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INTRODUÇÃO ÀS

PRÁTICAS INTEGRATIVAS
E COMPLEMENTARES
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Dr. Hercules de Pinho

AUTOR
Dr. Hercules de Pinho

COLABORAÇÃO PEDAGÓGICA
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PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Formata Produções Editoriais
Quimera
Práticas integrativas

Introdução

As práticas integrativas e complementares (PICs) são tipos de medicinas tradicionais


exercitadas no mundo inteiro, ainda que muitas pessoas não costumem relatar que as fazem.
O capítulo se dedica a apresentar as PICs como formas legítimas de cuidado eficiente em
saúde sob a perspectiva do movimento intitulado de racionalidades médicas, ele visa integrar
e complementar o cuidado coerentemente, com segurança e eficácia.

Racionalidades Médicas

As racionalidades médicas começaram a ser pensadas por um grupo de acadêmicos


provenientes da sociologia da saúde. Ela abarca cinco grandes sistemas médicos (medicina
antroposófica, homeopatia, medicina tradicional chinesa, alopatia e ayurvédica) nas
dimensões da doutrina médica, da morfologia, da fisiologia ou dinâmica vital humana,
do sistema de diagnose e do sistema de intervenções terapêuticas. Tendo em vista esse
potencial para o cuidado integral e para o pluralismo terapêutico, além da necessidade de uma
saúde mais econômica e humanizada, as racionalidades médicas podem ser introduzidas à
população nos sistemas de saúde.

Medicina antroposófica

Entre os benefícios da medicina antroposófica está sua eficácia, segurança e não


aumentar os custos dos serviços de saúde. Ela é especialmente benéfica no cuidado de
pacientes oncológicos e nos cuidados paliativos por diminuir efeitos colaterais e facilitar
processos de desintoxicação e convalescença.

Princípios da Medicina de Família e Comunidade e a Medicina Antroposófica

A MFC e a MA têm objetivos atinentes entre si, uma vez que visam o cuidado integral
e o vínculo, primando pela prevenção e pela promoção da saúde. Abaixo estão algumas
características da MFC ampliada pela MA:
 Na MA, o ser integral é concomitantemente físico e metafísico;
 A longitudinalidade é compreendida a partir da biografia humana nos seus ciclos de vida

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e os desafios de cada um deles, que são possibilitadores da construção de um ser mais
resiliente;
 Atenção centrada na pessoa, ser absolutamente responsável pela sua vida e, portanto,
também responsável pela forma com a qual lida com a saúde e com a doença.

Principais Características

Uma das características da MA é estudar o ser humano por meio da trimembração


porque entende-se que cada órgão e cada célula estão em interrelação com os sistemas,
bem como a anímico e o espiritual permanentemente coatuam no corpo. Da mesma forma,
as medicações são dotadas da capacidade de atuar simultaneamente, o que possibilita ao
médico ferramentas para intervir de forma orgânica e sincrônica. Assim, define-se o ser
humano em corpo, alma e espírito e em sistema neurossensorial (SNS), sistema metabólico-
motor (SMM) e sistema rítmico (SR).

Polo superior da entidade humana (SNS):


 Organismo nervoso protegido por arcabouço ósseo.
 Onde encontram-se as bases e também a força para perceber o mundo por meio dos
sentidos.
 Baixa capacidade de reprodução e de regeneração
 Baixa vitalidade.
 Polo frio, temperatura amena.
 Gesto arquétipo: separação e emancipação.
 Cabeça, funções neurológicas, pensar, percepção, consciência e autoconsciência.

Polo inferior da entidade humana (SMM):


 Abdome e membros.
 Gesto arquético: abertura total ao mundo e fusão com ele.
 Precisa da força da gravidade para se manter saudável.
 Constante movimento.
 Alta capacidade de reprodução e de regeneração

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 Caos funcional.
 Inflamar e aquecer.

Pelo intermediário da entidade humana (SR)


 Harmonização de opostos
 Coração e o pulmão
 Ritmos e o sentir
 Arquetípico: intercâmbio com o mundo

Além da trimembração, a MA também considera que o homem possui quatro


organizações (quadrimembração) que atuam de forma conjunta como na trimembração,
sendo elas o corpo físico, o corpo etérico, ou organização vital, o corpo astral, ou organização
anímica, e o eu, ou organização do eu.
 Corpo (ou plexo) físico: toda manifestação material.
 Corpo (ou plexo), ou organização vital: movimentos que expressam qualquer forma de
vitalidade orgânica.
 Corpo astral, ou organização anímica: são toda manifestações abstratas, como os
pensamentos e os sentimentos
 Organização do eu, ou plexo do eu: todas as formas de relacionamento do ser.
Por meio da quadrimembração a antroposofia elabora sua forma de atuar: ela considera
que os elementos também são quadrimembrados (terra, água, ar e fogo são chamados de
elementos empedocleanos) e ao empregar as características deles, é possível intervir nas
quatro dimensões somatopsíquicas humanas.
Outro paradigma da MA é a salutogênese. Ela defende que o pensamento clínico deve
buscar a saúde e não a cura de doenças. Para tanto, os fenômenos psíquicos e os orgânicos
são unidos porque é necessário formar uma imagem completa e verdadeira do ser que está
recebendo cuidados. Logo, a atitude do médico deve ser de ouvinte ativo do paciente e de
sua família e acolher suas idiossincrasias para diagnosticar por meio do conteúdo verbal
e não verbal por eles manifestado. O médico é responsável pela saúde, mas não o único,
compartilhar ações conjuntas com o paciente e com os atores da comunidade possibilita a
construção do bem estar comunitário.

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Seminários Biográficos: a Biografia Humana como Instrumento de Cura

Os seminários biográficos são instrumentos de grande eficácia para auxiliar as


pessoas na ressignificação da sua história. Eles podem ser realizados em módulos para um
aprofundamento gradual de forma individual ou em grupos e são uma maneira da própria
pessoa encontrar suas inserções em cada espaço da sua vida e como isso se expressão
na saúde e na doença. As reflexões são voltadas para que se compreenda as questões
pertinentes a cada fase de vida, ou melhor, a cada setênio (período de sete anos que
compreender mudanças significativas).
 1º setênio: criança, “Viver é bom”
 2º setênio: criança, “Viver é belo”
 3º setênio: adolescente, “Viver é verdadeiro”.
 4º setênio: 1ª maturidade, “Fase emotiva”, época da alma da sensação, dura até os 28
anos quando ocorre a crise dos talentos.
 5º setênio: fase racional, necessidade de construir uma base, época da alma da índole.
 6º setênio: 2ª maturidade, fase consciente, grandes crises de autenticidade.
 7º setênio: fase altruísta, inesperada criatividade.
 8º setênio: fase ética, vontade de fazer definitivamente a “coisa certa”, o “fazer bonito”.
 9º setênio: 3ª maturidade, fase da sabedoria.

Medicamentos Antroposóficos

São empregados medicamentos alopáticos e os propriamente antroposóficos,


desenvolvidos a partir de uma farmacotécnica que emprega a análise do funcionamento
do ser humano por meio de matérias primas dos três reinos: mineral, vegetal e animal. O
resultado é um medicamento que ativa as forças curativas internas do paciente e que não
apresenta efeitos colaterais, pois são atóxicos.
 Bryophyllum calycinum: medicamento vitalizante de origem vegetal que atua no Corpo
etérico. Essa planta se desenvolve sem a necessidade de cuidados, pode ser prescrita
para indivíduos desvitalizados, estressados e desgastados.

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Terapias Complementares Antroposóficas

As terapias complementares e os medicamentos são igualmente vistos como forças


curativas pela MA. Entre as terapias antroposóficas, tem-se: as psicoterapias antroposóficas
cognitivas, a biografia humana antroposófica, a terapia artística, a musicoterapia e a
cantoterapia, a psicoterapia antroposófica, as terapias externas (compressas, escalda-pés,
fricções, emplastros, enfaixamentos), a massagem rítmica, a quirofonética e a eurritmia
curativa.

Manejo sugerido:
 Tratar a pessoa de forma global e eficaz;
 Acolher completamente, escuta atenta para construção de forte vínculo;
 Mostrar as hipóteses diagnósticas, a lista de problemas e determinar conjuntamente a
estratégia de enfrentamento;
 Solicitar exames complementares para confirmar e esclarecer o diagnóstico;
 Levantar hipóteses diagnósticas antroposóficas na trimembração e na quadrimmbração;
 Avaliar as possibilidades medicamentosa e terapêuticas antroposóficas em busca do
equilíbrio entre os opostos e empregá-las de forma complementar à medicina tradicional.

Homeopatia

A homeopatia é um dos sistemas médicos que, assim como a MFC, compartilham da


visão integral do ser humano e pode ampliar a arte de cuidar quando houver a necessidade
desse tipo de apoio e as pessoas sob o cuidado concordarem. Ela foi desenvolvida em 1828
por Samuel Hahnemann, remetendo aos conhecimentos do vitalismo antigo e no empirismo,
a prática homeopática sobrevive pelos seus resultados clínicos, visto que não é incentivada
pelos laboratórios. Em síntese, o princípio fundamental da homeopatia é que semelhantes são
curados pelos semelhantes, por isso, durante a entrevista homeopática deve-se encontrar o
medicamento mais semelhante ao quadro patológico.
 Lei dos semelhantes: os sintomas são uma reação de defesa elabora pelo corpo como
enfretamento de influências patogênicas;
 Direção de cura: de dentro para fora, de cima para baixo, de um centro funcionalmente

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mais importante para um menos importante. Assim, durante o tratamento pode haver
uma fase de agravamento momentânea seguida por uma melhora duradoura;
 Remédio único: deve-se administrar um medicamento único e mais semelhante possível;
 Doses infinitesimais: o medicamento em dose infinitesimal servirá como gatilho para os
impulsos de cura. O médico deve acompanhar a cascata de reações do organismo até o
restabelecimento.
Os medicamentos homeopáticos são elaborados por sucessivas etapas de diluição
e de sucussão. Após cada etapa em que as substâncias que forem diluídas e sacudidas,
aumenta-se a potência C, ou seja, na medida em que são diluídas, eleva-se o C1 para C2, C3
e assim consecutivamente. O efeito terapêutico é constatado ou refutado de acordo com a
observação de resultados parametrizados pelo modelo explicativo homeopático. Conforme
as Leis de Hering, se o paciente obtiver melhora aparente, no entanto, com a direção de
cura de fora para dentro, isso significa que o indivíduo apenas está suprimindo sintomas e
agravando a doença.

Medicina Tradicional Chinesa

A medicina tradicional chinesa (MTC) é praticada


há mais de 5 mil anos e entende as coisas do mundo PRÁTICA
a partir do pensamento analógico. Para ela, as forças HOMEOPÁTICA
fluem atuando, organizando e interferindo de forma anamnese detalhada,
coordenada nos seres vivo e no meio circundante. As investigando sintomas de
práticas terapêuticas da MTC (acupuntura, moxabustão, toda a ordem e motivando
shiatsu) são empregadas a fim de intervir beneficamente as já antológicas longas
no fluxo das forças internas responsáveis pela expressão consultas. Para identificar
da saúde e da doença e compatibalizá-las com as forças o medicamento para
da Terra e do Céu (clima e influentes atmosféricos). semelhante física, emocional
Por fim, bem como a homeopatia, a prática da MTC e mentalmente ao quadro
apresenta sucesso terapêutico quando analisada dentro clínico específico do paciente.
dos seus próprios paradigmas.
 Saúde e doença são um equilíbrio dinâmico:
Apesar do organismo buscar espontaneamente a saúde pelo equilíbrio das interações
dos órgãos internos com as forças atmosféricas da Terra, eventualmente o cuidador
terapeuta deverá intervir para auxiliar na busca do reequilíbrio.

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 Forças interatuantes no organismo humano (Yin-Yang): a partir do conceito de que o
Universo está processo de permanente mudança por causa do fluir de uma energia
(chi), composta por duas polaridades opostas e complementares (Yin e Yang). As
características do Yin são receptivo, feminino, lunar, escuro, formativo, frio, úmido, com
a Terra, tendendo a acolher; O Yang relaciona-se com céu, convexo, raso, secura, calor,
movimento, Sol, masculino, ativo, tendendo a penetrar. O predomínio suave de um dos
polos caracteriza a saúde e o exagero caracteriza as doenças.
 Os cinco movimentos (Fogo, Terra, Água, Ar e Madeira) interagem, formam e transformam
o Universo. Na natureza, eles são responsáveis pelas estações do ano e no contexto do ser
humano, eles formam as emoções, estas tidas como estações internas. O Universo e o homem
são regidos por ciclos de geração (sentido horário) e de destruição (sequência alternante)
 As recomendações higiênicas variam conforme a época do ano. Elas são mais nítidas
nas regiões meridionais porque é onde há também estações melhores definidas, já nas
áreas equatoriais geralmente há apenas um estação seca e uma chuvosa, logo, é mais
apropriado atentar para os cinco fatores atmosféricos, independente do calendário rígido
e sua influência na saúde humana: calor, umidade, secura, frio e vento.

Condição Função
Estações do Movimento Órgãos
potencialmente orgânica mais
ano correspondente sobrecarregados
patogênica suscetível

Fígado e vesícula
Primavera Madeira Vento Metabólica
biliar

Coração e
Verão Fogo Calor Circulatória
intestino delgado

Pulmões e
Outuno Metal (Ar) Secura Respiratória
intestino grosso

Inverno Água Frio Urinária Rins e bexiga

Baço/pâncreas e
Interestação Terra Unidade Digestiva
estômago

* Na última coluna, exemplificam-se algumas condições prevalentes no período.

Fonte: GUSSO, Gustavo; LOPES, José MC, DIAS, Lêda C, organizadores. Tratado. Adaptado pelo autor.

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Bibliografia
1. GUSSO, Gustavo; LOPES, José MC, DIAS, Lêda C, organizadores. Tratado de Medicina
de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED,
2019, 2388 p.

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