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DE EXAMES HEPÁTICOS
EXAMES HEPÁTICOS
SU
INTRODUÇÃO 3
AMINOTRANSFERASES 8
MÁ
TESTES DE FUNÇÃO DE SÍNTESE DO FÍGADO 14
Albumina 15
Provas de coagulação 15
Bilirrubina 16
RIO
RESUMO 17
A ARTMED 18
REFERÊNCIAS 19
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INTRODUÇÃO
O fígado é um órgão com múltiplas funções essenciais à vida, como metabo-
biliares (2). Um grande número de doenças pode acometer essas estruturas, in-
da bilirrubina.
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abdominal, náusea, encefalopatia, prurido cutâ- • ou teleangiectasias e eritema palmar em hepatopatias de modo geral.
e outros sinais de hipertensão portal (1). Entretan- Pacientes em situação de risco, como consumo excessivo de álcool, síndrome metabólica,
to, outras pistas mais sutis devem ser avaliadas infecções virais, lesão hepática conhecida ou suspeita ou uso de medicamentos hepatotó-
(2,5), como: xicos também devem fazer avaliação laboratorial do funcionamento hepático.
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A duração da hepatopatia pode ser classificada em aguda (<6 meses) ou crônica (>6 meses), e a revisão de exa-
mes prévios é útil para estabelecer temporalidade. Além disso, a anamnese cuidadosa também é fundamental.
Algumas condições hereditárias que se manifestam como hepatopatia podem não ter a doença hepática como
principal manifestação em outros membros da família, como é o caso de deficiência de alfa1-antitripsina, que
pode se manifestar predominantemente como enfisema pulmonar, e de colangite esclerosante relacionada a
doença inflamatória intestinal (1).
Tradicionalmente, os padrões laboratoriais de injúria hepática são classificados em hepatocelular, colestático (ou
obstrutivo) ou misto. Esses padrões podem auxiliar no direcionamento da etiologia (2). A relação ALT/fosfatase
alcalina, calculada por meio da fórmula descrita no Quadro 1, define esses padrões:
Fórmula: Resultado:
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Tabela 2. Principais doenças por tipo de dano hepático predominante. Adaptado de (6).
Hepatocelular Colestático
damental (2). Detalhes sobre os testes estão dispostos nas seções a seguir.
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AMINOTRANSFERASES
O fígado contém um complexo aparato enzimático, e algumas das enzimas estão também presentes
no sangue em baixa concentração (2). A dosagem elevada delas pode indicar doença hepática. Ami-
conhecidas, respectivamente, por transaminase pirúvica (TGP) e transaminase oxalacética (TGO)], são
marcadores sensíveis de dano hepatocitário (2). O da sua concentração é decorrente da sua entrada
na circulação causada por dano à membrana celular, indicando injúria aos hepatócitos (2). Por outro
Elevação da AST ou ALT é o achado laboratorial mais comum entre os testes hepáticos (4). Na maioria
dos laboratórios, o valor normal das aminotransferases costuma ser até 40 UI/L, mas referências locais
devem ser utilizadas preferencialmente. Em até 30% da população, a elevação leve de aminotransfe-
rases pode ser transitória e, portanto, a repetição do exame após quatro semanas é o primeiro passo
na investigação de exames alterados em pacientes sem suspeita de hepatopatia (5). Enquanto a AST
é encontrada em diversos tecidos (músculos, pâncreas, rins, leucócitos, hemácias, pulmão), a ALT é
encontrada primordialmente no fígado, o que a torna mais específica de doença hepática (2). Não
lidade da membrana celular. Dessa forma, o grau de elevação das aminotransferases não tem valor
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Alterações maciças (> 1000 UI/L) costumam estar relacionadas a hepatites virais agudas (Quadro 2), isquemia hepática ou
injúria induzida por droga (Quadro 3) (2). O declínio de aminotransferases em cenários de necrose hepática maciça pode
ocorrer porque a injúria foi tão extensa que resultou em baixa reserva de hepatócitos restantes (1).
O protótipo deste quadro é um paciente com sintomas vagos de inapetência, náuseas, vômitos, astenia, eventual-
mente febre baixa e perda ponderal com dias ou poucas semanas de evolução. As transaminases costumam estar
marcadamente alteradas (> 1000 UI/L). O diagnóstico é feito com a pesquisa sorológica ou por exame de reação de
cadeia de polimerase pelos agentes específicos. A causa mais comum é o vírus da hepatite A, mas diversos agen-
tes estão implicados, como:
• vírus varicela zoster;
• vírus da hepatite B, C e E; • vírus Epstein-Barr;
• vírus da herpes simples; • citomegalovírus.
Intoxicação por acetaminofeno é uma das principais causas de insuficiência hepática aguda no Ocidente. É co-
mum seu uso em tentativas de suicídio. O mecanismo de injúria é direto no hepatócito, dose-dependente; dose
>10-15g é suficiente para produzir injúria hepática clinicamente significativa. A glutationa é responsável pela de-
gradação de metabólitos tóxicos do acetaminofeno, e como a disponibilidade dessa enzima é limitada, a via de
eliminação da droga é saturável; situações de jejum, desnutrição e consumo de álcool depletam glutationa e
reduzem o limiar de dose tóxica. A apresentação característica é dano hepatocelular com elevação marcada de
transaminases e discreta alteração de bilirrubina. O tratamento consiste na administração de N-acetilcisteína en-
dovenosa para prover substrato de glutationa, além de suporte para as complicações (choque, insuficiência venti-
latória, eventos hemorrágicos).
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esteato-hepatite não alcoólica (Quadro 4), a ALT costuma estar mais ele-
AST/ALT > 3:1, é sugestiva de dano por álcool (Quadro 5) (2); este padrão
diferenciação (4,5).
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A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é uma das condições hepáticas mais comuns, com prevalên-
cia mundial estimada em 25%, e corresponde à deposição macrovesicular de triglicerídeos no fígado (esteatose
hepática) na ausência de causas secundárias como uso de medicações ou consumo de álcool. Cerca de 1 entre
5 pacientes evolui para um estado de inflamação crônica do fígado conhecido por esteatohepatite não alcoólica
(EHNA) e, destes, 20% desenvolvem cirrose ao longo da vida. Sexo masculino, idade avançada, obesidade, ateros-
clerose e síndrome metabólica são fatores de risco para evolução para esteatohepatite.
A hepatite alcoólica é o dano hepático induzido por álcool que se instala de forma aguda ou subaguda. É comum
haver consumo de álcool por longos anos, mas um episódio único também pode desencadear este dano com
alta mortalidade. O quadro clínico clássico é um paciente com icterícia, sintomas vagos como astenia, fadiga e
mal-estar, acompanhados de febre com histórico de consumo de álcool em grandes quantidades (> 100 g/dia) –
encefalopatia e dor no quadrante superior direito do abdômen podem acompanhar o quadro. Laboratorialmente,
há hiperbilirrubinemia e elevação moderada de transaminases (até 300 UI/L) com predomínio de AST. Fatores de
coagulação também podem estar alterados, o que é marcador de gravidade. O tratamento é de suporte clínico,
suspensão do dano e, em casos graves, uso de glicocorticoides. Transplante hepático de urgência pode ser consi-
derado, mas aspectos éticos desta decisão precisam ser ponderados.
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ENZIMAS
CANALICULARES
E OUTRAS ENZIMAS
Assim como as aminotransferases, as enzimas canalicula- com elevação de FA com GGT normal, deve-se considerar
res não avaliam a função de síntese do fígado; sua alteração diagnóstico diferencial com gestação, condições de alto
reflete comprometimento no fluxo biliar (2,4). As enzimas turnover ósseo, hipertireoidismo, linfoma de Hodgkin, dia-
usualmente dosadas no sangue são fosfatase alcalina (FA) e betes, doença inflamatória intestinal, insuficiência cardíaca
gama-glutamiltransferase (GGT); a primeira está localizada e tumores sólidos (1,2,4). Dessa forma, a dosagem de GGT
na porção de membrana dos hepatócitos em contato com ou da fração hepática específica de FA são alternativas para
o ducto biliar, enquanto a segunda integra o retículo endo- esclarecer a etiologia hepática ou extra-hepática da eleva-
plasmático dos hepatócitos e as células epiteliais do ducto ção da FA (4). Elevações transitórias podem ser comuns; pa-
biliar (2). cientes dos grupos sanguíneos O e B, por exemplo, podem
A dosagem de FA é mais específica para dano colestático apresentar alteração do teste após ingerir alimentos gor-
que a GGT, mas deve ser interpretada com cuidado, pois durosos (2). Na ausência de doença óssea, incremento de
esse exame corresponde ao conjunto de diversas isoenzi- FA > 4x o valor de referência sugere doença que curse com
mas também encontradas em outros órgãos como ossos, colestase aguda ou crônica (Quadro 6), ou doença hepática
intestino delgado, leucócitos e placenta (2,4). Em pacientes infiltrativa, como câncer e amiloidose (2).
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Colangite biliar primária (CBP) e colangite esclerosante primária (CEP) são doenças autoimunes de via biliar que
cursam com colestase por inflamação crônica e fibrose de via biliar intra e extra-hepática. O quadro clínico de
ambas é semelhante, incluindo fadiga e prurido, e os achados laboratoriais mais comuns são elevação de FA e
GGT sem incremento relevante de aminotransferases. O protótipo clínico-epidemiológico das doenças ajuda na
diferenciação:
• A CEP é mais comum em homens e pacientes com doença inflamatória intestinal. O anticorpo anti-citoplasma
de neutrófilo perinuclear (ANCAp) tem sensibilidade de 90% para diagnóstico.
• A CBP ocorre quase exclusivamente em mulheres e está associada a outras autoimunidades (doenças de tireoi-
de, Sjögren). A presença de anticorpo anti-mitocôndria sugere diagnóstico.
Não há tratamento específico que retarde a progressão dessas doenças, e o tratamento paliativo da colestase é
feito com ácido ursodesoxicólico e colestiramina; transplante hepático é o tratamento para casos graves e avança-
dos. Infelizmente, pode haver recorrência da CEP e CBP no enxerto.
A enzima GGT também está presente em outros tecidos colestase (além de indicar a capacidade de sínte-
como rim, intestino, próstata e pâncreas, mas não nos os- se hepática). Outra enzima que pode estar altera-
sos. Sua dosagem é especialmente útil para avaliação de da em doença hepática, especialmente isquemia
colestase em crianças, pois, nessa faixa etária, a FA pode e necrose tecidual, é a lactato desidrogenase. En-
estar fisiologicamente aumentada devido ao metabolis- tretanto, sua testagem de rotina não é indicada
mo ósseo aumentado (4). O aumento da fração direta da devido à baixa especificidade (1).
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FÍGADO
ver Disease (MELD) integram testes laboratoriais e achados
A cirrose é caracterizada por substituição irreversível do parênquima hepático por fibrose e nódulos regenerativos,
com perda arquitetural e funcional do órgão. A história natural é de insuficiência hepática crônica e progressiva,
especialmente se os fatores de injúria não forem removidos; também são comuns descompensações agudas em
situações de estresse. Achados clínicos comuns são desnutrição, encefalopatia, e consequências de hipertensão
portal (ascite, hemorragia variceal). A cirrose é a via final de quase qualquer hepatopatia, e as principais causas são
etilismo, hepatites virais crônicas (vírus B e C) e doença gordurosa hepática não alcoólica. Evitar fatores de risco
como consumo excessivo de álcool, obesidade e exposição a fontes de contaminação de hepatites virais são im-
portantes para reduzir o risco de cirrose, assim como realizar o tratamento precoce das causas base. Transplante
hepático é a única terapia definitiva, porém a oferta de órgãos em proporção desigual aos pacientes em lista não
permite que todos tenham acesso ao recurso, além de riscos e complicações inerentes ao transplante.
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maioria das proteínas séricas, den- em cenários agudos, considerando que o fígado é responsável quase com ex-
tre elas a albumina, que é produzi- clusividade por produzir fatores de coagulação e que eles têm uma breve meia
da exclusivamente nos hepatócitos. vida (horas a dias) comparados à albumina (2). O teste mais empregado é o
Como sua meia vida é em torno de tempo de protrombina (2); de modo geral, é necessária a perda de mais de 70%
3 semanas, a albumina não é um da função hepática para que haja comprometimento do tempo de protrom-
bom indicador de doença hepática bina (4,5). Junto da encefalopatia aguda, a coagulopatia é uma das marcas da
aguda. Níveis <3g/dL devem alertar insuficiência hepática aguda (8). Além do tempo de protrombina, em situações
para doença hepática crônica, seja agudas, a atividade do fator V pode ser utilizada, por ter meia-vida ainda mais
por redução de produção ou por curta (8). O diagnóstico diferencial de alteração no tempo de protrombina inclui
hemodiluição, no caso de cirrose hepatopatias aguda e crônica, assim como uso de anticoagulantes, coagulopa-
(2,4). O diagnóstico diferencial de tia por consumo (coagulação intravascular disseminada) e deficiência de vita-
hipoalbuminemia inclui desnutri- mina K por condições como colestase ou desnutrição e má-absorção (4).
ção, enteropatia perdedora de pro- Outro achado comum em doença hepática avançada é a plaquetopenia, que
teína, síndrome nefrótica e estados costuma ser indício de hiperesplenismo por hipertensão portal. Leucopenia e
inflamatórios agudos e crônicos que linfócitos atípicos também podem ser encontrados, assim como macrocitose e
promovam aumento de interleuci- eritrócitos patológicos (acantócitos e células em alvo) - decorrentes de alteração
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Bilirrubina
A bilirrubina é produto da degradação da porção heme • Elevação isolada de bilirrubina indireta (<15% de bilirru-
da hemoglobina, e pode ser encontrada no sangue bina direta): as principais causas são hemólise e condições
nas frações indireta e direta (2,8). A fração indireta é genéticas que alteram a conjugação de bilirrubinas, como sín-
insolúvel em água, portanto circula ligada à albumina, drome de Gilbert (Quadro 8) e Crigler-Najjar (2).
e sofre conjugação (processo enzimático) no fígado • Elevação de bilirrubina direta ou de ambas as frações: é o
para bilirrubina direta, solúvel em água e com menor cenário mais frequente em hepatopatia e indica distúrbio do
capacidade de atravessar membranas celulares (1). O fluxo de bile, seja por doença (colestase) intra-hepática ou de
sinal clínico típico da hiperbilirrubinemia é a icterícia, via biliar (2). Sintoma típico é colúria, pois a bilirrubina direta
que significa coloração amarelada de pele, conjuntiva (por ser hidrossolúvel) é a única que, em excesso, pode ser eli-
e mucosas - ela é identificada quando os níveis de bi- minada pelos rins (2).
lirrubina passam de 3-4 mg/dL (1). Quadro 8. Síndrome de Gilbert (1,2).
A importância deste teste inclui diagnóstico e, em al-
guns cenários, impacto prognóstico; o grau de elevação É o distúrbio hereditário do metabolismo da bilirrubina
de bilirrubina integra escores preditores como o MELD mais comum, especialmente em homens, com preva-
lência fenotípica em torno de 8% da população. O mau
e o Sequential Organ Failure Assessment (SOFA), além
funcionamento da enzima glicuronil transferase leva a
de ser indicador de gravidade de dano hepático em redução da conjugação e aumento persistente ou tran-
hepatites viral e medicamentosa (2). O valor de refe- sitório apenas de bilirrubina indireta. Geralmente a bilir-
rência de bilirrubina total geralmente é 1,5 mg/dL, e a rubina total é <3 mg/dL, mas pode se elevar até 2-3 ve-
zes este valor em situações de estresse, fadiga, infecções,
fração direta costuma representar até 0,3 mg/dL desse
consumo de álcool ou pouca ingesta alimentar. Nenhum
total (2). A interpretação desse teste depende da fra-
tratamento específico é necessário, e não costuma haver
ção de bilirrubina elevada: repercussão à saúde em adultos.
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RESUMO A Figura 1 propõe um algoritmo para investigação de alterações de testes hepáticos (2,3).
Hepatocelular Colestático
ou misto
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A ARTMED
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REFERÊNCIAS
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