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SUMÁRIO

1. Epidemiologia............................................................... 3
2. Revisão de anatomia................................................. 3
3. Fatores de risco........................................................... 5
4. Etiologia ......................................................................... 7
5. Manifestações clínicas.............................................. 7
6. Detecção precoce versus rastreamento............ 9
7. Como realizar a detecção precoce.....................10
8. Diagnóstico.................................................................13
9. Estadiamento.............................................................14
10. Estratificação de risco...........................................19
11. Exames adicionais.................................................20
12. Abordagem geral...................................................20
13. Tratamento...............................................................24
14. Tratamento direcionado.......................................29
Referências bibliográficas .........................................33
CÂNCER DE PRÓSTATA 3

1. EPIDEMIOLOGIA possuindo, aproximadamente, 3 cm de


comprimento, 4 cm de largura e 2 cm
O câncer de próstata é o segundo tipo
de profundidade, sendo do tamanho de
de câncer mais comum entre homens
uma noz, de consistência firme e locali-
no Brasil, atrás apenas do câncer de
zada ao redor da uretra prostática.
pele não-melanoma. Em ambos os
sexos, em valores absolutos é consi-
derado o segundo tipo de câncer mais
comum, atrás do CA de pulmão. A
taxa de incidência é maior em países
desenvolvidos do que em países em
desenvolvimento. É considerado um
câncer da terceira idade, já que em
cerca de 75% ocorrem em pacientes
com mais de 65 anos. O aumento das
taxas de incidência no Brasil pode ser
justificado pela evolução dos méto-
dos diagnósticos, pela melhoria na
qualidade dos sistemas de informa-
ção do país e pelo aumento da expec-
tativa de vida. O Instituto Nacional de
Câncer (INCA) estima que cada ano
do triênio 2020 a 2022 sejam diag-
nosticados no Brasil 65.840 novos
Figura 1. DISPONÍVEL EM: https://www.mdsaude.com/
casos a cada 100 mil homens. urologia/sintomas-da-prostata/

No mundo, também é o segundo tipo


de câncer mais comum, sendo esti-
Essa glândula é composta por ácinos
mado que 1 em cada 9 homens será
e um complexo sistema de dutos ra-
diagnosticado com câncer de próstata
mificados, cujos produtos de excreção
durante sua vida. Já é registrado cer-
são lançados dentro da uretra pros-
ca de 1,2 milhão de casos e 358 mil
tática. Assim sua função é produzir
mortes anualmente, segundo a Orga-
substâncias que, juntamente com a
nização Mundial da Saúde (OMS).
vesícula seminal e os testículos, vão
formar o sêmen ou esperma. A divisão
2. REVISÃO DE ANATOMIA anatômica dessa glândula é impor-
tante, principalmente, para descrever
A próstata é a maior glândula aces-
a localização dos processos neoplási-
sória do sistema genital masculino.
cos que ocorrem nesse órgão. A parte
Apresenta formato de cone invertido,
CÂNCER DE PRÓSTATA 4

glandular representa cerca de dois • Zona periférica (ZP): localizado


terços da próstata, sendo composta posterior à uretra, corresponde a
pela zona periférica e uma pequena uma zona glandular.
zona central que formam cerca de
• Zona de transição (ZT): por se tra-
95% da próstata; enquanto o outro
tar de uma área de transição apre-
terço é fibromuscular, composto por
senta tanto característica glandu-
zona muscular anterior, zona de tran-
lar quanto fibromuscular.
sição e glândulas periuretrais.
• Zona muscular anterior (AMZ): lo-
calizado anteriormente à uretra, é A zona periférica e de transição, ape-
também chamada de istmo. Carac- sar de anatomicamente distintas,
terística fibromuscular com pouco apresentam uma origem embrionária
ou nenhum tecido glandular. Re- comum (sino urogenital). As glândulas
presenta a continuação superior da zona central são morfologicamente
do músculo esfíncter externo da distintas devido a origem embrioná-
uretra para o colo da bexiga; ria diferente. Cerca de 60 a 70% dos
tumores de próstata ocorrem na zona
• Zona Central (ZC): localizado ao re- periférica e de 10 a 20% ocorrem na
dor da uretra, é uma zona glandular. zona de transição. Apenas 5 a 10%
dos tumores se originam na zona cen-
tral. Já a Hiperplasia Prostática Benig-
na decorre de um aumento no número
Z on a Tr a n sicion a l das células musculares, principalmen-
te em região de AMZ, podendo ocorrer
Z on a Cen tr a l
também em zona de transição.
Z on a Per i fér ica

Uretra prostática

Figura 2. DISPONÍVEIS
EM: Voll, 2014 e http://
www2.ebserh.gov.br/docu- A- Zona central
ments/1322127/4918693/ B- Zona
Cintilografia+%C3%93s-
fibromuscular
sea+-+Ca+de+pr%-
C3%B3stata..pdf/ C- Zona de transição
abba9bc4-0b60-4923-b- Ducto D- Zona periférica
896-e23242c7c97d ejaculatório
E- Região de glândula periuretral
CÂNCER DE PRÓSTATA 5

Figura 3. DISPONÍVEIS EM: Moore, Anatomia Orientada para a Prática Clínica. 4ed e https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842009000300012

3. FATORES DE RISCO Idade


Dos vários fatores de risco, os mais Observa-se uma relação clara entre o
importantes são idade, etnia, fatores aumento da idade e o aumento da in-
genéticos e, possivelmente, fatores cidência de câncer de próstata. Rara-
alimentares. mente o diagnóstico é feito antes dos
40 anos, mas a incidência aumenta
CÂNCER DE PRÓSTATA 6

rapidamente a partir dessa idade, Muitos estudos descobriram que os


atingindo pico entre 65 e 74 anos. A homens afro-americanos também
frequência em autópsias é progressi- possuem níveis séricos mais altos de
vamente maior, conforme a idade do PSA, escores piores de Gleason e um
paciente, como registrado a baixo: estágio mais avançado da doença no
momento do diagnóstico.
IDADE FREQUÊNCIA EM AUTÓPSIAS
20 a 30 anos 2 a 8% dos homens com câncer oculto História familiar e fatores
31 a 40 anos 9 a 31% genéticos
41 a 50 anos 3 a 43%
O câncer de próstata tem um forte
51 a 60 anos 5 a 46%
componente herdado. Homens com
61 a 70 anos 14 a 70%
histórico familiar de câncer de prós-
71 a 80 anos 31 a 83%
81 a 90 anos 40 a 73%
tata em ambos lados da família, par-
ticularmente aquele com um parente
de primeiro grau diagnosticado com
Em homens de 50 anos foi registra- idade < 65 anos possuem um risco
do em autópsias uma incidência de maior. Além disso, apresentar histó-
até 46%, enquanto o risco de doen- ria familiar de outros tipos de câncer
ça significativa gira em torno de 9,5% potencialmente herdados (como cân-
e a mortalidade em torno de 2,9%. cer de mama com diagnóstico em <
Portanto, muitos cânceres de prós- 50 anos, câncer de mama masculino,
tata são indolentes e seu tratamento câncer colorretal, de ovário, pâncre-
merece ser cuidadosamente discuti- as e melanoma) também podem au-
do com o paciente. mentar o risco de câncer de próstata.
Os fatores hereditários que contri-
Etnia buem para o risco genético de câncer
de próstata podem ser divididos em
O câncer de próstata é mais comum alterações deletérias raras que inter-
em homens negros do que em bran- rompem a função do gene conhecido;
cos ou hispânicos, talvez relacionado e variantes mais comuns, geralmente
a fatores genéticos combinado a fa- polimorfismos de nucleotídeo único
tores alimentares. Além das taxas de identificados, por exemplo, em regi-
incidência mais altas, a idade de início ões reguladoras ou codificadoras de
nos homens afro-americanos é ante- proteína de um gene.
rior ao dos outros grupos, ocorrendo
em menos de 50 anos em 8,3% dos
negros e 3,3% dos brancos.
CÂNCER DE PRÓSTATA 7

Dieta são menos comuns. O adenocarcino-


ma multifocal corresponde a 95% dos
Todos os estudos que implicam die-
cânceres de próstata, enquanto os ou-
ta no risco de câncer de próstata são
tros 5% correspondem a sarcomas,
observacionais e não devem ser con-
linfomas e carcinomas uroteliais.
siderados definitivos. Uma dieta rica
em gordura animal pode ser um im- O câncer de próstata é único entre os
portante fator no desenvolvimento tumores sólidos, pois existe em duas
de câncer de próstata, em particular formas: uma forma histológica ou cli-
o ácido alfa-linolênico e baixas quan- nicamente oculta que pode ser iden-
tidades de ácido linoleico. Além disso, tificada em aproximadamente 30%
uma dieta pobre em legumes e toma- dos homens com mais de 50 anos
te pode ser outro fator de risco. Já em e em 60 a 70% daqueles com mais
relação ao café parece estar associa- de 80 anos e uma forma clinicamen-
do a um risco reduzido de câncer de te evidente que afeta cerca de 1 em
próstata letal/metastático, principal- cada 6 homens norte- americanos.
mente naqueles que bebem seis ou Acredita-se que o câncer de próstata
mais xícaras por dia. latente tenha uma prevalência seme-
lhante em todo o mundo. A relação
molecular exata entre os cânceres la-
SE LIGA! Não são recomendadas me-
didas preventivas ou dietéticas especí-
tentes e clínicos não é conhecida. As-
ficas para reduzir o risco de desenvolver sim, é provável que a progressão dos
câncer de próstata. primeiros sintomas para os segun-
dos seja contínua com sobreposição
dos eventos moleculares associados.
4. ETIOLOGIA
Mutações, regulação negativa da ex-
Basicamente podemos dividir os cân- pressão gênica por metilação e por
ceres de próstata em dois grupos: os outros mecanismos e modificação de
de origem epitelial e os de os de origem proteínas parecem estar envolvidas
estromal (não-epitelial). Quanto aos na progressão do câncer de próstata.
de origem epitelial podemos falar em Os andrógenos têm atuação impor-
adenocarcinoma acinar e não-acinar. tante na carcinogênese da próstata.
Entre os adenocarcinomas não acina-
res temos o adenocarcinoma ductal, o
qual apresenta um pior prognóstico. 5. MANIFESTAÇÕES
O tumor de próstata mais agressivo, CLÍNICAS
no entanto, é o tumor de pequenas Frequentemente estão ausentes no
células. Tumores de bexiga podem momento do diagnóstico do câncer.
também se alojar na próstata, porém O comportamento clínico do câncer
CÂNCER DE PRÓSTATA 8

de próstata varia de um tumor de- são mais comuns associados a con-


tectado, assintomático, microscópico dições não malignas, como hiperpla-
e bem diferenciado, que pode nunca sia prostática benigna (HPB). Entre os
se tornar clinicamente significativo a 6% com doença metastática podem
um câncer significativo clinicamen- se apresentar com hematúria, incon-
te, sintomático, agressivo, que causa tinência urinária, disfunção erétil, per-
metástases, morbidade e morte. da de peso, fraqueza ou dor devido à
No momento do diagnóstico 78% compressão da medula espinhal, dor
dos pacientes tem câncer localizado, devido a fraturas patológicas, fadiga
o envolvimento de linfonodo regional causada por anemia ou sintomas as-
está presente em 12% e 6% estão sociados a insuficiência renal crônica.
com metástases distantes. Os sinais clínicos associados ao cân-
Assim, os sintomas associados a aco- cer de próstata incluem um antígeno
metimento da próstata são raros, mas prostático específico (PSA) elevado
podem se apresentar por sintomas em testes laboratoriais e um resulta-
urinários como hematúria ou hemato- do anormal da próstata no exame do
espermia. No entanto esses sintomas toque retal.

MAPA MENTAL – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS

FREQUENTEMENTE AUSENTES NO MOMENTO DO DIAGNÓSTICO

78% Câncer localizado 12% Linfonodos regionais 6% Metástases à distância

SINTOMAS RELACIONADOS AO ACOMETIMENTO PROSTÁTICO

Hematúria Mais comuns em HPB Hematoespermia

SINTOMAS RELACIONADOS AO CÂNCER METASTÁTICO

Disfunção erétil Incontinência urinária

Perda de peso Fraqueza Dor óssea


CÂNCER DE PRÓSTATA 9

6. DETECÇÃO PRECOCE mostram que cerca de 17% dos ho-


VERSUS RASTREAMENTO mens são diagnosticados com câncer
de próstata, mas apenas 4% acabam
O rastreamento do câncer de prósta-
morrendo da doença. Esses números
ta é a avaliação periódica e sistemática
chamam atenção para o número de
de uma população do sexo masculino
pacientes que não necessitariam de
saudável de uma determinada faixa
tratamento. Atualmente a indicação
etária, com objetivo de detectar doença
para o rastreamento dos cânceres está
curável, em homens com boa expec-
restrita aos de mama, colo do útero e
tativa de vida. Para que essa medida
cólon e reto. Entretanto, exceto câncer
seja valiosa deve reduzir a morbida-
de pulmão e esôfago, esses cânceres
de e/ou mortalidade da doença, de-
são passíveis de diagnóstico precoce
tectando o câncer em estágio inicial.
mediante avaliação e encaminhamen-
Recentemente há muitas incertezas
to oportunos após os primeiros sinais
em relação ao PSA, o diagnóstico e o
e sintomas. Assim, em consonância
tratamento do câncer de próstata de-
com as evidências científicas dispo-
tectado em homens assintomáticos,
níveis e as recomendações da OMS,
não havendo evidências concretas
a organização de ações de rastrea-
que os benefícios de um programa de
mento para o câncer da próstata não é
rastreamento para esse câncer seriam
recomendada.
maiores do que os prejuízos. Dados

SAIBA MAIS!

CARACTERÍSTiCAS DE UM
RASTREAMENTO ADEQUADO

Deve haver alto nível de evidências indicando redução de


mortalidade e morbidade obtidas com o rastreamento.

O rastreamento deve ser clínico, social e eticamente


aceitável pelos profissionais de saúde e pelo público.

Os benefícios do rastreamento devem superar os danos físicos e psicológicos


causados pelos testes, pelos procedimentos diagnósticos e pelo tratamento.

Economicamente os custos devem ser compatíveis com os benefícios obtidos.

O tratamento para a doença rastreada deve ser eficaz.


CÂNCER DE PRÓSTATA 10

Entretanto, quando falamos de de- expectativa de vida inferior a 10 anos,


tecção precoce, refere-se a uma ava- com comorbidades mal controladas
liação em indivíduos em particular, e ou com doenças graves não se bene-
não a uma política de investigação ficiaram do tratamento. Já indivíduos
ativa de pacientes saudáveis, influen- negros, com história familiar presen-
ciando na sobrevida por esse tipo de te ou com ascendentes jovens com
câncer e melhorando a qualidade de câncer de próstata devem ser enco-
vida dos portadores da doença. O rajados a realizar avaliação anual com
câncer de próstata é uma doença que exame de toque retal e PSA, já que
na fase inicial não apresenta sinais e esses indivíduos tem um alto risco
sintomas. Sintomas urinários são mais de apresentar doença e em estágios
relacionados ao crescimento benigno mais avançados. Vale ressaltar que a
da próstata, em vez de doença ma- detecção precoce também deve ser
ligna. Assim, tomar como base a in- oferecida a pacientes que desejam a
vestigação diagnóstica apenas pelos investigação da doença, mesmo que
sintomas do paciente pode levar ao não apresentem nenhum dos fatores
diagnóstico de lesões malignas ape- de risco acima citados. A diretriz de
nas em estágios avançados. O exame câncer de próstata de 2006, apesar
de PSA, juntamente com o exame de de trazer o conflito em relação a rea-
toque retal, trouxe a possibilidade de lizar ou não o rastreamento, se apoia
diagnóstico de lesões malignas en- no American Cancer Society (ACS),
quanto ainda localizadas na próstata, definindo um rastreio anual dos indi-
o que permite, na maioria das vezes, víduos ou a cada 2 anos quando PSA
um tratamento curativo. Após a in- inicial < 2 ng/ml. Quanto à idade de
trodução do PSA, observou-se uma início do rastreamento, devido a es-
redução de 32,5% da mortalidade e sas questões entre risco e benefício,
75% do diagnóstico tardio do câncer ainda não foi precisamente definida.
de próstata nos Estados Unidos. A maioria dos autores indica 50 anos,
apesar de haver referências a 45 anos
e 55 anos. Homens de raça negra ou
7. COMO REALIZAR A que tenham dois ou mais parentes
DETECÇÃO PRECOCE de primeiro grau afetados devem ser
Antes de submeter o paciente a de- avaliados a partir de 45 anos.
tecção precoce, deve-se analisar suas • EXAME DE TOQUE RETAL: A
comorbidades, seu estado de saúde maioria dos cânceres de prósta-
atual, expectativa de vida e outros fa- ta estão localizados na zona pe-
tores de risco como diabetes que po- riférica e pode ser detectado por
dem estar associados. Pacientes com meio do exame de toque com um
CÂNCER DE PRÓSTATA 11

volume ≥ 0,2 ml, podendo-se per- mais de 0,75 ng/ml em compara-


ceber a presença de nódulos, en- ção com o valor do ano anterior,
durecimentos e assimetrias. Cerca nenhuma avaliação adicional será
de 18% dos casos são detectados necessária naquele momento, a
a partir de um exame de toque su- menos que haja um nódulo palpá-
gestivo de câncer, independente- vel, endurecido e assimétrico no
mente do valor do PSA. Um toque exame de toque. Os valores mé-
suspeito com um valor de PSA ≤ dios de PSA por faixa etária estão
2 ng/ml tem valor preditivo positivo descritos abaixo:
de 5 a 30%. Um exame de toque
anormal está associado a um risco
VALOR MÉDIO VALOR MÁXI-
aumentado de um grau ISUP mais IDADE (ANOS)
(PSA) MO (PSA)
alto e é uma indicação de biópsia. 40 a 50 0,7 2,5
50 a 60 1,0 3,5
60 a 70 1,4 4,5
70 a 80 2,0 6,5
Tabela 1. ADAPTADO DE: EAU Guidelines, Prostate
Cancer, 2020.

O PSA trouxe uma possibilidade da


detecção laboratorial precoce e tem
grande especificidade (94%) quan-
do apresenta valores acima de 4 ng/
ml, porém baixa sensibilidade e mui-
tos exames falso-negativos. Utilizan-
Figura 4. DISPONÍVEL EM: https://bit.ly/3gSZb7U do-se o valor de 2,4 ng/ml obtêm-se
valores intermediários de ambos, di-
minuindo-se os falsos negativos, po-
• PSA: O exame de PSA é um maior rém com aumento dos falso-positivos
preditor de câncer que o exame de e consequentemente mais biópsias
toque. Quando o paciente apre- desnecessárias. Ou seja, o PSA se
sentar um PSA elevado deve-se correlaciona com o câncer de próstata
repetir o teste em algumas sema- de forma progressiva e quanto maior
nas. Se o PSA repetido estiver den- o seu valor diagnóstico, maior o ris-
tro dos valores normais esperados co de câncer assim como de doenças
para a idade e não for aumentado mais agressivas.
CÂNCER DE PRÓSTATA 12

PSA SÉRICO
RISCO DE CAP
RISCO DE CAP não teriam se tornado clinicamen-
(NG/ML) GLEASON > 7 te evidentes durante a vida do
0 – 0,5 7% 0,8% paciente. O teste de PSA não vai,
0,6 – 1 10% 1,0%
por si só, distinguir entre tumores
1,1 – 2 17% 2,0%
agressivos que estejam em fase
2,1 – 3 24% 4,6%
inicial (e que se desenvolverão ra-
3,1 – 4 27% 67%
pidamente) e aqueles que não são
agressivos.
O teste de PSA pode identificar o
câncer de próstata localizado. Porém SE LIGA! Acredita-se que a partir de 75
existem limitações que dificultam a anos os pacientes não devem ser sub-
sua utilização como marcador des- metidos a detecção precoce, já que não
se beneficiarão das intervenções. O exa-
se câncer. Suas principais limitações me de toque retal adiciona sensibilidade
são: ao uso do PSA e deve ser oferecido aos
pacientes acima de 40 anos. A biópsia
• O PSA ser tecido-específico, mas transretal da próstata será solicita com
não tumor-específico; assim, con- base no valor do PSA, alterações nodu-
dições como aumento benigno da lares de endurecimento no exame do to-
que retal ou alterações em ambos.
próstata, prostatite e infecções do
trato urinário inferior podem elevar
o nível de PSA. Cerca de 2/3 dos Outros métodos também são utiliza-
homens com PSA elevado NÃO dos para aumentar o valor preditivo
apresentam câncer de próstata na investigação:
detectado em biópsia.
• Até 20% de todos os homens com Relação PSA livre/total
câncer de próstata clinicamente
significativo têm PSA normal; Tem sido útil na diferenciação entre
câncer de próstata e hiperplasia pros-
• O valor preditivo positivo desse tática benigna. Caso está relação es-
teste está em torno de 33%, o que teja acima de 25%, o risco de câncer
significa que 67% dos homens na biópsia é de apenas 8%, porém se
com PSA positivo serão submeti- a relação estiver abaixo de 10% o ris-
dos desnecessariamente à biópsia co poderá chegar em até 56%, espe-
para confirmação do diagnóstico; cialmente em homens com PSA entre
• O teste de PSA leva à identifica- 4 e 10 ng/ml.
ção de cânceres de próstata que
CÂNCER DE PRÓSTATA 13

SAIBA MAIS!
Pacientes com crescimento prostático benigno podem possuir um PSA total grande o sufi-
ciente para diluir o valor do PSA livre, dificultando o diagnóstico de câncer de próstata. Por-
tanto, pacientes com PSA acima de 10 ng/ml, não se deve levar em consideração a relação
PSA livre/total.

Velocidade de aumento do PSA 8. DIAGNÓSTICO


O uso da velocidade de crescimento O diagnóstico de câncer de próstata
ou duplicação do PSA é mais utilizada definitivo requer um diagnóstico te-
para acompanhamento de um câncer cidual. Para partir para a biópsia, os
já diagnosticado, do que para uma resultados dos testes de PSA e/ou
avaliação inicial. Essa velocidade é de toque retal devem estar alterados.
influenciada pelo crescimento benig- Deve-se realizar a biópsia, após uma
no da próstata. Estudos apontam que decisão compartilhada, se:
sua utilização não aumenta o poder
• Expectativa de vida é de, pelo me-
de detecção do PSA, apesar de apre-
nos, 10 anos (alguns atribuem uma
sentar algum valor na evolução após
expectativa de vida para biópsia
tratamento e na doença metastática.
de, pelo menos, 5 anos)
• O PSA está elevado acima da faixa
Marcador urinário PCA3
normal da faixa etária do paciente ou
O PCA3 é um gene hiperexpresso o PSA aumentou mais de 0,75 ng/
no câncer de próstata e o RNA men- ml ao longo de um ano ou anorma-
sageiro (RNAm) desse gene pode lidade palpável em exame de toque.
ser dosado na urina após massa-
gem prostática. A avaliação é feita
Para o diagnóstico utiliza-se a biópsia
por meio do resultado da relação do
transretal da próstata guiada por ul-
RNAm do PCA3 e do PSA encontra-
trassonografia, que permite a obten-
dos na urina. Estudos vem mostran-
ção de, pelo menos, 12 fragmentos
do uma superioridade desse exame
submetidos a exame anatomopatoló-
para o diagnóstico em relação ao uso
gico. A partir desse exame será de-
do PSA livre/total em pacientes com
terminado o grau histológico, o qual
PSA elevado.
será importante na especificação do
Escore de Gleason, estadiamento e
prognóstico do câncer.
CÂNCER DE PRÓSTATA 14

Figura 5. DISPONÍVEL EM: Aula sanar e https://www.uptodate.com/contents/image?ima-


geKey=SURG%2F76064&topicKey=SURG%2F8097&search=cancer%20de%20
prostata&source=see_link

Para o exame anatomopatológico, (M). O estadiamento T do TNM ain-


normalmente utiliza-se uma orienta- da é dividido em estadiamento clíni-
ção por imagem, como a ultrassono- co e patológico. O clínico é baseado
grafia transretal (TRUSG) ou RM. A no exame físico (toque retal), biópsia
biópsia por TRUSG é a mais comu- guiada por ultrassonografia transre-
mente realizada. Assim, posiciona-se tal (TRRE) ou em exames de imagem,
o paciente em decúbito lateral com jo- particularmente a varredura óssea e
elho e quadril fletidos à 90° e o trans- a ressonância magnética. É de gran-
dutor lubrificado é inserido no reto. A de importância na avaliação do risco
próstata é visualizada e seu volume da doença, assim como na recomen-
é determinado. Uma agulha de bióp- dação do tratamento. O estadiamen-
sia é avançada no reto adjacente ao to patológico T é feito com base no
transdutor e guiada para a próstata exame histológico da amostra de res-
para obter amostras do núcleo, uma secção cirúrgica após prostatectomia
de cada vez. As amostras são rotula- radical. Pacientes não submetidos a
das uma de cada vez de acordo com essa intervenção não terão um esta-
a localização da extração antes de diamento patológico definido e as de-
serem enviadas para análise. cisões de tratamento serão baseadas
no estágio clínico. O estadiamento
clínico pode subestimar ou superes-
9. ESTADIAMENTO timar a extensão da doença quando
O estadiamento TNM é uma forma comparado com os resultados base-
de identificar o estágio do câncer com ados no exame patológico de uma
base no tumor (T), acometimento lin- amostra de ressecção.
fonodal (N) e metástases à distância
CÂNCER DE PRÓSTATA 15

Estadiamento clínico T
Esse estadiamento fornece a base para decisões iniciais sobre ex-
tensão das opções de avaliação e tratamento. É classificado em:

TUMOR PRIMÁRIO (T)


CLÍNICO (CT)
Tx Tumor primário não pode ser avaliado
T0 Ausência de evidência tumoral
T1 Tumor clinicamente não identificável ao toque ou com exames de imagem
T1a Tumor incidental histológico identificado em 5% ou menos do tecido ressecado
T1b Tumor incidental histológico identificado em mais de 5% do tecido ressecado
T1c Tumor identificado por biópsia por aumento do PSA
T2 Tumor confinado à próstata
T2a Tumor acomete metade de um lobo prostático ou menos
T2b Tumor acomete mais de metade de um lobo prostático
T2c Tumor acomete ambos os lobos prostáticos
T3 Tumor se estende além da cápsula prostática
T3a Extensão extracapsular uni ou bilateral
T3b Tumor acomete as vesículas seminais
Tumor é fixo e acomete estruturas adjacentes (esfíncter externo, bexiga, reto, mus-
T4
culatura/parede pélvica).
Tabela 3. ADAPTADO DE: Urologia Brasil. Editora Planmark.

Estadiamento patológico T
É uma avaliação mais precisa da extensão da doença em pacien-
tes submetidos a prostatectomia radical. É classificado em:

TUMOR PRIMÁRIO (T)


PATOLÓGICO (PT)
pT2 Tumor confinado à próstata
pT2a Tumor unilateral em menos de 50% do lobo prostático
pT2b Tumor unilateral em mais de 50% do lobo prostático
pT2c Tumor bilateral
pT3 Tumor se estende além da cápsula prostática
pT3a Tumor invade a cápsula prostática ou envolve microscopicamente o colo vesical
pT3b Tumor acomete as vesículas seminais
pT4 Invasão do reto, musculo elevador do ânus ou parede pélvica
Tabela 4. ADAPTADO DE: Urologia Brasil. Editora Planmark.
CÂNCER DE PRÓSTATA 16

Estadiamento N Estadiamento M
Determinação do acometimento lin- Determinação de metástases à dis-
fonodal. Classificado em três tipos: tância. Classificado em:

LINFONODOS (N) METÁSTASES (M)


Nx Linfonodos regionais não avaliados M0 Ausência de metástases
N0 Linfondos negativos M1 Metástases à distância
N1 Linfonodos positivos M1a Linfonodos regionais
Tabela 5. ADAPTADO DE: Urologia Brasil. Editora M1b Óssea
Planmark.
M1c Outros sítios com ou sem acometi-
mento ósseo
Tabela 6. ADAPTADO DE: Urologia Brasil. Editora
Planmark.

Tumor Próstata
Próstat
a

Figura 6. Estágios do tumor. DISPONÍVEL EM: https://bit.ly/2CSiKie


CÂNCER DE PRÓSTATA 17

A oitava edição (2017) do manual da glândulas regulares, com pouca


American Joint Committee on Cancer variação de tamanho e forma, com
(AJCC), combina informações sobre a bordos bem definidos, densamen-
extensão do tumor (T), número de lin- te agrupadas, distribuídas homo-
fonodos acometidos (N), presença de geneamente e com muito pouco
metástases à distância (M), com nível estroma em si.
sérico do PSA e o grupo histológico do
• Grau 2 - As células variam mais em
tumor primário para classificação des-
tamanho e forma e as glândulas,
ses pacientes em grupos prognósticos
ainda uniformes, mostram-se frou-
de acordo com o risco de recorrência.
xamente agrupadas e com bordos
PSA: O nível sérico do PSA fornece irregulares.
informações prognósticas importan-
tes que são uteis para determinar a • Grau 3 - As células variam ainda
extensão do trabalho necessário pós mais em tamanho e forma, consti-
biópsia inicial e planejar o tratamento tuindo glândulas muito pequenas,
subsequente. Um PSA sérico basal uniformes, anguladas ou alongadas,
mais alto está associado a um risco individualizadas e anarquicamente
aumentado de doenças mais avança- espalhadas pelo estroma. Podem
das, bem como de subsequente pro- formar também massas fusiformes
gressão dessa doença. ou papilíferas, com bordas lisas.

Grupo histológico: É a partir desse • Grau 4 - Muitas das células estão


grau que se determina o escore de fusionadas em grandes massas
Gleason. Baseia-se nas característi- amorfas ou formando glândulas
cas arquitetônicas e de diferenciação irregulares, que são distribuídas
das células do câncer, comparando anarquicamente, exibindo infiltra-
às células prostáticas normais. O ob- ção irregular e invadindo tecidos
jetivo dessa classificação é informar adjacentes. As glândulas podem
sobre a provável taxa de crescimen- apresentar, ainda, células pálidas e
to e tendência a disseminação. Um grandes, com padrão hipernefroide.
grau histológico mais alto fala mais a • Grau 5 - Tumor anaplásico. A
favor de uma doença não confinada maioria das células estão agrupa-
ao órgão. A biópsia obtida da doença das em grandes massas que inva-
extraprostática não vai receber essa dem os órgãos e tecidos vizinhos.
classificação histológica. O grau his- As massas de células podem exi-
tológico varia de 1 a 5, com o grau 1 bir necrose central. Muitas vezes, a
sendo a forma menos agressiva. diferenciação glandular pode não
• Grau 1 - As células são, geralmen- existir: padrão de crescimento infil-
te, uniformes e pequenas e formam trativos do tipo células soltas.
CÂNCER DE PRÓSTATA 18

GRAU 1 GRAU 2 GRAU 3

GRAU 4 GRAU 5

Figura 7. DISPONÍVEIS EM: Campbell-Walsh Urologia. 2018

O escore de Gleason varia de 2 a 10, • Gleason de 8 a 10- existe cerca de


sendo que o patologista determina de 75% de chance de o câncer disse-
1 a 5 o grau histológico das duas áre- minar-se para fora da próstata em
as mais frequentes do tumor e soma 10 anos, com dano em outros ór-
os resultados. Quanto mais baixo o gãos, afetando a sobrevida.
escore melhor será o prognóstico.
• Gleason de 2 a 4- existe cerca de Padr ão de Gleason
25% de chance de o câncer disse-
minar-se para fora da próstata em
10 anos, com dano em outros ór-
gãos, afetando a sobrevida.
• Gleason de 5 a 7- existe cerca de
50% de chance de o câncer disse-
minar-se para fora da próstata em
10 anos, com dano em outros ór-
gãos, afetando a sobrevida.
Figura 8. DISPONÍVEL EM: Aula sanar
CÂNCER DE PRÓSTATA 19

• ISUP 1 = Escore de Gleason (3 + 3)


SE LIGA! Existe uma diferença de um
• ISUP 2 = Escore de Gleason (3 + 4)
Gleason de 7 formando por (3 + 4) e
formado por (4 + 3). Essa diferenciação • ISUP 3 = Escore de Gleason (4 + 3)
vai repercutir em diferentes graus de
correspondência nos graus ISUP (Socie- • ISUP 4 = Escore de Gleason (4 +
dade Internacional de Patologia Uroló-
4), (3 + 5) ou (5 + 3)
gica) e em diferentes categorizações na
estratificação, dependendo do sistema • ISUP 5 = Escore de Gleason (4 +
utilizado.
5), (5 + 4) ou (5 + 5)

A partir do Escore de Gleason, a So-


10. ESTRATIFICAÇÃO DE
ciedade Internacional de Patologia
RISCO
Urológica (ISUP) enquadrou os indiví-
duos em cinco grupos de risco (Grau Para ser classificado como baixo, in-
ISUP), de acordo com o padrão pri- termediário e alto risco, utiliza-se in-
mário e secundário, o que irá determi- formações do estadiamento TNM,
nar se corresponde a um baixo, inter- juntamente com PSA sérico e o gru-
mediário ou alto risco, de acordo com po histológico definido. Assim, é pos-
outras informações de estadiamento, sível determinar o grupo de risco do
como veremos mais adiante na abor- paciente; entretanto essa determina-
dagem desse paciente. ção varia de acordo com o sistema
utilizado.

GRUPO DE RISCO PSA (NG/ML) ISUP ESTÁDIO


Baixo < 10 e 1 e T1 – T2a

Intermediário 10 a 20 ou 2/3 ou T2b

Alto > 20 ou 4/5 ou T2c


Tabela 7. ADAPTADO DE: American Joint Committee on Cancer.

SE LIGA! Mesmo dentre de um próprio grupo existe uma heterogeneidade substan-


cial, que pode ter implicações importantes para o gerenciamento do paciente. Por
isso, outras características do tumor são muito importantes, como número e exten-
são do envolvimento do câncer no núcleo das biópsias, a presença de invasão peri-
neural do tumor, presença de invasão linfovascular e arquitetura cribiforme/histologia
intraductal. Embora a 8ª edição do manual da AJCC não considere essas caracterís-
ticas, outros modelos prognósticos podem incorporar alguns desses recursos. O uso
rotineiro desses e sua incorporação no sistema de estadiamento aguarda validação
adicional, apesar disso devem ser levados em consideração na avaliação do paciente.
CÂNCER DE PRÓSTATA 20

SAIBA MAIS!
O sistema NCNN é outra forma de categorizar todos esses homens com base nas infor-
mações obtidas como exame de toque retal, PSA, grupo histológico, número e extensão do
envolvimento do câncer no núcleo das biópsias. Essa categorização foi definida pela National
Comprehensive Cancer Network (NCNN). Esse é um sistema importante para a definição de
uma abordagem para cada paciente. Apresenta 6 categorias de grupos de risco: muito baixo,
baixo, intermediário favorável, intermediário desfavorável, alto e muito alto.

11. EXAMES ADICIONAIS doenças de alto e muito alto risco. Es-


ses indivíduos, incluindo aqueles com
Depois que o diagnóstico de câncer de
tumor localmente avançado, possuem
próstata é estabelecido, por biópsia do
uma alta probabilidade de abrigar do-
tecido, o estadiamento deve ser rea-
enças metastáticas. Normalmente, os
lizado baseando-se em vários outros
linfonodos pélvicos regionais e ossos
fatores como expectativa de vida, co-
são os locais mais comuns de metás-
morbidade, presença ou ausência de
tases, sendo os locais mais distantes
sintomas e a categoria de risco.
condições mais raras.
A avaliação das metástases pode ser
Nenhuma avaliação adicional feita por meio de exames comple-
Pacientes assintomáticos com câncer mentares de imagem, como varredu-
de baixo risco ou muito baixo risco e ra óssea, tomografia computadoriza-
com expectativa inferior a 10 anos, da com emissão de pósitrons (PET/
geralmente o tratamento definitivo é TC) ou ressonância magnética (RM)
negado, a menos que haja progres- do abdome e pelve, além da RM mul-
são da doença ou desenvolvimento tiparamétrica da próstata.
de sintomas. Nesses casos, nenhuma
preparação adicional, além da biópsia 12. ABORDAGEM GERAL
inicial, é indicada.
Avaliação da extensão da doença
A avaliação da extensão deve ser re-
Avaliação adicional
alizada em todos os pacientes e pode
Pacientes com características de ser feita a partir do exame de toque
maior risco ou homens com doença e RM multiparamétrica. O exame
de menor risco e maior expectativa de toque é mandatório na avaliação,
de vida pode ser necessária uma ava- porém, pelo caráter subjetivo, apre-
liação adicional, especialmente em senta limitações na determinação da
CÂNCER DE PRÓSTATA 21

extensão da doença. Esse é um exa-


me que localiza tumores que ocorrem • PI-RADS 1- É altamente improvável
na parte posterior da próstata, não que um câncer clinicamente signifi-
cativo esteja presente - PI-RADS 2-
sendo possível palpar tumores locali- É improvável que um câncer clinica-
zados na parte anterior. Já a RM mul- mente significativo esteja presente
tiparamétrica vem apresentando um • PI-RADS 3- A presença de um cân-
uso crescente, porém ainda não há cer significativo é ambígua
um consenso sobre quais pacientes • PI-RADS 4- É provável que um cân-
devem ser submetidos a esse exa- cer clinicamente significativo esteja
presente
me. Pacientes de alto e baixo risco
apresentam benefícios. Para os de • PI-RADS 5- É altamente provável
que o câncer clinicamente esteja
baixo risco é indicado para vigilância presente.
ativa do câncer e para guiar novas
biópsias e para os de alto risco para
O câncer clinicamente significativo foi
o estadiamento e avaliação das ve- definido como uma lesão corresponden-
sículas seminais e linfonodos. Quan- te, pelo menos, ao grupo 2, com volume
to aos pacientes categorizados em ≥ 0,5 mL ou extensão extraprostática.
Dois estudos determinaram a probabi-
risco intermediário, fica a critério de lidade de encontrar câncer com lesões
cada médico a solicitação do exame. de PI-RADS de 3, 4 e 5 sendo, respec-
Além disso, a RM também possui o tivamente de 12 e 23, 60 e 72 e 83 e
valor agregado de predizer o estágio 91%. A biópsia dessas lesões de PI-
-RADS 4 e 5 são indicadas, enquanto a
patológico na prostatectomia radical, biópsia em lesões de PI-RADS 3 ainda é
além de fornecer a localização anatô- controversa.
mica do tumor. Pode também auxiliar
no planejamento do tratamento cirúr-
gico, melhorando a preservação do Avaliação de linfonodos regionais
feixe vasculonervoso e reduzindo as A dissecção dos linfonodos pélvi-
margens cirúrgicas positivas. cos é o método padrão-ouro na ava-
liação do estágio nodal no câncer de
SE LIGA! Um grupo de trabalho interna- próstata. É geralmente realizada jun-
cional de RM da próstata desenvolveu tamente com a prostatectomia radi-
um Sistema de Relatórios de Dados cal. Como pode adicionar morbidade
de Imagem da Próstata (PI-RADS)
à cirurgia, essa dissecção será limita-
a fim de categorizar lesões da próstata
com base na probabilidade de câncer de da a pacientes com risco significativo
acordo com uma escala de 5 pontos. A de envolvimento linfonodal com base
versão mais recente (2019) do PI-RADS na extensão da doença, PSA sérico
revisa os parâmetros técnicos para aqui-
sição de imagens e modifica os critérios
e grupo histológico (geralmente ris-
de interpretação dos dados: co intermediário ou alto). Pacientes
CÂNCER DE PRÓSTATA 22

que serão tratados com radioterapia, probabilidade estimada de envolvi-


ao invés de cirurgia, a dissecção dos mento nodal regional ou suspeita clí-
linfonodos, geralmente, não é apro- nica de envolvimento nodal com base
priada. A decisão será baseada na em imagens transversais.

SAIBA MAIS!
As biópsias de linfonodos sentinelas não são indicadas devido à alta variabilidade na drena-
gem linfática primária da próstata.

PET/TC é outro método que pode ser tipo de metástase é indicada para
utilizado para avaliação de linfono- doenças de risco intermediário, alto
dos, em conjunto com radionuclídeos e muito alto e para qualquer paciente
mais novos e mais sensíveis. A fluo- com sintomas sugestivos de metás-
rodeoxiglucose (FDG) é o radiotraça- tases ósseas. A varredura óssea por
dor usual para PET, sendo excretado radionuclídeos é o exame para ava-
pelo rim. Entretanto, seu acumulo na liação inicial.
bexiga impede a visualização do lei-
to prostático e pelve. Radiotraçado-
res como fluciclovina (F-18) e colina Teste de linha germinativa
(F-18/C-11) podem ser melhores Homens com risco muito baixo, baixo
para uso em câncer de próstata, em- e intermediário, com história familiar
bora a sensibilidade varie de acordo positiva para uma síndrome de pre-
com o nível de PSA. Para avaliação disposição ao câncer hereditário ou
dos linfonodos pélvicos, o uso de flu- se o tumor da próstata mostrar his-
ciclovina apresenta alta especificida- tologia intraductal, o teste de linha
de, mas baixa sensibilidade para de- germinativa pode ser realizado. A
tecção de metástases linfonodais em histologia intraductal é enriquecida
câncer de próstata. para mutações nos genes de reparo
do DNA de recombinação homóloga
(por exemplo o BRCA2). Os resulta-
Avaliação de metástases à
dos genéticos podem influenciar o
distância
tratamento de homens com câncer
Metástases ósseas são as mais co- de próstata em estágio inicial.
muns, porém uma busca por esse
CÂNCER DE PRÓSTATA 23

SAIBA MAIS!
Mutações nas linhas germinativas em BRCA1, BRCA2, ATM e CHEK2 têm sido associadas
ao câncer de próstata letal;
Homens com mutações BRCA ou ATM apresentam maior risco de reclassificação de grau
entre homens submetidos à vigilância ativa.

MAPA MENTAL – ABORDAGEM GERAL

ABORDAGEM
GERAL

AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO DA DOENÇA

Exame de toque RM multiparamétrica da próstata

+
PI-RADS

AVALIAÇÃO DE LINFONODOS REGIONAIS

Dissecção dos linfonodos pélvicos PET/TC + fluciclovina ou colina

AVALIAÇÃO DE METÁSTASES A DISTÂNCIA

Varredura óssea com radionuclídeos

TESTE DE LINHA GERMINATIVA

BRCA1 BRCA2 ATM CHEK2


CÂNCER DE PRÓSTATA 24

13. TRATAMENTO Vigilância ativa


A escolha do tratamento para um A vigilância ativa visa evitar trata-
paciente depende de uma decisão mento desnecessário em homens
informada desse, incorporando co- com câncer de próstata clinicamen-
nhecimento sobre risco e benefícios te localizado que não necessitam de
potenciais associados a cada abor- tratamento imediato, mas, ao mesmo
dagem, além de preferências pesso- tempo, atingem o momento correto
ais. As opções básicas relacionadas para o tratamento curativo naqueles
ao tratamento de adenocarcinoma, o que eventualmente o fazem. Os pa-
tipo mais comum, corresponde a vigi- cientes permanecem sob vigilância
lância ativa, radioterapia por feixe ex- rigorosa por meio de programas de
terno (EBRT) com ou sem braquitera- vigilância estruturados com acompa-
pia, prostatectomia radical e terapias nhamento regular. O PSA deve ser
hormonais adjuvantes. acompanhando a cada 6 meses, o
toque retal a cada 12 meses e RM e
As recomendações gerais para tra-
biópsias a cada 2 a 5 anos.
tamento determinam que uma ex-
pectativa de vida de, pelo menos, 10 A espera vigilante refere-se ao tra-
anos deve ser garantida com a inter- tamento conservador de pacientes
venção. Caso a expectativa seja < 10 considerados inadequados para o
anos, a conduta é de espera vigilante, tratamento curativo desde o início, e
acompanhando a progressão da do- os pacientes são vigiados pelo de-
ença e fornecendo tratamento paliati- senvolvimento de progressão local
vo para as queixas do paciente, a fim ou sistêmica com queixas (iminentes)
de promover uma melhor qualidade relacionadas a doenças, em que es-
de vida para esse. Quando a expec- tágio são tratados paliativamente de
tativa de vida com o tratamento seja acordo com seus sintomas.
≥ 10 anos, o tratamento vai se basear
no risco do paciente. As possíveis in-
tervenções são descritas abaixo:
CÂNCER DE PRÓSTATA 25

VIGILÂNCIA ATIVA ESPERA VIGILANTE


Intenção de tratamento Curativa Paliativa
Acompanhamento Agenda predefinida Específico do paciente
Avaliação/marcadores Toque retal, PSA, RM multiparamétrica e
Não predefinido
utilizados re-biópsia
Expectativa de vida > 10 anos < 10 anos
Minimiza a toxicidade relacionada ao tratamento Minimiza a toxicidade relaciona-
Alvo
sem comprometer a sobrevivência da ao tratamento
Pode-se aplicar a pacientes de
Faixa de risco Principalmente pacientes de baixo risco
qualquer faixa de risco
Tabela 8. ADAPATADO DE: EAU Guidelines, Prostate Cancer, 2020

Prostatectomia radical (PR) devem ser usados, no entanto ne-


nhuma evidência de alto nível está
disponível para antibióticos específi-
cos. A prostatectomia pode ser rea-
lizada por abordagens abertas, lapa-
roscópicas ou assistidas por robôs
(RARP). Caso a linfadenectomia seja
necessária durante a PR perineal, ela
deve ser feita por meio de uma abor-
dagem retropúbica aberta separa-
da (RRP) ou laparoscópica. Durante
a prostatectomia, a preservação dos
feixes vasculonervosos com ramos
nervosos parassimpáticos do plexo
pélvico pode poupar a função erétil.
Figura 8. DISPONÍVEL EM: Aula Sanar Apesar da idade, a função pré-ope-
ratória é o preditor mais importante
O objetivo dessa intervenção é a er- da função erétil pós-operatória, pou-
radicação do câncer e, sempre que par feixe vasculonervoso também foi
possível, preservar a função dos ór- associada a melhores resultados de
gãos pélvicos. O procedimento en- continência e, portanto, ainda pode
volve a remoção de toda a próstata ser relevante para homens com fun-
com sua cápsula intacta e vesículas ção erétil deficiente. As formas mais
seminais, seguida pela realização de agressivas de câncer de próstata po-
anastomose vesicouretral. Para essa dem se espalhar diretamente para
intervenção antibióticos profiláticos as vesículas seminais, assim, tradi-
cionalmente, são removidas intactas,
CÂNCER DE PRÓSTATA 26

junto com a próstata. O maior risco guiada por imagem (IGRT) é o padrão
desse procedimento é que os ner- ouro de terapia de radiação com fei-
vos cavernosos passam pelas pontas xes externos (EBRT). A radioterapia
das vesículas seminais e uma dissec- por feixe externo com arco volumé-
ção indiscriminada pode levar a uma trico (VMAT) possui como vantagem
disfunção erétil. Assim, em casos de acima do IMRT o menor tempo de
baixo risco de envolvimento das ve- tratamento, geralmente de 2 a 3 mi-
sículas seminais, pode-se realizar a nutos. A radioterapia quando combi-
dissecção da estrutura com preserva- nada com a terapia de privação an-
ção das pontas. Quanto a técnica de drogênica mostrou uma superioridade
anastomose vesicouretral, após a re- quando comparada com a RT isolada.
moção da próstata, o colo da bexiga é Para riscos intermediários é ideal uma
anastomosado na uretra membrano- curta duração de cerca de 6 meses,
sa. O objetivo é criar uma anastomo- enquanto uma longa de cerca de 3
se precisamente alinhada, estanque, anos é necessária para pacientes de
livre de tensão e livre de estenoses alto risco.
que preserve a integridade do meca- A braquiterapia de baixa dose é uma
nismo do esfíncter intrínseco. Duran- radioterapia que utiliza sementes
te a PR, rotineiramente coloca-se um radioativas permanentemente im-
cateter urinário por, cerca de, 1 sema- plantadas na próstata e as doses de
na de pós-operatório, a fim de permi- radiação são administradas duran-
tir o repouso da bexiga e a drenagem te semanas e meses. Há também a
da urina enquanto a anastomose ve- braquiterapia de alta dose, em que
sico-uretral se estabelece. são introduzidas temporariamente na
próstata e são administradas doses
Radioterapia (RT) de radiações em minutos. A braquite-
rapia pode ser realizada em monote-
A radioterapia com intensidade modu- rapia em pacientes de baixo e médio
lada (IMRT), com ou sem radioterapia risco de forma isolada.
CÂNCER DE PRÓSTATA 27

Figura 9. Funcionamento da braquiterapia. DISPONÍVEIS EM: https://www.radioterapiamaterdei.com.br/tratamentos/


braquiterapia/ e https://www.aapm.org/meetings/2017SS/documents/ButlerLDRTreatmentPlanningAAPMSS17.pdf

Os efeitos colaterais mais comuns Terapias em investigação


da radioterapia são efeitos gastroin-
Outras terapias que não a PR, RT e
testinais e urinários, incluindo disúria,
terapia hormonal estão são desenvol-
frequência urinária, retenção urinária,
vidas, dentre elas a ultrassom focali-
hematúria, diarreia, sangramento re-
zada e, principalmente, a crioterapia. A
tal e proctite. Além disso, efeitos co-
crioterapia é uma intervenção que uti-
laterais gerais como fadiga também
liza técnicas de congelamento para in-
são comuns.
duzir a morte celular por desidratação,
resultando em desnaturação proteica,
Terapia hormonal ruptura direta da membrana celulares
por cristais de gelo e estase vascular e
A privação androgênica pode ser al- microtrombos, resultando em estagna-
cançada suprimindo a secreção de ção da microcirculação com apoptose
andrógenos testiculares ou inibindo isquêmica consecutiva. É garantida a
a ação de andrógenos circulantes no partir da introdução de agulhas criogê-
nível dos seus receptores. Assim di- nicas com colocação de termossenso-
ferentes tipos de terapias hormonais res no nível do esfíncter externo e da
são possíveis, dentre elas, a castra- parede retal e inserção de um aquece-
ção por terapia com testosterona, te- dor uretral. Uma temperatura de -40°C
rapia com estrogênios, agonistas ou na glândula e no feixe vasculonervo-
antagonistas do hormônio liberador so. Os principais efeitos adversos da
de hormônio luteinizante, orquiecto- crioterapia são disfunção erétil (18%),
mia bilateral. incontinência urinária (2-20%), dor e
sangramento retais (3%) e formação
de fístulas retouretral (0-6%).
CÂNCER DE PRÓSTATA 28

MAPA MENTAL – TRATAMENTO

TRATAMENTO

VIGILÂNCIA ATIVA ESPERA VIGILANTE

Curativa Paliativa

Predefinida Conforme sintomas

Para EV > 10 anos Para EV < 10 anos

PROSTATECTOMIA RADICAL (PR)

Remoção da toda a próstata +


Curativa + preservação dos órgãos pélvicos
cápsula + vesículas seminais

Cirurgia aberta, laparoscópica ou robótica Antibioticoterapia profilática

Anastomoses vesico-uretrais + cateter temporário

Dissecção de linfonodos? *

Preservação do feixe vasculonervoso? *

RADIOTERAPIA (RT)

Terapia de radiação com feixes externos (EBRT)

Radioterapia com intensidade Radioterapia guiada Radioterapia com arco


modulada (IMRT) por imagem (IGRT) volumétrico (VMAT)

Braquiterapia

Baixas doses Altas doses

TERAPIA DE PRIVAÇÃO ANDROGÊNICA (ADT)

Terapia com testosterona Agonistas/antagonistas do


hormônio liberador de LTH

Terapia com estrógenos Orquiectomia bilateral

PRINCIPAIS TERAPIAS ALTERNATIVAS EM INVESTIGAÇÃO

Crioterapia Ultrassom focalizada


CÂNCER DE PRÓSTATA 29

14. TRATAMENTO ultrassom focalizada, quando em um


DIRECIONADO cenário de estudo bem projetado.
Baixo risco
Intermediário risco
O principal risco para homens com
doença de baixo risco é o excesso de A Sociedade Americana de Onco-
tratamento e, portanto, a vigilância logia Clínica (ASCO) sustenta que a
ativa deve ser considerada para es- recomendação que podem ser ele-
ses pacientes. Os estudos apontam gíveis para vigilância ativa pacien-
para um benefício maior para ISUP tes com ISUP grau 2 com < 10% de
grau 1, T1c ou T2a clínico e PSA < células com padrão Gleason 4. Para
10 ng/ml. Para ISUP grau 2 favorável pacientes com maior expectativa de
(PSA < 10 ng/ml) essa conduta tam- vida, deve-se ter muito cuidado para
bém pode ser considerada, devendo a adoção dessa estratégia, sem con-
dentro de 6 a 12 meses, obrigato- tar que nas biópsias sistemáticas po-
riamente, realizar nova biópsia. Essa dem ser perdidos pequenos focos
conduta não deve ser adotada para de câncer de Gleason 4, devendo-se
ISUP grau 3 a 5, carcinoma ductal adotar biópsias direcionadas ou RM
predominante, carcinoma sarcoma- multiparamétricas.
toide, carcinoma de pequenas células As principais intervenções para esses
e em invasão perineal. pacientes são intervenção cirúrgica e
Como alternativa para a vigilância tratamento radioterápico. A prosta-
ativa, a cirurgia e a radioterapia são tectomia radical deve ser oferecida
intervenções adequadas para esses para esses pacientes com risco inter-
pacientes que não se enquadraram, mediário e com expectativa de vida >
promovendo uma prevenção da pro- 10 anos. A cirurgia poupadora de
gressão da doença em detrimento do nervos deve ser oferecida para pa-
risco de toxicidade. A braquiterapia cientes com baixo risco de doença
em baixa dose é o tratamento radio- extracapsular. A linfadenectomia é
terápico mais indicado, sem ressec- recomendada quando o risco estima-
ção transuretral anterior da próstata, do de linfonodos positivos exceder 5
além disso o uso de radioterapia com %. Quanto ao tratamento radioterá-
intensidade modulada, sem terapia pico, braquiterapia de altas doses,
de privação de androgênio. A dis- sem ressecção transuretral anterior
secção de linfonodos pélvicos não é da próstata ou EBRT com terapia
indicada para esses pacientes. Tera- neoadjuvante de privação androgêni-
pias alternativas também podem ser ca (ADT) de curto prazo (4 a 6 me-
recomendadas, como a crioterapia e ses). Em pacientes que não querem
CÂNCER DE PRÓSTATA 30

se submeter a ADT, utilizar dose es- EBRT deve ser utilizado em pacien-
calonada de EBRT ou combinação tes com doença localizada de alto
com braquiterapia. Outras opções te- risco em combinação com terapia
rapêuticas como terapia ablativa da de privação androgênica de longo
glândula inteira por meio crioterapia prazo 2 a 3 anos. Uma outra opção
ou ultrassom focalizada de alta in- radioterápica com evidência mais fra-
tensidade, quando em um cenário de ca é a utilização de EBRT com bra-
estudo bem projetado também pode quiterapia (em dose alta ou baixa) em
ser utilizadas. Não oferecer ADT em combinação com ADT de longo prazo
monoterapia para homens assinto- (2 a 3 anos). Opções fora da cirurgia e
máticos de risco intermediário que da radioterapia não devem ser ofere-
não possam receber tratamento local. cidas a esses pacientes de alto risco.

Alto risco com doença localizada SE LIGA! O tratamento adjuvante pós


prostatectomia é adicional à terapia pri-
Não há um consenso sobre o trata- mária com o objetivo de diminuir o risco
de recaída. Um PSA detectável no pós-
mento ideal de homens com câncer
-operatório é uma indicação de células
de próstata de alto risco. São pacien- prostáticas persistentes. Os fatores de
tes que apresentam risco aumentado risco para recaída que podem chegar até
de falha do PSA, necessidade de te- 50% em 5 anos são: ISUP grau ≥ 2, pT3
pN0 após PR devido as margens positi-
rapia secundária, progressão metas- vas, ruptura de cápsula e/ou invasão das
tática e morte por câncer de próstata. vesículas seminais.
No entanto, nem todos esses pacien-
tes apresentam prognóstico unifor-
memente ruim após a prostatectomia Alto risco com doença avançada
radical. Quando gerenciado com in- Nenhum tratamento padrão pode ser
tenção não curativa esses pacientes definido na ausência de evidências
podem apresentar expectativa de de alto nível, entretanto um tratamen-
vida de 10 e 15 anos de, respectiva- to local combinado com um sistêmico
mente, cerca de 30 e 35%. fornece melhor resultado, desde que
Desde que o tumor não esteja fixo à o paciente esteja pronto e apto o sufi-
parede pélvica ou não haja invasão ciente para receber os dois.
do esfíncter uretral e seja de baixo vo- A prostatectomia radical deve ser
lume, a prostatectomia radical é uma oferecida para pacientes com T3b-
opção razoável. A dissecção linfono- -T4 N0 ou qualquer N1. Deve ser
dal deve ser sempre realizada, já que realizado junto a PR uma dissecção
o risco estimado de linfonodo positivo linfonodal. Quanto aos tratamentos
é > 5%. O tratamento radioterápico radioterápicos deve ser oferecido
CÂNCER DE PRÓSTATA 31

em combinação com ADT de longo monoterapia só deve ser oferecida


prazo, por, pelo menos, 2 anos. As para pacientes que não desejem ou
terapias alternativas como ADT em não possam receber tratamento local.

MAPA MENTAL – TRATAMENTO DIRECIONADO

TRATAMENTO
DIRECIONADO

BAIXO RISCO INTERMEDIÁRIO RISCO ALTO RISCO

1. Prostatectomia radical +
1. Vigilância ativa + rebiópsias 1. Vigilância ativa + rebiópsias
dissecção linfonodal

ISUP grau 1, T1c ou ISUP grau 2 com < 2. EBRT com ADT
T2a clínico e PSA < 10 ng/ml 10% de células com de longo prazo
(*ISUP grau 2 favorável) padrão Gleason 4
Opções fora da
cirurgia e radioterapia não
2. Prostatectomia radical 2. Prostatectomia radical
devem ser oferecidas

3. Braquiterapia Poupar feixe


em baixas doses vasculonervoso quando baixo
risco de doença extracapsular

Dissecção de linfonodos
quando risco > 5%

3. Braquiterapia
em altas doses

4. EBRT com ADT


de curto prazo
CÂNCER DE PRÓSTATA 32

MAPA MENTAL - GERAL

FATORES DE RISCO QUADRO CLÍNICO ESTADIAMENTO

Hemato-
Idade Etnia Hematúria TNM
espermia

Disfunção
História familiar Fraqueza Tumor Linfonodos
erétil

Hábitos alimentares Perda de peso Dor óssea Metástase à distância

PSA sérico
ETIOLOGIA

Grau histológico
95% adenocarcinoma multifocal

Escore de
5% sarcoma, linfoma, ISUP
Gleason
carcinoma urotelial
ANATOMIA
ESTRATIFICAÇÃO
DETECCÃO PRECOCE DE RISCO
2/3
2/3 glandular
fibromuscular
BAIXO
Fatores de risco
Zona muscular
ZC, ZP
anterior
Exame PSA < 10 + ISUP 1 + T1-T2a
PSA
de toque
Neoplasias HPB
INTERMEDIÁRIO
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO PSA 10-20 OU
ISUP 2-3 OU T2b
Biópsia
Prostatectomia
Vigilância ativa
radical ALTO

Radioterapia
PSA > 20 OU ISUP 4-5 OU T2c
CÂNCER DE PRÓSTATA 33

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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CÂNCER DE PRÓSTATA 34

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