No sistema metabólico-
motor, a interpenetração é mais próxima, provendo assim as condições
à execução dos movimentos corpóreos intencionais. No sistema rítmico,
as inter-relações entre os níveis superior e inferior flutuam em relação
ao aumento ou à diminuição da conexão e isso se associa à origem das
emoções; a interpenetração aumenta durante os processos rítmicos
pulmonares da inspiração e diminui durante a expiração. O modelo da
constituição humana trimembrada leva a reinterpretações distintas dos
ensinamentos da fisiologia convencional.
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Figura 1 – Curvas dos desenvolvimentos
Curva do EU “a”
Curva anímica
“b”
0 7 14 21 28 35 49 56 63
42
Linha do tempo
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Por volta do nono setênio, a alma sofre o desafio de superar a identificação
com o início do envelhecimento na organização biológica e pode abrir-se a um
maior desenvolvimento espiritual. Todas essas situações estão colocadas como
possibilidades e cada individualidade terá o seu próprio percurso biográfico.
Uma visão global do ser humano à luz da Antroposofia foi apresentada nos
temas um, dois e três: quatro membros essenciais (quatro corpos, quatro
elementos), três sistemas funcionais (neurossensorial, rítmico e metabólico),
desenvolvimento integrado de corpo, alma e espírito que acontece no tempo, em
períodos de setênios.
A compreensão do processo saúde e doença na perspectiva desse sistema
médico-terapêutico passa pela identificação de desequilíbrios que afetam tais
processos.
9
Ainda segundo Kienle, 2014:
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REFERÊNCIAS
KIENLE, G.S.; ALBONICO, H. U.; BAARS, E.; HAMRE, H.J.; ZIMMERMANN, P.;
KIENE, H. Anthroposophic Medicine: An Integrative Medical System Originating in
Europe. Global Advances in Health and Medicine, 2013, v. 6, n. 2, p. 20-31.
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AULA 3
ANTROPOSOFIA
APLICADA À SAÚDE
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1.1 A Medicina Antroposófica e os médicos
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tratamentos externos consistem em envoltórios, compressas e banhos
com o uso de calor, movimentos e ou óleos essenciais de algumas
plantas.
Atuando de forma interdisciplinar com outras áreas da saúde e terapias
ampliadas pela Antroposofia, a abordagem do paciente pode ser
realizada em conjunto com profissionais que atuam por meio da
Odontologia Ampliada pela Antroposofia, Psicologia Antroposófica,
Euritmia Terapêutica, Massagem Rítmica, Terapia Artística
Antroposófica, Aconselhamento Biográfico, entre outras. (ABMA, [s.d.])
Saiba mais
Se você deseja conhecer mais a respeito da Associação Brasileira de
Medicina Antroposófica (ABMA), sua atuação e sua história, bem como os
princípios que baseiam a Medicina Antroposófica, vale conhecer o site da
organização. Ele está disponível em: <http://abmanacional.com.br/>. Contatos
também com a ABMA podem ser feitos por meio do seguinte e-mail:
abma@abmanacional.com.br.
4
No Brasil, a Associação que congrega e representa a Farmácia
Antroposófica é a Farmantropo, responsável também pela formação e certificação
dos profissionais.
Saiba mais
Para descobrir um pouco mais sobre a Farmácia Antroposófica, uma boa
sugestão é conhecer o site da Associação Brasileira de Farmácia Antroposófica.
O link está disponível em: <www.farmantropo.com.br>. Contatos com a
organização podem ser feitos por meio do seguinte endereço eletrônico:
farmantropo@farmantropo.com.br.
5
ampliando a prática da enfermagem convencional com técnicas, processos e
atitudes da Enfermagem Antroposófica. Esta foi assim descrita por Rolf Heine
(2018, tradução da autora):
Saiba mais
Dentistas interessados em aprofundar informações podem entrar em
contato com a Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Integrais
Antroposóficos (Ideia) por meio do e-mail. Quem deseja conhecer um pouco mais
a respeito da Odontologia Antroposófica pode conferir o seguinte link:
6
<http://www.odontologiaantroposofica.com.br/apresentacao.html>. Acesso em:
20 fev. 2020.
Saiba mais
Psicólogos interessados em conhecer mais a respeito da Psicologia
Antroposófica podem entrar em contato com a Associação Brasileira de
Psicólogos Antroposóficos (ABPA). O e-mail da organização é:
contato@abpapsi.com.br. O site está disponível em: <www.abpapsi.com.br>.
Acesso em: 20 fev. 2020.
7
Saiba mais
Para quem deseja conhecer o trabalho de Psicoterapia Antroposófica, vale
a pena visitar a página do Instituto Brasileiro e Psicoterapia Antroposófica (IBPA)
no Facebook. Contatos também podem ser feitos por meio do e-mail:
contato@ibpanacional.org.br.
Saiba mais
Para maiores informações sobre a massagem rítmica, confira o seguinte
endereço eletrônico: <https://www.massagemritmica.com.br/massagemritmica>.
Profissionais interessados devem procurar: Associação Asklépios – Rua Regina
Badra, 576, Alto da Boa Vista, São Paulo, SP, contato@massagemritmica.com.br.
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TEMA 4 – TERAPIAS ARTÍSTICAS BASEADAS NA ANTROPOSOFIA
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TEMA 5 – EURITMIA TERAPÊUTICA
Saiba mais
Conheça mais sobre a euritmia terapêutica por meio da Associação
Brasileira dos Euritmistas (Abre). O e-mail de contato com ela é:
abre.euritmia@gmail.com.
FINALIZANDO
Saiba mais
Para saber mais sobre as diversas possibilidades relacionadas à
Antroposofia, sugerimos que você visite o site da Sociedade Antroposófica no
10
Brasil, que está disponível em: <http://www.sab.org.br/portal/>. Acesso em: 20 fev.
2020.
11
REFERÊNCIAS
ABMA – Associação Brasileira de Medicina Antroposófica. Uma medicina
integrativa. [S.d.]. Disponível em: <http://abmanacional.com.br/institucional/a-
medicina-antroposofica/uma-medicina-integrativa/>. Acesso em: 03 fev. 2020.
12
SAB – Sociedade Antroposófica do Brasil. [S.d.]. Disponível em:
<http://www.sab.org.br/portal/>. Acesso em: 03 fev. 2020.
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AULA 4
ANTROPOSOFIA
APLICADA À SAÚDE
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TEMA 1 – CARE 1: GRAVIDEZ, NASCIMENTO E PRIMEIRA INFÂNCIA.
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
3
De maneira resumida, a Medicina Antroposófica vai buscar incentivar,
nesse período:
4
1.2 Primeira Infância – “O mundo é bom”
5
pedagogia Waldorf, inspirada nos ensinamentos de Rudolf Steiner, procura-se
alfabetizar a criança, preferencialmente após essa fase.
6
1.4 Medicina Escolar
Esse cuidado especial que a Antroposofia tem para com a primeira infância
estende-se também à escola. A Medicina Escolar ou Pedagógica compreende
uma formação para médicos que os habilita a acompanharem o desenvolvimento
das crianças de maneira mais individualizada e em conjunto com professores, no
âmbito escolar.
Saiba mais
Para saber mais, acesse:
<http://www.sab.org.br/portal/pedagogiawaldorf>. Acesso em: 13 dez. 2019.
7
2.1 Abordagem da febre
• Recomenda-se fatias de limão nas panturrilhas e solas dos pés para reduzir
a dor de cabeça, especialmente quando as pernas estão frias;
• Em febre alta com desconforto: compressas mornas na panturrilha (nunca
frias), de preferência com rodelas finas de limão;
8
• As compressas na testa (com algumas gotas de suco de limão ou essência
de Arnica) podem aliviar a dor de cabeça. Cuidado com os olhos.
(Anthromedics).
Saiba mais
O vade-mécum de aplicações externas da Enfermagem Antroposófica, que
está sendo traduzido para o espanhol, traz orientações muito detalhadas sobre
diversas compressas e usos de substâncias em aplicações externas: Disponível
em: <http://www.pflege-vademecum.de/anwendungsformen.php>. Acesso em: 18
dez. 2019.
9
Igualmente amplas são as possibilidades de utilização de medicamentos
antroposóficos e homeopáticos pelos médicos para o controle dos sintomas,
melhora do bem-estar e estímulo da imunidade.
E para concluir esta aula sobre os Temas CARE 1 e CARE 2, que estão
muito relacionados com a infância, é importante acrescentar a orientação que a
Medicina Antroposófica faz aos pais de redução do uso das telas digitais por
crianças, especialmente as mais pequenas. Existem já estudos consistentes
apontando que esses recursos hiper-estimulam as crianças e contribuem
negativamente para o desenvolvimento neurológico e emocional saudável das
crianças.
10
Crédito: Thyago Macson.
12
TEMA 4 – CARE 4: ONCOLOGIA
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TEMA 5 – CARE 5: CUIDADOS PALIATIVOS, TERAPIA DA DOR,
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES QUE ESTÃO MORRENDO
Com base em uma visão ampliada do ser humano, que aborda as questões
de saúde considerando as dimensões física, emocional e espiritual, a Medicina
Antroposófica acumula experiências relevantes em cada uma dessas temáticas
CARE 5.
A abordagem da dor compreende medidas que são dirigidas aos sintomas
físicos, destacando-se o papel de medicamentos e das aplicações externas e,
também, recursos para melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento de
forças internas que permitam a convivência com quadros de dor crônica por meio
de diversas abordagens.
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REFERÊNCIAS
KIENLE, G.S.; ALBONICO, H-U.; BAARS, E.; HAMRE, H. J.; ZIMMERMANN, P.;
KIENE, H. Anthroposophic Medicine: An Integrative Medical System Originating in
Europe. Global Advances in Health and Medicine, v. 2, n. 6, 2013, p. 20-31.
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AULA 5
ANTROPOSOFIA
APLICADA À SAÚDE
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Temos diversos ritmos no organismo e eles sustentam a nossa vitalidade.
Um exemplo bem concreto é o ritmo cardíaco. Normalmente não percebemos os
nossos batimentos cardíacos. Entretanto, quando precisamos de mais oxigênio,
como é o caso dos esforços aeróbicos intencionais ou quando nos deparamos
com uma situação inusitada que exige uma reação rápida, há um aumento dos
batimentos – uma aceleração do ritmo cardíaco (e respiratório). Ao contrário,
durante o sono, ambos os ritmos são reduzidos, suavizados. Cada órgão e tecido
possui seus ritmos vitais e de desenvolvimento.
Na esfera anímica, o sentir coloca-se também como mediador entre o
pensar e o querer (agir).
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Entretanto, ainda que singulares, identificam-se fases semelhantes nas biografias
individuais, em correlação com os setênios.
Um dos maiores desafios biográficos é que a dimensão “corpo”
(organizações físicas e etérica) venha a ser um verdadeiro instrumento para a
alma (organização anímica e o Eu), permitindo que o indivíduo realize os seus
impulsos mais íntimos no mundo externo.
As forças hereditárias herdadas dos pais precisam ser transformadas pela
individualidade. Uma grande parte desse processo acontece ainda no primeiro
setênio, através de diferentes processos envolvendo o calor. Simbolicamente, ao
final do primeiro setênio ocorre a troca dos dentes “de leite” pela dentição
definitiva. Esse processo de plasmar o corpo continua no segundo setênio com a
transformação da puberdade e culmina no terceiro setênio com o cessar dos
processos de crescimento. A partir do terceiro setênio, esse processo será mais
intenso internamente, no âmbito anímico do que externamente, no âmbito
corporal.
5
• 21 a 28 anos: alma da sensação ou emocional. Em geral essa é a fase de
experimentar os próprios talentos e o mundo. Frequentemente coincide
com o início da formação profissional ou da construção de relacionamentos
e chegada de filhos. Ao final desse setênio costuma ocorrer a “crise dos
talentos” – sinalizada pelo repensar da carreira e mudança de profissão ou
área a partir da percepção mais aguçada dos próprios talentos e
habilidades. É comum que coincida com deixar para trás as expectativas
dos pais, a dependência da aprovação alheia e a capacidade de encontrar
um impulso mais individual.
• 28 a 35: alma do intelecto e do sentimento. Essa é uma fase de intensidade
na atuação no mundo, seja na vida profissional, pessoal ou familiar. A
vivência saudável do setênio anterior possibilita que a alma desperte forças
para a organização e direcionamento da biografia de maneira mais
autêntica e afinada com o impulso interno, equilibrando com as
necessidades externas.
• 35 a 42: alma da consciência. O atuar no mundo possibilita o
desenvolvimento de uma maior autoconsciência. Essa fase coincide com o
início da perda das forças da vitalidade. A alma tem como desafio conseguir
trilhar o caminho de desenvolvimento saudável, procurando encontrar o
sentido de sua realização no mundo.
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Podem surgir também doenças no âmbito anímico e psíquico como por
exemplo as depressões, angústias e outras. Algumas vezes os quadros não
chegam a ser tão evidentes e a pessoa sente apenas desinteresse pela vida.
O trabalho biográfico é conhecido como um processo de “tomar a vida nas
próprias mãos”, trazendo a oportunidade para que o indivíduo possa desenvolver
um processo de reflexão e revisão das fases de sua biografia, acompanhado por
profissionais da área. Existe uma metodologia específica para o trabalho
biográfico, conduzindo de maneira saudável esse movimento de olhar para
“dentro” e para o fio da vida de forma a impulsionar que o indivíduo se conecte
novamente com suas metas e ideais.
O viver é acompanhado, em geral, por uma percepção de dificuldade e
desafio. Quanto mais avança-se na biografia, maiores os desafios. O adoecimento
torna essa percepção ainda mais desafiadora e aguçada. O trabalho biográfico
proporciona uma chave para o autoconhecimento e possibilita que esse peso seja
suavizado pela percepção de um “sentido” e propósito: o que a doença pode
contribuir para o desenvolvimento de uma pessoa?
Alguns exemplos de casos clínicos e sua correlação com os processos
biográficos foram descritos por Justo e Burkhard (2014).
7
uma doença. Esses estudos despertaram os profissionais de saúde para a
importância de observar essas reações e respeitá-las. Essas fases compreendem,
resumidamente, a raiva, a negação, a tristeza e a aceitação.
Na perspectiva da Medicina Antroposófica, tenta-se ir, gradualmente, em
sucessivos encontros, percebendo a pessoa para além dessas reações e
buscando compreender de maneira mais profunda a individualidade diante que
procura cuidado.
Um dos recursos para essa compreensão é a formação de imagens do
indivíduo e do processo (Conhecimento imaginativo). A metodologia de formação
de imagens baseia-se na metodologia fenomenológica de Goethe e foi ampliada
por Rudolf Steiner como um recurso de cognição. O aprofundamento dessas
etapas perpassa os outros dois âmbitos: conhecimento inspirativo e intuitivo.
A criação de um vínculo de confiança e amor entre profissional e paciente
é fundamental para a construção de um ambiente terapêutico caloroso e
empático. O profissional, de acordo com sua área de atuação, poderá formular
perguntas que favoreçam reflexões frutíferas em direção ao autoconhecimento.
Pode-se começar com perguntas simples:
8
consistência a partir de um trabalho de desenvolvimento interior do médico e dos
terapeutas antroposóficos.
Busque a paz,
Viva em paz,
Ame a paz. (Rudolf Steiner)
9
REFERÊNCIAS
KIENLE, G. S.; ALBONICO, H-U.; BAARS, E.; HAMRE, H. J.; ZIMMERMANN, P.;
KIENE, H. Anthroposophic Medicine: An Integrative Medical System Originating in
Europe. Global Advances in Health and Medicine, v. 2, n. 6, 2013, p. 20-31.
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AULA 6
ANTROPOSOFIA
APLICADA À SAÚDE
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TEMA 1 – ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
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Muitas pessoas relatam dificuldades de conciliar o sono e muitas podem
ser as causas para isso:
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No terceiro setênio surgem questões existenciais e a busca por valores e
afinidades mais profundos. Relacionamentos com trocas mais profundas e
duradouras.
A partir do quarto setênio as relações são muito ampliadas e ganham
diferentes qualidades, envolvendo frequentemente dimensões familiares,
afinidades, biográficas, profissionais e afetivas.
Vídeo
Assista à aula sobre 4 temperamentos no YouTube. Disponível em:
<https://youtu.be/KAgbQ5R1BU0>. Acesso em: 7 mar. 2020.
6
Cada ser humano apresentará características de cada um dos sete tipos,
predominando um ou dois arquétipos.
O autoconhecimento em relação ao próprio temperamento e aos arquétipos
é fundamental para o estabelecimento de relações mais satisfatórias e frutíferas.
Possibilita também compreender melhor conflitos e crises.
Esses seis exercícios foram muito bem descritos pelo professor Waldemar
Setzer (2008), na página web da Sociedade Antroposófica do Brasil:
7
1. Controle do pensamento. Trata-se de se concentrar o pensamento
em algo bem simples do mundo real, podendo ser um objeto como um
lápis, um alfinete, um sapato, etc. Deve-se pensar em tudo o que diz
respeito ao objeto escolhido, e evitar todo o pensamento que não diga
respeito direto ao mesmo. Steiner cita que se pode enfocar aspectos
como quais as partes que compõem o objeto, as formas do mesmo, os
materiais de que é feito, quando o objeto foi inventado, seus usos, etc.,
e recomenda particularmente que se faça esse exercício sobre objetos
artificiais, que são fruto do pensamento humano e podem ser totalmente
compreendidos. Quem pratica esse exercício percebe como nosso
pensamento tem asas, querendo voar por paragens que não
pretendíamos visitar. É necessário continuamente forçá-lo a voltar ao
tema central escolhido.
2. Controle da vontade. Trata-se de tomar uma decisão de realizar
algo fisicamente, e cumpri-la. Assim, em lugar de se ser dirigido por
eventos exteriores, executa-se algo por decisão exclusivamente própria.
Para isso, é importante escolher uma ação que não tenha nada com a
vida normal. Um bom exercício, segundo Steiner, é decidir-se executar
no dia seguinte uma ação trivial; podemos citar, nesse sentido, ações
como rodar um anel no dedo, ou o relógio no pulso, ou olhar para as
nuvens, ficar nas pontas dos pés, etc. Esse exercício deve ser feito
sempre em momentos determinados do dia, tais como uma certa hora
(não é preciso ser exato ao minuto), logo ao acordar, antes de uma
refeição, ao abrir a porta de casa etc.
3. Serenidade nos sentimentos (equanimidade). É importante para a
meditação posterior que a alma adquira serenidade, tornando-se
soberana em relação ao prazer e à dor. Não se trata de não se sentir
sentimentos profundos, mas sim que eles não nos coloquem fora de
controle. Steiner denomina a isso “domínio da expressão do sentimento”.
Isto é, devemos ter sentimentos, mas não deixar que eles nos “tenham”.
Exemplos de perda de controle são entrar-se em desespero, chorando
copiosamente, ou ficar fora de si de alegria. Mas também é importante
evitar sentimentos ligados à futilidade, raiva etc. Trata-se de se
conscientizar dos próprios sentimentos, devendo ser praticado sempre
que tais manifestações possam ocorrer.
4. Positividade. Trata-se de encontrar em qualquer situação o que é
belo ou bom, no meio do que é mais feio ou maldoso. De fato, não há
praticamente nada no mundo que seja 100% feio ou mau. Steiner chama
a atenção para não se cair em falta de discernimento, confundindo o mau
com o bom, e sim reconhecer que sempre há um lado bom em tudo, por
menor que esse lado seja.
5. Abertura (receptividade) e imparcialidade. Deve-se sempre estar
aberto a todas as novidades, por mais absurdas que possam parecer. A
atitude correta é dizer-se “parece estranho, mas vou investigar”,
eliminando-se preconceitos. Steiner diz que é possível sempre aprender-
se algo de novo “de cada sopro de ar, de cada folha”. Não se deve
ignorar experiências passadas; por outro lado, deve-se sempre estar
pronto a adquirir novas experiências.
6. Harmonização. Os 5 exercícios anteriores devem ser praticados
adicionando-se um a um paulatinamente; cada novo exercício deve ficar
em destaque, sem que se abandonem os anteriores. Quando eles se
tornarem parte do dia a dia do praticante, deve-se procurar produzir um
equilíbrio entre eles, a fim de que passem a fazer parte de nossa própria
natureza.
Uma atitude fundamental que deve acompanhar esses exercícios é a
produção de uma calma interior, um sentimento de que não há no
momento nada que nos possa retirar de nossa interiorização – nem
mesmo nossas maiores preocupações, que devem ser deixadas de lado
nessas ocasiões. Uma outra atitude fundamental que é necessária para
conseguir executá-los é a perseverança. Infelizmente, calma interior e
perseverança são muito difíceis de serem exercitadas hoje em dia,
devido à fragmentação da nossa vida e das experiências em cada
momento, bem como às tensões da vida moderna. Isso é mais uma
8
indicação de que esses exercícios devem ser executados, passando-se
a ser, pelo menos um pouco de tempo em cada dia, imune a essas
influências nefastas. (Setzer, 2008, n.p.)
Esperamos que, ao final destas seis aulas, tenha sido possível alcançar o
objetivo de uma apresentação geral dos princípios da Medicina e das terapias
antroposóficas para os profissionais de saúde interessados. Em função da carga
9
horária limitada e do método de ensino, os conteúdos são apenas introdutórios e
não capacitam os profissionais para atuação nesse campo. Conforme
apresentado na aula 3, existe uma ampla gama de cursos de formação disponíveis
para quem deseja seguir aprofundando seus conhecimentos, podendo vir a atuar
profissionalmente nesse sistema complementar e integrativo.
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REFERÊNCIAS
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