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MEDICINA RURAL E DE
ÁREAS ISOLADAS
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ORGANIZAÇÃO
PrepSaúde
RESPONSÁVEIS TÉCNICO-CIENTÍFICOS
Dr. Hercules de Pinho
AUTOR
Hercules de Pinho
COLABORAÇÃO PEDAGÓGICA
Mariana Alves Batista da Costa
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A educação fundamental pode ser a única nessas regiões e o índice de analfabetismo
é alto. Os ribeirinhos que querem continuar estudando, tem que se afastar das famílias e da
sua comunidade para ir procurar o ensino médio nas cidades.
A falta de saneamento básico é o um dos problemas sérios em relação a saúde
dessas populações ribeirinhas. Não há abastecimento de água tratada (às vezes nas sedes
dos municípios há tratamento de água). Normalmente não há destino adequado de lixo e
dejetos, que são depositados próximos as casas e rios, que acabam contaminando a água
de consumo próprio e as doenças diarreicas a parasitárias são muito frequentes.
A equipe de saúde da família que acompanha essa população ribeirinha, e de sobre
maneira o médico de família e comunidade, deve ter habilidades especificas de comunicação
e deveria estar preparado para realizar pequenos procedimentos tais como: sutura, drenagem,
retirada unha, exérese verrugas, etc. Esses procedimentos cirúrgicos, diagnósticos e
terapêuticos que nas áreas urbanas seriam referenciados para outros centros urbanos,
devem ser manejados, inclusive os procedimentos iniciais de urgências e emergência
(clínicas psiquiátricas e as cirúrgicas), pelo médico mais habilitado da localidade.
A Variação no nível dos rios é que dita a dinâmica de vida das populações ribeirinhas.
No período cheia, onde pode-se alcançar uma altura de até 15 metros, em algumas regiões
da Amazônia, isso por si só pode impossibilitar as plantações de subsistência e as casas
suspensas podem ser atingidas, impedindo ou dificultando o acesso. Já os flutuantes
absorvem essas variações através de cordas e ancoras presas ao fundo ou as margens
desses rios. Com isso há grandes variações de renda, padrão de alimentação, oportunidade
de trabalho, variação na quantidade e qualidade do pescado. O saber dessa dinâmica é
essencial para a compreensão do processo de saúde e doença, podem refletir em diferenças
importantes do perfil epidemiológico, do acesso a serviço e saúde, assim como da definição
ou não do processo migratório e ou do maior ou menor isolamento geográfico.
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passado de pai para filho. Portanto fruto de integração e descobertas desses grupos
populacionais e se traduz em muita riqueza e diversidade.
A floresta é o mundo do ribeirinho, onde coexistem as forças do bem e do mal, onde
se procura alimento, moradia, material para construção e casas e barcos e onde viveram
seus antepassados. Há descrito nessas populações um saber especializado exemplificado
pelos curandeiros, pajés, rezadores, benzedeiras, parteiras, que se não bem compreendidos
pelo médico de família que ali atua pode causar grandes problemas de comunicação. Muitas
vezes os próprios ribeirinhos dão o diagnostico de suas enfermidades tais como: feitiço,
rasgadura, quebranto, susto, espinhela caída, dor no pente, doença do ar etc. Portanto muito
comum e frequente ou uso da fitoterapia, pelos “terapeutas” locais.
Diante disso, é importante que o médico de família e comunidade possua informações
sobre cada planta existente na comunidade onde atua, assim como sua utilização, indicação,
parte e dose a ser usada, para que possa acompanhar com uma margem de segurança,
ressaltando o alto grau de toxicidade que muitas espécies podem trazer à saúde. Ainda há
dados insuficientes sobre a eficácia e a segurança da maioria das plantas medicinais. A
OMS recomenda a difusão mundial dos conhecimentos necessários para o uso racional
das plantas medicinais, frente a isso, o Ministério da Saúde lançou em 2009 o Programa
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos com o objetivo de disseminar essa terapia de
forma segura. Esse programa visa incentivar a pesquisa e a eficácia, buscando a produção e
a distribuição das plantas medicinais e fitoterápicos pelo sistema de saúde.
Portanto seria importante que o médico de família e comunidade nesses locais
tivesse vasto conhecimento do modo e do uso de cada planta existente na comunidade.
Portanto “frente a isso, o Ministério da Saúde lançou em 2009 o Programa Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos com o objetivo de disseminar essa terapia de forma
segura.” Gusso (2019).
É importante construir propostas de promoção e prevenção nessas comunidades
levando-se em conta a dinâmica da comunidade, integrando o saber teórico acadêmico com
o saber comum dos ribeirinhos.
Deve-se ter o cuidado de incentivar e reconhecer as experiencias locais e integrá-
las com criatividade e credibilidade ao saber científico o que pode aumentar a percepção
dessa comunidade sobre o grau de dedicação da equipe, sendo sempre permeado pelo
despojamento de verdades cristalizadas.
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Atenção primária e suas características em relação
às populações ribeirinhas
Unidades estruturantes
1. Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF): se constitui numa embarcação fluvial adaptada
para funcionar como uma unidade de saúde, havendo a necessidade do pernoite na
própria unidade para desempenhar suas funções. Composta minimamente por estrutura
física: consultório médico e de enfermagem, lugar dispensação de medicamentos, cadeira
odontológica, salas de vacina, procedimento, esterilização, expurgo, banheiro público,
banheiro para funcionários, leitos para equipe, sala de refeição, cozinha.
2. Equipamentos mínimos: geladeira, balanças, macas, armários, cadeiras. Mobiliário
voltado a procedimentos em saúde.
3. Composição mínima da equipe de saúde: Médico de família e comunidade rural
preferencialmente, dentista, enfermeiro, farmacêutico, técnico ou auxiliar enfermagem,
técnico laboratório, técnico higiene dental e até 12 ACS rurais.
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4. Núcleo Ampliado de Saúde da Família Nasf-Ab: composto minimamente, psicólogo,
nutricionista, assistente social, educador físico e fisioterapeuta.
5. Telessaúde/Telemedicina: visando à melhoria na qualidade dos atendimentos à
população, apoiando os profissionais de saúde e monitorando as endemias da região,
a Telessaúde/telemedicina surge como uma das opções para melhorar a assistência
médica, contribuindo para qualificar os profissionais. Este é um tipo de serviço emergente
que apresenta contribuições efetivas na prestação de cuidados em saúde, facilitando a
obtenção de uma segunda opinião formativa a custos acessíveis e estendendo a oferta
de serviços especializados em locais remotos, permitindo a ampliação do acesso, sem
necessidade de deslocamento. Esta é uma ferramenta necessária para complementar o
sistema de saúde às populações ribeirinhas.
Malária: principalmente os casos P. vivax com mais de 85% dos casos, caracterizados
com febre e calafrios. Não há geralmente o desenvolvimento de imunidade protetora
apesar da grande intensidade de transmissão. As infecções assintomáticas estão na
casa de 20 a 72%.
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Tuberculose: tem grande importância e as crenças culturais pode dificultar a abordagem.
O foco estaria no diagnostico precoce, na busca ativa, no tratamento supervisionado
e na melhoria das condições das populações ribeirinhas além da realização de exame
entre os contatos.
Acidentes com arraia: causam muita dor e o efeito do veneno pode levar a necrose no
local da ferida e posterior quadro de sequela. O tratamento habitual é lavar com água
morna, analgesia local sem vasoconstrictor, desbridamento e curativo. A profilaxia do
tétano está indicada.
Infecções virais: as mais comuns: dengue, febre amarela, Chikungunya, Zika) outros
virus emergentes são: Mayaro, Oropuche, Rocio).
Fonte: GUSSO, Gustavo; LOPES, José MC, DIAS, Lêda C, organizadores. Tratado. Adaptado pelo autor.
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Referência Bibliográfica
1. GUSSO, Gustavo; LOPES, José MC, DIAS, Lêda C, organizadores. Tratado de Medicina
de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2019,
2388.