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PÚBLICA DE SAÚDE
ESCOLA FIOCRUZ DE GOVERNO-EFG/GEREB/FIOCRUZ
EMENTA:
OBJETIVOS:
1
Texto revisado por Ana Rita Vieira de Novaes (Tutora). Doutora em Saúde Coletiva. Especialista em Homeopatia
e Medicina Comunitária.
CURSO INTRODUTÓRIO DE HOMEOPATIA PARA MÉDICOS DA REDE
PÚBLICA DE SAÚDE
ESCOLA FIOCRUZ DE GOVERNO-EFG/GEREB/FIOCRUZ
INTRODUÇÃO
2
Doutorando em Clínica Médica pela FMRP-USP. Mestre em Saúde da Família pela FMB-UNESP.
Especialista em Homeopatia. Médico de família e comunidade. Docente da UNAERP.
3
Mestre em Saúde Coletiva. Especialista em Homeopatia. Professor da UFMT.
4
Doutora e Mestre em Saúde Coletiva (UFES). Especialista em Homeopatia, Acupuntura, Medicina
Comunitária e Pediatria.
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A HOMEOPATIA
Esse termo também pode ser utilizado de forma análoga entre aspectos
conceituais da Homeopatia e a MFC. Pode-se dizer que há grande similitude entres estes
importantes campos da medicina. Mas para tal, é importante compreender a dimensão
dos princípios da Homeopatia e sua correlação com a ESF.
A Homeopatia teve como marco histórico o ano de 1796, quando Christian
Frederich Samuel Hahnemann (1775-1843), médico alemão formado pela Universidade
de Leipzig (curso teórico) e Erlangen (conclusão do curso) publicou sua primeira obra, o
uso da China officinalis no indivíduo são.
Hahnemann trabalhava com a tradução de muitos livros médicos e não médicos
do latim e inglês para o alemão, quando em 1790 leu a Matéria Médica do Dr. Cullen,
explicando como a quina age no tratamento da malária. Ele não concordou com as
explicações fornecidas e resolveu experimentar a droga em si mesmo, quando observou
sensações semelhantes às descritas pelos pacientes com malária. Concluiu que o
medicamento agia porque em pessoas saudáveis a medicação causava os mesmos
sintomas de pessoas acometidas pela doença, reforçando a ideia do tratamento pelo
semelhante (base da Homeopatia). Repetiu os testes e atingiu os mesmos objetivos,
cada substância gerava uma gama de sintomas específicos, com beladona, digitalis,
mercúrio e outros compostos (experimentação no homem são – que ocorre até hoje
como pesquisa em homeopatia).
Hahnemann enunciou o princípio do tratamento pelos semelhantes (Similia
Similibus), retomando esse princípio Aristotélico (CORREA et al, 1997). Além disso,
trouxe à tona na centralidade do processo, a compreensão do adoecimento e da cura,
com base no vitalismo (CEHL, 2018a).
Em 1810 Hahnemann publicou a obra mais importante dessa especialidade
médica, que recebeu mais cinco edições até 1921, obra pós-morte, intitulada como
“Organon, a arte de curar”. Este livro traz toda a estrutura filosófica, racional e prática da
Homeopatia.
Desde a lógica do medicamento único, doses infinitesimais, descrevendo a
farmacotécnica da produção do medicamento, e também a tomada do caso,
acompanhamento e formas de prescrição, compondo, ao todo, 291 parágrafos. Nessa
mesma obra, traz os fatores que impedem a boa evolução do paciente, denominados de
obstáculos à cura (CORREA et al, 1997, PUSTIGLIONE, 2010).
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A INDIVIDUALIZAÇÃO
Dra. Beatriz (D.B.): Olá seu Joaquim, tudo bem? Vejo que o senhor veio hoje
porque não está muito bem, me parece... O que aconteceu?
Sr. Joaquim (S.J.): Olá Dra. Ana, tudo mais ou menos na verdade. Sabe, eu estou
com uma dor de garganta, febre, mal-estar daqueles e vim para ver se a senhora me
ajudaria.
D.B.: Ah é? Pois não, vou fazer o que estiver ao meu alcance. Mas me conte mais
sobre isso...
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S.J.: Sabe o que é, de ontem para cá, eu comecei a ter febre, calafrios, mal estar.
Febre alta sabe doutora? Perto dos 40 graus. E a senhora me conhece, eu não sou de
procurar aqui, ficar doente. Aí me vem uma dessas, de um dia pro outro já a febre e esse
calorão.
D.B.: Além do calor e a febre repentina, o senhor tem algo mais para me contar?
Algo que está sentindo?
S.J.: Ah, dor de garganta né, Doutora. Não tô conseguindo engolir, comer. Está
difícil. Parece que tem uma bola aqui no meu pescoço. E também uma fraqueza na febre,
parece que nem estou no corpo.
D.B: Eu acho que estou te entendendo. O sr. é uma pessoa forte, que não fica
doente, aí de um dia pro outro “cai de cama” com febre alta e quer uma ajuda. É isso?
Tem algo a mais te incomodando, que eu possa te ajudar? O que acha que é tudo isso?
S.J.: Olha doutora, como a senhora mesmo disse, eu sou duro na queda, trabalho
no pesado, mas hoje não consegui ir. Precisaria de uma justificativa para não ir e porque
vim aqui. Infelizmente, eu não queria ter faltando, mas hoje estou com moleza demais,
dor no corpo. Ainda bem que meus filhos estão todos firmes. Espero que eles não
peguem, né! (risada de canto de boca).
D.B.: Quanto ao atestado, o senhor. pode ficar tranquilo, eu vou fazer quantos dias
o senhor precisar. Não precisa trabalhar doente. Eu também acho que seus filhos não
vão ter não, eles são muito saudáveis, mas se precisar estarei aqui.
Exame Físico: Tax 40º. Otoscopia: faringe eritematosa com petequeias e
amígdalas de grande volume e com pus. Linfonodo doloroso, na região cervical anterior
direita.
Avaliação: Faringite Bacteriana
Plano de cuidados: Amoxicilina 500mg de 8 em 8 horas, por 7 dias. Aparentou
melhora no 4º dia de medicação.
Dra. Belladona (D.B.): Olá seu Joaquim, tudo bem? Vejo que o senhor veio hoje
porque não está muito bem, me parece... O que aconteceu?
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Sr. Joaquim (S.J.): Olá Dra. Belladona, tudo mais ou menos na verdade. Sabe, eu
estou com uma dor de garganta, febre, mal-estar daqueles e vim para ver se a senhora
me ajudaria.
D.B.: Ah é? Pois não, vou fazer o que estiver a meu alcance. Mas me conte mais
sobre isso...
S.J.: Sabe o que é, de ontem para cá, eu comecei a ter febre, calafrios, mal-estar.
Febre alta sabe doutora? Perto dos 40º. E a senhora me conhece, eu não sou de procurar
aqui, ficar doente. Aí me vem uma dessas, de um dia paro outro já a febre e esse calorão.
D.B.: Além do calor e a febre repentina, o senhor tem algo mais para me contar?
Algo que está sentindo?
S.J.: Ah, dor de garganta né, Doutora. Não tô conseguindo engolir, comer. Está
difícil. Parece que tem uma bola aqui no meu pescoço. E também uma fraqueza na febre,
parece que nem estou no corpo.
D.B. Interessante esses dados Seu Joaquim. Deixa eu ver se entendi bem: Foi
uma febre alta e repentina? Começou tudo muito rapidamente? Está bastante debilitado,
sem conseguir fazer as coisas, querendo mais ficar quieto? Além disso o senhor percebe
algo durante a febre? Vou dar alguns exemplos para facilitar: como fica seu rosto? Como
ficam os pensamentos, eles se modificam ou fica do mesmo jeito?
S.J.: Agora que a senhora falou, me veio algo na cabeça. Meu filho comentou
ontem que eu estava muito vermelho, principalmente na bochecha durante a febre, com
os olhos brilhando, que coisa doida né doutora? E durante a febre, eu não gosto de gente
perto de mim não, porque eu fico sem paciência sabe, parece tudo doido querendo ficar
em cima de mim. Já sabem que tem que me deixar quieto.
D.B: Eu acho que estou te entendendo. O sr. é uma pessoa forte, que não fica
doente, aí de um dia pro outro “cai de cama” com febre alta e quer uma ajuda. É isso?
Tem algo a mais te incomodando, que eu possa te ajudar?
S.J.: Olha doutora, como a senhora mesmo disse, eu sou duro na queda, trabalho
no pesado, mas hoje não consegui ir. Precisaria de uma justificativa para não ir e porque
vim aqui. Infelizmente, eu não queria ter faltado, mas hoje estou com moleza demais, dor
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no corpo. Ainda bem que meus filhos estão todos firmes. Espero que eles não peguem
né! (risada de canto de boca).
D.B.: Quanto ao atestado o senhor pode ficar tranquilo. Eu vou fazer quantos dias
o senhor precisar. Não precisa trabalhar doente. Eu também acho que seus filhos não
vão ter não, eles são muito saudáveis, mas se precisar estarei aqui.
Exame Físico; Tax: 40º e a oroscopia: faringe eritematosa com petéquias,
amígdalas de grande volume e com pus. Linfonodos dolorosos, na região cervical
anterior direita.
Avaliação; Faringite Bacteriana
Plano de Cuidados: Belladona 6CH, dose única.
Melhora completa do quadro em 24 horas.
OBSTÁCULOS À CURA
PROMOÇÃO DE SAÚDE
podendo esquecer do psiquismo (para ambos os sexos e gêneros), que muitas vezes
esse tipo de alteração leva a alterações do corpo em sua evolução. Sendo essencial
identificar e eliminar esse fator, para promover saúde (ERATOSTENES, 2008).
Esses são exemplos de fatores que podem dificultar a cura, mas que precisam ser
identificados para que possamos orientar algumas modificações, como por exemplo a
adoção de atividades física, melhoria na relação doméstica, dentre outros. Assim, tanto
os obstáculos à cura quanto a promoção à saúde possuem aspectos em comum.
O núcleo de informações desses parágrafos é fazer uma avaliação pormenorizada
da vida do indivíduo, buscando caracterizá-lo e avaliar onde é necessário modificar,
qualificar, para obter uma melhor qualidade de vida e/ou a cura das doenças de forma
geral, e não uma doença específica, mesmo objetivo da promoção de saúde, cuidando
para que a pessoa tenha um cuidado integral, centrado na pessoa e com foco na saúde
e não doença, mas mesmo assim, observado que muitas são as causas do adoecimento
e da cura.
reabilitação após lesão (CZERESNIA, 1999; MEDINA et al. 2014). Retornando a pessoa
tabágica, orientações após um diagnóstico e tratamento de neoplasia de boca.
Na homeopatia, os tipos de prevenção de doenças estão descritos de outra forma,
e foram desenvolvidas na década de 70. Entretanto, é possível encontrar passagens em
sete parágrafos (5, 94, 208, 252, 259, 260, 261)(ERATOSTENES, 2008).
É útil para a cura, buscar as causas das doenças agudas e a causa fundamental
da doença crônica, sempre tentando retirar as possíveis causalidades, visando a
recuperação da saúde, seja da habitação, da alimentação, do modo de vida, dentre
outros.
Levando em consideração que diante do tratamento homeopático bem conduzido,
quando observa-se elementos que estejam contribuindo para impedir o processo de
cura, é necessário orientar que alguma circunstância ou modo de vida necessita ser
removido ou modificado. Geralmente é detectável a causa nociva a sua saúde, mas se
não for bem observado, passa desapercebido.
No parágrafo 260 há uma descrição pormenorizada das várias causas
consideradas como OBSTÁCULOS À CURA (desde o uso de chás, álcool, alimentos,
perfumes, açúcar, movimentos específicos, sujeira, jogo, alterações mentais, dieta,
dentre outros)(ERATOSTENES, 2008).
A concepção Hahnemanianna utiliza o termo obstáculos à cura como termo
semelhante à prevenção, concebendo a ideia que a pessoa não está melhorando após
o início do tratamento porque tem algum obstáculo que está impedindo a melhora. Hoje
utilizamos o termo prevenção secundária como esses obstáculos, e utilizamos a
prevenção terciária para reabilitar o paciente, que é a cura homeopática.
PREVENÇÃO QUATERNÁRIA
CONCLUSÃO
Esse artigo teve como objetivo iniciar uma discussão pouco encontrada na
literatura, utilizando-se de temas importantes e presentes em dois importantes campos
da medicina: Homeopatia e Medicina de Família e Comunidade.
Não é a meta esgotar a discussão sobre o tema, mas valorizar ferramentas muito
frequentes da homeopatia e MFC, tais como o cuidado individual, a promoção à saúde
e a prevenção de doenças em seus diversos aspectos e níveis.
Antes mesmo da concepção de APS e o nascimento da especialidade médica
MFC, Samuel Hahnemann em seus escritos baseados na observação clínica e
experimentos de fármacos, elenca conceitos teórico, procedimentos clínicos e
orientações terapêuticas bastante atuais, possibilitando diversas inter-relações entre a
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teoria e prática da homeopatia com a MFC. A leitura atenta, análise critica e prática
clínica contribuirão com novos experimentos imprescindíveis para o desenvolvimento da
homeopatia na APS, se aproximando do especialista em pessoas (MFC).
REFERÊNCIAS
ALLEN, J.; GAY, B.; CREBOLDER, H.; HEYRMAN, J.; SVAB, I.; RAM, P.; EVANS, P. A
DEFINIÇÃO EUROPEIA (CLÍNICA GERAL / MEDICINA FAMILIAR) WONCA Europa,
2002.
CZERESNIA, D. The concept of health and the difference between prevention and
promotion. Cadernos de saúde publica / Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo
Cruz, Escola Nacional de Saúde Publica, v. 15, n. 4, p. 701–709, [s.d.], 1999.
LUZ, M. T. A arte de curar versus A ciência das doenças. 2. ed. Porto Alegre:
Editora Rede UNIDA, 2014.
MEDINA, M. G.; AQUINO, R.; VILASBÔAS, A. L. Q.; MOTA, E.; PINTO JÚNIOR, E. P.;
LUZ, L. A. Da; ANJOS, D. S. O. dos; CARDOSO, I. P. Promoção da saúde e prevenção
de doenças crônicas: o que fazem as equipes de saúde da família? Saúde em Debate,
v. 38, n. especial, p. 69–82, 2014.
MENDONÇA, C. S. Saúde da Família, agora mais do que nunca! Ciência & Saúde
Coletiva, v. 14, n. suppl 1, p. 1493–1497, out. 2009.
MERCH, E. Programa Saúde da Família no Brasil: uma agenda incompleta? Ciência &
Saúde Coletiva, v. 14, n. suplemento 1, p. 1325–1335, 2009.