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TEORIA GERAL DA HOMEOPATIA

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário

NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 1

Sumário .................................................................................................................... 2

Introdução .................................................................................................................. 3

Origens da Homeopatia ............................................................................................ 5

De Hipócrates a Hahnemann .............................................................................................. 7

Christian Frederich Samuel Hahnemann, o pai da Homeopatia .......................................... 9

Visão sócio-política da Homeopatia ...................................................................... 13

A abordagem homeopática .............................................................................................. 14

O paciente como sujeito no processo de adoecimento ..................................................... 15

A escuta homeopática ...................................................................................................... 17

Perfil, atuação e manipulação homeopática farmacêutica .................................. 20

Perfil do profissional ......................................................................................................... 20

Manipulação homeopática ............................................................................................... 21

Atuação do Farmacêutico Homeopata relacionada à Produção e à Gestão Logística de


Medicamentos ................................................................................................................. 22

 Produção magistral de medicamentos homeopáticos ............................................ 22

 Produção industrial de medicamentos homeopáticos ............................................ 23

 Atuações Direcionadas ao Paciente, à Família e à Comunidade .............................. 26

 Atuação na Educação e Qualificação Profissional ................................................... 27

 Atuação na Pesquisa .............................................................................................. 27

 Atuação no Serviço Público .................................................................................... 27

Referências .............................................................................................................. 29

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Introdução
A história, é um dos caminhos que nos leva a entender como uma disciplina nasceu
ou porque se desenvolveu ou não.

Loguercio e Del Pino (2007) nos lembram que a ciência em sua produção se constitui
em diversas rupturas e descontinuidades e a história tem também essa missão de
alicerçar a memória de um mundo que não foi nosso, não foi contínuo. Enfim, os
excertos históricos ajudam a entender e contextualizar o caminho traçado por uma
ciência ou disciplina.

Começamos nossos estudos sobre as terapias alternativas e complementares,


focando na Homeopatia, sistema médico complexo de caráter holístico, baseada no
princípio vitalista e no uso da lei dos semelhantes, enunciada por Hipócrates no século
IV a.C. Foi desenvolvida por Christian Friedrich Samuel Hahnemann (médico alemão,
1755-1843) no século XVIII.

Figura 1 - Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1853)

Hahnemann sistematizou os princípios filosóficos e doutrinários da homeopatia em


suas obras ‘Organon da Arte de Curar’ e ‘Doenças Crônicas’, após estudos e reflexões
baseados em observações clínicas e experimentos realizados em pacientes, meio
século antes de Claude Bernard (médico e fisiologista francês, 1813-1878).

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A partir daí essa racionalidade médica experimentou grande expansão por várias
regiões do mundo, estando hoje firmemente implantada em diversos países da Europa,
das Américas e da Ásia. No Brasil, a homeopatia foi introduzida por Benoît Mure em
1840, tornando-se uma nova opção de tratamento (BRASIL, 2019).

A homeopatia representa importante estratégia para a construção de um modelo de


atenção centrado na saúde, uma vez que:

a) Recoloca o PACIENTE no centro do paradigma da atenção, compreendendo-


o nas dimensões física, psicológica, social e cultural. Na homeopatia, o
adoecimento é a expressão da ruptura da harmonia dessas diferentes
dimensões. Dessa forma, essa concepção contribui para o fortalecimento da
integralidade da atenção à saúde;

b) Fortalece a relação médico-paciente como um dos elementos fundamentais da


terapêutica, promovendo a humanização na atenção, estimulando o
autocuidado e a autonomia do indivíduo;

c) Atua em diversas situações clínicas do adoecimento, por exemplo, nas


doenças crônicas não transmissíveis, nas doenças respiratórias e alérgicas,
nos transtornos psicossomáticos, reduzindo a demanda por intervenções
hospitalares e emergenciais e contribuindo para a melhoria da qualidade de
vida dos usuários;

d) Contribui para o uso racional de medicamentos, podendo reduzir a


farmacodependência (BRASIL, 2019).

Essas estratégias mostram o quão importante se faz conhecer, refletir e analisar a


Homeopatia por visões histórica, social e política. Portanto, vamos a alguns ensaios!

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Origens da Homeopatia

A Homeopatia é uma especialidade médica que se iniciou na Alemanha, há mais de


200 anos, por um médico chamado Samuel Hahnemann, o qual nunca aceitou o fato
de que as drogas usadas no tratamento de patologias humanas fossem desenvolvidas
a partir de experiências em animais (LYRIO, 2007).

Experimentando em si mesmo uma substância chamada quinina, começou a perceber


que sentia os sintomas da febre intermitente. Traduzindo textos da matéria médica,
descobriu que a quinina era utilizada para tratar a febre da malária.

Estava descoberto o princípio básico da Homeopatia: “similia similibus curatitur”, que


se traduz “semelhante cura semelhante”. Ou seja, para tratar um doente devemos
utilizar um único medicamento que, num organismo saudável, seja capaz de provocar
os sintomas daquela enfermidade.

Figura 2 – História da Homeopatia

Descobriu também que, diluindo e sacudindo uma substância inúmeras vezes, ele
conseguia provocar os sintomas que surgiriam de forma natural, só que de uma

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maneira mais branda. Estavam fundamentados os quatro princípios básicos da
Homeopatia:

1) Lei dos semelhantes.

2) Doses mínimas.

3) Experimentação no homem são.

4) Medicamento único.

Daí em diante inúmeros discípulos formaram-se mundo afora, fazendo com que este
conhecimento chegasse aos nossos dias com os mesmos princípios seculares.

A Homeopatia, durante mais de um século, foi uma prática marginalizada pela


Medicina oficial. Entretanto, os famosos Guias Homeopáticos eram escritos por
médicos apaixonados por Homeopatia e comprados por leigos que faziam suas
receitas que eram aviadas por farmacêuticos práticos. Não fosse essa prática, o
conhecimento teria se perdido.

Figura 3 – Prática homeopática no passado

Nos dias de hoje, a automedicação homeopática é uma prática comum, mantendo a


tradição secular.

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Na América do Sul, a medicina homeopática humana logo foi oficializada e apresenta
alto padrão de qualidade. Na América do Norte e na maioria dos países europeus, é
reconhecida e amplamente adotada e vem se disseminando pela Oceania, África e
Oriente Médio.

A medicina homeopática foi introduzida no Brasil em 1840, tendo sido prontamente


assimilada e posteriormente implantada com sucesso na rede pública hospitalar,
tornando nosso país um dos líderes na utilização desta terapia (PIRES, 2005).

De Hipócrates a Hahnemann

Para Hipócrates, o tratamento era constituído por três princípios básicos:

1) Natura medicatrix — que a natureza se encarrega de restabelecer a saúde do


doente e cabe ao médico tratar o paciente imitando a natureza, a fim de
reconduzi-lo a um perfeito estado de equilíbrio.

2) Contraria Contrariis — esta é a chamada lei dos contrários, em que os sintomas


são tratados diretamente com medidas contrárias a eles.

3) Similia Similibus — esta é a chamada lei dos semelhantes; dizia que a doença
poderia ser debelada pela aplicação de medidas semelhantes à doença
(VANNIER, 1994).

Hipócrates dizia que essas duas formas de tratamento eram eficazes no


restabelecimento da saúde, portanto a lei dos contrários e a lei dos semelhantes não
se opunham em seu pensamento. Ele sempre tratava o paciente de forma abrangente
e raramente se referia a enfermidade de maneira isolada.

Galeno, no século II, foi o precursor de uma doutrina médica que prevaleceu por
aproximadamente 1.500 anos. Era baseada no tratamento pelos contrários e na
classificação da doença e dos agentes medicinais em quatro itens — fria, quente,
úmida e seca — com o objetivo de facilitar a prescrição — para uma doença dita
quente era utilizado um tratamento dito frio. Esse antagonismo de forças (quente/frio;
úmido/seco) era muito encontrado na filosofia grega pré-socrática, sendo marcante no
pensamento do filósofo Heráclito (CHAUÍ, 1994).

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No século XVI, a medicina galênica era ensinada na grande maioria das faculdades
de medicina. Essa vertente médica era fundamentada principalmente na “cura pelos
contrários”, ou seja, o tratamento das enfermidades era feito por meio do
medicamento que possuía efeito contrário a ela. A dor, por exemplo, seria aliviada
com o uso de sedativos, sem maior preocupação com sua origem. A visão do corpo
humano era, portanto, completamente mecanicista e, de certa forma, simplista.

Nesse período, um grande número de epidemias assolava a Europa, e a população


tinha uma pequena expectativa de vida. A utilização de técnicas terapêuticas como
sanguessugas, sangrias, administração de vomitivos, purgativos e suadores, dentre
outros, era largamente aceita e empregada com base em critérios muito frágeis. Além
disso, alguns médicos não diferenciavam o método de tratamento, acreditando que a
maioria das doenças poderia ser tratada do mesmo modo6.

A essa altura, os conceitos de Hipócrates já se encontravam fragmentados, pois os


grandes médicos seguiam apenas um dos conceitos — em geral o dos contrários.

Neste contexto, surgem as revolucionárias (mas não novas) ideias de Paracelso,


apresentando uma visão totalmente oposta à vigente, considerando o ser humano
como um todo integrado e harmônico, constituído de mente e corpo. Acreditava que a
anima governava o organismo, semelhante ao princípio vital dos homeopatas.

Paracelso era acérrimo opositor da “cura pelos contrários” (chegou a queimar, em


praça pública, os livros escritos por Galeno e Avicena) e achava que uma enfermidade
podia ser convenientemente tratada pelos semelhantes (BOYD, 1994).

Paracelso também introduziu o conceito de dosagem, já que os médicos


administravam quantidades maciças de drogas aos pacientes, que acabavam por
intoxicá-los. Ele também utilizou novas técnicas para o preparo de medicamentos
baseando-se nos seus conhecimentos de alquimia. Fez inúmeras contribuições à
medicina e à química, introduziu inúmeros medicamentos compostos por substâncias
inorgânicas e orgânicas, alguns dos quais utilizados até recentemente, como o ópio
(sedativo), o ferro (antianêmico) e o mercúrio (anti-séptico), dentre outros. Fundiu a
medicina com as forças astrais. Rejeitava e combatia publicamente a ciência clássica,
o que o levou a um grande isolamento intelectual, pois na época suas ideias não eram
reconhecidas pelos outros grandes homens da ciência (VANIN, 1994; CHASSOT,
1994).

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Paracelso determinava um tratamento pelos vários sinais e sintomas que o paciente
apresentava, seguindo a lei dos semelhantes. Preparava tudo o que prescrevia e era
contra a mistura de medicamentos, além de acreditar que as drogas deveriam ser
administradas não pela quantidade, mas, principalmente, por suas características.
Encontramos, desta forma, várias semelhanças com a prática de Hahnemann, apesar
de este nunca ter se referido a Paracelso. É pouco provável que Hahnemann não
tenha conhecido a obra de Paracelso, pois, além de traduzir inúmeros livros, era um
grande estudioso da evolução da medicina; o que ele, provavelmente, quis foi não
associar a homeopatia a Paracelso, com medo de sofrer ainda mais críticas —
Paracelso era considerado o “médico maldito”, por ter combatido os grandes mestres
seguidos pelos médicos de sua época (Machaon, Apolino, Galeno, Avicena, Averróis
e outros), com uma doutrina constantemente veiculada ao ocultismo (CORRÊA;
SIQUEIRA-BATISTA, QUINTAS, 1997).

Christian Frederich Samuel Hahnemann, o pai da Homeopatia

O criador da homeopatia, Christian Frederich Samuel Hahnemann, nasceu no dia 10


de abril de 1755 na pequena cidade de Meissen, no eleitorado da Saxônia (Alemanha).
Seu pai era pintor de porcelana e sua obra partilhava a admiração dos grandes
senhores da época; apesar disso, não possuía uma boa situação financeira.

Em 1775, Hahnemann vai para Leipzig, onde lhe foi permitido assistir aulas na
universidade. Para custear os estudos, traduzia livros médicos do inglês para o
alemão e lecionava outros idiomas. Apesar de a Universidade de Leipzig ser excelente,
não possuía instalações para o treinamento clínico que tanto lhe encantava e por isso,
após dois anos de estudos, partiu para Viena com a intenção de praticar a medicina.
Lá adquiriu experiência com o famoso Dr. Von Quarin, o médico real. Seus recursos
possibilitaram que ele permanecesse menos de um ano, quando então foi convidado
pelo governador da Transilvânia para catalogar sua biblioteca e classificar sua coleção
de moedas. Hahnemann passou a ser, também, uma espécie de conselheiro médico
e a dar consultas, apesar de ainda não estar formado. Ficou na Transilvânia por dois
anos, até que conseguiu economizar dinheiro suficiente para matricular-se na

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Universidade de Erlangen, em 1779, obtendo, no mesmo ano, o diploma de médico,
ainda com 24 anos (DUDGEON, 1994).

Figura 4 – Botica homeopática

Hahnemann clinicou durante algum tempo, mas tornou-se insatisfeito, a exemplo de


Paracelso, com os resultados obtidos com a medicina tradicional, optando por ganhar
a vida traduzindo livros médicos. Em 1790, aos 35 anos, durante a tradução da Matéria
Médica, de William Cullen (1710-1790), ficou intrigado com as explicações dadas por
este para os efeitos terapêuticos da quina. Experimentou-a em si mesmo, observando
manifestações bastante semelhantes às apresentadas por pacientes com malária.
Concluiu, então, que a quina era utilizada no tratamento da malária porque produzia
sintomas semelhantes em pessoas saudáveis. Animado por esses resultados, utilizou
também beladona, digital, mercúrio e outros compostos, obtendo resultados similares.
Apoiado em suas evidências experimentais e na filosofia hipocrática (Similia similibus
curentur), Hahnemann idealizou uma nova forma de tratamento, embasada na cura
pelos semelhantes (CORRÊA; QUINTAS, 1994).

A partir desse momento, Hahnemann começou a pesquisar a “lei dos semelhantes”.


Em 1796 publicou Ensaio sobre um novo princípio para averiguar os poderes curativos
das substâncias medicinais, no qual fazia um apanhado sobre seus experimentos e
relatava alguns fatos observados anteriormente por outros autores. Nesse mesmo ano,

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retornou à profissão médica, tratando seus pacientes pela aplicação de suas novas
ideias.

O ano de 1796 ficou conhecido como marco inicial da homeopatia. Criam-se, portanto,
os fundamentos da medicina homeopática, que divergem, em essência, dos conceitos
terapêuticos alopáticos da medicina tradicional. Vale ressaltar que as concepções
hahnemannianas reviveram muito da tradição hipocrática – atenção ao regime
alimentar, importância dos fatores climáticos, ecológicos, psicológicos e a existência
da energia vital. Como algumas plantas e substâncias eram tóxicas, algumas vezes
ocorriam efeitos adversos importantes. Hahnemann decidiu, pois, diluir os
medicamentos ao máximo, de maneira que sua toxicidade fosse diminuída. Com os
resultados promissores da nova terapêutica, decidiu voltar a clinicar, em definitivo.

Conta a história que nessa época aconteceu o que alguns consideram um “triunfar do
acaso e de inteligente observação”, que impulsionou fortemente o estudo da
homeopatia. Hahnemann possuía uma pequena carroça, com a qual percorria o
interior do país para tratar a população. Ele começou a observar que os pacientes que
moravam mais distantes eram mais eficaz e rapidamente curados, e associou isto ao
movimento que a carroça fazia ao passar pelos buracos da estrada. Passou, então, a
sacudir os medicamentos (dinamizar) e basear o preparo destes em dois preceitos:
diluição e dinamização.

A partir desse momento, os resultados obtidos foram muito positivos, e a Medicina


Homeopática começou a se difundir e a ganhar popularidade. Em 1810, publicou a
primeira edição do ‘Organon da Arte de Curar’, livro que teve outras cinco edições. A
sexta edição só fora publicada em 1921, muitos anos após sua morte.

O Organon passou a ser considerado a “Bíblia da homeopatia”. Nessa obra,


Hahnemann cita 440 médicos que utilizaram o princípio dos semelhantes, desde
Hipócrates até os seus dias. Em 1811, publicou o primeiro volume da Matéria Médica
Pura, que concluiu no ano seguinte, sendo constituída por seis volumes. A partir de
1812, começou a lecionar na Universidade de Leipzig para estudantes, admiradores
e antigos médicos. Para tanto, teve que defender tese na faculdade de medicina,
fazendo uma magistral apresentação sobre a utilização do Veratrum album para uma
plateia lotada, demonstrando profundo conhecimento da história do pensamento
médico.

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Após a dissertação, a banca, constituída por inúmeros adversários de sua doutrina,
teve que admitir sua grande erudição e aprová-lo sem ressalvas. Conseguiu um
grande número de seguidores e, em 1828, publicou outra grande obra, intitulada
‘Doenças Crônicas’. Nessa época, a homeopatia já havia alcançado várias outras
regiões do mundo; seu criador, porém, ainda não havia sido reconhecido. Hahnemann
viveu em Paris de 1835 até sua morte, aos 88 anos, no dia 2 de julho de 1843, após
o que foi reconhecido por inúmeros médicos que antes se opunham a seus
ensinamentos. Em Leipzig, local onde sofreu severas críticas e perseguições, médicos
e farmacêuticos ergueram, em 1851, um monumento de bronze em sua homenagem
(CORRÊA, 1995).

Muitos foram os seguidores de Hahnemann que, após sua morte, continuaram sua
obra. Contudo, os que mais contribuíram para a evolução dos fundamentos da
homeopatia foram Hering e Kent.

Constantin Hering nasceu em 1º de janeiro de 1800, na Saxônia, Alemanha, e


ingressou, em 1817, na Academia de Cirurgia de Dresden e, em 1820, na Faculdade
de Medicina de Leipzig. Em 1833, foi morar nos Estados Unidos, onde fundou vários
institutos homeopáticos, lecionou e escreveu uma grande obra, ‘Matéria Médica’,
composta por dez volumes, mantendo, durante muitos anos, contatos por
correspondência com Hahnemann, os quais, posteriormente, também foram
publicados. Hering chegou a assistir às conferências proferidas por Hahnemann na
Faculdade de Medicina de Leipzig e foi o criador de uma lei de tratamento que leva
seu nome “Lei de Hering”, exposta pela primeira vez pelo próprio Hahnemann em uma
das edições de seu livro ‘Doenças Crônicas’, em 1845. Morreu em 1880, tendo
adquirido grande prestígio no meio médico.

James Tyler Kent nasceu em 31 de março de 1849, em Nova York, Estados Unidos,
e faleceu em 1916. Escreveu vários livros que são utilizados até a atualidade, tais
como Repertório, Matéria Médica, Filosofia Homeopática, dentre outros que foram
traduzidos para várias línguas e até hoje são reimpressos. Criou várias técnicas e
conceitos, além de um novo modo de pensamento da homeopatia, que muitos
seguiram, sendo denominada “Escola Kentiana”. Suas ideias contribuíram para a
difusão de uma imagem um tanto quanto esotérica da homeopatia, pois sua filosofia
era puramente intuitiva (WEINER, 1994).

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Em meados do século XIX, começaram a ser descobertos vários microrganismos
causadores de doenças, passando-se a crer que toda enfermidade possuía uma
causa material específica. A partir de então, Pasteur, Kock e Lister introduziram um
cunho mais científico à medicina e às ciências correlatas. Nesse momento, as ciências
médicas começam a adquirir perfis mais materialistas, decorrente das influências
oriundas da Filosofia Cartesiana de René Descartes (1596-1650). Conceitos como
energia vital e integração entre físico, mente e emoção quase são perdidos. Ilustres
cientistas e pensadores, como Isaac Newton e Francis Bacon, passam a declarar que
a ciência começava a tomar o caminho errado.

Muitas das ideias que não podiam ser comprovadas experimentalmente foram
refutadas. Deste modo, a medicina homeopática sofreu um grande impacto negativo,
pois as comprovações do seu mecanismo não podiam (e em parte ainda não podem)
ser obtidas. O que a sustentou até os dias atuais foram as experiências individuais de
sua eficácia na prática médica. Atualmente, graças ao avanço tecnológico, modernos
equipamentos e ao maior desenvolvimento da físico-química, está se conseguindo,
lentamente, propor alguns mecanismos capazes de explicar a atuação dos
medicamentos homeopáticos (CORRÊA; SIQUEIRA-BATISTA; QUINTAS, 1997).

Visão sócio-política da Homeopatia


Consultas realizadas por homeopatas costumam ser mais demoradas e seus
questionários mais extensos. Estas características conferem subjetivamente ao
paciente um atendimento mais “humanizado” proporcionando um ambiente de maior
confiança e empatia por parte de ambos, fortalecendo a relação médico-paciente.
Sabe-se que este tipo de relação aumenta a eficácia dos efeitos placebos de toda e
qualquer terapia, seja alopática, homeopática ou outra qualquer (BALLONE;
ORTOLANI, 2003).

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Figura 5 – Visão humanista da Homeopatia

A abordagem homeopática

A homeopatia é uma terapia específica de estímulo do organismo doente, na qual a


escolha do medicamento é feita de acordo com os sintomas do caso. Assim,
consideram-se especialmente as causas, o desenvolvimento da doença, a forma do
adoecer, as circunstancias concomitantes, bem como as características do organismo
doente. A eficiência da homeopatia se fundamenta em seus princípios básicos
estabelecidos desde a época de seu fundador Christian Samuel Hahnemann.

A abordagem homeopática engloba uma nova forma de compreender o significado de


saúde e consequentemente de doença. A terapêutica homeopática trabalha sobre as
forças curativas de cada ser vivo, ou, como diziam os antigos, as ‘forças curativas da
natureza’, e, portanto, compreende a homeostase, os meios inerentes ao próprio
organismo para manter o seu equilíbrio e a sua saúde (PEREIRA, 2012).

A polêmica instalada à volta da homeopatia ao longo destes anos, deve-se ao seu


afastamento de um quadro científico baseado apenas na ação químico-molecular, e
por entender que o fenômeno da vida inclui outras dimensões que precisam de ser

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compreendidas e integradas. Atualmente, o corpo ainda é visto através da visão
cartesiana, isto é, pelos seus aspectos mecânicos e químicos. No entanto existe um
grande esforço de cientistas dedicados a estudos sobre energia, partículas e física
quântica que estão relacionados com toda a temática homeopática. Dado que
nenhuma modalidade terapêutica pode resolver todos os problemas de saúde, a
homeopatia é passível de ser considerada uma opção.

O paciente como sujeito no processo de adoecimento

Por um viés social e porque também não dizer, político, temos as possibilidades da
Medicina Homeopática como prática de saúde que, ao assumir o paciente como
sujeito portador de necessidades e expectativas, favorece a ampliação de sua
autonomia no processo de adoecimento, possibilitando maior consciência com relação
à sua maneira própria de enfermar-se, o que permite remetê-lo a um projeto de saúde.

A questão do cuidado ao paciente caracteriza-se como crucial no campo da Saúde


Pública e sua relevância, para o doente e para o médico, pode ser evidenciada nos
diferentes componentes do processo terapêutico da Homeopatia (ARAÚJO, 2008).

Figura 6 – Homeopatia: centralidade no sujeito

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A centralidade da doença no paradigma da medicina ocidental contemporânea e a
crescente intermediação tecnológica que têm ocorrido nos últimos anos incidem nos
diferentes componentes de sua prática, implicando no distanciamento do médico da
situação de adoecimento dos pacientes e abalando uma relação milenar associada
ao processo de cura (LUZ, 1997; SCHRAIBER, 1997).

Estes aspectos permitem compreender por que o paciente não se sente cuidado e
tratado, apesar de sua doença ser objeto de múltiplas e sofisticadas intervenções
tecnológicas, e constituem-se em razões de busca de outros modelos terapêuticos,
tanto por parte dos médicos, como dos pacientes (CARVALHO, 1988).

Sabemos que parte significativa da demanda que busca atenção médica ambulatorial
não preenche os requisitos para um diagnóstico de base anátomo-clínica e é
caracterizada por queixas vagas e inespecíficas, manifestações de um sofrimento que
não se traduz, necessariamente, em lesões ou disfunções que possam ser
enquadradas em alguma nosologia (ALMEIDA, 1996, 1988).

A tendência a desqualificar algumas queixas de pacientes, traduzidas por “mal-estares”


e sintomas indefinidos, representa uma situação bastante comum nos serviços de
saúde, decorrente, justamente, dos desencontros entre a expectativa do médico em
identificar e reconhecer doenças e as demandas do doente de obter atenção para o
seu sofrimento.

É possível considerar que certas queixas trazidas por muitos pacientes que escapam
a sua objetivação como doença e, portanto, não são legitimadas pelo saber e pela
prática médica, representam fenômeno experimentado por sujeitos numa situação
singular do adoecimento referida ao seu universo simbólico. Ou seja, a percepção do
doente sobre sua enfermidade inúmeras vezes não coincide com a doença lesional
ou orgânica diagnosticada pelo médico, o que pode explicar os motivos de
descontinuidade e falta de adesão aos processos terapêuticos. Ao perceber que o
médico frequentemente não valoriza ou não valida suas queixas, aborta-se a
possibilidade do vínculo e o tratamento não se instaura. Ou seja, o fato de identificar
categorias e de obter uma classificação nosográfica não encerra o processo
terapêutico e não parece atender às expectativas de cuidado dos pacientes (ARAÚJO,
2008).

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Conforme adverte Luz (1993; 1998), a “irracionalidade” da medicina não se resume a
um problema somente gerencial ou de políticas públicas inadequadas. Há de se
destacar que o próprio paradigma que rege a medicina contemporânea afastou-se do
sujeito humano sofredor como uma totalidade viva, tanto em suas investigações
diagnósticas, como em sua prática de intervenção.

A revalorização dos aspectos interativos do ato médico no contexto atual das práticas
de saúde parece estar vinculada a preocupações que buscam recolocar a pessoa
como objetivo central de um processo terapêutico. Componentes deste processo que
favoreçam a construção de um espaço intersubjetivo podem propiciar o resgate de
sujeitos adoecidos, através de uma aproximação não somente do paciente ao seu
médico, mas também da doença ao seu portador, o doente, e da terapêutica ao
processo de recuperação dos pacientes (ARAÚJO, 2008).

A discussão dos aspectos constituintes da prática homeopática capazes de resgatar


a dimensão do cuidado ao indivíduo doente tem como pressuposto o entendimento
de que a Homeopatia é dotada de uma racionalidade médica específica que possibilita
ser reconhecida como campo de saber e de prática com características próprias (LUZ,
1988).

A concepção a respeito do processo saúde doença na prática homeopática é norteada


por uma visão que inclui, necessariamente, o sujeito enfermo sob um enfoque que
valoriza, sobretudo, a singularidade do adoecer humano, enfatizando as
características assumidas pela doença em cada paciente, não se limitando a
compreendê-la de maneira restrita à condição de entidade nosológica ou apenas
como evento biológico.

A escuta homeopática
Ao conceber a Homeopatia como um sistema médico centrado no sujeito humano, a
escuta pode ser caracterizada como componente intrinsecamente relacionado à sua
episteme e como instrumento de abordagem fundamental para a realização de sua
prática. O caráter amplo da escuta decorre dos propósitos de conhecer as
manifestações da enfermidade sob um enfoque que privilegia a intersubjetividade na
compreensão do adoecer humano (AYRES, 2000; 2001).

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A relevância deste componente no âmbito de um sistema médico representa uma
questão específica da prática homeopática pela simples razão que, de maneira
semelhante às disciplinas do campo denominado “psi”, esta prática lida com a questão
do sujeito.

A fragmentação da abordagem do paciente na Biomedicina e a intermediação


tecnológica representada por exames e procedimentos diagnósticos resultam em uma
escuta “focada” e pontual, coerente com o seu objeto específico, a doença ou uma
determinada queixa relacionada a um órgão ou aparelho.

O médico, de um modo geral, retém uma pequena parcela do discurso do doente,


quando o deixa discursar, e isso ocorre devido à frágil intersecção da “doença do
médico” com a “doença do doente” (TESSER, 1999). Ou seja, grande parte do relato
de pacientes, muitas vezes transbordantes de sentidos variados, mas que não podem
ser identificáveis como patologias, interessa secundariamente ao profissional, já que
para ele tem pouca utilidade como informação útil à investigação e ao tratamento.

As narrativas dos pacientes são fundamentais na abordagem da Medicina


Homeopática; é justamente a palavra, o discurso do enfermo que lhe possibilita situar-
se como sujeito no espaço de uma consulta médica e no processo de adoecimento
(CHECCHINATO, 1999).

O objeto central da escuta homeopática é, portanto, a história do paciente, a sua


biografia pessoal obtida através de suas narrativas. Relaciona-se à compreensão de
que toda enfermidade integra uma unidade de sentido que necessita ser situada no
contexto individual e cultural do paciente para a sua adequada compreensão.

O discurso da pessoa enferma representa fonte privilegiada de informações e de


investigação, não somente no que se refere ao relato técnico de sintomas e queixas,
mas, sobretudo, no que tange às manifestações de uma forma particular de lidar com
o sofrimento relacionada a uma dinâmica própria no processo de adoecimento.

Ouvir o paciente, do ponto de vista da homeopatia, não é, por conseguinte, uma


questão de maior ou menor paciência de um profissional “da espécie de um psicólogo”,
de disponibilidade para confidências, ou somente uma demonstração de “humanismo”
ou de compaixão do médico. Trata-se de um traço próprio do exercício da diagnose e

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da terapêutica desta prática que operacionaliza um método ampliado de abordagem
do processo de adoecimento.

Podemos afirmar que todo indivíduo adoecido terá sempre um discurso a ser proferido,
uma narrativa que lhe permite traduzir as condições biopsicossociais que refletem seu
estado de maior ou menor desconforto. Possibilitar esse espaço durante a consulta,
permitindo, através da escuta, que o paciente manifeste seu universo subjetivo, tem
grande importância do ponto de vista terapêutico e pode favorecer o processo de cura
(CHAMMÉ, 1992).

O ato de ouvir possibilita recuperar a dimensão do enfermo como sujeito mediante o


reconhecimento da forma como ele vivencia a experiência da doença e do processo
de tratamento. Para muitos pacientes, “um bom médico tem que ser bom ouvinte”, e
ser bom ouvinte é assegurar espaço na consulta para conhecer bem o paciente.
“Saber ouvir” é considerado atributo da mesma ordem de importância que os
elementos concernentes à competência técnica do médico e representa manifestação
de interesse capaz de estimular uma postura mais ativa do paciente no seu processo
terapêutico.

A natureza de uma escuta cujo objeto primordial é a narrativa do sujeito humano


pressupõe uma atitude de interesse e de disponibilidade para “o outro”, isto é, uma
abertura ao processo de interação com o paciente. Tal atitude é influenciada por certos
aspectos que indicam o modo de proceder do médico e que se refere ao ato de
observar, olhar e ver o paciente. A escuta e o olhar não representam, portanto, apenas
procedimentos de natureza técnica relacionados à investigação; são atitudes que
revelam a disposição de perceber, conhecer e compreender o doente como portador
de um sofrimento específico (ARAÚJO, 2008).

Anote aí:

O fato de o paciente ser visto de forma mais ampla do que simplesmente um corpo
expondo uma doença faz com que esteja presente a perspectiva do cuidado, mais do
que os propósitos de controlar, tratar ou mesmo curar problemas específicos.

19
O cuidado diz respeito a uma postura de responsabilização e de envolvimento afetivo
e efetivo com o outro, o que, por sua vez, abrange mais que um momento de atenção
e implica um processo que requer tempo.

A questão do tempo está essencialmente vinculada à episteme homeopática,


expressando-se tanto no espaço da consulta como no processo de tratamento;
representa uma categoria-chave para entender a especificidade dos elementos que
caracterizam a Homeopatia. A experiência que preenche a ideia de tempo é
profundamente humana, justamente, por referir-se ao processo de efetivo encontro,
capaz de materializar a ideia de cuidado (AYRES, 2000; HEIDEGGER, 1995).

Perfil, atuação e manipulação homeopática farmacêutica

Perfil do profissional
Em 1997, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou um documento
denominado “The role of the pharmacist in the health care system” – “O papel do
farmacêutico no sistema de atenção à saúde” –, em que se destacaram sete
qualidades que o farmacêutico deve apresentar. Foi, então, chamado de
“farmacêutico sete estrelas”.

Este profissional 7 estrelas deve ser:

1) Prestador de serviços farmacêuticos em uma equipe de saúde.

2) Capaz de tomar decisões.

3) Comunicador.

4) Líder.

5) Gerente.

6) Atualizado permanentemente.

7) Educador.

20
O farmacêutico homeopata é o profissional capacitado a produzir medicamentos
homeopáticos em diferentes escalas, métodos e formas farmacêuticas, bem como
orientar os pacientes quanto ao uso racional e aos cuidados com os medicamentos
homeopáticos (BRASIL, 2019).

Manipulação homeopática

Para a realização da manipulação homeopática, é essencial que o estabelecimento


cumpra o preconizado nas legislações vigentes, tais como:

i)Habilitação Profissional:

A Resolução do CFF n° 576, de 28 de junho de 2013, dá nova redação ao artigo 1º


da Resolução CFF n° 440/2005, que dispõe sobre as prerrogativas para o exercício
da responsabilidade técnica em homeopatia:

Art. 1° - Considerar habilitado para exercer a responsabilidade técnica de farmácia ou


laboratório industrial homeopático que manipule ou industrialize os medicamentos e
insumos homeopáticos, respectivamente, o farmacêutico que comprovar uma das
seguintes qualificações:

a) ter cursado a disciplina de homeopatia com conteúdo mínimo de 60 (sessenta)


horas no curso de graduação, além de estágio obrigatório com o mínimo de 120 (cento
e vinte) horas nas farmácias de Instituições de Ensino Superior ou conveniadas, em
laboratórios de medicamentos e/ou de insumos homeopáticos;

b) possuir título de especialista ou curso de aprimoramento profissional em


homeopatia que atenda as resoluções vigentes do Conselho Federal de Farmácia.

ii)Normas Sanitárias:

O farmacêutico deve zelar pelas Boas Práticas de Manipulação, conforme previsto na


RDC Anvisa n. 67/2007 e na RDC Anvisa n. 87/2008. É importante, também, seguir o
preconizado na RDC Anvisa n° 44/2009, que dispõe sobre Boas Práticas
Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da

21
comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias
e drogarias e dá outras providências.

Vale ressaltar que o gerenciamento da qualidade engloba a documentação de todos


os processos (elaboração de Manual de Boas Práticas, contendo todos os
Procedimentos Operacionais Padrão), a avaliação farmacêutica das receitas, a
qualificação de fornecedores, o controle de qualidade das matérias-primas e produtos
acabados, bem como a orientação ao paciente (BRASIL, 2019).

iii)A farmácia homeopática como Estabelecimento de Saúde:

O art. 3° da Lei n. 13.021 estabelece que a farmácia é uma unidade de prestação de


serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e
orientação sanitária individual e coletiva, na qual se processem a manipulação e/ou a
dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou
industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e
correlatos. Assim, cabe ao farmacêutico homeopata fundamentar e implantar todas
estas ações (BRASIL, 2019).

Atuação do Farmacêutico Homeopata relacionada à Produção e à


Gestão Logística de Medicamentos

 Produção magistral de medicamentos homeopáticos

Cabe ao farmacêutico homeopata o pleno conhecimento da farmacotécnica


homeopática definida pela Farmacopeia Homeopática Brasileira, edição em vigor,
assim como das publicações reconhecidas pela Anvisa.

De acordo com a Resolução CFF n. 601/2014, o farmacêutico homeopata é


responsável pela qualidade dos medicamentos e produtos farmacêuticos
homeopáticos magistrais, oficinais, especialidades farmacêuticas e de outros
produtos de interesse da saúde que produz, manipula, conserva, dispensa e

22
transporta. Além disso, deve assegurar a qualidade físico-química e microbiológica,
quando aplicável, de todos os produtos manipulados antes da sua dispensação ou
comercialização.

Importante destacar que também é da responsabilidade e competência do


farmacêutico homeopata definir, aplicar e supervisionar os procedimentos
operacionais e farmacotécnicos estabelecidos no processo de manipulação
homeopática, e, ainda, pelas funções que delegar à equipe, cabendo-lhe, na
autonomia de seu exercício profissional, cumprir e fazer cumprir as Boas Práticas de
Manipulação Homeopática (BRASIL, 2019).

 Produção industrial de medicamentos homeopáticos

A indústria farmacêutica de produtos homeopáticos é aquela que manipula e fabrica


insumos farmacêuticos dinamizados, produtos oficinais homeopáticos, medicamentos
homeopáticos industrializados e outros, de uso em homeopatia. Só poderá funcionar
com autorização de funcionamento da Anvisa, sob supervisão do farmacêutico, de
acordo com a legislação em vigor.

23
Figura 7 – Remédios homeopáticos

A indústria de insumos farmacêuticos dinamizados produz principalmente tinturas-


mãe e matrizes dinamizadas, matérias-primas essenciais para que farmácias
homeopáticas realizem a manipulação de medicamentos homeopáticos. Apesar de
existir um número muito pequeno de indústrias deste tipo no país, são elas que
garantem a existência do medicamento nas farmácias. O farmacêutico homeopata
tem papel indispensável nesta indústria.

Com relação aos medicamentos homeopáticos industrializados, estes se dividem em


produtos isentos de registro (porém passíveis de notificação) e passíveis de registro.

De acordo com a RDC Anvisa n° 238/2018, existem os medicamentos homeopáticos


de componente único, passíveis de notificação ou de registro, e os medicamentos
dinamizados compostos, que são medicamentos passíveis de registro. Somente os
medicamentos dinamizados de um único insumo ativo isentos de prescrição, conforme
disposto na Tabela de Potências para Registro e Notificação de Medicamentos
Dinamizados Industrializados, são passíveis de notificação.

24
Todo medicamento homeopático industrializado deve ser preparado a partir de
insumos ativos, em quaisquer potências, com base nos fundamentos da homeopatia,
cujos métodos de preparação e controle estejam descritos na edição em vigor da
Farmacopeia Homeopática Brasileira, outras farmacopeias homeopáticas ou
compêndios oficiais reconhecidos pela Anvisa, com comprovada ação terapêutica
descrita nas matérias médicas homeopáticas ou nos compêndios homeopáticos
oficiais reconhecidos pela Anvisa, estudos clínicos ou revistas científicas.

O rótulo dos medicamentos homeopáticos, além de atender (no que couber) ao


regulamento vigente para rotulagem de medicamento, deve conter as seguintes
informações: potência, escala, via de administração, forma farmacêutica e
denominação do(s) insumo(s) ativo(s) utilizando a nomenclatura oficial.

Também deve constar no rótulo o texto “HOMEOPÁTICO” (produtos sujeitos a registro)


ou a expressão “FARMACOPEIA HOMEOPÁTICA BRASILEIRA” (medicamentos
homeopáticos industrializados sujeitos a notificação, integrantes da Farmacopeia
Homeopática Brasileira), ou ainda a expressão “HOMEOPÁTICO” (medicamentos não
inscritos na Farmacopeia Homeopática Brasileira, mas inscritos em outras
farmacopeias e compêndios reconhecidos pela Anvisa).

O farmacêutico homeopata pode atuar na função de:

a) Responsável técnico;

b) Gestor da produção, da garantia e controle de qualidade;

c) Elaborar relatórios técnicos a serem apresentados a autoridades


governamentais;

d) Assessorar as empresas em quaisquer aspectos que envolvam o


conhecimento técnico e dar assistência técnica efetiva ao setor sob sua
responsabilidade profissional, na indústria farmacêutica de produtos
veterinários homeopáticos e em indústria de produtos homeopáticos para
outras finalidades, respeitadas as atribuições legais de outras profissões
(BRASIL, 2019).

25
 Atuações Direcionadas ao Paciente, à Família e à
Comunidade

De acordo com a Resolução CFF n. 585/2013, as atribuições clínicas do farmacêutico,


incluindo o homeopata, visam proporcionar cuidado ao paciente, à família e à
comunidade, de forma a promover o uso racional de medicamentos e otimizar a
farmacoterapia, com o propósito de alcançar resultados definidos que melhorem a
qualidade de vida do paciente.

O farmacêutico homeopata é capaz de orientar o usuário a utilizar corretamente os


medicamentos homeopáticos, auxiliando na cura de enfermidades leves e também
prevenindo e evitando o desenvolvimento de enfermidades graves, levando sempre
em conta a lei dos semelhantes.

A opção pela homeopatia exige, por parte do paciente, uma compreensão do que é o
tratamento e uma observação atenta da ação do medicamento prescrito, ou seja, uma
observação atenta e crítica de si mesmo, e que ele exercite o empoderamento de sua
própria saúde, o que torna a homeopatia atual e interativa, como devem ser as
terapêuticas da Nova Era.

É preciso entender “que caminhos o organismo seguirá para chegar a um estado de


equilíbrio melhor”, às vezes passando por períodos de agravação (geralmente
passageiro e suportável), períodos de eliminação ou retorno de sintomas antigos.
Levando em consideração que o cuidado prestado pelo farmacêutico se materializa
para o paciente e para a sociedade na prestação de serviços farmacêuticos, o CFF,
em 2014, elaborou um documento que propunha alinhar os conceitos relacionados à
prática clínica dos farmacêuticos.

Desta forma, os serviços a serem prestados pelo farmacêutico, a fim de atender às


necessidades de saúde da população, família e comunidade, eram: rastreamento em
saúde, educação em saúde, manejo de problemas de saúde autolimitados,
dispensação, conciliação de medicamentos, revisão da farmacoterapia e
acompanhamento farmacoterapêutico (BRASIL, 2019). Vale destacar que esse
documento foi disponibilizado pelo CFF no formato da consulta pública n. 02/2014.

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 Atuação na Educação e Qualificação Profissional
É importante que o docente seja capacitado para ministrar aulas na disciplina de
farmácia homeopática/homeopatia, considerando as peculiaridades da terapêutica
homeopática, sua filosofia, sua farmacotécnica e assistência farmacêutica que
contribuam para a adesão ao tratamento e o uso adequado e racional dos
medicamentos homeopáticos.

 Atuação na Pesquisa
O Brasil tem despontado com pesquisas inovadoras sobre homeopatia no cenário
internacional. Além disso, existem várias pesquisas em andamento nas universidades,
em que o farmacêutico está presente como membro de grupos de pesquisa
multiprofissional. Esta atividade é essencial para o futuro seguro da homeopatia e
apontado para várias evidências sobre o mecanismo de ação dos medicamentos
homeopáticos, colaborando para maior aceitação desta terapêutica (BRASIL, 2019).

 Atuação no Serviço Público


Com a implantação do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC), é essencial que existam, na rede pública, farmacêuticos que garantam a
manipulação dos medicamentos homeopáticos ou qualifiquem fornecedores
conveniados para o atendimento das prescrições geradas pelos homeopatas médicos
e dentistas que atendam a população.

Anote aí:

O processo saúde-adoecimento

A homeopatia entende que uma dinâmica orgânica e psíquica saudável depende do


equilíbrio da energia vital, e que o processo de adoecimento, por sua vez, reflete sua
desarmonia. Os sintomas físicos, emocionais e mentais apontam para tal adoecimento
antes mesmo de aparecerem quaisquer alterações ou danos fisiológicos. Isso significa
dizer que, onde há um corpo doente, já existia um sujeito adoecido. Nesse método

27
terapêutico, o estado de sofrimento ou mal-estar já é considerado enfermidade, e o
restabelecimento da saúde se inicia a partir do equilíbrio dessa energia vital. Esse
processo de reestruturação leva à melhoria dos sinais e à sensação de bem-estar.
Nas doenças agudas, a recuperação pode ser rápida, com alívio dos sintomas em
curto prazo. Nas crônicas, pode se dar de forma gradual e progressiva.

A Anamnese homeopática

Por meio da escuta do relato do paciente, a anamnese homeopática considera o


indivíduo de forma integral, investigando todas suas queixas: sinais, alterações
fisiológicas, sensações subjetivas, bem como sintomas mentais, gerais e particulares,
além do histórico familiar e de patologias. Conhecer os hábitos do indivíduo – como
sono, sonhos, desejos, humor, reações emocionais, fatos marcantes da vida e como
estes são vivenciados – também é relevante nessa abordagem. Aqui, busca-se a
singularidade, que definirá a terapêutica aplicada e o medicamento mais indicado e
efetivo para cada indivíduo (BRASIL, 2019).

28
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