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SUMÁRIO

1. Definição ....................................................................... 3
2. Epidemiologia .............................................................. 3
3. Fatores de risco .......................................................... 3
4. Revisando a anatomia ............................................. 4
5. Classificação das hérnias......................................11
6. Quadro clínico.............................................................13
7. Diagnóstico ................................................................14
8. Tratamento .................................................................15
Referências Bibliográficas .........................................24
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 3

1. DEFINIÇÃO procedimento cirúrgico, até 10% são


do tipo epigástrica ou umbilical e em
Hérnia é derivada da palavra latina
menor proporção, existem as hérnias
para ruptura de alguma estrutura,
femorais, cerca de 5%, sendo muito
nesse caso, uma ruptura da parede
mais prevalentes nas mulheres (10:1)
abdominal, gerando um abaulamento
e uma razão de 2:1 de prevalência
de estruturas abdominais. Uma hér-
em mulheres nas hérnias umbilicais.
nia é definida como protusão anormal
Porém, de forma geral, os mais aco-
de um órgão ou tecido por um defei-
metidos com hérnias são os homens,
to em suas paredes circundantes. Os
cerca de 25 vezes a mais do que a
principais tipos de hérnias de parede
população do sexo feminino.
abdominal são: hérnia inguinal (direta
e indireta), hérnia femoral, hérnia um-
bilical e hérnia incisional. 3. FATORES DE RISCO
Os principais fatores de risco associa-
SE LIGA! Hérnias da parede abdominal dos com essa doença (hérnias iguino-
ocorrem apenas em locais onde a apo- femorais) são: histórico familiar, sexo
neurose e a fáscia não são cobertas por
músculo estriado. masculino, idade (a partir da 7ª déca-
da), tabagismo, doenças colagenosas
e o aumento da pressão abdominal,
2. EPIDEMIOLOGIA que pode ser causado por doença pul-
As hérnias de parede abdominal são monar obstrutiva crônica, ascite, hi-
muito prevalentes, cerca de 5% da perplasia prostática benigna e outras
população mundial desenvolverá al- condições. Uma consideração impor-
gum tipo de hérnia, sendo que 75% tante é acerca da obesidade, que não
desses defeitos da parede abdomi- entra como fator de risco, na verdade
nal são na localização inguinal (50% é um fator protetor, pois parece estar
delas é do tipo indireta e cerca de associado com um espessamento da
25% do tipo direta). Dentro desse pele e do tecido subcutâneo, o que
universo, de 10 – 15% das hérnias pode exercer uma proteção ao abau-
são incisionais, ou seja, após algum lamento das estruturar abdominais.

SAIBA MAIS!
A prevalência das hérnias aumenta com a idade, bem como a probabilidade de estrangula-
mento e a necessidade de hospitalização.
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 4

Quanto as hérnias incisionais, vale cirúrgicos (infecção da ferida operató-


lembrar que há necessidade de ria, hematoma e outros), desnutrição,
um procedimento cirúrgico prévio uso de corticoides, uso de radiação
e alguns outros fatores de risco po- local e obesidade.
dem estar presentes, como: fatores

MAPA MENTAL – FATORES DE RISCO PARA HÉRNIAS ABDOMINAIS

Histórico familiar

Sexo masculino

Idade ( > 70 anos)


FATORES
DE RISCO
Tabagismo

Doenças colagenosas

DPOC
Aumento da pressão abdominal

Ascite

4. REVISANDO A o nosso objetivo de estudo é a estru-


ANATOMIA tura anterior dessa cavidade, ou seja,
a parede abdominal.
A cavidade abdominal é um compar-
timento que trabalha com uma pres- A parede abdominal é constituída por
são positiva, cerca de 5 – 8 mmHg, algumas camadas, são elas – pele, tela
contém diversas estruturas e é limi- subcutânea, os músculos, que estão
tada superiormente pelo diafragma, dispostos nessa ordem: oblíquo exter-
inferiormente pelo diafragma pélvico, no, oblíquo interno e o transverso do
posteriormente pelas vértebras lom- abdome, seguindo com a fascia trans-
bares e anteriormente pelos músculos versalis, a gordura pré-peritoneal e por
da parede abdominal. Nesse sentido, fim o peritônio, sendo a última camada
antes das vísceras abdominais.
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 5

Pele Tela subcutânea

Fascia transversalis Oblíquo externo


Gordura pré peritoneal Oblíquo interno

Peritônio Transverso do abdome

Figura 1. Camadas da parede abdominal. Fonte: Adaptado de Netter & Machado. Atlas interativo de Anatomia Hu-
mana. 2004.

Aponeurose do m.
oblíquo externo

Funículo
espermático
Anel inguinal
externo

Figura 2. Região inguinal com pele e tecido subcutâneo rebatidos. Fonte: Adaptado de Netter & Machado. Atlas inte-
rativo de Anatomia Humana. 2004.
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O canal inguinal é um ducto que par- sua descida dentro da bolsa escrotal.
te de lateral para medial, de dentro Após isso, esse conduto citado acima
para fora, obliquamente. Ele é uma se oblitera e encerra, em um indivíduo
comunicação entre a cavidade ab- saudável, a comunicação entre a ca-
dominal e o testículo/bolsa escrotal. vidade abdominal e a bolsa escrotal,
Diante disso, é importante recordar restando apenas estruturas que co-
sobre alguns aspectos embriológicos, municam os testículos com essa ca-
como o da formação testicular, que vidade, passando através do canal
ocorre dentro da cavidade abdomi- inguinal, sendo que essas estruturas
nal e desce através do conduto peri- são: funículo espermático, os nervos,
tônio-vaginal a partir da 28ª semana o músculo cremaster e outras estru-
de gestação, até se alocar e terminar turas importantes.

Peritônio

Fáscia transversalis

Músculo transverso

Músculo oblíquo
interno
Aponeurose do m.
oblíquo externo

Figura 3. Camadas da parede abdominal no nível da região inguinal. Fonte: Adaptado de Netter & Machado. Atlas
interativo de Anatomia Humana. 2004.

Conhecer esses aspectos anatômi- fatores de risco para hérnias ingui-


cos é de extrema importância para o nais: sexo masluno. Já consegue en-
entendimento de um dos principais tender a “causa”? Então, o fato de os
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 7

homens possuírem esse – o canal in- havendo correlações anatômicas en-


guinal - por onde ocorreu a descida tre essas estruturas, como a túnica
testicular, provoca aumento do risco. vaginalis (membrana que recobre o
Diferente das mulheres, que no sítio testículo) – muito semelhante ao pe-
do canal inguinal está o ligamento re- ritônio. Lembrando que esse funículo
dondo do útero e não ocorre passa- está dentro do canal inguinal e possui
gem de nenhum estrutura por esse como limites: a aponeurose do oblíquo
região, como acontece com os testí- externo (cobre todo o canal inguinal),
culos nos homens. o tendão conjunto (uma inserção con-
junta do músculo oblíquo interno e o
SE LIGA! Até quanto tempo pode-se
transverso do abdome - e limita su-
esperar pela descida testicular? Até 3 periormente esse canal), o ligamento
– 4 meses. Quando isso não acontece, inguinal (Poupart), que é o limite infe-
deve haver uma intervenção cirúrgica, rior do canal e a fáscia transversalis, a
idealmente antes dos 6 meses de vida.
estrutura que cobre posteriormente o
canal inguinal. Lembrando que abaixo
O funículo espermático é uma con- desse ligamento existe um outro sítio
tinuação da parede abdominal, comum de hérnias, o canal femoral.

Espinha ilíaca ântero-


superior
Músculo oblíquo
interno

Tendão
conjunto

Ligamento inguinal
(Poupart)

Canal femoral

Tubérculo
púbico

Figura 4. Estruturas relacionadas ao canal inguinal. Fonte: Adaptado de Netter & Machado. Atlas interativo de Anato-
mia Humana. 2004
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Aponeurose do m.
oblíquo externo

Músculo oblíquo
interno

Músculo
transverso
Funículo espermático
(M. cremáster)
Tendão
conjunto

Fáscia
transversalis

Figura 5. Funículo espermático rebatido para evidenciar a camada posterior do canal inguinal. Fonte: Adaptado de
Netter & Machado. Atlas interativo de Anatomia Humana. 2004

O que cobre posteriormente o canal


SE LIGA! As hérnias inguinais surgem inguinal é uma camada fina da fáscia
acima do ligamento inguinal e as hér- transversalis, um importante local de
nias femorais surgem abaixo desse
fragilidade, e consequentemente, de
ligamento.
surgimento de hérnias.
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 9

Vasos epigástricos
Músculo reto
inferiores
abdominal

Tendão
conjunto

Anel inguinal
interno

Músculo psoas

Canal femoral

Ligamento pectíneo
(Cooper)

Ligamento inguinal
(Poupart) Ligamento lacunar
(Gimbernat)

Figura 6. Região inguinal de uma visão interna, “visão laparoscópica”. Fonte: Adaptado de Netter & Machado. Atlas
interativo de Anatomia Humana. 2004

Ainda, uma outra estrutura anatômi- região pode ser dividida, pois sabe-
ca importante, quando pensamos em -se que três tipos de hérnias podem
hérnias, é o óstio miopectíneo de Fru- surgir aqui, a inguinal indireta, a ingui-
chaud, região inguino-femoral ilus- nal direta e a femoral. A direta surge
trada na figura abaixo, que é caracte- no famoso trígono de Hesselbach (li-
rizada por ser um local propenso ao mitado por: músculo reto abdominal,
surgimento de hérnias. Possui como ligamento inguinal e vasos epigástri-
limites o músculo reto abdominal (me- cos inferiores), pois ele é a região de
dialmente), inferiormente o ligamento fraqueza na parede abdominal. Os
pectíneo ou de Cooper, lateralmen- outros dois sítios são os canais ingui-
te o músculo psoas e superiormente nal (local de surgimento da indireta)
o tendão conjunto (obliquo interno e o femoral (local de surgimento da
com o transverso do abdome). Essa hérnia femoral).
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 10

Músculo reto
abdominal

Tendão
conjunto

Músculo psoas

Ligamento pectíneo
(Cooper)

Figura 7. Óstio de Fruchaud. Fonte: Adaptado de Netter &


Machado. Atlas interativo de Anatomia Humana. 2004

Vasos epigástricos
Músculo reto
inferiores
abdominal

Ligamento inguinal
Figura 8. Trígono inguinal de Hesselbach – Local de
(Poupart) surgimento da hérnia inguinal direta. Fonte: Adaptado
de Netter & Machado. Atlas interativo de Anatomia
Humana. 2004
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 11

CONCEITO! Hérnias que surgem me-


dialmente aos vasos epigástricos in-
feriores são hérnias diretas, enquanto
que as que surgem lateralmente são as
indiretas.
Por que o nome direta e indireta? A hér-
nica inguinal direta recebe esse nome
pois ela surge diretamente da parede
abdominal, já a indireta surge através do
canal inguinal.

Vasos epigástricos
inferiores

Medial
Lateral

Hérnia inguinal Hérnia inguinal


indireta direta
Figura 9. Tipos de hérnias inguinais. Fonte: Adaptado de Netter & Machado. Atlas interativo de Anatomia Humana.
2004

5. CLASSIFICAÇÃO DAS terapêuticas, a classificação de


HÉRNIAS Nyhus. As hérnias são dividias em
quatro tipos:
Existe uma classificação formal e bem
estabelecida para ajudar no diag-
nóstico e na definição de condutas
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 12

CLASSIFICAÇÃO DE NYHUS

I – Indireta, anel inguinal interno de tamanho e estrutura normais


II – Indireta, anel inguinal interno alargado
III – Fraqueza da parede posterior
A – Direta apenas
B – Indireta - anel inguinal interno alargado e distorcido
C – Crural (Femoral)

IV – Recorrentes
A – Direta
B – Indireta
C – Crural (Femoral)
D – Qualquer combinação das 3

Hérnia umbilical só que no nível da cicatriz umbilical. É


importante lembrar que nessas situa-
O mecanismo relacionado com o sur-
ções há formação de uma “estrutura”
gimento da hérnia é muito semelhan-
que recebe o nome do saco herniário,
te ao que já foi discutido acerca das
o abaulamento da camada peritoneal
hérnias inguinais e femoral, ou seja, é
junto com a víscera abdominal.
o abaulamento de estruturas abdomi-
nais devido uma fraqueza na parede,
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 13

Pele

Saco
herniário

Figura 10. Hérnia umbilical

Hérnias especiais • Hérnia de Richter – quando há is-


quemia da borda anti mesentérica,
São hérnias de estruturas e em sí-
não há oclusão intestinal;
tios menos comuns. Como exemplos,
têm-se: • Hérnia de Spiegel – a hérnia que
acontece na linha semilunar;
• Hérnia por deslizamento – nes-
se tipo não há formação de saco • Hérnia obturadora – quando a hér-
herniário, pois o conteúdo é nia ocorre pelo forame obturador;
extra-peritoneal;
• Hérnias lombares – são dois tipos
• Hérnia de Amyand – quando há – Grynfelt e Petit, sendo que essa
presença de apêndice cecal no última é a do trígono lombar inferior
saco herniário inguinal; e a primeira do trígono superior.
• Hérnia de Garengeot – quando
há presença do apêndice cecal no 6. QUADRO CLÍNICO
saco herniário femoral;
Os pacientes com hérnia possuem
• Hérnia de Littré – qualquer hérnia como principal queixa o abaulamento
contendo o divertículo de Meckel; na região da hérnia, surgindo geral-
mente nos momentos de maior pres-
são abdominal, como na hora da eva-
cuação e ao portar algo pesado. Além
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 14

disso, vale lembrar que o quadro nor- peso no local. Diante disso, lembre-se
malmente é oligossintomático e não é que se o paciente chega se queixan-
marcado por pacientes com queixas do de dor intensa, pense nas possí-
de dores intensas, eles se queixam veis complicações (encarceramento
de uma dor moderada e sensação de ou estrangulamento).

Figura 11. Hérnia umbilical e Hérnia inguinal

7. DIAGNÓSTICO Valsalva, utilizada com o intuito de


auxiliar a avaliação da hérnia, geran-
O diagnóstico é baseado em uma boa
do aumento da pressão intra-abdo-
anamnese associada com o exame
minal. Se houver abaulamento trata-
físico. É muito importante perguntar
-se de hérnia direta, pois o orifício de
sobre situações de complicações pré-
saída do saco herniário indireto (anel
vias, caracterizar muito bem os sinto-
interno) está obstruído.
mas e realizar o exame físico adequa-
do, com o paciente em posição supina Por fim, vale lembrar que o diagnósti-
e em ortostase. Deve ser realizada a co da hérnia é clínico, sendo dispen-
palpação do anel inguinal e do anel sável – segundo os protocolos – o uso
herniário. da ultrassonografia, deixando esse
exame complementar, assim como
Quanto as hérnias inguinais, pode-se
outros exames de imagem, para os
lançar mão da manobra de Landivar,
casos duvidosos e complexos.
que consiste em obstruir o anel inter-
no por cima da pele e solicitar para
que o paciente realize a manobra de
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 15

sujeito a sofrer estrangulamento, o


que compromete a circulação sanguí-
nea no local e leva a necrose do órgão
herniado. A hérnia encarcerada pode
ainda cronificar, sendo chamada de
hérnia cronicamente habitada.

Figura 12. Manobra de Landivar. Hérnia redutível

Vale lembrar que existem alguns


diagnósticos diferenciais para os Hérnia encarcerada
quadros de hérnia inguinal, são eles:
linfedema, neoplasia testicular, hidro-
cele de testículo, varicocele, testícu-
Hérnia estrangulada
lo ectópico e adenomegalia inguinal.
Além disso, alguns diagnósticos di-
ferenciais para as hérnias umbilicais, Figura 13. Situações das hérnias
são: diástase de reto abdominal (dila-
tação/afastamento da linha alba), di-
ferente da hérnia pois não há ruptura 8. TRATAMENTO
e é muito mais comum em mulheres A identificação descrita acima, no
(após gravidez, na obesidade e nas momento do diagnóstico, acerca da
mais idosas). forma em que a hérnia se apresenta
O conteúdo herniado pode exteriori- é muito importante para guiar o trata-
zar-se e retornar ao compartimento mento. A hérnia que é redutível pode
abdominal pelo anel herniário. Quan- ser operada de forma eletiva ou pode
do é possível retornar o conteúdo ser acompanhada, analisando como
herniado para o seu lugar de origem, ela irá evoluir (Watchful waiting). Já
chamamos essa hérnia de redutí- nos casos de hérnia encarcerada, nos
vel. Quando o conteúdo herniário casos não complicados, é possível
está preso ao anel herniário, impos- o manejo clínico, tentando reduzir a
sibilitando o retorno, chamamos essa hérnia, associado com analgésicos e
hérnia de encarcerada. Nos casos relaxante muscular, afim de intervir
das hérnias encarceradas, existe o de forma eletiva, mas nos casos em
risco do conteúdo herniário ficar pre- que não é possível reduzi-la, está in-
so (encarcerado) no saco herniário e dicada a cirurgia. No caso de hérnia
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 16

estrangulada, não tente reduzir, esse método tinha uma altíssima taxa de
paciente merece cirurgia de urgência. recidiva, justamente por essa tensão,
além de não ser útil para as hérnias
SE LIGA! Qual o motivo de não reduzir
femorais. Seguindo a linha do tempo
a hérnia estrangulada? O fato de com a da cirurgia, Mc Vay propôs uma nova
redução, uma porção isquemiada do in- técnica que seria capaz de solucionar
testino ir para dentro da cavidade abdo- as hérnias femorais, suturando o ten-
minal, podendo perfurar e causar uma
peritonite fecal. dão conjunto com o ligamento pectí-
neo, porém foi marcada por altas ta-
xas de recidiva também. Muitos anos
As técnicas cirúrgicas utilizadas no depois, outra técnica surgiu, a técni-
tratamento das hérnias mudaram ca de Shouldice, que foi caracteriza-
muito com o tempo. A primeira téc- da por uma menor taxa de recidivas,
nica utilizada foi em 1884, com o sendo marcada pelo imbricamento de
Bassini, baseada em suturar o ten- camadas, ou seja, suturando as ca-
dão conjunto no ligamento inguinal, madas uma sobre a outra.
com muita tensão. No entanto, esse

Figura 14. Técnica de Shouldice


HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 17

Por fim, em 1986, Lichtenstein ino- essa técnica é específica para as hér-
vou, com sua técnica que é baseada nia inguino-femoral, porém a sua me-
na utilização de telas, utilizada até os todologia revolucionou o tratamento
dias de hoje, sem tensão e com bai- das hérnias.
xa taxa de recidivas. Vale lembrar que

1884 BASSINI
• Início da Era Moderna
• Sutura no ligamento inguinal
• Alta recidiva
MC VAY
• Hérnia Femoral
• Sutura no ligamento de pectíneo
• Alta recidiva

SHOULDICE
• Menor recidiva
• Imbricamento de camadas

1986
LICHTENSTEIN = LichtensTELA
• Uso de tela
• Sem tensão

Tela
Aponeurose do músculo Fascia transversalis
oblíquo externo

Figura 15. Colocação de tela para reparo de hérnia inguinal. Técnica de Lichtenstein.
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 18

Como dito anteriormente, a técnica Laparoscopia, para cobrir com tela.


de Lichtenstein é muito eficaz para Quanto as hérnias umbilicais, o me-
hérnias inguinais, porém não é útil canismo é semelhante, utilização de
nos casos de hérnias femorais. Nes- tela sem tensão, após o ressecamen-
ses casos o tratamento será com a to do saco herniário, realiza-se o fe-
técnica de Mc Vay ou Plug femoral chamento com a tela, sendo a mesma
(colocação no canal femoral uma es- técnica utilizada para as hérnias epi-
trutura que preencha esse canal) ou gástrica e incisionais.

Figura 16. Plug femoral


HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 19

Figura 17. Hérnia umbilical sendo corrigida com tela sem tensão

Hérnias em crianças peritônio-vaginal. Já nos casos de


hérnias umbilicais, o risco de compli-
Nesse contexto, merece destaque a
cação é muito pequeno, então espe-
hérnia inguinal classificada em Nyhus
ra-se, no geral, até os 6 anos de ida-
I (hérnia inguinal indireta), que é ca-
de, momento em que a maioria dos
racterizada por ser um defeito congê-
pacientes terão o fechamento espon-
nito do não fechamento do conduto
tâneo, caso não haja esse fechamen-
peritônio-vaginal. Cerca de 95% das
to, cirurgia com colocação de tela.
hérnias na criança são inguinais indi-
retas. No tratamento, não há neces- A tela pode ser colocada em quatro
sidade de colocação de tela, sendo locais distintos, como mostrado na
realizado um ressecamento o saco imagem abaixo.
herniário e obliterando o conduto
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 20

Pré aponeurose

Pré peritoneal

Figura 18. Locais de inserção da tela na correção da hérnia.

Existe uma técnica de colocação da inferiormente até o ligamento pec-


tela no sítio pré-peritoneal, chama- tíneo. Está associada com algumas
da de técnica de Stoppa, que é uma complicações, como dor, fibrose e um
grande tela que cobre toda a cavida- índice muito maior de feridas opera-
de abdominal, indo de um músculo tórias, sendo reservada para os casos
psoas de um lado até o outro lado e mais complexos.

Peritônio

Tela

Figura 19. Técnica de Stoppa.


HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 21

Técnicas videolaparoscópicas caracterizada por colocação de tela


pré-peritoneal, sem que haja entrada
Existem duas formas de operar as
na cavidade abdominal. Já na técnica
hérnias através da videolaparoscopia,
TAPP, há entrada na cavidade abdo-
com a técnica de TEP (totalmente extra
minal, faz-se uma secção no peritônio,
peritoneal) e a técnica de TAPP (Tran-
colocar a tela e fechar o peritônio.
sabdominal pré-peritoneal). A TEP é

Figura 20. Técina TEP

Figura 21. Técina TAPP


HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 22

Complicações cirúrgicas os nervos mais atingidos: ilioinguinal,


ramo genital do genitofemoral e o
A taxa média de complicações no
ílio-hipogástrico. No entanto, duran-
reparo cirúrgico das hérnias gira em
te o reparo laparoscópico, os nervos
torno de 10%, sendo que muitas
mais acometidos são: nervo cutâneo
das complicações são transitórias.
femoral lateral e genitofemoral. As
As possíveis complicações são: dor
neuralgias transitótias podem ocorrer
crônica, infecção de ferida operató-
e geralmente são autolimitadas, du-
ria, sangramento, lesão de nervos e
rando poucas semanas após a opera-
orquite isquêmica. Lembrando que a
ção. A orquite isquêmica é decorrente
infecções de locais com a tela, por ser
de trombose das pequenas veias do
um material estranho no organismo,
plexo pampiniform dentro do cordão
dificulta o tratamento posterior, sendo
espermático, resultado da congestão
necessário, em muitos casos, retirar a
venosa dos testículos, que se tornam
tela. A antibioticoterapia não alcança
entumescidos e sensíveis 2 a 5 dias
o local onde a tela está, fazendo com
após a operação. O processo pode
que o antibiotico não seja eficaz.
continuar por 6 a 12 semanas adi-
As infecções do sítio cirúrgico ocorrem cionais e em geral resulta em atrofia
em média de 1 – 2% dos pacientes testicualr.
após o reparo da hérnia inguinal, sen-
do menor quando o reparo é laparos-
cópico, e a maioria dos autores con-
cordam que não há recomendações
para uso rotineiro de antibióticos pro-
filáticos, mas os pacientes com doen-
ças subjacentes significativas, como
refletido no escore de mais de 3 da
American Society of Anesthesiology
(ASA), recebem profilaxia periopera-
tória com cefazolina, 1 – 2g, dados por
IV, de 30 – 60 minutos antes da rea-
lização da incisão cirúrgica, podendo
usar clindamicina e eritromicina nos
pacientes alérgicos a penicilina.
As lesões nervosas são infrequentes,
mas podem acontecer por conta da
tração, da eletrocauterização, da tran-
secção ou por aprisionamento, sendo
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 23

HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL

Incisional Tipos

Umbilical Epigástrica Femoral Inguinal

Mais comum Maior


Direta Indireta
em mulheres frequência

Maior risco de Triângulo de


estrangulamento Localização Mais comum Localização
e encarceramento Hesselbach

Medialmente aos Lateralmente aos


vasos epigástricos vasos epigástricos
inferiores inferiores

Diagnóstico Situação Tratamento

Exames Não complicada


Clínico Complicada Expectante Cirúrgico
complementares

USG da parede Hernioplastia


Anamnese Exame físico Redutível Encarcerada sem tensão á
abdominal Lichtenstein

Manobra de
Dor aos esforços Casos complexos Estrangulada McVay
Landivar

Sensação Abaulamento ao
repouso ou à manobra
de peso de Valsava
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 24

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
RODRIGUES G, MACHADO M.C.C., RASSLAN S. Clínica Cirúrgica FMUSP. Editora Mano-
le. 2008.
TOWNSEND C.D., BEUCHAMP R.D., EVERS B.M., MATTOX K.L. Sabiston: Tratado de Ci-
rurgia, A Base da Prática Cirúrgica Moderna. 18ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL 25

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