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CÂNCER DE PRÓSTATA
ANATOMIA DA PRÓSTATA
Dimensões: 3cm comprimento; 4cm largura; 2cm profundidade anteroposterior
É a maior glândula acessória do sistema genital masculino. Tem consistência firme, do tamanho de uma noz, circunda
a parte prostática da uretra.
É dividida em: parte glandular (2/3) e parte fibromuscular 1/3.
Possui glândulas tubuloalveolares ramificadas, dispostas em lóbulos e circundadas por estroma fibromuscular.
Cada unidade acinar compreende um compartimento epitelial (céls epiteliais, basais e neuroendócrinas). O PSA e a
fosfatase ácido prostática (PAP) são produzidos nas céls epiteliais.
A cápsula fibrosa da próstata é densa e neurovascular (incorpora os plexos prostáticos de veias e nervos). Ela é
circundada pela fáscia visceral da pelve.
Possui:
Base intimamente relacionada ao colo da bexiga
Ápice voltado para baixo
Face anterior muscular, cuja maioria das fibras é transversal e forma uma espécie de esfíncter uretral
Face posterior relacionada com a ampola do reto
Faces laterais relacionadas com o músculo levantador do ânus
Lobos:
o Istmo: anteriormente à uretra. É fibromuscular (o músculo se continua com o esfíncter externo da uretra) e
não possui praticamente nenhum tecido glandular
o Lobos direito e esquerdo: separados pelo istmo (anteriormente) e por um sulco longitudinal
(posteriormente). Podem ser subdivididos em 4 lóbulos, definidos pela relação com a uretra e ductos
ejaculatórios:
a) Lóbulo inferoposterior: posteriormente à uretra e inferior aos ductos ejaculatórios. Constitui a face
palpável ao toque retal;
b) Lóbulo inferolateral: lateral à uretra; forma a maior parte do lobo direito ou esquerdo;
c) Lóbulo superomedial: situado profundamente ao lóbulo inferoposterior; circunda o ducto
ejaculatório ipsilateral;
d) Lóbulo anteromedial: situado profundamente ao lóbulo inferolateral, lateralmente à parte prostática
proximal da uretra.
Divisão em grupos glandulares:
Grupo interno – estão as glândulas mucosas e as submucosas;
Grupo externo – glândulas externas ou prostáticas propriamente ditas.
Divisão em zonas:
1) Periférica:
É a maior; envolve a uretra distal; corresponde à região posterior da próstata, onde surgem grande parte dos
carcinomas
2) Central:
Circunda os ductos ejaculatórios; raramente é envolvida em doenças.
3) Transicional:
Circunda a porção distal da uretra prostática.
4) Anterior:
Estroma fibroglandular – tecido fibroso e muscular liso, com quantidade variável de fibras elásticas.
Participa da regulação da proliferação e diferenciação do epitélio glandular por meio da produção e liberação de: fator
de crescimento semelhante à insulina (IGF), fator de crescimento de fibroblastos (FGF), fator de crescimento do
endotélio vascular (VEGF) e fator de crescimento transformante (TGF).
Obs: A divisão em zonas é a mais utilizada no estudo ultrassonográfico da próstata.
EPIDEMIOLOGIA
No Brasil, o CA de próstata é o 2º mais comum entre os homens (atrás apenas do CA de pele não-melanoma).
Considerando ambos os sexos é o 4º tipo mais comum.
A taxa de incidência é ↑ nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento.
É considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 3/4 dos casos no mundo ocorrem > 65 anos.
No Brasil, o ↑ na incidência pode ser parcialmente justificado pela 1evolução dos métodos diagnósticos (diagnóstico
de casos latentes em indivíduos assintomáticos), pela 2melhoria na qualidade dos sistemas de informação e 3pelo ↑
na expectativa de vida.
As taxas aumentaram principalmente em regiões onde se utiliza o PSA como rastreamento.
A mortalidade é relativamente baixa → bom prognóstico.
A idade média do diagnóstico é de 71 anos e a idade média de morte é aos 78 anos.
Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte.
A grande maioria, porém, cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³ ) que não chega a dar
sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem.
FATORES DE RISCO
A idade é o fator mais importante → >65 anos
História familiar → o risco aumenta com o nº de gerações acometidas (dois familiares acometidos ↑ o risco em 6x).
Fatores genéticos → envolvidos em 90% dos adenocarcinomas que surgem em indivíduos < 55 anos de idade.
Homens de populações de ↓ risco, após migrarem para áreas onde a incidência é ↑ , passam a apresentar ↑
incidência.
Hábitos de vida e fatores ambientais → alta ingesta de gordura e carne vermelha.
Resistência periférica a insulina vem sendo apontada como potencial fator de risco.
Raça → mais frequente em brancos e negros do que em amarelos; essas diferenças são observadas apenas no
carcinoma clínico; a frequência de adenocarcinoma histológico é semelhante nas três raças.
Hormônios → Indivíduos castrados antes da puberdade têm risco mínimo de desenvolver câncer da próstata.
Andrógenos circulantes em níveis ↑ estimulam o crescimento do CA.
Paradoxalmente, com o ↑ da idade os níveis de testosterona ↓, mas a incidência de carcinoma prostático ↑.
Hipóteses:
Os eventos carcinogênicos que envolvem estimulação androgênica teriam ocorrido muito antes do
aparecimento da neoplasia, num momento em que os níveis de testosterona ainda eram ↑.
↑ disponibilidade dos receptores de andrógenos nas céls prostáticas, possivelmente por amplificação dos
genes que os codificam.
Alguns estudos mostram que as céls neoplásicas da próstata contêm testosterona > di-hidrotestosterona (DHT).
Os estrógenos parecem não ter ação direta, mas podem atuar através da inibição da liberação do LH (mecanismo de
feedback negativo), resultando em ↓ dos níveis de andrógenos. Na senilidade, há ↑ relativo de estrógenos por ↓
dos andrógenos circulantes.
FISIOPATOLOGIA
CA de próstata tem crescimento lento (tempo de duplicação de 2-4 anos). Na fase inicial pode demorar até 15 anos
para atingir 1cm de diâmetro, mas depois tende a apresentar crescimento mais rápido.
Adenocarcinoma é a neoplasia maligna constituída pela proliferação de células epiteliais dos ácinos e/ou ductos
prostáticos.
Alterações genômicas → As anormalidades mais encontradas no adenocarcinoma prostático são:
(1) amplificação de oncogenes, como o MYC;
(2) deleção de genes supressores de tumor, como RB, TP53 e PTEN;
(3) silenciamento gênico por mecanismo epigenético (p. ex. genes de reparo do DNA).
A proliferação não invasiva de céls epiteliais dentro dos ductos é denominada neoplasia intraepitelial prostática (NIP).
A NIP é um precursor do câncer, porém nem todas as lesões se transformam em CA invasivo.
90% dos CA são adenocarcinoma. O restante inclui tumores de céls escamosas ou de transição, carcinossarcomas
(mais raros).
As metástases para a próstata são raras, todavia, em alguns casos, os CA de colo ou tumores de céls de transição da
bexiga invadem a glândula por extensão direta.
FORMAS DE DISSEMINAÇÃO
Local: compromete estruturas próximas (vesículas seminais, base da bexiga – obstrução urinária).
Linfática: ocorre primeiro para linfonodos obturadores e depois para os para-aórticos.
Hematogênica: acomete preferencialmente o esqueleto axial, mas pode ocorrer em ossos longos.
Obs: as metástases ósseas geralmente são osteoblásticas (aspecto branco no Rx).
MICROSCOPIA
Morfologicamente, as céls tumorais não são muito diferentes das céls prostáticas normais → diagnóstico difícil
As glândulas neoplásicas são menores do que as glândulas normais (agrupam-se com maior proximidade entre si e
apresentam pouca ou nenhuma ramificação).
A camada externa de céls basais está tipicamente ausente nas glândulas malignas.
O citoplasma celular é anfofílico (tonalidade diferente em resposta ao mesmo corante) e os núcleos são proeminentes.
Não existe pleomorfismo acentuado.
Achado patognomônico: invasão perineural.
CLASSIFICAÇÃO
Quanto à apresentação clínica e ao comportamento biológico, a neoplasia é classificada nos seguintes tipos:
Adenocarcinoma clínico:
É o que dá manifestações locais; os achados clínicos levam à suspeita de neoplasia. Senão for tratado, evolui com
infiltração local e metástases, podendo levar o paciente à morte.
Adenocarcinoma oculto:
Adenocarcinoma clínico cujas manifestações decorrem das metástases e não do crescimento local da neoplasia.
Adenocarcinoma latente:
Também chamado dormente ou indolente, é um adenocarcinoma apenas histológico, que não evolui necessariamente
para carcinoma clínico. Pode ser encontrado incidentalmente em necrópsia, RTU ou prostatectomia aberta para
tratamento de HNP e em biópsias por agulha.
O tumor é muito pequeno → o paciente não tem manifestações clínicas. Esta forma peculiar de neoplasia é quase
exclusiva da próstata. O adenocarcinoma latente é muito mais frequente do que o adenocarcinoma clínico.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Assintomáticos nos estágios iniciais.
Podem desenvolver queixas relacionadas a obstrução do trato urinário inferior (mais comum na hiperplasia prostática
benigna – HPB):
↓ da força e calibre do jato; Nictúria;
Hesitação miccional; Sensação de micção incompleta;
Gotejamento ao final da micção; Infecção urinária e disúria.
Casos sintomáticos, muitas vezes, são avançados e podem apresentar sintomatologia modera a severa.
Queda do estado geral e dores ósseas são sinais de doença disseminada.
Portadores desse CA podem morrer de outras doenças, sem que ele seja diagnosticado.
DIAGNÓSTICO
Exame retal da próstata
A mudança de consistência da glândula é a principal suspeita de CA.
A próstata normal ou com HPB tem consistência fibroelástica. Com CA torna-se firme ou endurecida (pétrea).
Paciente com PSA elevado (4-10ng/ml) e toque retal normal tem câncer em 17-21%. Se o PSA é elevado e o toque
retal é suspeito, a chance aumenta para 41-72%.
Ou seja, o PSA aumenta o valor preditivo do toque para câncer.
O uso do PSA isolada sem o toque retal não é recomendado, pois até ¼ dos portadores da neoplasia têm o PSA baixo.
PSA livre
Quando o paciente tiver PSA entre 2,5 e 10ng/ml e o toque retal for suspeito, deve-se realizar dosagem de PSA livre.
Quando a relação PSA livre / PSA total for maior que 20%, o paciente deve ser portador de doença benigna. Entretanto,
quanto mais baixa a relação, maior a chance do CA. Esses casos devem ser submetidos a biópsia.
Obs: abaixo de 7%, a sensibilidade é de 98%.
Outros exames
Ultrassonografia transretal: a principal utilidade é orientar a biópsia. Nenhum achado nesse exame indica
consistentemente a presença certa de CA.
TC: é pouco sensível e pouco específica para detectar extensões fora da próstata.
RNM: melhor visualização de linfonodos e extensão local do CA.
Cintilografia óssea: avaliar metástase óssea.
RASTREAMENTO
- INCA (não tinha data)
Por existirem evidências científicas de boa qualidade de que o rastreamento do câncer de próstata produz mais dano
do que benefício, o INCA mantém a recomendação de que NÃO se organizem programas de rastreamento para o
câncer da próstata e que homens que demandam espontaneamente a realização de exames de rastreamento sejam
informados por seus médicos sobre os riscos e provável ausência de benefícios associados a esta prática.
Observação vigilante
É realizado o acompanhamento do paciente com doença de muito baixo risco / baixo risco em protocolo de
seguimento estrito.
São feitos exames de PSA seriado com intervalos de 3-6 meses por 1 ano.
Se não houver alteração significativa do PSA nesse período, o paciente é submetido a nova biópsia em 1 ano e novos
exames de estadiamento.
Entretanto, a cirurgia é superior à observação vigilante em pacientes com expectativa de vida >10 anos.
Prostatectomia radical
Remoção completa da próstata e das vesículas seminais.
Pode ser feita pela via retropúbica (cirurgia “aberta” tradicional), pela via laparoscópica manual ou por laparoscopia
robótica (esta tem melhor recuperação pós-operatória, mas maior taxa de disfunção erétil e incontinência urinária).
A linfadenectomia pélvica não é obrigatória em todos os casos, mas é fortemente recomendada para pacientes com
maior chance de metástases linfonodais.
Sempre que for possível, tentar preservar o feixe neurovascular posterolateral da próstata, por onde passam os nervos
cavernosos (ereção).
Não se recomenda a hormonioterapia neoadjuvante (pré).
Estruturas anatômicas que apresentam relação topográfica com a próstata (risco de lesão):
1- Plexo venoso dorsal (anteriormente);
2- Colo vesical (acima);
3- Uretra membranosa (abaixo);
4- Parede do reto (posteriormente).
Obs: a radioterapia, quando indicada, so deve ser iniciada após as primeiras 6 semanas de pós-operatório, de
preferência quando a incontinência urinária já tiver iniciado sua recuperação.
Radioterapia
Preferível para pacientes de alto risco cirúrgico. Pode ser feita de duas modalidades:
(1) Radioterapia com feixes externos
(2) Braquiterapia: implante de sementes radioativas no interstício prostático pela via transperineal
Crioterapia na doença localizada, HIFU (High Intensity Focussed Ultrassound – ultrassom focalizado de alta
frequência)
Alternativas de terapia de “resgate” na doença recidivada.
Deprivação androgênica
Para doentes com metástases, que não serão submetidos a cirurgia.
Consiste na eliminação dos hormônios androgênicos:
Orquiectomia bilateral: castração cirúrgica;
Agentes que reduzem a produção de androgênios;
Agentes que bloqueiam o receptor de androgênio.